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7/24/2019 Velho Oeste Carioca I

Velho Oeste Carioca

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André Luis Mansur

Ve o Oeste Carioca

Ibis Libris
Rio de Janeiro
2008

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7/24/2019 Velho Oeste Carioca I

Copyright © 2008 André Luis Mansur Baptista

itores: ereza C ristina Rocque a Motta e João José e Me o Franco


magens da capa, págs. 1 e 2: Jean Baptiste Debret (1768-1848) – de Viagem
itoresca e Histórica ao Brasil (1816-1831) – Vista da Fazenda Imperial de
anta Cruz e Rochedo do Arvoredo.

1ª edição em outubro de 2008.

ansur, André Luis, 1969–


O Velho Oeste carioca: História da ocupação da Zona Oeste do Rio de
aneiro De Deo oro a Sepeti a o sécu o XVI aos ias atuais An ré Luis
ansur. Rio de Janeiro: Ibis Libris, 2008.
80 p., 21cm.

SBN 978-85-7823-01 -2

Impresso no Brasil.

Direitos reservados ao autor.

E-mail do autor: andreluismansur@yahoo.com.br

Ibis Libris
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anta Teresa | 20241-263 Rio de Janeiro | RJ
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É da tradição oral do Realengo que nas suas viagens para Santa


ruz, D. Pedro I e sua comitiva paravam na fonte de pedra
a greja, para que seus cava os e essem água, enquanto e e
buscava sofregamente a magnífica pinga do vendeiro que ficava
efronte, famosa desde Campinho até Campo Grande...
istória as ruas o io, e rasil erson

onte do Rio Guandu, ou Ponte dos Jesuítas (séc. XVIII), antiga Estrada Real,
anta Cruz, Zona Oeste o Rio e Janeiro.

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INTRODUÇÃO

Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro é citada nos livros


e História do Brasil por dois aspectos: a invasão de piratas
ranceses em Guaratiba, no ano de 1710, e as longas temporadas
e D. João na antiga fazenda dos jesuítas, em Santa Cruz, no
início do século XIX.
O resgate do patrimônio histórico da região,
esconhecido da maioria dos seus próprios moradores, tem
ido feito por escritores e pesquisadores da Zona Oeste, muitas
vezes com recursos próprios, e contando com a ajuda de amigos
para divulgar seus trabalhos.
preciso, no entanto, fazer justiça a importantes
cronistas
chamado do Rio Antigo
“sertão que em
carioca” não deixaram de como
seus livros, mencionar o então
Monsenhor
Pizarro, Vieira Fazenda, Brasil Gerson e Noronha Santos. E é
indispensável, também, citar os ilustres viajantes europeus que
conheceram de perto a região, como Debret, Maria Graham e
s naturalistas Spix e Martius, que, com seus relatos e imagens,
eixaram um rico acervo, principalmente nos aspectos mais
prosaicos, que, muitas vezes, passam despercebidos nas
“publicações oficiais”.
Este livro reúne, assim, material dos pesquisadores
locais, como
visão geral também
da região quedevaiautores maisdos
do Campo conhecidos,
Afonsos atée Sepetiba,
traz uma
oda ela atravessada pela antiga Estrada Real de Santa Cruz.
Não foram incluídas, no entanto, outras áreas que fazem
parte da Zona Oeste, como Jacarepaguá e Barra da Tijuca, por
altarem subsídios para uma pesquisa mais detalhada e para não
ornar o trabalho extenso demais.

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O objetivo desta pesquisa é chamar a atenção para a


riqueza histórica da região, e a melhor forma de valorizar um
ugar é dar a conhecer o seu passado, identificando aqueles que
ajudaram a ser o que é hoje.

ES RADA REAL DE SAN A CRUZ


O caminho da riqueza

O número 390 indica o itinerário: Passeio-Sepetiba. Quando o


motorista entra, logo surge o comentário dos passageiros, se for
ento (“Ih, esse é deitão”) ou rápido (“O piloto é bom”).
O ônibus sai da Rua do Passeio, na Cinelândia, centro
o Rio de Janeiro, e vai até a praia de Sepetiba, no extremo
este da cidade. A viagem dura cerca de duas horas, se o trânsito
a Avenida Brasil estiver bom, num percurso de mais de setenta
uilômetros, o mais extenso da cidade.
razão de começar um livro de História citando
uma linha dea ônibus
ercorrendo ainda de
pista seletiva ativa
umaé simples. Se mesmo
avenida quase hoje,
sem sinais
e trânsito, em ônibus rápidos, em que, nos momentos mais
nimados, o motorista passa dos cem por hora, dá para imaginar
como era a situação numa época em que só havia trilhas e burros
ara percorrê-la e o caminho mais rápido para se chegar onde
oje é o ponto final da linha 390 era pelo mar.
té a chegada da estrada de ferro na Zona Oeste, no
nal do século XIX, o único caminho para se chegar à região
ra a Estrada Real de Santa Cruz, antes chamada de Caminho
os abriram
ue Jesuítas, boa
já que foram
parte dela os padresmontaram
quando da Companhia de Jesus
sua importante
azenda em Santa Cruz.
Estrada Real, segundo o escritor Lima Barreto, era mais
importante para a economia nacional do que a elegantíssima
sofisticada Avenida Central (atual Avenida Rio Branco),
centro econômico e social do centro da cidade no século XX. A

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firmação faz sentido se entendermos que aquela era a estrada


os tropeiros, comerciantes, mineradores e donos de engenhos
plantações de café, primeiro ponto para se chegar a São Paulo,
Minas e às riquezas do interior do Brasil.
Foi por ela que D. Pedro I cavalgou para proclamar a
independência, tendo descansado na Fazenda de Santa Cruz
epois que partiu, no dia 14 de agosto de 1822:
“Partindo da Quinta da Boa Vista, foi D. Pedro pernoitar
em Santa Cruz e aí se achava quando lhe anunciaram
a presença de João Carlos Oeynhausen, vindo para a
Corte, de sua ordem. O presidente da Junta de São
Paulo, a quem faria mais tarde Marquês de Aracati e
seu ministro, pediu-lhe em vão uma audiência: que se
apresentasse sem demora à Princesa Real D. Leopoldina
e ao ministro José Bonifácio, tal foi o recado transmitido
pelo gentil-homem Canto e Melo”. (A vida de D. Pedro
I, vol. 2, Octávio Tarquínio de Sousa)
D. Pedro seguiu viagem e ainda passaria pela Fazenda
e São aJoão
chegar Marcos,
Minas em Itaguaí.
e, na volta, Na ida, levou
após proclamar doze dias para
a independência em
São Paulo, foi direto para a Corte, percorrendo o trajeto em
cinco dias. Antes das melhorias realizadas na estrada durante
período em que D. João, encantado com as paisagens mais
fastadas do burburinho da Corte, passou a despender longas
emporadas na sede da fazenda, transformada em Palácio Real,
ra penoso trafegar por ela.
Para exemplificar, basta citar trechos dos diários de
naturalistas europeus, que começaram a visitar o Brasil após a
chegada da Cortevon
Johann Baptist portuguesa,
Spix e Carlemvon
1808. Entrefalam
Martius eles, os
doaustríacos
início de
uma viagem pela estrada, no dia 8 de dezembro de 1817:
“Apenas havíamos enveredado pelo atalho que sai na
estrada larga de Santa Cruz, quando uma parte dos
nossos cargueiros se deitou no chão, outra parte se
espalhou por entre casas e chácaras, e também algumas

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muita gente acredite que o termo “estrada real” se justifique por


la ter sido “freqüentada” por D. João e a nobreza, há quem a
efina como o “caminho mais seguido, mais franco e, portanto,
que apresenta menos riscos de dificuldades” (O Rio de Janeiro
Imperial, Adolfo Morales de los Rios Filho). Mas para entender
como se desenvolveu toda esta região atravessada pela Estrada
Real de Santa Cruz é preciso compreender como funcionava
sistema de ocupação do espaço físico na época, o sistema
as sesmarias, as grandes porções de terras doadas pelo Rei a
uem ele julgasse que as mereciam e que poderiam cultivá-las
povoá-las.

SESMARIAS
Muita terra para poucos donos

Sesmaria era a “data de terra desaproveitada, doada pelo rei a


lguém. E sesmeiros eram os que o rei tornava proprietários de
erras
ue a de sesmaria”.
Câmara ou oMuitas
Senadovezes o rei “concedia
da Câmara autorização
concedesse parae
sesmarias
nomeasse, por conseguinte, os respectivos sesmeiros” (O Rio de
Janeiro imperial, Adolfo Morales de los Rios Filho).
As sesmarias precisavam ser aproveitadas em três
nos, no máximo, caso contrário não seria renovada a posse.
Outra dificuldade: a área, “que devia ser medida e demarcada,
conforme preceito antigo e reiterado, estava, não obstante,
ujeita a ser eventualmente desfalcada, dado que, nas concessões
mais remotas como nas mais recentes, se usava consignar a
brigação
portos, de dare caminhos
pontes pedreiras”públicos e particulares
( esmarias para fontes,
e terras devolutas, Ruy
Cirne Lima).
Outra definição para sesmaria diz que o termo viria de
esmo, palavra derivada do latim “seximus”, o sexto, e que assim
e explicava por ser a sesmaria, originalmente, dividida entre
eis pessoas, cada uma cuidando de uma parte da terra. Nas

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randes propriedades, o sesmeiro poderia fazer subconcessões e


foramentos, caso das grandes propriedades da Zona Oeste.
“O caso do Rio de Janeiro parece típico e particularmente
interessante, porque nos mostra como a fórmula das
esmarias vai permitir criar uma cidade e rodeá-la de
xplorações rurais, sobretudo engenhos de açúcar e
criações de gado, que lhe permitiam a vida econômica
necessária”. ( evista do IHGB, nº. 348, As sesmarias no
ireito luso-brasileiro, Marcelo Caetano)
ssim, a Zona Oeste, chamada de “sertão carioca”
elo escritor e pesquisador Magalhães Corrêa no livro de
mesmo nome sobre Jacarepaguá, foi desde o início uma terra
e latifúndios, de senhores e senhoras de engenhos e fazendas,
cujos limites na maioria das vezes imprecisos davam origem a
conflitos e processos judiciais que podiam se arrastar por anos.
Com o tempo, essas grandes porções de terra foram sendo
ragmentadas, principalmente devido ao declínio da produção
os engenhos e das lavouras, dando origem a fazendas e
ropriedades menores e daí a bairros e localidades que muitas
vezes mantiveram os nomes dos engenhos e fazendas que lhes
eram origem.
Sertão, na verdade, era “a terra que ficava ao longe e
começava no limite suburbano das cidades e vilas, nos lugares
or onde passavam afastados rios, nas florestas espessas, nos
vales cercados por altaneiras montanhas; principiava no
esconhecido que tanto se desejava conhecer” (O Rio de Janeiro
mperial, Adolfo Morales de los Rios Filho).
região, na verdade, só passou a se integrar de fato
cidade do Rio de Janeiro com os limites de hoje a partir do
to Adicional
Corte, e que nadeprática
1834, separava
que criavaa capital
o Município NeutrodoouRio
da província da
e Janeiro (antes, as freguesias mais distantes eram chamadas de
reguesias “de fora”). Santa Cruz, por exemplo, freguesia desde o
no anterior, se desligava do Termo (correspondente aos limites
os atuais municípios) de Itaguaí para receber o batismo de
“terra carioca”.

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Com a proclamação da República, a região se tornou


zona rural do Distrito Federal, até que, em 1960, com a
ransferência da capital para Brasília, ela passou a ser a Zona
Oeste do Estado da Guanabara e em 1975, com a fusão dos
stados da Guanabara e do Rio de Janeiro, passou a ser a Zona
Oeste da cidade do Rio de Janeiro. As freguesias e paróquias
inham os mesmos limites e abrangiam respectivamente as
jurisdições administrativas e religiosas das regiões (lembrando
ue até a chegada da República a Igreja Católica era ligada
ficialmente ao Estado).
O surgimento da estrada de ferro, no final do século
XIX, fez com que a concentração populacional e comercial se
verificasse próximo às estações de trem. Além disso, a construção
e novas estradas, muitas delas atravessando montanhas que só
ram percorridas por trilhas e caminhos complicados, integrou
mais ainda a região ao restante da cidade.
A história da Zona Oeste começa, assim, por Guaratiba,
nde, em 1567, dois anos após a fundação da cidade de São
Sebastião do primeiras
recebia suas Rio de Janeiro, o capitão-mor
sesmarias devido aosCristóvão
serviços Monteiro
prestados
na luta contra tamoios e franceses pela conquista da cidade.
Como se irá perceber, esta é uma história de poucas
amílias, quase sempre com algum tipo de relacionamento
ntre si. Não poderia ser diferente. Naquela época, em que o
próprio Brasil ainda era uma terra desconhecida na sua maior
parte e ainda se lutava contra os índios e os mistérios da mata,
não eram muitos os que se dispunham a vir da Europa para se
venturar pelos sertões.

GUARATIBA
A restinga e as garças

Cristóvão Monteiro foi um dos homens mais importantes desta


ase inicial da fundação do Rio de Janeiro, tendo chegado ao

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Brasil em 1532, junto com a expedição de Martim Afonso de


Sousa.
Depois de lutar pela conquista das terras cariocas, ele
receberia algumas sesmarias como recompensa, entre elas uma
ue abrangia parte dos atuais bairros de Guaratiba e Santa
Cruz. Seu objetivo, como o de todos os outros, era o de povoar
, principalmente, de extrair o máximo de riquezas que pudesse
o lugar.
Cristóvão seria nomeado ouvidor-mor do Rio de Janeiro
ntre 1568 e 1572. Segundo Elysio de Oliveira Belchior, que
no livro Conquistadores e povoadores do Rio de Janeiro fez uma
minuciosa pesquisa sobre as primeiras famílias que começaram
ocupar a cidade, Cristóvão teria morrido entre 1574 e 1577.
Sua esposa, Marquesa Ferreira (este Marquesa era nome próprio,
eminino de Marques, não tendo nenhuma relação com a
nobreza) doaria, em 1589, metade das terras aos jesuítas, como
e verá no capítulo sobre Santa Cruz. A outra metade foi doada
no ano seguinte pela filha do casal, Catarina Monteiro, junto
com
inha oummarido,
engenhoJoséemAdorno (outro também
São Vicente), dos fundadores
para os do Rio,
jesuítas,
mas em troca de terras em Bertioga, São Paulo.
Um dado curioso sobre a Marquesa é que ela era neta
e João Ramalho, um dos personagens mais interessantes deste
eríodo inicial da História do Brasil. Segundo conta Elysio no
ivro citado, a mãe da Marquesa, Joana Ramalho, era filha de
oão com uma índia, Isabel. No livro Náufragos, traficantes e
egredados, Eduardo Bueno explica que esta Isabel, na verdade,
e chamava Bartira, ou M’boy (“Flor de Árvore”, em tupi), e era

noprincipal das muitas concubinas


Brasil provavelmente de eJoão
desde 1508, Ramalho,
se instalara na que
Serravivia
do
ar, a cerca de 100 km da costa.
Por viver “amancebado” com Bartira, segundo conta
Bueno, o jesuíta Simão de Lucena o excomungou em 1550,
mas o padre Manuel da Nóbrega, que comandava os jesuítas
no Brasil e precisava do apoio de João Ramalho para catequizar

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s índios, passou a se empenhar para que ele se casasse com


Bartira, o que aconteceu em 1553. Ela foi, então, batizada com
nome de Isabel. Depois João Ramalho seria nomeado capitão-
mor da Vila de Santo André, em São Paulo, e teria morrido em
1580, aos 95 anos.
Marquesa Ferreira e Cristóvão Monteiro moravam onde
hoje é o Cosme Velho, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro,
numa das sesmarias recebidas por ele e cuja localidade ficou
conhecida como “Moinho Velho”.

A FILHA DE BRÁS CUBAS

Outro conquistador da cidade que recebeu terras em Guaratiba


oi Manuel Veloso Espinha, que também havia lutado, em
1575, contra os tamoios e franceses que se refugiaram em Cabo
Frio.
Nomeado Oficial da Câmara em 1584, antes disso, em
1579, eleem
esmaria recebeu, junto Jerônima
Guaratiba. com a esposa, Jerônima
era filha Cubas,
ilegítima de uma
Brás
Cubas, capitão-mor de São Vicente, outro famoso personagem
a História do Brasil, que entraria para a ficção pelas mãos de
um homônimo criado por Machado de Assis em Memórias
póstumas de Brás Cubas. Como se vê, as famílias eram mesmo
iminutas nessa época.
A sesmaria compreendia cinqüenta e dois quilômetros
uadrados, entre os rios Guandu e Guaratiba, além de uma ilha
todas as “águas entradas e saídas”, conforme está na carta de
oação (Conquistadores
e Oliveira e povoadores
Belchior). Seus do Rio
dois filhos, de Janeiro
Jerônimo , Elysio
e Manuel,
herdaram as terras, e Jerônimo, já casado com Beatriz Álvares
Gago, repassou, em 1629, parte delas aos carmelitas. Em troca,
les teriam de pagar algumas dívidas acumuladas por eles,
protegerem três enjeitados, rezarem missas pelos doadores e
lhes darem sepultura na capela de Nossa Senhora do Desterro,

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rguida à beira da praia por Jerônimo e sua esposa e que ainda


xiste, embora tenha sido reconstruída e bastante alterada.
pós a doação de Jerônimo, os carmelitas ainda
receberiam, em 1669, outra porção de terras, desta vez do
overnador do Rio de Janeiro, Pedro Mascarenhas. Estas terras
reunidas formaram a Fazenda da Pedra, estabelecida em 1770,
cujo convento, que ficava atrás da capela de Nossa Senhora
o Desterro, foi demolido em 1953 para ser construído o
oteamento Vila Mar. O convento mantinha total controle
obre a administração da fazenda e sua produção. A Fazenda
a Pedra tinha engenho de açúcar, criação de bois e cavalos,
lém de plantação de mandioca, milho e legumes e era bastante
xtensa, atingindo os limites de propriedades na área de Campo
Grande (Magarça, Cachamorra, Inhoaíba) e da Fazenda de
Santa Cruz.
Já antes do século XX, boa tarde dela já estava vendida,
ando origem, mais tarde, a localidades como a de Santa
Clara.

