Você está na página 1de 10

1.

INTRODUÇÃO

As artes desempenham um papel crucial no contexto educacional, sendo cada vez mais
reconhecidas como uma ferramenta pedagógica essencial. Estudos e especialistas têm
defendido a inclusão das artes em todos os domínios acadêmicos, destacando os benefícios
positivos que oferecem aos estudantes e às escolas. No entanto, a despeito dessa evidência, as
artes muitas vezes são consideradas necessárias, porém, não prioritárias. Sua importância é
subestimada, e a falta de clareza sobre seu papel contribui para uma posição marginal nas
instituições educacionais (OLIVEIRA, 2020).
Embora as demandas da sociedade moderna pareçam relegar as artes a um papel
secundário, paradoxalmente, nunca foram tão essenciais. Em um mundo que valoriza cada vez
mais habilidades criativas, inovação e pensamento crítico, as artes proporcionam uma
plataforma única para desenvolver essas competências. A falta de espaço para as artes nas
estruturas educacionais atuais reflete uma lacuna preocupante entre a compreensão de sua
importância e sua aplicação prática no ensino. Para construir uma sociedade mais equilibrada
e adaptável, é imperativo reconhecer o papel vital que as artes desempenham na formação
holística dos indivíduos (GOMBRICH, 2015).
Como observa Barros (2016), é essencial repensar e redefinir o papel das artes na
educação, cuja confusão em relação ao seu propósito e a percepção equivocada de que são
apenas necessárias em circunstâncias específicas precisam ser superadas. As escolas devem
abraçar as artes como um componente fundamental do currículo, não apenas como uma
atividade extracurricular ou opcional. Ao fazer isso, é possível garantir que os benefícios
intrínsecos das artes, como a expressão criativa, a resolução de problemas e a apreciação
estética, sejam plenamente integrados na experiência educacional, preparando os alunos de
maneira mais abrangente para os desafios do mundo contemporâneo.
O presente estudo visa analisar a educação artística, enfatizando sua importância e a
necessidade de envolvimento genuíno de profissionais nessa disciplina, indo além do
preenchimento de carga horária. Consideram-se as funções primordiais da arte e os inúmeros
benefícios que as artes em geral podem proporcionar aos estudantes. O objetivo é determinar
o papel que a arte desempenha ou pode desempenhar nos processos de ensino-aprendizagem e
os benefícios resultantes no contexto acadêmico. A abordagem metodológica adotada para
este trabalho baseia-se em estudo bibliográfico.
Para fundamentar a justificação da importância das artes nas escolas, a análise se
baseia primordialmente em estudos internacionais, notadamente no livro "The Wow Factor! O
Papel das Artes na Educação: Um Estudo Internacional sobre o Impacto das Artes na
Educação". Este estudo destaca que, apesar da presença da educação artística nas políticas
educacionais de muitos países ao longo de vários anos, subsistem problemas de qualidade e
disparidades entre o que as políticas sugerem e a prática efetiva. Emerge uma distinção entre
o que está legislado em termos de educação artística e a qualidade efetiva dos programas que
os alunos recebem nas escolas, cuja lacuna entre a teoria e a prática ressalta a necessidade de
uma revisão crítica e a implementação efetiva de políticas educacionais que assegurem um
ensino artístico de qualidade.
Vale ressaltar que as artes estiveram historicamente presentes nas salas de aula, porém,
suas funções nunca foram claramente definidas, e gradualmente perderam valor. Surge, assim,
a grande paradoxo que permeia e estrutura toda a pesquisa: mesmo com o conhecimento das
funções positivas da arte na educação, respaldado por estudos e autores que advogam por um
"renascimento" da educação artística em sua expressão máxima, questiona-se por que ela
desempenha um papel tão secundário nas escolas (MORENO, 2013).
Para isso, a estrutura do trabalho apresenta uma abordagem abrangente e cuidadosa
sobre a educação artística, dividindo-se em quatro blocos significativos. Inicialmente, a
introdução delineia os objetivos, a metodologia e a justificação da pesquisa. Em seguida, o
segundo bloco, "Estado da questão", destaca a análise de vários tópicos relacionados à
interseção entre arte e educação, explorando conceitos fundamentais através de diferentes
perspectivas de autores espanhóis e estrangeiros. O trabalho avança para examinar as diversas
visões de especialistas sobre o papel potencial da arte no sistema educacional, levantando uma
intrigante questão paradoxal: por que, apesar das diversas funções e benefícios positivos que a
arte oferece aos estudantes, ela ocupa uma posição tão subalterna no cenário educacional?
Este questionamento direciona a análise para o legado da psicologia na educação,
examinando correntes e influências. O último ponto deste bloco explora as diferentes
abordagens de educação em artes e os benefícios documentados que emanam desse estudo. O
terceiro bloco, correspondente às conclusões, sintetiza as descobertas obtidas ao longo do
trabalho. Finalmente, a quarta e última parte dedica-se à apresentação da bibliografia
utilizada, consolidando assim a pesquisa de maneira completa e estruturada.
2. DESENVOLVIMENTO

