Você está na página 1de 5

TENSOÕES IN SITU

TENSÃO TOTAL
Tensão total é a tensão que age em um plano, considerando que o solo seja um material
sólido. Para o pequeno elemento de solo mostrado na Figura 1, situado a uma
profundidade z abaixo do nível do solo, a tensão total vertical, σv, seria a tensão que
age na superfície horizontal do elemento.
Esse elemento de solo permanecerá em equilíbrio no nível do terreno (sem adensar ou
romper por cisalhamento) com uma tensão total horizontal, σH, que age na superfície
vertical do elemento. As tensões no solo não são necessariamente isotrópicas, ou seja,
geralmente σv não é igual a σH.
Acima do lençol freático, a tensão total é obtida a partir do peso específico aparente γb
para um solo não saturado, ou seja, possivelmente com a presença de um pouco de ar
nos espaços vazios.
Abaixo do lençol freático, utiliza-se peso específico saturado, pois todo o espaço de
vazios está completamente saturado de água.

Figura 1 – Tensão total ( )


POROPRESSÃO (uw)
Esta é a pressão da água nos espaços vazios ou poros que existem entre os grãos
minerais. No terreno, o nível no qual a pressão da água é igual à pressão atmosférica é
chamado de lençol freático.
Se um tubo fosse inserido abaixo do lençol freático (e não houvesse ocorrência de
infiltração), a água subiria pelo tubo até o nível do lençol freático. Os poros existentes
no solo abaixo do lençol freático são completamente saturados de água. Por isso, essa
região é muitas vezes chamada zona saturada.
A pressão hidrostática no solo é dada por:
uw = ρ* g* hw ou γw*hw (1)
Em que hw é a profundidade abaixo do lençol freático. A poropressão, uw, é hidrostática,
o que significa que ela tem o mesmo valor em todas as direções e que aumenta uniforme
ou hidrostaticamente com a profundidade abaixo do lençol freático.

TENSÃO EFETIVA (’)


O princípio da tensão efetiva se aplica estritamente a solos totalmente saturados. Ele
iguala a tensão total (que se pode imaginar existir externamente a um elemento do solo)
às tensões dentro dos dois componentes do solo, ou seja, a estrutura dos grãos minerais
(tensão efetiva) e a água nos poros (poropressão).
A tensão efetiva, portanto, é uma medida da tensão que existe dentro da estrutura dos
grãos minerais, sendo gerada por forças entre as partículas, seja entre os grãos
minerais em contato direto, como nas areias, ou como forças eletroquímicas entre
partículas mais finas de argila, que não estão em contato direto mineral-mineral. A
tensão efetiva não é estritamente a tensão de contato direto entre as partículas do solo,
como mostrado na Figura 2, mas representa a contribuição dada pela estrutura do solo
ou pelo esqueleto do solo para suportar a tensão total. Como os principais fenômenos
da mecânica dos solos (resistência ao cisalhamento, adensamento) dependem da
estrutura do solo, este princípio é de suma importância.

Figura 2 – Tensão efetiva


TENSÃO EFETIVA NO SOLO
Acima do lençol freático, a poropressão é geralmente considerada nula (em vez de
negativa), e as tensões totais então são iguais às tensões efetivas. Abaixo do lençol
freático, a tensão efetiva é obtida pela tensão total subtraída da poropressão, ou
diretamente pela densidade de peso imerso, como mostrado na Figura 3.
Tensão total = tensão efetiva + tensão da água intersticial (ou poropressão)
σ = σ’ +uw (2)