FACA DE PONTA

m 1750, o capitão-mor Fradique de Quevedo Rondon e Maria


nna da Costa Bueno doaram parte de suas terras à matriz
e São Salvador do Mundo de Guaratiba, erguida em 1676,
uando foi criada a paróquia, e que também existe, no topo de
uma pequena colina na Estrada da Matriz.
ssas terras tinham sido doadas em 1723 a Sebastião
e Siqueira, afilhado dos doadores, mas a doação foi anulada
m 1735,
com porque o afilhado passou a ser ingrato e desatencioso
os padrinhos:
“Ao ser dissipado dos seus bens, o afilhado disse várias
injúrias e se atreveu a empunhar uma faca de ponta para
matar o padrinho, fato presenciado por várias pessoas,
ue impediram o crime”. ( onos do Rio em nome do Rei,
Fania Fridman)

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O Velho Oeste Carioca | 17 |

Em relação aos mangues da Barra de Guaratiba, havia


uma Carta Régia de 1678 que os definia como realengos e,
portanto, impedia qualquer apropriação particular. Uma lei de
1834 também determinou que estes terrenos pertenceriam à
dministração do novo Município Neutro ou da Corte.
“Outras propriedades importantes em Guaratiba
foram: São Joaquim, Itapuca, Bica, Morgado, Engenho
Novo, Engenho da Ilha, Engenho de Fora, Carapiá e
Cachamorra. O Centro Tecnológico do Exército ocupa
uma área que pertenceu à Fazenda de Itapuca e ao
Engenho de Fora”. ( onos do Rio em nome do Rei, Fania
Fridman)

A MARAMBAIA DOS BREVES

Qualquer descrição da Restinga da Marambaia, na praia de Barra


e Guaratiba, por mais poética que fosse, seria injusta. uma
asseus
mais belas
mais de vistas da cidade,
quarenta principalmente
quilômetros de extensãoaopermanecem
pôr-do-sol,
preservados pelo Exército, que possui no local um Polígono de
Tiro e, mais ao sul, na ilha de Marambaia, pela Marinha.
Diversas espécies animais e vegetais estão a salvo de
xtinção por uma disciplina rígida, que só permite a entrada
e poucas pessoas e, mesmo assim, com carteirinha. Mas
que muita gente que se aventura pela Restinga não sabe é
ue toda aquela beleza natural tem uma história rica, ligada,
principalmente, a um dos nomes mais poderosos do Brasil
colonial: o comendador
mais de vinte fazendas, aJoaquim
maioria José
comdeplantações
Souza Breves, dono de
de café.
Suas terras se estendiam por toda a Costa Verde,
principalmente em Mangaratiba, mas era na Marambaia, onde
cava a fazenda de São Joaquim, de função mais importante
ue a de produzir café, milho e mandioca, que se concentrava
seu poder:

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| 18 | André Luis Mansur

“Marambaia era a praia de banhos do clã patriarcal


o mesmo tempo em que a porteira de entrada da sua
scravaria, cujo isolamento frustrava a fiscalização do
ráfico negreiro pelos navios britânicos a serviço de
eus interesses coloniais. Marambaia era também uma
azenda cultivada, visto que todos os domínios dos
Breves tinham de produzir. Pelas encostas de seu morro
ubiam cafezais, mandiocais e milharais. O seu fim
rincipal, todavia, era o de receber e aprimorar a mão-
e-obra para os latifúndios de serra acima”. ( O homem e
a guanabara, Alberto Lamego)
Toda esta riqueza, assim como a de muitos outros
azendeiros importantes da época, teve fim com a abolição da
scravatura, em 1888:
“Com a Lei Áurea a paisagem cultural da Marambaia
pagou-se como um desenho a giz sob a passagem
e uma esponja”. (O homem e a guanabara, Alberto
Lamego
Fazenda de São
viúva do comendador, Joaquim
Maria Isabelfoidevendida
MoraesemBreves,
1891 para
pela
Companhia Promotora de Indústrias e Melhoramentos,
ue a transferiu em 1896 ao Banco da República do Brasil.
ndividado com o governo, o Banco repassou à União seus
bens e propriedades, entre eles, a fazenda, para diminuir seus
ébitos.
“Em 1897, o Ministro da Marinha solicitou a aquisição
a Marambaia, cuja escritura foi lavrada em 1905 pelo
Banco da República e a Fazenda Nacional pelo preço
e noventa Alberto
Guanabara, e cincoLamego)
contos de réis”. ( O homem e a
Marambaia não deixou de ser vista pelos muitos
viajantes europeus que se aventuraram pelo velho oeste carioca
ogo após a chegada de D. João ao Brasil, em 1808. Naquele
mesmo ano, chegava ao país John Luccock, comerciante inglês
ue só iria embora dez anos depois e descreveu uma pequena

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O Velho Oeste Carioca | 19 |

ventura naquelas águas nem sempre calmas e que serve como


ilustração da vida na região há dois séculos:
“Ao atravessarmos de um lado para o outro, pela frente
de um amplo espaço coberto de mangue, quase tivemos
um acidente fatal; uma rajada súbita de vento deitou
a canoa de bordo, com a vela n’água; endireitou-se,
porém, e prosseguimos em nossa rota ao comprido
do litoral oeste, apreciando o pitoresco do cenário e o
conforto aparente dos seus habitantes”. ( Donos do Rio
em nome do Rei, Fania Fridman)

INVASÃO FRANCESA

No dia 6 de agosto de 1710, o capitão-de-fragata francês Jean-


François Du Clerc, comandando uma esquadra de cinco navios
e guerra e uma embarcação menor, chegou à costa carioca
com o firme propósito de invadir o Rio de Janeiro. Alertado
obredea Janeiro,
Rio invasão coronel
com bastante antecedência,
Francisco o governador
de Castro Morais, tratou do
de
ortalecer as defesas da cidade. Atacados pelas fortalezas da Baía
e Guanabara, a frota francesa tratou de se afastar e seguir para
sul, não sem antes levar junto uma embarcação brasileira
ue chegava da Bahia e se iludiu com a bandeira inglesa que
s franceses haviam hasteado. Enquanto isso, o governador
mandou que fossem guarnecidas as defesas das praias da Pescaria
da Pedra de Guaratiba, assim como alertou as autoridades de
Santos e da Ilha Grande, onde os franceses estiveram ancorados
ntre osAo
dias saquearem
27 e 31. algumas fazendas, foram atacados
por moradores, que mataram seis franceses e feriram outros,
egundo relato do governador:
“A cinco de setembro, lançaram gente em terra, na
ilha chamada da Madeira. Com trezentos homens,
praticaram roubos em um engenho, sem achar oposição,

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| 20 | André Luis Mansur

lá encontraram poucos escravos”. (Os franceses no Rio


e Janeiro, Augusto de Tasso Fragoso)
Os franceses mandaram algumas embarcações
ondarem a costa, até perto do centro da cidade, e novamente
oram repelidos. Acharam, então, que o menos arriscado seria o
esembarque na praia da Barra de Guaratiba, um local com pouca
efesa, exatamente por causa do mar violento e das montanhas
m volta. O governador escreveu uma carta ao Rei de Portugal
izendo que quatro escravos fugidos foram se encontrar com
s franceses e os guiaram pelas serras e matas em volta, até hoje
ocais de difícil acesso. Na carta, Francisco de Castro Morais
firma ainda que três dos negros foram “sentenciados à morte e
uas cabeças e quartos postos pelos caminhos por onde guiaram
s franceses” (Os franceses no Rio de Janeiro , Augusto de Tasso
Fragoso). O quarto teria fugido.
O desembarque foi feito no dia oito de setembro, tempo
uficiente para que o governador tivesse tempo de preparar suas
efesas:
“Na noite
Capitão deseguinte teve Ferreira
Cavalos José o governador estaquenotícia
Barreto, pelo
governava
guarnição de Guaratiba até Santa Cruz”. (Memórias
istóricas do Rio de Janeiro, vol.I Monsenhor Pizarro)
qui, no entanto, começa o grande mistério de toda
sta história. Qual o caminho seguido pelos franceses? Quantos
víveres e munições eles levaram para atravessar o árduo caminho?
Há um mapa com os dois possíveis percursos seguidos pelos
ranceses até chegarem ao Engenho Velho dos jesuítas, na altura
o atual bairro da Tijuca. Uma primeira hipótese é a de que eles
eriam seguido
as Piabas, “atépelos campos do
desembocar nosGrumari,
Camposseguindo pela Estradaa
de Sernambetiba,
noroeste da Lagoa de Marapendi” (Os franceses no Rio de Janeiro,
ugusto de Tasso Fragoso).
m outra hipótese, os franceses teriam seguido pela
vertente oeste do maciço formado pelos morros de São João
a Mantiqueira e de Santo Antônio da Bica, atravessando os

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O Velho Oeste Carioca | 21 |

matagais da Grota Funda, até chegar ao Engenho da Vargem,


os padres beneditinos.
“Finalmente, daí e do Engenho do Camorim, teriam
as forças comandadas por Du Clerc prosseguido
para nordeste, fraldeando os montes pela planície de
Jacarepaguá e pela Estrada Geral até o Engenho Velho,
onde foram positivamente assinaladas na tarde de 18 de
setembro”. (Os franceses no Rio de Janeiro , Augusto de
Tasso Fragoso)
Alguns historiadores argumentam que os franceses
eriam seguido por Santa Cruz e Campo Grande, contornando
Serra de Bangu, ou pela Barra da Tijuca, através do Alto da
Boa Vista. A versão mais comum, no entanto, é a de que o
esembarque teria se efetuado no “canal que separa da terra
rme a ponta leste da Restinga da Marambaia”, pois “tão
próximos eram, na Barra de Guaratiba, a praia e o canal, e tão
avoráveis à operação os dois pontos citados, que os franceses,
em maiores tropeços, poderiam mesmo ter desembarcado
m ambos,
ugusto simultaneamente”
de Tasso Fragoso). (Os franceses no Rio de Janeiro,
Pela ausência de um diário de expedição de Du Clerc,
não há condições de se esclarecer com certeza como se deu
sta incrível aventura de cerca de mil franceses, corajosos, sem
úvida, por matas tropicais e de difícil acesso até hoje. bem
possível que muitos dos franceses que empreenderam esta
ventura já tivessem passado por aquela área, pois era comum a
presença de holandeses e franceses na Baía de Sepetiba. Muitos
aziam comércio com moradores da Ilha Grande e, como se
verá
ntreno capítulo
forças do Riosobre Santa eCruz,
de Janeiro já houve combate por lá
holandesas.
Em 1695, por exemplo, a fragata francesa do almirante
Gennes entrou naquela região para o tratamento de alguns
marinheiros doentes, sendo que alguns acabaram ficando no
Rio de Janeiro durante certo tempo. É provável que alguns dos
marinheiros desta viagem viessem a tomar parte nas expedições

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| 22 | André Luis Mansur

e Du Clerc e de Duguay-Trouin (esta em 1711) atuando como


uias.
Voltando à aventura de Du Clerc e seus comandados
elas serras e matas de Guaratiba, sabe-se que eles chegaram
o centro da cidade no dia dezenove e enfrentaram muita
resistência das tropas do governo, entrincheiradas entre os
morros da Conceição e de Santo Antônio. Mesmo contornando
trincheira, os franceses foram contra-atacados na Rua Direita
atual Av. Primeiro de Março) por estudantes do Colégio dos
esuítas, que ficava no extinto morro do Castelo, reunidos sob
comando do capitão Bento do Amaral Coutinho (ou Gurgel,
como está em alguns livros). Gregório de Castro Morais,
irmão do governador e o frei Francisco de Meneses também
rganizaram milícias, inclusive com a presença de escravos e
judaram, de forma significativa, na vitória contra os franceses,
ue se renderam na Rua da Alfândega.
posição do governador, de manter uma espécie de
rincheira facilmente contornável, foi muito criticada pelos
istoriadores, pois ele nem chegou a afrontar os inimigos nem
rdenou “à tropa ansiosa de haver às mãos os contrários, soltar
contra eles um tiro, ao menos, de canhão” ( Memórias históricas
o Rio de Janeiro, vol. I Monsenhor Pizarro).
O combate ainda se travou violento (inclusive com a
morte de franceses por populares nas ruas e de Bento do Amaral
Coutinho) próximo à Casa dos Governadores (atual Paço
Imperial) e no Trapiche da Cidade (também naquela área), uma
spécie de entreposto de mercadorias que, por pouco, não foi
xplodido por ordem do governador.
Os navios franceses que estavam próximos à Ilha Grande
oram socorrer
diantou. seus secompatriotas
Acabaram na cidade, osmas
rendendo, entregando de nada
prisioneiros
a embarcação que viera da Bahia, e seguiram para a Martinica.
eriam sido feitos 600 prisioneiros franceses e mortos mais de
300, sendo que das forças do governo cerca de 50 morreram
80 ficaram feridos. Não há, no entanto, um número preciso
ntre os historiadores.

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O Velho Oeste Carioca | 23 |

Certo mesmo foi o trágico desfecho de Du Clerc, preso


no Colégio dos Jesuítas, enquanto os oficiais foram levados para
Convento de Santo Antônio.
“No do Carmo, ficaram os dois sacerdotes que haviam
vindo com os expedicionários. Na cadeia e na Casa da
Moeda, a soldadesca. Desgostoso com a vida do Colégio,
solicitou Du Clerc do governador ser transferido
para outro lugar. E foi para a casa do ajudante de
tenente Gómez da Silva. Era na rua que ia ‘da Cruz
para o Campo’, identificada por Vieira Fazenda como
a esquina da Rua da Quitanda com a desaparecida
General Câmara. Nessa casa, ficou sob a vigilância dos
mesmos soldados que o guardavam no Colégio. Mas
a 18 de março de 1711, entre as sete e oito horas da
noite desse tempo, ‘uns embuçados’ – que eram quatro
– invadiram a casa e assassinaram Du Clerc. Aventuras
amorosas teriam sido a causa...” ( evelação do Rio de
Janeiro, Eduardo Tourinho)
Os mesmo
naquele assassinos
anodeoutro
Du Clerc
piratanunca foram
francês, identificados
Duguay-Trouin,
frente de uma frota muito maior, enfrentou as fortalezas da
Baía de Guanabara, inexplicavelmente desprotegidas, apesar
os avisos de que uma nova invasão francesa estava prestes a
contecer.
Após uma série de erros cometidos pelo governador
Francisco de Castro Morais, tomaram a cidade e só foram embora
pós o pagamento de um resgate. Neste livro, que só trata da
história da região da Zona Oeste, não cabe aqui um espaço
maior paraquanto
polêmico esta segunda
ao papelinvasão, mas o assunto,
do governador, extremamente
que logo em seguida
eria banido do cargo, foi estudado exaustivamente, nos livros
citados, inclusive. Monsenhor Pizarro e Augusto Tasso Fragoso
stão entre os maiores críticos do governador, embora um outro
cronista importante, Noronha Santos, o inocente no livro
Crônicas da cidade do Rio de Janeiro

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uitos anos depois das invasões francesas, o Marquês


e Lavradio (D. Luiz de Almeida Portugal), terceiro vice-
rei do Brasil (1769-1779), fortificou a região por onde Du
Clerc invadiu a cidade. “Mandou colocar canhões nos pontos
stratégicos daquela área costeira. Assim, na Barra da Lagoa,
oram dispostas duas baterias. Outras duas, com o nome de
Itapoã e Pontal, na praia próxima a Sepetiba; três no desfiladeiro
o Engenho Novo e Serra do Mateus, nas cabeceiras do rio
ue passou a ser conhecido como ‘Fortaleza’. Foi por aí que o
rancês chegou à cidade, local onde hoje corre a Estrada Grajaú-
acarepaguá (...). Colocou duas baterias também na Barra da
ijuca e no Alto da Boa Vista, todas elas cobrindo as estradas
ue levavam à povoação maior, de tal forma que qualquer força
esembarcada entre a Ponta da Gávea e a Barra de Guaratiba
eria prontamente rechaçada” acarepaguá de antigamente,
Carlos Araújo).
Os franceses não voltaram, pelo menos não como
inimigos, pois no século seguinte invadiriam e conquistariam

oBrasil de forma pacífica, através dos costumes, modismos e


vocabulário.

