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ANÁLISE DAS TEORIAS DA SOBERANIA: UMA VISÃO COMPARATIVA ENTRE


TEORIA ABSOLUTA, POPULAR E NACIONAL

Autor1: Djeiny Oliveira Luiz


Autor2: Aparecido Lopes de Oliveira Neto

RESUMO
Este estudo abordou a evolução e os desafios do conceito de soberania, desde suas origens na
Grécia Antiga e no Império Romano até as controvérsias contemporâneas desencadeadas pela
globalização e pela emergência de organizações supranacionais. Investiga-se as teorias da
soberania - Soberania Absoluta do Rei, Soberania Popular e Soberania Nacional - comparando
suas características, limitações e adaptações aos desafios atuais. O método utilizado inclui
uma análise crítica da literatura e um exame da prática da soberania no direito internacional e
na política global, destacando como as noções de soberania são reconfiguradas em resposta à
demanda por democracia e respeito aos direitos humanos. Os resultados evidenciam uma
tensão entre a manutenção da autoridade estatal soberana e as exigências de um mundo
globalizado, onde a soberania está cada vez mais condicionada pelo direito internacional, a
cooperação internacional e as considerações ambientais transnacionais. Assim, a pesquisa
conclui que, embora a soberania continue sendo um princípio orientador nas relações
internacionais, sua aplicação prática é cada vez mais limitada e adaptada para atender às
complexidades do cenário global moderno

Palavras-chaves: Soberania. Globalização. Direito Internacional. Teorias da Soberania.


Desafios Contemporâneos.

1 INTRODUÇÃO

A soberania, enquanto princípio fundamental na teoria política e no direito


internacional, define a autoridade máxima de um Estado dentro de seu território e sua
autonomia frente a outros Estados. Este conceito, crucial para a formação e operação dos
Estados, enfrenta atualmente desafios significativos decorrentes da globalização e do
surgimento de entidades supranacionais, questionando a aplicabilidade e a resiliência da
soberania tradicional em um mundo interconectado.

1
Graduanda no curso de Direito pelo Centro Universitário Mário Palmério. E mail:
djeinyluiz@unifucamp.com.br.
2
Graduando no curso de Direito pelo Centro Universitário Mário Palmério. E mail:
aparecidoneto@unifucamp.edu.br.
2

O presente estudo tem como objetivo analisar e comparar as principais teorias da


soberania Absoluta, Soberania Popular e Soberania Nacional, destacando suas características,
limitações e a capacidade de adaptação aos desafios impostos pelo cenário global
contemporâneo. Para alcançar tal objetivo, será empregada uma abordagem metodológica
baseada na revisão bibliográfica de textos-chave e na análise crítica do referencial teórico
pertinente, visando elucidar como essas teorias se manifestam e se transformam diante das
pressões da globalização, da integração econômica e política internacional e das demandas
por governança global.
A problemática central deste trabalho concentra-se na tensão entre a manutenção da
soberania estatal em um mundo que exige crescente cooperação transnacional e
reconhecimento de direitos globais, explorando como essa dinâmica afeta a autoridade
soberana dos Estados e sugere possíveis caminhos para uma redefinição do conceito de
soberania.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Conceito de Soberania

Historicamente, o conceito de soberania tem variado significativamente. No Estado


grego antigo, a autarquia representava um poder moral e econômico de autossuficiência. Entre
os romanos, o poder de imperium refletia uma autoridade política transcendente. Nas
monarquias medievais, a soberania tinha um fundamento carismático e intocável, enquanto no
absolutismo monárquico, a soberania tornou-se o poder pessoal dos monarcas, muitas vezes
justificado pela crença na origem divina do poder do Estado. Com a Revolução Francesa, o
conceito de soberania evoluiu para um poder político e jurídico, emanado da vontade geral da
nação3
Diversas teorias tentam explicar e justificar a soberania. A teoria da soberania absoluta
do rei, sistematizada na França do século XVI por Jean Bodin, defendia uma soberania do rei
originária, ilimitada e absoluta. Em contrapartida, a teoria da soberania popular, com
precursores na Escola Espanhola, argumentava que o poder público vem de Deus, mas é
exercido pela vontade popular. A teoria da soberania nacional, influenciada pelas ideias que
inspiraram a Revolução Francesa, sustentava que a nação é a fonte única do poder de
soberania
3
ARATO, Andrew. Representação, soberania popular, e accountability. Lua Nova: Revista de Cultura e
Política, p. 85-103, 2002. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ln/a/VpWCp39q68qHYsRdzkC77Qk/?
format=html. Acesso em: 02 abr. 2024
3

