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PRÉ-VESTIBULAR
POR
4
COLEÇÃO PV
Copyright © Editora Poliedro, 2022.
Todos os direitos de edição reservados à Editora Poliedro.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal, Lei 9.610
de 19 de fevereiro de 1998.
ISBN 978-65-5613-198-6
Frente 1
13 Sintaxe do período composto II ............................................................................................................................. 5
Construção das orações subordinadas, 6 Texto complementar, 25
Orações subordinadas substantivas, 7 Resumindo, 25
Orações subordinadas adjetivas, 12 Quer saber mais?, 26
Revisando, 15 Exercícios complementares, 26
Exercícios propostos, 18 BNCC em foco, 34
FRENTE 1
13
O amor é um sentimento universal que se apresenta de diversas formas. Apesar de
sua grandiosidade, o amor – assim como tantos outros sentimentos –, por si só, não é
autossuficiente. Ele depende da existência de um ser, afinal, sem alguém que o sinta, o
amor simplesmente é nulo. Em nossa língua, sabemos que há sentenças complexas que
também evidenciam uma relação de dependência entre as orações que as compõem.
Essas orações são chamadas de subordinadas, ou seja, possuem sentidos incompletos
e, apenas na relação com outra oração, é que são semanticamente compreendidas.
Construção das orações subordinadas
O fragmento a seguir faz parte de uma entrevista realizada pelo cineasta Fernando Meirelles com o ambientalista e
líder indígena Ailton Krenak. Leia-o e observe as construções das sentenças que compõem o texto.
Por meio dessa entrevista, é possível conhecer as opiniões de Ailton Krenak sobre os desafios envolvidos na luta
contra a crise climática. No fragmento apresentado, observamos diferentes formas de construção das sentenças comple-
xas: umas evidenciando relações de dependência (com orações subordinadas) e outras, de independência (com orações
coordenadas). Observe o quadro.
A mudança climática é real, vai acontecer e vai desaparecer com um monte da gente.
Em períodos compostos por subordinação, podemos observar que a sentença complexa é constituída de uma
oração que carrega o sentido fundamental, mas ainda incompleto, chamada de oração matriz (ou oração principal, de
acordo com a gramática tradicional), e de uma oração que é um termo da sentença complexa, completando o sentido
da oração principal, e é classificada como oração subordinada. Esta, quando em sua forma desenvolvida, é introduzida
por um elemento conectivo – no exemplo analisado, a conjunção integrante “que” tem a função de ligação. A oração
principal e a subordinada mantêm entre si uma relação de dependência, já que a oração principal depende da subor-
dinada semanticamente.
As orações subordinadas podem ou não ser ligadas por um elemento conectivo – em geral, conjunção ou pronome. Quando
o conector é utilizado, dizemos que a oração é desenvolvida, do contrário, classificamos a oração subordinada como reduzida.
Estabelecendo relações
Na primeira sentença do quadro, observamos que a oração em destaque tem valor de substantivo, pois desempenha
a mesma função de um substantivo (florescimento) ou de um pronome substantivo (isso). Por esse motivo, orações como
“que a árvore floresça” são denominadas orações subordinadas substantivas.
Nas sentenças simples, são sete as expressões nominais que têm um substantivo como núcleo: sujeito, predicativo,
objeto direto, objeto indireto, complemento nominal, aposto e agente da passiva. Essas funções são consideradas ao
classificar as orações subordinadas substantivas.
Retomando as sentenças analisadas, percebemos que a oração “que a árvore floresça”, que integra o período com-
posto, completa o sentido do verbo “querer” e, por isso, exerce a função de objeto direto. Os termos em destaque nas
duas outras sentenças (período simples) também desempenham essa mesma função.
Atenção
FRENTE 1
As orações que têm função de objeto direto são chamadas de orações subordinadas substantivas objetivas diretas.
7
Elementos que ligam as orações subordinadas substantivas
Na sequência, observe que, entre as orações do primeiro período, foi utilizada a conjunção integrante “que” e, entre
as orações do segundo período, foi empregada a conjunção integrante “se”.
Flávia quer que a árvore floresça. Quero saber se você gostou do evento.
Além de poder ser introduzida por uma conjunção integrante, a oração subordinada substantiva também pode ser
iniciada por pronomes interrogativos (“qual”, “quem”, “quanto”), por advérbios interrogativos (“como”, “onde”, “por que”,
“quando”) ou por advérbio de intensidade (“quão”).
As orações subordinadas substantivas (O.S.S.) podem desempenhar função de sujeito, predicado, objeto direto, objeto
indireto, complemento nominal, aposto e agente da passiva, conforme veremos na sequência.
O.S.S. Subjetiva
Leia o fragmento do artigo de opinião “A criança em cada um de nós”, que fala sobre a criança interior que habita em
todos os seres humanos.
A criança é dotada de valores que normalmente deixamos para trás à medida que crescemos. Ela depende da proteção e
cuidados dos adultos ao seu redor para crescer em segurança e com saúde. É frágil, vulnerável, e essa condição impõe-lhe a
necessidade de confiar que receberá aquilo de que precisa, ter fé em que as coisas darão certo. É claro que nem sempre ela tem
satisfeitas todas as suas necessidades e desejos – a criança começa a se frustrar, o que é natural. Há momentos em que ela se vê
muito fragilizada, ferida e confusa, e então acessa a sua espontaneidade para “dar um jeito” na situação e sobreviver emocional-
mente, tocar sua vida em frente da melhor maneira que consegue. Mas fica marcada, muitas vezes cresce limitada a essa resposta
que espontaneamente criou numa situação de estresse ou ameaça, usando sempre a mesma estratégia em momentos em que se vê
acuada pela vida. E o adulto que surge daí tem dificuldades em enxergar que existem outras formas de resolver os problemas. [...]
SOARES, Juliana. A criança em cada um de nós. Ser em relação. Disponível em: https://seremrelacao.com.br/a-crianca-dentro-de-cada-um-de-nos/.
Acesso em: 10 fev. 2022.
No texto, a autora diz que a criança nem sempre tem suas necessidades e seus desejos atendidos. Observe a seguir
como se organiza estruturalmente o período, retirado do artigo, em que ela afirma essa ideia.
A oração matriz não possui sentido completo, e a ela falta um elemento fundamental: o sujeito da sentença. Assim, a
oração subordinada cumpre esse papel, ou seja, atua como o sujeito da sentença a que pertence.
Se for necessário, é possível transformar uma oração subordinada subjetiva em um sintagma nominal e colocá-lo no
início do período, onde geralmente o sujeito se localiza em sentenças com a ordem direta.
É óbvio o . é óbvio.
[...]
pandemia, mas também quem eram essas pessoas – se eram
MACIEL, Camila. Agência Brasil, 24 jan. 2022. Disponível em: https://
homens, mulheres, brancos ou negros. O resultado mostrou agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2022-01/hortas-comunitarias-resistem-
que, entre grupos menos privilegiados, o risco de morrer de urbanizacao-em-sao-paulo. Acesso em: 4 mar. 2022.
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A reportagem trata de uma ação que ocorre na Contudo, perceba que o adjetivo “convencido”, que
cidade de São Paulo: a criação de hortas urbanas. Nela, compõe o predicativo presente na oração matriz, carece
observamos o relato de uma cidadã – Vilma – que foi con- de complemento. O termo que aparece após esse nome
vencida a ir até a capital paulista depois que sua filha falou preenche essa lacuna de sentido, exercendo a função
sobre a horta comunitária. de complemento nominal. As orações que têm essa fun-
Ao analisar a sentença a seguir, perceberemos que a ção são chamadas orações subordinadas substantivas
oração subordinada completa o sentido do verbo transitivo completivas nominais, já que estão encaixadas na oração
indireto “convencer”, exercendo a função de objeto indireto. matriz e completam o sentido de um nome.
Vale destacar que a oração “para investir no Brasil”
(que aqui não foi analisada) estabelece uma relação de
finalidade, modificando o adjetivo “certa”, presente na ora-
ção subordinada. No próximo capítulo, trataremos, mais
especificamente, sobre esse tipo de oração.
O.S.S. Apositiva
Leia o miniconto a seguir.
Como a oração encaixada assume na sentença a fun-
ção de objeto indireto do verbo presente na oração matriz,
No chute
Posso dizer que estou com problemas em casa.
ela é nomeada como oração subordinada substantiva
Posso dizer que estive muito ocupada ajudando uma ONG
objetiva indireta. e não sobrou tempo pra estudar.
Vale destacar que, assim como ocorre no período sim- Posso dizer que tenho déficit de atenção e não consigo
ples que tem um objeto indireto, a preposição é obrigatória, me concentrar.
uma vez que completa o sentido de um verbo transitivo Posso até dizer que meu irmão menor sumiu com o meu
indireto. Por esse motivo, na sentença complexa analisada, livro e minhas anotações.
encontramos a preposição “de”. Só não posso dizer a verdade: que colei da pessoa errada.
PIRILLO, Marília. 60 contos diminutos.
O.S.S. Completiva Nominal São Paulo: Gaivota, 2012. p. 45.
O título de notícia a seguir destaca uma afirmação dita No texto, os quatro primeiros parágrafos trazem possí-
pelo economista Ricardo Amorim. Veja: veis desculpas para explicar um resultado insatisfatório em
uma avaliação. No entanto, é apenas no final do miniconto
Ricardo Amorim: “Estou convencido de que esta que compreendemos o que, de fato, ocorreu: o narrador
é a hora certa para investir no Brasil” confessa que colou de outra pessoa.
Economista e apresentador do Manhattan Connection foi Veja como se constituem os elementos dessa última
uma das atrações do primeiro dia do Innova Summit sentença:
MOURA, Gabriel. Correio, 4 out. 2019.
Observe abaixo como se organiza uma sentença formulada com base no texto.
A sentença complexa foi construída na voz passiva. Por esse motivo, percebemos a presença de um sujeito pacien-
te (que sofre a ação), de uma locução verbal e de um termo que demarca quem realiza a ação expressa pelo verbo.
Se essa fosse uma sentença simples, classificaríamos como agente da passiva o termo que evidencia o responsável
por executar a ação verbal. No entanto, na sentença analisada, temos mais de uma oração: a primeira é a oração matriz,
na qual vemos encaixada a segunda, que exerce a função de agente da passiva. Por ter o mesmo propósito do agente
da passiva, a ela dá-se o nome de oração subordinada substantiva agente da passiva.
Esse tipo de oração apresenta a seguinte estrutura: preposição “por” ou “de” seguida por pronome indefinido
(“quem”, “quantos”, “qualquer” etc.). É exatamente isso que observamos na sentença analisada: “ já atua
no mercado”.
Saiba mais
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Agora, compare as orações:
As orações subordinadas substantivas reduzidas possuem as mesmas funções que as desenvolvidas, podendo ser:
subjetivas, predicativas, objetivas diretas, objetivas indiretas, completivas nominais, apositivas e agentes da passiva. Em
relação à forma verbal, as orações subordinadas substantivas são quase sempre reduzidas de infinitivo.
Na frase a seguir, podemos observar uma nova oração reduzida, que exerce outra função sintática em relação à ora-
ção matriz. Note que ela é introduzida por um verbo no infinitivo e, portanto, pode ser chamada de reduzida de infinitivo.
verbo no infinitivo
Assim como ocorre nas orações desenvolvidas, quando a oração exerce a função de um termo que exige preposição,
esse vocábulo também aparecerá na oração reduzida.
preposição
verbo no infinitivo
Atenção
Observe que a oração “que não ficam doentes” não tem sentido autônomo, pois está subordinada à oração matriz,
na qual se localiza o substantivo “criança”, a que se refere. Além disso, como essa oração evidencia uma especificação
do termo anterior, ela atua como um adjetivo, por isso é chamada de oração subordinada adjetiva. Sintaticamente, ela
exerce a função de adjunto adnominal.
Essa oração, em geral, é introduzida por um pronome relativo e, em alguns casos, pelos advérbios “como” ou “quando”,
apenas se eles puderem ser substituídos por “pelo qual” ou “em que”, respectivamente.
Se a manchete fosse “Madalena recebe R$ 6 mil de indenização”, o leitor compreenderia o enunciado, mas ficaria
em dúvida sobre quem é Madalena. Ao acrescentar a oração “que foi escravizada”, o autor do texto traz uma explicação
que faz com que o leitor compreenda minimamente quem é Madalena Gordiano: sabemos que ela foi vítima de uma
ação ilegal e repreensível em nossa sociedade.
Quando uma oração acrescenta uma explicação sobre seu termo antecedente, é chamada de oração subordinada
adjetiva explicativa. Em geral, essas orações são dispensáveis para a plena compreensão do enunciado, ou seja, se forem
omitidas, ainda podemos compreender a ideia central. No entanto, apesar de “dispensáveis”, elas cumprem o seu papel
“adjetivo”, trazendo uma informação adicional ou explicação à oração principal.
As orações subordinadas adjetivas explicativas são sempre isoladas por vírgulas, podendo ser encontradas no
FRENTE 1
meio da oração matriz, como na manchete analisada, ou ao final dela. Nesse caso, a vírgula aparece apenas antes da
oração subordinada.
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Orações subordinadas adjetivas restritivas
Observe agora outro título de notícia.
Se a manchete fosse apenas “Pesquisa mostra alimentação”, seria possível, sintaticamente, compreender a oração.
Todavia, poderíamos ficar em dúvida sobre a que tipo de alimentação ela estava se referindo. A informação “que fortalece
corpo e reduz riscos da covid” resolve esse problema, caracterizando, de modo particular, o termo “alimentação” e res-
tringindo seu sentido: não é qualquer alimentação que será mostrada pela pesquisa, mas apenas a que tem o potencial
de fortalecer o corpo e reduzir riscos. Trata-se, portanto, de uma oração subordinada adjetiva restritiva.
Observe que, no título de notícia analisado, temos duas orações subordinadas adjetivas unidas pela conjunção “e”:
Na segunda oração, o pronome relativo “que” não foi inserido por não ser necessária a sua repetição.
Diferente da explicativa, a oração subordinada adjetiva restritiva não é separada da oração matriz por vírgulas, já que,
por ser indispensável ao sentido do enunciado, ela forma, com o termo antecedente, um núcleo informacional. Verificar,
então, o uso ou não da vírgula é importante para compreendermos o que de fato está sendo dito pelo enunciador. Analise a
diferença entre as frases a seguir, considerando o uso ou não desse sinal de pontuação e o sentido que elas expressam.
Assim como as substantivas, as orações subordinadas adjetivas também podem assumir uma estrutura reduzida, ou
seja, sem o uso de pronome relativo e com o verbo na forma nominal (infinitivo, gerúndio, particípio).
No trecho a seguir, retirado do texto que você acabou de ler, a oração subordinada adjetiva explicativa, em destaque,
é desenvolvida.
[...] o Greenpeace Brasil publicou uma história especial, [...] que reúne informações sobre o desmatamento [...]
Note que a oração “que reúne informações sobre o desmatamento” evidencia um entendimento em relação ao que seria
“uma história especial”. Nesse caso, no início da oração subordinada, é possível observar o uso do pronome relativo “que”.
O processo de encaixamento da oração subordinada na oração matriz é importante para que o leitor amplie ainda
mais os sentidos do texto.
O Greenpeace Brasil publicou uma história especial, reunindo informações sobre o desmatamento.
A oração em destaque tem o mesmo propósito da que foi analisada anteriormente: explicar um termo antecedente.
Porém, dessa vez, não foi utilizado um pronome para inserir a oração subordinada e o verbo apresentado está no gerúndio.
Essa oração pode, então, ser considerada uma oração subordinada adjetiva explicativa reduzida de gerúndio.
Tanto as adjetivas explicativas quanto as adjetivas restritivas podem ser construídas de modo reduzido. Veja mais
alguns exemplos e compare as orações reduzidas com a sua forma desenvolvida, entre parênteses.
Revisando
1. EEAR-SP 2019 Marque a alternativa que apresenta correta classificação da oração apresentada.
a) O professor verificou se as alternativas estavam em ordem. (Oração Subordinada Substantiva Predicativa)
b) Lembre-se . (Oração Subordinada Substantiva Completiva Nominal)
c) O sargento indagou . (Oração Subordinada Substantiva Objetiva Indireta)
d) Seu medo era . (Oração Subordinada Substantiva Predicativa)
2. PUC-GO 2021 Leia o texto a seguir com especial atenção às orações sublinhadas e numeradas:
os mostrassem sob luz negativa como a Comissão de Igualdade no Emprego dos EUA anunciou 3que planeja revogar a regra
4
que requer que as empresas recolham dados sobre remuneração.
McGREGOR, Jena. Intel revela disparidades de gênero e raça. Folha de S.Paulo, São Paulo, 16 dez. 2019. Caderno de mercado, p. 3. Adaptado.
15
Assinale a única alternativa que indica a classificação Hoje eu saio na noite vazia,
sintática correta para cada oração em destaque no texto: Numa boemia sem razão de ser
a) – Subordinada substantiva subjetiva, – Na rotina dos bares, que apesar dos pesares
subordinada substantiva completiva nominal, – Me trazem você
subordinada substantiva objetiva direta, – su- E por falar em paixão, em razão de viver
bordinada adjetiva restritiva. Você bem que podia me aparecer
b) – Subordinada substantiva subjetiva, – subordi- Nesses mesmos lugares, na noite, nos bares
nada substantiva objetiva indireta, – subordinada Onde anda você?
Toquinho e Vinicius de Moraes
adjetiva restritiva, – subordinada substantiva ob-
jetiva direta. Ao relacionar as frases abaixo com as classificações das
c) – Subordinada substantiva objetiva direta, – orações subordinadas substantivas ao lado de cada fra-
subordinada adjetiva restritiva, – subordinada se, podemos assegurar que a alternativa correta é
substantiva completiva nominal, – subordinada a) convenceu-me de que o deixou morto de tanto
substantiva subjetiva. prazer / SUBJETIVA.
d) – Subordinada substantiva objetiva direta, – b) sempre quis que eu saísse na noite vazia / PRE-
subordinada adjetiva restritiva, – subordinada DICATIVA.
substantiva subjetiva, – subordinada substantiva c) convém que a gente se encontre na noite dos ba-
completiva nominal. res de então... / APOSITIVA.
d) necessito de que saia na noite vazia / OBJETIVA
3. IFBA 2019 INDIRETA.
e) eu espero que você esteja nos mesmos lugares,
na noite, nos bares / COMPLETIVA NOMINAL.
5. Uenp-PR 2020
e) Trata-se de oração subordinada adverbial conse- As orações em destaque no texto exercem a mesma
cutiva. função sintática, sendo classificadas como orações
subordinadas
6. UEG-GO 2019 a) adverbiais causais.
b) adjetivas restritivas.
Multiculturalismo na América Latina c) adjetivas explicativas.
A relação entre educação e cultura(s) nos coloca d) completivas nominais.
diante das questões apresentadas hoje pelo multicultu- e) adverbiais consecutivas.
ralismo no âmbito planetário e diante de cada uma das
realidades nacionais e locais em que vivemos.
8. UFS-SE 2020 Em entrevista ao Tierramérica, o escritor
Na América Latina e, particularmente, no Brasil, a
português José Saramago afirmou: “As tragédias ecológi-
questão multicultural apresenta uma configuração pró-
cas são importantíssimas, mas as humanas talvez sejam
pria. Nosso continente é um continente construído com
mais. Uma árvore pode, mais ou menos, ressuscitar, uma
uma base multicultural muito forte, onde as relações in-
floresta, um bosque, se cuidarmos deles. Mas os mortos
terétnicas têm sido uma constante, uma história dolorosa
não ressuscitam, não há maneira de devolvê-los à vida.
e trágica principalmente no que diz respeito aos grupos
Se é verdade que devemos nos preocupar com a catás-
indígenas e afrodescendentes.
trofe ecológica, não é menos certo que se deve pensar,
A nossa formação histórica está marcada pela elimi-
sobretudo, na catástrofe que será a morte de uma quanti-
nação física do “outro” ou por sua escravização, que tam-
dade de seres humanos, que nem podemos imaginar. [...]
bém é uma forma violenta de negação de sua alteridade. Os
O meio ambiente é muito importante, mas vamos nos
processos de negação do “outro” também se dão no plano preocupar com algo mais. Tenho um jardim e cuido mui-
das representações e no imaginário social. Neste sentido, to de minhas árvores. Entretanto estou mais preocupado
o debate multicultural na América Latina nos coloca dian- com as pessoas que vivem dentro de minha casa”.
te da nossa própria formação histórica, da pergunta sobre Disponível em: www.tierramerica.net.
como nos construímos socioculturalmente, o que negamos
e silenciamos, o que afirmamos, valorizamos e integramos As sequências indicadas têm a função sintática de
na cultura hegemônica. A problemática multicultural nos a) objeto direto / oração subordinada adjetiva explica-
mostra os sujeitos históricos que foram massacrados, que tiva.
souberam resistir e continuam hoje afirmando suas identida- b) objeto indireto / oração subordinada adjetiva res-
des e lutando por seus direitos de cidadania plena na nossa tritiva.
sociedade, enfrentando relações de poder assimétricas, de c) adjunto adverbial / oração subordinada comple-
subordinação e exclusão. tiva nominal.
FRENTE 1
CANDAU, Vera Maria. Multiculturalismo e educação: desafios para a prática d) objeto direto / oração subordinada substantiva
pedagógica. In: MOREIRA, Antonio Flávio; CANDAU, Vera Maria (Org.).
Multiculturalismo: diferenças culturais e práticas pedagógicas. 10. ed. objetiva direta.
Petrópolis: Vozes, 2013. p. 17. (Adaptado) e) objeto direto / oração subordinada adjetiva restritiva.
17
Exercícios propostos
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5. IFCE 2014 Leia o período que segue. 8. Uece 2018
Não é conveniente que você estude no exterior. Envelhecer
Arnaldo Antunes
Temos, nesse exemplo, um período composto por su-
A coisa mais moderna que existe nessa vida é
bordinação, com uma oração subordinada substantiva
[envelhecer
subjetiva destacada. Outra oração subjetiva, porém
A barba vai descendo e os cabelos vão caindo pra
reduzida de infinitivo, está na opção [cabeça aparecer
a) Não quero você estudando no exterior. 5 Os filhos vão crescendo e o tempo vai dizendo que
b) Não quero ver você estudar no exterior. [agora é pra valer
c) Não é bom você estudar no exterior. Os outros vão morrendo e a gente aprendendo a
d) Você ter estudado no exterior foi a melhor coisa [esquecer
que já aconteceu. Não quero morrer pois quero ver
e) O sucesso da sua carreira depende de você es- 10 Como será que deve ser envelhecer
tudar no exterior. Eu quero é viver pra ver qual é
E dizer venha pra o que vai acontecer
6. Ifal 2012
Em 20 de novembro de 1959, foi proclamada a Decla- Eu quero que o tapete voe
ração Universal dos Direitos da Criança, com a intenção No meio da sala de estar
de garantir à criança uma infância feliz. 15 Eu quero que a panela de pressão pressione
O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069, E que a pia comece a pingar
art. 4o, esclarece que os direitos infantis precisam ser Eu quero que a sirene soe
recordados todos os dias como o direito à vida, saúde, E me faça levantar do sofá
alimentação, educação, esporte, lazer, profissionalização, Eu quero pôr Rita Pavone
cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência fa- 20 No ringtone do meu celular
miliar e comunitária. Eu quero estar no meio do ciclone
Disponível em: www.oecumene.radiovaticana.org em Pra poder aproveitar
12/10/2010. E quando eu esquecer meu próprio nome
A respeito do conectivo que, em: “... esclarece que os Que me chamem de velho gagá
direitos infantis precisam ser recordados...”, podemos
25 Pois ser eternamente adolescente nada é mais démodé
dizer que o termo em evidência é classificado como:
Com uns ralos fios de cabelo sobre a testa que não
a) pronome relativo e introduz uma oração subordi-
[para de crescer
nada adjetiva.
Não sei por que essa gente vira a cara pro presente e
b) pronome relativo e introduz uma oração subordi-
[esquece de aprender
nada substantiva.
30 Que felizmente ou infelizmente sempre o tempo vai
c) conjunção integrante e encabeça uma oração
[correr
subordinada adverbial. Disponível em: www.vagalume.com.br/arnaldoantunes/envelhecer.html.
d) conjunção integrante e encabeça uma oração Acesso: 22/9/17
subordinada substantiva.
No enunciado “Eu quero que o tapete voe” (linha 13),
e) conjunção explicativa e encabeça uma oração
tem-se
coordenada.
a) uma estrutura sintática e semântica semelhante à
7. IME-SP Considere a seguinte afirmação de Heráclito do enunciado “Eu quero estar no meio do ciclo-
de Éfeso (2500 a. C.) para responder a esta questão: ne” (linha ), o qual apresenta, na ordem, uma
oração principal, outra subordinada substantiva
Uma pessoa não entra no mesmo rio duas vezes,
reduzida, expressando a ideia de que, mesmo na
porque ambos estão em constante mudança e trans-
velhice, é possível ainda querer realizar e aprovei-
formação.
tar certas atividades.
I. A afirmação constitui-se de um período composto b) uma estrutura sintática formada por uma primeira
por coordenação. oração, chamada de principal, e por uma outra,
II. A afirmação constitui-se de um período composto denominada de oração subordinada substanti-
por subordinação. va, que serve como sujeito da primeira, para ser
III. A oração iniciada pela conjunção “porque” intro-
transmitida a ideia sobre quem o enunciador está
duz uma explicação.
falando.
Assinale a alternativa correta. c) uma estrutura sintática formada por uma oração
a) Somente o item III está correto. principal e por uma outra oração subordinada
b) Somente o item II está correto. substantiva, a qual funciona como complemento
c) Somente os itens I e III estão corretos. direto da primeira oração, para o enunciador en-
d) Somente os itens II e III estão corretos. fatizar o objeto do seu querer e, assim, mostrar
e) Todos os itens estão corretos. sua vivacidade.
21
11. Uerr 2019 (Adapt.) Faça a leitura analítica do último parágrafo do texto. Em
seguida, assinale a opção correta para a classificação
Brasil e FAO elaboram projeto de cooperação sintática dos termos ou orações indicadas nos itens.
internacional de combate à fome e desnutrição a) O sujeito de “Afeta % da população regional” é
Publicado em 30/08/2018. Atualizado em 05/09/2018. classificado como determinado simples por estar
explícito na oração que antecede.
O ministro do Desenvolvimento Social, Alberto Beltrame, b) Identificamos, no último período do parágrafo,
anunciou na quarta-feira (29) em Santiago, no Chile, que o três pronomes relativos.
governo brasileiro e a Organização das Nações Unidas para c) Em “O problema central está no nosso sistema ali-
a Alimentação e a Agricultura (FAO) estão trabalhando na mentar”, temos predicativo do sujeito.
criação de um novo projeto de cooperação trilateral Sul-Sul d) Morfologicamente falando, o termo “essencial”
com os países da América do Sul, focado em sistemas ali- é classificado como substantivo; sintaticamente
mentares, combate à obesidade, fome e desnutrição.
falando, o mesmo termo é classificado como pre-
O ministro explicou que o novo projeto deve refletir
dicativo do sujeito.
os compromissos assumidos pelos países no âmbito dos
e) No último período do parágrafo transcrito nessa
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, especialmente
questão, podemos afirmar que identificamos duas
o ODS 1 (erradicação da pobreza) e o ODS 2 (fome zero).
orações subordinadas adjetivas.
“Pretendemos avançar nos novos desafios associa-
dos aos sistemas alimentares, à nutrição, à luta contra a
obesidade, promovendo o intercâmbio de experiências 12. Fatec-SP 2016 É boa a notícia para os fãs da natação,
e fortalecendo o diálogo sobre essas agendas em nível vôlei de praia, futebol, hipismo, ginástica rítmica e tiro
regional”, afirmou Beltrame. com arco que buscam ingressos para os Jogos Olímpicos
“O Brasil tem compartilhado de maneira extraordi- Rio 2016. Entradas para catorze sessões esportivas dessas
nariamente generosa suas políticas públicas e oferecido modalidades, que tinham se esgotado na primeira fase de
considerável apoio financeiro para promover o desenvol- sorteio de ingressos, estão à venda.
<http://tinyurl.com/qapfdjt> Acesso em: 12.09.2015.
vimento social em muitos países da região”, disse Julio
Adaptado.
Berdegué, representante regional da FAO.
“Centenas de milhares de famílias hoje vivem melhor A oração subordinada destacada nesse fragmento é
graças à solidariedade do povo do Brasil. O desafio fu- a) adjetiva restritiva.
turo é converter essa enorme experiência acumulada em b) adjetiva explicativa.
políticas públicas que beneficiem todos os habitantes da c) substantiva subjetiva.
América Latina e do Caribe”, explicou Berdegué. d) substantiva apositiva.
O anúncio do ministro foi feito durante um diálogo e) substantiva predicativa.
sobre cooperação internacional que ocorre no escritório re-
gional da FAO e contou com a participação do embaixador 13. Unitau-SP 2014
do Brasil, Carlos Duarte, da subsecretária de Saúde Pública
do Chile, Paula Daza, e da secretária-executiva do Sistema Apetitoso por mais tempo
de Vida Saudável no Chile, Alejandra Domper Rodríguez. Mesmo os mais apaixonados por chocolate podem
O problema central da desnutrição é o sistema alimentar rejeitá-lo quando, ao abrir a embalagem, encontram o
produto com aspecto esbranquiçado e sem brilho. A boa
Berdegué destacou as deficiências do atual sistema nova é que uma pesquisa feita na Universidade Estadual
alimentar como um dos desafios do novo projeto de Co- de Campinas (Unicamp) conseguiu prolongar a aparência
operação Sul-Sul do Brasil e da FAO. apetitosa desse doce.
“Criamos um sistema alimentar falido: duas em cada Desenvolvido durante o doutorado da engenheira quí-
três pessoas no mundo sofrem de alguma forma de desnutri- mica Élida Bonomi, o estudo buscou retardar o fat bloom
ção. É um problema que afeta nações ricas e pobres”, disse. (afloramento de gordura, numa tradução livre), fenômeno
De acordo com o representante da FAO, que acontece durante a estocagem do chocolate e que
14 dos 33 países da região têm mais de 10% de sua po- nada tem a ver com contaminação por fungos ou prazo
pulação com fome, enquanto 12 têm uma carga tripla de de validade vencido. “Isso ocorre quando, por causa do
desnutrição: fome, anemia ou obesidade. calor, a gordura usada na composição do chocolate ganha
“Nenhum país escapa à epidemia de obesidade. Afeta mobilidade e migra para a superfície. Lá, ela encontra uma
23% da população regional. Quatro em cada dez pessoas são temperatura mais baixa e cristaliza, conferindo tonalidade
obesas. O problema central está no nosso sistema alimentar. esbranquiçada ao produto”, explica a pesquisadora. Para
Nunca houve tanta comida e nunca houve tal desnutrição. retardar o efeito, Bonomi obteve a estearina da gordura
Algo está fundamentalmente errado. Temos de agir agora”, de leite, fração de gordura que tem alto ponto de fusão
alertou Berdegué, que ressaltou que a Cooperação Sul-Sul e necessita, portanto, de altas temperaturas para derreter.
será essencial para alcançar sistemas alimentares saudáveis A seguir, a engenheira produziu um chocolate contendo
que possam acabar com a fome, a desnutrição e a obesidade. estearina no lugar da gordura de leite e submeteu-o,
https://nacoesunidas.org/brasil-e-fao-elaboram-projeto-de-cooperacao- diariamente, num período de cinco meses, a ciclos de tem-
internacional-de-combate-a-fome-e-desnutricao/ peratura que variavam entre 20 e 32 graus. “Percebemos
construiu (de modo muito visual) seu castelo usando as que o salário mínimo deve atender às necessidades básicas
ferramentas que ele havia forjado pouco antes: a teoria da do trabalhador e de sua família e que o valor pago é o mes-
relatividade geral, finalizada em 1915, esquema teórico mo para todo o país. Também usa como base o Decreto-Lei
23
n.º 399, de 1938, que estabelece que o valor dedicado meias palavras em um discurso politicamente correto.
para a alimentação de um trabalhador adulto não pode ser Inclua, com ar de respeito, a posição contrária. Cozinhe
inferior ao custo de uma Cesta Básica de Alimentos. em banho-maria. Deixe descansar, para sempre, se puder.
Em maio de 2019, o Salário Mínimo Nacional foi Se necessário, volte ao fogo brando. Não mexa mais. Sirva
de R$ 998,00, porém o Salário Mínimo Necessário para morno. Viu? Simples de fazer. Difícil é digerir.
sustentar uma família composta por dois adultos e duas É porque, na prática, a legião de ocres causa a maior
crianças foi calculado pelo DIEESE em R$ 4.259,90, uma complicação. Quem vive do meio de campo, sem decidir
diferença de mais de 3.200 reais. sua cor publicamente, não tem o inconveniente de arcar
Adaptado de: www.dieese.org.br/analisecestabasica/salarioMinimo.html. com as escolhas. Quase nunca se tornará um desafeto.
Acesso em: 02/07/2019. Fará pouco e, muitas vezes, será visto como um sujeito
Nas primeiras linhas do texto, há a informação “pro- comedido. Quem não escolhe tem mais liberdade para
mudar de ideia. Não fica preso ao dito anteriormente. Exa-
mulgada em 5 de outubro de 1988”, que está em uma
tamente porque não disse nada. Não se comprometeu com
oração subordinada adjetiva explicativa reduzida de
nada. Apenas proferiu ideias genéricas e inconclusivas
particípio. A respeito da utilização dessa oração, assi-
estando liberado para transitar por todos os lados, segundo
nale o que for correto. sua necessidade. Ao estar em tudo não estando em nada,
O elemento precedente ao qual essa oração seja para evitar responsabilidades, não se expor à crítica
acrescenta informações é Constituição Federal. ou fugir de polêmicas, o em cima do muro se esconde,
As vírgulas utilizadas para marcar o início e o fim sobrecarrega e expõe aqueles que bancam opiniões.
dessa oração poderiam ser substituídas por pon- Portanto, conviver com quem não toma posição,
tos finais sem prejuízo do entendimento. de forma crônica, atrasa a vida. Ao se esquivar de es-
O elemento precedente ao qual essa oração colher, o indivíduo condena o outro a fazê-lo em seu
acrescenta informações é Salário Mínimo. lugar. Reconheço que, às vezes, a gente leva tempo
As vírgulas utilizadas para marcar o início e o para se decidir por algo. Todos temos medos que nos
fim dessa oração poderiam ser substituídas por impedem de agir. Mas ouso dizer: nunca tomar partido
parênteses sem prejuízo do entendimento. nas situações é covardia. Parece, inclusive, que o viver
em cima do muro é mais confortável que a situação
Soma: do mau-caráter. É que o sacana, ao menos, se define.
Embora atue na surdina, sua ação reflete um posiciona-
16. Unicentro-PR 2019 mento. Já o indefinido, não. Ele vive na toada do alheio.
E, curiosamente, também avacalha o próprio percurso
Viver em cima do muro é prejudicial à saúde por delegar ao outro a sua existência.
Élida Ramirez Recorro outra vez a Bauman para esclarecer: “Escapar
Ocre. Sempre me incomodou essa cor. Sabe aquele da incerteza é um ingrediente fundamental presumido,
marrom amarelado? O tal burro fugido? Exato isso! Quando de todas e quaisquer imagens compósitas da felicidade
vejo alguém com roupa ocre, tenho maior aflição. Certa genuína, adequada e total, sempre parece residir em al-
feita, entrei em um consultório médico to-di-nho ocre. gum lugar à frente”. Por isso, atenção! Viver em cima do
Paredes, chão, quadros. Tive uma gastura horrorosa. A muro é prejudicial à sua própria saúde. Facilita a queda e
sensação é que o ocre existe no dilema de não ser ama- impede novos caminhos. Um deles, o da alegria de poder
relo nem marrom. Invejando o viço das outras colorações ser. Talvez seja isso a que Bauman se refere quando trata
definidas e nada fazendo para mudar sua tonalidade. Isso da fuga da incerteza para alcançar a felicidade genuína.
explica meu desconforto. O ocre, para mim, ultrapassa o E, pensando bem, desconheço imagem de alegria predo-
sentido de cor. Ele dá o tom da existência do viver em cima minantemente ocre.
do muro. E conviver com gente assim é um transtorno. Texto adaptado e disponível em: www.revistabula.com/16514-viver-em-cima-
É fato que a tal “modernidade líquida”, definida por do-muro-e-prejudicial-a-saude/. Acesso em: 14 de ago. 2018.
Bauman, favorece o comportamento. Pensemos. Segundo Assinale a alternativa correta sobre o reconhecimento
o sociólogo, a globalização trouxe o encurtamento das
de orações em períodos do texto.
distâncias, borrando fronteiras. E, ao reconfigurar esses
a) Em “Parece, inclusive, que o viver em cima do
limites geográficos, mudou a concepção de si do sujeito
muro é mais confortável...”, a segunda oração é
bem como sua relação com as instituições. Muito rapida-
subordinada substantiva objetiva direta.
mente houve um esfacelamento de estruturas rígidas como
b) Em “Embora atue na surdina, sua ação reflete um
a família e o estado. Essa mudança do sólido para líquido
detonou o processo de individualização generalizado no posicionamento”, a primeira oração é subordina-
mundo ocidental reforçando o conceito de que “Nada é da adverbial consecutiva.
para durar” (Bauman). Então, desse jeito dá para ser mu- c) No período “Facilita a queda e impede novos cami-
tante pleno nesse viver em cima do muro. Nem amarelo nhos”, as orações são coordenadas assindéticas.
ou marrom. Ocre. Por isso, discursos ocos de pessoas com d) O período “Reconheço que, às vezes, a gen-
personalidades fluidas ganham espaço. E vão tomando a te leva tempo para se decidir por algo” tem, na
forma do ambiente, assim como a água. Uma fusão quase segunda oração, uma subordinada substantiva
nebulosa que embaça o comprometimento. completiva nominal.
Nota-se ainda certo padrão do viver em cima do e) Em “Todos temos medos que nos impedem de agir”,
muro. Como uma receitinha básica. Vejam só: Misture a segunda oração é subordinada adjetiva restritiva.
Resumindo
y O período composto por subordinação é constituído por - completivas nominais: quando exercem a função de com-
uma sentença complexa, que apresenta uma oração ma- plemento nominal de um termo da oração matriz;
triz e uma oração subordinada. Essa última é encaixada na - apositivas: quando exercem a função de aposto de um
primeira e exerce uma função sintática específica. termo da oração matriz;
y As orações subordinadas são chamadas de desenvolvidas, - agentes da passiva: quando exercem a função de agente
quando são introduzidas por um conectivo + verbo conjugado, da passiva da oração matriz.
e de reduzidas, quando o verbo está em sua forma nominal y As orações subordinadas adjetivas atuam como um adjetivo
(infinitivo, gerúndio ou particípio) e não têm um conectivo. e desempenham função sintática de adjunto adnominal de
y As orações subordinadas substantivas atuam como um subs- um elemento presente na oração matriz.
tantivo e desempenham diferentes funções sintáticas, de y As orações subordinadas adjetivas desenvolvidas podem
acordo com a relação que estabelecem com a oração matriz. ser introduzidas na oração matriz por meio de um pronome
y O pronome “isso” substitui uma oração substantiva. Exem- relativo.
plo: É preciso ./É preciso isso; Ele queria
y As orações subordinadas adjetivas podem ser:
./Ele queria isso.