IGREJAS

região de Guaratiba ainda mantém algumas igrejas muito


ntigas em bom estado de conservação. Elas simbolizam a época
m que a presença religiosa na ocupação da terra era intensa.
capela de Nossa Senhora do Desterro, já citada, foi
reconstruída
ara cá. Fica no
na final
Pedradodeséculo XVIII em
Guaratiba, e bastante
frente àalterada de da
Restinga lá
arambaia, na praia denominada “da Capela”. Em frente, bate
um vento constante, semelhante ao de Cabo Frio e, em volta,
á muitas garças, justificando o nome da região, que significa,
m tupi-guarani, “grande quantidade de garças” (guará = garça;
iba = advérbio de quantidade).

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O Velho Oeste Carioca | 25 |

Sobre a capela, há uma lenda, descrita em livros e


periódicos antigos, que fala de uma índia, cega, velha e leprosa,
ue teria sido curada após uma visão de Nossa Senhora que
eria ordenado que erguessem uma capela à beira da praia.
Já a Igreja de São Salvador do Mundo foi construída um
pouco depois, em 1676. Era a matriz da recém-criada paróquia,
u freguesia, de São Salvador do Mundo de Guaratiba. A igreja
ruiu em 1730 e foi reerguida pelo bispo Dom Antônio de
Guadalupe. No início do século XX, serviu de refúgio contra a
ripe espanhola.
A capela de Nossa Senhora da Saúde e São Sebastião, que
junto com a de São Salvador do Mundo e a de Santo Antônio
a Bica, foi saqueada por Du Clerc durante a invasão francesa,
de 1650, aproximadamente. De difícil acesso, no alto do
morro da Vendinha, foi usada como ponto de fiscalização do
ráfico negreiro feito na Marambaia por José Joaquim de Souza
Breves
Outros templos religiosos importantes dessa época são
s igrejas de Santo Antônio, erguida antes de 1793 por Francisco
Freire, e a de Sant’Ana, fundada na fazenda da Pedra pelos
carmelitas. A capela de Santo Antônio da Bica foi fundada por
Belchior da Fonseca Dória em 1681 e totalmente reformada
por Burle Marx, com orientação dos arquitetos Lúcio Costa
Carlos Leão, quando o paisagista comprou o sítio de Santo
ntônio da Bica, atual sítio Roberto Burle Marx.

ILHA DO SEU “WILLIAM”

denominação de “Ilha
ilha, na verdade, nãodeexiste,
Guaratiba”
é umaatégrande
hoje gera controvérsias.
porção de terra
em ligação com o mar. A versão mais divulgada para o seu
nome é a de que viveu por lá um oficial inglês, William, que
eria chegado com a corte de D. João, em 1808. De tanto as
pessoas falarem o “seu William, de Guaratiba”, o nome teria
ido simplificado com o tempo para “Ilha de Guaratiba”.

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Para Brasil Gerson, esta versão não pode ser aceita, pois
á um documento de 1806, anterior, portanto, à chegada de D.
oão, que já cita o Engenho da Ilha. Para ele, o nome pode ter
ido originado dos muitos canais e valas que existiam na região
que, quando chovia, alagavam e deixavam um bom pedaço de
erra realmente cercado de água, tanto que o principal meio de
ransporte nessas ocasiões era a canoa.
Ilha se formou no sopé da serra da Grota Funda, que
ra um difícil caminho (hoje asfaltado) usado por tropeiros,
ue levavam a produção das fazendas para a cidade. Fania
Fridman também cita o Engenho da ilha, que em 1806, dois
nos antes da chegada de D. João, foi vendido a Francisco de
acedo Freire.

BURLE MARX E O MAJOR ARCHER

Um dos locais mais visitados da Zona Oeste é o antigo sítio


Santo
na IlhaAntônio da Bica,
de Guaratiba. Ooficialmente sítio Roberto
famoso arquiteto Burle
e paisagista Marx,
comprou
área em 1949 e lá montou uma das mais ricas e diversificadas
coleções de espécies botânicas do Brasil. A residência, uma
ípica casa rural brasileira, possui rara coleção de cerâmica, além
e gravuras e pinturas da autoria de Burle Marx, que morou
á de 1973 até sua morte, em 1994. O sítio, aberto à visitação
ública, foi doado por seu dono ao Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional e abriga, numa área de 600 mil
metros quadrados, uma das maiores coleções de plantas tropicais
semitropicais do mundo,
Fazenda com cerca de 3.500
da Independência, tambémespécies.
na Ilha de
Guaratiba, tem história. Seu antigo dono, o major Manoel
Gomes Archer, foi o responsável pelo reflorestamento de boa
arte da Floresta da Tijuca, devastada devido às plantações
e café, isto na metade do século XIX, uma época em que
raticamente não se falava ainda em ecologia e meio ambiente.

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O Velho Oeste Carioca | 27 |

“Manoel Gomes, dispondo de alguns escravos – seis,


para ser mais preciso – plantou cerca de 100 mil árvores
de diversas espécies, transformando a região na maior
floresta artificial de que se tem notícia. Grande parte
das mudas era oriunda da Fazenda da Independência,
de sua propriedade, em Guaratiba”. acarepaguá de
antigamente, Carlos Araújo)
Archer era amigo de D. Pedro II e costumava hospedar
parte da comitiva imperial durante as visitas à Fazenda de Santa
Cruz, da qual foi administrador.
Guaratiba deixou de ser uma das mais importantes
reguesias rurais do Rio de Janeiro não apenas com a abolição
a escravatura, em 1888, mas também porque, no mesmo ano,
houve uma seca que marcou a decadência econômica de toda
região. Conforme visto anteriormente, muitos fazendeiros
venderam suas terras, que foram transformadas em loteamentos,
se mudaram, principalmente para Campo Grande, bairro
ue, a partir daí, exerceu um papel centralizador, concentrando
ransportes, comércio
Somente com ea serviços.
inauguração dos bondes entre Campo
Grande e Guaratiba, em 1894, a economia da região voltaria
crescer. Mas nessa época, outra localidade da Zona Oeste
iniciava um rápido e bem-sucedido progresso: Bangu, até então
uma área rural bastante pobre, ganhava a sua fábrica inglesa e,
com ela, um passaporte para o futuro.

BANGU
m bairro de sotaque inglês
Bangu é citado principalmente por seus presídios de segurança
máxima, pelo clube de futebol e por ser o bairro mais quente do
Rio de Janeiro, fenômeno causado pela sua situação geográfica,
ntre a serra do Mendanha-Gericinó e o Maciço da Pedra
Branca, o que faz da região uma espécie de estufa, com poucos

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| 28 | André Luis Mansur

ventos e a formação de massas de ar quente. Mas a história deste


bairro é muito mais do que isso e está ligada à fábrica construída
no final do século XIX e que foi a principal responsável pela
ransformação de uma região agrária em um bairro urbano e
bastante desenvolvido.
Há uma controvérsia sobre a origem do seu nome.
Para uns, “Bangu” origina-se de uma palavra tupi-guarani, que
ignifica “paredão escuro”, uma referência à proximidade do
aciço da Pedra Branca, o ponto mais alto da cidade do Rio
e Janeiro, com 1.024 metros. Outros acreditam que a palavra
e origine de “bangüê”, um termo africano que se refere a uma
adiola de couro ou fibras, amarrada a dois varais e conduzida
or dois homens. Era usada principalmente no transporte de
cana.
primeira vez, no entanto, que o nome do bairro
pareceu em documentos oficiais foi no sobrenome de Ana
Francisca de Castro, um dos dez proprietários que a fazenda da
ual fazia parte o Engenho da Serra, depois Engenho Bangu,
eria atéSeu
o final do século
primeiro XIX. Manuel Barcelos Domingues,
dono,
construiu nas terras do engenho uma capela particular, sob a
invocação de Nossa Senhora do Desterro Mãe de Deus, que se
ornaria a matriz da paróquia de Nossa Senhora do Desterro
e Campo Grande, criada em 1673, quando aquela região foi
esmembrada da freguesia de Nossa Senhora da Apresentação
e Irajá e do Termo de Jacarepaguá. Ou seja, embora hoje sejam
bairros bastante distintos e independentes, Campo Grande, na
verdade, surgiu em terras banguenses.
O engenho
a produção produzia açúcar,
era transportada álcool,em
por escravos cachaça
carrosede
rapadura
boi até
porto de Guaratiba, onde eram embarcados principalmente
ara o centro do Rio de Janeiro. Além dos escravos, havia
omens livres que levavam sua produção para ser moída no
ngenho. O crescimento da fazenda provocou ciúmes e acirrou
rivalidades entre outros proprietários da região. Esta pode ter

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O Velho Oeste Carioca | 29 |

ido a causa do assassinato de João Manuel de Melo, o segundo


ono da fazenda (Bangu 100 anos: a fábrica e o bairro, Gracilda
lves de Azevedo Silva).
Ana Francisca de Castro era viúva do sargento-mor
José Correia de Castro, o sétimo dono da fazenda, e acabou se
ornando uma figura extremamente polêmica na história antiga
a Zona Oeste, principalmente por causa de seu jeito nada sutil
e resolver problemas de limites de terras, como contam vários
pesquisadores.
Maria Inácia, dona do Engenho Piraquara, Izidoro dos
Santos, responsável pelo Campo dos Afonsos no início do século
XIX, e seu genro Manuel Proença, tiveram problemas com Ana
Bangu, como ela passou a ser chamada. Os dois últimos eram
itiantes em terras de Realengo, com gado, café e capim, que
orneciam à cavalaria do exército. Todos eles “perderam seus
patrimônios graças às artimanhas de Ana Francisca”. ( angu,
Roberto Assaf)
Quando essa interessante personagem da história do
“sertão carioca” morreu, em 1854, seu filho, o coronel Gregório
e Castro Morais e Sousa, o Barão de Piraquara, herdou as
erras e as transferiu em 1870 para Manuel Miguel Martins, o
Barão de Itacurussá, um próspero negociante da Zona Norte.
Gregório também se tornaria dono da Fazenda do Retiro.

RQUITETURA BRITÂNICA AO PÉ DA SERRA

história de Bangu pode ser dividida entre antes e depois da


ábrica que ajudou a popularizar o nome do bairro. Chamada
ficialmente
Fábrica de deTecidos
Companhia
Bangu,Progresso
como ficouIndustrial do Brasil,
conhecida, foi a
principal responsável pela urbanização daquela região, até
ntão predominantemente agrária. Além disso, foi em torno
a fábrica que começou a se organizar uma intensa vida social
cultural, com o surgimento da Sociedade Musical Progresso,
ue teve como diretor o maestro Anacleto de Medeiros, do

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Casino Bangu (assim mesmo, com um S só), do Bangu Athletic


Club, de grupos carnavalescos como o Flor da Lira e o Flor da
União, este formado só de negros, escolas e uma bela igreja, a de
São Sebastião e Santa Cecília. Construída em estilo neogótico,
la foi concluída em 1908 e entregue à Arquidiocese, que criou
paróquia de Bangu.
Foi nas terras do antigo engenho de Barcelos Domingues
ue a Fábrica Bangu, instituída em 6 de fevereiro de 1889
inaugurada oficialmente em 8 de março de 1893, com a
resença do então presidente da República, Floriano Peixoto,
iria se expandir. Começava ali um rápido e bem planejado
rocesso de urbanização, que deixaria marcas até hoje, como o
raçado das ruas em torno da fábrica.
fábrica foi um empreendimento de comerciantes
ortugueses ligados ao comércio atacadista de tecidos e a outras
ábricas têxteis. Seu capital inicial, na maior parte, era da praça
o Rio de Janeiro. A princípio, ela seria construída na chácara
o Duque de Caxias, na então bucólica Rua Conde de Bonfim,
na ijuca.
Só existiam três fábricas de tecidos na cidade, a Aliança,
m Laranjeiras, a Carioca, no Jardim Botânico, e a Confiança,
m Vila Isabel. Como o fornecimento de água era irregular,
engenheiro Henrique de Morgan Snell, responsável pela
construção, optou por Bangu, já que o Maciço da Pedra Branca
toda a região montanhosa em volta é até hoje um lugar
rivilegiado em nascentes e cachoeiras.
decisão foi estratégica, pois a água era indispensável
m seis das oito etapas do processo têxtil. A chegada da linha
erroviária a Santa Cruz, em 1882, também foi importante para
escolha.
890 A estação detratou
e a companhia Bangulogo
foi inaugurada
de construirem
um1ºnovo
de maio de
ramal,
e 400 metros, onde duas locomotivas, as “maquinazinhas”,
aziam a comunicação entre a estação e a fábrica.
Uma medida semelhante foi tomada no Matadouro
e Santa Cruz, onde o pequeno ramal ligando o matadouro à
stação de trem ainda existe, embora esteja abandonado e cheio

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O Velho Oeste Carioca | 31 |

e capim. A fábrica compreendia a área de quatro fazendas à


margem da estrada de ferro: Bangu, do Retiro e os sítios do
gostinho e o dos Amarais – as duas últimas faziam parte da
Fazenda do Guandu do Sena. Além disso, foram compradas
s cachoeiras do Fundão e do Agostinho. Com a aquisição
e novas áreas, principalmente devido à preocupação com os
mananciais, a fábrica ocupou um espaço de pelo menos 40
km2, o que equivale a quase o tamanho do bairro de Bangu
hoje.
Sua influência na vida da comunidade, tanto social
uando cultural, política e econômica, foi intensa e só diminuiria
um pouco na década de 30, com a redução da atividade têxtil.
companhia teve, então, de vender parte de suas terras e novas
tividades econômicas foram se estabelecendo na região.
O conjunto de edifícios da fábrica, tombado pela
prefeitura, foi construído na área da antiga Fazenda de Barcelos
Domingues, perto da estrada de ferro e ocupando quase
ezenove quilômetros quadrados. A arquitetura da fábrica
tipicamente
vermelhos, e se britânica,
manteve emcom seusconstruções
outras tradicionaispatrocinadas
tijolinhos
pela companhia. Boa parte do material de construção veio da
Inglaterra e os mecanismos para a fabricação de tecidos eram
odos importados. A chaminé, bem na entrada, com sua forma
circular e altura de 55 metros, pode ser vista de longe, até
porque Bangu, como os demais bairros da Zona Oeste, tem
poucos prédios altos.

CONTRABANDO ENTRE AS MÁQUINAS


O primeiro administrador da fábrica, Eduardo Gomes Ferreira,
cabou com a lavoura de cana-de-açúcar e passou a plantar
lgodão, com o objetivo de garantir um abastecimento contínuo
e matéria-prima para a fábrica, mas a pouca produção fez com
ue a prioridade agrícola voltasse a ser a cana-de-açúcar.

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| 32 | André Luis Mansur

m 1900, foi construído o Engenho de Santo Antônio,


ue logo iniciou a produção de açúcar, álcool, cachaça e melado.
O objetivo era atender o consumo interno e a exportação.
lém disso, boa parte das terras compradas pela Companhia
oi arrendada para que as pessoas continuassem ligadas à região,
odendo até, mais tarde, serem aproveitadas pela fábrica.
Havia uma feira na Rua Bangu, onde os agricultores
xpunham a sua colheita. Mais tarde, essas mesmas terras seriam
oteadas pela Companhia, que apoiaria a construção de imóveis
faria de Bangu um dos bairros com maior número de casas
róprias na cidade.
Quando a Companhia se instalou em Bangu, a
ocalidade só tinha uma rua, a já citada Estrada Real de Santa
Cruz, e algumas trilhas. Em 1906, o engenheiro Orozimbo do
Nascimento foi contratado para fazer o arruamento do novo
bairro, concluído no ano seguinte que, com poucas alterações,
mantido até hoje. Visto no mapa, é um grande retângulo
m volta da sede da fábrica. Em 1924, o projeto acrescentaria
novas ruas, com os nomes das seções da fábrica, como “dos
intureiros”, “dos Tecelões” e da “Fiação”.
Pode-se dizer que a vida cultural naquela área começou
com a criação da Sociedade Musical Progresso de Bangu,
m 1892, fundada por operários. Três anos depois, a fábrica
orneceu uniformes e instrumentos, e ela se tornou a Banda de
úsica dos Operários da Fábrica Bangu, que, em 1904, teria
como maestro Anacleto de Medeiros, grande nome da música
brasileira, principalmente do chorinho, que morreria aos 41
nos, em 1907, quando ainda trabalhava para a banda.
Sociedade ganharia uma sede em 1907, na Rua
stevão (homenagem
stevão José da Silva, eaoatual
primeiro presidente
Avenida Cônego deda Vasconcelos)
companhia,
, naquele mesmo ano, mudaria de nome para Casino Bangu,
m atividade até hoje. A banda da fábrica, no entanto, encerrou
s atividades em 1951.
ssa época de efervescência teve como seu maior
incentivador o espanhol João Ferrer. Tendo chegado a Bangu

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O Velho Oeste Carioca | 33 |

m 1897 para assumir o cargo de tesoureiro, chegaria a gerente


m 1903 e só não assumiu o cargo de presidente da companhia
por causa de um deslize. A Alfândega descobriu garrafas de
uísque escocês escondidas, a mando de Ferrer, dentro das caixas
as máquinas que a companhia importava da Europa.
Acusado de contrabando, Ferrer pediu demissão em
1919, ficou preso por um ano e, nesse prazo, seu filho dilapidou
boa parte do seu patrimônio. Totalmente arruinado após pagar
muitas dívidas, “Ferrer desapareceu e não se sabe sequer a data
e sua morte” ( angu, Roberto Assaf).

