Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Assim a indústria cultural, o estilo mais inflexível de todos, revela-se como a própria
meta daquele liberalismo de que se censurava a falta de estilo. Não só as suas categorias
e os seus conteúdos irrompem da esfera liberal, do naturalismo domesticado como o da
opereta e da revista; os modernos trustes culturais são o lugar econômico onde continua,
provisoriamente, a sobreviver, com os tipos correspondentes de empresários, uma parte
da esfera tradicional da circulação, em vias de aniquilamento no restante da sociedade.
Aqui, alguém ainda pode fazer fortuna, desde que não olhe muito reto diante de si, mas
consinta em pactuar. Aquele que reside pode sobreviver apenas se inserindo. Uma vez
registrado em sua diferença pela indústria cultural, já faz parte desta, assim como a
reforma agrária no capitalismo. A revolta que rende homenagem à realidade se torna a
marca de fábrica de quem tem uma nova idéia para levar à indústria. A esfera pública da
sociedade atual não deixa passar qualquer acusação perceptível em cujo tom os
auditivamente sensíveis já não advirtam a autoridade em cujo seio o "révolté" com eles se
reconcilia. Mais incomensurável torna-se o abismo entre o coro e o primeiro plano, e, com
tanta maior certeza, aqui é posto aquele que saiba atestar a própria superioridade com
uma originalidade bem organizada. Assim, mesmo na indústria cultural, sobrevive a
tendência do liberalismo em deixar aberto o caminho para os capazes.
Abrir caminho para esses virtuosos é a função que permanece ainda hoje, do
mercado, o qual, noutras esferas, já se mostra amplamente regulado: trata-se de uma
liberdade que, já em seus bons tempos, era tanto na arte (quanto em geral para os tolos),
apenas a de morrer de fome. Não é por acaso que o sistema da indústria cultural surgiu
nos países industriais mais liberais, assim como ter sido aí que triunfaram todos os seus
meios característicos: o cinema, o rádio, o jazz e as revistas. É verdade que o seu
desenvolvimento progressivo fluía necessariamente das leis gerais do capital. Gaumont e
Pathé, Ullstein e Hugenberg tinham seguido com êxito a tendência internacional; o
restante foi feito pela dependência econômica européia nos EUA, depois da Primeira
Guerra Mundial e pela inflação. Acreditar que a barbárie da indústria cultural seja uma
conseqüência da "cultura lag", do atraso da consciência americana quanto ao estado
alcançado pela técnica é pura ilusão.