- explicativas: quando explicitam um elemento presente
y As orações subordinadas substantivas desenvolvidas
na oração matriz;
podem ser introduzidas na oração matriz por meio de
- restritivas: quando restringem ou particularizam um termo
uma conjunção integrante (“que” ou “se”), por pronomes
da oração matriz.
interrogativos (“qual”, “quem”, “quanto”), por advérbio de in-
tensidade (“quão”) ou por advérbios interrogativos (“como”, y A oração subordinada adjetiva restritiva não é separada da
“onde”, “por que”, “quando”). oração matriz por vírgulas, diferentemente do que ocorre
com a oração subordinada adjetiva explicativa, na qual a
y As orações subordinadas substantivas podem ser: vírgula é obrigatória. Portanto, é preciso estar atento à mu-
- subjetivas: quando exercem a função de sujeito da ora- dança de sentidos nessas orações: a explicativa refere-se a
ção matriz; uma totalidade, é generalizante; já a restritiva faz menção a
- predicativas: quando exercem a função de predicativo uma parte do todo, particularizando uma informação.
do sujeito da oração matriz;
y As orações subordinadas adjetivas podem ser reduzidas de
- objetivas diretas: quando exercem a função de objeto infinitivo, gerúndio e particípio, já as subordinadas substan-
direto da oração matriz;
FRENTE 1
25
Quer saber mais?
Artigo Músicas
POSSENTI, Sírio. O desafio da gramática. Revista Educação. RUSSO, Renato. Pais e filhos.
225a ed. jan. 206. A canção evidencia a visão do eu lírico sobre a relação
No texto, o autor defende que é fundamental o desen- entre pais e filhos, apontando para a necessidade de
volvimento da leitura e da escrita e que as discussões compreensão entre eles, em especial dos filhos em re-
gramaticais deveriam ser feitas em momentos pontuais lação a seus pais. Nos versos da canção, há sentenças
do ensino, tendo como base referenciais teóricos rele- que envolvem tanto orações coordenadas quanto su-
vantes. Para validar seu argumento, ele traz uma análise bordinadas.
de como é frágil o ensino das orações subordinadas Disponível em: www.letras.mus.br/renato-russo/75858/
nas escolas.
VICTOR & LEO. Borboletas.
Disponível em: https://revistaeducacao.com.br/206/0/
2/o-desafio-da-gramatica/ Descrevendo situações de desventuras amorosas em
que o amor parece cair na rotina e ocorre a separação,
o eu lírico apresenta-se dividido entre dois amores, mas
Livro
com uma visão otimista, acreditando que sua amada irá
ANDRADE, Oswald de. Pau-Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca
voltar como uma borboleta volta ao jardim. A canção
Azul, 202.
apresenta diversas sentenças complexas construídas
Na obra, há uma seção sobre a colonização brasileira que com orações subordinadas substantivas.
é constituída de quinze poemetos, sendo o maior de sete Disponível em: www.cifraclub.com.br/victor-leo/
versos e os menores de quatro versos. Os poemas refletem borboletas/simplificada.html
sobre a colonização de exploração no Brasil, evidenciando
a relação de subordinação entre a metrópole e a colônia.
Exercícios complementares
mundo fique dentro dos limites, os termos em — Não acredito — gritei — e sentei no meio-fio, a
negrito revelam-se como uma oração subordinada ponto de começar a chorar. A chuva começou a cair mais
substantiva subjetiva. forte ainda.
27
Foi quando apareceram sete pessoas vestidas de ver- Um bom filme não é exatamente aquele que, quando
60 melho. Uma delas aproximou-se de mim e perguntou se termina, ficamos insatisfeitos, parados, olhando, quietos,
eu precisava de ajuda. para a tela, enquanto passam os letreiros, desejando que
— Somos os Anjos da Guarda — disse-me ele. E, de não cesse? Um bom livro não é aquele que, quando en-
fato, no peito de cada um deles havia a inscrição “Anjos cerramos a leitura, o deixamos um pouco apoiado no colo,
da Guarda”. absortos e distantes, pensando que não poderia terminar?
65 Esses anjos providenciais foram comigo até um posto Uma boa festa, um bom jogo, um bom passeio, uma boa
de gasolina que havia a quatro esquinas dali, enchemos cerimônia não é aquela que queremos que se prolongue?
o estepe e voltamos sorrindo debaixo do aguaceiro. Eles Com a vida de cada um e de cada uma também tem
puseram o pneu no lugar, guardaram o furado e as ferra- de ser assim; afinal de contas, não nascemos prontos e
mentas na mala do carro. acabados. Ainda bem, pois estar satisfeito consigo mesmo
70 — Tudo pronto, amigo. é considerar-se terminado e constrangido ao possível da
Apertei-lhes a mão, mas a minha vontade era beijá-los, condição do momento.
um a um. Quando crianças (só as crianças?), muitas vezes, diante
— Estamos sempre nas ruas para combater o crime da tensão provocada por algum desafio que exigia esforço
e prestar socorro a quem necessite — disse o que falava (estudar, treinar, EMAGRECER etc.) ficávamos preocupa-
75 português, porque os demais falavam espanhol e japonês. dos e irritados, sonhando e pensando: por que a gente já
— Foi muita sorte — disse Cláudia. não nasce pronto, sabendo todas as coisas? Bela e ingênua
— Mas tenho que tomar cuidado — respondi. — Todo perspectiva. É fundamental não nascermos sabendo e nem
o mundo só tem direito a um anjo da guarda. Eu acabo de prontos; o ser que nasce sabendo não terá novidades, só
dispor de sete. Estourei minha cota! reiterações. Somos seres de insatisfação e precisamos ter
GULLAR, Ferreira. Poesia completa, teatro e prosa. Rio de Janeiro: Nova
nisso alguma dose de ambição; todavia, ambição é diferente
Aguilar, 2008. de ganância, dado que o ambicioso quer mais e melhor,
enquanto que o ganancioso quer só para si próprio.
A oração sublinhada em “É verdade mais uma Nascer sabendo é uma limitação porque obriga a
vez, errei o caminho, e por isso nos metemos numa apenas repetir e, nunca, a criar, inovar, refazer, modificar.
enrascada ainda maior.” (linhas 39-41) é Quanto mais se nasce pronto, mais refém do que já se sabe
a) subordinada substantiva subjetiva. e, portanto, do passado; aprender sempre é o que mais
b) subordinada substantiva objetiva direta. impede que nos tornemos prisioneiros de situações que,
c) subordinada substantiva predicativa. por serem inéditas, não saberíamos enfrentar.
d) subordinada adjetiva explicativa. Diante dessa realidade, é absurdo acreditar na ideia
e) subordinada adjetiva restritiva. de que uma pessoa, quanto mais vive, mais velha fica;
para que alguém quanto mais vivesse mais velho ficasse,
teria de ter nascido pronto e ir se gastando…
4. Unicentro-PR 2018
Isso não ocorre com gente, e sim com fogão, sapato,
O animal satisfeito dorme geladeira. Gente não nasce pronta e vai se gastando; gente
Mário Sérgio Cortella
nasce não pronta, e vai se fazendo. Eu, no ano que esta-
mos, sou a minha mais nova edição (revista e, às vezes,
O sempre surpreendente Guimarães Rosa dizia: “o um pouco ampliada); o mais velho de mim (se é o tempo
animal satisfeito dorme”. Por trás dessa aparente obviedade a medida) está no meu passado e não no presente.
está um dos mais fundos alertas contra o risco de cairmos Demora um pouco para entender tudo isso; aliás, como
na monotonia existencial, na redundância afetiva e na falou o mesmo Guimarães, “não convém fazer escândalo de
indigência intelectual. O que o escritor tão bem percebeu começo; só aos poucos é que o escuro é claro”…
é que a condição humana perde substância e energia vital Excerto do livro Não nascemos prontos! – provocações filosóficas. De Mário
toda vez que se sente plenamente confortável com a ma- Sérgio Cortella. Disponível em: www.contioutra.com/o-animal-satisfeito-
dorme-texto-de-mario-sergio-cortella/.
neira como as coisas já estão, rendendo-se à sedução do
repouso e imobilizando-se na acomodação. Assinale a alternativa que estiver em desacordo com as
A advertência é preciosa: não esquecer que a satis- relações morfossintáticas presentes neste fragmento:
fação conclui, encerra, termina; a satisfação não deixa “Diante dessa realidade, é absurdo acreditar na ideia
margem para a continuidade, para o prosseguimento, para de que uma pessoa, quanto mais vive, mais velha ca;
a persistência, para o desdobramento. A satisfação acal- para que alguém quanto mais vivesse mais velho cas-
ma, limita, amortece. Por isso, quando alguém diz “fiquei
se, teria de ter nascido pronto e ir se gastando…”.
muito satisfeito com você” ou “estou muito satisfeita com
a) Os termos “Diante dessa realidade” exercem a
teu trabalho”, é assustador. O que se quer dizer com isso?
função sintática de adjunto adverbial de tempo.
Que nada mais de mim se deseja? Que o ponto atual é
meu limite e, portanto, minha possibilidade? Que de mim b) Temos um período composto, em que “acreditar
nada mais além se pode esperar? Que está bom como na ideia” funciona como uma oração subordinada
está? Assim seria apavorante; passaria a ideia de que desse substantiva subjetiva.
jeito já basta. Ora, o agradável é quando alguém diz: “teu c) Neste mesmo período, os termos “de que uma
trabalho (ou carinho, ou comida, ou aula, ou texto, ou pessoa, [...] mais velha fica”, completam o termo
música etc.) é bom, fiquei muito insatisfeito e, portanto, “ideia”, constituindo, por isso, uma oração subor-
quero mais, quero continuar, quero conhecer outras coisas. dinada substantiva completiva nominal.
29
aos usuários finais. Apenas os 10% restantes vão para a caixa manifestações, e continua até hoje. Mas esse é um tema para
de entrada dos usuários, sendo que metade é enviada sob outra coluna, ainda por ser escrita. O que me interessa aqui
suspeição e acaba caindo na pasta de “lixo eletrônico”. Essa é que nossos rituais de fim e começo giram cada vez mais
é a afirmação da Abrahosting (Associação Brasileira das Em- em falso, e não apenas porque há muito foram apropriados
presas de Infraestrutura e Hospedagem na Internet). No final, pelo mercado. Há algo maior, menos fácil de perceber, mas
sobram apenas 5% de mensagens genuínas e, ainda assim, nem por isso menos dolorosamente presente. Algo que pres-
parece que o problema do spam (mensagens não solicitadas) sentimos, mas temos dificuldade de nomear. Algo que nos
não tem fim, nem para os usuários, nem para os provedores. assusta, ou pelo menos assusta a muitos. E, por nos assustar,
“Nós, que somos provedores, nunca sentimos os números em vez de nos despertar, anestesia. Talvez para uma época
de spam cair”, diz Vicente Neto, presidente da entidade. de anos que, de tão acelerados, não terminam mais, o mais
A associação deu início na semana passada a uma indicado seja não resoluções de ano-novo nem manuais
campanha educativa para aumentar o engajamento dos sobre ser feliz ou bem-sucedido, mas antiautoajuda.
usuários finais no combate ao spam. Os serviços de e-mail já Quando as pessoas dizem que se sentem mal, que é cada
contam com recursos que permitem ao usuário sinalizá-los vez mais difícil levantar da cama pela manhã, que passam
como spam e bloqueá-los. A atitude pode beneficiar a todos o dia com raiva ou com vontade de chorar, que sofrem com
os usuários ao ajudar os provedores a identificar e bloquear ansiedade e que à noite têm dificuldade para dormir, não me
remetentes de mensagens indesejadas. Em sua campanha, a parece que essas pessoas estão doentes ou expressam qual-
Abrahosting sugere que seus associados orientem os usuá- quer tipo de anomalia. Ao contrário. Neste mundo, sentir-se
rios a fazerem uso das ferramentas de bloqueio e denúncia. mal pode ser um sinal claro de excelente saúde mental. Quem
“O usuário pode ajudar com isso, pois existem sistemas para está feliz e saltitante como um carneiro de desenho animado
bloquear. Se o usuário só apagar o e-mail, ele não consegue é que talvez tenha sérios problemas. É com estes que deveria
ajudar. O sistema funciona com a ajuda do usuário”. soar uma sirene e por estes que os psiquiatras maníacos por
Para Vicente Neto, o agravante do problema são as em- medicação deveriam se mobilizar, disparando não pílulas,
presas de “marketing de performance”, que enviam e-mails mas joelhaços como os do Analista de Bagé, do tipo “acorda
de marketing em massa. “Esses são os maiores spammers”. e se liga”. É preciso se desconectar totalmente da realidade
De acordo com ele, além de transtornos aos usuários, o spam para não ser afetado por esse mundo que ajudamos a criar e
traz custos às empresas de hospedagem, que invariavelmente que nos violenta. Não acho que os felizes e saltitantes sejam
têm uma equipe dedicada só a monitorar esse problema e pa- mais reais do que o Papai Noel e todas as suas renas, mas, se
gam caro por licenças de softwares para bloquear os e-mails existissem, seriam estes os alienados mentais do nosso tempo.
não solicitados. “É um prejuízo muito grande”. [...] Quero aqui defender o mal-estar. Não como se
Adaptado de: CHIBA, M. F. O combate ao spam nas mãos dos usuários. ele fosse um vírus, um alienígena, um algo que não deve-
Folha de Londrina. 15 jun. 2017. Economia e Negócios. p. 4. ria estar ali, e portanto tornar-se-ia imperativo silenciá-lo.
Defendo o mal-estar – o seu, o meu, o nosso – como aquilo
Em relação aos recursos linguístico-semânticos pre-
que desde as cavernas nos mantém vivos e fez do homo
sentes no texto, considere as armativas a seguir.
sapiens uma espécie altamente adaptada – ainda que des-
I. A palavra “hospedagem”, utilizada no texto, man- trutiva e, nos últimos séculos, também autodestrutiva. É o
tém o valor semântico de “abrigar”, “alojar”. mal-estar que nos diz que algo está errado e é preciso se
II. O termo “agravante” e a expressão “em massa” mover. Não como um gesto fácil, um preceito de autoajuda,
são usados com o mesmo sentido. mas como uma troca de posição, o que custa, demora e
III. O advérbio “já” apresenta o sentido de “logo” em: exige os nossos melhores esforços. Exige que, pela manhã,
“Os serviços de e-mail já contam com recursos”. a gente não apenas acorde, mas desperte.
IV. Em “Nós, que somos provedores, nunca sentimos Anos atrás eu escreveria, como escrevi algumas vezes,
os números de spam cair”, as vírgulas separam que o mal-estar desta época, que me parece diferente do
uma oração subordinada adjetiva explicativa. mal-estar de outras épocas históricas, se dá por várias
Assinale a alternativa correta. razões relacionadas à modernidade e a suas criações
concretas e simbólicas. Se dá inclusive por suas ilusões
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. de potência e fantasias de superação de limites. Mas em
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. especial pela nossa redução de pessoas a consumidores,
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. pela subjugação de nossos corpos – e almas – ao mercado
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. e pela danação de viver num tempo acelerado. [...]
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. Trecho de: BRUM, Eliane. Antiautoajuda. Disponível em:
http://brasil.elpais.com/brasil/2014/12/22/opinion/1419251053_272392.html.
Acesso em: 22 dez. 2014.
Texto para as questões 9 e 10.
Não tenho certeza se esse ano vai acabar. Tenho uma
convicção crescente de que os anos não acabam mais. Não 9. UFC-CE 2015 A oração destacada em: O que me in-
há mais aquela zona de transição e a troca de calendário, teressa aqui é uma oração __________ cujo termo
assim como de agendas, é só mais uma convenção que, se introdutório tem como função sintática __________.
é que um dia teve sentido, reencena-se agora apenas como a) subordinada adjetiva restritiva / sujeito.
gesto esvaziado. Menos a celebração de uma vida que se b) subordinada adjetiva explicativa / sujeito.
repactua, individual e coletivamente, mais como farsa. E c) subordinada adjetiva restritiva / objeto direto.
talvez, pelo menos no Brasil, poderíamos já afirmar que d) subordinada adverbial integrante / objeto direto.
2013 começou em junho e não em janeiro, junto com as e) subordinada adjetiva explicativa / objeto direto.
prego” → oração substantiva objetiva direta. 55 o inseto e a nossa esperança. Meu outro filho, que estava
e) “é compensada pelo rápido crescimento nos seto- vendo televisão, ouviu e riu de prazer. Não havia dúvida:
res” → oração subordinada adverbial consecutiva. a esperança pousara em casa, alma e corpo.
31
Mas como é bonito o inseto: mais pousa que vive, é um esqueletinho verde, e tem uma forma tão delicada que isso
explica por que eu, que gosto de pegar nas coisas, nunca tentei pegá-la.
60 Uma vez, aliás, agora é que me lembro, uma esperança bem menor que esta pousara no meu braço. Não senti nada, de
tão leve que era, foi só visualmente que tomei consciência de sua presença. Encabulei com a delicadeza. Eu não mexia o braço
e pensei: “e essa agora? que devo fazer?” Em verdade nada fiz. Fiquei extremamente quieta como se uma flor tivesse nascido
em mim. Depois não me lembro mais o que aconteceu. E, acho que não aconteceu nada.
Com base no fragmento abaixo, leia as armações a seguir e assinale a alternativa correta.
O menino, morta a aranha, fez um trocadilho, com o inseto e a nossa esperança. Meu outro filho, que estava vendo
televisão, ouviu e riu de prazer. Não havia dúvida: a esperança pousara em casa, alma e corpo.
I. Na oração “morta a aranha”, aranha é o objeto direto.
II. Na oração sublinhada, “um trocadilho” consiste no objeto direto.
III. O trecho “que estava vendo televisão” é uma oração subordinada adjetiva explicativa.
IV. O termo “em casa”, sublinhado, constitui-se no adjunto adverbial.
Está(ão) correta(s):
a) Apenas I, III e IV. d) Apenas a III.
b) Apenas II, III e IV. e) I, II, III e IV.
c) Apenas II e III.
y Em textos dissertativo-argumentativos, não é raro encontrar avaliações do enunciador expressas pela seguinte
estrutura sintática: oração principal + oração subordinada substantiva subjetiva. Retire do o parágrafo do texto um
exemplo que fundamente essa afirmativa.
14. FGV-SP
Não tirei bilhete para a vida,
Errei a porta do sentimento,
Não houve vontade ou ocasião que eu não perdesse.
Hoje não me resta, em vésperas de viagem,
Com a mala aberta esperando a arrumação adiada,
Sentado na cadeira em companhia com as camisas que não cabem,
Hoje não me resta (à parte o incômodo de estar assim sentado)
Senão saber isto:
Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Grande é a vida, e não vale a pena haver vida.
PESSOA, Fernando. Poesias de Álvaro de Campos. In:_____.Obra Poética. Rio de Janeiro: Aguilar. p. 382.
a) Na sequência de orações coordenadas sindéticas e assindéticas que predominam em todo o poema, destacam-
-se, como exceções, duas orações adjetivas restritivas de relevância semântica no contexto. Destaque as duas
orações e relacione-as com a significação construída no poema.
b) Nos últimos quatro versos, há um jogo de sentidos construído entre orações substantivas que pode ser entendido
como redução x ampliação. Identifique e classifique tais orações e explique os referidos sentidos que elas produzem.
O único animal
O homem é o único animal que ri dos outros. O homem é o único animal que passa por outro e [que] finge que não vê.
É o único que fala mais que o papagaio. É o único que gosta de escargots (fora, claro, o escargot). É o único que acha
que Deus é parecido com ele. E é o único...
... que se veste
... que veste os outros
... que despe os outros
... que faz o que gosta escondido
... que muda de cor quando se envergonha
... que se senta e [que] cruza as pernas
... que sabe que vai morrer
... que pensa que é eterno
... que não tem uma linguagem comum a toda espécie
... que se tosa voluntariamente
... que lucra com os ovos dos outros
... que pensa que é anfíbio e que morre afogado
... que tem bicho
... que joga no bicho
... que aposta nos outros
... que compra antenas
... que se compara com os outros. [...]
VERISSIMO, Luis Fernando. O marido do doutor Pompeu. 2. ed. Porto Alegre: L&PM, 1987. p. 7-8.
Para criar uma longa enumeração das características “únicas” do ser humano, o autor faz uso de uma estrutura sintá-
tica marcada pela repetição de:
a) orações subordinadas substantivas completivas nominais.
b) orações subordinadas adverbiais comparativas.
c) orações subordinadas adjetivas explicativas.
d) orações subordinadas substantivas subjetivas.
e) orações subordinadas adjetivas restritivas.
33
BNCC em foco
EM13LP37
1.
Para concluir a aprovação do projeto, os parlamentares precisam analisar os destaques, propostas que visam modificar
o conteúdo. A previsão é que os destaques sejam votados na sessão desta quinta (13), marcada para as 10h.
a)
b)
c)
d)
e)
EM13LP02
2.
a)
b)
EM13LP25
3.
Alterar o tipo de manifestação: os órgãos ou entidades que também aderiram aos formulários “Padrão” e “Simplifique”
podem alterar o tipo de manifestação no sistema Fala.BR. Ao receber uma manifestação cadastrada como pedido de acesso
à informação, o gestor terá os primeiros 5 (cinco) dias do prazo para verificar se realmente se trata de um pedido de acesso à
informação. Caso se constate que se trata de uma manifestação de ouvidoria, é possível alterar o tipo de manifestação.
a)
b)
c)
d)
e)
14
O desenho medieval acima é uma das 32 imagens contidas no Liber feudorum Ceritaniae,
livro datado do século XII, onde estão os registros (272 cartas, em 379 páginas, com
32 miniaturas coloridas) dos feudos de dois territórios entre a França e a Espanha, bem
como as obrigações feudais entre os senhores e os vassalos. A imagem mostra a su-
bordinação dos vassalos ao senhor feudal, que lhes provia moradia e terras em troca
de fidelidade, pagamento de impostos e suporte militar para defendê-los em tempos de
guerra. Como estudamos no capítulo anterior, a sintaxe da língua portuguesa permite a
construção de relações de subordinação entre orações. Neste capítulo, veremos o últi-
mo grupo de orações subordinadas, que, por assumirem a função de adjunto adverbial
da oração principal, são classificadas como orações subordinadas adverbiais.
Orações subordinadas adverbiais Saiba mais
Os períodos compostos por subordinação são formados
por duas ou mais orações que têm uma relação de depen-
dência entre si. Conforme a função sintática que assumem
em relação à oração matriz, as orações subordinadas podem
atuar sintaticamente como substantivos e adjetivos, como foi
discutido no capítulo anterior. Além disso, as orações subor-
dinadas podem funcionar como advérbios.
Atenção
se
estudioso
Reprodução
b) Não capture, não compre e não mantenha em cativei-
ro, de modo que eles não são animais de estimação e
devem permanecer na natureza.
Nesse período, a mesma oração do item anterior agora
é iniciada pela locução conjuntiva “de modo que”, a qual
expõe uma consequência, um efeito ou resultado para o
período composto pelas orações com os verbos “captu-
rar”, “comprar” e “manter”. As consequências de capturar,
comprar e manter em cativeiro os animais silvestres são a
domesticação e a privacação de viver na natureza, hábitat
natural desses bichos. Assim sendo, a oração iniciada por
“de modo que” é subordinada adverbial consecutiva.
Oração subordinada
Conjunções Exemplos
consecutiva
37
Para que o objetivo comunicativo do anúncio seja mais Em relação às três construções anteriores, é possível
adequado ao que se pretende, é possível estabelecer relações dizer que todas elas se adequariam ao texto publicitário,
de subordinação entre as orações do período destacado . pois estabelecem relações de concessão, conformidade e
Vejamos: igualdade entre as ações de “bater em mulher” e “machucar
a) Ainda que bata na mulher, machuca a família inteira. a família”. Contudo, os itens b e c seriam mais efetivos, pois
O período composto acima é formado pela locução con- mostram mais claramente os danos da agressão doméstica
juntiva “ainda que”, a qual exprime um fato que se admite à família.”
como verdadeiro (embora seja abominável) em relação à ação
da oração matriz, cujo verbo é “machuca”. Por isso, a primeira Orações subordinadas adverbiais: finais,
oração é chamada subordinada adverbial concessiva. É temporais, proporcionais
comum a relação de “concessão” ser confundida com a de
“oposição”; portanto, é importante lembrar de que, nesta últi- Leia a peça publicitária governamental a seguir.
ma, as orações apresentam elementos constitutivos que são
Oração
subordinada Conjunções Exemplos
concessiva
b) Conforme bate na mulher, machuca a família inteira. O cartaz acima faz parte de uma campanha promovida
O mesmo período do item anterior, agora é iniciado pelo Ministério da Saúde, a fim de conscientizar a popula-
pela conjunção “conforme”, a qual exprime acordo ou ção brasileira sobre a importância da doação de órgãos.
conformidade com a oração matriz formada pelo verbo Na sequência, vamos analisar o enunciado com maior des-
“machuca”. Pensando na mensagem do anúncio, a cada taque na imagem.
vez que uma mulher é agredida pelo seu companheiro,
toda a família também o é, ou seja, um ação se produz,
quando outra acontece. Assim sendo, o segundo período
contém uma oração subordinada adverbial conformativa.
Com o objetivo de tornar a mensagem do cartaz mais
Oração efetiva quanto ao que se pretende, poderíamos conectar
subordinada Conjunções Exemplos os dois períodos, estabelecendo relações de subordinação
conformativa entre as orações por meio de pequenos ajustes. Observe:
a) A fim de que milhares de brasileiros recebam um trans-
plante, aja com amor e solidariedade e seja doador de
órgões.
A oração iniciada pela locução conjuntiva “a fim de
que” expressa uma finalidade, um objetivo para a oração
matriz, isto é, ao aderir o apelo da publicidade e se tornar
um doador de órgãos, objetiva-se que milhares de brasilei-
ros possam receber um órgão. Por isso, a primeira oração
c) Tal como bate na mulher, machuca a família inteira.
pode ser classificada como subordinada adverbial final.
A locução conjuntiva “tal como” estabelece ideia de
comparação em relação à oração matriz. Considerando o Oração
contexto do cartaz, esse período composto por subordina- subordinada Conjunções Exemplos
ção cumpriria adequadamente a finalidade do texto, pois final
equivaleria a ação de “bater em mulher” à de “machucar a
família”. Desse modo, a primeira oração pode ser classifi-
cada como subordinada adverbial comparativa.
Oração
subordinada Conjunções Exemplos
comparativa
b) Enquanto milhares de brasileiros esperam por um
transplante, ser doador de órgãos é um ato de amor
e solidariedade.
Agora, a primeira oração foi introduzida pela conjunção
“enquanto”, que estabelece uma relação de simultaneidade
em relação à oração matriz.
38 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 14 Sintaxe do período composto III
Trocando-se as conjunções, percebemos uma altera- a) Por precisar ficar muito tempo dentro de
ção do sentido em relação ao item anterior, pois ser doador casa, é normal que as pessoas estejam ficando
de órgãos possibilita que milhares de pessoas, que estão mais tensas
aguardando neste momento para receber um órgão, con- CESCHIM, Beatriz. Busca Voluntária, 5 fev. .
tinuem a sua espera. Assim sendo, a primeira oração é
subordinada adverbial temporal. Oração subordinada
Oração matriz
adverbial causal
Oração subordinada
Conjunções Exemplos
temporal
Oração subordinada
Oração matriz
adverbial temporal
(ex.: estudando, correndo) ou particípio (ex.: estudado, corri- acontecer. Contudo, vemos que a oração desenvolvida
do). Vejamos alguns exemplos comparando o sentido da forma não expressaria igualmente a proximidade temporal entre
reduzida e da desenvolvida nos períodos compostos a seguir. o acontecimento anunciado e a sua efetiva realização.
39
Revisando
Leia o conto de Mário Quintana para responder à questão 1. embora a forma da mudança difira inteiramente — creio
que descobri (que presunção!) a maneira simples pela qual
Velha história
as espécies se adaptam a várias finalidades.
Era uma vez um homem que estava pescando, Maria. Shaun Usher (org.). Cartas extraordinárias, 2014.
Até que apanhou um peixinho! Mas o peixinho era tão
pequenininho e inocente, e tinha um azulado tão indescri- 2. Unifesp 2020 “Deus me livre das bobagens de
tível nas escamas, que o homem ficou com pena. E retirou Lamarck como ‘tendência ao progresso’, ‘adaptações
cuidadosamente o anzol e pincelou com iodo a gargan- a partir do esforço dos animais’, — porém minhas con-
ta do coitadinho. Depois guardou-o no bolso traseiro das clusões não diferem muito das dele — embora a forma
calças, para que o animalzinho sarasse no quente. E desde da mudança difira inteiramente — creio que descobri
então ficaram inseparáveis. Aonde o homem ia, o peixinho (que presunção!) a maneira simples pela qual as espé-
o acompanhava, a trote, que nem um cachorrinho. Pelas cies se adaptam a várias finalidades.”
calçadas. Pelos elevadores. Pelos cafés. Como era tocante No contexto em que se insere, o trecho sublinhado
vê-los no “17”! − o homem, grave, de preto, com uma das expressa ideia de
mãos segurando a xícara de fumegante moca, com a outra a) comparação. d) consequência.
lendo o jornal, com a outra fumando, com a outra cuidando b) causa. e) concessão.
do peixinho, enquanto este, silencioso e levemente me- c) conclusão.
lancólico, tomava laranjada por um canudinho especial…
Ora, um dia o homem e o peixinho passeavam à mar- Leia as estrofes a seguir para responder à questão 3.
gem do rio onde o segundo dos dois fora pescado. E eis 72
que os olhos do primeiro se encheram de lágrimas. E disse O céu fere com gritos nisto a gente,
o homem ao peixinho: “Não, não me assiste o direito de te Com súbito temor e desacordo,
guardar comigo. Por que roubar-te por mais tempo ao cari- Que, no romper da vela, a nau pendente
nho do teu pai, da tua mãe, dos teus irmãozinhos, da tua tia Toma grã suma d’água pelo bordo:
solteira? Não, não e não! Volta para o seio da tua família. E “Alija, disse o mestre rijamente,
viva eu cá na terra sempre triste!…” Dito isto, verteu copioso Alija tudo ao mar; não falte acordo.
pranto e, desviando o rosto, atirou o peixinho n’água. E a Vão outros dar à bomba, não cessando;
A bomba, que nos imos alagando!” [...]
água fez redemoinho, que foi depois serenando, serenando
até que o peixinho morreu afogado…
Eu passarinho, 2006. 74
Os ventos eram tais, que não puderam
1. FCMSCSP 2019 “Mas o peixinho era tão pequenini- Mostrar mais força do ímpeto cruel,
nho e inocente, e tinha um azulado tão indescritível Se para derribar então vieram
nas escamas, .” A fortíssima torre de Babel.
Nos altíssimos mares, que cresceram,
No contexto em que está inserida, a oração sublinhada
A pequena grandura dum batel
indica uma
Mostra a possante nau, que move espanto,
a) causa. d) consequência.
Vendo que se sustém nas ondas tanto.
b) condição. e) explicação.
c) finalidade.
75
Para responder à questão 2, leia o trecho de uma car- A nau grande, em que vai
ta de Charles Darwin ao biólogo Joseph Hooker em Paulo da Gama,
11.01.1844 Quebrado leva o mastro pelo meio.
Quase toda alagada: a gente chama
Além de um interesse geral pelas terras meridionais, Aquele que a salvar o mundo veio.
desde que retornei tenho me dedicado a um trabalho mui- Não menos gritos vãos ao ar derrama
to ambicioso que nenhum indivíduo que conheço deixaria Toda a nau de Coelho, com receio.
de considerar muito bobo. Fiquei tão impressionado com Conquanto teve o mestre tanto tento,
a distribuição dos organismos nas Galápagos e com a na- Que primeiro amainou, que desse o vento. [...]
tureza dos fósseis de mamíferos americanos, que resolvi
recolher todo tipo de coisa que pudesse ter alguma relação 84
com alguma espécie. Li montanhas de livros sobre agri- Assim dizendo, os ventos que lutavam
cultura e horticultura e não paro de coletar informações. Como touros indômitos bramando,
Por fim surgiu uma luz, e estou quase convencido (ao Mais e mais a tormenta acrescentavam
contrário do que achava inicialmente) de que as espécies Pela miúda enxárcia assoviando.
(é como confessar um homicídio) não são imutáveis. Deus Relâmpagos medonhos não cessavam,
me livre das bobagens de Lamarck como “tendência ao Feros trovões, que vêm representando Cair
progresso”, “adaptações a partir do esforço dos animais”, — o céu dos eixos sobre a terra,
porém minhas conclusões não diferem muito das dele — Consigo os elementos terem guerra. [...]
Pioneiro da arte postal no país, Paulo Bruscky mantém estabelece com a oração principal uma relação de
uma verdadeira barricada de livros e papéis na sua sala, no a) causalidade c) temporalidade
Recife — o artista imprime todos os e-mails que recebe. b) proporção d) contradição
41
6. UFRR 2014 Leia o trecho da obra “O Mulato” e julgue lógicas e racionalmente sistematizadas. O encontro com o
os itens de I a V. direito é diversificado, às vezes conflitivo e incoerente, às
“Não! Ela não podia admitir o celibato, principalmen- vezes linear e consequente. Estudar o direito é, assim, uma
te para a mulher!... Para o homem ainda passava... viveria atividade difícil, que exige não só acuidade, inteligência,
triste, só; mas em todo o caso era um homem... teria outras preparo, mas também encantamento, intuição, espontanei-
distrações! Mas uma pobre mulher, que melhor futuro po- dade. Para compreendê-lo, é preciso, pois, saber e amar.
deria ambicionar que o casamento?... que mais legítimo Só o homem que sabe pode ter-lhe o domínio. Mas só
prazer do que a maternidade; que companhia mais ale- quem o ama é capaz de dominá-lo, rendendo-se a ele.
Introdução ao estudo do Direito, 2003.
gre do que a dos filhos, esses diabinhos tão feiticeiros?...
Além de que, sempre gostara muito de crianças: muita
vez pedira a quem as tinha que lhas mandasse a fazer-lhe 7. Uerr 2021 “Para compreendê-lo, é preciso, pois, sa-
companhia, e, enquanto as pilhava em casa, não consen- ber e amar.”
tia que mais ninguém se incomodasse com elas; queria O termo sublinhado introduz uma oração que expres-
ser a própria a dar-lhes a comida, a lavá-las, a vesti-las, e sa uma
acalentá-las. E estava constantemente a talhar camisinhas a) causa. d) comparação.
e fraldas, a fazer toucas e sapatinhos de lã, e tudo com b) consequência. e) finalidade.
muita paciência, com muito amor, justamente como, em c) condição.
pequenina, ela fazia com as suas bonecas. Quando alguma
de suas amigas se casava, Ana Rosa exigia dela sempre um Leia a seguir o trecho de uma entrevista com uma aluna
cravo do ramalhete ou um botão das flores de laranjeira da da Universidade de São Paulo para responder à ques-
grinalda; este ou aquele, pregava-os religiosamente no seio tão 8. Ela compartilha sua experiência sobre quase um
com um dos alfinetes dourados da noiva, e quedava-se a ano de aulas remotas.
fitá-los, cismando, até que dos lábios lhe partia um suspiro [...]
longo, muito longo, como o do viajante que em meio do Ana Clara: Alguns professores conseguiram se adaptar
caminho já se sente cansado e ainda não avista o lar.” bem. Os professores mais novos conseguem mexer melhor
I. As indagações de Ana Rosa são próprias de uma com tecnologia e conseguiram manter o padrão de aulas
muito bom, tão bom quanto as primeiras aulas que eu tive
moça romântica, possuidora de habilidades do-
presencialmente. Só que alguns outros professores, por
mésticas que a tornavam apta para o casamento.
serem de mais idade, não conseguiram se adaptar muito
II. O advérbio “quando” introduz uma oração subor-
bem naquele começo. No segundo semestre já houve uma
dinada adverbial temporal.
melhora. Eu tenho uma matéria que ela precisa ser no
III. No trecho “este ou aquele, pregava-os religiosa- laboratório, precisa ter contato com os materiais e isso a
mente no seio com um dos alfinetes dourados da gente está tendo que improvisar, fazer os experimentos em
noiva…”, o pronome “este” tem como referente casa, então é um pouquinho ruim, mas está dando para
“um cravo do ramalhete” e “aquele”, “um botão levar na medida do possível.
das flores de laranjeira”. [...]
IV. A forma verbal “quedava-se” não consta no léxico www.jornaldocampus.usp.br/index.php/2021/05/a-usp-depois-de-um-
da língua portuguesa, sendo, por isso, um em- ano-alunos-da-universidade-que-tiveram-seu-primeiro-ano-de-forma-
remota-compartilham-experiencias/
préstimo da língua espanhola.
V. A imagem criada pela comparação do estado de
8. Na linguagem oral, há uma coloquialidade mais evi-
espírito de Ana Rosa ao cansaço de um viajante
dente, mais liberdade na construção sintática dos
permite afirmar que ela se sente angustiada pela
textos. Isso pode ocorrer em uma entrevista, por
espera de um amor verdadeiro. Imagem essa,
exemplo, que é uma produção oral; no entanto, ao ser
própria do estilo realista.
transcrita, alguns cuidados devem ser tomados. Com
Estão corretos os itens da alternativa: relação a esses aspectos sintáticos que merecem
a) II e IV. d) I e IV. atenção, podemos destacar que:
b) III e V. e) III e IV. I. O trecho “tão bom quanto as primeiras aulas” é
c) I e II. uma oração subordinada adverbial comparativa.
II. Em “por serem de mais idade”, há uma oração su-
Considere o texto de Tercio Sampaio Ferraz Junior para bordinada adverbial causal.
responder à questão 7. III. Em “mas está dando para levar na medida”, há
O direito é um dos fenômenos mais notáveis na vida uma oração subordinada adverbial comparativa.
humana. Compreendê-lo é compreender uma parte de nós IV. Em “por serem de mais idade”, há uma oração su-
mesmos. É saber em parte por que obedecemos, por que bordinada adverbial final.
mandamos, por que nos indignamos, por que aspiramos Estão corretas:
a mudar em nome de ideais, por que em nome de ideais a) Somente I e III.
conservamos as coisas como estão. Ser livre é estar no b) Somente I e II.
direito e, no entanto, o direito também nos oprime e tira- c) Somente III e IV.
-nos a liberdade. Por isso, compreender o direito não é um d) Somente I e IV.
empreendimento que se reduz facilmente a conceituações e) Somente II e IV.
Leia o excerto do “Sermão do bom ladrão”, de Antônio Leia a fábula “O morcego e as doninhas” do escritor
Vieira (6-69), para responder à questão 1. grego Esopo (6 a.C.?-564 a.C.?) para responder à
questão 2.
Navegava Alexandre [Magno] em uma poderosa ar-
mada pelo Mar Eritreu a conquistar a Índia; e como fosse Um morcego caiu no chão e foi capturado por uma
trazido à sua presença um pirata, que por ali andava rou- . Como seria morto, rogou à doninha que pou-
bando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de passe sua vida.
andar em tão mau ofício; porém ele, que não era medroso — Não posso soltá-lo — respondeu a doninha —, pois
nem lerdo, respondeu assim: “Basta, Senhor, que eu, porque sou, por natureza, inimiga de todos os pássaros.
roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em — Não sou um pássaro — alegou o morcego. — Sou
uma armada, sois imperador?”. Assim é. O roubar pouco é um rato.
culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco po- E assim ele conseguiu escapar.
der faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas Mais tarde, ao cair de novo e ser capturado por outra
Sêneca, que sabia bem distinguir as qualidades, e interpretar doninha, ele suplicou a esta que não o devorasse. Como
as significações, a uns e outros, definiu com o mesmo nome: a doninha lhe disse que odiava todos os ratos, ele afirmou
[...] Se o rei de Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que que não era um rato, mas um morcego. E de novo con-
faz o ladrão e o pirata; o ladrão, o pirata e o rei, todos têm seguiu escapar. Foi assim que, por duas vezes, lhe bastou
o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome. mudar de nome para ter a vida salva.