2.1 Aspectos conceituais sobre "Educar" e "arte”

No início da exploração, convém ressaltar que os termos "educação" e "arte" figuram


entre os vocábulos mais polissêmicos e intricados do léxico. Essas palavras assumem
diferentes significados, moldando-se de acordo com as épocas e culturas, adaptando-se aos
momentos específicos e, conforme suas necessidades, incorporando ou excluindo outros
campos de conhecimento. A pergunta fundamental sobre "O que é arte?" representa um
desafio para diversos indivíduos e, até o presente momento, não alcançou consenso unânime
(FONSECA, 2011).
Como afirmado por Herbert Read, trata-se de "um dos termos mais esquivos da
história do pensamento humano (READ, 2010, p. 19)”. A complexidade reside na própria
essência da arte, caracterizada por sua natureza flexível, mutável e inclassificável. A arte,
como entidade, permanece viva e impossível de ser rigidamente categorizada, constantemente
se reinventando ao longo do tempo.
A constante redefinição da arte é o cerne de sua natureza intrínseca e, assim, é crucial
compreender essa dinâmica. Sua capacidade de adaptar-se a contextos diversos e moldar-se
conforme as circunstâncias revela uma característica fundamental. A citação de Carvalho
(2016) destaca a complexidade de conceituar a arte, indicando que esse desafio tem raízes
profundas na história do pensamento humano. Nesse sentido, a arte se apresenta como um
fenômeno dinâmico e em constante evolução, desafiando qualquer tentativa de limitá-la a
definições estáticas. Essa natureza elusiva da arte abre espaço para uma compreensão mais
holística e fluida, estimulando uma abordagem mais flexível diante desse fenômeno cultural e
criativo.
Silva (2023), por sua vez, comenta a definição de Hyughe (1995) sobre arte,
apontando o seguinte:

A arte e o homem são indissociáveis. Não há arte sem homem, mas talvez também
não haja homem sem arte. Por meio dela, o mundo se torna mais inteligível e
acessível, mais familiar. É o meio de um intercâmbio contínuo com o que nos cerca,
uma espécie de respiração da alma, bastante semelhante à física, sem a qual nosso
corpo não pode passar. O ser isolado ou a civilização que não atingem a arte estão
ameaçados por uma asfixia espiritual secreta, por uma perturbação moral (SILVA,
2023, p. 19).