PIONEIROS DO FU EBOL NO BRASIL?

Há uma suspeita, ainda não comprovada, de que o futebol possa


er dado seus primeiros passos, ou chutes, em terras banguenses,
ntes que o paulista, filho de ingleses, Charles Miller trouxesse
s bolas da Inglaterra e iniciasse a prática do esporte em São
Paulo, em 1894.que a primeira bola entrou em Bangu escondida
Consta
por omas Donohoe, um dos técnicos britânicos contratados
pela fábrica. No campo que existia nos jardins da fábrica,
Donohoe, que ficaria conhecido como Danau, jogava futebol
com outros funcionários britânicos.
“Donohue teria promovido uma animada partida em
erreno próximo ao prédio da Companhia, seis meses antes
ue Miller voltasse da Inglaterra”. (Bangu, Roberto Assaf) Vale
ressaltar que os imigrantes especializados começaram a chegar
m 1891, na maioriae britânicos.
Imigrantes brasileiros, contagiados por aquele que
eria o esporte mais popular do país, tentaram fundar um clube
e futebol em 1897, mas a fábrica não permitiu. Só em 1904,
uando o administrador era João Ferrer, o Bangu Athletic Club
oi fundado. Sua primeira sede foi na Rua Estevão, numa casa
mprestada pela fábrica.

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| 34 | André Luis Mansur

O clube só ganharia um estádio em 1947, também


construído pela fábrica, bem perto da sede e com o nome
“Estádio Proletário Guilherme da Silveira”, homenagem a
uma pessoa que, como se verá mais adiante, teve uma grande
importância para o bairro. Em 1933, ano da inauguração da
iluminação pública no bairro, o Bangu ganhava o Campeonato
Carioca, o primeiro título profissional do futebol brasileiro.
uita gente, no entanto, conhece o estádio como “Moça
Bonita”, cuja denominação tem sua origem no início do século
XX, quando uma moça, possivelmente bem bonita, morava
naquela região, “numa vila com chafariz em frente”, ( istória
as ruas do Rio, Brasil Gerson) e atraía a atenção principalmente
os cadetes da antiga Escola Militar do Realengo. Se ela era
inda e cheia de graça, como a garota mais famosa, de Ipanema,
não se sabe, pois não ficou nenhum registro de sua aparência.
as o nome com que ela se tornou conhecida permanece até
oje.
Outros nomes de ruas e localidades se referem a figuras
ilustres do passado do bairro, como a Avenida Ari Franco
ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral), Rua Coronel
amarindo (herói de guerra, que morou no bairro e morreu
m Canudos), a já citada Avenida Cônego de Vasconcelos
ex-vigário da Igreja de São Sebastião e Santa Cecília, era a
Rua Estevão e depois seria Rua Ferrer) e a estação de trens de
Guilherme da Silveira (ex-presidente da Companhia).
O carnaval, que hoje marca presença na região
rincipalmente com a Escola de Samba Mocidade Independente
e Padre Miguel, já tinha disputas acirradas entre blocos
no início do século. O “Flor da Lira”, fundado em 1903, e
considerado
issidência noo primeiro blocoodos
ano seguinte, Florsubúrbios
da União,cariocas,
formado teve uma
apenas
or negros, provavelmente vítimas de preconceitos no outro
bloco. Em 1909, surgia o “Prazer das Morenas”, para acirrar
mais ainda as disputas.
luz elétrica chegou em 1900 e, em 1907, foi construída
uma pequena hidrelétrica perto da fábrica, que transformava

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O Velho Oeste Carioca | 35 |

m energia elétrica a água trazida dos mananciais da serra do


Rio da Prata, que faz parte do complexo da Pedra Branca.
A fábrica também se responsabilizou pela canalização e
ornecimento de água para a população, assim como o sistema
e esgoto – tudo isso como conseqüência da compra de novas
nascentes. Já antes da canalização, cada vez que a empresa
comprava mananciais, instalava canos para levar a água para
fábrica e colocava ao longo deles torneiras para atender à
população. Foi assim, por exemplo, com os dois açudes que
xistiam na frente do prédio principal e que deram nome à Rua
os Açudes.
A companhia adquiriu os mananciais da Pedra Branca e
instalou represas no local conhecido como Virgem Maria e no
Rio da Prata, já nos lados de Campo Grande, cujos vestígios
o trabalho ainda podem ser observados hoje. A companhia
ambém construiria uma escola, em 1905, a Rodrigues Alves, e
uma Caixa Beneficente, uma espécie de posto de saúde.

“MEU P DE LARANJA LIMA”


produção da fábrica, que, no início, se limitava a morins e
chitas, passou a se diversificar e por causa disso foram construídos
novos prédios, inauguradas novas seções e importados mais
quipamentos.
A partir da década de 30, os produtos começaram a
er exportados, primeiro para a América do Sul, e depois para
mundo todo. Os tecidos da fábrica tinham boa aparência e
no acabamento e isso fez com que a concorrência começasse
reagir,
ue mesmo
chegavam do que de forma
exterior vinhamexótica. Em 1905,
com nomes do tipoos“gambu”
tecidos
“ximbu”, apenas para confundir o consumidor. ( angu 100
anos: a fábrica e o bairro, Gracilda Alves de Azevedo Silva)
As dificuldades começaram no final da década de 20 e
e prolongaram pela década de 30, inclusive com a greve de um
mês, em 1934. Reflexos de uma situação econômica complicada,

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ntre a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, e a iminência


e uma nova guerra. Mas nesse período, se a indústria têxtil
ia mal, Bangu teve, junto com outros bairros da Zona Oeste
algumas cidades da Baixada Fluminense, sua fase áurea de
rodução de laranja, com a exportação anual de 150 mil caixas
e frutas para a Europa.
Um dos romances mais conhecidos da literatura
brasileira no século XX, já adaptado para novela na Rede Globo,
“Meu pé de laranja lima”, descreve este período. O autor, José
auro de Vasconcelos, nasceu em Bangu, em 1920, e morreu
m São Paulo, em 1984. O enredo do livro, lançado em 1968,
raduzido para vários idiomas e adaptado para o cinema em
970, se passa em Bangu. O protagonista, o menino Zezé, não
ostava muito da fábrica:
“Devia ter gente fazendo serão na Fábrica e o serão não
ia além das oito horas. Dificilmente passava das nove.
Pensei na Fábrica um momento. Não gostava dela. O
eu apito triste de manhã tornava-se mais feio às cinco
horas.
ente eAdeFábrica era um dragão
noite vomitava que muito
o pessoal todo dia comia
cansado”.
Meu pé de laranja lima, José Mauro de Vasconcelos)

FAM LIA SILVEIRA

Pouco antes do período das laranjas, chegava a Bangu um


omem cujo nome permaneceria ligado para sempre à história
a fábrica e do bairro. Foi em 1923 que o médico Guilherme
a Silveira
lguns foi pacientes
de seus convidadoportugueses,
a presidir a que
companhia,
viam neleindicado por
uma grande
capacidade administrativa.
Guilherme, que seria presidente do Banco do Brasil por
uas vezes e uma vez Ministro da Fazenda, não decepcionou.
odernizou a fábrica, contratou técnicos estrangeiros e
esenvolveu uma grande obra assistencial, com creches, escolas

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O Velho Oeste Carioca | 37 |

casas populares. Ficaria na presidência até o final dos anos


60, quando sua esposa faleceu. Até a sua morte, em 1974, aos
92 anos, permaneceria ligado, de alguma forma, à companhia,
rientando seus dois filhos, Joaquim Guilherme e Guilherme
a Silveira Filho, o Silveirinha, que continuaram o trabalho do
pai à frente da companhia.
Silveirinha morreu em 1989, ano do centenário
a companhia e, neste mesmo ano, Joaquim “entregou os
pontos: certo de que já não podia tocar a empresa, tratou de
reunir os interessados e iniciar a venda da empresa” ( angu,
Roberto Assaf). Joaquim Guilherme da Silveira morreu em
1997 e a fábrica, que está tombada, abriga o Shopping Bangu,
recentemente inaugurado.
A fábrica, desde o início, recebeu visitantes ilustres,
ntre eles alguns presidentes da República, como Getúlio
Vargas, Juscelino Kubitschek e Paul Doumer, da França, que
caram entusiasmados não apenas com a sua estrutura, mas
ambém com o trabalho de urbanização empreendido por ela.
Mas, a partir
por uma ideiados anos 50, ela original
extremamente atrairia aeatenção principalmente
que logo, literalmente,
viraria moda: os desfiles.

BANGU LANÇA A MODA DOS DESFILES

Foi em 1951 que dona Candinha Silveira, esposa de Joaquim


Guilherme da Silveira, organizou um desfile beneficente no
Copacabana Palace com os vestidos da Fábrica Bangu. O
ucesso do desfile
os produtos ajudoumas
da fábrica, nãotambém
apenascomeçou
a aumentar o prestígioo
a popularizar
uso do algodão nas roupas.
No ano seguinte, o estilista francês Jacques Fath visitou
fábrica, desenhou modelos com os tecidos e organizou o
esfile de apresentação do algodão brasileiro em Paris. A festa,
realizada no castelo de Coberville, de propriedade de Fath,

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| 38 | André Luis Mansur

contou com a presença de astros de Hollywood, como Clark


Gable, Ginger Rogers e Orson Welles.
comitiva brasileira, que viajou num avião fretado pela
companhia, teve como algumas de suas maiores atrações Darcy
Vargas, esposa do então presidente Getúlio Vargas, e o homem
orte da mídia naqueles tempos, Assis Chateaubriand, que, na
esta à fantasia realizada no castelo, se vestiu de jagunço e andou
e jegue pelos jardins do palácio. A trilha sonora ficou a cargo
eabajara.
Jamelão e Elizeth Cardoso, acompanhados da Orquestra
Naquele mesmo ano, Fath veio ao Brasil, contratado
ela companhia, e realizou desfiles com os tecidos da Bangu no
Rio, São Paulo e em Salvador, fortalecendo mais ainda a marca
a fábrica. Surgiam os concursos “Miss Elegante Bangu”, no
Copacabana Palace e transmitidos ao vivo pela Rádio Nacional,
com grande cobertura da imprensa, principalmente dos Diários
Associados e de O Globo, jornal no qual começava a se projetar
Ibrahim Sued, grande divulgador dos desfiles.
frase do jornalista Manuel Bernardes Müller,
folclórico retrata
spirituosas, ManecobemMüller, conhecido
o espírito por suas
dos pioneiros tiradas
desfiles da
Bangu:
“Assim, aqueles desfiles foram, através da divulgação nos
rádios, jornais e revistas, atingir o alvo desejado, ou seja,
classe média ascendente do período pós-guerra. E daí
odo o mundo passou a conhecer e valorizar os tecidos
Bangu e a moda carioca, pois a Bangu é cem por cento
carioca, uma personagem da cidade do Rio de Janeiro”.
Bangu 100 anos: a fábrica e o bairro, Gracilda Alves de
zevedo Silva)

REALENGO
As terras do Rei
O nome deste bairro, que ficou famoso com a música
“Aquele abraço”, de Gilberto Gil, tem sua origem nas “terras

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O Velho Oeste Carioca | 39 |

realengas”, que eram locais públicos, pertencentes ao Rei, e


ue se destinavam principalmente à pastagem e ao descanso
o gado, não podendo haver qualquer tipo de construção ou
rrendamento da terra.
Elas também não podiam ser doadas em sesmarias. Este
ra o “realengo” da freguesia de Nossa Senhora do Desterro de
Campo Grande, embora houvesse outros na cidade, como na
reguesia de Nossa Senhora da Apresentação de Irajá.
Era em Realengo que D. Pedro I gostava de tomar uma
amosa pinga, quando seguia para a fazenda de Santa Cruz
História das ruas do Rio, Brasil Gerson). Há pesquisadores,
no entanto, como o já falecido professor Hélton Veloso, ex-
iretor do colégio Belisário dos Santos, de Campo Grande, que
preferiam dar outra explicação para o nome do bairro, esta mais
conhecida, que diz ser Realengo nada mais do que a abreviação
e Real Engenho, este engenho abreviado como “eng.”.

OS INVASORES E A FEIRA DE REALENGO

pesar da proibição de construções particulares e do


foramento de terras, as autoridades sempre tiveram problemas
com posseiros na área de Realengo. Antes mesmo de 1660,
uando foram definidas para uso público, parte das terras já era
cupada, o que só poderia ter ocorrido se tivessem sido doadas
como sesmarias.
Quando a Carta Régia de 1814 autorizou a posse pelo
Senado da Câmara do Realengo de Campo Grande, foi declarado
ue as terras já ocupadas teriam sido obtidas ilicitamente
m setembro
Oliveira, de 1805,
que faziam entrecom
limites elasa Fazenda
as de Ildefonso Caldeira
Piraquara, de
de Maria
Ignácia e com a Fazenda Bangu.
As concessões foram revogadas. Segundo a autora,
Ildefonso era testa-de-ferro de Ana Bangu, e conseguiu estas
erras através de pressões nada sutis contra os donos anteriores,
Izidoro Pereira dos Santos e seu genro, Manuel Proença, que,

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conforme relatado no capítulo sobre Bangu, criavam gado,


lantavam café e forneciam capim à cavalaria do Exército.
Consta que eles “tiveram suas casas destelhadas, seus
ertences jogados fora e os escravos dispensados” ( onos do Rio
em nome do Rei, Fania Fridman).
partir daí, haveria vistorias e mudanças constantes
na legislação, que acabaram, de certa forma, permitindo uma
spécie de ocupação da área, facilitada pela feira mensal de
cavalos e animais muares, ocorrida a partir de 1853, entre
Campinho e Realengo, muito concorrida.
ra a chamada Feira de Campo Grande, origem do nome
a atual Rua da Feira. Nessa época, já havia na região muitos
ocais de pouso para viajantes na Estrada Real de Santa Cruz.
Dali a alguns anos, a disputa por espaço nas terras realengas
cabaria através de novos objetivos, estes mais estratégicos,
ara a ocupação. O verde oliva iria fazer parte da paisagem de
Realengo de forma definitiva.

REA MILITAR
Realengo se torna uma área estratégica importante a partir de
850, quando o governo decide transformá-la em área militar,
rimeiro com o Campo de Marte, criado em 1859, e que incluía
Escola de Tiro, e depois a Imperial Academia Militar, também
inaugurada naquele ano. Depois viriam a Fábrica de Cartuchos,
m 1898, e a Escola Preparatória e de Tática do 1º Batalhão
e Engenheiros, que substituía a Escola de Tiro, extinta em
897, e se juntaria, em 1913, à Escola da Praia Vermelha para
ormaremais
a Escola
tarde, Militar
em 1944,do aRealengo.
Escola Militar seria transferida
ara Resende, mudando o nome para Academia Militar das
gulhas Negras (Aman). O complexo da antiga Fábrica de
Cartuchos ocupa um quarteirão inteiro do bairro e permanece
como uma relíquia abandonada devido ao estado precário
e seus prédios. “Poucos edifícios públicos temos visto, que

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O Velho Oeste Carioca | 41 |

e possam igualar, em beleza de construção, ao da Fábrica de


Cartuchos” s freguesias do Rio Antigo, Noronha Santos).
Pela Escola Militar do Realengo passariam nomes como
s dos futuros presidentes João Figueiredo e Eurico Gaspar
Dutra. Época do restaurante Sans Souci, do seu Martins (“um
português legítimo de grossos bigodes e muito vermelhão”),
no qual “a algazarra da cadetada se misturava com o som
permanente do rádio que ficava no alto tocando as músicas
e sucessos carnavalescos de Carmen Miranda, Orlando Silva,
Noel Rosa e Francisco Alves” (Memórias do Realengo, João
Baptista Mascarenhas de Morais).
Entre muitas cavalgadas nas ruas desertas de Realengo
fugas noturnas para encontros amorosos, o Meyer (ainda
com a grafia antiga, sobrenome do comendador Augusto
Duque-Estrada Meyer) era o bairro preferido pelos cadetes
conquistadores e, ao mesmo tempo, o mais fértil em garotas
ue davam “vantagens” aos namorados, conhecidas como
“gandas” – já que topavam a gandaia. Assim, o Meyer ficou
conhecido como a “capital da gandolândia” (Memórias do
Realengo, João Baptista Mascarenhas de Morais). No capítulo
obre Bangu, já foi mencionada a “moça bonita”, que também
chamava a atenção dos cadetes. Mas nem tudo são recordações
spirituosas. A Intentona Comunista, o levante de 1935,
upostamente atribuído aos comunistas, teve suas escaramuças
ambém naquela região, com a revolta da Escola de Aviação
Militar e do 3º Regimento de Infantaria. A Escola Militar não
e revoltou, pelo contrário, lutou pela legalidade.
Naquelas décadas conturbadas, Realengo, assim
como a Vila Militar, construída em terras do antigo Engenho
Sapopemba no início do século, seriam áreas bastante agitadas.