Quando li isto em Sêneca, não me admirei tanto de que Fábulas, 2013.
um filósofo estoico se atrevesse a escrever uma tal sentença
em Roma, reinando nela Nero; o que mais me admirou, e
quase envergonhou, foi que os nossos oradores evangélicos
em tempo de príncipes católicos, ou para a emenda, ou
para a cautela, não preguem a mesma doutrina. Saibam 2. Unesp 2016 “Como seria morto, rogou à doninha
estes eloquentes mudos que mais ofendem os reis com o que poupasse sua vida.” (o parágrafo)
que calam que com o que disserem; porque a confiança Em relação à oração que a sucede, a oração destacada
com que isto se diz é sinal que lhes não toca, e que se não tem sentido de
podem ofender; e a cautela com que se cala é argumento a) proporção.
de que se ofenderão, porque lhes pode tocar. [...]
b) comparação.
Suponho, finalmente, que os ladrões de que falo não
c) consequência.
são aqueles miseráveis, a quem a pobreza e vileza de sua
fortuna condenou a este gênero de vida, porque a mesma d) causa.
sua miséria ou escusa ou alivia o seu pecado [...]. O ladrão e) finalidade.
que furta para comer não vai nem leva ao Inferno: os que
não só vão, mas levam, de que eu trato, são os ladrões de 3. Fuvest-SP 2012 Todas as variedades linguísticas são
maior calibre e de mais alta esfera [...]. Não são só ladrões, estruturadas, e correspondem a sistemas e subsistemas
diz o santo [São Basílio Magno], os que cortam bolsas, ou adequados às necessidades de seus usuários. Mas o fato
espreitam os que se vão banhar, para lhes colher a roupa; de estar a língua fortemente ligada à estrutura social e aos
os ladrões que mais própria e dignamente merecem este sistemas de valores da sociedade conduz a uma avaliação
título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos distinta das características das suas diversas modalida-
e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração des regionais, sociais e estilísticas. A língua padrão, por
das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e exemplo, embora seja uma entre as muitas variedades
despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, de um idioma, é sempre a mais prestigiosa, porque atua
estes roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do como modelo, como norma, como ideal linguístico de
seu risco, estes sem temor, nem perigo: os outros, se furtam,
uma comunidade. Do valor normativo decorre a sua fun-
são enforcados: estes furtam e enforcam.
ção coercitiva sobre as outras variedades, com o que se
Essencial, 2011.
torna uma ponderável força contrária à variação.
1. Unesp 2018 Se o rei de Macedônia, ou qualquer outro, Celso Cunha. Nova gramática do português contemporâneo.
Adaptado.
fizer o que faz o ladrão e o pirata; o ladrão, o pirata e
o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo Considere as seguintes afirmações sobre os quatro
nome. (1o parágrafo) períodos que compõem o texto:
Em relação ao trecho que o sucede, o trecho destaca- I. Tendo em vista as relações de sentido constituí-
do tem sentido de das no texto, o primeiro período estabelece uma
a) condição. causa cuja consequência aparece no segundo
b) proporção. período.
FRENTE 1
43
III. Por formarem um parágrafo tipicamente disser- comer. Mas sobrava tão pouco. Na verdade, o Zé Mané só
tativo, os quatro períodos se organizam em uma rangava todos os dias porque o Seu Joaquim Portuga, dono
sequência constituída de introdução, desenvolvi- do boteco do pedaço, era um chapa ponta-firme e fiava o
mento e conclusão. sortido pra curriola a perigo. E essa era a sorte selada do
IV. O procedimento argumentativo do texto é deduti- Zé Mané. Uma zorra sentida. Apesar de ter nascido com o
vo, isto é, vai do geral para o particular. urubu plantado no seu destino, o Zé Mané, quando fazia
aniversário, gostava de se embandeirar, comemorar de se
Está correto apenas o que se afirma em esbaldar e os cambaus. Sempre fora assim. Desde peque-
a) I e II. d) I, II e IV. no, considerava o dia do seu aniversário um dia sagrado.
b) I e III. e) II, III e IV. Não trabalhava nesse dia, nem nada. Só enchia a caveira
c) III e IV. de cachaça. E, quando fez trinta anos, não deu outra coisa.
O Zé Mané já amanheceu ligado. […]
4. UEG-GO 2015 Plínio Marcos. Disponível em: http://contobrasileiro.com.br/
Frente à invasão europeia, os índios defenderam até o-aniversario-plinio-marcos/
o limite possível seu modo de ser e de viver. Sobretudo Em “ ter nascido com o urubu plantado no
depois de perderem as ilusões dos primeiros contatos pa- seu destino, o Zé Mané, quando fazia aniversário, gos-
cíficos, quando perceberam que a submissão ao invasor tava de se embandeirar, comemorar de se esbaldar e
5 representava sua desumanização como bestas de carga. os cambaus”, os termos sublinhados
Nesse conflito de vida ou morte, os índios de um lado e a) Introduzem uma oração coordenada adversativa.
os colonizadores do outro punham todas as suas energias, b) Introduzem uma oração subordinada adverbial.
armas e astúcias. Entretanto, cada tribo, lutando por si, c) Introduzem uma oração coordenada aditiva.
desajudada pelas demais – exceto em umas poucas oca-
d) Introduzem uma oração subordinada concessiva.
10 siões em que se confederaram, ajudadas pelos europeus
e) Introduzem uma oração subordinada causal.
que viviam entre elas – pôde ser vencida por um inimigo
pouco numeroso mas superiormente organizado, tecno-
6. IFS-SE 2019 O fecho machucava meu pescoço princi-
logicamente mais avançado e, em consequência, mais
palmente depois que ele começou a alisar o guardanapo
bem armado.
com mais força enquanto repetia a beleza que a ponte ia
15 As vitórias europeias se deveram principalmente à
ficar. Mais perto o cheiro de cerveja e mais perto o olhi-
condição evolutiva mais alta das incipientes comunidades
nho azul como conta por detrás do vidro sujo dos óculos.
neobrasileiras. Isso permitia que essas comunidades se
A mão gelada e a fala quente mais rápida mais rápida a
aglutinassem em uma única entidade política servida por
ponte. A ponte. Fechei a boca mas ficou aberta a memória
uma cultura letrada e ativada por uma religião missionária
do olfato. A memória tem um olfato memorável. Minha
20 que influenciou poderosamente as comunidades indígenas.
infância é inteira feita de cheiros. O cheiro frio do cimento
Paradoxalmente, porém, é o próprio atraso dos índios que
da construção mais o cheiro de enterro morno daquela flo-
os fazia mais resistentes à subjugação, condicionando uma
ricultura onde trabalhei enfiando arame no rabo das flores
guerra secular de extermínio. Isso se verifica comparando
até chegar à corola porque as flores quebradas tinham que
a rapidez da conquista e da pacificação onde o europeu ficar de cabeça levantada na cesta ou na coroa. O vômito
25 se deparou com altas civilizações – como no México e no das bebedeiras daqueles homens e o suor e as privadas
Peru – com a lentidão da conquista do Brasil, que prossegue mais o cheiro do Doutor Algodãozinho. Somados, pomba.
até hoje com tribos arredias resistindo com armas à invasão Aprendi milhões com esses cheiros mais a raiva tanta raiva
de seus territórios para além das fronteiras da civilização. tudo era difícil só ela fácil. Cabecinha de enfeite. Comigo
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: evolução e o sentido do Brasil.
São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 49. (Adaptado).
vai ser diferente. Diferente repetia com os ratos que roque-
-roque roíam meu sono naquela construção embaratada
O trecho “exceto em umas poucas ocasiões em que diferente diferente repeti enquanto a mão arrebentava o
se confederaram, ajudadas pelos europeus que viviam botão da minha blusa. Onde será que foi parar meu botão
entre elas” (linhas 9-) desenvolve, em relação à tese eu disse e de repente ficou tão importante aquele botão
central do período no qual está encaixado, uma ideia de que saltou quando a mão procurava mais embaixo porque
a) proporção c) concessão os seios já não interessavam mais. Por que os seios já não
b) equivalência d) causalidade interessavam mais por quê? O botão eu repeti cravando
as unhas no plástico da cadeira e fechando os olhos pra
5. IFMT 2018 não ver o cilindro de luz fria do teto piscando numa das
extremidades e o botão? Não não é o botão que eu quero
O aniversário é a ponte a ponte. A ponte me levaria pra longe da minha
Plínio Marcos
mãe e dos homens baratas tijolos longe longe. Posso rir de
O Zé Mané levava uma vida de lascar. Nem de leve novo e me emprego de dia e estudo num curso noturno
pegava maré mansa. Seu trampo era pesado paca. Das oito fico manicura porque de repente vinha um homem e se
da matina às seis da tarde debaixo de sacaria. Uma puxeta apaixonava por mim enquanto eu fazia as unhas dele. As
de entortar qualquer patuá. E o salário, claro que era o unhas arrebentando o elástico da minha calça e arreben-
mínimo. Daí, já viu. Com a vida custando os olhos da cara, tando a calça e enfiando o dedo de barata-aranha pelos
o Zé Mané mal podia pegar uma gororoba. Pagava oitenta buracos todos que ia encontrando tinha tantos lá na cons-
jiripocas por uma vaga num quarto com mais três parceiros trução, lembra?
para ter onde encostar o cadáver. E o que sobrava era pra TELLES, Lygia Fagundes. As meninas. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
trodomésticos, mais e mais sofisticados. Quando comprei com os outros: eles me liam. Era uma jovem. Nossos olha-
o meu primeiro freezer, há muito tempo, um amigo riu: res se encontraram e seu olhar não se desviou. O que é
— Para que uma coisa dessas? raro. Quando olhos desconhecidos se encontram, eles
45
procuram se defender por meio de um movimento automá- 11. Fatec-SP A oração ...para não escurecerem... indica uma
tico: o olhar se desvia. O olhar silencioso do desconhecido a) causa. d) comparação.
é sempre sinistro. Mas os olhos dela não tiveram medo. E b) finalidade. e) intensificação.
chegaram mesmo a sorrir discretamente. [...] c) indefinição.
Foi então que ela falou. Não disse coisa alguma. Fez
um gesto que dispensava palavras. Simplesmente levantou-
-se e ofereceu o seu lugar... E a bolha mágica de felicidade 12. Fatec-SP A primeira oração do trecho Se for em
em que eu me encontrava estourou, pelo toque de um pedaços, faz-se da seguinte maneira... sinaliza a pre-
gesto de gentileza... sença de
Miserável gentileza! Eu teria preferido uma grosseria! a) uma imposição. d) um pedido.
De fato, a imagem que ela via era bela. Mais que bela: b) uma hipótese. e) um desejo.
era terna. Gostara de mim. Seu gesto era uma declaração c) uma ordem.
de amor, quase um abraço. Mas a beleza que ela vira
não era a beleza que eu desejava. Ela me amara por uma 13. IFSP 2013
beleza que não era aquela que meu desejo queria ver. Seu
gesto gentil destruiu a bela cena que minha fantasia pintara Benefício para a carreira
para colocar no seu lugar uma outra, também bela, mas Enfrentar as dificuldades do dia a dia e solucionar os
de uma beleza diferente: uma jovem e um velho, manhã grandes problemas da companhia não são funções des-
e crepúsculo, primavera e outono. [...] critas em nenhum cargo, mas são importantes para quem
E foi assim que começou o meu “caso de amor” com deseja prosperar na carreira. O profissional que resolve
a velhice, com o rigor de um silogismo. Primeira premissa: problemas e ajuda as empresas a atingir resultados des-
eu sou velho; o gesto da moça do metrô o atesta. Segunda taca-se, ganha reconhecimento e larga em vantagem na
premissa: a velhice é a tarde imóvel, banhada por uma luz disputa por uma promoção. [...]
antiquíssima; a metáfora poética assim o declara. Terceira Não adianta ser um profissional com superpoderes
premissa: essa tarde imóvel me encanta, é bela. [...] que quer resolver tudo. Quem faz isso acaba sobrecarre-
ALVES, Rubem. As cores do crepúsculo. A estética do envelhecer. gado e entrega resultados inferiores ao desejado. Numa
São Paulo: Papirus, 2014, p. 18-25. empresa, essa sobrecarga de tarefas poderia fazer com
Assinale a alternativa cujo período contém uma oração que clientes, uma hora, parassem de comprar os produtos.
adverbial temporal. Na vida profissional, poderia resultar em uma demissão.
a) “E assim eu ia, passando rostos como se fossem Assim como as organizações buscam soluções ino-
páginas de um livro”. vadoras, o profissional também pode encontrar caminhos
b) “Mas de repente minha leitura foi interrompida”. para resolver problemas com maior facilidade. Não é um
c) “Ao passar de um rosto para outro, meus olhos se processo fácil. Muitas vezes é dolorido. Exige empenho
encontraram com olhos...”. por meio das conversas, a fim de entender os diferen-
d) “Simplesmente levantou-se e ofereceu o seu lugar”. tes pontos de vista e enfrentamentos que acontecem. No
entanto, sem esse embate, sem a disposição para a comu-
e) “E a bolha mágica de felicidade em que eu me
nicação, é impossível resolver um problema.
encontrava estourou”.
Lucas Rosi. Você S/A, edição 179, abril/2013. Adaptado.
10. UFC-CE As orações do trecho: “... para gerar tudo Assinale a alternativa em que o trecho destacado apre-
aquilo de que necessita” classificam-se respectiva- senta uma oração subordinada adverbial de finalidade.
mente como: a) Enfrentar as dificuldades do dia a dia e solucionar os
a) adverbial final / adjetiva restritiva. grandes problemas da companhia não são funções
b) adverbial consecutiva / predicativa. descritas em nenhum cargo, mas são importantes
c) adverbial temporal / completiva nominal. para quem deseja prosperar na carreira.
d) adverbial proporcional / adjetiva explicativa. b) O profissional que resolve problemas e ajuda
e) adverbial causal / substantiva objetiva indireta. as empresas a atingir resultados destaca-se,
ganha reconhecimento e larga em vantagem na
Texto para as questões 11 e 12. disputa por uma promoção.
Modo de aferventar a couve-flor c) Não adianta ser um profissional com superpode-
res que quer resolver tudo. Quem faz isso acaba
É indispensável, qualquer que seja o fim a que se
sobrecarregado e entrega resultados inferiores
destine a couve-flor, prepará-la, antes, da seguinte forma:
ao desejado.
depois de tirar suas folhas, lave-a, deixando por algum
tempo num molho de água e vinagre, para largar qualquer
d) Numa empresa, essa sobrecarga de tarefas po-
bichinho que possa ter. Lave a couve-flor outra vez, antes deria fazer com que clientes, uma hora, parassem
de ir para a caçarola, a fim de sair bem o gosto do vinagre. de comprar os produtos. Na vida profissional,
Ela pode ser aferventada inteira ou em pedaços. Se for em poderia resultar em uma demissão.
pedaços, faz-se da seguinte maneira: corta-se a couve-flor e) Assim como as organizações buscam soluções
em diversos ramos e põe-se numa caçarola com água sal- inovadoras, o profissional também pode encon-
gada a ferver em quantidade tal que os pedaços fiquem trar caminhos para resolver problemas com
completamente cobertos de água para não escurecerem. maior facilidade. Não é um processo fácil.
Eu pertenço a uma família de profetas , da família, libertava um escravo, ato que comoveu a toda a
, depois do gato morto, ou como melhor nome gente que dele teve notícia; que esse escravo tendo apren-
tenha em holandês. Por isso digo, e juro se necessário dido a ler, escrever e contar (simples suposição) é então
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professor de Filosofia no Rio das Cobras; que os homens 17. Unesp 2020 Em “mas, rigorosamente, não há morte,
puros, grandes e verdadeiramente políticos, não são os que há vida, porque a supressão de uma é condição da
obedecem à lei, mas os que se antecipam a ela, dizendo ao sobrevivência da outra” e “As batatas apenas chegam
escravo: és livre, antes que o digam os poderes públicos, para alimentar uma das tribos”, os termos sublinhados
sempre retardatários, trôpegos e incapazes de restaurar a estabelecem relação, respectivamente, de:
justiça na terra, para satisfação do céu. a) consequência e conformidade.
Machado de Assis. Crônicas escolhidas, 2013.
b) causa e conformidade.
c) conformidade e consequência.
d) causa e finalidade.
e) consequência e finalidade.
II. “O tempo passou, e essa revolução não se ins- II. O trecho “e nós o encontramos” (em destaque)
taurou.” (l. 20-21) – A relação estabelecida é de admite o emprego da ênclise, caso em que ficaria
adversidade. assim: “e encontramo-lo”.
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III. Na primeira oração do texto, o agente da passiva nos antigos abusava-se de veneno. De qualquer
é “grande propriedade monocultural”. modo, as pessoas grandes não contavam a história direito,
IV. O período que começa com “Empregou-se na e os meninos deformavam o conto. Repudiada por todos,
falta de melhor” (segundo parágrafo) possui duas ela se fechou naquele chalé do caminho do córrego, e
orações: a principal e uma subordinada adverbial acabou perdendo o juízo. Perdera antes todas as relações.
explicativa. Ninguém tinha ânimo de visitá-la. O padeiro mal jogava
V. No último período do primeiro parágrafo (“Se os o pão na caixa de madeira, à entrada, e eclipsava-se. Di-
problemas...”), a circunstância expressa pela ora- ziam que nessa caixa uns primos generosos mandavam
ção subordinada adverbial é de condição. pôr, à noite, provisões e roupas, embora oficialmente a
ruptura com a família se mantivesse inalterável. Às vezes
Assinale a alternativa correta:
uma preta velha arriscava-se a entrar, com seu cachimbo
a) Somente as afirmativas I, II e V estão corretas.
e sua paciência educada no cativeiro, e lá ficava dois ou
b) Somente as afirmativas I, III e IV estão corretas.
três meses, cozinhando. Por fim a doida enxotava-a. E,
c) Somente as afirmativas I, IV e V estão corretas. afinal, empregada nenhuma queria servi-la. Ir viver com
d) Somente as afirmativas II, III e IV estão corretas. a doida, pedir a bênção à doida, jantar em casa da doida,
e) Somente as afirmativas II, III e V estão corretas. passaram a ser, na cidade, expressões de castigo e sím-
Leia o trecho inicial do conto “A doida”, de Carlos bolos de .
Drummond de Andrade, para responder à questão 22. Vinte anos de uma tal existência, e a legenda está
feita. Quarenta, e não há mudá-la. O sentimento de que
A doida habitava um chalé no centro do jardim mal- a doida carregava uma culpa, que sua própria doidice era
tratado. E a rua descia para o córrego, onde os meninos uma falta grave, uma coisa aberrante, instalou-se no espíri-
costumavam banhar-se. Era só aquele chalezinho, à es- to das crianças. E assim, gerações sucessivas de moleques
querda, entre o barranco e um chão abandonado; à direita,
passavam pela porta, fixavam cuidadosamente a vidraça e
o muro de um grande quintal. E na rua, tornada maior pelo
lascavam uma pedra. A princípio, como justa penalidade.
silêncio, o burro que pastava. Rua cheia de capim, pedras
Depois, por prazer. Finalmente, e já havia muito tempo,
soltas, num declive áspero. Onde estava o fiscal, que não
por hábito. Como a doida respondesse sempre furiosa,
mandava capiná-la?
criara-se na mente infantil a ideia de um equilíbrio por
Os três garotos desceram manhã cedo, para o banho e
compensação, que afogava o remorso.
a pega de passarinho. Só com essa intenção. Mas era bom
Em vão os pais censuravam tal procedimento. Quan-
passar pela casa da doida e provocá-la. As mães diziam
do meninos, os pais daqueles três tinham feito o mesmo,
o contrário: que era horroroso, poucos pecados seriam
com relação à mesma doida, ou a outras. Pessoas sensíveis
maiores. Dos doidos devemos ter piedade, porque eles
lamentavam o fato, sugeriam que se desse um jeito para in-
não gozam dos benefícios com que nós, os sãos, fomos
ternar a doida. Mas como? O hospício era longe, os parentes
aquinhoados. Não explicavam bem quais fossem esses
não se interessavam. E daí – explicava-se ao forasteiro que
benefícios, ou explicavam demais, e restava a impressão
porventura estranhasse a situação – toda cidade tem seus
de que eram todos privilégios de gente adulta, como fazer
visitas, receber cartas, entrar para irmandades. E isso não doidos; quase que toda família os tem. Quando se tornam
comovia ninguém. A loucura parecia antes erro do que ferozes, são trancados no sótão; fora disto, circulam pacifi-
miséria. E os três sentiam-se inclinados a a doida, camente pelas ruas, se querem fazê-lo, ou não, se preferem
isolada e agreste no seu jardim. ficar em casa. E doido é quem Deus quis que ficasse doido...
Como era mesmo a cara da doida, poucos poderiam Respeitemos sua vontade. Não há remédio para loucura;
dizê-lo. Não aparecia de frente e de corpo inteiro, como as nunca nenhum doido se curou, que a cidade soubesse; e a
outras pessoas, conversando na calma. Só o busto, recortado cidade sabe bastante, ao passo que livros mentem.
numa das janelas da frente, as mãos magras, ameaçando. Os Contos de aprendiz, 2012.
Texto complementar
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Resumindo
Exercícios complementares
Leia a fábula “A raposa e o lenhador”, do escritor grego 1. Unifesp 2017 “Entretanto, como eles não prestaram
Esopo (60 a.C.?-564 a.C.?), para responder à questão 1. atenção nos seus gestos, deram crédito às suas pa-
Enquanto fugia de caçadores, uma raposa viu um lenha-
lavras.”
dor e lhe pediu que a escondesse. Ele sugeriu que ela entrasse Em relação à oração que a sucede, a oração destaca-
em sua cabana e se ocultasse lá dentro. Não muito tempo da tem sentido de:
depois, vieram os caçadores e perguntaram ao lenhador se a) causa. d) comparação.
ele tinha visto uma raposa passar por ali. Em voz alta ele b) consequência.
negou tê-la visto, mas com a mão fez gestos indicando onde c) conclusão. e) proporção.
ela estava escondida. Entretanto, como eles não prestaram
Leia o excerto da crônica “Mineirinho” de Clarice
atenção nos seus gestos, deram crédito às suas palavras. Ao
constatar que eles já estavam longe, a raposa saiu em silêncio
Lispector (95-977), publicada na revista Senhor em
e foi indo embora. E o lenhador se pôs a repreendê-la, pois 96, para responder à questão 2.
ela, salva por ele, não lhe dera nem uma palavra de gratidão. É, suponho que é em mim, como um dos representantes
A raposa respondeu: “Mas eu seria grata, se os gestos de sua de nós, que devo procurar por que está doendo a morte de um
mão fossem condizentes com suas palavras.” . E por que é que mais me adianta contar os treze tiros
Fábulas completas, 2013. que mataram do que os seus crimes. Perguntei a
cada tem sentido de discordar de alguma coisa na obra. Pode ser outro artista
a) consequência. d) causa. fazendo sua própria obra dentro da minha. Pode ser só
b) conclusão. e) finalidade. uma brincadeira” e finalizou dizendo que “pichar a obra
c) alternância. de alguém também não é tão incomum. Já é tradicional”.
53
É interessante notar, a partir do depoimento de Pardo, 4. ITA-SP 2019 Assinale a alternativa em que o trecho
a recorrência de padrões em movimentos de qualquer sublinhado expressa ideia de causa.
natureza, e o inevitável enquadramento em algum tipo de a) Essa distinção das expressões deu-se em boa
sistema, mesmo que imposto e organizado pelos próprios parte , com os
elementos do grupo. Na pixação, levando em conta o “sis-
tema” em que estão inseridos, constatamos que também b) foi sendo introduzido como uma
passa longe de ser perfeito; existe rivalidade pesada entre , a picha-
gangues, hierarquia e disputas pelo “poder”. ção utilizou o princípio de não autorização para
Em 2012, a Bienal de Arte de Berlim, com o tema “Forget fortalecer sua essência.
Fear”, considerado ousado, priorizou fatos e inquietações c) A rejeição do público geral reside na falta de
políticas da atualidade. Os pixadores brasileiros, Cripta (Djan compreensão e intelecção das inscrições;
Ivson), Biscoito, William e R.C., foram convidados na ocasião os membros da comunidade de-
para realizar um workshop sobre pixação em um espaço cifram o conteúdo.
delimitado, na igreja Santa Elizabeth. Eles compareceram. d) ,
Mas não seguiram as regras impostas pela curadoria, ao pixar caíram em contradição.
o próprio monumento. O resultado foi tumulto e desentendi- e) O é visto como artista , pos-
mento entre os pixadores e a curadoria do evento. suindo as características de todo e qualquer artista
O grande dilema diante do fato é que, ao aceitarem contemporâneo, incluindo a prática e o status.
o convite para participar de uma bienal de arte, automati-
camente aceitaram as regras e o sistema imposto. Mesmo 5. Fatec-SP 2015
sem adotar o comportamento esperado, caíram em contra-
dição. Por outro lado, pela pichação ser conhecidamente Construção civil: número de acidentes de
transgressora (ou pelo jeito, não tão conhecida assim), os trabalho diminui mesmo com aumento de obras
organizadores deveriam pressupor que eles não seguiriam Roberta Lopes
padrões pré-estabelecidos.
A coordenadora de Relações Institucionais do Servi-
Embora existam movimentos e grupos que conside-
ço Social da Indústria da Construção do Rio de Janeiro
ram, sim, a pixação como forma de arte, como é o caso
(Seconci-Rio), Ana Cláudia Gomes, disse hoje que o núme-
dos curadores da Bienal de Berlim, há uma questão subs-
ro de acidentes de trabalho na construção civil permanece
tancial que permeia a realidade dos pichadores. Quem
estável nos últimos anos, embora o número de construções
disse que eles querem sua expressão reconhecida como
tenha aumentado. Isso significa que, proporcionalmente,
arte? Se arte pressupõe, como ocorreu com o graffiti, adap-
o número de acidentes na construção civil tem caído.
tar-se a um molde específico, seguir determinadas regras e
“Se olharmos as estatísticas de acidentes, elas não
por consequência ver sua potência intervencionista diluída
consideram que, se antes tínhamos 10 mil obras, hoje
e branda, é muito improvável que tenham esse desejo. temos 100 mil. Se o número de acidentes se manteve,
A representação da pixação como forma de expressão tivemos uma queda proporcional ao número de trabalha-
destrutiva, contra o sistema, extremista e marginalizada é o dores expostos aos riscos. Não comemoramos essa queda,
que a mantêm viva. De certo modo, a rejeição e a ignorân- porque nós continuamos a perseguir o ideal do acidente
cia do público é o que garante sua força intervencionista zero”, afirmou. [...]
e a tão importante e sensível essência. http://tinyurl.com/n6o7zo8. Acesso em: 17 abr. 2015. Adaptado.
Adaptado de: CARVALHO, M. F. Pichação-arte é pixação? Revista Arruaça,
Edição nº 0. Cásper Líbero, 2013. Disponível em: https://casperlibero.edu.br/ As orações subordinadas destacadas nesse fragmen-
revistas/pichacao-arte-e-pixacao/. Acesso em: maio 2018. to classicam-se, respectivamente, em
a) substantiva objetiva indireta, adverbial concessiva
3. ITA-SP 2019 Assinale a alternativa cujo trecho subli- e adverbial causal.
nhado denota uma condição. b) substantiva objetiva direta, adverbial condicional
a) [...] trazem à tona um questionamento conceitual e adverbial causal.
importante: - c) substantiva objetiva direta, adverbial temporal e
rânea, o movimento perderia sua essência? adverbial consecutiva.
b) [...] ele ganhou em força, criatividade e técnica, d) substantiva subjetiva, adverbial condicional e ad-
verbial consecutiva.
artístico.
e) substantiva predicativa, adverbial temporal e ad-
c) Muito além da diferenciação conceitual entre as
verbial consecutiva.
expressões –
[...] Leia a crônica “Eloquência singular”, do escritor Fernan-
d) Ela é evidenciada pela impossibilidade de inser- do Sabino (9-004), para responder à questão 6.
ção em qualquer estatuto pré-estabelecido, Mal iniciara seu discurso, o deputado embatucou:
- — Senhor Presidente: eu não sou daqueles que…
. O verbo ia para o singular ou para o plural? Tudo
e) “Se alguém faz alguma coisa no seu trabalho, isso indicava o plural. No entanto, podia perfeitamente ser o
é positivo, para mim, escolheram a minha 5 singular:
” [...] — Não sou daqueles que…
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7. FMJ-SP 2014 Considere o último trecho do texto: Dei- Mesmo as formas de entretenimento que existem há
xamo-nos atropelar, em nossa sociedade competitiva, muitos séculos, tais como a música popular e a compe-
tição esportiva, estão hoje entrelaçadas com os meios de
. comunicação de massa. Música popular, esportes e outras
Em relação à oração anterior, o segmento sublinhado atividades são em grande parte mantidas pelas indústrias
apresenta uma da mídia, que estão envolvidas não apenas na transmissão
a) condição. d) causa. e apoio financeiro de formas culturais preexistentes, mas
também na transformação ativa dessas formas.
b) conclusão. e) restrição.
As indústrias da mídia nem sempre desempenharam um
c) consequência.
papel tão fundamental. O surgimento e desenvolvimento
dessas indústrias foi um processo histórico específico que
8. ESCS-DF 2014 acompanhou o surgimento das sociedades modernas. As
Atualmente, cerca de 40% dos brasileiros têm co- origens da comunicação de massa podem ser ligadas ao sé-
lesterol alto e, aproximadamente, 17 milhões de pessoas culo XV, quando as técnicas associadas com a imprensa de
morrem em todo o mundo devido às doenças do coração, Gutenberg foram assumidas por uma variedade de institui-
segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No ções nos maiores centros comerciais da Europa e exploradas
5 Brasil, instituiu-se o dia 8 de agosto como o Dia Nacional para fins de produzir múltiplas cópias de manuscritos e textos.
do Controle do Colesterol, por causa dos altos números Esse foi o início de uma série de desenvolvimentos
de mortes no país – cerca de 300 mil por ano – em decor- que, a partir do séc. XVI até hoje, conseguiu transformar
rência de infartos e derrames. radicalmente as maneiras como as formas simbólicas fo-
O colesterol pode ser considerado um tipo de gordu-
ram produzidas, transmitidas e recebidas por indivíduos no
10 ra (lipídio) produzido pelo organismo, que desempenha curso de suas vidas cotidianas. É essa série de desenvolvi-
funções essenciais, como a produção de hormônio e de
mentos que subjazem ao que chamamos de mediação da
vitamina D. No entanto, o excesso de colesterol é prejudi-
cultura moderna. Esse é um processo que caminha lado
cial à saúde, pois aumenta o risco de desenvolver doenças
a lado com a expansão do capitalismo industrial e com a
cardiovasculares. Ele está presente em alimentos de origem
formação do sistema moderno de Estados-nação.
15 animal, como a carne, o leite integral e os ovos.
Em conjunto, esses processos são constitutivos das
Internet: www.brasil.gov.br (com adaptações).
sociedades industriais do Ocidente. Eles são também pro-
Assinale a opção que apresenta trecho do texto em cessos que afetaram profundamente o desenvolvimento
que se expõe a causa de um fato. das sociedades de outras partes do mundo, sociedades que
a) “pois aumenta o risco de desenvolver doenças no passado estavam interligadas em vários graus umas às
cardiovasculares” (linhas 13-1) outras e que estão se tornando cada vez mais interligadas
b) “cerca de % dos brasileiros têm colesterol alto” hoje. A crescente interconexão das sociedades no mundo
(linhas 1-2) moderno é um resultado dos mesmos processos – inclusive
c) “por causa dos altos números de mortes no país – a mediação da cultura moderna – que configuraram o
cerca de 3 mil por ano – em decorrência de desenvolvimento social a partir do início da era moderna.
infartos e derrames” (linhas -8) THOMPSON, John B. Ideologia e cultura moderna: teoria social crítica
na era dos meios de comunicação de massa. 9. ed. Petrópolis:
d) “que desempenha funções essenciais, como a pro- Vozes, 2009. p. 219-220. (Adaptado).
dução de hormônio e de vitamina D.” (linhas 1-12)
Considere o seguinte trecho:
Os personagens que se apresentam nos filmes e nos
9. UEG-GO 2015
programas de televisão se tornam pontos de referência
Mídia e mediação da cultura moderna comuns para milhares de indivíduos que podem nunca
A produção e circulação das formas simbólicas nas interagir um com o outro, mas que partilham, em virtude
sociedades modernas são inseparáveis das atividades das de sua participação numa cultura mediada, de uma expe-
indústrias da mídia. O papel das instituições da mídia é tão riência comum e de uma memória coletiva.
fundamental, e seus produtos se constituem em traços tão
O segmento “em virtude de sua participação numa
onipresentes da vida cotidiana, que é difícil, hoje, imaginar
cultura mediada” atribui ao constituinte oracional ime-
o que seria viver num mundo sem livros e jornais, sem
diato um sentido de
rádio e televisão, e sem os inúmeros outros meios através
dos quais as formas simbólicas são rotineira e continua- a) causa. d) atenuação.
mente apresentadas a nós. b) tempo. e) probabilidade.
Dia a dia, semana a semana, jornais, estações de rádio c) finalidade.
e televisão nos apresentam um fluxo contínuo de palavras
e imagens, informações e ideias a respeito dos aconteci- 10. Cederj 2015 Começo declarando que me chamo Paulo
mentos que têm lugar para além de nosso ambiente social Honório, peso oitenta e nove quilos e completei cinquen-
imediato. Os personagens que se apresentam nos filmes e ta anos pelo São Pedro. A idade, o peso, as sobrancelhas
nos programas de televisão se tornam pontos de referência cerradas e grisalhas, este rosto vermelho e cabeludo têm-
comuns para milhares de indivíduos que podem nunca -me rendido muita consideração. Quando me faltavam
interagir um com o outro, mas que partilham, em virtude essas qualidades, a consideração era menor. Para falar
de sua participação numa cultura mediada, de uma expe- com franqueza, o número de anos assim positivo e a
riência comum e de uma memória coletiva. data de São Pedro são convencionais: adoto-os porque
Só eu, seu autor, a amo. Sofro por ela. E só eu é que posso tropicais como o Brasil, um avanço da malária, da cólera
dizer assim: “que é que você me pede chorando que eu não 5 e da dengue. A solução não está apenas em reduzir as
lhe dê cantando”? Essa moça não sabia que ela era o que emissões de CO2, mas tirar milhões da pobreza e mudar
57
o padrão de vida da camada mais rica. Pesquisa da revista países do Golfo que cortaram relações diplomáticas com
The Lancet e da University College de Londres alerta que o emirado. Esta é a análise de especialistas ouvidos pela
as maiores vítimas serão os pobres, mesmo que não sejam agência de notícias France Presse e do comentarista da
10 os maiores poluidores. GloboNews, Marcelo Lins.
Sistemas de saúde de muitos países poderão ser colo- Neymar se tornou o jogador mais caro da história do
cados sob alta pressão e alguns até entrariam em colapso. futebol, com o pagamento da cláusula de rescisão no valor
A “injustiça social” da questão climática é um dos focos de € 222 milhões (R$ 812 milhões).
do alerta. Segundo o estudo, essa desigualdade será “uma Segundo Mathieu Guidere, especialista em geopo-
15 fonte de vergonha histórica para nossa geração se nada for lítica do mundo árabe consultado pela AFP, o anúncio
feito”. O texto diz que “os ricos verão que estão vivendo da transferência do jogador ao PSG, que é de um fundo
em um mundo mais caro, inconveniente, desconfortável de investimentos do Catar, “foi testado entre catarianos
e mais imprevisível. Os pobres morrerão”. como uma espécie de estratégia de comunicação que
A pesquisa diz que as previsões de alta na temperatura ofuscaria o debate em torno de outras considerações,
20 são conservadoras e indica que uma elevação de 2°C já como o terrorismo”.
seria desastrosa. Entre 260 milhões e 320 milhões de pes- Marcelo Lins, comentarista da GloboNews, afirmou
soas a mais do que o normal seriam afetadas pela malária que a transferência beneficia a imagem do Catar. “Um
até 2080. Na África, a elevação de 1°C multiplicaria por pequeno país riquíssimo em petróleo, do Golfo, que bota
dez o número de mosquitos. A dengue seguiria padrão tanto dinheiro para dar alegria a uma torcida, ou a milhões
25 similar e doenças como esquistossomose e leishmaniose de torcedores espalhados pelo mundo... você tem uma
também cresceriam. As informações são do jornal O Es- volta disso na imagem do Catar, que é muito grande”,
tado de S. Paulo. disse à GloboNews. “É uma grande jogada de marketing
Agência Estado – 15/05/2009 – Disponível em: do Catar como um todo”, acrescentou.
www.opovo.com.br/saude/877865.html)
Catar enfrenta a sua pior crise política em décadas,
No período “as maiores vítimas serão os pobres mes- com a Arábia Saudita e outros países do Golfo tendo cor-
mo não ” (linhas 9-10), tado relações diplomáticas com o emirado por acusações
a oração sublinhada é uma subordinada adverbial: de apoio a grupos terroristas. O Catar nega as acusações
a) final. d) concessiva. e diz que o objetivo é prejudicar o emirado rico em gás.
b) causal. e) consecutiva. Com a transferência de Neymar, Doha pode estar
c) temporal. de olho em investir em ‘soft power’. O conceito de ‘soft
power’ (‘poder suave’, em tradução livre) foi elaborado
15. Ufam 2020 Indique as circunstâncias expressas para definir a influência de países nas relações interna-
pelos adjuntos adverbiais destacados nas frases a se- cionais por meio de investimentos em ações positivas.
guir, usando este código: “Esse é um golpe de ‘soft power’ O Catar precisa de-
C – Causa S – Concessão monstrar ao mundo que, apesar de todas as acusações,
I – Instrumento T – Intensidade é o país mais resiliente no Oriente Médio”, disse à AFP
M – Modo Andreas Krieg, analista de risco político no King’s College de
O desastre não aconteceu, mas o carro ia em alta Londres. “Ter o melhor jogador do mundo mostra ao resto
velocidade. do mundo que se o Catar é determinado, eles ainda têm os
, Nonato conse- maiores recursos para tirar e, se necessário, usar o dinheiro
gue se vestir muito bem. que têm para promover a sua agenda”, acrescentou.
Todos nós camos muito alegres - O custo da transferência de Neymar “envia um sinal
. muito forte para o mundo esportivo e um sinal muito forte
Nosso amigo interpretou bem o papel de Hamlet. de desafio contra os Emirados Árabes Unidos e a Arábia
Ontem, por descuido, feri-me com uma faca. Saudita”, disse Krieg. “Eles queriam esse jogador e usaram
Ninguém observa que aqui o trabalho é excessiva- o dinheiro para comprá-lo a qualquer preço”.
mente puxado. https://g1.globo.com/mundo/noticia/transferenciade-neymar-ao-psg-e-golpe-
de-soft-power-docatar-a-paises-do-golfo-dizem-especialistas.ghtml
Assinale a alternativa que preenche CORRETAMENTE
os parênteses, de cima para baixo: No enunciado “O Catar precisa demonstrar ao mun-
a) M – T – C – T – I – S d) C – S – M – M – T – I do que, apesar de todas as acusações, é o país mais
b) M – I – C – S – T – T e) C – T – M – S – T – I resiliente no Oriente Médio”, a expressão parentética
c) M – S – C – M – I – T “apesar de todas as acusações” estabelece com a
oração com a qual está ligada uma relação de
16. Uece 2018 a) condição, pois, se o Catar não demonstrar ao mun-
do que é o país mais resiliente do Oriente Médio,
Transferência de Neymar ao PSG é golpe ele continuará ainda sofrendo muitas acusações.
de ‘soft power’ do Catar a países do Golfo, b) finalidade, porque o propósito do Catar, diante de
dizem especialistas todas as acusações, é o de precisar demonstrar ao
A transferência do fenômeno brasileiro Neymar ao mundo que é o país mais resiliente do Oriente Médio.