Segundo Gombrich (2015), a perspectiva de que "não existe realmente a Arte, existe
apenas artistas (GOMBRICH, 2015, p. 13)” destaca-se como um ponto de vista significativo
sobre a natureza da arte. Apesar da falta de consenso generalizado sobre uma definição única
para o termo, a análise breve de diversas abordagens revela uma questão que se sobressai: a
relação intrínseca entre a arte e a espécie humana.
Essa interconexão sugere que a arte não é apenas uma entidade isolada ou um conjunto
de obras, mas sim uma expressão profundamente enraizada na experiência humana. Ao
considerar a perspectiva de Gombrich (2015), a ênfase recai sobre os artistas como os
verdadeiros protagonistas desse fenômeno, destacando a importância da criatividade
individual e da expressão artística como parte integrante da condição humana. Essa visão
ressalta a arte como um meio através do qual os artistas exploram, comunicam e enriquecem a
complexidade da experiência humana ao longo do tempo.
O termo "educar" apresenta uma complexidade semelhante à da arte, carregando
consigo frescor e polêmica. A definição do que significa "educar" varia entre indivíduos,
sendo que cada pessoa pode ter sua própria concepção, bem como de palavras derivadas como
"educador" e "educação". Ao longo do tempo, observa-se uma evolução nos significados
atribuídos aos termos "educador" e "educação". Notavelmente, o conceito de "educar"
transcendeu a mera transmissão de conhecimentos, passando a englobar a transmissão de
atitudes, valores, interesses e sentimentos (NERES, 2017).
A figura do professor ou educador, reconhecida como fundamental, não se limita
apenas à estruturação do processo de aprendizagem. Sua responsabilidade vai além, incluindo
orientar e motivar os alunos, despertar interesse e curiosidade, e incitar a paixão pelo
conhecimento. Jacques Ranciére, em sua obra "O mestre ignorante" (2002), propõe uma
distinção entre dois tipos de professores: o "explicador" e o "emancipador". Enquanto o
primeiro transmite conhecimentos de maneira linear e hierárquica, o segundo possibilita que
os alunos decidam o que pensar e usem sua própria inteligência para chegar a conclusões.
Dessa perspectiva, destaca-se a importância de adotar uma abordagem de "mestre
emancipador", promovendo uma educação na qual os alunos assumam o controle de seu
aprendizado, livre de imitações ou repetições.
A complexidade intrínseca ao ato de educar é enfatizada, e o verdadeiro educador é
reconhecido não apenas pelo domínio dos conteúdos de sua disciplina, mas também por sua
capacidade de facilitar os processos de aprendizagem. O bom educador é aquele que, por
meio de suas competências e habilidades, possibilita que os alunos se envolvam no
aprendizado, interpretem suas vidas e o ambiente ao seu redor, compreendam sua disciplina e
o mundo que os cerca, promovendo, assim, o crescimento dos indivíduos. Em última análise,
educar tornou-se uma arte (RANCIERE, 2002).
Conforme ressaltado por Pougy (2017), a educação enfrenta um compromisso de
dimensões consideráveis, sendo encarregada de proporcionar oportunidades para o
desenvolvimento de todas as capacidades humanas e estabelecer bases para a formação moral.
Além disso, deve considerar as características individuais da criança, não impedindo nenhum
potencial de desenvolvimento, reconhecendo o ser humano como uma totalidade que integra
inteligência e sentimento, bem como destacando a necessidade de a educação abrir espaço
para um aspecto muitas vezes negligenciado, o da afetividade e das emoções.
Ao longo deste trabalho, buscar-se-á justificar a utilização da arte como ferramenta
educativa. Apesar da dificuldade em definir os termos "arte" e "educação", há dois elementos
a favor desse propósito. Em primeiro lugar, ambos os conceitos estão intrinsecamente ligados
ao ser humano, sendo familiares e passíveis de serem utilizados em benefício da educação.
Em segundo lugar, são conceitos dinâmicos, carregados de polissemia, o que permite
considerar diversas possibilidades e adaptar-se às necessidades específicas. Apesar dessas
considerações introdutórias, reconhece-se que alcançar esse objetivo nem sempre será uma
tarefa fácil.