REVOL A NAS AN IGAS ERRAS REALENGAS

Outro momento importante da História brasileira no início do


éculo XX foi o levante de 5 de julho de 1922, o primeiro do

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movimento tenentista e lembrado sempre pelos “18 do Forte”,


grupo que saiu do Forte de Copacabana para enfrentar as
balas das forças legalistas e que entrou para a História brasileira.
as na Vila Militar e em Realengo, também houve um capítulo
muito importante desta tentativa de insurreição e talvez
xplicações para o fracasso do movimento.
“No momento oportuno, à hora marcada, quando
e fazia imperiosa a definição, oficiais que se sabia
comprometidos cruzaram os braços, sem atitude e
eixaram que os elementos contrários dominassem
ranqüilamente, sem nenhuma reação, as suas unidades”.
Movimento de 5 de julho de 1922 na Escola Militar do
Realengo, Grupo de oficiais da reserva)
No caso, as forças que traíram o movimento eram de
unidades da Vila Militar e do Campo dos Afonsos. No 1º
Regimento de Infantaria, o 2º tenente Frederico Christiano
Buys convocou sua companhia e iniciou a revolta. Ele cercou
cassino dos oficiais, houve tiroteio e o capitão José Barbosa
onteiro,
cabou das forças legalistas, morreu ao tentar reagir. Buys
preso.
No 1º Batalhão de Engenharia, a companhia do capitão
Luiz Gonzaga Borges Fortes foi dominada nas imediações do
uartel. Já o 1º Regimento de Artilharia Montada e a Escola
e Sargentos de Infantaria, que estavam comprometidas com o
evante, desistiram do movimento.
Escola de Aviação Militar e as demais unidades do
Campo dos Afonsos nada puderam fazer, pois o Campo foi
omado por tropas do 2º Regimento de Infantaria desde a noite
nterior. Este regimento
movimento, também
assim como o 15º estava comprometido
de Cavalaria, com
que também
esistiu. Mas a Escola Militar, cujo prédio é ocupado hoje
ela 5ª Brigada de Cavalaria Blindada, partiu para o levante,
comandada pelo coronel João Maria Xavier de Brito Junior,
erido duas vezes na campanha de Canudos.
s 22h30 do dia 4, o tenente Juarez Távora mandou

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O Velho Oeste Carioca | 43 |

missários à Fábrica de Cartuchos, onde estava o coronel Xavier


e Brito acompanhado de muitos oficiais, anunciando que a
scola estava pronta. À meia-noite, os oficiais despertaram os
cadetes e às 2h30 começou a marcha, com cerca de 600 cadetes
tendo o coronel Xavier de Brito à frente.
Logo houve tiroteio com tropas governistas e os
cadetes ocuparam posição em Monte Alegre, perto da ponte
o Piraquara (nome de um antigo engenho na região). Houve
intensa luta, que durou quatro horas:
“Luta desigual, dificilmente sustentável pelos revoltosos.
A infantaria da força governista instalada em posições
já escolhidas, com todos os requintes defensivos que
o terreno lhe proporcionava. A infantaria da Escola
Militar ocupando posições improvisadas que a situação
lhe impusera à noite sob o fogo intenso das armas
automáticas adversárias”. (Movimento de 5 de julho de
1922 na Escola Militar do Realengo, Grupo de oficiais
da reserva)
Chegaram
revoltosos do Forteadesugerir que os seguindo
Copacabana, cadetes seporjuntassem aos
Jacarepaguá,
mas o caminho, além de ser difícil, estava ocupado por tropas
o 2º Regimento de Infantaria. Às 10h30, com a certeza de que
Vila Militar não iria aderir ao movimento, o coronel Xavier de
Brito, para evitar derramamento de sangue, resolveu se render e
levar os cadetes de volta à escola. Houve uma morte, a do cadete
Flordoval Eliseu Xavier Leal, que levou um tiro no peito.
Os alunos foram presos, desligados do Exército e depois
oltos. Alguns que não tiveram participação no movimento,
egundo
oi preso eo libertado
processo,em
puderam voltar
1926. O a estudar.
processo Xavier em
só terminou de 1929
Brito
, no ano seguinte, o governo provisório de Getúlio Vargas
concedeu anistia a “todos os civis e militares envolvidos nos
movimentos revolucionários ocorridos no país” ( Movimento de
5 de julho de 1922 na Escola Militar do Realengo , Grupo de
ficiais da reserva).

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| 44 | André Luis Mansur

O PADRE MIGUEL

Na praça principal do bairro fica a Igreja de Nossa Senhora da


Conceição, originada da capela erguida em 1758, nas terras do
ngenho do Barata, demolida em 1908, quando começou a ser
construída a igreja-matriz.
Naquele mesmo ano, chegava ao Brasil, para assumir o
cargo de vigário da igreja, o monsenhor Miguel de Santa Maria
ochon. Vindo do arquipélago das Canárias, na Espanha, ele
caria conhecido mesmo como o Padre Miguel. Tinha 29 anos
uando chegou ao Brasil e viveria em Realengo até sua morte,
m 1947.
O Padre Miguel teve uma intensa atuação em Realengo
nos arredores. “Montado no dorso de seu cavalo Bismarck, esse
bnegado pastor fez com que Realengo e vários outros bairros
vizinhos, como Anchieta, surgissem do nada, dando educação
cidadania para os que lá viviam” (Memórias históricas da zona
oeste, André Gustavo Papera Gonçalves).

criançasSua iniciativaque,
possibilitou de criar escolaseledetivesse
ao morrer, estudos leigos cerca
deixado para
e 34 mil crianças alfabetizadas. Em volta da igreja, existiam,
na época do padre, feiras livres realizadas por ex-escravos
ngolanos, que faziam seus negócios em cima de um tecido de
isal. Estas feiras eram um vestígio da tradição local das feiras de
nimais, citadas anteriormente.
O padre era apaixonado por cinema e produziu diversos
lmes mudos na região, quase sempre de caráter religioso. O
cinema que o Padre Miguel produzia com suas “maquininhas”
e filmar
juda acabou após
de 100.000 um triste
cruzeiros para asincidente. Ao aconteceu
suas obras, receber “uma
que
um ladrão arrombou sua casa e as roubou, e o Padre Miguel
í tristemente principiou a desfazer-se de suas maquininhas e
e suas tipografias de bolso em troca de doações para repor
dinheiro que não lhe pertencia...” ( História das ruas do Rio,
Brasil Gerson).

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O Velho Oeste Carioca | 45 |

CAMPO DOS AFONSOS

mbora a região que compreenda hoje o bairro do Campo


os Afonsos fizesse parte da freguesia de Nossa Senhora da
presentação de Irajá, o Engenho dos Afonsos era limitado
por propriedades rurais de Campo Grande e se estendia entre
Campinho e Realengo.
O Campo dos Afonsos, na verdade, teve sua origem na
azenda Nossa Senhora do Desterro, de Luiz Paredes. A filha
ele, Inês Paredes, casou-se com João Afonsos de Oliveira,
ue passou a administrar a fazenda após a morte do sogro
emprestaria seu sobrenome ao local. O neto do casal, o
argento-mor José Vieira Afonsos, construiria o Engenho dos
fonsos, cuja grande produção era comparada à das Fazendas
Bangu e Piraquara. No final do século XVIII, entre os herdeiros
o engenho, estava Izidoro Rodrigues dos Santos, que teve
problemas com Ana Bangu, conforme já relatado.
A inglesa Maria Graham, que esteve no Brasil no começo
o século XIX e seria a preceptora da primeira filha de D. Pedro
I e D. Leopoldina, Maria da Glória, descreve, como excelente
bservadora que era, a situação dos escravos do Engenho dos
fonsos, em 1823:
“Vi crianças de todas as idades e cores, correndo de um
lado para outro, que pareciam ser tão carinhosamente
tratadas como se fossem da família (...). Fossem todos os
escravos bem tratados como os escravos domésticos dos
Afonsos, onde a família reside constantemente e nada
confia a estranhos, e a situação dessas pessoas poderia
ser comparada, com vantagem, à dos criados livres”.
(Parte
iário
dasdeterras
uma viagem ao Brasil
do engenho Maria
passaria noGraham)
final do século
XIX para o tenente-coronel Carlos Magalhães, eleito Intendente
Municipal (equivalente ao cargo de vereador) em 1899 com
uma expressiva votação e hoje nome da importante estrada
Intendente Magalhães, onde há uma das maiores concentrações
e concessionárias de veículos da cidade.

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| 46 | André Luis Mansur

sta estrada fazia parte da Estrada Real de Santa Cruz


, em volta dela, fica o bairro do Campinho, onde havia uma
equena hospedaria, citada de forma detalhada pelo naturalista
ustríaco Johann Emmanuel Pohl, que viveu no Brasil entre
817 e 1821:
“Tivemos a felicidade de receber um quarto, escada
cima, com cadeiras e uma cama de couro de boi, cru,
sticado. Para jantar, deram-nos ovos e vinho e muitos
egumes, aos quais logo tivemos de renunciar, tão ruins
ram. Deveríamos normalmente estar satisfeitos por
oder armar a nossa rede junto ao fogo, onde um negro
e mãos sujas preparava a nossa restrita refeição de
eijão preto, raras vezes melhorada com arroz e frango.
Nesses ranchos, quem quer que chegue tem igual direito
hospedagem. Cada qual procura acomodar-se como
ode, sem levar em consideração o vizinho. Entra-se
em pedir e sai-se sem agradecer”. ( Viagem no interior
o Brasil, Johann Emmanuel Poh)

á surgiu aregião dosEscola


primeira Afonsos
de foi saneada
Aviação por Osvaldo
do Rio, em 1914Cruz
e que,e
cinco anos depois, seria transformada na Escola de Aviação
ilitar. A área seria depois ampliada, para facilitar os pousos e
ecolagens. Hoje o Campo dos Afonsos abriga várias unidades
eronáuticas, além do Museu Aeroespacial, onde são exibidas
réplicas de aeronaves de Santos Dumont, entre outras peças
importantes.
Perto do Campo fica o maciço de Gericinó e a grande
rea verde em volta, utilizada pelo Exército em treinamentos
militares, ficavadapróxima
os engenhos Pavuna àe Gericinó.
Fazenda Gericinó, formada
Seu primeiro donoemfoi1680
José
Pereira Sarmento e, no início do século XIX, já estava nas mãos
o Visconde de Gericinó, irmão do Marquês de Barbacena.
O Exército só as compraria em 1908, quando pertenciam à
mpresa Industrial Brasileira.
s antigas terras realengas só se separariam de Campo

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O Velho Oeste Carioca | 47 |

Grande, de cuja freguesia sempre fizeram parte, em 1926,


uando foi instituído o Distrito de Realengo. Entre os dois estava
Bangu, já em crescente processo de urbanização promovido
pela Fábrica e, portanto, não havia mais nada que impedisse a
utonomia de Realengo.

CAMPO GRANDE
“Laranja no pé, dinheiro na mão”
No centro de Campo Grande, há algumas esculturas que fazem
referência ao produto que se tornou a base da economia da
região durante as décadas de 30 e 40. “Laranja no pé, dinheiro
na mão” era o slogan publicitário que dominava o comércio da
ruta na época. A Zona Oeste, junto com a Baixada Fluminense,
oi a maior produtora de laranjas do país no período citado.
produção se voltava principalmente para a exportação aos
países europeus, Estados Unidos e Argentina.
A de
barracões colheita ficava armazenada
armazenamento onde eramnaspreparadas
acking houses,
para a
xportação, e o transporte feito nos trens da Central do Brasil ou
por caminhões lotados. “Os caminhões repletos passavam sob os
ritos da garotada que pedia laranja aos ajudantes e os meninos
nos barracões pediam pregos e madeiras para seus brinquedos”
(Revista nº. 5 do Instituto Campo-grandense de Cultura (ICC),
rtigo não assinado). A garotada adorava as folhas de papel de
eda importadas da Finlândia, usadas para envolver as laranjas e
ue serviam também para pipas e balões.

audadePessoas que viveram


este período na época
de riqueza costumam
e prestígio que comentar com
o bairro viveu
cuja decadência começou com a Segunda Guerra Mundial,
uando a economia dos países que importavam a laranja
brasileira se voltou para a produção de armamentos. Além
isso, o bloqueio continental feito pelos submarinos alemães
prejudicou mais ainda a exportação. Os laranjais ficaram

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| 48 | André Luis Mansur

carregados, as frutas estragavam no pé e logo surgiram as


ragas. Os proprietários, então, venderam as terras, que seriam
oteadas, e o próspero ciclo da laranja chegava ao fim.
“A decadência da citricultura de exportação, em
unção da guerra, contribuiu, de maneira decisiva, para
ue Campo Grande começasse a transformação das
ropriedades rurais em loteamentos suburbanos e já
no decênio 1940-1950 apresentasse um dos mais altos
incrementos populacionais da cidade (70%)”. (O Rio
e Janeiro em seus 400 anos, “A fisionomia das unidades
urbanas”)
Uma curiosa história desta época foi a iniciativa
a produção industrial daquele que é hoje um importante
roduto da pauta de exportações brasileiras, principalmente
ara os Estados Unidos: o suco de laranja. Na década de 40, o
uímico Jorge Lima Filho e seu sócio Ademar Flores instalaram
uma indústria deste tipo numa grande packing house perto
o centro de Campo Grande. Os dois químicos criaram uma
órmula própria para o tratamento do suco, que garantiu a
ua preservação, e o distribuíram em garrafas com o seguinte
nome grafado na embalagem: “Suco natural de nossa laranja”
esastre ecológico na Baía de Guanabara, Dílson de Alvarenga
enezes .
Quem provou garante que era muito gostoso o suco
aseificado e que logo ficou conhecido como “a nossa”. Ele
chegou a ser exportado para a Argentina, mas logo sua produção
começou a entrar em decadência. Surgiram dificuldades técnicas
na produção e conservação, mas a principal razão parece ter sido
mesmo a concorrência da Coca-Cola, que chegava ao Brasil
com uma força e um marketing incríveis. “Foi assombroso o
marketing da Coca-Cola. Distribuíam o refrigerante de graça
nos colégios e nas festas e lugares onde se reunia o povo”
esastre ecológico na Baía de Guanabara, Dílson de Alvarenga
enezes). Para o autor citado, a iniciativa do suco de laranja foi

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O Velho Oeste Carioca | 49 |

um “patriótico, romântico e quixotesco visionarismo” ( op. cit.,


Dílson de Alvarenga Menezes)
Bem antes das laranjas, no entanto, Campo Grande
oi o berço de outro produto importante, principal fonte de
ivisas do Brasil na maior parte do século XIX. Conta Basílio
e Magalhães que foi da Serra do Mendanha que saíram todas
s matrizes dos grandes cafezais fluminenses.
Na época, por volta de 1780, o dono da Fazenda
o Mendanha (fundada no século XVII por Luiz Vieira de
Mendanha) era o padre Antônio Couto da Fonseca, que recebeu
s mudas do bispo D. José Joaquim de Castelo Branco, dono da
conhecida Fazenda do Capão do Bispo, cuja sede ainda existe,
m Inhaúma.
“Tendo-o cultivado em sua fazenda do Capão
(Inhaúma), forneceu logo mudas, tiradas dali, ao padre
Antônio Couto da Fonseca, proprietário de um sítio
em Mendanha, e ao padre João Lopes, dono de terras
cultivadas do distrito de São Gonçalo. Parece que da
lavoura
saíram asdo padre Antônio
sementes ou mudasCouto da Fonseca
que primeiro foi que
se plantaram
em Resende, donde irradiou a rubiácea pelo vale do
Paraíba afora”. (O café na história, no folclore e nas belas-
ar es, Basílio de Magalhães)
Já tinham sido plantadas mudas em outras partes da
cidade, como na fazenda do holandês John Hoppman, em
Mataporcos (atual bairro do Estácio) e na chácara dos frades
capuchinhos, na Rua dos Barbonos (atual Evaristo da Veiga).
Mas da serra do Mendanha o “ouro verde” se espalharia de forma
impressionante,
Vale do Paraíba, primeiro
até chegarpelas
a Sãoterras mais
Paulo, a oeste,
local onde depois pelo
encontraria
eu reduto de maior riqueza e expansão.
Nessa mesma época, na fazenda do padre Couto nasceria
quele que seria um dos maiores nomes da Botânica brasileira,
respeitado no mundo inteiro pelo seu trabalho de descoberta e
identificação de diversas espécies da flora: Freire Alemão.