Paris Saint-Germain (PSG) representa uma estratégia de c) consequência, visto que o motivo de o Catar pre-
marketing e um golpe de ‘soft power’ do Catar contra os cisar demonstrar ao mundo que é o país mais
des domésticas e de socialização das crianças, além dos vocábulos”, o verbo destacado, conforme o acor-
cuidados com os velhos. Assim, ainda que dividindo o do ortográfico de 2, deve ser registrado da
espaço doméstico com companheiros, as mulheres têm,
seguinte forma: “teem”.
59
d) Com relação à pontuação do trecho “As línguas Quando a maré subisse, tocando seus cabelos com a pri-
realizam o recorte do mundo de maneiras diversas; meira espuma, ele voltaria à vida.
daí a dificuldade na elaboração das traduções”, se Assim fez Lânia. E assim aconteceu que o moço abriu
substituirmos o ponto e vírgula (;) por reticências os olhos e o sorriso.
(...), não haverá alteração de sentido. Mas em vez de sorrir só para ela que o amava tanto,
e) No trecho “Há nuanças e escala de valores”, se desde logo sorriu mais para Lisíope, e só para Lisíope
usássemos o verbo “existir” no lugar de “haver”, parecia ter olhos.
a concordância ficaria da seguinte forma: “Existe De nada adiantavam as insistências de Lânia, as
nuanças e escala de valores”. desculpas com que tentava afastá-lo da irmã. De nada
adiantava enfeitar-se, cantar mais alto do que as ondas.
20. IFRS 2016 Quanto mais exigia, menos conseguia. Quanto mais o
buscava para si, mais à outra ele pertencia.
WhatsApp é vício COLASANTI, M. In: Doze Reis e a moça no labirinto do vento.
12. ed. São Paulo: Global, 2006. p. 44.
Estou no restaurante Gero, em São Paulo. Na mesa
próxima, um casal de orientais. Cada um em seu celular.
21. UEL-PR 2015
Durante a refeição não trocam uma palavra. Só teclam.
a) Nos dois últimos períodos, há orações subordi-
Saem juntos, andando e teclando. Em outra ocasião, em
nadas. Transcreva essas orações e classifique-as
Madri, um amigo convidou um grupo para jantar. Um
dos convidados sacou o celular. Ficou conversando com
sintaticamente.
a família no Brasil. E nem se interessou em conhecer o b) Em “menos conseguia” e “mais à outra ele perten-
grupo de espanhóis na mesa! cia”, a relação de sentido que se estabelece é de
A vida com o celular é boa, mas tem armadilhas. Pri- oposição ou de igualdade? Justifique, relacionan-
meiro, a gente corre o risco de trabalhar o tempo inteiro. O do com personagens do conto.
chefe pode chamar a qualquer momento, com um assunto A questão 22 refere-se ao fragmento do livro A Ilha sob
urgente. (Que no passado podia esperar até segunda-feira).
o Mar, de Isabel Allende, São Paulo, Bertrand Brasil, 00.
Também se intromete em minha vida o tempo todo. Por
exemplo, estou jantando com alguém. Ouve-se o toque. Eu, Zarité Sedella, do alto dos meus quarenta anos, posso
A pessoa se lança numa longa conversa, enquanto espero dizer que tive mais sorte que as outras escravas. Vou viver
trucido o peixe em meu prato e tento fazer cara de pai- muito e a minha velhice será feliz porque a minha estre-
sagem. Juro, tento me acostumar. Tornou-se impossível la — minha — brilha também quando a noite está
falar com alguém sem que a pessoa atenda a algumas 5 nublada. Conheço o prazer de estar com o homem escolhido
pelo meu coração quando as suas mãos grandes despertam
ligações, e fale pelo WhatsApp durante boa parte do papo,
a minha pele. Tive quatro filhos e um neto, e os que estão
dividida entre nossa conversa e alguém que não sei. Ri,
vivos são livres. Minha primeira lembrança de felicidade,
enquanto falo de um assunto sério. Mas está rindo do que
quando era uma pirralha magrela e desgrenhada, é a de me
escreveram do outro lado. É muito estranho. Reconheço:
10 mexer ao som dos tambores, e essa é também a minha mais
o WhatsApp tem vantagem. Tenho dois grupos familiares,
recente felicidade, porque na noite passada estive na praça do
um com minhas sobrinhas e outro com meus irmãos. Es-
Congo dançando e dançando, sem pensamentos na cabeça,
tamos sempre atualizados sobre nossas vidas. Sem dúvida
e hoje o meu corpo está quente e cansado. A música é um
a internet une as pessoas. Mas também separa. Porque há
vento levado pelos anos, pelas lembranças e pelo temor, esse
quem não consiga parar de teclar. […]
15 animal preso que carrego dentro de mim. Com os tambores
CARRASCO, Walcyr. In: Revista Época, 25 ago. 2015. (adaptado)
desaparece a Zarité de todos os dias e volto a ser a menina
Observe o período: “Ri, enquanto falo de um assunto que dançava quando mal começava a andar. Bato no chão
sério”. Assinale a alternativa que contém somente infor- com as solas dos pés, e a vida sobe pelas minhas pernas,
mações corretas sobre a oração destacada em itálico. percorre meus ossos, se apodera de mim, acaba com a minha
a) Trata-se de uma oração coordenada, que dá cir- 20 tristeza e adoça a minha memória. O mundo estremece. O
cunstância de tempo ao período. ritmo nasce de uma ilha sob o mar, sacode a terra, me atraves-
b) O período é composto por subordinação e a ora- sa como um relâmpago e segue em direção ao céu, levando
ção destacada é a principal. as minhas aflições para que Papa Bondye as mastigue, engula
e me deixe leve e feliz. Os tambores vencem o medo. Os
c) A oração destacada empresta ideia de condição
25 tambores são a herança da minha mãe, a força da Guiné, que
à oração principal.
está no meu sangue. Ninguém então pode comigo, torno-me
d) O período é composto por coordenação e a
incontrolável como , do amor, e mais veloz que
oração destacada se classifica como sindética o açoite. Os búzios chocalham nos meus tornozelos e nos
conclusiva. meus pulsos, as cabaças perguntam, os tambores
e) É uma oração subordinada, que faz papel de ad- 30 respondem com sua voz de floresta e os , com sua
junto adverbial de tempo em relação ao período. voz de metal, convidam os , que sabem falar, e
o grande , quando o tocam para chamar os loas.
Leia o trecho a seguir, do conto “Onde os oceanos se
Os tambores são sagrados, e é através deles que falam os loas.
encontram”, de Marina Colasanti.
Na casa onde me criei, os tambores permaneciam calados no
Tocada por tamanha paixão, concordou a Morte, ins- 35 quarto que eu dividia com Honoré, o outro escravo, mas fre-
truindo Lânia: na maré vazante deveria colocar o corpo quentemente saíam para passear. Madame Delphine, minha
do moço sobre a areia, com a cabeça voltada para o mar. dona naquele tempo, não queria ouvir o barulho dos negros,
a) apenas I e II. d) apenas III e IV. astronomia tinham permissão para compartilhar sua
b) apenas I, III e IV. e) apenas a IV. sabedoria. Certamente essa posição elitista era muito
c) apenas II e III. peculiar, vinda de alguém que fora educado durante
61
anos dentro da tradição humanista italiana. Será que 24. Unesp-SP 2019 “
Copérnico estava tentando sentir o clima intelectual ver os frutos de suas ideias, Copérnico decerto teria
da época, para ter uma ideia do quão “perigosas” eram odiado a revolução que involuntariamente causou.”
suas ideias? Será que ele não acreditava muito nas suas (o parágrafo)
próprias ideias e, portanto, queria evitar qualquer tipo Em relação ao trecho que o sucede, o trecho subli-
de crítica? Ou será que ele estava tão imerso nos ideais nhado tem sentido de
pitagóricos que realmente não tinha o menor interesse a) consequência.
em tornar populares suas ideias? As razões que possam b) condição.
justificar a atitude de Copérnico são, até hoje, um ponto c) conclusão.
de discussão entre os especialistas. d) concessão.
A dança do universo, 2006. Adaptado. e) causa.
BNCC em foco
EM13LP36
1. EM13LP02
3.
a)
b)
EM13LGG103
2.
a)
b)
15 A obra La calanque é formada por uma série de pontos, técnica conhecida como “pon-
tilhismo”. Nela, cada pontinho se relaciona com os demais, compondo um todo, uma
unidade de sentido. Ao produzirmos um texto, assim como na imagem, os sinais de
pontuação têm um papel importante para a construção de sentidos e contribuem para
evidenciar algo que queremos transmitir ao nosso interlocutor. Do mesmo modo, com-
preender cada um desses sinais é fundamental na leitura, ajudando na recuperação das
ideias centrais do texto. Assim, em qualquer um dos usos da língua – leitura ou escrita –,
devemos observar atentamente o emprego dos sinais de pontuação, que exercem uma
função estilística fundamental para a compreensão do texto.
A pontuação em textos
Leia a notícia a seguir, sobre um projeto denominado “Cartas de amor nas ruas”.
Quando falamos, a maneira como dizemos um enunciado permite levar nosso interlocutor a compreender os sentidos
que pretendemos transmitir. Na escrita, no entanto, a entonação acaba se perdendo, e a pontuação cumpre esse papel,
favorecendo a recuperação das intenções comunicativas dos sujeitos envolvidos na situação de comunicação.
Observe que no título da notícia há um sinal de pontuação – uma interrogação – que sinaliza ao leitor uma pergunta-
-convite: “Vamos escrever uma carta de amor?”. Se esse sinal não fosse usado, o leitor poderia entender que a manchete
traz apenas um fato, uma informação, o que prejudicaria o objetivo comunicacional de quem produziu o texto.
Já no corpo da notícia, podemos perceber que o ponto-final em cada período indica que a ideia transmitida foi encer-
rada, o que fica evidente pelo uso desse sinal de pontuação. Na fala, muitas vezes, o silêncio de uma das partes envolvidas
no processo comunicativo seria suficiente para indicar o fechamento de discurso.
Em tirinhas e histórias em quadrinhos, a pontuação também é muito usada para evidenciar as diferenças de sentido.
Observe os usos da palavra “novidade” no texto a seguir.
No segundo e no terceiro quadros da tirinha, o uso do ponto de exclamação ao final do termo “novidade”, na fala da
mulher, evidencia seu sentimento em relação ao que diz o gerente do banco: ora tristeza, ora desespero. No quarto qua-
dro, no entanto, essa palavra vem seguida de reticências, o que indica que o gerente provavelmente estaria acostumado
com o tipo de pedido feito pela mulher, mostrando seu desânimo diante do ocorrido. As reticências, então, deixam no ar
uma ideia de que o gerente não tem mais esperanças de que aquela situação – descontrole financeiro e consequente
solicitação de empréstimo – mude.
Além de demarcar a entonação, os sinais de pontuação têm outra função importante: separar os elementos que se
intercalam ao núcleo informacional da frase. Assim, enquanto não se separam o sujeito do predicado e o verbo de seus
complementos, o uso da vírgula permite a inserção de outros termos sintáticos que podem favorecer a construção de
sentidos do texto.
Imagine, por exemplo, que o gerente tivesse dito:
A informação destacada precisa ser colocada entre vírgulas porque houve quebra da organização sintática básica da
língua: sujeito, verbo e complemento.
Os diversos sinais de pontuação têm funções específicas no texto, por isso é fundamental conhecer cada um deles.
65
um dos complementos verbais (“a jornalistas”) não aparece Quando vier no fim da sentença, no entanto, a vírgula
após o verbo – como dita o padrão SVC –, mas antes dele. não deve ser utilizada, já que a frase está na ordem direta.
Por esse motivo, é necessário colocar a vírgula logo após
o termo deslocado. Posição do adjunto adverbial – Uso da pontuação
frase na ordem direta
em apenas um dia
Ontem
Nunca Aqui
Considerando a intencionalidade da comunicação,
há diferenças de sentido entre as duas frases: na pri-
Contudo, se o interlocutor desejar dar um destaque
meira, o destaque é “a quem se pediu desculpas”; na
maior à ideia indicada pelo advérbio, a vírgula pode ser utili-
segunda, o foco está em “quem pediu desculpas”. A
zada. Assim, para realçar um sentido, a vírgula é fundamental.
forma como escolhemos apresentar uma informação re-
vela nossos posicionamentos sobre dado assunto e é um
Hoje, Hoje
recurso bastante usual em textos jornalísticos e literários.
d) Isolar um adjunto adverbial anteposto ou intercalado
Observe a manchete a seguir sobre uma quantidade No primeiro exemplo, a frase ressalta o tempo (“hoje”) em
de árvores plantadas durante uma ação em prol do meio que não se quer conversar, dando a entender que, em outro
ambiente. dia, será possível o diálogo. A vírgula, então, é fundamental
para evidenciar essa ideia. A segunda frase, no entanto, sem
Em apenas um dia, voluntários plantam o uso de vírgula após “hoje”, pode ser lida como um todo de
250 milhões de árvores na Índia sentido em que a ideia “não quero mais falar” é mais impor-
CARVALHO, Monique de. Só Notícia Boa, 21 jul. 2021. Disponível em:
tante, sem preocupação com o tempo. Subentende-se, então,
www.sonoticiaboa.com.br/2021/07/21/apenas-dia-voluntarios-plantam-250- que o diálogo não deve mais ser retomado, em tempo algum.
milhoes-arvores-india. Acesso em: 23 jan. 2022.
A vírgula pode ainda ser utilizada quando o adjunto
O termo que inicia a sentença traz uma informação de adverbial empregado (mesmo que seja formado só por um
tempo, evidenciando a duração da ação. Sintaticamente, advérbio) modifica toda a oração. Nesse caso, ele aparece
ele funciona como adjunto adverbial, que pode ser colo- no início ou no final da sentença.
cado no início (antes do sujeito), no meio (intercalado entre
Provavelmente
o sujeito e o verbo, por exemplo) ou no fim da sentença
provavelmente
(após o complemento).
Observe que o uso da vírgula, nesse caso, também dá
Atenção
um destaque à informação expressa na oração sobre a qual
recai o sentido do adjunto adverbial.
e) Isolar o vocativo
Leia a tirinha.
Armandinho, de Alexandre Beck
67
Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito, A frase que inicia a piada apresenta duas orações com
E lá fora um grande silêncio, como um deus que dorme. sentidos completos.
PESSOA, Fernando. Poemas de Alberto Caieiro: obra poética II. Porto Alegre:
L&PM, 2010. p. 89-90. (fragmento). Disponível em: www.dominiopublico.
gov.br/download/texto/pe000001.pdf. Acesso em: 23 jan. 2022.
Edifício pegando fogo, funcionários saindo correndo.
69
Observe o seguinte fragmento:
,e
,e
[...] estrelas são astros luminosos, ou seja, que geram
a própria luz.
Portanto, nos casos em que o “e” não tem valor aditivo,
a vírgula deve ser utilizada antes dessa conjunção.
y Quando o “e” separa orações de sujeitos diferentes
O termo “ou seja” evidencia uma ideia de explicação Quando duas orações, unidas pela conjunção “e”, ti-
entre as orações 1 (“estrelas são astros luminosos”) e 2 verem sujeitos diferentes, a vírgula antes do “e” deve ser
(“ou seja, que geram a própria luz”) e ao ser colocado na usada. A seguir, veja como isso ocorre no fragmento de
frase deixa claro o que o leitor deve entender por “astros notícia sobre as guerras existentes no mundo atual.
luminosos”. Antes e depois de termos desse tipo, devemos
sempre utilizar vírgulas. Guerra civil na Síria
Outros termos na língua que cumprem essa mesma A guerra civil na Síria começou em 2011, depois que o
função são: isto é, por exemplo, a saber, aliás, ou melhor, governo do presidente Bashar al Assad (filho do ex-presidente
entre outros. Hafez al Assad, que governou o país por 30 anos) reprimiu
d) Separar orações coordenadas sindéticas unidas violentamente uma série de manifestações no país, e vários
pela conjunção “e” grupos de oposição tomaram as armas.
De forma geral, em orações unidas por “e” não utiliza- [...]
mos vírgula antes dessa conjunção. No entanto, em alguns Até agora, a guerra civil causou pelo menos 350 mil mortes,
segundo estimativas da ONU, além de 6,6 milhões de desloca-
casos, esse uso é necessário. Isso ocorre:
dos, dos quais 5,6 milhões são refugiados em países vizinhos.
y Quando o “e” não tem valor aditivo Além de Rússia e Ucrânia: Saiba quais são as outras guerras ativas no
Leia um trecho do relato de Sônia Guimarães, a primeira mundo. CNN Brasil, 21 mar. 2022. Disponível em: www.cnnbrasil.com.br/
internacional/alem-de-russia-e-ucrania-saiba-quais-sao-as-outras-guerras-
mulher negra brasileira a se tornar PhD em Física. ativas-no-mundo/. Acesso em: 21 mar. 2022.
Desde pequena sempre fui muito curiosa. Minha avó me Note que o primeiro período do fragmento possui duas
chamava de xereta, e não era um elogio. A verdade é que todo orações com sujeitos diferentes: o termo “o governo do
mundo ficava sem paciência com as perguntas que eu fazia e presidente Bashar al Assad” é o sujeito da primeira oração,
ninguém sabia responder. [...] enquanto “vários grupos de oposição” é o sujeito da segunda.
Ciência Hoje. Contra todas as expectativas. Disponível em: https://cienciahoje.
org.br/artigo/contra-todas-as-expectativas/. Acesso em: 23 jan. 2022.
Considerando, portanto, que o período é formado por duas
orações sequenciais com sujeitos distintos, devemos inserir
Uma característica importante da infância da pesquisa- a vírgula antes da conjunção “e”, que liga as duas orações.
dora – sua curiosidade – foi fundamental para estimulá-la
y Quando o “e” aparece repetido
em sua carreira. Na frase a seguir, Sônia apresenta a visão
de sua avó em relação a ela. Leia o fragmento de outro poema de Alberto Caeiro,
heterônimo de Fernando Pessoa:
Minha avó me chamava de xereta, e não era um elogio.
Olá, guardador de rebanhos,
Aí a beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?
A conjunção “e”, em geral, tem valor aditivo, isto é, intro- Que é vento, e que passa,
duz ideias que se somam, como em: “Ela gosta de estudar E que já passou antes,
e de trabalhar”. No exemplo destacado, porém, o “e” tem E que passará depois.
valor adversativo, já que pode ser substituído facilmente [...]
pela conjunção “mas”, também adversativa: “Minha avó me PESSOA, Fernando. Poemas de Alberto Caieiro: obra poética II. Porto Alegre:
chamava de xereta, mas não era um elogio”. L&PM, 2010. p. 52. (fragmento). Disponível em: www.dominiopublico.gov.br/
download/texto/pe000001.pdf. Acesso em: 23 jan. 2022.
A expressão “ser xereta” também pode ser conside-
rada algo bom, quando a associamos, por exemplo, ao De forma seca, o guardador de rebanhos apresenta sua
desejo de querer aprender cada vez mais. Nesse sentido, visão objetiva para o eu lírico, mostrando uma sucessão de
poderia ser um elogio. No entanto, a pesquisadora afirma opiniões que esclarecem o que diz o vento.
que sua avó pensava justamente o contrário: “não era um Nos versos em que ocorre essa resposta, a vírgula é
elogio”. Assim, a conjunção “e”, nesse enunciado, tem utilizada antes do “e”, separando as orações e evidenciando
evidente valor adversativo, marcando oposição de ideias. uma soma de ideias:
Além de ser utilizada com valor adversativo, a conjunção
Que é vento, e que passa,
“e” – em geral com valor aditivo – pode ser utilizada com
e que já passou antes,
valor consecutivo, ou seja, ligando ideias que indicam
e que passará depois.
uma consequência.
discurso pela oração subordinada, o interlocutor deu maior g) Marcar supressão de uma ou mais palavras
destaque à ideia de tempo expressa pela oração adverbial. Leia o início de um texto sobre o uso de batatas para
Com isso, ressalta-se em que momento deve-se oferecer o desenvolvimento do raciocínio matemático.
71
Dois problemas envolvendo batatas estimulam o raciocínio Para apresentar a cena da fábula, o narrador faz várias
matemático [...]. Um deles envolve desenhar curvas em batatas, afirmações que permitem ao leitor compreender o que está
e o outro, uma situação desconcertante em relação ao peso delas. acontecendo. Por meio delas, sabemos que:
MARICONI, Marco. Ao vencedor, as batatas! Revista Ciência Hoje. Disponível em: y um cão viu e perseguiu um leão.
https://cienciahoje.org.br/artigo/ao-vencedor-as-batatas/. Acesso em: 23 jan. 2022.
y o leão rugiu para o cão.
Ao descrever como são os problemas matemáticos en- y o cão ficou assustado e fugiu.
volvendo o tubérculo, o autor do texto faz uma declaração y a raposa observava a cena e tirou suas conclusões.
em que se pode observar que foi utilizada uma vírgula no y há uma moral possível para a história.
local onde deveria haver o verbo “envolver”. Veja. Esses enunciados foram finalizados com um ponto-final,
evidenciando que as ideias ditas estão completas. Essas
Um deles envolve desenhar curvas em batatas, e o outro frases são chamadas de frases declarativas, pois apresen-
[envolve] uma situação desconcertante [...]. tam uma declaração, uma afirmação sobre algo.
Em “Pobre cão!”, observamos uma entonação que evi-
O mesmo acontece nesta propaganda que alerta para
dencia um sentimento em relação ao ocorrido. É o ponto
o problema da violência contra a mulher.
de exclamação que cumpre o papel de evidenciar o estado
emocional de um interlocutor: tristeza, alegria, dó, surpresa
etc. Os enunciados em que o ponto de exclamação é utili-
zado são chamados de frases exclamativas.
Veja como esse ponto é utilizado na charge a seguir:
ao se referir às pessoas com quem fala, a personagem
usa o vocativo “Mineiros”, finalizado com uma exclamação,
evidenciando que não era apenas um chamamento, mas
um chamar carregado de empolgação.
Reprodução
Terapias de choque
Você estaria disposto a treinar com um colete que libera
correntes elétricas nos músculos para entrar em forma ou a
receber descargas elétricas no rosto para ficar mais jovem?
Acredite, cada vez mais brasileiros estão dizendo sim a
esses procedimentos. As primeiras marcas de EMS, ou eletroes-
timulação muscular, a desembarcar no Brasil foram as alemãs
Miha e XBody, há cerca de quatro anos, com uma promessa
atraente: 00 músculos acionados – tanto os mais super-
ficiais quanto os mais profundos – em apenas 20 minutos
de atividade física com os eletrodos, o que seria equivalente
a 3 horas de malhação convencional.
[...]
LEÃO, Natália. Exame, 26 mar. 2020. Disponível em: https://exame.com/
revista-exame/terapias-de-choque/. Acesso em: 23 jan. 2022.
73
Já os travessões evidenciam a explicação destacada b) Destacar um termo ou expressão
dentro da frase: Releia um excerto do texto anterior.
[...] e na qual se apresentava como “casado”, embora
[...] 300 músculos acionados – tanto os mais superfi- não houvesse nenhum outro indício ou referência a mulher
ciais quanto os mais profundos – em apenas 20 minutos [...] alguma [...]
Nesse trecho, o termo entre aspas evidencia o suposto
estado civil do protagonista, Buell Quain, o que é, na se-
quência, refutado pela fala da professora. Para que essa
Nesse exemplo, em vez de travessão, a autora do texto informação tenha certo destaque no texto, evidenciando ao
também poderia ter utilizado vírgulas. Visualmente, porém, leitor as divergências sobre o estado civil da personagem,
o uso do travessão deixa a explicação com maior destaque a expressão foi colocada entre aspas.
para o leitor. Agora observe o uso das aspas no fragmento de re-
Em síntese, os dois-pontos podem também introduzir pa- portagem a seguir, que fala do processo de produção de
lavras, expressões ou orações que evidenciam explicações uma conhecida marca de panetone.
ou enumerações. Já os travessões destacam para o leitor um ‘Berçário’
esclarecimento sobre o termo antecedente.
A massa do panetone leva basicamente farinha, ovos, man-
Aspas teiga, açúcar, água e fermento natural. Segundo a Bauducco, é o
As aspas podem ter diferentes funções em um texto. fermento (chamado de massa madre) o segredo do seu produto.
Trata-se de uma massa viva, alimentada constantemente e
a) Demarcar diálogo ou fala
manualmente com farinha e água. Sua base é a mesma há 65
Em textos literários, as aspas podem marcar a fala de anos e foi trazida de navio de Turim, na Itália, pelo Sr. Bauducco.
personagens, indicando que há um diálogo. Veja como isso Esse fermento precisa ser armazenado a uma temperatura
ocorre em um trecho do livro Nove noites, de Bernardo de fresca específica (que a Bauducco não revela). Por demandar
Carvalho, que busca compreender os fatos que levaram o tanto cuidado, ela é chamada de “bebê” pela empresa, e a sala
antropólogo americano Buell Quain a cometer suicídio, aos onde fica armazenada, de “berçário”.
27 anos, após passar um período em uma aldeia indígena [....]
no estado de Tocantins. No excerto a seguir, é descrito o MELO, Luísa. Do fermento à caixinha, veja como é feito o panetone na maior
momento em que o autor telefona para uma professora da fábrica do país. G1, 11 dez. 2017. Disponível em: https://g1.globo.com/
economia/noticia/do-fermento-a-caixinha-veja-como-e-feito-o-panetone-na-
Universidade de São Paulo, cuja mãe teria tido contato com maior-fabrica-do-pais.ghtml. Acesso em: 23 jan. 2022.
Quain. Logo no início do contato, ao mencionar o nome do
Em geral, o vocábulo “bebê” diz respeito ao ser huma-
etnólogo, a interlocutora releva: “Ele teve um flerte com ma-
no – ou a outro animal – em seus primeiros anos de vida.
mãe, muito antes de eu nascer, é claro”, causando surpresa.
Nesse texto, porém, ele faz referência a uma massa que é a
O estado civil de Buell Quain era uma das questões para
base para a produção de um panetone, ou seja, foi utilizado
as quais o narrador buscava resposta, pois isso poderia
em seu sentido metafórico, já que a massa dá tanto trabalho
ajudá-lo a compreender as razões que resultaram na morte
para cuidar quanto um bebê. A palavra “berçário”, da mesma
do antropólogo.
forma, foi ressignificada: não é o lugar onde os bebês dor-
A resposta [ao telefonar à professora, o autor do livro re-
mem, mas onde essa massa de panetone fica. Assim, para
cebe uma informação sobre o suposto estado civil de Buell
Quain] me deixou mudo, ainda mais porque àquela altura eu destacar termos que foram utilizados em sentidos diferentes
vinha tentando descobrir, em vão, o nome de uma eventual do original, o uso das aspas se faz necessário.
mulher do jovem antropólogo, desde que havia batido com c) Indicar citação
os olhos numa carta em que ele solicitava ao presidente do
Em textos jornalísticos, a inserção da voz do outro é
Conselho de Fiscalização das Expedições Artísticas e Científi-
demarcada com aspas, e isso confere ao texto maior ve-
cas no Brasil a autorização para a sua pesquisa de campo, ao
chegar ao país, em fevereiro de 1938, e na qual se apresentava racidade, pois o fato é evidenciado a partir do discurso
como “casado”, embora não houvesse nenhum outro indício dos próprios sujeitos envolvidos. Leia o excerto de notícia.
ou referência a mulher alguma em nenhum outro documento Estrelas da Ópera se apresentam para
ou correspondência anterior ou posterior à sua morte.
Fiquei sem ação por um instante. “Mas ele era casado!”,
crianças doentes em Paris
arrisquei. Ao que a professora replicou, entre ofendida e indig- [...]
nada: “Não, não era. Não era assim que ele se apresentava Um momento raro é testemunhado na sala de reanimação
à sociedade do Rio de Janeiro. E não foi assim que se apre- de um hospital infantil em Paris: um menino entubado observa
sentou à minha mãe”. com grande atenção dois dançarinos da Ópera que, em trajes
CARVALHO, Bernardo de. Nove noites. Rio de Janeiro, 2006. p. 18. brilhantes, começam a traçar alguns passos de dança à sua frente.
“Agora vamos fazer o ‘arabesco’...”, explica o bailarino
Os trechos em destaque evidenciam as falas das persona- Hugo Marchand [...] “Viemos cumprimentá-lo e lhe dar um
gens, que fazem parte da narrativa. No primeiro caso, a fala é beijo”, diz ao menino, que responde com um aceno tímido.
atribuída ao narrador, e no segundo, à professora com a qual Em outro quarto do hospital, está um bebê que observa,
conversava. O autor poderia marcar cada uma dessas falas de olhos arregalados, o vestido de Gilbert flutuar no ritmo de
com um sinal de travessão, mas optou pelo uso das aspas. uma pirueta.
75
Se com a vírgula apresentamos pequenas “pausas” de sen- conscientização da sociedade para a preservação, conservação
tido e com o ponto final encerramos de fato uma ideia, o ponto e recuperação do meio ambiente considerando:
e vírgula é o meio do caminho. Na leitura, ele indica uma pausa I – a educação ambiental sob o ponto de vista interdis-
melódica maior que uma vírgula e menor que um ponto-final. ciplinar;
II – o fomento, junto a todos os segmentos da sociedade,
Observe que no enunciado a seguir as orações que com-
da conscientização ambiental;
põem o período estão claramente relacionadas. São orações
III – a necessidade das instituições governamentais es-
de mesma natureza, pois tratam de um assunto em comum, taduais e municipais de realizarem ações conjuntas para o
separadas por ponto e vírgula. planejamento e execução de projetos de educação ambiental,
respeitando as peculiaridades locais e regionais;
Algumas pessoas falam com si mesmas o dia todo; ou- IV – capacitação dos recursos humanos para a operaciona-
tras têm mentes silenciosas. lização da educação ambiental, com vistas ao pleno exercício
da cidadania.
Se nessa mesma frase fosse utilizada uma conjunção Diário Oficial da Assembleia Legislativa. Projeto de lei n.º 154/2009.
Código Estadual do Meio Ambiente do Estado do Rio Grande do Sul. Porto
adversativa e ela viesse deslocada, ou seja, no meio da Alegre, 3 ago. 2009. p. 14. Disponível em: http://proweb.procergs.com.br/
oração (separando sujeito e verbo, por exemplo), o ponto e Diario/DA20090807-01-100000/EX20090807-01-100000-PL-154-2009.pdf.
Acesso em: 23 jan. 2022.
vírgula também poderia ser usado. Compare os exemplos:
Em síntese, podemos dizer que o ponto e vírgula:
Algumas pessoas falam com si mesmas o dia todo, no y separa orações que tratam de um assunto comum
entanto, outras têm mentes silenciosas. dentro de um mesmo período;
y separa orações quando a segunda apresenta conjun-
ção adversativa deslocada;
y separa orações quando na segunda é feito o uso de
vírgula;
y separa orações quando na segunda se observa su-
Algumas pessoas falam com si mesmas o dia pressão de palavras;
todo; outras, no entanto, têm mentes silenciosas. y separa diversos itens de um enunciado enumerativo.
Reticências
Observe os usos das reticências na reportagem de
divulgação científica a seguir:
O ponto e vírgula também pode ser utilizado no enun- 7 mitos e meio sobre o cérebro derrubados
ciado quando na segunda oração há o uso de vírgula. É o
[...]
que acontece nesta passagem do artigo lido anteriormente.
3. Suas emoções estão em seu coração
Algumas formam imagens mentais vívidas; em outras, Quando a emoção o invade, “quando você sente o bati-
o olho da mente é cego. mento cardíaco, não o sente no peito, mas na cabeça”.
“É difícil de entender, mas você não sente nada em seu
corpo, tudo o que você sente está em seu cérebro.”
A dor, a alegria... tudo, porque o cérebro é quem escreve
a história, ele é o narrador.
Observe que, na segunda oração, há a omissão de uma E abriga as paixões nas profundezas de sua parte mais antiga...
informação: “em outras [pessoas] o olho da mente é cego”. 4. Você tem uma ‘besta interior’
Bem... não é assim. [...]
Assim, percebemos que o uso de vírgula se justifica pelo
“[...] as regiões do cérebro que foram marcadas como sua
fato de haver um termo oculto na sentença.
besta interior são, na verdade, aquelas que controlam seu cor-
Na manchete a seguir, o ponto e vírgula evidencia essa po – seus pulmões, seu coração, seu sistema imunológico, seu
ideia, pois, em vez de afirmar que “em outros 109 [países] metabolismo... seu corpo físico inteiro. E alguns de eles (sic)
há restrições”, o jornalista omite a palavra “países”. estão no centro da memória, tomada de decisão, racionalidade
Brasileiros podem viajar livremente e percepção”.
a 6 países; em outros 109 há restrições “Essas regiões estão praticamente envolvidas em tudo que
seu cérebro faz.”
Nossa, 16 jul. 2021. Disponível em: www.uol.com.br/nossa/noticias/
redacao/2021/07/16/brasileiros-podem-viajar-livremente-a-6-paises-em-
[...]
outros-109-ha-restricoes.htm. Acesso em: 21 mar. 2022. VENTURA, Dalia. BBC News, 18 jul 2021. Disponível em: www.bbc.com/
portuguese/geral-57880463 . Acesso em: 21 mar. 2022.
Por fim, o ponto e vírgula costuma ser utilizado ao final
de itens enumerados em um texto, como ocorre, por exem- As reticências podem ser utilizadas de diversas formas
plo, em documentos oficiais. no texto. Elas podem, por exemplo, indicar:
a) a continuidade de uma ideia
Capítulo V No trecho “A dor, a alegria... tudo”, as reticências
Da Educação Ambiental marcam que outras sensações (além de “dor” e “alegria”)
Art. 38 – Compete ao Poder Público promover a edu- poderiam ser mencionadas para mostrar tudo o que está
cação ambiental em todos os níveis de sua atuação e a em nosso cérebro.
77
O jornalista fez uso de aspas para indicar que a fala era
“[...] E alguns de eles (sic) estão no centro da memória,
do próprio ator, mas precisou fazer algumas modificações
tomada de decisão, racionalidade e percepção”
no texto, inserindo alguns esclarecimentos para que o leitor
Em vez de registrar “deles”, o jornalista enganou-se e es- compreendesse a informação na íntegra. Por esse motivo,
creveu “de eles”. A expressão “sic”, colocada entre parênteses foram acrescentadas duas informações entre colchetes. A
logo após o equívoco, sinaliza que o problema foi percebido primeira – “[banco]” – evita uma possível ambiguidade, já
por quem fez a transcrição, mas optou-se pela não correção. que é preciso deixar claro que, ao dizer “minha mãe no pas-
sageiro”, o ator se referia ao local onde sua mãe estava na
Colchetes hora do acidente: no banco do passageiro. A segunda infor-
Compare os trechos a seguir: mação – “[motorista]” – esclarece a quem o pronome “ele”
se refere no trecho “E ele, completamente imprudente [...].”.
TEXTO ORIGINAL TEXTO MODIFICADO
O colchete demarca que aquelas palavras foram inseridas
Há muitos anos esta de- pelo jornalista, mas não foram ditas pelo autor. Como o frag-
claração foi aprovada, mas mento está entre aspas, qualquer modificação no texto precisa
ainda existem países que não ser sinalizada com o colchete, que indica os acréscimos.
[Declaração
obedecem a este documen- Universal dos Direitos Em alguns textos, essa função do colchete é também
to. Para que isto aconteça, é Humanos] demarcada com o uso de parênteses. Na sequência, veja
preciso que todos aprendam,
em outro trecho do texto “7 mitos e meio sobre o cérebro
nas escolas de todo o mundo,
derrubados” como a jornalista responsável pela matéria
o conteúdo desta declaração.
demarca sua voz com esse sinal de pontuação, diferencian-
do-o da voz de Lisa Feldman Barrett, pesquisadora sobre
o funcionamento do cérebro.
“Os pássaros são animais muito interessantes porque há
partes do cérebro deles, nas quais os neurônios se regeneram a
O fragmento original encerra um livro que procura cada ano para aprender novas canções para atrair parceiros. Na
explicar, de forma simples, um pouco da Declaração Uni- verdade, foi assim que a plasticidade (do cérebro) foi descoberta”.
versal dos Direitos Humanos para crianças. Tem, portanto, VENTURA, Dalia. BBC News, 18 jul. 2021. Disponível em: www.bbc.com/
o objetivo de divulgar entre esse grupo de leitores alguns portuguese/geral-57880463 . Acesso em: 21 mar. 2022.
aspectos importantes da vida social. O trecho “do cérebro”, colocado entre parênteses, é
Ao ler o trecho “Há muitos anos esta declaração foi uma inserção que não foi dita pela pesquisadora à repórter,
aprovada”, não é possível saber a qual declaração o autor mas esta, pensando em uma maior clareza do texto, optou
faz referência quando retiramos esse parágrafo de seu con- por acrescentar a informação. Nesse caso, portanto, os pa-
texto original. Assim, é fundamental que, se for transcrito, rênteses têm a mesma função do colchete: introdução de
o fragmento traga essa informação, a fim de explicitar ao
uma informação nova e demarcação de autoria.
leitor do texto modificado que o parágrafo faz referência à
Por fim, os colchetes (ou parênteses) também podem
Declaração Universal dos Direitos Humanos.
ser usados para marcar um apagamento textual. Nesse
Este é um contexto em que o uso do colchete se faz
caso, esses sinais são usados com três pontos. Veja como
necessário: ele traz uma informação a mais, em textos trans-
esse recurso foi utilizado ao final do texto para indicar que
critos, de forma a esclarecer a que se refere uma palavra
havia ainda mais coisas a serem lidas.
ou trecho citado.
Compare os mesmos trechos apresentados anteriormente:
Há muitos anos esta declaração [Declaração Universal
dos Direitos Humanos] foi aprovada. TEXTO ORIGINAL TEXTO MODIFICADO
Há muitos anos esta de-
claração foi aprovada, mas
ainda existem países que não
obedecem a este documento.
Em depoimentos que são inseridos em textos jornalísti- Para que isto aconteça, é pre-
cos, o uso do colchete é bastante comum. O texto a seguir ciso que todos aprendam, nas
[...]
é um relato de um ator mirim que explica o motivo de não escolas de todo o mundo, o [...]
ter mais voltado a atuar na TV. conteúdo desta declaração.
“Foi bem grave. Estava um amigo do meu pai, era uma
Saveiro, então não tem banco de trás. Minha mãe no passa-
geiro [banco] e eu no colo dela. Estávamos todos sem cinto.
E ele [motorista] completamente imprudente, foi fazer uma
ultrapassagem na curva… Acabou batendo de frente com um
carro bem maior”, relatou o jovem, hoje com 18 anos [...]. É importante que a supressão indicada pelos sinais de
BRANDÃO, Felipe. Acidente interrompeu carreira de ator infantil de A vida da pontuação destacados na segunda coluna garanta ainda a
gente: “Fui forçado”. Observatório da TV, 15 jul. 2021. Disponível em: https://
observatoriodatv.uol.com.br/noticias/acidente-interrompeu-carreira-de-ator- unidade de sentido do texto. Ou seja, o “corte” não pode
infantil-de-a-vida-da-gente-fui-forcado. Acesso em: 23 jan. 2022. prejudicar a compreensão textual.
Pontuação expressiva
O uso dos sinais de pontuação, além de contribuir para a organização sintática da sentença e favorecer a coesão,
pode ser um recurso de expressividade. O excerto de crônica a seguir, de autoria de Lima Barreto, narra, apenas por
meio de diálogos, a conversa entre duas personagens sobre um encontro que tiveram anteriormente em um local onde
havia barraquinhas que distribuíam prêmios (mafuá), o que resultou na prisão de um deles. Observe, no trecho, como a
presença de diversos pontos de exclamação contribuem para evidenciar ao leitor os sentimentos das personagens du-
rante o diálogo descrito.
Coisas de “mafuá”
— Mas, onde esteve você, Jaime?