2.2 Teorias da Soberania Absoluta do Rei

A noção de soberania absoluta está intimamente ligada ao desenvolvimento do


Estado moderno e ao declínio do feudalismo. A Paz de Vestefália, em 1648, é frequentemente
citada como um marco na consolidação da soberania estatal, estabelecendo os Estados como
atores principais no cenário internacional e reconhecendo sua autoridade suprema dentro de
seus territórios4.
Jean Bodin e Thomas Hobbes são dois teóricos clássicos frequentemente associados à
ideia de soberania absoluta. Bodin, em sua obra "Os Seis Livros da República", argumenta
que a soberania é perpétua e indivisível, e que o soberano não está sujeito às leis que ele
próprio estabelece, embora deva respeitar as leis divinas e naturais 5. Hobbes, por sua vez, em
sua obra "Leviatã", defende que, no estado de natureza, os indivíduos vivem em constante
conflito e que a soberania absoluta é necessária para garantir a paz e a segurança, através de
um contrato social onde os indivíduos transferem seus direitos ao soberano em troca de
proteção6.
No entanto, a soberania absoluta enfrenta críticas e desafios contemporâneos. A
globalização e o capitalismo globalizado influenciam a soberania dos Estados, pois as
relações econômicas internacionais podem limitar a autonomia estatal 7. Além disso, a
soberania estatal tem sido reconfigurada em favor da soberania democrática, onde a
formulação do direito envolve múltiplos sujeitos além do Estado 8. A teoria da soberania
absoluta também é desafiada pela necessidade de reconhecimento internacional e pelo
respeito aos direitos humanos
4
SILVA, C. T. L. da; PICININI, G. L. Paz de Vestefália & Soberania Absoluta. Revista do Direito Público, [S.
l.], v. 10, n. 1, p. 127–150, 2015. DOI: 10.5433/1980-511X.2015v10n1p127. Disponível em:
https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/direitopub/article/view/20264. Acesso em: 2 abr. 2024
5
ROVIRA, Ricardo Calleja. Soberanía absoluta o soberanía relativa: la ambivalencia ético-politíca de la
teoría de la soberanía en Jean Bodin y Thomas Hobbes. 2011. Tese (Doutorado em Filosofia) - Universidad
Complutense de Madrid, Madrid, 2011. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/tesis?codigo=184016.
Acesso em: 02 abr. 2024.
6
DE AQUINO, C. M.; BUSSINGUER, E. C. de A.; BELIZÁRIO, B. S. Soberania estatal absoluta em Hobbes:
ponto de partida para um estudo racionalista dos direitos fundamentais.Revista de Direitos e Garantias
Fundamentais, [S. l.], n. 4, p. 65–82, 2008. DOI: 10.18759/rdgf.v0i4.5. Disponível em:
https://sisbib.emnuvens.com.br/direitosegarantias/article/view/5. Acesso em: 2 abr. 2024.
7
OLIVEIRA, Rodrigo Albuquerque Maranhão de. Teoria da representação e soberania democrática diante
da influência do capitalismo globalizado. 2018. 108 f. Dissertação (Mestrado em Direito Político e
Econômico) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2018. Disponível em:
http://dspace.mackenzie.br/handle/10899/24080. Acesso em: 02 abr. 2024
8
ALVES, A. L. A. Limites e Potencialidades da Soberania Estatal na Pós-Modernidade. VEREDAS - Revista
Interdisciplinar de Humanidades, [S. l.], v. 3, n. 5, p. 219, 2020. Disponível em:
//periodicos.unisa.br/index.php/veredas/article/view/120. Acesso em: 2 abr. 2024.
4

A soberania absoluta, portanto, é uma teoria que descreve um poder ilimitado e


centralizado, mas que, na prática contemporânea, é mitigada por fatores internos e externos
que impõem limites à autoridade do Estado. A evolução do conceito reflete as mudanças nas
estruturas políticas e sociais, bem como as tensões entre o poder estatal e as demandas por
democracia e respeito aos direitos humanos9.