2.2 A Educação Artística e seus elementos

No contexto da educação artística, uma percepção generalizada muitas vezes se


resume à crença de que sua essência reside principalmente na prática do desenho. Embora não
se possa negar a existência de uma parcela dedicada a essa atividade, há uma ponderação
relevante, especialmente no cenário educacional do país, que sugere que, em muitas ocasiões,
a educação artística se restringe a essa abordagem mencionada anteriormente. Essa visão mais
limitada pode resultar em uma compreensão reducionista da riqueza e diversidade que a
educação artística pode oferecer, destacando a importância de uma abordagem mais
abrangente e inclusiva para explorar todo o potencial desta disciplina educacional.
No Brasil, o ensino formal da arte teve seu marco inicial no século XIX, quando a
Missão Francesa introduziu o sistema de ensino superior em arte no país. Este evento ocorreu
no contexto das transformações resultantes da instalação da corte portuguesa no Brasil, que
trouxe consigo influências culturais e educacionais significativas. Já o movimento Arte-
Educação, por sua vez, emergiu na década de oitenta, marcando um período de
conscientização entre os profissionais da área. Foi por meio desse movimento que os
professores de Arte se mobilizaram, engajando-se em discussões sobre o ensino da disciplina
e outros temas relevantes, culminando na obrigatoriedade do ensino de Artes em todos os
níveis da educação básica, desde o ensino infantil até o ensino médio, conforme estabelecido
pela Lei 12.287, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e publicada em 13 de
julho de 2010 (BRASIL, 2010).
A promulgação da Lei 12.287/2010 representou um marco importante ao instituir a
obrigatoriedade do ensino de Artes em todas as etapas da educação básica. Essa medida
reflete um reconhecimento da importância da educação artística para o desenvolvimento
integral dos alunos, destacando a relevância do movimento Arte-Educação que antecedeu essa
mudança legislativa. A partir desse momento, o ensino de Artes ganhou uma posição mais
consolidada no currículo escolar brasileiro, contribuindo para a promoção do acesso à cultura,
o estímulo à criatividade e a formação de indivíduos mais sensíveis e críticos em relação à
expressão artística.
Contudo, outros conteúdos de significativa importância coexistem com o que
comumente compreendemos como "Educação Artística", sendo estes vastos, complexos e
diversificados. Reduzir uma área de conhecimento tão ampla e mutável exclusivamente ao ato
de desenhar é análogo a simplificar a matemática à prática da adição ou a literatura à
habilidade de leitura, sendo que diversas definições e concepções acerca do escopo que
envolve a educação artística, suas características e aplicações, revelam-se diferentes e muitas
vezes surpreendentes, desafiando os preconceitos delineados no parágrafo anterior.
De acordo com Oliveira (2020):

A Educação Artística serve para aprender a ser criativos, aprender a criar produções
artísticas e saber conhecer, compreender, respeitar, valorizar, cuidar, desfrutar e
transmitir tanto nossas próprias criações como aquelas feitas pelos artistas do
passado e as que os artistas do presente estão fazendo (OLIVEIRA, 2020, p. 23).

Para Moreno (2013):

A Educação Artística não é uma matéria 'diferente' das outras no currículo escolar.
Não é uma disciplina 'simpática e agradável', mas menos acadêmica do que as
outras. Na Educação Artística, há muitas coisas para aprender (...). O que acontece é
que a maioria das aprendizagens mais valiosas e decisivas na Educação Artística não
são do tipo memorização, nem há uma única resposta correta para a maioria das
perguntas e problemas (MORENO, 2013, p. 45).

Já Arhein (2004), por sua vez, destaca o seguinte:

A Educação Artística não é uma matéria 'manual' em comparação com as outras que
têm um caráter 'teórico'. O fato de que os conhecimentos e aprendizados mais
relevantes na Educação Artística não ocorrem na linguagem verbal ou matemática,
mas sim através de imagens e linguagens visuais, não significa que se trata apenas
de uma habilidade manual ou perceptiva. O pensamento visual ocorre e se manifesta
por meio de imagens e objetos com a mesma rigorosidade e profundidade que em
qualquer outro domínio do conhecimento humano (ARNHEIM, 2004, p. 40).
Contudo, outros conteúdos de significativa importância coexistem com o que
comumente compreendemos como "Educação Artística", sendo estes vastos, complexos e
diversificados. Reduzir uma área de conhecimento tão ampla e mutável exclusivamente ao ato
de desenhar é análogo a simplificar a matemática à prática da adição ou a literatura à
habilidade de leitura. Diversas definições e concepções acerca do escopo que envolve a
educação artística, suas características e aplicações, revelam-se diferentes e muitas vezes
surpreendentes, desafiando os preconceitos delineados no parágrafo anterior (ARNHEIM,
2004).
A esse respeito, Aleixo (2015) observa o seguinte aspecto:

A Educação Artística não deve reproduzir, mas, pelo contrário, desativar os


preconceitos habituais sobre a arte em nossa sociedade. Os alunos não abordam
nenhuma matéria do currículo com um olhar "inocente", mas normalmente adotam e
reproduzem as atitudes predominantemente estabelecidas em relação a cada tipo de
conhecimento; por exemplo, "matemática é difícil", "para aprender desenho é
preciso ter talento", "a arte moderna é incompreensível e é uma piada", "os artistas
são loucos (ALEIXO, 2015, p. 21).