— Onde estive?
— Sim; onde você esteve?
— Estive no xadrez.
— Como?
— Por causa de você.
— Por minha causa? Explique-se, vá!
— Desde que você se meteu como barraqueiro do imponente Bento, consultor técnico do “mafuá” do padre A, que o azar
me persegue.
— Então eu havia de deixar de ganhar uns “cobres”?
— Não sei; a verdade, porém, é que essas relações entre você, Bento e “mafuá” trouxeram-me urucubaca. Não se lembra
você da questão do pau?
— Isto foi há tanto tempo!... Demais o Capitão Bento nada tinha a ver com o caso. Ele só pagou para derrubar a árvore; mas
você...
— Vendi o pau, para lenha, é verdade. Uma coisa à toa de que você fez um “lelé” medonho e, por causa, quase nós brigamos.
— Mas o capitão não tinha nada com o caso.
— À vista de todos, não; mas foi o azar dele que envenenou a questão.
— Qual, azar! qual nada! O capitão tem os seus “quandos” e não há negócios que se meta, que não lhe renda bastante.
— Isto é para ele; mas, para os outros que se metem com ele, sempre a roda desanda.
— Comigo não se tem dado isso.
— Como, não?
— Sim. Tenho ganho “algum” — como posso me queixar?
— Grande coisa! O dinheiro que ele te dá, não serve pra nada. Mal vem, logo vai.
[...]
BARRETO, Lima. Domínio público.
Além disso, as interrogações ao final de algumas falas marcam a indicação de perguntas diretas para que o diálogo
ocorra. As reticências, por sua vez, mostram que uma das personagens estava confusa, incerta, sem saber o que pensar
diante do que foi questionado, podendo sugerir, ainda, ao final de “mas você...” que algo a mais seria dito na sequência,
o que não foi feito.
Releia o trecho a seguir e observe os efeitos de sentido que esses sinais de pontuação atribuem ao texto:
— Não sei; a verdade, porém, é que essas relações entre você, Bento e “mafuá” trouxeram-me urucubaca. Não se lembra
você da questão do pau?
— Isto foi há tanto tempo!... Demais o Capitão Bento nada tinha a ver com o caso. Ele só pagou para derrubar a arvore;
mas você...
Lima Barreto
FRENTE 1
Na crônica, portanto, os diferentes usos de pontuação (exclamação, interrogação e reticências) reforçam a expressi-
vidade do discurso, contribuindo para que o leitor possa atribuir sentidos a aquilo que lê.
79
Uso ou não da vírgula O uso ou não da vírgula também implica diferenças de
A escolha pelo uso ou não da vírgula também é funda- sentido em frases em que um vocativo é confundido com o
mental para a construção de sentidos em um texto. Note sujeito da oração. Retomando um trecho da conversa entre
as diferenças de sentido que os dois enunciados a seguir os estudantes, percebemos, na primeira fala, que os usos da
podem apresentar: vírgula indicam que “Douglas” seria o sujeito da oração, isto é,
ele é o responsável por ter feito a ligação; portanto, a expres-
são “o professor de Física” funciona como aposto explicativo,
acrescentando uma informação sobre quem seria “Douglas”.
Porém, se nesse enunciado fosse utilizada apenas a
primeira vírgula, teríamos: “Douglas, o professor de Física
ligou”. Nesse caso, “Douglas” seria o interlocutor de Carla,
Observe este outro exemplo em que a maneira de usar seu colega de classe, e não o professor. A vírgula eviden-
a vírgula impacta na compreensão do texto. ciaria, então, um vocativo. Na história a seguir, veja como
a falta de compreensão sobre o que deve ser escrito está
relacionada a esse problema sintático.
Professora e
Aluno João
demais alunos
k.com
Artem Mashchenk
Mãe Mãe
Revisando
1. UnB-DF 2019 O Brasil tem atualmente cerca de 600 terras indígenas, que abrigam 227 povos, com um total de aproxi-
madamente 480 mil pessoas. Essas reservas representam 13% do território nacional, ou seja, 109,6 milhões de hectares.
A maior parte está na chamada Amazônia Legal, que abrange os estados de Tocantins, Mato Grosso, Maranhão, Roraima,
Rondônia, Pará, Amapá, Acre e Amazonas. Isso se tornou o grande pomo da discórdia por causa do choque com arrozeiros,
pecuaristas, madeireiros e garimpeiros que atuam ilegalmente nas reservas.
Luiz Carlos Azedo.Nas entrelinhas, “A língua do índio”. CorreioBraziliense, Política, 19/12/2018, p. 2 (com adaptações).
Com relação às ideias e aos aspectos linguísticos do texto precedente, julgue o item:
No trecho “Tocantins, Mato Grosso, Maranhão, Roraima, Rondônia, Pará, Amapá, Acre e Amazonas”, as vírgulas
foram empregadas para separar termos em uma enumeração.
2. UFGD-MS 2015
Quem é esta senhora? — Perguntei a Sá.
A resposta foi o sorriso inexprimível, mistura de sarcasmo, de bonomia e fatuidade, que desperta nos elegantes da corte
a ignorância de um amigo, profano na difícil ciência das banalidades sociais.
— Não é uma senhora, Paulo! É uma mulher bonita. Queres conhecê-la?. . .
FRENTE 1
Compreendi e corei de minha simplicidade provinciana, que confundira a máscara hipócrita do vício com o mo-
desto recato da inocência. Só então notei que aquela moça estava só, e que a ausência de um pai, de um marido, ou
de um irmão devia-me ter feito suspeitar a verdade.
81
Depois de algumas voltas descobrimos ao longe a a) opinião sobre o uso de jeans, camiseta e mocassins.
ondulação do seu vestido, e fomos encontrá-la, retirada b) explicação sobre a simbologia de sapatos e
a um canto, distribuindo algumas pequenas moedas de roupas.
prata à multidão de pobres que a cercava. Voltou-se con- c) conclusão acerca da oposição entre otimismo e
fusa ouvindo Sá pronunciar o seu nome: realidade.
— Lúcia! d) comparação entre ostentação e conforto em ter-
— Não há modos de livrar-se uma pessoa desta gente!
mos de vestuário.
São de uma impertinência! disse ela mostrando os pobres
e) retomada da ideia de negociação discutida no pri-
e esquivando-se aos seus agradecimentos.
meiro parágrafo.
Feita a apresentação no tom desdenhoso e altivo com
que um moço distinto se dirige a essas sultanas do ouro, e
trocadas algumas palavras triviais, meu amigo perguntou-lhe: 4. Enem 2020
— Vieste só?
O ouro do século 21
— Em corpo e alma.
— E não tens companhia para a volta? Cério, gadolínio, lutécio, promécio e érbio; sumá-
Ela fez um gesto negativo. rio, térbio e disprósio; hólmio, túlio e itérbio. Essa lista
— Neste caso ofereço-te a minha, ou antes a nossa. de nomes esquisitos e pouco conhecidos pode parecer a
— Em qualquer outra ocasião aceitaria com muito escalação de um time de futebol, que ainda teria no ban-
prazer; hoje não posso. co de reservas lantânio, neodímio, praseodímio, európio,
— Já vejo que não foste franca! escândio e ítrio. Mas esses 17 metais, chamados de ter-
— Não acredita?... Se eu viesse por passeio! ras-raras, fazem parte da vida de quase todos os humanos
— E qual é o outro motivo que te pode trazer à festa da do planeta. Chamados por muitos de “ouro do século 21”,
Glória? “elementos do futuro” ou “vitaminas da indústria”, eles
— A senhora veio talvez por devoção? disse eu. estão nos materiais usados na fabricação de lâmpadas,
— A Lúcia devota!... Bem se vê que a não conheces. telas de computadores, tablets e celulares, motores de
— Um dia no ano não é muito, respondeu ela sorrindo. carros elétricos, baterias e até turbinas eólicas. Apesar de
ALENCAR, José de. Lucíola. 12ª ed., São Paulo: Ática, 1988, capítulo II tantas aplicações, o Brasil, dono da segunda maior reserva
do mundo desses metais, parou de extraí-los e usá-los em
Assinale a alternativa em que a retirada da(s) vírgula(s) 2002. Agora, volta a pensar em retomar sua exploração.
altera semanticamente a frase: SILVEIRA. E. Disponível em: www.revistaplaneta.com.br.
a) Lúcia, a jovem de 19 anos, era a mais linda da Acesso em: 6 dez. 2017 (adaptado).
festa. (a segunda vírgula)
As aspas sinalizam expressões metafóricas emprega-
b) Lúcia saiu da festa da Glória, sorrateiramente.
das intencionalmente pelo autor do texto para
c) Lúcia iniciou, naquele momento, uma distribuição
a) imprimir um tom irônico à reportagem.
de moedas pratas. (as duas vírgulas)
b) incorporar citações de especialistas à reportagem.
d) Ontem, Lúcia foi à festa da Glória.
c) atribuir maior valor aos metais, objeto da repor-
e) Tranquilamente, Lúcia chegou à festa da Glória.
tagem.
d) esclarecer termos científicos empregados na re-
3. Enem 2020
portagem.
Muito do que gastamos (e nos desgastamos) nesse
e) marcar a apropriação de termos de outra ciência
consumismo feroz podia ser negociado com a gente mes-
pela reportagem.
mo: uma hora de alegria em troca daquele sapato. Uma
tarde de amor em troca da prestação do carro do ano; um
fim de semana em família em lugar daquele trabalho extra 5. Enem 2018
que está me matando e ainda por cima detesto.
Física com a boca
Não sei se sou otimista demais, ou fora da realidade.
Mas, à medida que fui gostando mais do meu jeans, cami- Por que nossa voz fica tremida ao falar na frente do
seta e mocassins, me agitando menos, querendo ter menos, ventilador?
fui ficando mais tranquila e mais divertida. Sapato e roupa Além de ventinho, o ventilador gera ondas sonoras.
simbolizam bem mais do que isso que são: representam Quando você não tem mais o que fazer e fica falando
uma escolha de vida, uma postura interior. na frente dele, as ondas da voz se propagam na direção
Nunca fui modelo de nada, graças a Deus. Mas amadu- contrária às do ventilador. Davi Akkerman – presidente
recer me obrigou a fazer muita faxina nos armários da alma da Associação Brasileira para a Qualidade Acústica – diz
e na bolsa também. Resistir a certas tentações é burrice; mas que isso causa o mismatch, nome bacana para o desen-
fugir de outras pode ser crescimento, e muito mais alegria. contro entre as ondas. “O vento também contribui para
LUFT, L.Pensar é transgredir. Rio de Janeiro: Record, 2011. a distorção da voz, pelo fato de ser uma vibração que
influencia no som”, diz. Assim, o ruído do ventilador e a
Nesse texto, há duas ocorrências de dois-pontos. Na influência do vento na propagação das ondas contribuem
primeira, eles anunciam uma enumeração das nego- para distorcer sua bela voz.
ciações que podemos fazer conosco. Na segunda, Disponível em: http://super.abril.com.br.
eles introduzem uma Acesso em: 30 jul. 2012 (adaptado).
Os sinais de pontuação são elementos com impor- e) Em “tinha os seus companheiros, e a sua fama de
tantes funções para a progressão temática. Nesse violeiro”, a vírgula é utilizada para separar sujeitos
miniconto, as reticências foram utilizadas para indicar diferentes.
83
Exercícios propostos
sabe? Esse jeito de olhar razões para fazer algo, ao invés c) à Disney
de olhar razões para não fazer algo. Você nunca é jovem d) só mostrou
demais para se engajar. e) chineses em papéis
85
6. Uece 2015 Realidade e cção estão aqui entranhadas numa nar-
rativa que embaralha sem cessar memória biográca
A garagem de casa e cção”.
Com o portão enguiçado, e num convite a ladrões “Ou by serendipity, como dizem os ingleses
de livros, a garagem de casa lembra uma biblioteca pú- quando na caça a um tesouro se tem a felicidade de
blica permanentemente aberta para a rua. Mas não são deparar com outro bem, mais precioso ainda.” Leia o
adeptos de literatura os indivíduos que ali se abrigam
que se diz sobre o enunciado acima.
da chuva ou do sol a pino de verão. Esses desocupados
I. Estaria de acordo com os ensinamentos da gra-
matam o tempo jogando porrinha, ou lendo os jornais
mática normativa o acréscimo de duas vírgulas
velhos que mamãe amontoa num canto, sentados nos
degraus do escadote com que ela alcança as prateleiras ao enunciado: Ou by serendipity, como dizem os
altas. Já quando fazem o obséquio de me liberar o espaço, ingleses quando, na caça a um tesouro, se tem
de tempos em tempos entro para olhar as estantes onde a felicidade de deparar com outro bem, mais pre-
há de tudo um pouco, em boa parte remessas de editores cioso ainda.
estrangeiros que têm apreço pelo meu pai. Num reduto II. A regra que ampara o emprego das vírgulas
de literatura tão sortida, como bem sabem os habitués de acrescentadas é a seguinte: Separa-se com vírgu-
sebos, fascina a perspectiva de por puro acaso dar com las o adjunto adverbial deslocado ou intercalado.
um livro bom. Ou by serendipity, como dizem os ingle- III. Haveria diferença de sentido e de classe gra-
ses quando na caça a um tesouro se tem a felicidade de matical se mudássemos a posição da vírgula em
deparar com outro bem, mais precioso ainda. Hoje revejo “a felicidade de deparar com outro bem, mais
na mesma prateleira velhos conhecidos, algumas dezenas precioso ainda”, que passaria a “felicidade de
de livros turcos, ou búlgaros ou húngaros, que papai é
deparar com outro, bem mais precioso ainda”.
capaz de um dia querer destrinchar. Também continua em
Na estrutura do texto, bem é um substantivo, e a
evidência o livro do poeta romeno Eminescu, que papai ao
expressão tem o seguinte sentido: deparar com
menos tentou ler, como é fácil inferir das folhas cortadas
a espátula. Há uma edição em alfabeto árabe das Mil e
outra coisa que não é um tesouro, porém é mais
Uma Noites que ele não leu, mas cujas ilustrações admi- precioso do que um tesouro. Na estrutura modi-
rou longamente, como denunciam os filetes de cinzas na ficada – “com outro, bem mais precioso ainda”,
junção das suas páginas coloridas. Hoje tenho experiência bem seria um advérbio, e a expressão teria o se-
para saber quantas vezes meu pai leu um mesmo livro, guinte sentido: deparar com outro tesouro bem
posso quase medir quantos minutos ele se deteve em cada mais precioso do que aquele que se procurava.
página. E não costumo perder tempo com livros que ele Está correto o que se diz em
nem sequer abriu, entre os quais uns poucos eleitos que a) I, II e III. c) I e III apenas.
mamãe teve o capricho de empilhar numa ponta de pra-
b) I e II apenas. d) II e III apenas.
teleira, confiando numa futura redenção. Muitas vezes a
vi de manhãzinha compadecida dos livros estatelados no
escritório, com especial carinho pelos que trazem a foto 7. Unifesp 2019
do autor na capa e que papai despreza: parece disco de
cantor de rádio.
Chico Buarque. O irmão alemão. 1. ed. São Paulo. Companhia das letras.
2014. p. 60-61. Texto adaptado com o acréscimo do título.
de uma cultura, como também “contêm uma explicação África, judeus da Índia, isto sem falar nos beduínos com
geral do mundo, onde cabe todo o mal e todo o bem, e seus camelos: tipos muito esquisitos, Guedali.
onde sempre se encontra o caminho para romper os mais Tipos esquisitos – aquilo me dava ideias.
87
Por que não ir para Israel? Num país de gente tão es- jovens vivem pensando que eles não têm mais condições
25 tranha – e, ainda por cima, em guerra – eu certamente não 30 de viver. Eles se sentam e pensam muito, se perdem e se
chamaria a atenção. Ainda menos como combatente, entre suicidam.’ Rosalino Ortiz, Guarani
a poeira e a fumaça dos incêndios. Eu me via correndo Disponível em: www.survivalbrasil.org/povos/indios-brasileiros.
Acesso em: 28 abr. 2017.
pelas ruelas de uma aldeia, empunhando um revólver trinta
e oito, atirando sem cessar; eu me via caindo, varado de Com base na leitura do texto e nas expressões em
30 balas. Aquela, sim, era a morte que eu almejava, morte destaque, assinale a alternativaINCORRETA.
heroica, esplêndida justificativa para uma vida miserável, a) No trecho “Nós não sabíamos que os brancos
de monstro encurralado. E, caso não morresse, poderia vi- iam tirar a nossa terra. Nós não sabíamos de
ver depois num kibutz. Eu, que conhecia tão bem a vida nada sobre o desmatamento. Nós não sabíamos
numa fazenda, teria muito a fazer ali. Trabalhador dedicado, sobre as leis dos homens brancos.” (linhas 4-) a
35 os membros do kibutz terminariam por me aceitar; numa repetição de “nós não sabíamos” tem a função de
nova sociedade há lugar para todos, mesmo os de patas
ressaltar informações que o índio desconhecia.
de cavalo.
b) O trecho “Hoje, o Brasil tem planos agressivos para
Adaptado de: SCLIAR, M. O centauro no jardim. 9. ed. Porto Alegre: L&PM, 2001.
desenvolver e industrializar a Amazônia”, (linhas 8
Assinale a proposta de mudança no emprego de e 9), se modificado para “Hoje, no Brasil, _______
vírgula que mantém a correção e o sentido do enun- planos agressivos para desenvolver e industrializar
ciado original. a Amazônia”, deveria, de acordo com a modalida-
a) Colocação de vírgula imediatamente após expe- de formal da língua portuguesa, fazer uso do verbo
riências (l. 3). HAVER para preencher a lacuna.
b) Colocação de vírgula imediatamente após Feliz- c) No trecho “Hoje, o Brasil tem planos agressivos
mente (l. 9). para desenvolver e industrializar a Amazônia”. (li-
c) Colocação de vírgula imediatamente após que nhas 8 e 9) O uso da palavra ‘agressivos’ indica
(l. 12). posição ideológica do autor, ou seja, não há neu-
d) Colocação de vírgula imediatamente após país tralidade na informação.
(l. 24). d) No trecho “Nos 514 anos desde que os europeus
e) Colocação de vírgula imediatamente após morte chegaram ao Brasil, os povos indígenas sofreram
(l. 3). genocídio em grande escala, e perda da maioria
de suas terras”, (linhas 1-3) a vírgula antes da con-
10. UFU-MG 2017 junção e está adequadamente empregada.
Desafios atuais e ameaças 11. Unesp 2018 Leia o excerto do “Sermão do bom ladrão”,
Nos 514 anos desde que os europeus chegaram ao Brasil, de Antônio Vieira (60-6), para responder à questão.
os povos indígenas sofreram genocídio em grande escala,
Navegava Alexandre [Magno] em uma poderosa ar-
e perda da maioria de suas terras.
mada pelo Mar Eritreu a conquistar a Índia; e como fosse
‘Nós não sabíamos que os brancos iam tirar a nossa
trazido à sua presença um pirata, que por ali andava rou-
5 terra. Nós não sabíamos de nada sobre o desmatamen-
bando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de
to. Nós não sabíamos sobre as leis dos homens brancos.’
andar em tão mau ofício; porém ele, que não era me-
(Enawenê Nawê)
droso nem lerdo, respondeu assim: “Basta, Senhor, que
Hoje, o Brasil tem planos agressivos para desenvolver
eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, por-
e industrializar a Amazônia. Até os territórios mais remotos
que roubais em uma armada, sois imperador?”. Assim é.
10 estão agora sob ameaça. Vários complexos de barragens
hidrelétricas estão sendo construídos perto de tribos iso- O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar
ladas, e eles também irão privar milhares de outros índios com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Ale-
da terra, água e meios de subsistência. Os complexos de xandres. Mas Sêneca, que sabia bem distinguir as qualidades,
barragens irão fornecer energia barata para as empresas de e interpretar as significações, a uns e outros, definiu com o
15 mineração, que estão prestes a realizar a mineração em mesmo nome: [...] Se o rei de Macedônia, ou qualquer outro,
grande escala nas terras indígenas se o Congresso aprovar fizer o que faz o ladrão e o pirata; o ladrão, o pirata e o rei,
um projeto de lei que está sendo empurrado duramente todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome.
pelo lobby de mineração. Quando li isto em Sêneca, não me admirei tanto de que
Muitas tribos do sul do país como os Guarani vivem um filósofo estoico se atrevesse a escrever uma tal sentença
20 em condições desumanas sob barracos de lona em beiras em Roma, reinando nela Nero; o que mais me admirou, e
de estradas. Seus líderes estão sendo sistematicamente quase envergonhou, foi que os nossos oradores evangélicos
atacados e mortos por milícias privadas de pistoleiros con- em tempo de príncipes católicos, ou para a emenda, ou
tratados pelos fazendeiros para evitar que eles ocupem para a cautela, não preguem a mesma doutrina. Saibam
sua terra ancestral. Muitos Guarani cometem suicídio em estes eloquentes mudos que mais ofendem os reis com o
25 desespero com a falta de qualquer futuro significativo. que calam que com o que disserem; porque a confiança
Os Guarani estão se suicidando por falta de terra. com que isto se diz é sinal que lhes não toca, e que se não
‘A gente antigamente tinha a liberdade, mas hoje em dia podem ofender; e a cautela com que se cala é argumento
nós não temos mais liberdade. Então, por isso, os nossos de que se ofenderão, porque lhes pode tocar. [...]
I. As vírgulas das linhas 2 e 3 poderiam ser substituí- os sádicos cupins estivessem querendo apenas debochar
das por travessões sem prejuízos ao sentido e à dele. Cupins e Van Gogh, era tudo a mesma coisa.
correção do texto. O Imaginário cotidiano, 2002.
89
Tendo em vista a ordem inversa da frase, verica-se o a) Destacar o vocativo.
emprego de vírgula para separar um termo que exer- b) Indicar um aposto.
ce a função de sujeito em: c) Separar uma oração subordinada adjetiva explicativa.
a) “Deu-lhe muito trabalho, aquilo.” (4o parágrafo) d) Separar uma oração coordenada assindética.
b) “Em vez de atacar as obras de arte, os cupins pre- e) Enumerar termos de mesmo valor sintático.
feriram as vigas de sustentação do prédio, feitas
de madeira absolutamente vulgar.” (6o parágrafo) 15. UnB-DF 2014
c) “Para ele era repulsivo, mas para os insetos era
agradável, e isso era o que importava.” (5o pará-
grafo)
d) “Não, usaria um método científico, recorrendo a
aliados absolutamente insuspeitados: os cupins.”
(3o parágrafo)
não ser nele e no que pode fazer para embaraçá-lo. a levantar a pesada e lacrada tampa de metal. Eu ficava
O tímido vive acossado pela catástrofe possível. Vai com a responsabilidade de descer às profundezas do lodo.
tropeçar e cair e levar junto a anfitriã. Vai ser acusado do Tirava toda a roupa – a mãe não perdoaria o petróleo
91
do esgoto – e pulava de cueca, apalpando às cegas o José João Craveirinha foi o primeiro autor africano
fundo com as mãos. Esquecia a nojeira imaginando as que ganhou o Prêmio Camões, o mais importante
recompensas. Repartia os lucros com os colegas que me prêmio literário da língua portuguesa. Sobre o poe-
acompanhavam nas expedições ao submundo de Porto maGrito Negro, éINCORRETOarmar que
Alegre. Lembro que compramos uma bola de futebol com a) nos versos “Eu sou carvão!” (linha 1), “Eu sou
a arrecadação de duas semanas. carvão;” (linha 11), “Eu sou carvão.” (linha 1), a
Espantoso o número de itens perdidos. Assim como pontuação demonstra, respectivamente, expres-
os professores paravam no meu colégio, acreditava na sividade, causa e desumanização.
greve dos objetos: moedas e anéis rolavam e cédulas b) os versos “Tenho que arder / Queimar tudo com o
voavam dos bolsos para protestar por melhores condições. fogo da minha combustão.” (linhas 17 e 18) apre-
Sofria para me manter estável, pois nunca pedia di- sentam o momento de indignação, fazendo o eu
nheiro a ninguém. Desde cedo, descobri que vadiar é lírico erguer-se contra o opressor.
também trabalhar duro. c) o poema apresenta o negro conformado à con-
Disponível em: http://carpinejar.blogspot.com.br/2016/06/achado-nao-e-
roubado.html. Acesso em: 22 jun. 2016.
dição imposta e aceitando trabalhar e servir aos
seus senhores.
Quanto à pontuação do texto, são feitas as seguintes
d) o poema discute questões raciais, quando a cor
armações: do carvão remete à cor da pele negra e o jogo
I. O emprego da vírgula em “Recebia casa, comida e metafórico apresenta a relação entre as caracte-
roupa lavada e...” apresenta a mesma justificativa rísticas do carvão e a ação de queimar.
do que o usado em “Convidava com frequência o
Liquinho, vulgo Ricardo”.
20. UFPR 2020
II. Os travessões empregados em “Tirava toda a
roupa – a mãe não perdoaria o petróleo do esgo- O jogo do salário mínimo
to – e pulava de cueca” poderiam ser substituídos [...] Em menos de trinta minutos, dois times cente-
por parênteses sem acarretar prejuízo semântico. nários do futebol carioca, Bonsucesso e Olaria, vão se
enfrentar num jogo-treino, na preparação para a disputa
III. O uso dos dois-pontos em “As minhas fontes de
da segunda divisão do campeonato do Rio.
renda eram praticamente duas: procurar dinheiro 5 Na arena vazia, os jogadores vivem a desigualdade
nas bolsas vazias da mãe...” se justifica pelo mesmo salarial do futebol brasileiro. Na esperança de chegar a um
motivo empregado em “acreditava na greve dos clube grande, os 22 atletas em campo correm no estádio
objetos: moedas e anéis rolavam e cédulas voavam em troca de um salário mínimo (998 reais) na carteira as-
dos bolsos para protestar por melhores condições”. sinada – isso quando não há atraso no pagamento. Juntos,
10 ganham cerca de 22 mil reais – menos de 2% do salário
Está(ão) INCORRETA(S) apenas a(s) armativa(s) mensal de uma estrela como o atacante Gabriel Barbosa,
a) I. c) I e III. o Gabigol, do Flamengo. Longe do glamour dos estádios
b) II. d) II e III. padrão Fifa, os 22 em campo no chamado Clássico da
Leopoldina, em referência à antiga linha de trem, são um
19. Uece 2019 15 retrato do precário mercado de trabalho da bola no Brasil.
Levantamento do antigo Ministério do Trabalho reve-
Grito Negro la que a maioria (54%) dos jogadores de futebol do país
empregados em 2017 recebia até três salários mínimos
Eu sou carvão!
(2.811 reais). Os dados constam da RAIS (Relação Anual
E tu arrancas-me brutalmente do chão
20 de Informações Sociais) de 2017. [...]
e me fazes tua mina, patrão.
A estatística do antigo Ministério do Trabalho é o úni-
Eu sou carvão!
co levantamento que tenta mapear os salários no futebol
5 E tu acendes-me, patrão,
brasileiro. A CBF fazia uma pesquisa parecida, mas deixou
para te servir eternamente como força motriz
de publicar por causa das distorções criadas pelos con-
mas eternamente não, patrão.
25 tratos de direito de imagem. Segundo a última edição do
Eu sou carvão
trabalho da entidade que comanda o futebol nacional,
e tenho que arder sim;
mais de 80% dos jogadores de futebol ganhavam até 1 mil
10 queimar tudo com a força da minha combustão. reais por mês em 2015. Sem citar nomes, a CBF informou
Eu sou carvão; que apenas um jogador recebia mais de 500 mil reais, mas
tenho que arder na exploração 30 o número estava longe da realidade, e o mesmo se pode
arder até às cinzas da maldição dizer dos dados da RAIS. O salário em carteira é só uma
arder vivo como alcatrão, meu irmão, parte do que os atletas recebem, pois o principal vem dos
15 até não ser mais a tua mina, patrão. direitos de imagem e patrocínios.
Eu sou carvão. Mas essa é uma realidade dos clubes grandes. Em
Tenho que arder 35 clubes como Bonsucesso e Olaria, não há direitos de
Queimar tudo com o fogo da minha combustão. imagem, já que não há imagem a ser vendida. Os patro-
Sim! cinadores estão mais para pequenos comerciantes locais
20 Eu sou o teu carvão, patrão. do que para grandes financiadores do futebol.
CRAVEIRINHA, José João. Karingana Ua Karingana. Sérgio Rangel. Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/o-jogo-do-
(Era uma vez). Lisboa: Edições 70, 1982. salario-minimo/. 31/05/2019.
ticas estimulam novos títulos”, a forma verbal está Trecho 4: De repente, eh, eu oncei... lá. [...] Levei
no plural em concordância com os termos ‘rese- pra o Papa – Gente. Papa gente, onça chefe, onço comeu
nhas’ e ‘críticas’. jababora Gugué.
93
Trecho 5: Mecê tá ouvindo, nhem? Tá aperceiando... 25. Uece 2018
Eu sou onça, não falei? Axi. Não falei – eu viro onça? Onça
grande, tubixaba.
Exigências da vida moderna
Trecho 6: Mecê brinca não, vira esse revólver pra lá. Luís Fernando Veríssimo
[...] Ói: cê quer me matar, ui? Dizem que todos os dias você deve comer uma maçã
João Guimarães Rosa. Meu tio, o Iauaretê. In: Ficção completa. V. II. Rio de por causa do ferro. E uma banana pelo potássio. E também
Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p. 825-52. uma laranja pela vitamina C.
Uma xícara de chá verde sem açúcar para prevenir
Com base nos trechos apresentados acima, julgue o
5 a diabetes.
item seguinte:
Todos os dias deve-se tomar ao menos dois litros de
No trecho “Não falei — eu viro onça?”, o travessão po-
água. E uriná-los, o que consome o dobro do tempo.
deria ser substituído, sem prejuízo para o sentido e
Todos os dias deve-se tomar um Yakult pelos lactobaci-
para a correção gramatical do texto, por dois-pontos.
los (que ninguém sabe bem o que é, mas que aos bilhões,
10 ajudam a digestão).
24. UPE 2021 Cada dia uma Aspirina, previne infarto.
Uma taça de vinho tinto também. Uma de vinho bran-
13 de maio
co estabiliza o sistema nervoso.
Foi quando eu era seminarista no interior de São Paulo. Um copo de cerveja, para... não lembro bem para o
Era 13 de maio de 1966 e os meus colegas de seminário, 15 que, mas faz bem.
quase todos descendentes de italianos ou alemães, resol- O benefício adicional é que se você tomar tudo isso
veram homenagear o dia da abolição dos escravos com um ao mesmo tempo e tiver um derrame, nem vai perceber.
almoço. Nós, os poucos negros ou pardos da turma, fomos Todos os dias deve-se comer fibra. Muita, muitíssima
“convidados” a sentar na mesa central do refeitório, deco- fibra. Fibra suficiente para fazer um pulôver.
rada com as palavras ‘Navio Negreiro’. Quando vi aquilo 20 Você deve fazer entre quatro e seis refeições leves
me recusei e me sentei numa mesa lateral, com todos os diariamente.
outros colegas. Pois os organizadores daquilo me pegaram E nunca se esqueça de mastigar pelo menos cem ve-
à força, me arrastaram e me fizeram sentar na marra junto zes cada garfada. Só para comer, serão cerca de cinco
aos outros negros, no que considerei uma ofensa gravíssima. horas do dia... E não esqueça de escovar os dentes depois
Arrumei as malas para ir embora, mas fui convencido a ficar 25 de comer.
pelo padre do local. Ele me recomendou que deixasse o Ou seja, você tem que escovar os dentes depois da
ódio passar e que tomasse aquele episódio como bandeira maçã, da banana, da laranja, das seis refeições e enquanto
de luta para um mundo melhor. E, de fato, aquele episódio
tiver dentes, passar fio dental, massagear a gengiva, esco-
alterou radicalmente a direção da minha vida. Foi a partir de
var a língua e bochechar com Plax.
então que tirei a foto do meu pai, que era negro, do fundo
30 Melhor, inclusive, ampliar o banheiro e aproveitar para
da minha mala, e coloquei-a ao lado da fotografia da minha
colocar um equipamento de som, porque entre a água, a
mãe, branca, com os meus objetos pessoais.
fibra e os dentes, você vai passar ali várias horas por dia.
Frei David Raimundo dos Santos, 63 anos, frade, fundador da ONG Educafro.
Disponível em:www.educafro.org.br. Acesso em: 15 set. 2020. Adaptado. Há que se dormir oito horas por noite e trabalhar ou-
tras oito por dia, mais as cinco comendo são vinte e uma.
Quanto aos recursos lexicais, gramaticais e grácos 35 Sobram três, desde que você não pegue trânsito.
empregados no texto e seus efeitos nos sentidos, As estatísticas comprovam que assistimos três horas
analise as armativas a seguir. de TV por dia. Menos você, porque todos os dias você vai
. As aspas em “convidados” revelam que o nar- caminhar ao menos meia hora (por experiência própria,
rador ficou surpreso ao ser convidado para o após quinze minutos dê meia volta e comece a voltar, ou
evento do dia 13 de Maio. 40 a meia hora vira uma).
. A designação ‘Navio Negreiro’ para a mesa de re- E você deve cuidar das amizades, porque são como uma
feição foi ofensiva ao narrador, porque simboliza planta: devem ser regadas diariamente, o que me faz pensar
a opressão e a violência que vitimam os negros, em quem vai cuidar delas quando eu estiver viajando.
há sculos. Deve-se estar bem informado também, lendo dois ou
3. Em: “Quando vi ”, o pronome (destacado) se 45 três jornais por dia para comparar as informações.
refere ao trecho “mesa central do refeitório, deco- Ah! E o sexo! Todos os dias, tomando o cuidado de
rada com as palavras ‘Navio Negreiro’”; o uso de não se cair na rotina. Há que ser criativo, inovador para
‘aquilo’, nesse caso, reforça que o narrador despre- renovar a sedução.
za a ação de seus colegas e discorda dela. Isso leva tempo – e nem estou falando de sexo tântrico.
. O termo “bandeira de luta” sinaliza a ideia de “ir 50 Também precisa sobrar tempo para varrer, passar, lavar
forra”, “passar por cima”, isto , destruir a supre- roupa, pratos e espero que você não tenha um bichinho
macia branca. de estimação.
Na minha conta são 29 horas por dia. A única solu-
Estão CORRETAS: ção que me ocorre é fazer várias dessas coisas ao mesmo
a) 1 e 2, apenas. d) 2 e 3, apenas. 55 tempo!
b) 1, 2 e 3, apenas. e) 3 e 4, apenas. Por exemplo, tomar banho frio com a boca aberta,
c) 1, 3 e 4, apenas. assim você toma água e escova os dentes.
Mal de Alzheimer, doença degenerativa que mais afeta (põe-se de joelhos para espiar as águas de imaginário rio)
pessoas no mundo, especialmente na velhice. Em animais, Vejo restos de memória, boiando num rio,
o método interrompeu o processo de perda de funções (aponta o chão)
95
Num rio que talvez não exista... Ao formular sua crítica, o personagem demonstra cer-
20 (ri, feliz) to distanciamento em relação arte moderna. Uma
Passam na corrente gestos e fatos... marca linguística que expressa esse distanciamento
(apanha na água invisível, com as pontas dos dedos, o uso de:
algo que teoricamente goteja) a) terceira pessoa
Eis um fato antigo. b) frase declarativa
25 (aponta para o ar) c) reticências ao final
Vejo também pedaços de mim mesma por toda parte... d) descrição do objeto
(numa revolta)
Meus Deus, como era mesmo o meu rosto, meus ca-
0. Corrija a pontuação do texto a seguir.
belos, cada uma de minhas feições?
30 (para uma espectadora) A corrupção é uma doença da alma, como todas as
Minha senhora, esqueci meu rosto em algum lugar. doenças ela não acomete a todos. Muitas pessoas, são
Adapt. RODRIGUES, Nelson. A valsa no 6. 2. ed.
suscetíveis a ela; outras não. A corrupção é uma doença,
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012. pp. 30 e 31. que deve ser combatida por meio de uma vacina, a educa-
ção. Uma educação de qualidade para todos os brasileiros
Analise as proposições em relação obra Valsa no 6, deverá exercitar o pensamento, e a crítica argumentada e
Nelson Rodrigues, e ao texto. principalmente, introduzir e consolidar virtudes como a
I. Na estrutura “Mas então eu tive um mau pressenti- solidariedade e a ética, devemos preparar uma nova ge-
mento... Parei de tocar...”, (l. 1 e 2) o emprego do sinal ração na qual a corrupção seja um fenômeno do passado,
de reticência sugere medo, apreensão, suspense. nesse futuro não tão remoto, teremos conquistado a utopia
II. Da leitura da obra, infere-se que o elemento inte- de uma verdadeira justiça social?
grador entre os dois atos da peça a Valsa no 6, Isaac Roitman. Corrupção e democracia. Internet:
https://noticias.unb.br (com adaptações).
cuja execução varia conforme o estado emocio-
nal da personagem Sônia.
1 Enem
III. Da leitura de “Vejo tambm pedaços de mim
mesma por toda parte”, (l. 2) infere-se que a per-
sonagem Sônia, por meio da memória, busca a
reconstituição dos fatos e da sua identidade.
IV. As expressões destacadas em “Meu Deus, como
era mesmo o meu rosto” e “Minha senhora, es-
queci meu rosto” (l. 28 e 31) têm a função sintática
de vocativo nas duas estruturas.
V. No período “Vejo restos de memória, boiando
num rio” (l. 17), a palavra destacada representa,
para Sônia, momentos de lucidez da sua infância.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I, II, IV e V são verdadeiras.
b) Somente as afirmativas I, II, III e IV são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas II, III e V são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras.
e) Somente as afirmativas III, IV e V são verdadeiras.
gastados da variedade padrão da língua para No fragmento, o narrador adota um ponto de vista
seexpressar com alguma segurança e sucesso.A
que acompanha a perspectiva de Fortunato. O que
expressão“tipo assim” foi colocada entre vírgulas
singulariza esse procedimento narrativo o regis-
corretamente.
tro do(a)
a) indignação face suspeita do adultrio da esposa.
2. Enem 2017
b) tristeza compartilhada pela perda da mulher amada.
Garcia tinha-se chegado ao cadáver, levantara o lenço
e contemplara por alguns instantes as feições defuntas. c) espanto diante da demonstração de afeto de Garcia.
Depois, como se a morte espiritualizasse tudo, inclinou- d) prazer da personagem em relação ao sofrimento
-se e beijou-a na testa. Foi nesse momento que Fortunato alheio.
chegou à porta. Estacou assombrado; não podia ser o beijo e) superação do ciúme pela comoção decorrente
da amizade, podia ser o epílogo de um livro adúltero [...]. da morte.
Texto complementar
Ponto
O Ponto sempre carregou um grande peso na consciência. Porque dava fim às coisas. Porque encerrava sentenças e histórias e romances.
Porque só tinha essa função. Porque era pequeno.
Imediatamente ao seu lado esquerdo, tinha sempre uma letra minúscula. E à direita fica sempre um espaço em branco. Depois dele havia
uma letra maiúscula que iniciava a frase seguinte. As letras mudavam. Mas era sempre essa mesma configuração. O Ponto se achava pequeno
entre as letras compridas. Pequeno e com grande responsabilidade. Era apenas uma bolinha grudada na linha no meio das letras.
Pensava como seria ótimo se fosse Reticências. Três pontos unidos. Três pontinhos que indicavam a postura do escrevente em relação
ao escrito. Se ao menos tivesse mais dois ao seu lado. Acreditava que assim seria mais feliz. Assim ele saberia que não representava o fim.
Tentou. Fez força para se repetir. . . Reparou que um espaço se criava automaticamente depois de si. Os pontos das Reticências eram diferentes.
O espaço entre elas era menor. Não podia se fantasiar de Reticências. A máscara era muito evidente.