2.3 Soberania Popular

A soberania popular, um pilar fundamental das democracias modernas, tem sido objeto
de intensos debates e análises ao longo da história. Este conceito, que coloca o povo como
detentor do poder supremo dentro de um Estado, evoluiu significativamente desde suas
origens filosóficas até sua aplicação prática nos sistemas políticos contemporâneos. Através
da análise de diferentes perspectivas e contextos históricos, podemos compreender melhor a
complexidade e a importância da soberania popular na construção de sociedades mais justas e
democráticas.
A ideia de soberania popular tem raízes profundas na filosofia política, com Jean-
Jacques Rousseau sendo um de seus principais teóricos. Rousseau argumentava que a
legitimidade de qualquer forma de governo derivava da vontade geral do povo, uma noção
que influenciou profundamente o pensamento político subsequente 10. No entanto, a aplicação
prática desse conceito enfrentou críticas e adaptações, como as formuladas por Benjamin
Constant, que destacou a necessidade de uma autoridade social limitada e regulada por
instituições constitucionais para a preservação da liberdade11.
No contexto contemporâneo, a soberania popular enfrenta desafios significativos,
como o negacionismo e a disseminação de desinformação, que podem deteriorar os
fundamentos da democracia e da liberdade12. A crise da democracia no Brasil, por exemplo,

9
BAMBIRRA, Felipe Magalhães. Soberania revisitada: construção histórico-filosófica e aproximativa entre
direitos humanos e soberania através da dialética do reconhecimento. Revista Brasileira de Estudos Políticos,
2017. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/rbep/article/view/17676. Acesso em: 02 abr. 2024.
10
MOSCATELI, R. Rousseau e a radicalidade democrática: um debate com a interpretação de Kevin
Inston. Princípios: Revista de Filosofia (UFRN), [S. l.], v. 30, n. 62, 2023. DOI: 10.21680/1983-
2109.2023v30n62ID31206. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/principios/article/view/31206. Acesso em:
2 abr. 2024.
11
HOEVELER, Rejane Carolina. Da soberania popular à accountability: as disputas sobre a definição de
democracia e a política externa estadunidense. Revista Novos Rumos, v. 56, n. 2, p. 71-88. Disponível em:
https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/novosrumos/article/view/9584. Acesso em: 02 abr. 2024.
12
RÊGO, Tâmara Luz Miranda. OS MOVIMENTOS SOCIAIS E A PARTICIPAÇÃO POPULAR NO REGIME
DEMOCRÁTICO BRASILEIRO. Direito UNIFACS–Debate Virtual-Qualis A2 em Direito, n. 211, 2018.
Disponível em: https://revistas.unifacs.br/index.php/redu/article/view/5220. Acesso em: 02 abr. 2024.
5

ilustra como a propagação de ódios, violências e fake news pode ameaçar a soberania popular
e os avanços civilizatórios. Além disso, a teoria dos freios e contrapesos é destacada como um
mecanismo essencial para a manutenção da soberania popular, equilibrando os poderes e
garantindo que nenhum ramo do governo se sobreponha aos outros13.
Os movimentos sociais desempenham um papel crucial na manutenção e no
fortalecimento da soberania popular, pois são expressões diretas da vontade e dos interesses
do povo. No Brasil, a participação popular por meio de movimentos sociais tem sido uma
força motriz para a evolução do regime democrático, embora o país ainda enfrente desafios
para alcançar um verdadeiro Estado Democrático de Direito.
A judicialização da política, fenômeno pelo qual o Judiciário assume um papel cada
vez mais ativo na esfera política, pode ser vista como uma ameaça à soberania popular, pois
fortalece as representações funcionais estatais em detrimento das representações políticas
tradicionais, como os partidos políticos14.
A soberania popular é um conceito dinâmico e multifacetado que continua a evoluir
em resposta aos desafios políticos, sociais e tecnológicos. A compreensão de sua trajetória
histórica e de seus desafios contemporâneos é essencial para a preservação e o aprimoramento
das democracias em todo o mundo. A participação ativa do povo, seja por meio de
movimentos sociais, seja pela vigilância constante sobre as ações do governo, é fundamental
para garantir que a soberania popular continue a ser a base da legitimidade política e da
governança democrática.

