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RESUMO: Os discursos poéticos dos mborai (cantos) Guarani Mbya, registrados em CDs
lançados por grupos de canto e dança, são representativos do imaginário cultural desse povo,
comprometido com sua concepção mitológica. Os conteúdos sagrados desses cantos estão
ligados às divindades e permitem entender a dimensão espaço-temporal da cultura Guarani
Mbya. Neles, as experiências históricas são retratadas como reais, e o mito origina-se enquanto
expressão fundacional da vida e dos homens. As narrativas míticas dos cantos, concebidas como
as “belas palavras” (ayvu porã), são parte integrante do “belo saber” (arandu porã) e
encaminham essa discussão, que tem por foco a significação das identidades míticas divinas
registradas nas letras desses cantos.
ABSTRACT: The poetic discourses of the Guarani Mbya mborai (chants), which were recorded
in CDs released by chants and dance groups, are representatives of this people’s cultural
imagery, compromised to its mythological conception. Through the sacred contents of the chants,
always linked to praised deities, we can understand the space-time dimension of the Guarani
Mbya culture, in which the historical experiences are portrayed as real, and the myth arises as a
1
Livre-docente em Metodologia da História pela Universidade Estadual de São Paulo (UNESP); Doutora
e Mestra em História Social pela Universidade de São Paulo (USP); docente do Mestrado Interdisciplinar
em Ciências Humanas da Universidade de Santo Amaro (UNISA). Email: loboarruda@hotmail.com .
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Doutora em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP); Mestra em Antropologia
Social pela Universidade de São Paulo (USP); docente do Mestrado Interdisciplinar em Ciências Humanas
da Universidade de Santo Amaro (UNISA). Email: mgggodoy@yahoo.com.br .
3
Doutoranda no Programa de Ciências Sociais da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS);
Mestra em Educação, Administração e Comunicação pela Universidade São Marcos (UNIMARCOS-SP);
Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima (IFRR). E-mail:
raimundarodrigues@ifrr.edu.br.
foundational expression of life and mankind. The mythical narratives of the chants, conceived as
ayvu porã (“the beautiful words”), are seen as an intrinsic part of the “beautiful knowledge”
(arandu porã) and lead to this discussion, which focuses on debating the signification of those
divine mythical identities registered in the words of the chants.
Introdução
4
O ensino musical sempre foi intenso durante a permanência dos jesuítas no Brasil, desempenhando forte
papel no ministério com os indígenas. Da insistência nessa arte surgiriam índios capazes de reproduzir todas
as manifestações musicais básicas do culto cristão: os nheengaribas, ou “músicos da terra”, como seriam
conhecidos entre os portugueses. Nas missões do Sul, no século XVIII, eles alcançaram um estágio
extraordinário de desenvolvimento, construindo seus próprios instrumentos e executando música europeia
de relativa complexidade técnica (CASTAGNA, 1997).
5
Disponível em http://cpisp.org.br/indios/html/saiba-mais/24/o-povo-indigena-guarani.aspx, acessado em
16/10/2015.
6
Esse projeto foi resultado de uma iniciativa do sociólogo Maurício Fonseca e contou com o apoio da
Secretaria Estadual de Cultura, do Conselho Estadual dos Povos Indígenas e do Instituto Teko Arandu
Memória Viva Guarani. A produção dos CDs obteve patrocínio de vários órgãos e entidades (Caritas
brasileira, Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal, Fundo Social de Solidariedade do
Estado de São Paulo, Secretaria do Estado da Educação), conforme consta no encarte do CD Nhande
Arandu Pygua.
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O termo xondaro é traduzido por “soldado” (R. A. DOOLEY, Vocabulário do Guarani, p. 197) e
compreende uma iniciativa cultural ligada à educação tradicional dos jovens, na qual se inserem um
repertório de dança e a execução de músicas de temática ligada a desempenhos e protagonismos de luta,
enfrentamento, ataque.
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A escrita dos mborai aqui utilizada segue as normas empregadas nas escolas indígenas, em grande parte
fundamentadas em R. A. Dooley (Vocabulário do Guarani). Usou-se como base a escrita indígena
registrada nos encartes dos CDs. As dúvidas remanescentes foram resolvidas por uma reflexão conjunta
entre as autoras e o professor de língua Guarani Jordi Ferri.
Tupã Ra’y (Filho de Tupã, Jesus Cristo): “aqui esperamos o filho de Tupã”
Considerações Finais
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CD’s
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Ñande Arandu Pygua – Memória Viva Guarani. Instituto Teko Arandu, 2004.
Tape Mirim – Tekoa Itaty (Aldeia Morro dos Cavalos – Santa Catarina). Grupo Mbya
Guarani Tape Mirim (não datado).