Figura 3 – Tensão efetiva no solo

HISTÓRICO DE TENSÕES
As tensões às quais o solo foi submetido durante sua formação até o presente momento
recebem o nome de histórico de tensões. Durante a deposição, as tensões efetivas no
solo aumentam à medida que mais partículas do solo são depositadas. Durante o
processo de erosão, a tensão efetiva diminui à medida que o solo é removido. Os solos
existentes nos estuários de rios, e em torno deles, no presente momento podem ter
apenas séculos ou até décadas de existência, e apresentam históricos de tensões
relativamente simples, que envolvem apenas deposição.
ARGILA NORMALMENTE ADENSADA
Argila que só sofreu deposição. Na Figura 4, são mostrados dois estágios durante a
deposição acima de um elemento do solo. Considera-se que o nível da água no mar ou
no lago permaneça acima do nível do solo. À medida que a deposição ocorre, a tensão
efetiva vertical (e horizontal) no elemento de solo aumenta e, devido ao processo de
adensamento, o índice de vazios do solo sofre uma redução.
Figura 4 – Argila normalmente adensada
Durante a deposição, a estrutura dos grãos minerais do elemento de solo se ajustará às
variações no índice de vazios, principalmente por rearranjo estrutural das partículas.
Esse processo, em que as partículas se aproximam, é irreversível, de modo que o
arranjo original das partículas não pode ser recuperado, mesmo que se removam as
tensões.
Do estágio 1 ao estágio 2 na Figura 4a, desde a parte inicial do histórico de deposição
até um estágio posterior, o índice de vazios diminui em todo o depósito à medida que
as tensões efetivas aumentam. As tensões efetivas só aumentam à medida que as
partículas de solo são depositadas, sendo que a poropressão permanece hidrostática e
está associada ao nível da água. Deve-se entender que, mesmo que o nível da água
varie, isto, por si só, não produzirá nenhuma variação da tensão efetiva, desde que o
nível da água permaneça acima do nível do solo.
Em certo estágio, dependendo do ambiente geológico, a deposição e o adensamento
cessarão, e o solo permanecerá nesse estado de índice de vazios e tensão efetiva para
sempre, desde que não ocorra nenhum outro processo geológico. A tensão efetiva
nesse estágio será a tensão máxima já imposta sobre o solo, σp’, e será a tensão de
sobrecarga atual (tensão de pré-adensamento) ou pressão p0’. Assim:
p0’ = σp’ (3)
Se, em algum momento após o término da deposição, uma amostra do solo no nível do
elemento do solo for colhida de, por exemplo, um furo de sondagem com deformação
mínima, colocada em um aparelho de adensamento laboratorial e submetida a uma
tensão vertical p0’ ela existiria no ponto A mostrado na Figura 4b. Se a pressão da
amostra for aumentada, a linha de carga continuará a partir do ponto A na linha de
deposição original e deverá seguir essa mesma linha. Este também seria o caso do
depósito de solo in situ quando submetido a um aumento de tensão proveniente de uma
estrutura ou de um aterro.
ARGILA PRÉ-ADENSADA
argila que foi submetida a uma tensão efetiva em seu histórico de tensões passadas,
σp’, maior que a tensão efetiva existente no momento atual, p0’. A causa mais comum
do pré-adensamento é a erosão, mas ela pode ser gerada por outros processos,
conforme descrito a seguir. Quando da remoção da tensão, o esqueleto do solo se
expande, mas somente os componentes reversíveis da variação de volume são
recuperados, de modo que os aumentos no índice de vazios são menores e a linha de
“erosão” segue uma trajetória mais suave.
O índice de vazios e o estado da pressão atuais para uma argila pré-adensada são
mostrados no ponto B da Figura 5. Se, em algum momento após o término da erosão,
uma amostra de solo for colhida a partir de um furo de sondagem e recarregada a partir
de p0’, ela seguirá uma linha de recarga relativamente plana e superará os componentes
“elásticos” da variação de volume até atingir a pressão máxima anterior (a pressão de
pré-adensamento, σp’). Depois disso, ela seguirá a linha de deposição ou de
compressão virgem mais íngreme quando recomeçariam os rearranjos estruturais
irreversíveis. Sob níveis de tensões inferiores à pressão de pré-adensamento, o solo
está no estado pré-adensado, mas quando os níveis de tensão são mais altos que σp’,
o solo retorna ao estado normalmente adensado.

Figura 5 – Argila pré-adensada

RAZÃO DE PRÉ-ADENSAMENTO
Esta é uma medida do grau de pré-adensamento ao qual o solo foi submetido no
passado, como mostrado na Figura 5. A razão de pré-adensamento é dada por:
OCR = p’/p0’
Este é um índice de tensões verticais. Valores típicos da razão de pré-adensamento
(OCR) são:

Tipo de solo OCR


Normalmente adensado 1
Ligeiramente pré-adensado 1,5-3
Extremamente pré-adensado >4

Você também pode gostar