2.4 Teoria da Soberania Nacional

A Teoria da Soberania Nacional é um pilar fundamental na compreensão do Estado


moderno, articulando a autoridade suprema do Estado sobre seu território e população, livre
de intervenções externas. Esta teoria tem evoluído ao longo do tempo, adaptando-se às
mudanças sociais, políticas e econômicas globais.

13
LEAL, Fellipe Guerin; NETO, Francisco Quintanilha Veras; BARCELLOS, Rafael Siegel. A força política do
poder constituinte derivado com fundamento na soberania popular: em defesa da constitucionalidade
superveniente e seu efeito de convalidação. A&C-Revista de Direito Administrativo & Constitucional, v. 23,
n. 91, p. 117-136, 2023. Disponível em: https://revistaaec.com/index.php/revistaaec/article/view/1735. Acesso
em: 02 abr. 2024.
14
MOTTA, Luiz Eduardo. JUDICIALIZAÇÃO DA POLÍTICA E REPRESENTAÇÃO FUNCIONAL NO
BRASIL CONTEMPORÂNEO: UMA AMEAÇA À SOBERANIA POPULAR? / LEGALIZATION OF
POLITICS AND FUNCTIONAL REPRESENTATION IN CONTEMPORARY BRAZIL: A THREAT TO
POPULAR SOVEREIGNTY?. REVISTA QUAESTIO IURIS, [S. l.], v. 5, n. 2, p. 256–285, 2012. DOI:
10.12957/rqi.2012.9878. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/quaestioiuris/article/view/9878.
Acesso em: 2 abr. 2024.
6

Jean Bodin é frequentemente citado como um dos primeiros teóricos a formular a


concepção moderna de soberania no século XVI, com sua obra "Os Seis Livros da
República". Bodin argumentava que a soberania é perpétua, indivisível, e que o soberano não
está sujeito às leis que ele próprio estabelece, embora deva respeitar as leis divinas e naturais 15
Outro proponente significativo é Thomas Hobbes, cuja obra "Leviatã" defende a
necessidade da soberania absoluta para garantir a paz e a segurança, através de um contrato
social onde os indivíduos transferem seus direitos ao soberano em troca de proteção16
A soberania nacional é caracterizada por sua unicidade, indivisibilidade,
inalienabilidade e imprescritibilidade. É única porque não pode existir mais de uma
autoridade soberana em um mesmo território. Indivisível, pois o poder soberano delega
atribuições e reparte competências, mas não divide a soberania. Inalienável, por sua natureza,
a vontade soberana não se transfere a outrem. E imprescritível, no sentido de que não pode
sofrer limitação no tempo, sendo exercida em caráter definitivo e eterno17
A teoria da soberania nacional enfrenta críticas e limitações, especialmente no
contexto contemporâneo marcado pela globalização e interdependência entre os Estados. Uma
crítica central é a relativização da soberania nacional diante da crescente influência de
organizações internacionais e transnacionais, como as agências de rating, que podem interferir
nas decisões internas dos Estados18. Essa interferência desafia a noção tradicional de
soberania como poder absoluto e incontestável dentro do território nacional.
Outra limitação é a tensão entre a soberania nacional e os direitos humanos. O
paradoxo democrático aponta para o dilema moral entre a soberania do Estado democrático
liberal e o reconhecimento dos direitos humanos dos estrangeiros, sugerindo a necessidade de
superar a ordem “estadocêntrica” em favor de uma comunidade política mais inclusiva 19
No contexto contemporâneo, a teoria da soberania nacional é desafiada pela
necessidade de cooperação internacional e pelo reconhecimento de direitos transnacionais,
como os direitos das pessoas LGBTQIA+ e a proteção ambiental. A teoria da margem de