Já Anne Bamford (2009) define em seu livro o termo "educação artística" da seguinte
maneira:

A educação artística tem como objetivo transmitir a tradição cultural aos jovens e
prepará-los para que possam gerar sua própria linguagem artística e contribuir assim
para sua formação global (emocional e cognitiva). Portanto, a educação artística
envolve a criança tanto no plano acadêmico quanto no pessoal. Existem dois
enfoques que podem ser adotados na educação artística: a educação em arte implica
transmitir aos alunos as práticas e os princípios de diferentes disciplinas artísticas,
com a ideia de estimular sua consciência crítica e sensibilidade e permitir que
construam identidades culturais. Por outro lado, a educação através da arte implica
considerar a arte como um veículo de aprendizado de outras disciplinas e como meio
para alcançar resultados educativos mais gerais. A partir daí, a educação artística
pode servir para articular outras disciplinas, especialmente de cunho social ou
cultural (BAMFORD, 2009, p. 23-24).

Segundo Fusari (2011), a educação artística concentra-se predominantemente no


fomento da criatividade, sendo que, em sua visão, ela não detém o monopólio desse domínio,
uma vez que outros campos também são apropriados para cultivar o que ele denomina de
"pensamento criativo" dos alunos. O autor destaca um dos objetivos mais notáveis da
educação artística relacionado à cultura e ao papel que esta desempenha nas obras de arte,
argumentando que a educação artística está intrinsecamente ligada ao contexto cultural e
histórico no qual todas as obras de arte têm sua origem.
Desse modo, a história e a cultura emergem como categorias essenciais para a
apreciação das obras de arte. O educador artístico, conforme apontado por Pillotto (2011),
assume a responsabilidade de situar as obras de arte em seus contextos históricos e culturais,
reconhecendo a influência recíproca entre as obras de arte e a cultura. Consequentemente, a
cultura exerce um papel condicionante sobre os artistas na criação das obras de arte.
Silva (2023), em sua obra intitulada "Transformando o mundo através da imaginação",
conclui:

A educação artística é uma forma de desenvolvimento da sensibilidade que envolve


um conceito amplo de cultura, pois propõe estimular o desenvolvimento das
capacidades do indivíduo e de seu grupo social para desenvolver as potencialidades
criativas, organizar sua própria experiência e colocá-la em contato com outros.
Nesse sentido, essa educação desperta a partir de quadros interpretativos
interdisciplinares que permitam situá-la contextualmente tanto nos processos
históricos e culturais quanto nos aspectos cognitivos e sensitivos inerentes ao ser
humano (SILVA, 2023, p. 82).

Do referido estudo, conclui-se que, embora a educação artística faça parte da política
educacional na maioria dos países há muitos anos, existem problemas de qualidade e
diferenças entre o que a política oficial sugere e a prática real: uma coisa é o que é legislado
em um país, e outra é a qualidade do programa que os estudantes recebem nas escolas.

A análise da educação artística nesses países revela que, em muitos casos, existem
divergências significativas entre as políticas nacionais, que enfatizam a importância
da dimensão cultural da educação e do estímulo ao desenvolvimento artístico e
estético dos jovens, e a prática real, onde a educação artística se encontra em uma
situação muito menos privilegiada. Além disso, o destaque dado à educação
acadêmica e técnica acaba por relegar as artes a uma categoria inferior dentro dos
programas de estudo, o que favorece a separação entre as artes e as ciências. Esses
fenômenos são agravados pela existência, em muitos países, de ministérios
diferentes para educação e cultura, resultando em competências independentes."
(Conselho da Europa, Relatório Culture, Creativity and the Young Project, em
Bamford, 2009, p. 56).