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| 50 | André Luis Mansur

FREIRE ALEMÃO

“Honra do Brasil e glória do mundo”. Esta inscrição numa placa


na Avenida Cesário de Melo, em Campo Grande, mostra bem
orgulho dos moradores da região em relação a este grande
nome da Botânica brasileira.
Freire Alemão nasceu em 24 de julho de 1797 na
Fazenda do Mendanha, filho de lavradores. Seu padrinho foi o
róprio dono da fazenda, o padre Antônio Couto da Fonseca,
ue passou a lhe dar aulas. Para evitar que Freire Alemão fosse
convocado para lutar no conflito entre Portugal e Espanha na
Província Cisplatina (atual Uruguai), sua mãe pediu ao padre
Luís Pereira Duarte que seu filho se tornasse sacristão.
O padre concordou e Freire Alemão, já nas novas
unções, pôde também se dedicar ao estudo do latim. Em 1817,
le entraria para a Escola Eclesiástica como aluno gratuito,
onde iria se aperfeiçoar em diversas disciplinas, aprendendo
vários idiomas, inclusive o grego. Acabou saindo do seminário
m 1821por
Couto), (um ano depois
acreditar da morte
que não do seu para
tinha vocação protetor, o padre
o sacerdócio.
Seu grande interesse, como iria se verificar, era mesmo a ciência.
Freire Alemão recebe proteção do irmão mais velho, Antônio,
nfermeiro da Santa Casa de Misericórdia, e passa a dar aulas
e latim.
m 1822, ano da independência, resolve estudar
medicina na Escola Médico-Cirúrgica. Pede uma pensão para
studar e consegue. Nesse período, também aproveita para fazer
curso de Química na Escola Militar. Forma-se médico em
827 e émas,
rentes, convocado para a Guerra
no dia marcado para aCisplatina parafoiatuar
partida, não nas
e, para
vitar a punição, pediu ajuda a Luís Bandeira de Gouveia, pai
e alunas suas e muito influente na época.
judado pelo irmão e por amigos, Freire Alemão
realizou o seu grande sonho de viajar a Paris em 1829, onde fez
vários cursos, tornando-se Doutor em Medicina pela faculdade

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O Velho Oeste Carioca | 51 |

e Paris. Volta ao Rio de Janeiro em 1832 e o irmão, que já


ra primeiro-cirurgião da Santa Casa, o ajuda novamente. Nos
nos seguintes, de intensa atividade, entra para a Sociedade
e Medicina do Rio de Janeiro, futura Academia Imperial de
Medicina, torna-se sócio do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro (IHGB) e publica, na Revista Médica Fluminense,
e 1836 a 1838, talvez a primeira previsão do tempo regular
na cidade, anotando “variações diárias, tanto às seis horas da
manhã, como às duas da tarde. Pensamos que tenham sido essas
s primeiras observações sistemáticas, do gênero, realizadas no
Rio de Janeiro” ( reire Alemão, o botânico, João Francisco de
Souza .
Em 1834, Freire Alemão começa a dar aulas de Botânica
Zoologia na Faculdade de Medicina, no Colégio dos Jesuítas,
ue ficava no antigo morro do Castelo. Nessa época, Evaristo
a Veiga, que Freire Alemão conhecera na Escola Eclesiástica,
enta levá-lo para a política, mas diante da falta de interesse do
migo, desiste.

estudarOas
queplantas
Freire que
Alemão queria,nas
observava e começa
longasacaminhadas
fazer, é desenhar
que
ava pela Tijuca, Corcovado, Gávea, Jacarepaguá, Gericinó e
na sua querida Serra do Mendanha.
Na década seguinte, em 1841, socorre o imperador D.
Pedro II, que sofrera uma ligeira congestão cerebral, e assume
cargo de médico da Imperial Câmara, podendo freqüentar
biblioteca imperial, fundamental para seus estudos. De D.
Pedro II, receberia a Ordem de Cristo e a Comenda da Imperial
Ordem da Rosa, além de ser convidado a participar da comitiva
ue trouxeem
a Itália, ao1843.
Brasil a nova imperatriz, D. Teresa Cristina, vinda
Durante todo esse tempo, Freire Alemão publicaria
iversos trabalhos, com reconhecimento internacional.
Descobriu diversas espécies de plantas brasileiras em suas
pesquisas, que pôde fazer com mais profundidade quando se
esligou do magistério, em 1853, aos 56 anos.

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| 52 | André Luis Mansur

“Logo que se viu desembaraçado do magistério,


eliberou Freire Alemão entregar-se exclusivamente aos
studos e pesquisas de puro naturalista. Mudou-se, sem
erda de tempo, para o seu adorado Mendanha, indo
morar com sua velha tia, D. Antônia”. (Freire Alemão, o
botânico, João Francisco de Souza)
le moraria quatro anos com a tia, período em que
screveu, para o IHGB, importante trabalho sobre o açúcar, o
café e o chá. Prossegue o autor:
“Resolvido, então, a manter-se definitivamente afastado
o burburinho da sociedade humana, para melhor gozar
s segredos da natureza, adquiriu um pequeno sítio
nas vizinhanças da residência de sua tia, e aí mandou
construir uma casinha para sua vivenda”. (Freire Alemão,
o botânico, João Francisco de Souza)
Depois, Freire Alemão fundaria a Sociedade Velosiana,
“dedicada aos estudos das ciências naturais e inspirada em Frei
osé Mariano da Conceição Veloso, o autor da ‘Flora Fluminense’,
“cuja leitura o absorvia tanto que, às vezes, era visto dominado
or ela até na sacolejante diligência do Pedroso, que cobrava
00 réis para levar até Campo Grande os passageiros do trem da
Central quando seu ponto final era em Sapopemba...” ( istória
as ruas do Rio, Brasil Gerson). Sapopemba ficava onde é hoje a
stação ferroviária de Deodoro.
Freire Alemão presidiria a comissão científica que fez
exploração das regiões Norte e Nordeste, entre 1859 e 1861.
ste trabalho resultou na coleta e estudo de 20 mil amostras de
lantas, principalmente do Ceará, que foram doadas ao Museu
Nacional. Freire Alemão publicou um estudo sobre a expedição
m 1862. Mas
rabalhos, e deapesar
ser o de todobotânico
maior o prestígio
deque
seu obtivera
tempo nocompaís
seuse
um dos maiores do mundo, Freire Alemão sofreria com um
roblema que até hoje atormenta muitos que resolvem se
edicar à pesquisa e à educação: a falta de dinheiro.
Com poucos recursos, hipertenso e apresentando
roblemas de memória, Freire Alemão teve de continuar

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O Velho Oeste Carioca | 53 |

ministrando aulas durante mais alguns anos na década de 1860,


para obter uma aposentadoria decente. O pior, no entanto,
inda estava por vir.
“Todas as quartas-feiras, dirigia-se a cavalo para a
estação de Sapopemba, onde tomava o trem que o trazia
à Corte, indo hospedar-se em casa de uns parentes, à
Rua da Assembléia. As aulas eram dadas às quintas,
sextas e sábados, de jeito que, nos domingos, bem cedo,
retornava o velho professor ao recanto querido, onde
nascera e se criara”. (Freire Alemão, o botânico, João
Francisco de Souza)
Estas aulas, vale dizer, eram concorridíssimas, inclusive
pelos outros professores. Mas a grande decepção de Freire
lemão surgiu quando sua tão sonhada aposentadoria, que lhe
poderia, enfim, dar o descanso que merecia, foi negada, por
culpa do ministro da Guerra, o senador Angelo Moniz da Silva
Ferraz, e do conselheiro de Estado, Manoel Felizardo de Sousa
Melo. D. Pedro II estava em Uruguaiana, acompanhando a
Guerra Ado recusa,
Paraguai.por razões estritamente burocráticas (ou
“burrocráticas”), “lançou o maior cientista brasileiro da época,
o ponto culminante de sua carreira, ao infortúnio da doença
em recursos financeiros para o tratamento, ao silêncio e quase
squecimento do obscuro sítio do Mendanha” (Freire Alemão, o
botânico, João Francisco de Souza).
Apesar de tudo, Freire Alemão ainda seria diretor do
Museu Nacional, em 1866, onde organizaria o rico acervo da
instituição, boa parte doada por ele. Casou-se em 1864, aos
67 anos, com
biógrafos sua sobrinha,
José Saldanha Mariae José
da Gama Angélica e, segundo
de Melo Morais, seus
que
conviveram com ele, o casamento foi muito mais uma relação
e afeto, amizade e admiração, que era o que Freire Alemão
mais precisava.
Ele morreu em 11 de novembro de 1874, aos 77 anos, e
Saldanha da Gama escreveu que “ninguém se aproximou deste

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vulto simples que o não ficasse amando e respeitando” ( evista


o IHGB, Tomo 38, Saldanha da Gama).
casa de Freire Alemão foi demolida e o curioso é que
na serra que ele tanto amou, muitos anos depois, em 1936,
lberto Lamego descobriria os vestígios de um vulcão extinto.
Lamego descobriu rochas vulcânicas e acreditou que
viriam do morro Manoel José, na Serra do Mendanha, mas, no
nal da década de 1970, os pesquisadores André Calixto Vieira
Victor Klein descobriram que as rochas vinham de um ponto
mais alto da serra.

NGENHOS E FAZENDAS

Desde a fundação da freguesia de Nossa Senhora do Desterro


e Campo Grande, em 1673, cujos limites iam dos arredores de
Realengo até a Fazenda de Santa Cruz, esta região se destacou
or uma intensa atividade econômica, baseada principalmente
nos muitos engenhos e fazendas que por lá se espalharam.
mbora poucas construções da época tenham restado de pé,
stes estabelecimentos e toda a atividade cultural e social que
s cercavam permanecem vivos nos nomes de bairros, rios,
stradas e logradouros.
lém da Serra do Mendanha, onde ficava a fazenda já
citada, há também a serra do Rio da Prata, de onde se pode
chegar ao Pico da Pedra Branca, o ponto mais alto da cidade,
com seus 1.024 metros. O nome da localidade, para os mais
ntigos, tem a ver com o estado cristalino das águas de suas
muitas nascentes, mas há outra versão.
“Ée alguma
possível,mineração
ainda, quefrustrada.
o epítetoÀRio da Prata
época, advenha
as lendas das
minas de prata aguçavam a cobiça do colonizador”.
Revista nº. 5 do ICC, artigo de Eduardo Hugo Frota)
as a julgar pela qualidade das águas dos rios desta
reguesia, talvez a primeira explicação seja mais válida:
“Cinco rios, Bangu, Taquaral, Juriari, Prata do Cabuçu

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O Velho Oeste Carioca | 55 |

e Prata do Mendanha, cujas águas cristalinas são


preciosíssimas, fertilizam as terras por que passam
e, apesar de soberbos, quando engrossam com as
enchentes, nenhum permite navegação. Por esta razão,
as conduções dos efeitos do país são todas por caminhos
de terra, ou divididamente por mar, desde os portos de
Irajá e de Inhaúma, como acontece com as caixas de
açúcar e pipas de aguardente”. ( Memórias históricas do
Rio de Janeiro, vol.3, Monsenhor Pizarro)
Nessa região da serra do Rio da Prata, ficava a Fazenda
o Cabuçu, em meados do século XVIII, que depois seria
esmembrada em várias outras, como a do Rio da Prata do
Cabuçu e Lameirão. O centro da localidade do Rio da Prata,
com uma agradável praça ajardinada em frente à igreja, uma
rvore de pau-brasil e tendo ao lado o coreto e a bica, tombados
pela prefeitura, fica exatamente no entroncamento das estradas
o Cabuçu e do Viegas, esta última uma homenagem a Francisco
Viegas, dono de um engenho no local e cuja sede da fazenda
inda existe,
rguida assimpor
em 1725 como a capela
Francisco de Nossa
Garcia Senhora da Lapa,
do Amaral.
A sede e a capela estão bem preservadas e ficam próximas
Avenida Santa Cruz, em Senador Camará. A estrada, antigo
Caminho do Viegas, atravessa o morro de mesmo nome e ainda
muito utilizada, principalmente por cavaleiros e ciclistas. A
azenda era muito usada na recuperação de escravos doentes
fracos, antes de serem vendidos e, onde, nas viagens a Santa
Cruz, D. Pedro I costumava parar para descansar.
Em 1855, quando a fazenda já pertencia a Joaquim
Cardoso dosSomente
guardente. Santos, havia importante
no início do séculoprodução de caféerae
XX, quando
propriedade da família Paiva, as terras da Fazenda do Viegas
começaram a ser divididas.
Próximo à estrada do Viegas, fica a estrada do Lameirão
Pequeno, onde existia outra fazenda importante, a de Miguel
ntunes Suzano, um poderoso dono de terras do século XVIII.

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Seu nome já aparece ligado à fazenda em documentos de 1722


, no local, havia engenhos, cafezais e criação de gado.
m 1743, ele mandou construir a capela de Nossa
Senhora da Conceição nas terras da fazenda. Deve ser a esta
ocalidade que o inglês John Luccok se refere quando esteve a
caminho da fazenda de Santa Cruz, em 1813, ao descrever um
ocal chamado Lamerón, onde “a vegetação cresce luxuriante
a superfície do solo em geral é tão verde quanto qualquer da
Inglaterra, enquanto os morros todos são tão cobertos e coroados
e árvores, e tão ricas estas de folhagem, que raramente os
cenários britânicos com eles conseguirão rivalizar” ( Notas sobre
o Rio de Janeiro e partes meridionais do Brasil, John Luccock).
Havia também a grande fazenda da Irmandade
o Santíssimo Sacramento no local onde é hoje o bairro de
Santíssimo. Outros dois viajantes europeus, os naturalistas
lemães Spix e Martius, já citados no início do livro, falam de
uma parada no local onde hoje fica este bairro.
“Pernoitamos na venda do Santíssimo, cujo velho
ono, de origem italiana, nos contou como tinha vindo ao Rio
num navio francês, mandado em viagem de descobrimento ao
Oceano Pacífico e depois tinha desertado e se estabeleceu no
aís” (Viagem pelo Brasil, Johann Baptist Von Spix e Carl Von
artius).
Outras fazendas importantes na região, algumas com
ngenho e outras não: Fazenda do Monteiro (de Estevão da
Silva Monteiro e que fazia parte da importante sesmaria dos
onteiros), Juary (também grafada Juriari ou Joari e onde
avia a capela de Santo Antônio, levantada por Francisco
Gomes no século XVIII), Rio da Prata do Mendanha, Guandu
o Sapê, Pedregoso,
Guandu do Sena e Capoeiras,
a fazenda Caroba, Campinho,
de Manuel Barata, Inhoaíba,
de uma
amília que marcou presença em toda a Zona Oeste com várias
ropriedades.
região que vai de Realengo a Campo Grande
ra assim em 1900: “O território da freguesia é em grande
arte montanhoso. Seu clima é saudável, exceto nos lugares

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O Velho Oeste Carioca | 57 |

pantanosos, sujeitos a febres de mau caráter. Possui regular


comércio e algumas lavouras nas fazendas do Barata, do Monte
legre, do Juriari e da Paciência, e pequenas plantações de cana
m diversos sítios, próximos dos povoados e lugarejos” (As
freguesias do Rio Antigo, Noronha Santos).
Hoje, Campo Grande, assim como toda a Zona Oeste,
uma área predominantemente urbana. Embora ainda haja
plantações de tamanho razoável próximas às serras do Mendanha
do Rio da Prata, a agricultura local, bastante diversificada,
de pequena escala. Por todo o bairro, ainda se encontram
xemplares das construções antigas principalmente no centro.
Épocas mais tranqüilas, de bondes e charretes, de
uando as pessoas faziam piqueniques em frente à Igreja de
Nossa Senhora do Desterro. No centro, ainda há casinhas
muito bem conservadas, em estilos arquitetônicos variados,
como as que existem nas ruas Augusto de Vasconcelos e Coronel
gostinho.
A antiga estação de bondes da Estrada do Monteiro é um
ímbolo da época em que os transportes começaram a integrar
Campo Grande à região litorânea de Guaratiba. Era uma linha
e tração animal, concedida à Companhia de Carris Urbanos
para inicialmente transportar até a estação de trem capim para
s burros da empresa, em São Cristóvão. Só depois é que seriam
ransportados passageiros. Atualmente, o prédio pertence à
Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb).

OS PIONEIROS

origemrecebidas
esmarias de muitas dessas
pelos terrasque
pioneiros pode ser encontrada
ocuparam nas
a região. Bem
ntes da fundação da freguesia de Nossa Senhora do Desterro de
Campo Grande, em 1673 (embora haja controvérsias quanto a
sta data), já devia haver uma comunidade razoável naquelas
erras. Documentos mostram que a ocupação da região começou
menos de 40 anos depois da fundação da cidade.