Tampouco tinha a importância de um belo Ponto de Interrogação. Imaginava como seria bom perguntar para tirar dúvidas sobre assun-
tos de seu interesse. Não podia. Ele era um simples Ponto-Final e depois do final não há respostas. Ninguém respondia para um Ponto-Final.
Os leitores tinham de se contentar com o fim. E ponto.
Imaginou como seria se fosse um Ponto de Exclamação que demonstrava animação e exaltação de ânimos. As pessoas utilizam esse sinal
quando estão felizes. Ou quando são movidas pela raiva. Enfim. Quando há sentimentos fortes envolvidos. O Ponto se sentia superneutro. Quase
seco. Sem emoção.
Talvez sentisse uma pontinha de inveja por esses três sinais poderem ocupar seu lugar tradicional e mudar completamente o sentido da
frase que ele estava predestinado a encerrar. Reticências grudava seus dois outros pontos ao lado do Ponto-Final e a afirmação se transformava
num suspiro. Interrogação acoplava seu pescoço de girafa ao Ponto-Final e a certeza virava uma dúvida. Exclamação se equilibrava em cima do
Ponto e tudo virava um escândalo.
Triste vida redonda. Sem graça. Finalizador de sentenças. Grande coisa. Já o Travessão não pensava assim. Pelo contrário. Tinha dúvidas
a respeito de seu uso. Às vezes era convocado para iniciar diálogos. Outras vezes as aspas assumiam essa função. Às vezes aparecia em dois
lugares no interior de uma mesma sentença. Como se fosse parênteses ou duas vírgulas. Às vezes aparecia mais pro final da sentença emendando
um comentário. O Travessão tinha diferentes funções e pressentia que confundia um pouco os autores. Marcava diálogos. Ou não. Delimitava
unidades que podiam ser removidas da sentença. Ou não. Separava . Ou não. Entendia por que era evitado. Um mesmo sinal fazendo
tanta coisa só podia dar mesmo em crise de identidade.
O Travessão atravessou uma sentença e convenceu o Ponto de que ele tinha muita sorte de ter
uma função clara e específica. Não devia se preocupar quanto ao seu tamanho. A maiúscula ao seu lado
direito chamava atenção para a sua presença. Simples. O Ponto entendeu. Era simples. O Travessão pediu
licença e foi procurar seu lugar. O Ponto ficou satisfeito com a ajuda que o companheiro lhe deu. O Ponto
FRENTE 1
sabia bem qual era o seu lugar. As coisas precisam de um fim. Ponto-final e acabou.
KLEPPA, Lou-Ann. Onze sinais em jogo. Campinas, SP: Unicamp, 09. p. -5.
97
Resumindo
A pontuação em textos
y A pontuação um recurso gráfico próprio do texto escrito que auxilia o leitor a compreender aspectos do contexto de
comunicação: pausa, hesitação, ironia, tomada de turno (em um diálogo) etc.
y Sintaticamente, a pontuação ajuda a organizar as ideias em núcleos informacionais, facilitando a compreensão textual.
y Os sinais de pontuação permitem:
a) recuperar a intenção comunicativa do enunciador;
b) definir a entonação mais adequada no momento da leitura;
c) separar elementos intercalados em uma frase.
Usos da vírgula I
y A vírgula pode ser utilizada, no interior das orações, para:
a) separar elementos de mesma função sintática, enumerados em uma sentença;
b) isolar termos repetidos;
c) demarcar um termo em frases com ordem indireta;
d) isolar um adjunto adverbial anteposto ou intercalado;
e) isolar o vocativo;
f) isolar o aposto;
g) separar local em datas; separar números em endereços;
h) separar termos ligados por conjunções coordenadas repetidas.
Usos da vírgula II
y Entre orações, a vírgula tambm tem outras finalidades:
a) separar orações coordenadas assindticas (não ligadas por conjunções);
b) separar orações coordenadas sindticas que estabelecem relação de oposição, alternância, explicação ou conclusão;
c) separar termos explicativos entre orações;
d) separar orações coordenadas sindticas unidas pela conjunção “e”;
e) separar orações subordinadas adverbiais quando vêm antes da oração principal ou quando estão intercaladas;
f) separar orações subordinadas adjetivas explicativas;
g) marcar supressão de uma ou mais palavras.
Parênteses
y Os parênteses podem ser utilizados para:
a) acrescentar uma informação no texto, referente a algo mencionado anteriormente;
b) evidenciar uma explicação sobre um termo antecedente;
c) separar o advrbio latino sic do restante da sentença;
d) marcar um apagamento textual (supressão de informação), quando combinado com os três pontos.
Colchetes
y Os colchetes podem evidenciar alterações no texto original. Eles podem ser usados para:
a) destacar um esclarecimento referente a uma palavra ou trecho citado;
b) mostrar que uma informação foi inserida pelo autor do texto que está sendo lido e não pelo autor do trecho transcrito;
c) introduzir no texto uma informação nova e demarcar a autoria;
d) marcar um apagamento textual (supressão de informação), quando combinado com os três pontos;
e) separar o advrbio latino sic do restante da sentença.
Pontuação expressiva
y Os sinais de pontuação podem ser utilizados em textos para criar suspense, indicar tensão, dúvidas, emoções etc.
y Em alguns enunciados, o uso ou não da vírgula pode levar alteração de sentido.
y É preciso estar atento a problemas de compreensão relacionados a questões sintáticas: vocativo separado da sentença
por vírgula; o sujeito, não. Alguns textos podem “brincar” com isso para gerar efeitos de humor.
y Sinais de pontuação triplicados (como três interrogações ou três exclamações) podem evidenciar mais que uma simples
pergunta ou expressão de um sentimento: são sinais de algo mais enfático (revolta, indignação, surpresa etc.). É importante,
no momento da leitura, realizar a entonação mais adequada para remeter significação pretendida.
y Os sinais de pontuação que evidenciam a interação entre os sujeitos (marcam diálogos) são: ponto de interrogação, ponto
de exclamação, reticências e dois-pontos (antes de fala).
y Os sinais de pontuação que evidenciam a presença da ideia de outros (marcam o discurso alheio) são: aspas (de diálogo),
aspas (de ironia) e travessão (de fala).
FRENTE 1
y Os sinais de pontuação que evidenciam a presença de discursos intercalados (organizam o texto) são: parênteses, colchetes,
travessão (duplo), vírgulas (separando explicações) e dois-pontos (destacando ideias).
99
Quer saber mais?
Música Livros
Pontuação. Kenny Vasconcelos e Luana Leite. KLEPPA, Lou-Ann. Onze sinais em jogo. Campinas, SP:
Brincando com o nome de alguns sinais de pontuação, Unicamp, 209.
a canção ilustra o relacionamento de um casal que não Onze contos, cada um com foco em um sinal de pon-
deseja colocar um “ponto-final” em seu amor, mas admite tuação: esse o mote central para a construção das
algumas “vírgulas”. narrativas apresentadas nessa obra. Com essa histórias,
Disponível em: https://youtu.be/1BhH4tw1Jnw possível compreender esses sinais de forma intuitiva,
nada artificial.
Vídeo
A história da exclamação em menos de três minutos! MORGENSTERN, Christian. No reino da pontuação. Tetê
Nexo Jornal, 206. Knecht (Trad.). São Paulo: Berlendis, 209.
O vídeo explica de forma sucinta a origem do sinal de Esse livro de poemas apresenta os conflitos entre os si-
exclamação e mostra os usos desse sinal em diferentes nais presentes nos versos, evidenciando que eles podem
contextos da vida cotidiana. concordar, discordar e, s vezes, at fazer o que querem.
D i s p o n í v e l e m : w w w.y o u t u b e .c o m / w a t c h? v =
DJEmOGCNEM&t=1s
Exercícios complementares
1. Uece 2020
Baseado no best-seller homônimo de R.J. Palacio, Extraordinário intima às lágrimas. Dito assim, pode parecer que o filme
dirigido por Stephen Chbosky é um drama apelativo. Não deixa de ser [...], pois estamos falando da história de um menino
que sofre da Síndrome de Treacher Collins, responsável por causar deformação facial. É naturalmente tocante a sua jornada
inicial, e aparentemente simples, de sair de casa para o primeiro dia de aula, quando instado a tirar o capacete de astronauta
5 que o esconde. Auggie (Jacob Tremblay) desenvolveu uma série de técnicas para não se embaraçar com o espanto alheio,
sendo a mais eficiente delas olhar para baixo e ler as pessoas a partir dos seus calçados.
Mesmo dentro de uma estrutura bastante estanque, os relacionamentos são encarados com candura em Extraordinário,
a começar pela estrutura familiar. Auggie é educado e amparado sempre de perto pela mãe, Isabel (Julia Roberts), encontra
momentos de leveza ao lado do paizão, Nate (Owen Wilson), e tem o total apoio da irmã mais velha, Via (Izabela Vidovic).
10 Esse acolhimento doméstico serve para contrabalancear os episódios difíceis na escola, a despeito de todo o cuidado que a
direção e a docência têm com sua integração.
Stephen Chbosky costura as diversas facetas narrativas com habilidade. Saindo ligeiramente do habitual, Extraordinário
tenta expandir a mirada aos personagens periféricos, às testemunhas da trajetória de Auggie. Isso ocorre de maneira explícita,
com a divisão do filme, literalmente, em capítulos, estes nominados de acordo com o coadjuvante ocasionalmente promovido
15 ao centro, com direito a narração em off. [...] O intuito por trás desse fracionamento é mostrar um pouco das dificuldades
de cada um. Ainda que rapidamente o foco sempre volte ao menino com problemas de adaptação social, esses respiros são
bem-vindos para alargar a nossa compreensão acerca de um painel mais amplo. O percurso construído é singelo e terno.
Extraordinário não se propõe a fazer uma investigação profunda das questões concernentes à história de Auggie. Todavia,
Stephen Chbosky garante, ao menos, a prevalência dos olhares afetuosos. A dinâmica entre as pessoas em cena, com quem
20 estabelecemos rapidamente empatia, funciona adequadamente dentro da proposta adotada. Em tempos intolerantes como
o nosso, é auspicioso assistir a uma realização que, não obstante a restrição por conta do molde pré-definido, neste caso o
livro, consegue mirar em um público amplo, sem esquecer-se de propagar ideias de tolerância, afrontando, por exemplo, a
conduta reprovável dos bullys.
MÜLLER, M. Crítica. Disponível em: https://www.papodecinema.com.br/filmes/extraordinario/. Acesso em: 24 de outubro de 2019.
O aposto um termo utilizado no texto para explicar algo que aparece anteriormente e vem separado por vírgulas.
Com base nessa informação, assinale a opção em que a expressão destacada NÃO um aposto.
a) “[...] a divisão do filme literalmente em capítulos, estes nominados de acordo com o coadjuvante ocasionalmente
promovido ao centro [...]” (linhas 14 e 1).
b) “[...] estamos falando da história de um menino que sofre da Síndrome de Treacher Collins, responsável por cau-
sar deformação facial” (linhas 2 e 3).
c) “A dinâmica entre as pessoas em cena, com quem estabelecemos rapidamente empatia, funciona adequadamen-
te dentro da proposta adotada” (linhas 1 e 2).
d) “Auggie educado e amparado sempre de perto pela mãe, Isabel (Julia Roberts), encontra momentos de leveza
ao lado do paizão [...]” (linhas 8 e )
3. IFPR 2020 Os itens de I a V a seguir, lidos sequencialmente, formam um texto único (retirado da Revista Ponto Jovem
http://revistapontojovem.com.br, acesso em 2/07/2019). Leia-o com atenção para responder à questão.
I. Uma pesquisa realizada pela Universidade Anhembi Morumbi com mais de 8 mil estudantes do 3º ano do ensi-
no médio revelou que 5% desses alunos já escolheram a carreira que querem seguir. Porém entre aqueles que
já estão decididos, menos dametade, revelou já ter algum contato com a profissão escolhida. [...]
II. Essa falta de focodo jovem na escolha gera outro problemagrave, a evasão. No Brasil cerca de 56% dos estu-
dantes que ingressaram em uma universidade acabaram desistindo no meio do caminhooutrocaram de curso
no decorrer da graduação.
III. Na região Nordeste, por exemplo, dos mais de 36 mil ingressantes, quase mil universitários desistiram do
curso alcançando a porcentagem de 5,8%. Ou seja, mais da metade dos ingressantes abandonam a faculdade,
boa partedelaspor falta de identificação com o curso.
IV. Para evitar essasituação, o jovem tem algumas alternativas em busca de decidir bem o seu futuro. Testes vo-
cacionais contribuem para determinar seu curso com relação à sua personalidadetais quaissuas habilidades.
V. Mas existem cursos mais completos para não só construir uma identidade de auto responsabilidade no jovem de
a anos,e simcontribuir para a formação de um líder no futuro.
Em relação à pontuação do texto, assinale a alternativa correta.
a) Está incorreto o uso da vírgula após a palavra “metade”, no trecho I.
b) O uso da vírgula após a palavra “grave”, no trecho II, está correto.
c) No trecho II, justifica-se a ausência da vírgula antes de “ou”.
d) A utilização de vírgula depois da palavra “situação”, no trecho IV, está incorreta.
4. IFPR 2020
Objetivos dos fios de sustentação
Os fios de sustentação podem ser colocados em diferentes níveis do rosto e do corpo para tratar a pele flácida. Elesper-
mitem reapertar a pele e, assim, rejuvenescer as características sem cirurgia.
Esseprocedimento tem resultados expressivos, podendo dar uma aparência mais jovem para a pessoa que o realiza.
Nem todas as pessoas podem realizar o tratamento, como por exemplo, aquelascom a pele fina, muito relaxada ou
enrugada. Isso acontece geralmente nas pessoas com a idade muito avançada, ondeo procedimento seria muito agressivo.
Disponível em: www.cirurgia.net/fios-desustentacao, acessado em 08/07/2019.
O uso da pontuação é importante, entre outras coisas, para manter o texto coeso e coerente. Entre as alternativas abai-
xo, assinale aquela na qual há um problema no uso da vírgula que compromete a correção do texto.
a) Eles permitem reapertar a pele e, assim, rejuvenescer as características sem cirurgia.
b) Nem todas as pessoas podem realizar o tratamento, como por exemplo, aquelas com a pele fina, muito relaxada
FRENTE 1
ou enrugada.
c) Esse procedimento tem resultados expressivos, podendo dar uma aparência mais jovem para a pessoa que o realiza.
d) Isso acontece geralmente nas pessoas com a idade muito avançada, onde o procedimento seria muito agressivo.
101
5. Unicentro-PR 2019 15 distrahia a mente nas partes mais culminantes do drama
reflectido na tela. Logo depois, surgiu um systema de usar
O homem e a máquina as côres unicamente em certas passagens para dar uma
Bombas de gasolina com as quais o cliente se serve melhor impressão de effeito esthetico, mantendo-se inva-
diretamente. Grandes armazéns onde o próprio consu- riavelmente o branco e o preto, para poder assim ficarem
midor pesa e embala os alimentos. Operações bancárias 20 registrados os verdadeiros e intensos momentos da dra-
podem ser efetuadas em nossa casa, no nosso computa- maticidade da scena.
5 dor, sem termos de nos deslocar até à agência. Tudo isso A psychologia comprova isto. Ainda que com nossos
faz já parte do nosso quotidiano. E amanhã? Veremos olhos apreciemos a natureza em suas proprias cores, o
escolas sem professores, escritórios sem empregados, mesmo não acontece com a nossa mente.
fábricas sem operários? E se a máquina tecnológica en- Disponível em: www.folha.ad.uol.com.br/click.ng
Acesso em: 27/09/2011.
louquecesse, matando todo o emprego à sua passagem?
10 Realidade ou ficção?
Desde que o mundo é mundo, ou melhor dizendo,
desde o advento da sociedade industrial, que as relações
entre o progresso técnico e o emprego não deixaram de
alimentar debates e polêmicas. Para alguns, a máquina
15 passaria a substituir o homem e seria a principal causa INSTRUÇÃO: Responder questão com base nas ar-
de desemprego. A história não deu razão a esses pessi- mativas sobre a pontuação do texto.
mistas. Com efeito, o progresso científico gerou, desde . Não há diferenças significativas entre o uso dos
a revolução industrial, um notável aumento da produti- sinais de pontuação no texto de 128 e o que
vidade. Tornou as empresas mais competitivas, garantiu fazemos hoje.
20 o crescimento e possibilitou o desenvolvimento de uma . Os dois-pontos da linha 4 introduzem alternativas
vasta gama de novos produtos e de serviços, frequente- que completam a ideia iniciada por “O que” (linha 3).
mente a preços mais baixos. Outros tantos fatores que 3. Para os padrões atuais, ficaria correto colocar
estimulam o emprego. uma vírgula entre “e” e “sendo”, na linha 7
Mas também é verdade que a tecnologia, pelos ga- . A colocação de uma vírgula após “assim” (linha
25 nhos de produtividade e de economia de trabalho que 1) tornaria a frase mais clara e correta.
permite, leva à supressão de certas categorias de postos
de trabalho ou à ontração do emprego em determinados As armativas corretas são
setores. Para que a tecnologia desempenhe plenamente a) apenas 1 e 2.
o seu papel, é necessário que garanta um saldo franca- b) apenas 2 e 4.
30 mente positivo entre as perdas e os ganhos: essa é, em c) apenas 1, 2 e 3.
última análise, a grande aposta! d) apenas 1, 3 e 4.
Disponível em: www.google.com.br. Acesso em: 27 set. 2019. e) 1, 2, 3 e 4.
No texto, a expressão “ou melhor dizendo” (l. )
a) denota ratificação. 7. Univesp 2018
b) dispensa as vírgulas que a isolam. Tentativa e erro, experimentar o novo, entender que
c) prescinde da forma nominal que a compõe. algumas questões têm respostas complexas ou podem
mesmo não ter uma resposta, cultivar a noção de que o
d) pode ser deslocada na frase, sem comprometer a
fracasso é essencial para o progresso, aceitar que erros são
estrutura frasal.
o que nos faz eventualmente acertar, saber persistir quando
as dificuldades parecem não acabar nunca.
6. PUC-RS 2012 Esses são alguns dos componentes da pesquisa cien-
tífica, uma espécie de sabedoria acumulada através dos
Publicado na Folha da Manhã de 14/10/1928
tempos que, acredito, é também muito útil em vários
(mantida a grafia original)
aspectos da vida – de como enfrentar desafios individual-
Com a applicação do cinematographo falante, sur- mente até como reger empresas.
giu recentemente uma aguda polemica sobre qual dos Quem poderia adivinhar que a eletricidade e o mag-
meios de expressão é o melhor. O que mais chamará netismo são manifestações de um campo eletromagnético
a attenção do publico: as palavras ou as acções dos que se propaga através do espaço com a velocidade da
5 artistas? Alguns insistem em que os sons provocam mais luz? Quem poderia adivinhar que as espécies animais
a curiosidade dos assistentes. Outros acham que a ação evoluem devido a mutações genéticas aliadas ao proces-
é a verdadeira essencia do cinematographo e sendo a so de seleção natural? Esse conhecimento todo não veio
voz producto das machinas mechanicas, ella só serve do nada; exigiu muita coragem intelectual, disciplina de
para distrahir a attenção do publico. trabalho e tolerância ao erro.
10 [...] Se as coisas não funcionam, precisamos deixar o or-
Muitos não duvidaram em prognosticar que as pelli- gulho para trás e aceitar que falhamos. Todo cientista sabe
culas de côres se generalisariam, chegando a serem tão muito bem que a maioria das suas ideias não vai funcionar.
comuns como as que hoje existem. Entretanto, não de- Resolutos, vamos em frente; mas devemos também estar
morou em que fosse descoberto que a novidade da côr abertos a críticas.
km³ de água e, se calcularmos meio grama de água por e) Produtores de amêndoas estão preocupados
metro cúbico, essas minúsculas gotas flutuantes podem com suas plantações que os transtornos se deve
formar verdadeiros lagos voadores. falta de umidade e de água potável.
10
12. PUC-RS 2014
No Brasil, 38% dos universitários são analfabetos funcionais.Pesquisa aponta que estudantes não
conseguem interpretar e associar informações
Entre os estudantes do ensino superior, 38% não dominam habilidades básicas de leitura e escrita, segundo o Indicador
de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgado nessa segunda-feira pelo Instituto Paulo Montenegro (IPM) e pela ONG Ação
Educativa. Criado em 2001, o Inaf é realizado por meio de entrevista e teste cognitivo aplicado em uma amostra nacional
de 2 mil pessoas entre 15 e 64 anos. Elas respondem a 38 perguntas relacionadas ao cotidiano, como, por exemplo, sobre
5 o itinerário de um ônibus ou o cálculo do desconto de um produto. O indicador classifica os avaliados em quatro níveis
diferentes de alfabetização: plena, básica, rudimentar e analfabetismo.
Aqueles que não atingem o nível pleno são considerados analfabetos funcionais, ou seja, são capazes de ler e escrever,
mas não conseguem interpretar e associar informações.
Fragmento adaptado de: http://www.correiodopovo.com.br. Acesso em: 30 mar. 2014.
14. Unifesp 2021 Leia o poema de Fernando Pessoa para responder questão.
Cruz na porta da tabacaria!
Quem morreu? O próprio Alves? Dou
Ao diabo o bem-’star que trazia.
Desde ontem a cidade mudou.
15. Enem 2016 Quem procura a essência de um conto no espaço que fica entre a obra e seu autor comete um erro: é muito
melhor procurar não no terreno que fica entre o escritor e sua obra, mas justamente no terreno que fica entre o texto e
seu leitor.
OZ, A.De amor e trevas. São Paulo: Cia. das Letras, 2005 (fragmento).
A progressão temática de um texto pode ser estruturada por meio de diferentes recursos coesivos, entre os quais
se destaca a pontuação. Nesse texto, o emprego dos dois-pontos caracteriza uma operação textual realizada com a
nalidade de
a) comparar elementos opostos.
b) relacionar informações gradativas.
c) intensificar um problema conceitual.
d) introduzir um argumento esclarecedor.
e) assinalar uma consequência hipottica.
Jogar limpo
Argumentar não é ganhar uma discussão a qualquer preço. Convencer alguém de algo é, antes detudo, uma alternativa
à prática de ganhar uma questão no grito ou na violência física – ou não física. Não física, dois-pontos. Um político que
mente descaradamente pode cativar eleitores. Uma publicidade que joga baixo pode constranger multidões a consumir um
produto danoso ao ambiente. Há manipulações psicológicas não só na religião. E é comum pessoas agirem emocionalmente,
porque vítimas de ardilosa – e cangoteira – sedução. Embora a eficácia a todo preço não seja argumentar, tampouco se trata
de admitir só verdades científicas – formar opinião apenas depois de ver a demonstração e as evidências, como a ciência
faz. Argumentar é matéria da vida cotidiana, uma forma de retórica, mas é um raciocínio que tenta convencer sem se tornar
mero cálculo manipulativo, e pode ser rigoroso sem ser científico.
Língua Portuguesa. São Paulo, ano 5, n. 66, abr. 2011 (adaptado).
No fragmento, opta-se por uma construção linguística bastante diferente em relação aos padrões normalmente em-
pregados na escrita. Trata-se da frase “Não física, dois-pontos”. Nesse contexto a escolha por se representar por
extenso o sinal de pontuação que deveria ser utilizado
a) enfatiza a metáfora de que o autor se vale para desenvolver seu ponto de vista sobre a arte de argumentar.
b) diz respeito a um recurso de metalinguagem, evidenciando as relações e as estruturas presentes no enunciado.
c) um recurso estilístico que promove satisfatoriamente a sequenciação de ideias, introduzindo apostos
exemplificativos.
d) ilustra a flexibilidade na estruturação do gênero textual, a qual se concretiza no emprego da linguagem
FRENTE 1
conotativa.
e) prejudica a sequência do texto, provocando estranheza no leitor ao não desenvolver explicitamente o raciocínio
a partir de argumentos.
105
17. Urca-CE 2020 Observe a imagem a seguir e assinale a alternativa CORRETA, quanto ao emprego de pontuação:
HIDALGO, Emilio Sanchéz. Barbie e Ken, chacota dos opositores aos antipetistas ricos. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/23/
politica/1540287712_846177.html.
107
De acordo com a tirinha assinale a alternativa correta. y as chamadasfake newssão “uma ameaça à demo-
a) A personagem da tira apresenta uma crise exis- cracia e à sociedade”. (Texto II, º parágrafo).
tencial característica do sujeito contemporâneo, O uso das aspas nos dois textos reporta, correta e
que, entre outros fatores, é motivada pela crise respectivamente,
financeira, o que pode ser comprovado linguistica- a) à ideia de educar-se digitalmente e ao destaque
mente pelo uso do adjetivo “barata”, empregado à ironia presente na fala da jornalista ucraniana.
no primeiro quadrinho.
b) ao duplo sentido do termo em destaque e à cita-
b) A tirinha ressalta o poder da leitura em abordar de
ção do pensamento da jornalista ucraniana.
forma profunda e meditativa questões que transcen-
c) à inadequação do termo referente à educação vir-
dem a banalidade e superficialidade dos assuntos
tual e à reprodução da fala da jornalista ucraniana.
cotidianos, ajudando, assim, os leitores a operarem
d) à sinalização de um novo sentido ao termo e à trans-
significativas transformações em suas vidas.
crição de trecho da fala da jornalista ucraniana.
c) As aspas utilizadas no segundo quadrinho são
e) ao sentido pejorativo presente no termo e à ênfa-
usadas para indicar a citação de um trecho do
texto lido pela personagem, que, formalmente, se dada às ideias da jornalista ucraniana.
se aproxima do texto poético devido à métrica, já
que os verso são escritos em redondilhas, além 23 Fuvest-SP 2020 O Twitter é uma das redes sociais mais
da utilização da rima já referida na tira. importantes no Brasil e no mundo. [...] Um estudo identi-
d) As palavras “casinha”, “janela”, “porta” e “tramela” ficou que asfakenews são 70% mais propensas a serem
pertencem ao mesmo campo semântico, estabele- retweetadas do que fatos verdadeiros. [...] Outra conclu-
cendo relações de sinonímia e hiponímia entre si, o são importante do trabalho diz respeito aos famosos bots:
que aproxima o trecho do tipo textual poético. ao contrário do que muitos pensam, esses robôs não são
e) No segundo quadrinho da tira, a satisfação do os grandes responsáveis por disseminar notícias falsas.
cliente com o texto lido constitui uma crítica ao pro- Nem mesmo comparando com outros robozinhos: tanto
cedimento poético, que, ao ser aplicado ao texto os que espalham informações mentirosas quanto aqueles
filosófico, diminui-lhe o alcance crítico, ao subordi- que divulgam dados verdadeiros alcançaram o mesmo
nar a metodologia científica da filosofia à estética número de pessoas.
Super Interessante, “No Twitter,fake News se espalham 6 vezes mais rápido
da poesia.
que notícias verdadeiras”. Maio/2019.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. 40 sidade daqueles que estabelecem o consórcio delituoso.
Excertos de texto de Edir Josias Beck publicado em abril de 2010. Disponível
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. em: https://jus.com.br/artigos/14620/a-necessidade-do-instituto-da-delacao-
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. premiada-diante-da-macro-criminalidade
109
Analise as armações sobre algumas propostas de IV. Uma vírgula poderia ser acrescentada depois de
substituição para a pontuação do texto, selecionando “Buenos Aires” (linhas 19-20), sem prejuízo ao texto.
as corretas. Estão corretas apenas as propostas
I. Seria correto substituir “... estrábica. Cristo...” (linha 7) a) I e II. d) I, III e IV.
por “... estrábica, pois Cristo...”. b) I e III. e) II, III e IV.
II. Seria correto inserir uma vírgula após “então” (linha c) II e IV.
9), já que o uso da vírgula, neste caso, facultativo.
III. O uso de ponto e vírgula seguido de letra minúscu- 29. PUC-RS 2016
la após “opção” (linha 16) manteria a correção do
Texto
período, contribuindo para o paralelismo das ideias. — “Deboísta” é quem é adepto da filosofia do “ser
IV. A colocação de uma vírgula após “teatro” (linha de boa” – explica Carlos Abelardo, 19 anos, estudante de
30) seria correta e conveniente, justificando-se Ciências Biológicas na Universidade Federal de Goiás e
por corresponder a uma pausa na leitura. criador, ao lado da namorada, Laryssa de Freitas, da página
Estão corretas apenas as armativas 5 no Facebook “Deboísmo”. — É aquela pessoa que não se
a) I e II. d) I, II e III. deixa levar por problemas bestas, que, mesmo discordando
b) II e IV. e) I, III e IV. de alguém, não parte para a agressão. É a pessoa calma,
c) III e IV. que escolhe o lutar em vez de brigar.
Segundo Abelardo, o movimento é apartidário, mas
28. PUC-RS 2017 10 político. E sobre a escolha do símbolo, que é uma pregui-
ça, ele diz que a calmaria natural do animal passa uma
Festas de casamento falsas viram moda na sensação automática de “ficar de boas”.
Argentina — É o animal mais de boa — diz.
Comida gostosa, música boa, bar liberado a noite Adaptado de: http://oglobo.globo.com/sociedade/tecnologia/
conheca-deboismo-nova-filosofia-de-boas-da-internet-17392121.
toda... quem nunca se divertiu até altas horas numa boa
Acesso em: 2 abr. 2016.
festa de casamento? Esse ritual que muitos já presenciaram
ao longo da vida é, porém, desconhecido para alguns Texto
5 representantes das gerações mais jovens.
Mas há uma solução para elas: Casamento Falso (ou
Falsa Boda, no nome original em espanhol), uma ideia
de cinco amigos de La Plata, na Argentina. O detalhe
era que se tratava de um casamento falso, e que os
10 convidados não eram amigos ou parentes dos noivos,
mas ilustres desconhecidos que compraram entradas
para o evento.
Martín Acerbi, um publicitário de 26 anos, estava
cansado de ir sempre às mesmas boates. “Queríamos
15 organizar uma festa diferente, original”, disse. E assim
pensaram em fazer esse evento “temático”, que chamaram
de Casamento Falso.
Pablo Boniface, um profissional de marketing de 32
anos que esteve em um Casamento Falso em Buenos Ai-
20 res em julho, disse que para ele foi a ocasião perfeita para
realizar algo que sempre quis fazer: colocar uma gravata.
“Para mim essas festas são até melhores do que um
casamento real, porque você não precisa se sentar com
Publicado em: https://twitter.com/TrabalhoEPrev/status/639168434941620224.
estranhos e ficar entediado. Você passa bons momentos
Acesso em 02 abr. 2016.
25 com seus amigos e não se encontra com todos os tios
e avôs que normalmente frequentam essas cerimônias”, Assinale a proposta de alteração que NÃO traria pre-
disse Pablo. juízo à correção e ao sentido dos textos.
Adaptado de: www.bbc.com/portuguese/ noticias/2015/08/150831_falsos_ a) Na linha 1 (texto 1), poderiam ser acrescentados
casamentos_tg. Acesso em 07 set. 2016
dois-pontos depois do primeiro “”, o que deixaria
Considere as propostas para alterar a pontuação ori- mais clara a definição que vem a seguir.
ginal do texto. b) No texto 1, seria possível utilizar parênteses, em
I. As reticências (linha 2) poderiam ser corretamen- vez de vírgulas, para isolar o trecho compreendi-
te substituídas por “e etc.”. do entre “19 anos” (linha 2) e “criador” (linha 4).
II. Os dois-pontos (linhas 6 e 21) poderiam ser subs- c) Na linha 6 (texto 1), a vírgula depois de “bestas”
tituídos por vírgula, mas isso atenuaria a coesão poderia ser eliminada.
entre as ideias. d) O ponto de interrogação da terceira pergunta do
III. A vírgula (linha 15) poderia ser substituída por cartaz (texto 2) poderia ser substituído por ponto.
dois-pontos, sem prejuízo à correção e ao sen- e) No cartaz (texto 2), poderia ser acrescentada uma
tido da frase. vírgula depois do verbo “se estressar”.
Os parênteses empregados por Nadja Hermann, de acordo com a ordem em que aparecem do texto, têm a função de
a) assinalar o período em que Mill viveu e a fonte de onde foi retirada a citação.
b) discriminar a citação e a época em que o filósofo nasceu e morreu.
c) discernir quando e onde nasceu Stuart Mill.
d) indicar informações irrelevantes para um texto acadêmico.
Os sinais de pontuação são marcações grácas que servem para compor a coesão e a coerência textual. No enunciado
da jovem garota, o ponto e vírgula foi empregado, uma vez que este sinal de pontuação indica
a) o término do discurso. c) o uso da ordem indireta. e) a enumeração de ações.
b) a interrupção da fala. d) a presença de aposto.
32. PUC-PR 2015 No texto, os parênteses contendo reticências estão indicando que um segmento foi suprimido.
Analise as frases das alternativas para verificar qual delas contém o segmento que se encaixa no texto e assinale
a alternativa CORRETA.
Onde começa o pensamento?
É possível “esvaziar a mente”?
R:Antes de tudo, precisamos entender que o pensamento é uma percepção do nosso consciente. Ele tem início no
córtex cerebral. Fisicamente, o pensamento não é algo tangível, assim como as emoções. Mas o pensamento possui uma
base física, que é a rede neural. [...] Essa transmissão de informações consiste na atividade mental, que pode ser consi-
derada uma manifestação física dos nossos pensamentos. Tudo acontece em um curto espaço de tempo. Estima-se que
demorem 300 milissegundos antes de o pensamento se tornar consciente. “Não é possível esvaziar a mente, mas práticas
como meditação podem auxiliara concentração e o gerenciamento das nossas ideias”, diz o médico Fernando Gomes
Pinto, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia. Isso porque, quando alguém medita, a atividade de algumas
regiões do cérebro se torna mais acelerada, como: hipocampo (memória), córtex cingulado anterior (concentração), córtex
pré-frontal (coordenação motora) e amídalas cerebelosas (emoções).
Fonte:Galileu, nº 276, p. 18, julho/2014.
a) O pensamento é composto por neurônios que se comunicam por sinapses elétricas ou químicas.
b) A rede neural é formada por neurônios, as células cerebrais.
c) Nessa rede, a atividade mental dos neurônios dá início ao nosso pensamento.
FRENTE 1
111
BNCC em foco
EM13LP15
1.
EM13LGG201
2.
c)
d)
a) e)
FRENTE 1
Zé Dassilva
chete, temos a seguinte construção: “Grêmio precisa da
combinação para não ser rebaixado”. Com essa alteração,
fica mais fácil perceber a função do pronome relativo “que”
enquanto objeto indireto do verbo “precisa”.
Conjunção coordenativa
Advérbio de intensidade
a) Aditiva
Intensifica o sentido do adjetivo ou do advérbio, como
na expressão “Que bom que você veio!”, extraída da tirinha
a seguir.
b) Adversativa
Armandinho, de Alexandre Beck
c) Explicativa
Pronome adjetivo
Acompanha e modifica o substantivo, isto é, atribui par- d) Alternativa
ticularidades e características a ele. No trecho de notícia
a seguir, observe que a palavra “que”, em “Que situação,
hein?”, particulariza a situação tratada.
d) Adverbial condicional
Eduardo Y/Shutterstock.com
Em orações subordinadas adverbiais condicionais.
e) Adverbial final
Em orações subordinadas adverbiais finais. A fim de verificar se a função do “se” é de partícula
apassivadora, basta converter a frase na voz passiva sin-
tética para a voz passiva analítica:
f) Adverbial temporal y Venderam-se vários imóveis. → Vários imóveis foram
vendidos.
Em orações subordinadas adverbiais temporais.
y Alugam-se apartamentos para estudantes. → Aparta-
mentos são alugados para estudantes.
y Entregam-se marmitas. → Marmitas são entregues.
g) Adverbial causal
Em orações subordinadas adverbiais causais. Atenção
Partícula de realce
Índice de indeterminação do sujeito
Funciona como instrumento de ênfase e, por isso, pode
A palavra “se”, quando usada junto a verbos intransitivos
ser retirada da frase sem interferir no sentido, como na man-
ou transitivos indiretos, não exerce nenhuma função sintática
chete a seguir. na oração. Nesse caso, é empregada somente para marcar
Senado tem quase que metade dos parlamen- um sujeito indeterminado. No exemplo a seguir, o “se” em
“Precisa-se de...” é um índice de indeterminação do sujeito.
tares vacinados
Senado Notícias, 24 maio 2021.
Acervo do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios
separados.
115
Parte integrante do verbo significa “tecer” ou “entrelaçar fios”. Metaforicamente, tecer
Dá-se quando o “se” faz parte de verbos pronominais, um tecido e tecer um texto representam o mesmo processo:
como na manchete. entrelaçar os fios que os compõem. O texto, assim, envolve
com suas “linhas” as palavras e os enunciados socio-histo-
Corinthians se reapresenta e inicia prepara- ricamente constituídos, dando-lhes sentido. As “linhas” são
ção para enfrentar o Bahia os articuladores textuais.
UOL, 17 jun. 2021. Os articuladores textuais são expressões linguísticas,
originárias das classes de conjunções, preposições e ad-
Pronome reflexivo vérbios, envolvidas na construção de sentido do texto. Eles
relacionam segmentos textuais de qualquer extensão (perí-
Nessa função, o “se” faz parte de verbos pronominais
odos, parágrafos, sequências textuais ou porções maiores
reflexivos, isto é, de verbos que indicam que o sujeito da
do texto) e contribuem para a interpretação, com duas
frase praticou e recebeu a ação. No exemplo a seguir, o
funções relevantes: cognitiva, pois guiam o interlocutor no
sujeito feriu a si mesmo.
percurso interpretativo do texto; e argumentativa, porque
Após se ferir, homem é preso com revólver e apontam a orientação argumentativa do texto.
quatro espingardas Há três tipos de articuladores textuais. Vejamos quais
são eles no quadro.
GARNES, Geisy. Campo Grande News. 17 jun. 2021.
Tipo de
Função Exemplos
Pronome reflexivo recíproco articulador
Empregado em frases na voz passiva recíproca, indi-
cando que uma ação verbal ocorreu de forma mútua, como
pode ser observado no fragmento de notícia a seguir.
Organizadores textuais
Os organizadores textuais têm a função de segmentar
Articulação textual e argumentação e ordenar o texto, a fim de torná-lo coerente. Na sequência,
As palavras “texto” e “tecido” têm a mesma origem temos parte da introdução de uma dissertação-argumenta-
etimológica: ambas vêm de textus, termo em latim que tiva, que mostra especificamente a exposição do ponto de
117
Veja no quadro a seguir as funções desses conectores na construção dos parágrafos e a classificação sintática de
cada um deles.