15
MALUF, Sahid. Teoria geral do Estado. 34. ed. São Paulo: Saraiva, 2018, 423 . p.
16
MALUF, Sahid. Op cit..
17
MALUF, Sahid. Op.Cit
18
REZENDE SANTOS, L.; GASPARDO, M. Agências de Rating e relativização da soberania nacional. Revista
Direito em Debate, [S. l.], v. 31, n. 58, p. e10394, 2022. DOI: 10.21527/2176-6622.2022.58.10394. Disponível
em: https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/revistadireitoemdebate/article/view/10394. Acesso em: 2 abr.
2024.
19
LACERDA, Moara Ferreira; CORRÊA, R.; AURÉLIO, M. Soberania nacional, direitos humanos e o paradoxo
democrático. Controvérsia (São Leopoldo), v. 19, n. 3, p. 107–123, 20 dez. 2023. Disponível em:
https://dx.doi.org/10.4013/con.2023.193.07. Acesso em: 02 abr. 2024.
7

apreciação nacional, por exemplo, discute até que ponto a soberania nacional pode ser um
obstáculo ao reconhecimento dos direitos humanos em âmbito internacional20.
Além disso, a globalização econômica e a interdependência financeira impõem
limitações práticas à soberania nacional, exigindo dos Estados uma adaptação às normas e aos
mercados globais, o que pode comprometer a capacidade de autodeterminação nacional21.
Portanto, a teoria da soberania nacional continua sendo um conceito central na
compreensão do Estado e do direito internacional, mas enfrenta desafios significativos no
mundo globalizado. As críticas e limitações apontam para a necessidade de repensar a
soberania em termos mais flexíveis e adaptáveis, capazes de equilibrar a autonomia do Estado
com a cooperação internacional e o respeito aos direitos humanos e ambientais.

3 ANÁLISE E COMENTÁRIO DO CONTEÚDO

3.1 Comparação entre as teorias: Soberania Absoluta do Rei, Soberania Popular e


Soberania Nacional

3.1.1 SOBERANIA ABSOLUTA DO REI

A teoria da Soberania Absoluta do Rei, prevalente durante a Idade Média até o início
da Idade Moderna, postula que o monarca possui poderes ilimitados sobre seu território e
súditos. Essa soberania é caracterizada pela concentração do poder político nas mãos do rei,
que governa por direito divino ou hereditário, sem a necessidade de consentimento dos
governados. Nessa perspectiva, o rei está acima das leis, sendo ele próprio a fonte de toda a
autoridade legal.

3.1.2 SOBERANIA POPULAR

Contrastando com a Soberania Absoluta do Rei, a Soberania Popular é um conceito


que surge com o Iluminismo e ganha força durante e após a Revolução Francesa. Aqui, o
20
ARAÚJO, Elenita; NETA, Silva; DE LIMA CATÃO, Adrualdo. A TEORIA DA MARGEM DE
APRECIAÇÃO NACIONAL E A BUSCA PELA PROTEÇÃO DOS DIREITOS DAS PESSOAS LGBTQIA+.
Diké-Revista Jurídica, v. 22, n. 24, p. 252-287, 2023. Disponível em:
http://periodicos.uesc.br/index.php/dike/article/view/3925. Acesso em: 02 abr. 2024.
21
REZENDE SANTOS, L.; GASPARDO, M. Agências de Rating e relativização da soberania nacional. Revista
Direito em Debate, [S. l.], v. 31, n. 58, p. e10394, 2022. DOI: 10.21527/2176-6622.2022.58.10394. Disponível
em: https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/revistadireitoemdebate/article/view/10394. Acesso em: 2 abr.
2024.
8

poder reside no povo, que é considerado o detentor da autoridade máxima. A soberania


popular se manifesta por meio da democracia, em que o povo exerce seu poder diretamente ou
por meio de representantes eleitos. Esta teoria enfatiza a participação cidadã, a igualdade de
direitos e o governo por consentimento dos governados.

3.1.3 TEORIA DA SOBERANIA NACIONAL

A Teoria da Soberania Nacional, por sua vez, é um meio-termo entre as duas


anteriores. Ela reconhece a nação como a titular da soberania, mas, diferentemente da
soberania popular, essa soberania é exercida em nome do povo pela nação como um todo,
representada por suas instituições políticas. Assim, a soberania nacional pode ser vista como
uma síntese que combina elementos da soberania absoluta (um poder centralizado) com a
soberania popular (legitimidade derivada do povo).
As teorias da soberania refletem a evolução do pensamento político e social através
dos séculos. Da concentração do poder nas mãos de um monarca absoluto, passamos para a
ideia de que o poder reside no povo, até chegar a um entendimento mais complexo de que a
nação, como um todo, é a detentora da soberania. Cada teoria responde a contextos históricos
e necessidades sociais específicas, marcando a transição de sistemas autoritários para formas
mais democráticas e representativas de governo.