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| 58 | André Luis Mansur

O governador do Rio de Janeiro, Martim de Sá, doou, em


603, sesmarias a Lázaro Fernandes e Pero da Silva, “moradores
nesta cidade e suas mulheres e filhos, que lhes é necessário terras
ara suas lavouras e para fazerem eles e seus filhos fazenda e não
êm nenhumas no Campo Grande (...)” (Tombos das cartas de
esmarias do Rio de Janeiro, Arquivo Nacional).
Outras sesmarias foram dadas naquele ano, uma para
anuel d’Abreu e outra para João Rodrigues Faleiro, esta na
região onde hoje fica a localidade de Palmares. “Pede a Vossa
Senhoria meia légua de terra no Campo Grande da banda dos
Palmares (...)” (Tombos das cartas de sesmarias do Rio de Janeiro ,
rquivo Nacional). Uma légua de sesmaria correspondia a
6.600 metros ou 3.300 braças.
Novas terras foram dadas no século XVII, como as que
omé Correia de Alvarenga obteve em 1650, no limite com o
oje município de São João de Meriti, e que se tornou o tronco
a poderosa família Alvarenga.
m 1680, as terras que formaram mais tarde a Fazenda
o Gericinó foram dadas em sesmaria a José Pereira Sarmento,
nas quais ele plantou cana e construiu um sólido patrimônio
rural. Depois de passar para seus descendentes, o governo as
comprou em 1908 para os campos de treinamento e manobras
o Exército. Ou seja, qual a exata data de fundação de Campo
Grande?
questão foi levantada pelo professor Moacyr Sreder
Bastos, embora hoje a “data oficial”, comemorada com o apoio
a prefeitura, seja 17 de novembro de 1603, por causa das
esmarias doadas a Lázaro Fernandes e a Pero da Silva, embora
doação a Martin Fernandes tenha acontecido dois dias antes
umo ao Campo Grande por trilhas e caminhos, José Fróes e
Odaléa Gelabert). Mas questões semelhantes existem até
mesmo em relação à própria fundação da cidade, pois alguns
istoriadores defendem a ideia de que o Rio de Janeiro teria
mesmo sido fundado em 1555 pelos franceses, devido aos

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O Velho Oeste Carioca | 59 |

vestígios de uma vila fundada por eles que teria sido destruída
pelos portugueses. E o próprio descobrimento do Brasil, por
Pedro Álvares Cabral, é questionado, por sinais de que outros
navegantes estiveram aqui antes.
De qualquer modo, até prova em contrário, é melhor
confiar nos “dados oficiais”.

INCÊNDIO NA MATRIZ
Localizada numa pequena elevação, podendo ser vista em boa
parte do centro do bairro, a igreja matriz de Nossa Senhora do
Desterro teve sua construção ligada à figura do padre Belisário
os Santos.
A primeira igreja matriz, na verdade, fora a capela
levantada em terras que hoje fazem parte de Bangu, quando da
instituição da paróquia, em 1673. Foi construída por Barcelos
Domingues, dono do Engenho da Serra, conforme mencionado
no capítulo sobre entrou
A capela Bangu.em decadência a partir do início do
éculo XVIII:
“Decadente por extremo esse templo curtíssimo, clamava há
muitos anos contra os habitantes de seu termo, para que de
novo levantassem outro com decência e dignidade conveniente
o uso e ministério paroquial” (Memórias históricas do Rio de
Janeiro, vol.3, Monsenhor Pizarro).
Já Noronha Santos esclarece que “alguns anos depois,
esapareceu essa capela e passaram-se tempos sem que os
moradores e fiéis
o Rio Antigo, tivessem
Noronha ideia de edificar outra” ( s freguesias
Santos).
O bispo Antônio do Desterro ordenou, em 1720, que
osse encontrado um novo local para a matriz. Mais tarde, o
padre Pizarro de Araújo (futuro monsenhor Pizarro) conseguiu
ue Francisco Gomes de Almeida, futuro Barão de Campo
Grande, doasse parte de suas terras, no Engenho do Juary.

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7/24/2019 Velho Oeste Carioca I

| 60 | André Luis Mansur

stas terras estavam em litígio com os herdeiros do


ngenho do Pau-Ferro. Após alguns anos, o litígio favoreceu
s herdeiros, que doaram as terras para a construção da matriz.
O padre Bernardo Ferreira de Souza foi nomeado primeiro
vigário da paróquia em 1757, mas as obras só foram iniciadas
m 1796.
matriz ficou pronta, enfim, em 1808. A história
a igreja teria terminado bem se um incêndio, até hoje não
xplicado, não a tivesse destruído, em 1882. A matriz foi
ransferida, então, para a capela de Santo Antônio, na fazenda
o capitão Luiz Barata, bem perto da Estrada Real de Santa
Cruz (hoje, em Campo Grande, este trecho corresponde a uma
arte da Avenida Cesário de Melo).
igreja foi reconstruída e reinaugurada seis anos
epois, graças aos esforços do padre Belisário dos Santos, já
ntão vigário de Campo Grande. O governo contribuiu com
cinco contos de réis e o restante ficou por conta dos fiéis. O
ntigo cemitério da igreja, bem em frente, é hoje ocupado por
ojas comerciais e repartições públicas, e a antiga casa do padre
o Colégio Belisário dos Santos, um dos mais tradicionais da
Zona Oeste, ao lado da igreja.
Consta que o padre, “na ausência de autoridade que
zesse o registro das ‘datas’ adquiridas, quem o fazia era ele no
ivro de tombo da sacristia, mediante juramento do declarante,
que nos recorda o Oeste americano dos filmes de bangue-
bangue, com os pioneiros a marcarem de qualquer maneira,
como seu, o lote vazio ao qual primeiro haviam chegado...”
istória das ruas do Rio, Brasil Gerson).
Outra igreja importante, e não muito distante dali, é
de São Pedro, construída em 1910, na Avenida Santa Cruz,
ntre as estações de trem de Santíssimo e Senador Camará, no
ocal onde havia uma capela sob a mesma invocação, e na qual
D. Pedro II, quando ia para Santa Cruz, parava para orar e, às
vezes, descansava na casa-grande que ficava ao lado.

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O Velho Oeste Carioca | 61 |

SAN A CRUZ
A “joia da Coroa”

Bem antes da chegada dos colonizadores portugueses, as terras


ue hoje fazem parte do bairro de Santa Cruz eram chamadas
e piranema pelos índios que a habitavam, palavra que na língua
upi-guarani significa “abundância de peixes”.
A história do bairro está irremediavelmente ligada aos
jesuítas, que receberam terras da Marquesa Ferreira no final
e 1589. A Marquesa doou metade das terras para os padres
a outra metade foi dada no ano seguinte, por sua filha,
Catarina Monteiro, casada com José Adorno. Em troca, o casal
recebeu terras dos jesuítas em Bertioga, São Paulo, conforme já
mencionado no capítulo sobre Guaratiba.
Em 1616, os jesuítas ampliaram a fazenda comprando
erras dos herdeiros de Manuel Veloso Espinha e em 1654 e
1656, eles adquiriram mais terras, desta vez de Tomé Correia
e Alvarenga e Francisco Frazão de Sousa, herdeiros de Manuel
Correia, que recebera a sesmaria na cabeceira do Rio Guandu
era irmão, por parte de pai, do então governador do Rio de
Janeiro, Salvador Correia de Sá.
Com outras aquisições, seja comprando ou recebendo
oações ou heranças, a fazenda atingiria um total de 10 léguas,
uase 70 quilômetros quadrados. Ela abrangia a área que
corresponde hoje a dez municípios, como Itaguaí, Nova Iguaçu,
Rio Claro, e chegava até Vassouras.
Em Itaguaí, foi fundada uma aldeia de índios. Quando
s jesuítas foram expulsos do país por ordem do Marquês de
Pombal, em 1759, a fazenda tinha 22 currais, oito mil cabeças
e gado,Os200 carneiros
jesuítas e 1.200parte
arrendavam cavalos e burros.mas mantinham
da fazenda,
controle total sobre a propriedade. A mão-de-obra era indígena
escrava, sendo que o tratamento dado aos escravos era
considerado mais justo do que na maioria das outras fazendas.
les tinham moradia individual, podiam dedicar dois dias da
emana às suas roças e seus filhos recebiam roupas, alimentação

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educação dos padres. As crianças aprendiam também música


um ofício e “cada escravo fiel podia criar até dez cabeças de
ado, tinha assistência moral e sanitária e subsistência para os
lhos por conta da fazenda” ( baixada de Sepetiba, Hildebrando
e Araújo Góes).
pesar disso, havia fugas e alguns quilombos foram
ormados nas matas em volta, como em Palmares, Itaguaí e nas
cabeceiras do rio Guandu, para onde o governador Gomes Freire
mandou tropas em 1762. Os parentes dos escravos fugitivos
ram castigados.
“Na Fazenda havia olaria, ferraria, carpintaria, serraria,
ábricas de cerâmica, de canoas, de móveis e de artigos
e couro, um estaleiro em Piranema, tanoaria, atividades
e ourives, de prateiros e de tecelagem, forno de cal,
hospital, botica, casa de farinha, engenhos, prisão de
scravos, moradias dos foreiros, armazém, 121 senzalas
casas unifamiliares) em Pacotiva e 106 em Limeira”.
Donos do Rio em nome do Rei, Fania Fridman)

grícolasOs(feijão,
jesuítasarroz,
se dedicavam
mandioca,à algodão,
pecuária legumes,
e às atividades
frutas,
cacau, anil, fumo, guaxima e, mais tarde, o café) além de
manufaturas. De Sepetiba, os jesuítas enviavam ao Porto dos
Padres da Companhia, na praia de D. Manuel (atual Rua D.
anoel, na Praça XV), 500 bois por ano, além de verduras e
egumes, para auxiliar na manutenção do colégio dos jesuítas,
no extinto morro do Castelo.
Havia muitas obras de arte, em madeira e em metais,
rincipalmente na igreja, e a moradia dos pobres era rústica,
orém
ospital,confortável. A fazenda
escola e várias oficinastambém
para o possuía hospedaria,
ensino profissional,
inclusive de música.
“A mesa, porém, não era muito farta nem de apresentação
na, pois quando o Governador de Minas, vencedor da
insurreição de Felipe dos Santos, Conde de Assumar, se
emorou na fazenda a caminho do Rio, seu secretário

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O Velho Oeste Carioca | 63 |

escreveu que sob o teto dos padres de Santo Inácio


não se comia nem se dormia bem, pelo que depois
enriqueceram seu refeitório com duas baixelas para os
dias de festa e visitação ilustre...” ( História das ruas do
Rio, Brasil Gerson)
A residência da fazenda tinha no bloco principal a
Capela de Santa Bárbara e o convento, com 36 celas, além
e outros prédios menores. Segundo José Saldanha da Gama,
utor da “História da Imperial fazenda de Santa Cruz”, da qual
oi administrador, assim que tomaram posse da terra, os jesuítas
colocaram uma grande cruz de madeira (a “Santa Cruz”) pintada
e preto, encaixada numa base de pedra sustentada por um pilar
e granito. Depois, já no Império, a cruz seria substituída por
utra menor.
Hoje, existe uma réplica, em frente à antiga sede da
azenda. As anteriores nunca foram encontradas.

PÂNTANOS E MANGUES
ssim como a conquista do centro da cidade do Rio de Janeiro foi
uma árdua luta contra os pântanos e mangues que dominavam
região, a história não foi diferente para os desbravadores do
chamado “sertão carioca”. As constantes inundações dos diversos
rios da região, como o Guandu e o Itaguaí, eram obstáculos
qualquer tipo de atividade agrícola ou pecuária. Os donos
a terra, no entanto, resolveram enfrentar o desafio e para isso
nviaram alguns padres à Holanda, a fim de estudarem métodos
modernos Comde drenagem
as técnicasetrazidas
irrigação.
da Europa e o conhecimento
já obtido no Brasil, o trabalho começou a ser feito. Entre as
iversas obras de drenagem e irrigação realizadas pelos jesuítas,
estacam-se a Taipa Grande, um dique feito de pedra e barro à
margem do Rio Itaguaí e que servia para proteger os pastos das
inundações, as valas do Itá e o canal de São Francisco (com dez

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| 64 | André Luis Mansur

uilômetros de extensão), o canal de Santa Luzia, a Taipa do


Frutuoso – que tinha o “óculo dos espanhóis, um buraco feito
m sua parede e que se abria na seca para dar água ao rebanho
– o óculo do Candinho, com o mesmo objetivo, e a ponte dos
jesuítas, que existe até hoje e é tombada pelo Governo Federal.
Construída em 1752, ela era usada para regular as águas do
Rio Guandu. No centro da ponte, ornamentada por esculturas
barrocas, está uma inscrição latina logo após as iniciais I.H.S.
Jesus Salvador dos Homens): ‘Flecte genu tanto sub nomine,
ecte viator. Hic etiam reflua flectitur amnis aqua’ – ‘Flexiona o
joelho sob tão grande nome, flexiona, ó viajante; aqui também,
o refluir, flexionam todas as águas’.” Boa parte destas obras
oi organizada pelo eficiente administrador da fazenda, o padre
Pedro Fernandes.

BANDONO E CORRUPÇÃO

Com a expulsão
ropriedades, foidos jesuítas,pelo
confiscada a fazenda, assim
governo como suas
português, demaisa
e passou
car subordinada diretamente ao vice-rei. A partir daí, ela nunca
mais teria a mesma eficiência da administração dos jesuítas
, até a chegada da Família Real, em 1808, e a conseqüente
ransformação do Convento em Palácio de Veraneio para D.
oão e seu séquito, ela sofreria nas mãos de administradores
corruptos.
Um deles, Antônio da Silva Rangel, obrigava os escravos
a fazenda a trabalharem em seu engenho, distribuía terras da
azenda
uando, aenfim,
parentesfoie preso.
amigosNa
e deu um desfalquedeem
administração dinheiro,
Furtado de
endonça, novos desmandos, como o roubo de gado e de
madeira, a invasão de terras e, como única boa realização, o
érmino da construção do Canal do Piloto, uma vala que tinha
ido aberta pelos jesuítas.
Depois de Furtado de Mendonça, foi a vez de Manoel

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O Velho Oeste Carioca | 65 |

Joaquim da Silva e Castro, que recuperou a lavoura, mandou


limpar as valas e expulsou os índios da aldeia de Itaguaí para
iniciar a construção do engenho de Nossa Senhora da Conceição
e Itaguaí. Outro engenho, em Piaí, foi construído e inaugurado
m 1796, já sob a administração de Manuel Martins do Couto
Reis. O de Itaguaí era movido à água e o de Piaí funcionava
por tração animal. Estas melhorias na fazenda eram o resultado,
principalmente, do incentivo do Vice-Rei Conde de Resende.
Couto Reis refez os currais, comprou gado, plantou café
admitiu arrendatários, mas seria afastado, em 1804, vítima
e manobras políticas por ser contra a venda dos engenhos de
Itaguaí e Piaí, uma negociação cheia de conchavos e artimanhas
que começou com uma forte campanha para a venda da
azenda, sob o argumento de que o dinheiro arrecadado
eria utilizado para o pagamento de dívidas. Quem sabe um
prenúncio da privatização do patrimônio público?
Com a recusa do Vice-Rei, o Marquês de Aguiar, nova
campanha foi feita, desta vez para a venda dos engenhos, o
ue valor.
eu foi conseguido
Entre os em 1806,
donos, por uma
estavam quantiaAntônio
os irmãos bem abaixo do
e João
lexandre Gomes Barroso. Assim, decadente e vítima dos mais
iversos interesses, a outrora poderosa Fazenda dos Jesuítas, que
já tinha sido chamada de “joia da Coroa”, encerrava um ciclo
para iniciar outro, este bem mais digno de suas tradições.

FAMÍLIA REAL EM SANTA CRUZ

Com
1808, ao transferência da Corte
príncipe regente Portuguesa
D. João parapela
se encantou o Brasil,
região em
da
Zona Oeste e escolheu os campos de Santa Cruz para passar
longas temporadas.
O antigo Convento dos Jesuítas foi transformado em
Palácio Real, a estrada melhorada e a fazenda passa a viver
ua fase de maior esplendor, sendo visitada freqüentemente,

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não apenas por grandes autoridades e figuras da nobreza, mas


ambém por importantes artistas e naturalistas europeus, que
assaram a vir ao Brasil incentivados por D. João.
“D. João encantou-se por ela, restaurou-a, fê-la
roduzir e adaptou a casa para sua residência campestre.
Finalmente, elevou-a à condição de Fazenda Real de
Santa Cruz, melhorou a estrada que a ligava ao centro
urbano, e foi esta razão bastante para que a cidade se
osse expandindo naquela direção, com o surgimento
e núcleos de população suburbana”. (O Rio de Janeiro
em seus 00 anos, “O século XIX”, Cláudio Bardy)
Saindo de um país prestes a ser invadido e pressionado
or todos os lados, é bem possível que D. João tenha sentido
um forte impacto ao seguir, provavelmente num dia ensolarado
com frangos no bolso real, rumo à Fazenda de Santa Cruz.
Nas viagens até a fazenda, era muito comum que o príncipe
regente fosse acompanhado de grande comitiva, incluindo
ríncipes, artistas e autoridades importantes, além de lacaios
e todoBoa
o tipo.
parte dessa gente ficava no Engenho da Paciência,
e João Francisco da Silva, em terras que hoje fazem parte dos
bairros de Paciência e Cosmos. João Francisco era casado com
arianna Eugênio Carneiro da Costa, Viscondessa de São
Salvador de Campos. A já citada Maria Graham por lá esteve,
m 1823, e assim descreve a viscondessa:
“Tivemos aqui uma recepção das mais polidas por parte
e uma bela mulher, de tom senhorial, que encontramos
na direção de seu engenho, o que é de fato interessante”.
Diário
Para de umaosviagem
orientar que ,iam
ao Brasil
viajantes Maria
atéGraham)
Santa Cruz, e
ambém para uso administrativo, foram colocados, ao longo da
strada Real de Santa Cruz, marcos de cantaria, definindo as
oze léguas do centro da cidade até Santa Cruz. Estes marcos
oram substituídos por outros, com a inscrição P.I (de Pedro I)
o ano de 1826.