Estabelecendo relações
Revisando
diovasculares e alguns tipos de câncer, a verdade é que, há cabeça já se transforma num muro todo branco.
meia dúzia de anos, só 3% dos compostos existentes no ca- Desde os primórdios dos tempos, usamos a escri-
fé tinham sido testados. Das trinta substâncias testadas no ta como forma de expressão, os homens das cavernas
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deixaram pichados nas rochas diversos sinais. Num ato Leia o trecho do livro O oráculo da noite, do neuro-
impulsivo, comprei uma tinta spray, atravessei a rua chacoa- cientista Sidarta Ribeiro, para responder à questão 4.
lhando a lata e assim prossegui até chegar à minha sala,
abraçado pela ansiedade aumentada a cada passo. Colo- A palavra sonho, do latim somnium, significa mui-
quei o dedo no gatilho do spray e fiquei respirando fundo, tas coisas diferentes, todas vivenciadas durante a vigília,
juntando coragem e na mente desenhando a primeira frase e não durante o sono. Realizei “o sonho da minha vida”,
para pichar, um tipo de lema, aquela do Lô Borges: “Os “meu sonho de consumo” são frases usadas cotidianamente
sonhos não envelhecem” – percebo, num sorrir de canto pelas pessoas para dizer que pretendem ou conseguiram
de boca, o quanto os sonhos marcam a minha existência. alcançar algo. Todo mundo tem um sonho, no sentido de
Depois arriscaria uma frase que criei e gosto: plano futuro. Todo mundo deseja algo que não tem. Por
“A lagarta nunca pensou em voar, mas daí, no espanto que será que o sonho, fenômeno normalmente noturno que
da metamorfose, lhe nasceram asas...”. Ou outra, com- tanto pode evocar o prazer quanto o medo, é justamente
pletamente tola, me ocorreu depois de assistir a um a palavra usada para designar tudo aquilo que se quer ter?
documentário, convencido de que o panda é um bicho O repertório publicitário contemporâneo não tem
cativante, mas vive distante daqui e sua agonia não é me- dúvidas de que o sonho é a força motriz de nossos com-
nor das dos nossos bichos. Assim pensando, as letras duma portamentos. Desejo é o sinônimo mais preciso da palavra
nova pichação se formaram num estalo: “Esqueçam os “sonho”. [...] Na área de desembarque de um aeroporto
pandas, salvem as jaguatiricas!”. nos Estados Unidos, uma foto enorme de um casal belo e
No muro do cemitério, escreveria outra frase que gos- sorridente, velejando num mar caribenho em dia ensolara-
to: “Em longo prazo estaremos todos mortos”, do John do, sob a frase enigmática: “Aonde seus sonhos o levarão?”,
Keynes, que trago comigo desde os tempos da faculdade. embaixo o logotipo da empresa de cartão de crédito. Deduz-
Frases de túmulos ganhariam os muros; no de Salva- -se do anúncio que os sonhos são como veleiros, capazes
dor Allende está consagrado, de autoria desconhecida: de levar-nos a lugares idílicos, perfeitos, altamente… de-
“Alguns anos de sombras não nos tornarão cegos.” Sempre sejáveis. As equações “sonho é igual a desejo que é igual
apegado aos sonhos, picharia também uma do Charles a dinheiro” têm como variável oculta a liberdade de ir, ser
Chaplin: “Nunca abandone os seus sonhos, porque se e principalmente ter, liberdade que até os mais miseráveis
um dia eles se forem, você continuará vivendo, mas terá podem experimentar no mundo de regras frouxas do sonho
deixado de existir”. noturno, mas que no sonho diurno é privilégio apenas dos
Claro, eu poderia escrever essas frases num livro, num detentores de um mágico cartão plástico.
caderno ou no papel amassado que embrulha o pão da A rotina do trabalho diário e a falta de tempo para dormir
manhã, mas o muro me cativa, porque está ao alcance e sonhar, que acometem a maioria dos trabalhadores, são
das vistas de todos e quero gritar para o mundo as frases
cruciais para o mal-estar da civilização contemporânea. É
que gosto; são tantas, até temo que me faltem os muros.
gritante o contraste entre a relevância motivacional do sonho
Poderia passar o dia todo pichando frases, as linhas vão se
e sua banalização no mundo industrial globalizado. [...] A
acabando e ainda tenho tanto a pichar... “É preciso muito
indústria da saúde do sono, um setor que cresce acelerada-
tempo para se tornar jovem”, de Picasso, “Há um certo
mente, tem valor estimado entre 30 bilhões e 40 bilhões de
prazer na loucura que só um louco conhece”, de Neruda,
dólares. Mesmo assim a insônia impera. Se o tempo é sempre
“Se me esqueceres, só uma coisa, esquece-me bem deva-
escasso, se despertamos diariamente com o toque insistente
garzinho”, cravada por Mário Quintana...
do despertador, ainda sonolentos e já atrasados para cumprir
Encerro com Nietzsche: “Isto é um sonho, bem sei, mas
compromissos que se renovam ao infinito, se tão poucos se
quero continuar a sonhar”, que serve para exemplificar o
que sinto neste momento, aqui na minha sala, escrevendo lembram que sonham pela simples falta de oportunidade de
no computador o que gostaria de jogar nos muros lá fora, a contemplar a vida interior, quando a insônia grassa e o bocejo
custo me mantendo calmo, um olho na tela, outro voltado se impõe, chega-se a duvidar da sobrevivência do sonho.
para o lado oposto da rua. Lá tem aquele muro enorme, E, no entanto, sonha-se. Sonha-se muito e a granel,
branco e virgem, clamando por frases. Não sei quanto tem- sonha-se sofregamente apesar das luzes e dos ruídos da
po resistirei até puxar o gatilho do spray. cidade, da incessante faina da vida e da tristeza das pers-
Adaptado de: ALVEZ, A. L. Um muro para pichar. Correio do Estado, fev pectivas. Dirá a formiga cética que quem sonha assim tão
2018. Disponível em: https://correiodoestado.com.br//opiniao/leia-a-cronica- livre é o artista, cigarra de fábula que vive de brisa. [...] Na
de-andre-luiz-alvez-um-muro-para-pichar/321052. Acesso em: ago. 2018.
peça teatral A vida é sonho, o espanhol Pedro Calderón
Assinale a alternativa em que o item sublinhado não é de la Barca dramatizou a liberdade de construir o próprio
pronome relativo. destino. O sonho é a imaginação sem freio nem controle,
a) a brincadeira é pichá-lo com qualquer frase solta para temer, criar, perder e achar.
vier a cabeça. O oráculo da noite: a história e a ciência do sonho, 2019.
atas de apoio e protestos a favor. Atacam como hienas e não está nas fotos de gente sem camisa. A evasão de intimi-
se escondem como ratos. Existe algo mais brega do que dades em que estamos submersos é a regra totalitária. Até
um rico roubando? Algo mais chique do que um pobre mesmo a fé – algo ainda mais íntimo que o sexo – ganhou
121
estatuto de espetáculo nas telas eletrônicas, e a transcen- 8. Enem 2013 Na verdade, o que se chama generica-
dência do espírito se converteu em explicitude obscena. mente de índios é um grupo de mais de trezentos
Entre o lúbrico e o religioso, não é o festival abrasivo povos que, juntos, falam mais de 180 línguas diferen-
nauseante de intimidades que me mantém distante. Não tes. Cada um desses povos possui diferentes histórias,
é também a frivolidade. lendas, tradições, conceitos e olhares sobre a vida,
O que mais me afasta desse tipo de rede social é o sobre a liberdade, sobre o tempo e sobre a natureza.
comércio. Nada contra as feiras livres, que, em qualquer Em comum, tais comunidades apresentam a profunda
lugar, em qualquer tempo, concentram as mais autênticas comunhão com o ambiente em que vivem, o respeito
vibrações da cultura (a melhor porta de entrada para o em relação aos indivíduos mais velhos, a preocupação
viajante que quer conhecer uma cidade é a feira livre). com as futuras gerações, e o senso de que a felicida-
Agora, o comércio no Facebook é outra história. Ele é de individual depende do êxito do grupo. Para eles, o
ainda mais funéreo que a presença dos clientes mortos sucesso é resultado de uma construção coletiva. Estas
que não pagam nem arredam pé. Ali, a mercadoria é ideias, partilhadas pelos povos indígenas, são indis-
o freguês, o que vai ficando cada dia mais evidente, pensáveis para construir qualquer noção moderna de
com denúncias crescentes sobre o uso de informações civilização. Os verdadeiros representantes do atraso
pessoais mercadejadas pelos administradores do site. Ali no nosso país não são os índios, mas aqueles que se
dentro, as mais exibicionistas intimidades adquirem um pautam por visões preconceituosas e ultrapassadas de
sinistro valor de troca para as mais intrincadas estratégias “progresso”.
mercadológicas. AZZI, R. As razões de ser guarani-kaiowá. Disponível em: www.
Já no tempo do Orkut – no qual também nunca pus outraspalavras.net. Acesso em: 7 dez. 2012.
os pés, ou os dedos, ou os dígitos – esse fantasma existia. Considerando-se as informações abordadas no tex-
Hoje, no Facebook, o velho fantasma é corpóreo, material, to, ao iniciá-lo com a expressão “Na verdade”, o autor
indisfarçável em seu jogo desigual. O usuário alimenta o
tem como objetivo principal
usurário – com seu próprio trabalho, não remunerado.
a) expor as características comuns entre os povos
Clicando “curti” para lá e para cá, o freguês fabrica ale-
indígenas no Brasil e suas ideias modernas e ci-
gremente o “database marketing” que o vende sem que
vilizadas.
ele saiba. Estou fora. Muito obrigado.
Disponível em: http://revistaepoca.globo.com/opiniao/eugenio-bucci/
b) trazer uma abordagem inédita sobre os povos in-
noticia/2012/06/por-que-nunca-entrei-no-facebook.html. dígenas no Brasil e, assim, ser reconhecido como
Acesso em: 10 nov. 2013. [Adaptado] especialista no assunto.
Leia o seguinte fragmento: c) mostrar os povos indígenas vivendo em comu-
nhão com a natureza, e, por isso, sugerir que se
A fonte da minha resistência, contudo, não está nessa
deve respeitar o meio ambiente e esses povos.
situação terrível, não da morte em vida, mas da vida em
morte a que a grande rede pode nos sentenciar. d) usar a conhecida oposição entre moderno e
antigo como uma forma de respeitar a maneira
O conectivo em destaque expressa ideia de ultrapassada como vivem os povos indígenas em
a) oposição diferentes regiões do Brasil.
b) adição e) apresentar informações pouco divulgadas a res-
c) negação peito dos indígenas no Brasil, para defender o
d) tempo caráter desses povos como civilizações, em con-
e) conclusão traposição a visões preconcebidas.
Exercícios propostos
1. AFA-SP 2013 10 Steve Jobs, um de seus fundadores, que fora afastado nos
anos 80, assumiu o comando criativo da empresa, em
A maçã de ouro 1996. A Apple estava à beira da falência e só ganhou
A Apple supera a Microsoft em valor de mercado, sobrevida porque recebeu um aporte de 150 milhões de
premiando o espírito visionário e libertário de dólares de Microsoft. Jobs iniciou o lançamento de pro-
Steve Jobs 15 dutos genuinamente revolucionários nas áreas que mais
A Microsoft e a Apple vieram ao mundo praticamente crescem na indústria de tecnologia. Primeiro com o iPod
ao mesmo tempo, em meados dos anos 1970, criadas e a loja virtual iTunes. Depois vieram o iPhone e, agora,
na garagem de jovens estudantes. Mas as empresas não o iPad. Desde o início de 2005, o preço das ações da
trilharam caminhos paralelos. A Microsoft desenvolveu o empresa foi multiplicado por oito. Na semana passada, a
5 sistema operacional mais popular do mundo e rapidamen- 20 Apple alcançou o cume. Tornou-se a companhia de tec-
te se tornou uma das maiores corporações americanas, nologia mais valiosa do mundo, superando a Microsoft.
rivalizando com gigantes da velha indústria. A Apple, ao Na sexta-feira, a empresa de Jobs tinha valor de mercado
contrário, demorou a decolar. Fazia produtos inovadores, de 233 bilhões de dólares, contra 226 bilhões de dólares
mas que vendiam pouco. Isso começou a mudar quando da companhia de Bill Gates.
a rodar pela floresta atrás das penas do bicho, mas não fundindo ainda mais um quadro já incrivelmente confuso.
encontrava nada. Os anos passavam, e ele seguia procu- A disseminação e divulgação de falsas informações
rando e esperando. não têm nada de novo, mas a internet tornoumais fácil
123
plantar matérias e provas falsas e ilusórias, que serão am- costureirinha morena de Badajoz,essa Ingeborg que faz
35 plamente compartilhadas pelo Twitter epelo Facebook. 15 fotografias e essa Irgard que não faz coisa alguma, esse
Alastair Reid, editor administrativo do site First Draft, Stefan Cromick cujaúnica experiência na vida parece ter
que é uma coalizão de organizações que seespecializam sido vender bombons – não, essa gente não vai aumentar
em checar informações e conta com o apoio do Google, aprodução de batatinhas e quiabos nem plantar cidades
disse que parte do problema é quequalquer pessoa que pu- no Brasil Central.
40 blique em plataformas como o Facebook tem a capacidade 20 É insensato importar gente assim. Mas o destino das
de atingir uma audiênciatão ampla quanto aquelas que são pessoas e dos países também é, muitasvezes, insensato:
atingidas por uma organização jornalística. “Pode tratar-se de principalmente da gente nova e países novos. A humanidade
alguém tentando desviar propositalmente a pauta jornalística não vive apenas decarne, alface e motores. Quem eram os
por motivos políticos, ou muitas vezes são apenaspessoas pais de Einstein, eu pergunto; e se o jovem Chaplin quises-
45 que querem os números, os cliques e os compartilhamentos 25 sehoje entrar no Brasil acaso poderia? Ninguém sabe que
porque querem fazer parte da conversaou da validade da destino terão no Brasil essas mulheres louras,esses homens
informação”, disse ele. “Eles não têm quaisquer padrões de
de profissões vagas. Eles estão procurando alguma coisa:
ética, mas têm o mesmo tipo de distribuição.”
emigraram. Trazem pelomenos o patrimônio de sua in-
Nesse meio tempo, a rápida divulgação das notícias
quietação e de seu apetite de vida. Muitos se perderão, sem
50 online e a concorrência com as redes sociaistambém au-
30 futuro, navagabundagem inconsequente das cidades; uma
mentaram a pressão sobre as organizações jornalísticas
mulher dessas talvez se suicide melancolicamentedentro
para serem as primeiras a divulgar cadaavanço, ao mes-
de alguns anos, em algum quarto de pensão. Mas é preciso
mo tempo em que eliminam alguns dos obstáculos que
de tudo para fazer um mundo; e cadapessoa humana é um
permitem informações equivocadas.
mistério de heranças e de taras. Acaso importamos o pintor
55 Uma página na web não só pode ser atualizada de
maneira a eliminar qualquer vestígio de umamensagem 35 Portinari, o arquiteto Niemeyer, o físico Lattes? E os cons-
falsa, mas, quando muitas pessoas apenas se limitam a trutores de nossa indústria, como vieram eles ou seus pais?
registrar qual o website em que estãolendo uma repor- Quempergunta hoje, e que interessa saber, se esses homens
tagem, a ameaça à reputação é significativamente menor ou seus pais ou seus avós vieram para o Brasilcomo agricul-
tores, comerciantes, barbeiros ou capitalistas, aventureiros
60 que no jornal impresso. Em muitoscasos, um fragmento de
informação, uma fotografia ou um vídeo são simplesmente 40 ou vendedores de gravata? Semo tráfico de escravos não
bons demais para checar. teríamos tido Machado de Assis, e Carlos Drummond seria
Alastair Reid disse: “Agora talvez haja mais pressão impossível semuma gota de sangue (ou uísque) escocês nas
junto a algumas organizações para agiremrapidamente, veias, e quem nos garante que uma legislação exemplarde
65 para clicar, para ser a primeira… E há, evidentemente, imigração não teria feito Roberto Burle Marx nascer uru-
uma pressão comercial para ter aquelevídeo fantástico, 45 guaio, Vila Lobos mexicano, ou Pancettichileno, o general
aquela foto fantástica, para ser de maior interesse jorna- Rondon canadense ou Noel Rosa em Moçambique? Seja-
lístico, mais compartilhável e tudoisso pode se sobrepor mos humildes diante dapessoa humana: o grande homem
ao desejo de ser certo.” do Brasil de amanhã pode descender de um clandestino que
Adaptado de:http://observatoriodaimprensa.com.br/terrorismo/videos-falsos- nestemomento está saltando assustado na praça Mauá, e
confundem-o-publico-e-a-imprensa/.(Publicado originalmente no jornal
The Guardian em 23/3/2016. Acesso em: 30 mar. 2016.)
50 não sabe aonde ir, nem o que fazer. Façamos umapolítica
de imigração sábia, perfeita, materialista; mas deixemos
A palavra “que” constitui pronome relativo, exceto em: uma pequena margem aos inúteis e aosvagabundos, às
a) [...] que é uma coalizão (l. 37) aventureiras e aos tontos porque dentro de algum deles,
b) [...] que se especializam [...] (l. 37) como sorte grande dafantástica loteria humana, pode vir a
c) [...] que parte do problema [...] (l. 39) 55 nossa redenção e a nossa glória.
d) [...] que publique em plataformas [...] (l. 39-40) BRAGA, R. Imigração. In: A borboleta amarela.
e) [...] que são atingidas por uma organização jorna- Rio de Janeiro, Editora do Autor, 1963.
negros. Uma voz que vem com o ruído dos bondes onde Mulher é desdobrável. Eu sou.
vão os condutores e motorneiros grevistas. Uma voz que PRADO, Adélia Prado. Com Licença Poética. In: PRADO, Adélia. Adélia
vem do cais, do peito dos estivadores, de João de Adão, Prado: Poesia reunida. 6. ed. São Paulo: Siciliano, 1996. p. 11.
125
A sequência textual marca-se sintaticamente por articu- Mas, favela, ciao,
ladores, ou seja, elementos responsáveis pela coesão que este nosso papo
do texto que contribuem para a construção do sentido. está ficando tão desagradável.
Atente para o que se diz a seguir sobre a funcionalida- vês que perdi o tom e a empáfia do começo?
de dos articuladores destacados nos versos do texto. ...
ANDRADE, Carlos Drummond de, Corpo. Rio de Janeiro: Record, 1984.
I. Em “ora sim, ora não, creio em parto sem dor”
(linha 10), o uso de conjunção coordenativa de Assinale a alternativa em que a função sintática exercida
alternância marca a incerteza do eu lírico. pela oração em destaque está corretamente indicada.
II. Em “Mas, o que sinto escrevo” (linha 11), o empre- a) “Medo de que sintas como sou ” – adjun-
go da conjunção temporal põe os elementos do to adverbial
texto ordenados entre si. b) “Custa ser irmão” – objeto direto
III. Em “ a minha vontade de alegria” (linha 15), o c) “... telegrama nasal/ anunciando morte...” – adjun-
articulador destacado funciona, no poema, como to adnominal
um elemento adversativo, pois marca oposição à d) “Medo só de te sentir, encravada” – objeto indireto.
“Minha tristeza” (linha 14).
Texto para as questões 9 e .
Acerca da funcionalidade dos articuladores acima
destacados, é correto o que se arma em O silêncio incomoda
a) I e II apenas. c) II e III apenas. Como trabalho em casa, assisto a um grande núme-
b) I e III apenas. d) I, II e III. ro de jogos e programas esportivos, alguns porque gosto
e outros para me manter atualizado, vejo ainda muitos
noticiários gerais, filmes, programas culturais (são pou-
8. AFA-SP 2016
5 quíssimos) e também, por curiosidade, muitas coisas ruins.
Favelário nacional Estou viciado em televisão.
Carlos Drummond de Andrade Não suporto mais ver tantas tragédias, crimes, vio-
Quem sou eu para te cantar, favela, lências, falcatruas e tantas politicagens para a realização
Que cantas em mim e para ninguém da Copa de 2014.
a noite inteira de sexta-feira 10 Estou sem paciência para assistir a tantas partidas tu-
e a noite inteira de sábado multuadas no Brasil, consequência do estilo de jogar, da
E nos desconheces, como igualmente não te tolerância com a violência e do ambiente bélico em que
conhecemos? se transformou o futebol, dentro e fora do campo.
Sei apenas do teu mau cheiro: Na transmissão das partidas, fala-se e grita-se demais.
Baixou em mim na viração, 15 Não há um único instante de silêncio, nenhuma pausa. O
direto, rápido, telegrama nasal barulho é cada dia maior no futebol, nas ruas, nos bares,
anunciando morte... melhor, tua vida. nos restaurantes e em quase todos os ambientes. O silêncio
... incomoda as pessoas.
Aqui só vive gente, bicho nenhum É óbvio que informações e estatísticas são importan-
tem essa coragem. 20 tíssimas. Mas exageram. Fala-se muito, mesmo com a bola
... rolando. Impressiona-me como se formam conceitos, dão
Tenho medo. Medo de ti, sem te conhecer, opiniões, baseados em estatísticas que têm pouca ou ne-
Medo só de te sentir, encravada nhuma importância.
Favela, erisipela, mal-do-monte Na partida entre Escócia e Brasil, um repórter da TV
Na coxa flava do Rio de Janeiro. 25 Globo deu a “grande notícia”, que Neymar foi o primeiro
jogador brasileiro a marcar dois gols contra a Escócia em
Medo: não de tua lâmina nem de teu revólver uma mesma partida.
nem de tua manha nem de teu olhar. Parece haver uma disputa para saber quem dá mais
Medo de que sintas como sou culpado informações e estatísticas, e outra, entre os narradores,
e culpados somos de pouca ou nenhuma irmandade. 30 para saber quem grita gol mais alto e prolongado. Se dizem
Custa ser irmão, que a imagem vale mais que mil palavras, por que se fala
custa abandonar nossos privilégios e se grita tanto?
e traçar a planta Outra discussão chata, durante e após as partidas, é
da justa igualdade. se um jogador teve a intenção de colocar a mão na bola
Somos desiguais 35 e de fazer pênalti, e se outro teve a intenção de atingir o
e queremos ser adversário. Com raríssimas exceções, ninguém é louco
sempre desiguais. para fazer pênalti nem tão canalha para querer quebrar
E queremos ser o outro jogador.
bonzinhos benévolos O que ocorre, com frequência, é o jogador, no impul-
comedidamente 40 so, sem pensar, soltar o braço na cara do outro. O impulso
sociologicamente está à frente da consciência. Não sou também tão ingênuo
mui bem comportados. para achar que todas as faltas violentas são involuntárias.
c) “Se dizem que a imagem vale mais que mil pala- Do texto lido, reproduzem-se alguns períodos (ou
vras ...” (l. 30 e 31) partes de período). Assinale o item que contiver uma
d) “Não dá para o árbitro saber se a falta foi intencio- oração subordinada substantiva objetiva direta:
nal ou não.” (l. 43 e 44) a) Papel, amigo papel, não recolhas tudo o que es-
crever esta pena vadia.
11. UFSC 201 b) Quero estudá-la, se tiver ocasião.
c) Quando sentires que insisto nessa nota, esquiva-
-te da minha mesa, e foge.
d) A janela aberta te mostrará um pouco de telhado,
entre a rua e o céu, e ali ou acolá acharás descanso.
e) Querendo servir-me, acabarás desservindo-me.
o anúncio estabelece intertextualidade com a lei Três meses após completar 200 anos, o Museu Na-
que cria mecanismos para coibir a violência do- cional, no Rio de Janeiro, foi consumido por um incêndio
méstica e familiar contra a mulher. devastador que danificou seu acervo de 20 milhões de
a frase “Homem que bate em mulher, Penha nele” itens. O museu tinha o maior acervo de antropologia e
tem como predicativo “Penha nele”. história natural do Brasil e um dos maiores da América
o anúncio foi criado pela Bandeirantes Mídia Exte- Latina, e ainda não existe número oficial de quantas peças
rior para divulgar a Lei Maria da Penha fora do Brasil. foram destruídas.
o vocábulo “que” funciona como pronome relati- Em fevereiro de 2019, o museu abriu as portas para
FRENTE 1
vo, antecipando o substantivo “mulher”. que fotógrafos registrassem o que sobrou da estrutura. Cheio
o vocábulo “nele” estabelece relação entre ora- de escombros, marcas de fogo, barras de ferro retorcidas e
ções e retoma o antecedente “homem”. paredes desmoronadas, o museu se tornou um campo de
127
“garimpo”. Equipes técnicas da Universidade Federal do 14. UFRR 2018 Leia o trecho da entrevista “A Filosofia é
Rio de Janeiro (UFRJ), que administra a instituição, traba- pop”, feita com o filósofo Mario Sergio Cortella, publi-
lham em contêineres instalados próximos ao museu a fim cada em maio de , para responder à questão:
de recuperar peças, catalogá-las e levá-las para uma área
de armazenamento da UFRJ. Até agora, cerca de 2 mil itens Apesar de interessante, a filosofia costuma
foram recuperados, entre eles os fragmentos do crânio de parecer chata. Além do seu dom de oratória,
Luzia, o fóssil humano mais antigo já encontrado no Brasil, como transformou a matéria em algo instigante?
com 11,3 mil anos. Alertas sobre risco de fogo e outros Agradeço o elogio, mas quero fazer um reparo fi-
problemas estruturais começaram há mais de uma década. losófico. Quando você diz que eu tenho o dom, está
Desde o ano passado, a Polícia Federal investiga as dizendo que não tenho mérito nenhum, porque dom
causas do incêndio – a instituição diz que aguarda a li- é algo que se recebe de fora. Ocorre que Deus não me
beração do laudo técnico da perícia. [...] Alertas sobre escolheu e disse “você vai ser o cara”. Tudo bem, sei que
risco de fogo e outros problemas estruturais começaram há não foi isso que você quis dizer. Mas eu diria que tenho
mais de uma década. Como as investigações ainda estão a prática, a intenção e o gosto. Minha intenção é fazer
em andamento, ninguém foi responsabilizado pelo epi- com que a filosofia seja simples sem ser simplória. Em
sódio, e o caso deve demorar para chegar à Justiça. Após outras palavras, que seja compreensível sem ser banali-
o incêndio, a UFRJ divulgou uma nota dizendo que “há zável. Por exemplo, na semana da Rio+20, eu participei
décadas, as universidades federais do país vêm denuncian- de um programa especial da Xuxa sobre sustentabilida-
do o tratamento conferido ao patrimônio das instituições de. Antes de entrar no ar, uma pessoa da produção me
universitárias brasileiras e a falta de financiamento adequa- pediu para não usar o termo “biocídio” [eliminação de
do”. “Urge, por parte do Governo Federal, uma mudança variadas formas de vida, inclusive a humana], porque
no sistema de financiamento das universidades federais não ia ser entendido. Então eu disse: “Lamento, não ajo
do país”, disse a nota. [...]. dessa forma. Vou usar e explicar”. Se eu recuso o uso,
Com a repercussão da tragédia, o museu conseguiu furto das pessoas o acesso a um conceito importante. Se
um investimento de R$ 85 milhões de diferentes fontes uso sem explicar, estou dando uma demonstração tola
para recuperar o prédio e o acervo, mas a maior parte do de sabedoria. Mas, se uso e traduzo, estou partilhando.
dinheiro ainda não está disponível – deve ser repassado Eu quero que a filosofia seja compreensível.
Fonte: www.revistaplaneta.com.br/a-filosofia-pop/
ao longo deste ano, segundo o Alexander Kellner, diretor Acesso em: 17 ago. 2017.
da instituição.
Disponível em: www.bbc.com/portuguese/brasil-47206026. Em conformidade com as regras gramaticais, todas as
Acesso em: 3 out. 2019 (adaptado). orações destacadas são subordinadas adverbiais, ou
Sobre períodos elaborados por coordenação e/ou su- seja, elas indicam circunstâncias de tempo, condição,
bordinação, avalie as asserções do texto de Letícia Mori. comparação, proporcionalidade entre outras. Como
base nessa informação, analise as proposições a seguir:
I. No excerto “o museu tinha o maior acervo de antro-
e um dos maiores I. “porque dom é algo” / “porque não ia ser entendi-
da América Latina”, o trecho em destaque é um pe- do” – são orações que indicam a causa do que se
ríodo composto por coordenação sindética aditiva. declara na oração principal.
II. Em “o museu abriu as portas II. “Quando você diz” – a oração exprime ideia de
o que sobrou da estrutura”, o frag- tempo e essa circunstância foi estabelecida pela
mento destacado é uma oração subordinada que conjunção quando.
indica sentido de finalidade. III. “se eu recuso o uso” / “se uso” / “se uso” – as três
III. O excerto “o museu conseguiu investimento, mas orações exprimem a condição do fato expresso
a maior parte do dinheiro ainda não está dispo- pela oração principal.
nível”, é um período composto por coordenação IV. Transformando as orações adverbiais desenvolvi-
sindética adversativa. das, tais como: “Quando você diz que eu tenho o
IV. No excerto “equipes técnicas da Universidade dom, está dizendo que não tenho mérito nenhum,
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), porque dom é algo que se recebe de fora.” em ora-
, trabalham em contêineres instalados ções reduzidas, teremos: “Ao dizer que eu tenho o
próximos ao museu a fim de recuperar peças, dom, está dizendo que não tenho mérito nenhum,
catalogá-las e levá-las para uma área de arma- por ser o dom algo que se recebe de fora.”
zenamento da UFRJ”, o trecho grifado funciona
Podemos armar que:
como oração subordinada adjetiva explicativa.
a) somente a IV está correta, porque ao transformar
É correto o que se arma em: em orações reduzidas, aparecem os verbos “di-
a) I, II e III, apenas. zer e ser” na forma nominal de infinitivo.
b) I e IV, apenas. b) a III está errada porque a palavra “uso” aparece
c) II e III, apenas. na condição de objeto direto do verbo recusar e,
d) II, III e IV apenas. depois, a mesma palavra forma orações, ou seja,
e) I, II, III e IV. “uso” está empregado na condição de hipótese.
Disponível em: http://clubedamafalda.blogspot.com.br. Acesso em: set. . Violência: presente e passado da história
Vilma Homero
Nessa charge, o recurso morfossintático que colabora
Ao olhar para o passado, costumamos imaginar que
para o efeito de humor está indicado pelo(a):
estamos nos afastando dos tempos da “barbárie pura e
a) emprego de uma oração adversativa, que orienta
simples” para alcançar uma almejada “civilização”, cal-
a quebra da expectativa ao final. cada sobre relações livres, iguais e fraternas, típicas do
b) uso de conjunção aditiva, que cria uma relação de 5 homem culto. Um olhar sobre a história, no entanto, põe
causa e efeito entre as ações. em xeque esta visão utópica. Organizado pelos historia-
c) retomada do substantivo “mãe”, que desfaz a am- dores Regina Bustamante e José Francisco de Moura, o
biguidade dos sentidos a ele atribuídos. livro Violência na História, publicado pela Mauad Edi-
d) Utilização da forma pronominal “la” que reflete um tora com apoio da FAPERJ, reúne diversos ensaios que
tratamento formal do filho em relação à “mãe”. 10 mostram, ao longo do tempo, diferentes aspectos da vio-
e) repetição da forma verbal “é”, que reforça a rela- lência, propondo uma reflexão mais demorada sobre o
ção de adição existente entre as orações. tema. Nos ensaios reunidos no livro, podemos vislumbrar
como, desde a antiguidade e ao longo da história humana,
Leia o texto a seguir para responder à questão . a violência se insere, sob diversos vieses, nas relações de
15 poder, seja entre Estado e cidadãos, entre livres e escra-
[...] Começou a lição de escrita. Custa-me dizer que vos, entre homens e mulheres, ou entre diferentes religiões.
eu era dos mais adiantados da escola; mas era. Não digo “Durante a Idade Média, por exemplo, vemos como a
também que era dos mais inteligentes, por um escrúpulo violência se manifesta na religiosidade, durante o movi-
fácil de entender e de excelente efeito no estilo, mas não mento das Cruzadas. Ou, hoje, no caso dos movimentos
tenho outra convicção. Note-se que não era pálido nem 20 sociais, como ela acontece em relação aos excluídos
mofino: tinha boas cores e músculos de ferro. Na lição das favelas. O sentido é amplo. A desigualdade social,
de escrita, por exemplo, acabava sempre antes de todos, por exemplo, é um tipo de violência; a expropriação
mas deixava-me estar a recortar narizes no papel ou na do patrimônio cultural, que significa não permitir que
tábua, ocupação sem nobreza nem espiritualidade, mas a memória cultural de determinado grupo se manifeste,
em todo caso ingênua. Naquele dia foi a mesma coisa; 25 também”, prossegue a organizadora. [...] A própria pala-
tão depressa acabei, como entrei a reproduzir o nariz do vra “violência”, que etimologicamente deriva do latimvis,
mestre, dando-lhe cinco ou seis atitudes diferentes, das com significado de força, virilidade, pode ser positiva em
quais recordo a interrogativa, a admirativa, a dubitativa e termos de transformação social, no sentido de uma violência
a cogitativa. Não lhes punha esses nomes, pobre estudante revolucionária, usada como forma de se tentar transformar
de primeiras letras que era; mas, instintivamente, dava-lhes 30 uma sociedade em determinado momento. [...] Essas va-
essas expressões. Os outros foram acabando; não tive re- riadas abordagens vão aparecendo ao longo do livro.
médio senão acabar também, entregar a escrita, e voltar [...] Na Roma antiga, as penas, aplicadas após julga-
para o meu lugar. Com franqueza, estava arrependido de mento, ganhavam um sentido religioso. Despido de sua
ter vindo. Agora que ficava preso, ardia por andar lá fora, humanidade, o réu era declaradohomo sacer. Ou seja,
e recapitulava o campo e o morro, pensava nos outros 35 sua vida passava a ser consagrada aos deuses. Segundo a
meninos vadios, o Chico Telha, o Américo, o Carlos das pesquisadora Norma Mendes, “havia o firme propósito de
FRENTE 1
Escadinhas, a fina flor do bairro e do gênero humano. Para fazer da morte dos condenados um espetáculo de caráter
cúmulo de desespero, vi através das vidraças da escola, exemplar, revestido de sentido religioso e de dominação,
no claro azul do céu, por cima do morro do Livramento, cuja função era o reforço, manutenção e ratificação das
12
40 relações de poder.” [...] O historiador Francisco Carlos Tei- Crônica algumas vezes também é feita, intencionalmen-
xeira da Silva é um dos que traz a discussão para o presente, te, para provocar. Além do mais, em certos dias mesmo
analisando as transformações políticas do último século. o escritor mais escolado não está lá grande coisa. Tem
“Desde Voltaire até Kant e Hegel, acreditava-se no contí- os que mostram sua cara escrevendo para reclamar: mo-
nuo aperfeiçoamento da condição humana como uma derna demais, antiquada demais. Alguns discorrem sobre
45 marcha inexorável em direção à razão. [...] O Holocausto, o assunto, e é gostoso compartilhar ideias. Há os textos
perpetrado em um dos países mais avançados e cultos à que parecem passar despercebidos, outros rendem um
época, deixou claro que a luta pela dignidade humana montão de recados: “Você escreveu exatamente o que eu
é um esforço contínuo e, pior de tudo, lento. [...] E, so- sinto”, “Isso é exatamente o que falo com meus pacien-
bretudo, mais de 50 anos depois da II Guerra Mundial, a tes”, “É isso que digo para meus pais”, “Comentei com
50 ocorrência de outros genocídios – Ruanda, Iugoslávia, minha namorada”. Os estímulos são valiosos pra quem
Camboja etc. – leva a refletir sobre a convivência entre
nesses tempos andava meio assim: é como me botarem
os homens nesse começo do século XXI.” O historiador
no colo — também eu preciso. Na verdade, nunca fui
prossegue: “De forma paradoxal, a globalização, confor-
tão posta no colo por leitores como na janela do jornal.
me se aprofunda e pluga os homens a escalas planetárias,
De modo que está sendo ótima, essa brincadeira séria,
55 é fortemente acompanhada pelo localismo e o particula-
rismo religioso, étnico ou cultural, promovendo ódios e com alguns textos que iam acabar neste livro, outros
incompreensões crescentes. Na Bósnia ou em Kosovo, na espalhados por aí. Porque eu levo a sério ser sério... mes-
Faixa de Gaza ou na Irlanda do Norte, a capacidade de mo quando parece que estou brincando: essa é uma das
entendimento chegou a seu mais baixo nível de tolerân- maravilhas de escrever. Como escrevi há muitos anos e
60 cia, e transpor uma linha, imaginária ou não, entre bairros continua sendo a minha verdade: palavras são meu jeito
pode representar a morte.” Como nem tudo se limita às mais secreto de calar.
questões políticas e às guerras, o livro ainda analisa as formas LUFT, L. Pensar é transgredir. Rio de Janeiro. Record, 2004.
que a violência assume nas relações de gênero, na religião,
Os textos fazem uso constante de recursos que
na cultura e aborda também a questão dos direitos humanos,
permitem a articulação entre suas partes. Quanto à
65 vista sob a perspectiva de diferentes sistemas culturais.
www.faperj.br/?id=1518.2.4. Acesso em: 5 mar. 2018.
construção do fragmento, o elemento
a) “nisso” introduz o fragmento “botar a cara na janela
17. AFA-SP 2019 O uso do conectivo em destaque está em crônica de jornal”.
corretamente justificado em: b) “assim” é uma paráfrase de “é como me botarem
a) “... um espetáculo de caráter exemplar, revestido de no colo”.
sentido religioso e de dominação, função era o c) “isso” remete a “escondia em poesia e ficção”.
reforço [...] das relações de poder.” (l. 37 a 40) – co- d) “alguns” antecipa a informação “É isso que digo para
necta oração, estabelecendo uma relação de posse. meus pais”.
b) “... a violência se insere, sob diversos vieses, nas e) “essa” recupera a informação anterior “janela do jornal”.
relações de poder...” (l. 14 e 15) – acrescenta as-
pecto locativo. 20. Enem Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verda-
c) “Ou seja, sua vida passava a ser consagrada aos deira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam
deuses.” (l. 34 e 35) – introduz sentido de alternância. para si, malcriados, instantes cada vez mais completos.
d) “Como nem tudo se limita às questões políticas e às A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava
guerras, o livro ainda analisa as formas que a violência estouros. O calor era forte no apartamento que estavam
assume...” (l. 61 a 63) – estabelece conexão temporal. aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas
que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse po-
18. AFA-SP 2018 Assinale a alternativa em que a palavra
dia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte.
ou expressão sugerida entre parênteses, ao substituir
Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na
o que está destacado, provoca significativa mudança
mão, não outras, mas essas apenas.
de sentido:
LISPECTOR, C. Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
a) “E, sobretudo, mais de 50 anos depois da II Guer-
ra Mundial, a ocorrência de outros genocídios...” A autora emprega por duas vezes o conectivo mas
(l. 48 a 50) – (acima de tudo) no fragmento apresentado. Observando aspectos da
b) “De forma paradoxal, a globalização, conforme organização, estruturação e funcionalidade dos ele-
se aprofunda e pluga os homens...” (l. 53 e 54) – mentos que articulam o texto, o conectivo “mas”:
(à medida que) a) expressa o mesmo conteúdo nas duas situações
c) “... a violência se insere, sob diversos vieses, nas em que aparece no texto.
relações de poder, seja entre Estado e cidadãos...” b) quebra a fluidez do texto e prejudica a compreen-
(l. 14 e 15) – (sob diversas linhas de pensamento) são, se usado no início da frase.
d) “Nos ensaios reunidos no livro, podemos vislum-
c) ocupa posição fixa, sendo inadequado seu uso na
brar como, desde a antiguidade e ao longo da
abertura da frase.
história...” (l. 12 e 13) – (antever)
d) contém uma ideia de sequência temporal que di-
19. Enem 2014 Há qualquer coisa de especial nisso de botar reciona a conclusão do leitor.
a cara na janela em crônica de jornal — eu não fazia isso e) assume funções discursivas distintas nos dois
há muitos anos, enquanto me escondia em poesia e ficção. contextos de uso.