Em 2014, foi realizado um estudo publicado sob a responsabilidade do Secretário-


Geral da OCDE, intitulado "Arte pela arte? A influência da educação artística". Nesse estudo,
destacam-se os seguintes pontos:

A maioria das pessoas, incluindo aquelas envolvidas no desenvolvimento de


políticas educacionais, considera que a educação artística promove a criatividade e
possivelmente outras habilidades que favorecem a inovação. Nas sociedades do
conhecimento, a inovação é um fator chave para o crescimento econômico, e a
educação artística é cada vez mais vista como um meio de promover as habilidades e
atitudes necessárias para a inovação, além e acima das habilidades artísticas (…)
(OCDE, 2014, p. 26).

Ademais, ao longo da história recente, o papel das artes nas escolas experimentou
diversas transformações. A diversidade de práticas educativas tem levado a abordagens
fragmentadas na educação artística, com pouco enfoque educacional substancial. Em geral, as
escolas muitas vezes carecem de diretrizes claras sobre como incorporar as artes de maneira
efetiva, resultando na ausência de desenvolvimento de competências e conhecimentos
essenciais para uma compreensão abrangente das disciplinas e valores de um programa
educacional em arte. Isso, por sua vez, propicia a formação de pensamentos generalizados,
como "não somos habilidosos em artes" ou "não apreciamos a arte", como resultado direto da
falta de oportunidade para o pleno desenvolvimento de habilidades artísticas (FONSECA,
2011).
A responsabilidade primária pela implementação de programas de educação artística
em uma escola recai sobre o governo central, mas há outras entidades que deveriam participar
no financiamento de determinados programas, como galerias de arte, meios de comunicação
para promoção, entidades beneficentes, fundações ou particulares (TAVARES, 2020).
No contexto exposto, observam-se discrepâncias entre a oferta de conteúdo artístico
nos documentos oficiais e o que os alunos efetivamente recebem, além da escassa atenção
destinada à qualidade dos programas artísticos. O estudo de Oliveira (2020) destaca a
importância da qualidade nos programas implementados nas escolas, uma lacuna evidente
mesmo quando as políticas educacionais advogam fortemente pela inclusão da educação
artística, sendo que programas eficazes que explorem plenamente os benefícios que a arte
pode proporcionar ainda não foram amplamente implementados.
No escopo deste trabalho, uma especificação crucial é destacada: os tipos de educação
artística examinados abrangem aulas escolares nas áreas de música, artes visuais, teatro e
dança, além de aulas de arte integrada, em que as artes são ensinadas como suporte a
disciplinas acadêmicas, e aulas extracurriculares, sendo importante ressaltar que, quando o
autor se refere ao papel da arte na educação, não está limitado ao campo restrito de uma
"educação artística" que se concentra exclusivamente nas dimensões visual ou plástica
(ALMEIDA, 2014).
Ao realizar uma breve recapitulação do discutido sobre a educação artística, é possível
concluir os seguintes pontos:

• A concepção atual de Educação Artística, que se limita às disciplinas relacionadas às


artes plásticas nas escolas brasileiras, não abrangendo sequer a disciplina de Música,
revela-se inadequada e restrita.
• O termo "educação artística" abrange uma gama ampla de atividades educacionais
relacionadas à arte, envolvendo "tipos de educação artística" ou abordagens, como a
educação em artes e a educação por meio da arte.
• A educação artística desempenha um papel significativo na formação global dos
estudantes, abrangendo aspectos emocionais e cognitivos e estando intrinsecamente
ligada ao contexto histórico e cultural.
• Esta forma de educação contribui para o desenvolvimento da sensibilidade e oferece
um meio propício para fomentar habilidades e atitudes específicas.

Ao longo das páginas subsequentes, mesmo após a explanação sobre o significado da


educação artística, preferir-se-á utilizar expressões como "educação em artes", "educação
através da arte" ou "educação para/por meio da arte". Evita-se, conscientemente, o termo
"educação artística", uma vez que, inadvertidamente, essa expressão remete à imagem de
carteiras escolares, folhas de papel e lápis de cor.

Você também pode gostar