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O Velho Oeste Carioca | 67 |

Hoje ainda existem cinco marcos da antiga estrada,


ombados pela Prefeitura, dois na Avenida Cesário de Melo,
um na Avenida Santa Cruz, outro na Estrada da Olaria Velha e
um na esquina da Rua Felipe Camarão com a Avenida Isabel.

PATR CIO, O BOI PENSIONISTA

Há diversas histórias curiosas sobre a passagem de D. João por


Santa Cruz. Uma delas se refere ao carrapato, ou melhor, ao
“desalmado carrapato”, que “se agarrava a uma das reais pernas.
Retirou-o D. João, precipitadamente e, com tal imprudência o
ez, que a escoriação se transformou em ferida ulcerosa, dando
cuidados aos médicos e cirurgiões da Corte” ( História das ruas
o Rio, Brasil Gerson).
Sem poder andar, o príncipe regente passou a usar a
cadeirinha para se locomover na fazenda, levada por doze
scravos, que costumavam cantar à chegada de D. João na

jántiga propriedade
acabô”. A verdadedos jesuítas:
é que “Nosso
“D. João, sem Sinhô chegô,
o querer, cativeiro
e o carrapato
os pastos de Santa Cruz intensificaram o uso das cadeirinhas
na cidade, que, no limiar do século, eram utilizadas só por
particulares” (Meio de transporte no Rio de Janeiro, vol.1,
Noronha Santos).
Uma outra história envolvendo as temporadas em Santa
Cruz refere-se a um boi de estimação do príncipe regente,
razido de Lisboa na comitiva real. Este boi, de nome Patrício,
oi levado por D. João para Santa Cruz, onde passaria a residir,
recebendo
não deixavauma
que pensão para suas
perturbassem “despesas
Patrício diárias”.
e chegou D. João
a repreender
everamente um funcionário da fazenda que chicoteou Patrício,
ue assim podia invadir terrenos alheios sem ser incomodado.
Outro aspecto da passagem de D. João por Santa
Cruz diz respeito ao espírito zombeteiro do carioca, que se
manifestava mesmo em local tão distante do centro. Como já

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| 68 | André Luis Mansur

oi divulgado, à chegada dos quinze mil portugueses (estimado)


a comitiva de D. João, boa parte deles fidalgos, as melhores
casas do Rio de Janeiro recebiam na porta a inscrição P.R., que
e lia Príncipe Regente, e indicando um prazo para os moradores
aírem daquela casa e cederem seu lugar ao nobre português,
ue não poderia ficar sem uma habitação digna de sua posição.
Logo, o povo começou a divulgar outro significado para aquela
inscrição, bem mais objetiva e sarcástica: “Ponha-se na rua!”.
m Santa Cruz aconteceu algo parecido. Como D.
oão passava longas temporadas na fazenda, era preciso obter
comodação para os que não iriam ficar hospedados no Palácio
Imperial ou no Engenho da Paciência. As melhores casas
a região começaram a receber, então, a inscrição R.A., que
ignificava Real Alteza, e tinha o valor da P.R. das casas da
Corte. Para o povo, no entanto, elas queriam dizer “RA, re,
ri, ro, RUA!” ( anta Cruz – Fazenda jesuítica, real, imperial
Benedito Freitas).

REFORMAS NA FAZENDA

Neste período que se inicia com a chegada de D. João a Santa


Cruz, a fazenda começou a sofrer uma série de reformas e
melhorias que, se não lhe deram a opulência econômica da
poca dos jesuítas, pelo menos fizeram com que ela recuperasse
arte de seu prestígio, bastante abalado pelos desmandos após a
xpulsão dos religiosos.
Uma dessas iniciativas foi o incentivo à imigração, como
dos 45 chineses
bicho-da-seda, masque
quevieram de Macau,
logo depois em 1815,
passaram para
a plantar criar
chá. Eleso
cavam no Morro dos Chinas, depois Morro do Chá, onde em
820 criaram o Jardim do Cercadinho, de plantas medicinais,
ue eram permutadas com o Jardim Botânico.
decadência começou quando os chineses começaram
ser maltratados, recebendo pouco dinheiro, proibidos de sair

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O Velho Oeste Carioca | 69 |

se alimentando mal. Muitos fugiram e logo houve abandono


o Cercadinho, que passou a ser cuidado por escravos. Mas, em
meados do século, já não existia mais.
Em 1815, chegaram cerca de 150 espanhóis, que se
instalaram na localidade do Frutuoso e fundaram a Aldeia dos
spanhóis. A atividade agrícola não prosperou e eles foram
eslocados para a Olaria do Curtume, que passou a ser chamada
Olaria dos Espanhóis. Em 1817, vieram portugueses da região
o Minho, que obtiveram êxito na atividade agrícola.
D. João VI retorna a Portugal em 1821 e deixa em seu
lugar seu filho, D. Pedro, que continua visitando a fazenda, já
com o novo nome após proclamar a independência. Conforme
ito no início, D. Pedro parou na fazenda durante a viagem
ntes da independência, em 1822 e, nos anos seguintes,
continuaria a visitar bastante o local, agora chamado Palácio
Imperial, também ponto de encontro do imperador com sua
mante, Domitila de Castro e Canto e Melo, a Marquesa de
Santos. Bem afastado do burburinho da Corte...
D. Pedro
atribulado I abdica
período em 1831e D.
das regências e volta
Pedroa Portugal.
II assumeComeça
o trono
m 1940, após ser emancipado aos 14 anos. O novo imperador
continua a visitar Santa Cruz, mas com menos freqüência que
eu pai e avô. Os surtos de febre amarela na cidade indicavam
ue o local mais seguro estava nas serras e a cidade imperial,
Petrópolis, começa a ser erguida, tornando-se o local preferido
e descanso da família imperial.
Com a República, a fazenda trocaria o nome Imperial
por Nacional e só teria novamente um momento de expansão
conômica
1930, durante
quando o governo
passaria de Getúlio
por diversas obrasVargas, a partir dee
de saneamento
eriam criadas colônias agrícolas, com a chegada de muitos
gricultores japoneses, que plantavam principalmente um
omate de excelente qualidade.
Depois, seria criada a Zona Industrial de Santa Cruz,
inamizando a economia local, hoje uma das mais importantes

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| 70 | André Luis Mansur

a Zona Oeste. Mais tarde, suas terras teriam o mesmo destino


as grandes propriedades da região: seriam desmembradas e
oteadas.
as Santa Cruz terá ainda seus momentos de glória
ora da fazenda, como as inaugurações da 1ª agência fixa dos
Correios no Brasil, em 1842, e do matadouro, em 1881, além
e ter o único hangar de dirigíveis do mundo, construído em
936 para abrigar os famosos Hindengurg e o Zeppelin.
O antigo Palácio Imperial é hoje o Batalhão Villagrán
Cabrita, do Exército, em excelente estado de conservação.

O MA ADOURO DE SAN A CRUZ

uita gente há de estranhar que um matadouro seja um


os principais monumentos históricos de Santa Cruz. Mas
e levarmos em conta que a sua inauguração contou com a
resença do imperador D. Pedro II e de diversas autoridades
convidadosSeria
importância. importantes,
algo como compreenderemos
a inauguração de umamelhor a sua
hidrelétrica
u de uma grande rodovia hoje.
Na década de 1880, o Rio de Janeiro, apesar de ser
capital do Império, só tinha um matadouro (com exceção
os clandestinos), instalado na antiga praia de Santa Luzia, no
centro da cidade, em 1774. Em 1853, ele foi transferido para
Aterrado de São Cristóvão (praia Formosa), na atual Praça da
Bandeira.
Nessas condições, era indispensável uma nova instalação
ara garantir
normas o abastecimento
de higiene aceitáveis. de
Foicarne regularentão
escolhido à população,
o Campocom
de
São José, em Santa Cruz, para a construção do matadouro. A
edra fundamental foi lançada em 1876 e, em 1881, já estava
uncionando. O primeiro abate ocorreu naquele mesmo ano,
ssim como a inauguração, em 30 de dezembro.
Da mesma forma que a Fábrica de Tecidos, em Bangu,

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O Velho Oeste Carioca | 71 |

matadouro trouxe um importante desenvolvimento ao bairro,


ue já não contava mais com o grande prestígio da fazenda,
anto na época dos jesuítas como da temporada da nobreza
m suas terras. Graças ao gerador do matadouro, por exemplo,
Santa Cruz foi o primeiro bairro do subúrbio a receber luz
létrica. Duas vilas operárias foram construídas, para abrigar os
uncionários que vinham de longe com suas famílias.
Após a inauguração, foi construído o Palacete do
Matadouro, em estilo neoclássico, tendo em volta um jardim
projetado e supervisionado pelo paisagista francês François
Marie Glaziou, responsável pelos jardins da Quinta da Boa
Vista e do Campo de Santana.
O palacete funcionou como sede administrativa do
matadouro e residência do diretor e dos médicos que trabalhavam
lá. Em volta do prédio, também existem as tradicionais palmeiras
reais, plantadas pela primeira vez no Brasil no Jardim Botânico,
por D. João, segundo reza a lenda.
Para o matadouro, foi preciso comprar as cachoeiras do
Rio da Prata e do Mendanha à D. Maria Teixeira Alves, que por
las queria 20 contos de réis. Foram vendidas por 16 contos de
réis, contanto que abastecessem também Campo Grande.
A estação de Santa Cruz já existia desde 1882 e, em
1884, foi inaugurado o ramal ferroviário do matadouro. O
prédio da estação, em estilo eclético, encontra-se abandonado,
ssim como a linha de trem do ramal.

ZEPPELIN EM SAN A CRUZ

Santa Cruz entre


Construído possui1934
o único hangar
e 1936, de dirigíveis
o hangar do mundo.
do Zeppelin, como
conhecido, servia de abrigo aos dirigíveis construídos na
lemanha pelo Conde Ferdinando von Zeppelin e que faziam
rota entre Berlim e o Rio de Janeiro.
Entre 1936 e 1938, dois dirigíveis famosos utilizaram o
hangar. Primeiro, o Graf Zeppelin, e depois o Hindenburg, este

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| 72 | André Luis Mansur

estruído em 1937 num incêndio em Nova Jersey, nos Estados


Unidos, quando morreram 36 pessoas, tragédia que marcou a
ecadência desse tipo de transporte.
região foi escolhida para sediar o hangar principalmente
evido às condições climáticas e direção favorável dos ventos.
s estruturas vieram da Alemanha. Ele foi construído por
brasileiros, supervisionados por alemães, e mede 274 metros
e comprimento, 58 metros de altura e 58 metros de largura.
Os outros dois hangares ficavam na Alemanha e nos Estados
Unidos. Os dirigíveis partiam de Frankfurt, na Alemanha,
tracavam em Pernambuco e desciam em Santa Cruz, onde
ram recolhidos ao hangar, para manutenção, reabastecimento
embarque dos passageiros.
O hangar serviu de base para o 1º Grupo de Aviação de
Caça da Força Aérea Brasileira, que teve papel de destaque em
missões na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial.
No hangar, hoje, ficam recolhidos aviões da Base Aérea
e Santa Cruz, que conta com o aeroporto Bartolomeu de
Gusmão.

SEPETIBA, O SAPÊ E A PESCA

O nome de Sepetiba também tem origem na língua tupi-


uarani, designando uma grande quantidade de um tipo de
capim, o sapê, que cobria quase todo o litoral.
Sepetiba era uma comunidade pesqueira. Para construir
uma igreja e cultuar o santo padroeiro dos pescadores, São
Pedro, foi feita uma grande mobilização para levantar fundos.
la foifoiconcluída
igreja ampliada após dez meses
por causa de trabalho,
das muitas em e1895.
irmandades A
teve sua
rquitetura original modificada.
O Decreto-Lei de 1813, assinado por D. João, demarcava
doava parte da área de Sepetiba aos antigos pescadores e
avradores, conforme está no texto:
“(...) no sítio de Sepetiba se demarque o terreno

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O Velho Oeste Carioca | 73 |

convenientemente para comodidade dos pescadores e


pessoas que aí habitam, designando-se o terreno que for
mais a propósito e proporcionado à mesma povoação, o
qual se repartirá livre, sem mais foro do que um módico
reconhecimento por cada morador, que agora ou para o
futuro aí edificar (...)”. (História de Sepetiba, Alcibíades
Francisco Rosa)
Foram mandados construir dois fortes, o de São Pedro,
no morro de Sepetiba (antigo mirante), e o de São Leopoldo,
ntre as praias do Cardo e de D. Luísa. Também foi construído
um cais na ilha da pescaria e duas pontes, ligando a ilha ao
continente. A praia de D. Luísa, aliás, tem esse nome devido a
“uma antiga moradora solitária, que residia em uma pequena
casa de pau-a-pique, construída junto à praia” ( istória de
epetiba, Alcibíades Francisco Rosa).
Antigamente os bares de Sepetiba eram conhecidos
como breus, por causa da baixa luminosidade.
“No breu se serviam, de madrugada, café aos pescadores
que partiam para o mar, peixada para os estranhos e
visitantes, e vários outros tipos de comida. A iluminação,
sempre muito precária, era feita através de lampiões de
pesca, alimentados por óleo de mamona, mais tarde
substituídos por querosene”. (História de Sepetiba,
Alcibíades Francisco Rosa)
É bom ressaltar que, mesmo no centro do Rio de Janeiro,
ntes da chegada da iluminação a gás, em 1854, boa parte dos
lampiões eram alimentados por óleo de baleia, mamífero muito
comum na então limpíssima Baía de Guanabara.

INVASORES E TURISTAS

Na Baía de Sepetiba, houve um combate, em 1614, entre forças


ediadas no Rio de Janeiro, comandadas pelo ex-governador
Martim de Sá, e uma frota holandesa, que estava alocada na
Ilha Grande.

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sta frota, comandada pelo almirante Joris van Spilberg,


oi armada pela Companhia das Índias Orientais para procurar
assagem para o Pacífico pelo Estreito de Magalhães:
“Martim de Sá, que se achava então no seu engenho da
Barra da Tijuca, tendo conhecimento da presença dos
amengos na Ilha Grande, reuniu forças para atacá-los,
errotando-os em combate na foz do Guandu”. ( O Rio
e Janeiro no século XVII, Vivaldo Coaracy)
Durante a permanência de D. João em Santa Cruz, havia
empre uma embarcação da Guarda Real em Sepetiba, para
vitar qualquer tipo de invasão. O austríaco Johann Emmanuel
Pohl, já citado neste livro, dá uma definição sobre Sepetiba no
início do século XIX:
“Sepetiba tem cerca de umas doze cabanas de barro
fica na costa, onze léguas ao sul do Rio de Janeiro.
Daqui se costuma embarcar para Ilha Grande e Paraty.
primeira destas ilhas está afastada treze léguas, e a
utra, vinte e duas. Em Sepetiba, há uma fábrica real
e telhas. Fabrica-se
montoadas, para essetambém cal de quantidades
fim, enormes conchas. Vi de

conchas. Os moradores alimentam-se precariamente de
eixe. Alguns peixes secos, carne seca ao sol, que vem
e Minas Gerais e é cozido com feijão preto, e farinha
e mandioca constituem o alimento dos habitantes.
Parece que nunca são capazes de grande atividade. Vi-
s, dias inteiros, de pés descalços e jaqueta floreada,
asseando pela sala, a olhar ociosamente pela janela.
Dão-se muito a jogos de cartas e vi, às vezes, pessoas
ue, dia
velho e noite,
ditado não tal
“tal amo, faziam outra
criado”, essacoisa.
inaçãoSegundo
estende-seo
relativamente também aos escravos, que não têm tanto
rabalho quanto poderiam executar comodamente e até
eria saudável para melhorar seus costumes”. (Viagem
no interior do Brasil Johann Emmanuel Pohl)
John Mawe, o também já citado comerciante inglês,

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ue administrou por algum tempo a Fazenda de Santa Cruz,


ambém dá uma definição bucólica sobre a Sepetiba destes
empos:
“Romântico cenário em redor. Existem poucas casas
pobres e algumas plantações de índigo, cana de açúcar e
legumes. Na praia, alinham-se belos aloés e se descortina
paisagem interessante, com várias ilhotas em frente à
baía, das quais a mais importante é a da Madeira, já
mencionada. Em outra direção, vê-se a Ilha Grande”.
Mawe, como os viajantes europeus citados neste livro,
realmente se encantaram com a região e servem de testemunho
honesto da importância e beleza do que viram:
“Uma das mais belas e férteis planícies da América do
Sul”. (Viagens ao interior do Brasil John Mawe)

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Aca ou-se e imprimir


m a15cidade
de outubro de 2008,
de Petrópolis,
as oficinas da ParkGraf,
especialmente para Ibis Libris.

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