4 ASPECTOS DA LIMITAÇÃO DA SOBERANIA

A limitação da soberania, enquanto conceito fundamental no estudo das relações


internacionais e do direito, reflete a complexidade e a dinâmica do poder no cenário global.
Tradicionalmente, a soberania é entendida como a autoridade suprema dentro de um território,
caracterizando-se pela capacidade de um Estado de governar-se sem a interferência externa.
No entanto, a realidade contemporânea apresenta um quadro mais matizado, onde a soberania
encontra-se sujeita a uma série de limitações, tanto internas quanto externas, que refletem as
mudanças nas normas internacionais, as exigências da globalização e os desafios ambientais.
Internamente, a soberania é limitada pela própria estrutura constitucional e legal de um
Estado, que define os poderes e limites da atuação governamental. Além disso, a soberania é
condicionada pela necessidade de respeitar os direitos humanos e as liberdades fundamentais
dos cidadãos. A teoria da soberania popular, por exemplo, sustenta que a verdadeira fonte de
poder soberano reside no povo, e não em um monarca ou em uma elite governante,
9

implicando que o exercício da soberania deve estar alinhado com a vontade geral da
população22
No plano internacional, a soberania dos Estados é limitada por uma série de fatores.
Primeiramente, o direito internacional impõe restrições à soberania, através de tratados,
convenções e normas que os Estados se comprometem a respeitar. Isso inclui, por exemplo, o
respeito aos direitos humanos, as leis de guerra e os acordos ambientais23
A globalização econômica e a interdependência entre os Estados também impõem
limitações práticas à soberania. A necessidade de cooperação internacional em áreas como
comércio, finanças e meio ambiente significa que os Estados frequentemente têm que ajustar
suas políticas internas para atender a acordos e padrões internacionais24.
Além disso, a emergência de conceitos como a "Responsabilidade de Proteger" sugere
que a comunidade internacional pode intervir em um Estado, inclusive militarmente, em casos
de graves violações de direitos humanos ou genocídio, desafiando a noção tradicional de
soberania não intervencionista25
A questão ambiental apresenta um desafio particular à soberania tradicional, uma vez
que problemas como mudanças climáticas, perda de biodiversidade e poluição transfronteiriça
não respeitam fronteiras nacionais. Isso requer uma abordagem cooperativa e multilateral,
onde os Estados aceitam limitações à sua soberania em prol de objetivos ambientais globais,
como evidenciado pela crescente importância da Governança Global Ambienta26
A soberania, embora continue sendo um princípio central da ordem internacional, não
é mais absoluta ou incontestável. As limitações à soberania refletem a necessidade de
equilibrar a autoridade estatal com as demandas de um mundo interconectado, onde desafios
transnacionais exigem soluções cooperativas e o respeito aos direitos humanos e ao meio
ambiente são vistos como imperativos universais. Assim, a soberania moderna é caracterizada
por sua natureza relativa, adaptável às exigências de um contexto global em constante
evolução.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

22
MALUF, Sahid. Op.Cit
23
HEIL, D. M. . SOBERANIA DO ESTADO E A GLOBALIZAÇÃO: EM BUSCA DE UMA GOVERNANÇA
GLOBAL AMBIENTAL. Revista Campo da História, [S. l.], v. 8, n. 1, p. 343–365, 2023. DOI:
10.55906/rcdhv8n1-021. Disponível em: https://ojs.campodahistoria.com.br/ojs/index.php/rcdh/article/view/105.
Acesso em: 3 abr. 2024.
24
HEIL, D. M. Op. cit.,
25
HEIL, D. M. Op. cit.,
26
HEIL, D. M. Op. cit.,
10

ALVES, A. L. A. Limites e Potencialidades da Soberania Estatal na Pós-Modernidade.


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