11
Considere os vocábulos destacados no trecho a seguir: a) porque;
b) visto que;
Os estados de violência fazem aparecer uma multi-
plicidade de figuras novas: o terrorista, o chefe de facções, c) apesar de que;
o mercenário, o soldado profissional, o engenheiro de in- d) porquanto;
formática, o responsável da segurança etc. Não exército e) já que.
disciplinado, mas redes dispersas, concorrentes, profissio-
nais da violência. Mudanças ainda no nível do teatro dos 24. IFMT 2018
conflitos. Para a guerra: uma planície, espaços largos, às ve-
O fim da neutralidade e a transformação da
zes colinas ou rios, em todo caso campanhas (para não levar
em conta aqui guerras de cerco). E depois vem o espetáculo internet numa rede de supermercado
desolador após a batalha: os inimigos como que abraçados O impacto do fim da neutralidade da rede não é só
na morte, corpos juncando o solo, fardas rasgadas, manchas econômico e não prejudica apenas a comunicação e eleva
de sangue. Um grande silêncio depois de tantos gritos e de o custo da comunicação para toda a sociedade e os setores
vaias. O novo teatro é hoje a cidade. (l. a 7) econômicos, mas implica em dois grandes riscos. Um deles
é o controle que as operadoras de telecom passarão a ter
A análise dos elementos em negrito no texto mostra sobre a invenção e a inovação. O segundo risco é que,
que o operador: dado que se poderá filtrar e bloquear o fluxo de tráfego
a) “não” reforça a ideia de que as figuras novas in- de dados por motivos comerciais e econômicos, o fluxo
cluem o exército disciplinado. também poderá ser filtrado por outros motivos, sejam eles
b) “mas” coloca o exército disciplinado ao lado dos culturais, políticos ou religiosos. Então, as consequências
profissionais da violência. da decisão da quebra da neutralidade são bastante nefastas
c) “ainda” sugere a existência de outros aspectos para a ideia de como a internet vinha funcionando até hoje.
relacionados aos estados de violência. Fragmento retirado da Revista IHU Online.
Disponível em: https://goo.gl/nU2eZa
d) “às vezes” introduz a ideia de unidade dos anti-
gos cenários da guerra. O texto acima possui elementos coesivos que pos-
e) “hoje” estabelece a relação de similitude entre a sibilitam a sua continuidade e progressão temática.
guerra do passado e os estados de violência. A partir dessa perspectiva, conclui-se que:
a) A conjunção “mas”, na 4a linha do texto, não repre-
2. IME-RJ 2017 [...] Hoje, no Brasil, apesar da diminuição senta uma ideia adversativa, mas sim de alternativa.
do Proálcool, o álcool ainda pode ser considerado um im- b) “Dois grandes riscos” são explicitados em “Um
portante combustível para automóveis e um recurso natural deles” e “o segundo risco”, todavia esses usos
estratégico de alta significância uma vez que há possibili- comprometem a legibilidade textual.
dade de sua renovação e consequente disponibilidade. Sua c) “Então”, na linha 10, pode ser substituído por “logo”
utilização efetiva depende de análises políticas e econômi- ou “portanto”, sem prejuízo do sentido da frase.
cas que poderão ser revistas sempre que necessário. [...] d) “nefastas”, na linha 11, pode ser substituído por “van-
BRAGA, Benedito et alli. Introdução à Engenharia Ambiental. São Paulo: tajosas”, uma vez que não altera a ideia expressa.
Pearson Prentice Hall, 2005, 2a Ed, pp. 2-6. (Texto adaptado).
e) O título contradiz o que está discutido no frag-
Assinale a alternativa em que a substituição da expres- mento, posto que a ideia é de enumerar os
são “uma vez que” pelo conectivo proposto alteraria o benefícios que o fim da neutralidade na internet
nexo estabelecido no texto: trará para a sociedade.
Texto complementar
A coesão como propriedade textual: uma superfície que deve estar organizada e, para isso, concorrem,
entre outros, os dispositivos coesivos, tal organização se destina a
bases para o ensino do texto assegurar a continuidade necessária para que a sequência possa
[...] ser reconhecida como coerente e apropriada.
A coesão e a organização da superfície do texto A coesão como marca da continuidade de sentido
No exercício comum da linguagem, como nos demais domí- Os dois princípios acima apontados não chegam a ser sufi-
nios da experiência, o conceito de coesão, de uma forma geral, cientes, pois não basta a organização da superfície do texto ou,
aplica-se aos dispositivos utilizados pelas pessoas para ligar e pôr ainda, a continuidade ensejada por esta organização. Na verdade,
em relação os diversos segmentos com que pretendem construir as regularidades de organização impostas à sequência superfi-
suas unidades de comunicação. Tais dispositivos ganham maior cial do texto devem correlacionar-se com as regularidades de
relevância quando a unidade em construção é o texto, pois é aí organização do mundo da experiência, real ou imaginada, cujo
que as articulações assumem maior complexidade operacional conhecimento se pretende ativar pelo texto. Ou seja, a organiza-
e de função. ção da superfície deve estar em harmonia com a organização dos
A coesão e a continuidade superficial do texto conceitos e das relações subjacentes, o que equivale afirmar que
Ocorre que toda organização da sequência textual orienta-se a continuidade da sequência textual deve ajustar-se à continuida-
para prover e assinalar o caráter de continuidade que deve marcar de do sentido pretendido. Só nesta dimensão se pode apreender
as instâncias textuais. Por outras palavras, se o texto dispõe de a legítima providência e indicação da continuidade do texto.
Resumindo
. Morfossintaxe do “que” Pronome reflexivo recíproco. Ex.: Eles se beijaram pela
Substantivo. Ex.: Há um quê de maldade no seu olhar. última vez.
Pronome relativo. Ex.: As alegrias que tive foram ines- Partícula de realce. Ex.: Foi-se embora para não mais
quecíveis. voltar.
Advérbio de intensidade. Ex.: Que legal! Conjunção subordinativa integrante. Ex.: Quero saber se
Pronome adjetivo. Ex.: Que discussão desnecessária. teremos aula amanhã.
Pronome substantivo. Ex.: Que ocorreu aqui? Conjunção subordinada causal. Ex.: Se estava disponível,
Interjeição. Ex.: Seu pé está roxo!; Quê? deveria oferecer ajuda. (Se = já que)
Conjunção coordenativa. Ex.: Solte-os, que não os perca Conjunção subordinada condicional. Ex.: Vamos à praia,
de vista. (que = mas); Fique aqui, que estou com medo. se não chover.
(que = porqu+e) . Articuladores textuais
Conjunção subordinativa. Ex.: Sorria muito, magoado que Há três tipos de articuladores textuais:
estivesse. (que = ainda que); Me esforcei que conseguis- Organizadores textuais: ordenam o texto em uma
se o emprego. (que = para que) sucessão de segmentos que se complementam. Ex.:
Partícula de realce. Ex.: Que que você falou? (Que você Primeiramente, tomarei banho e, depois, vou tomar
falou?) café da manhã.
Preposição. Ex.: Tenho que sofrer menos. (que = de) Marcadores metadiscursivos: atribuem um ponto de
2. Morfossintaxe do “se” vista à parte do texto, servindo para o locutor comentar
Pronome apassivador ou partícula apassivadora. Ex.: sobre o que escreve. Ex.: Lamentavelmente, ela não foi
Vendem-se casas. (Casas são vendidas) conosco ao parque.
Índice de indeterminação do sujeito. Ex.: Precisa-se de Conectores: Encadeiam as diferentes partes do texto,
ajudante de cozinha. atribuindo uma relação entre elementos linguísticos
Parte integrante do verbo. Ex.: A professora se alegrou ou contextuais. Ex.: Essa questão está encerrada, por-
com as notas da turma. tanto não vamos mais discutir. (portanto: conector de
Pronome reflexivo. Ex.: João está se arrumando para conclusão); Segundo estudos, ser feliz melhora a saúde.
a festa. (Segundo: conector de conformidade)
Música Vídeos
“Se...”. Djavan. Univesp. Leitura e produção de textos – A coesão textual.
O título da canção expressa uma incerteza através do ad- Disponível em: www.youtube.com/watch?v=N1F6Q-eSAUg.
vérbio com sentido de condição, “se”. A letra da canção Acesso em: 29 jan. 2022.
FRENTE 1
mostra um eu lírico conversando com alguém, provavel- Aula da Universidade Virtual do Estado de São Paulo
mente a pessoa amada. (Univesp) sobre o conceito e os mecanismos de coesão
textual.
133
Exercícios complementares
1. FGV-SP 015 Jornais impressos são coisas palpáveis, con- mulas como a sege passaram-lhe por cima. Foi levada em
cretas, estão materializados em papel. No papel está seu braços para uma botica da Rua Direita, veio um sangrador,
suporte físico. Do papel, assim como da tinta, podem-se mas era tarde; tinha a cabeça rachada, uma perna e o ombro
examinar a idade e a autenticidade. Já em televisão, como partidos, era toda sangue; expirou minutos depois.
em toda forma de mídia eletrônica, é cada vez mais di- — Foi realmente uma desgraça, disse Rubião.
fícil encontrar o suporte físico original da informação. A — Não.
bem da verdade, na era digital, quando já não se tem mais — Não?
sequer o negativo de uma fotografia, posto que as fotos — Ouve o resto. Aqui está como se tinha passado o
passaram a ser produzidas em máquinas digitais, pratica- caso. O dono da sege estava no adro, e tinha fome, muita
mente não há mais o suporte físico primeiro, original, do fome, porque era tarde, e almoçara cedo e pouco. Dali
documento que depois será objeto de pesquisa histórica. pôde fazer sinal ao cocheiro; este fustigou as mulas para
São tamanhas as possibilidades de alteração da imagem ir buscar o patrão. A sege no meio do caminho achou um
digital que, anos depois, será difícil precisar se aquela ima- obstáculo e derribou-o; esse obstáculo era minha avó. O
gem que se tem corresponde exatamente à cena que foi de primeiro ato dessa série de atos foi um movimento de
fato fotografada. E não se terá um negativo original para conservação: Humanitas tinha fome. Se em vez de minha
que seja tirada a prova dos nove. avó, fosse um rato ou um cão, e certo que minha avó não
Eugênio Bucci e Maria R. Kehl,Videologias: ensaios sobre televisão. morreria, mas o fato era o mesmo; Humanitas precisa co-
São Paulo: Boitempo, 2004. mer. Se em vez de um rato ou de um cão, fosse um poeta,
Byron ou Gonçalves Dias diferia o caso no sentido de dar
Os conectivos sublinhados nos trechos “ as
matéria a muitos necrologios; mas o fundo subsistia. O
fotos passaram a ser produzidas em máquinas digi-
universo ainda não parou por lhe faltarem alguns poemas
tais” e “ , anos depois, será difícil precisar”, tendo mortos em flor na cabeça de um varão ilustre ou obscuro;
em vista as relações sintático-semânticas estabeleci- mas Humanitas (e isto importa, antes de tudo) Humanitas
das no texto, introduzem, respectivamente, orações precisa comer.
que exprimem ideia de Rubião escutava, com a alma nos olhos, sinceramente
a) concessão e explicação. desejoso de entender; mas não dava pela necessidade a
b) finalidade e conformidade. que o amigo atribuía a morte da avó. Seguramente o dono
c) condição e tempo. da sege, por muito tarde que chegasse à casa, não morria
d) modo e conclusão. de fome, ao passo que a boa senhora morreu de verdade,
e) causa e consequência. e para sempre. Explicou-lhe, como pôde, essas dúvidas,
e acabou perguntando-lhe:
. IFMT 017 Em “Cada qual sentia pelo outro um profundo — E que Humanitas é esse?
desprezo, pouco a pouco se foi transformando em — Humanitas e o princípio. Mas não, não digo nada,
tu não és capaz de entender isto, meu caro Rubião; fale-
repugnância completa,” o termo sublinhado se remete
mos de outra coisa.
a) à palavra repugnância.
— Diga sempre.
b) ao nascimento de Zulmira.
Quincas Borba, que não deixara de andar, parou al-
c) à expressão cada qual.
guns instantes.
d) ao profundo desprezo. — Queres ser meu discípulo?
e) ao termo outro. — Quero.
— Bem, irás entendendo aos poucos a minha filosofia;
3. PUC-GO 016 no dia em que a houveres penetrado inteiramente, ah! nes-
se dia terás o maior prazer da vida, porque não há vinho
VI que embriague como a verdade. Crê-me, o Humanitismo
Para entenderes bem o que é a morte e a vida, basta é o remate das coisas; e eu, que o formulei, sou o maior
contar-te como morreu minha avó. homem do mundo. Olha, vês como o meu bom Quincas
— Como foi? Borba está olhando para mim? Não é ele, é Humanitas...
— Senta-te. — Mas que Humanitas é esse?
Rubião obedeceu, dando ao rosto o maior interesse — Humanitas é o princípio. Há nas coisas todas certa
possível, enquanto Quincas Borba continuava a andar. substância recôndita e idêntica, um princípio único, uni-
— Foi no Rio de Janeiro, começou ele, defronte da versal, eterno, comum, indivisível e indestrutível, — ou,
Capela Imperial, que era então Real, em dia de grande festa; para usar a linguagem do grande Camões:
minha avó saiu, atravessou o adro, para ir ter a cadeirinha, Uma verdade que nas coisas anda,
que a esperava no Largo do Paço. Gente como formiga. O Que mora no visíbil e invisíbil.
povo queria ver entrar as grandes senhoras nas suas ricas Pois essa sustância ou verdade, esse princípio indestru-
traquitanas. No momento em que minha avó saía do adro tível e que é Humanitas. Assim lhe chamo, porque resume o
para ir à cadeirinha, um pouco distante, aconteceu espan- universo, e o universo e o homem. Vais entendendo?
tar-se uma das bestas de uma sege; a besta disparou, a outra — Pouco; mas, ainda assim, como é que a morte de
imitou-a, confusão, tumulto, minha avó caiu, e tanto as sua avó...
manitismo” com o objetivo de evitar repetições a) exerce o papel de pronome adjetivo porque
desnecessárias no decorrer do texto, garantindo- acompanha a palavra “ciberespaço”, delimitando-
-lhe coesão. -lhe a significação.
135
b) assume uma função coesiva porque substitui o 6. PUC-GO 016
sintagma “muita coisa”, restringindo-lhe o sentido
Eternidade
no contexto em que aparece. Ele reviu-se: Ele sentiu-se:
c) constitui sujeito sintático do verbo “desco- não era mais recomeçava.
nhecer” porque concorda com ele em tempo, nem corpo Vivera
modo, número e pessoa, atuando como agente nem sombra morrendo
da ação verbal. nem escombros. numa estrela.
d) funciona como conjunção explicativa porque Como foi isso? Ele despiu-se
introduz na sequência um esclarecimento, reve- Tudo irreal: de quê?
lando a personagem que enunciou a frase. um barco De tudo
sem mar que amara.
5. Ifal 018 Leia esta tira de Orlandeli e assinale a alter- a boiar.
Surdo-mudo
nativa incorreta. cegara.
Agora vê.
O trema não será
mais usado. LIMA, Jorge. Melhores poemas. 3. ed. São Paulo: Global, 2006. p. 122-123.
Exemplo:
"lingüiça" perde Em “Eternidade”, a estrutura paralelística composta
o trema e fica
"linguiça".
por ele + verbo + se, presente na primeira, terceira e
quarta estrofes, contribui para a delimitação de atos
importantes do “ele”. Em relação às funções sintáticas
do “se”, no texto, assinale a alternativa correta:
a) A palavra “se” assume a função de pronome apas-
sivador, visto que instaura uma estrutura na voz
passiva, que coloca em destaque o caráter reativo
www.orlandeli.com.br/novo/wordpress/index.php/tag/quadrinhos/
de um sujeito paciente diante de sua existência.
a) Ainda que flexione o verbo ver no imperativo, o b) A palavra “se” assume a função de pronome
personagem do primeiro quadrinho, ao fazê-lo reflexivo, uma vez que, como objeto direto dos
na primeira pessoa do plural, faz uma espécie verbos, essa palavra projeta as ações do sujeito
de convite ao colega para conhecerem juntos as sobre ele mesmo.
c) A palavra “se” funciona como índice de indeter-
novas regras ortográficas. É como se dissesse:
minação do sujeito, pois o enunciador opta pela
Vamos ver as novas regras.
criação de um mistério em relação à identidade
b) O termo Nossa!!, no segundo quadrinho, não fun-
daquele de quem se fala, de modo que o uso de
ciona como um pronome possessivo, mas como
“se” contribui para ocultar-lhe a identidade.
uma interjeição, não só porque exprime uma sen-
d) A palavra “se” funciona como encabeçador de
sação do personagem, como porque, na escrita,
uma sentença condicional, porque o enunciador
as interjeições vêm, via de regra, acompanhadas
apresenta três hipóteses de como se proceder
de ponto de exclamação. frente à busca da eternidade e, desse modo, con-
c) Embora apresente um valor semântico de ad- quistar os benefícios de uma vida perene.
miração, de surpresa, a expressão Que coisa...,
no segundo quadrinho, não se configura uma in-
7. UEG-GO 014 O período “Se a senhora não precisa
terjeição, pois vem seguida de reticências, que
de nada, vou ao médico” (Eça de Queirós) pode ser
somente indicam suspensão ou interrupção de
reescrito, sem prejuízo de sentido, do seguinte modo:
uma ideia ou pensamento.
a) Caso a senhora não precise de nada, vou ao médico.
d) Pode-se inferir do terceiro quadrinho que as re- b) Já que a senhora não precisa de nada, vou ao
gras ortográficas são imposições decorrentes médico.
do uso que os falantes fazem da língua, ou seja, c) Porque a senhora não precisa de nada, vou ao
como a maioria dos usuários desconhecia a fun- médico.
ção do trema e não sabia empregá-lo na escrita, d) Ainda que a senhora não precise de nada, vou
o sinal tornou-se obsoleto, não havendo razão ao médico.
para continuar existindo nas regras ortográficas
da língua. 8. AFA-SP
e) O significado das interjeições está sempre vin-
culado ao uso, por isso qualquer palavra ou Os ideais da nossa geração Y(continuação)
expressão da língua pode atuar como interjei- Daniella Cornachione
ção, dependendo do contexto e da intenção do
A busca desse equilíbrio é considerada uma caracte-
falante. Assim, conclui-se que, por expressarem
rística básica dos trabalhadores mais jovens, com idades
espanto, as três falas do personagem no segundo entre 18 e 29 anos — faixaapelidada de Geração Y. Dividir
quadrinho são interjeições.
d) “Apesar disso, os Xs brasileiros cresceram ou- mesmas bases técnicas poderão servir a outros objetivos,
vindo falar em , dívida externa e se forem postas a serviço de outros fundamentos sociais
econômicos fracassados.” (l. e ) e políticos. Parece que as condições históricas do fim do
137
século XX apontavam para esta última possibilidade. Tais 11. Unitins-TO 019
novas condições tanto se dão no plano empírico quanto
no plano teórico. Células-tronco regeneram coração de macacos
Considerando o que atualmente se verifica no plano A insuficiência cardíaca é uma das principais causas
empírico, podemos, em primeiro lugar, reconhecer um de morte ao redor do mundo. Um ataque cardíaco, mesmo
certo número de fatos novos indicativos da emergência que não seja fatal, pode trazer danos permanentes ao mús-
de uma nova história. O primeiro desses fenômenos é a culo do coração. Ele fica fraco, e não dá conta de bombear
enorme mistura de povos, raças, culturas, gostos, em todos sangue do jeito certo. Hoje não existe – ainda – uma forma
os continentes. A isso se acrescente, graças ao progresso de reverter o problema. Mas um novo estudo apostou em
da informação, a “mistura” de filosofia, em detrimento transformar células-tronco humanas em novos cardiomióci-
do racionalismo europeu. Um outro dado de nossa era, tos, as células do músculo cardíaco. E injetaram tudo direto
indicativo da possibilidade de mudanças, é a produção de no coração de macacos infartados. Deu certo: a técnica
uma população aglomerada em áreas cada vez menores, recuperou até 90% da função cardíaca dos animais – e até
o que permite um ainda maior dinamismo àquela mistura diminuiu as cicatrizes internas deixadas pelo infarto.
entre pessoas e filosofias. As massas, de que falava Ortega
Fonte: Leonardi, Ana Carolina. Revista Superinteressante, São Paulo,
y Gasset na primeira metade do século (A rebelião das n. 392, p. 16, 2018.
massas, 1937), ganham uma nova qualidade em virtude
de sua aglomeração exponencial e de sua diversificação. No período: “Um ataque cardíaco,
Trata-se da existência de uma verdadeira sociodiversida- fatal, pode trazer danos permanentes ao músculo do
de, historicamente muito mais significativa que a própria coração”, a função sintática da oração em destaque é:
biodiversidade. Junte-se a esses fatos a emergência de uma a) subordinada adverbial concessiva.
cultura popular que se serve dos meios técnicos antes b) subordinada substantiva objetiva direta.
exclusivos da cultura de massas, permitindo-lhe exercer c) coordenada sindética explicativa.
sobre esta última uma verdadeira revanche ou vingança. d) subordinada adjetiva restritiva.
É sobre tais alicerces que se edifica o discurso da e) subordinada substantiva apositiva.
escassez, afinal descoberta pelas massas. A população,
aglomerada em poucos pontos da superfície da Terra, cons- Leia um trecho do conto “Felicidade clandestina”, de
titui uma das bases de reconstrução e de sobrevivência das
Clarice Lispector, para responder à questão 1.
relações locais, abrindo a possiblidade de utilização, ao
serviço dos homens, do sistema técnico atual. Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que
No plano teórico, o que verificamos é a possiblidade não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas
de produção de um novo discurso, de uma nova meta- depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de
narrativa, um grande relato. Esse novo discurso ganha novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer
relevância pelo fato de que, pela primeira vez na histó- pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara
ria do homem, se pode constatar a existência de uma o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as
universalidade empírica. A universalidade deixa de ser mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que
apenas uma elaboração abstrata na mente dos filósofos era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina
para resultar da experiência ordinária de cada pessoa. De para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu
tal modo, em mundo datado como o nosso, a explicação vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma
do acontecer pode ser feita a partir de categorias de uma rainha delicada. Às vezes sentava-me na rede, balançan-
história concreta. É isso, também, que permite conhecer do-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase
as possiblidades existentes e escrever uma nova história. puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. 13. ed. São Paulo: Record, uma mulher com o seu amante (LISPECTOR, 1996, p. 7).
2006. p. 20-21. (Adaptado).
Considere o seguinte parágrafo: 1. Unitins-TO 019 Observe os termos destacados nas
É sobre tais alicerces que se edifica o discurso da orações a seguir.
escassez, afinal descoberta pelas massas. A população,
I. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto
aglomerada em poucos pontos da superfície da Terra, cons-
de o ter.
titui uma das bases de reconstrução e de sobrevivência das
relações locais, abrindo a possiblidade de utilização, ao
II. Horas depois o abri, li algumas linhas maravilho-
serviço dos homens, do sistema técnico atual. sas, fechei-o de novo, fui passear pela casa [...].
III. Criava as mais falsas dificuldades para aquela
A oração reduzida de gerúndio “abrindo a possiblidade coisa clandestina que era a felicidade.
de utilização, ao serviço dos homens, do sistema téc- IV. Eu era uma rainha delicada.
nico atual” retoma como sujeito o seguinte sintagma:
Agora, assinale a assertiva que traga a função sintática
a) “uma das bases de reconstrução e de sobrevi-
correta dos termos destacados em negrito, de acordo
vência das relações locais”
com a sequência apresentada nas frases I, II, III e IV.
b) “a população aglomerada em poucos pontos da
superfície da Terra” a) Objeto indireto, objeto direto, objeto direto e ad-
c) “descoberta pelas massas” junto adverbial.
d) “o discurso da escassez” b) Predicativo do sujeito, complemento nominal, ob-
e) “tais alicerces” jeto direto e predicativo do sujeito.
139
13. IME-RJ 015 Observe os fragmentos extraídos do úl- A numeração correta, de cima para baixo, é
timo parágrafo do texto . a) – 3 – – – . d) – – – – 3.
b) – – 3 – – . e) 3 – – – – .
,... a questão é ter coragem de viver,... / ... o que sig-
c) – – – – 3.
nifica correr riscos e assumir responsabilidades...,
Pode-se dizer que o segundo fragmento, em relação 17. Uerr 016
à ideia expressa no primeiro, representa uma: Ela se despiu como quem vestia a pele.
a) explicação. d) consequência. Yara saiu dos rios e seduziu o pescador.
b) finalidade. e) exceção. Fizeram amor toda noite na areia,
na canoa, dentro do Uraricoera.
c) causa.
havia puçanga* em seu corpo,
havia urucum em seus lábios, jenipapo no corpo,
14. IME-RJ 015 Nos textos 1 e , observam-se alguns
um redemoinho no ventre.
termos “se” em destaque. A análise desse termo foi
Ela o estrangulou ao amanhecer e
feita de forma correta em:
saiu com um filho no ventre.
a) “...mas não se sabia se ela tinha a capacidade de
sentir medo...” (texto , o parágrafo) – conjunção *Poção mágica utilizada pelos indígenas.
subordinativa adverbial condicional. FIOROTTI, Devair. Livro dos amores. São Paulo: Patuá, 2014.
b) “...pode-se dizer que o sofrimento dela não tem a Assinale a alternativa falsa.
intensidade profunda e real suportada por outros a) “Como quem vestia a pele” é uma oração subor-
sobreviventes de traumas.” (texto , o parágrafo) dinada.
– partícula de realce. b) “E seduziu o pescador” é uma oração coordenada.
c) “A cada passo dado você sente que a felicidade c) A estrutura sintática de orações coordenadas e
se afasta alguns metros?” (texto , o parágrafo) – subordinadas é similar.
conjunção subordinativa adverbial temporal. d) As orações subordinadas são tidas como orações
d) “Isso se chama autossabotagem.” (texto , o pa- complexas.
rágrafo) – conjunção integrante. e) “E” é uma conjunção coordenativa.
e) “...porque continuam recebendo atenção dos pais
e se eximem de enfrentar as dificuldades da fase 18. AFA-SP 017
adulta...” (texto , o parágrafo) – pronome reflexivo. Para sempre jovem
Recentemente, vi na televisão a propaganda de um jipe
15. IFGoiano-GO 018 que saltava obstáculos como se fosse um cavalo de corrida.
É preciso parar. Já tinha visto esse comercial, mas comecei a prestar atenção
Estou com saudade de mim. Ando pouco recolhida, na letra da música, soando forte e repetindo a estrofe de
atendendo demais ao telefone, escrevo depressa, vivo 5 uma canção muito conhecida, “forever Young... I wanna
depressa. Onde está eu? Preciso fazer um retiro espiritual live forever and Young... (para sempre jovem... quero viver
e encontrar-me enfim – enfim, mas que medo – medo de para sempre e jovem). Será que, realmente, queremos viver
mim mesma. muito e, de preferência, para sempre jovens? [...]
LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. O crescimento da população idosa nos países desen-
10 volvidos é uma bomba-relógio que já começa a implodir
Em relação à pontuação do trecho em negrito, é corre-
os sistemas previdenciários, despreparados para amparar
to armar que as vírgulas estão separando as orações
populações com uma média de vida em torno de 140
a) coordenadas assindéticas. anos. A velhice se tornou uma epidemia incontrolável
b) coordenadas sindéticas. nos países desenvolvidos. Sustentar a população idosa
c) subordinadas substantivas. sobrecarrega os jovens, cada vez em menor número, pois,
15
d) subordinadas da principal. nesses países, há também um declínio da natalidade. Será
isso socialmente justo?
16. URI-RS 014 Numere os parênteses, relacionando as Uma pessoa muito longeva consome uma quantidade
palavras/expressões destacadas na coluna da direita às total de alimentos muito maior do que as outras, o que
ideias que elas estabelecem entre os segmentos do texto. 20 contribui para esgotar mais rapidamente os recursos finitos
do planeta e agravar ainda mais os desequilíbrios sociais.
Finalidade “ , estima-se que Para que uns poucos possam viver muito, outros terão de
a produção anual do lixo” passar fome. Será que, em um futuro breve, teremos uma
2 Explicação “ , segundo guerra de extermínio aos idosos, como na ficção do escritor
a UNICEF, em alguns lixões” 25 argentino Bioy Casares, O diário da guerra do porco? Seria
Ilustração “ absorção de materiais uma guerra justa? /.../
recicláveis produzidos” TEIXEIRA, João. Para sempre jovens. In: Revista Filosofia: ciência & vida.
Ano VII, n. 92, março-2014, p. 54.
Tempo “ era passou a
ser identificado” Elementos de modalização são responsáveis por ex-
Conformidade “ a UNICEF, mil pressar intenções e pontos de vista do enunciador. Por
crianças e adolescentes” intermédio deles, o enunciador inscreve no texto seus
Assim se explicam os monólogos que fazia agora, e que os ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoie-
fâmulos lhe ouviam muita vez: – “Anda, bem-feito, quem vski. Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo,
te mandou consentir na viagem de Cesária? Bajulador, tor- 15 confiou na palavra de um desconhecido para a compra de
10 pe bajulador! Só para adular ao Dr. Bacamarte. Pois agora um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho
141
era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a de elo aos dois infelizes, foi antes um novo isolador que
Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem se estabeleceu entre eles. Estela amava-a menos do que
vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, lhe pedia o instinto materno por supô-la filha do marido, e
20 a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado este a detestava porque tinha convicção de não ser seu pai.
que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Uma bela noite, porém, o Miranda, que era homem
Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, de sangue esperto e orçava então pelos seus trinta e cinco
não desconfiar, e portanto estar tranquilo, enquanto o esperto anos, sentiu-se em insuportável estado de lubricidade. Era
não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto tarde já e não havia em casa alguma criada que lhe pu-
25 vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que desse valer. Lembrou-se da mulher, mas repeliu logo esta
venceu. Aviso: não confundir bobos com burros. Desvanta- ideia com escrupulosa repugnância. Continuava a odiá-la.
gem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. Entretanto este mesmo fato de obrigação em que ele se
É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou colocou de não servir-se dela, a responsabilidade de des-
dizendo a célebre frase: “Até tu, Brutus?”. Bobo não reclama. prezá-la, como que ainda mais lhe assanhava o desejo da
30 Em compensação, como exclama! Os bobos, com todas as carne, fazendo da esposa infiel um fruto proibido. Afinal,
suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse coisa singular, posto que moralmente nada diminuísse a
sido esperto não teria morrido na cruz. sua repugnância pela perjura, foi ter ao quarto dela.
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que A mulher dormia a sono solto. Miranda entrou pé
se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade ante pé e aproximou-se da cama. “Devia voltar!... pensou.
35 e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos Não lhe ficava bem aquilo!...” Mas o sangue lateja-
não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos va-lhe, reclamando-a. Ainda hesitou um instante, imóvel,
outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem- a contemplá-la no seu desejo.
-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém Estela, como se o olhar do marido lhe apalpasse o
desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sa corpo, torceu-se sobre o quadril da esquerda, repuxando
40 bem. Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas com as coxas o lençol para a frente e patenteando uma
(não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas nesga de nudez estofada e branca. O Miranda não pôde
Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem resistir, atirou-se contra ela, que, num pequeno sobressalto,
por não nascer em Minas! Bobo é Chagall, que põe vaca mais de surpresa que de revolta, desviou-se, tornando logo
no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível e enfrentando com o marido. E deixou-se empolgar pelos
45 evitar o excesso de amor que o bobo provoca. É que só o rins, de olhos fechados, fingindo que continuava a dormir,
bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo. sem a menor consciência de tudo aquilo.
LISPECTOR, Clarice. Das vantagens de ser bobo. Ah! ela contava como certo que o esposo, desde que
Disponível em: www.revistapazes.com/das-vantagens-de-ser-bobo/. Acesso não teve coragem de separar-se de casa, havia, mais cedo
em 10 de maio de 2017. Originalmente publicado no
Jornal do Brasil em 12 de setembro de 1970. ou mais tarde, de procurá-la de novo. Conhecia-lhe o tem-
peramento, forte para desejar e fraco para resistir ao desejo.
Observe os conectivos destacados no trecho abaixo.
Consumado o delito, o honrado negociante sentiu-se
Assinale a opção em que a análise semântica está de
tolhido de vergonha e arrependimento. Não teve ânimo
acordo com a que foi estabelecida no texto. de dar palavra, e retirou-se tristonho e murcho para o seu
[…] ele disse que o aparelho era novo, praticamente quarto de desquitado.
sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a Oh! como lhe doía agora o que acabava de praticar
boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não na cegueira da sua sensualidade.
funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Moderna, 1983.
aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: Em relação aos aspectos linguísticos, assinale a alter-
mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem nativa correta.
de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar a) A locução conjuntiva concessiva “ainda mais” (º
tranquilo, enquanto o esperto não dorme à noite com medo parágrafo) é apenas enfática e poderia ser substi-
de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. tuída por “ainda que” que não alteraria o sentido.
O bobo não percebe que venceu. (linhas a ) b) A conjunção “porém” (º parágrafo) estabelece
a) O conectivo “porque” estabelece uma relação de uma relação conclusiva.
consequência. c) A palavra “aquilo” (3º parágrafo) faz referência ao
b) O advérbio “sequer” introduz uma ideia de exceção. nascimento de Zulmira.
c) A expressão “tão... que” estabelece uma relação d) A expressão “desde que” (º parágrafo) é uma
de causa. locução conjuntiva coordenada e estabelece re-
d) O conectivo “portanto” estabelece uma ideia de lação causal.
finalidade. e) O termo “Agora” (º parágrafo), indica tempo e
e) O conectivo “enquanto” estabelece ideia de com- remete ao momento da ação praticada pelo per-
paração. sonagem Miranda.
. IFMT 017 3. IFMT 016
Odiavam-se. Cada qual sentia pelo outro um profundo
desprezo, que pouco a pouco se foi transformando em re- Universidade e paixões
pugnância completa. O nascimento de Zulmira veio agravar Ainda existe na universidade a ideia de que a pai-
ainda mais a situação; a pobre criança, em vez de servir xão se opõe à lógica. Esta tem cidadania nas relações e
Água: a crônica da falta de bom senso Em “para vivermos de maneira mais sustentável, justa e
Reinaldo Canto equilibrada, não devemos esperar milagres, mas a parti-
cipação de todos” (l. 50 a 52), o conectivo em destaque
Jornalista especializado em sustentabilidade e consumo consciente, pós-
graduado em inteligência empresarial e gestão do conhecimento, em pode ser substituído, sem prejuízo de sentido, por:
FRENTE 1
143
BNCC em foco
EM13LGG104
1.
[...]
Vera Neves salienta que, na doença de Alzheimer, por exemplo, a terapêutica atual utiliza inibidores que regulam a
transmissão de informação entre neurônios. “Se (1) fosse possível usar anticorpos que reconhecem a proteína beta-amiloide
[proteína tóxica que se (2) acumula nas placas senis que se (3) formam no cérebro e são uma das características da doença]
e que ao mesmo tempo conseguem inibir a acumulação da mesma, essa estratégia iria não só melhorar os sintomas como
prevenir a progresso da doença”, diz a pesquisadora. E acrescenta: “Idealmente, o tratamento deveria ser feito no início da
doença para evitar os efeitos irreversíveis, como a morte celular. Por isso, é também importante encontrar meios de detectar
a doença em estágios iniciais.”
[...]
a)
b)
c)
d)
e)
. Cultivar um estilo de vida saudável é extremamente importante para diminuir o risco de infarto, mas também de
problemas como morte súbita e derrame. Significa que manter uma alimentação saudável e praticar atividade física regular-
mente já reduz, por si só, as chances de desenvolver vários problemas. Além disso, é importante para o controle da pressão
arterial, dos níveis de colesterol e de glicose no sangue. Também ajuda a diminuir o estresse e aumentar a capacidade física,
fatores que, somados, reduzem as chances de infarto. Exercitar-se, nesses casos, com acompanhamento médico e modera-
ção, é altamente recomendável.
a)
b)
c)
d)
e)
EM13LGG401
3.
Acima de tudo Euclides exaltava o papel crucial do agenciamento histórico da população brasileira. Sua maior aposta
para o futuro do país era a educação em massa das camadas subalternas, qualificando as gentes para assumir em suas pró-
prias mãos seu destino e o do Brasil. Por isso se viu em conflito direto com as autoridades republicanas, da mesma forma
como outrora lutara contra os tiranetes da monarquia. Nunca haveria democracia digna desse nome enquanto prevalecesse
o ambiente mesquinho e corrupto da ‘república dos medíocres’ [...]. Gente incapaz e indisposta a romper com as mazelas
deixadas pelo latifúndio, pela escravidão e pela exploração predatória da terra e do povo. [...]
[...] Euclides expôs a mistificação republicana de uma “ordem” excludente e um “progresso” comprometido com o
legado mais abominável do passado. Sua morte precoce foi um alívio para os césares. A história, porém, orgulhosa de quem
a resgatou, não deixa que sua voz se cale.
a)
b)
15
formas poéticas tradicionais, sobretudo do soneto. Apesar de os poetas desse momento
terem retornado também à métrica, não a consideraram obrigatória, sendo utilizado ain-
da o verso livre, embora mais trabalhado ritmicamente e com certo rigor e zelo artesanal.
Surge uma geração de escritores preocupados principalmente com o domínio da
própria linguagem, visto que o contexto político estava relativamente tranquilo em
relação às gerações anteriores, fazendo com que esses escritores fossem menos
exigidos social e politicamente, podendo, assim, potencializar seus trabalhos nos âm-
bitos estéticos e linguísticos, explorando com maior afinco a forma literária, tanto na
prosa quanto na poesia.
Uma nova conjuntura regionalista Guimarães Rosa e a linguagem
Mundialmente, o ano de 1945 marcou o fim da Segunda de múltiplos significados
Guerra Mundial e, no Brasil, do Estado Novo (1937-1945), João Guimarães Rosa (1908-1967), nascido em
implementado pela presidência de Getúlio Vargas. O Brasil Cordisburgo, Minas Gerais, foi escritor, médico e diplomata,
passou a viver um período democrático e desenvolvimentista representando o Brasil em vários lugares do mundo. Estu-
cujo ápice ocorreu nos anos de governo do presidente dou em Belo Horizonte desde pequeno e, quando tinha
Juscelino Kubitschek. apenas 16 anos, ingressou na Faculdade de Medicina da
A literatura brasileira, assim como o cenário sociopo- Universidade de Minas Gerais. Também morou por alguns
lítico, passava por transformações: a prosa modernista da anos na Europa e em outros países da América Latina, onde
terceira geração, de início, mostra-se conservadora, intimista seguiu carreira diplomática.
e reflexiva. Ao mesmo tempo, o regionalismo renova-se a Trabalhar como médico e diplomata lhe proporcionou uma
partir da perspectiva de Guimarães Rosa e de sua recriação vivência próxima de um grande número de pessoas, o que per-
dos costumes e da fala sertaneja, adentrando a psicologia mitiu que tivesse contato com diferentes saberes e modos de
do jagunço do Brasil central. manifestar a linguagem. Assim, o autor produziu um conheci-
O termo “regionalismo” é bastante amplo e sofreu mento muito amplo sobre os tipos humanos, sempre permeado
variações no decorrer do tempo. Porém, seu conceito, por dois campos de visão: um erudito, tradicional e universal; e
ainda que sob diferentes matizes, está presente desde o outro igualmente relevante, popular, regional e local.
projeto romântico de José de Alencar ao retratar nossas Sabe-se que Guimarães Rosa foi um intelectual, es-
paisagens, tipos e costumes diversos, passando pelo tudioso assíduo e leitor voraz de romances da literatura
ainda muito marcado determinismo que se observa em Os universal. Ele falava oito idiomas e tinha noções de vários
sertões, de Euclides da Cunha. Além disso, o regionalismo é outros; além disso, sua grande erudição e a vivência próxi-
encontrado nas histórias “caipiras” de Monteiro Lobato e na ma do universo rústico do Brasil foram determinantes para
obra, já modernista, Macunaíma, de Mário de Andrade, a qual a riqueza de sua produção textual.
retrata uma viagem fantástica, com toques surrealistas, por Um fato curioso sobre o autor é que ele foi eleito para
todo o Brasil. Ao se desenvolver, o conceito de regionalismo a Academia Brasileira de Letras em 1963, porém adiou sua
revelou-se, quase sempre, associado ao espírito nacionalista cerimônia de posse por quatro anos, pois temia que seu
e voltado à valorização da nossa cultura. coração não aguentasse a emoção. No dia 16 de novembro
Como já estudamos, o regionalismo ganhou mais de 1967, em seu discurso de posse, disse “… a gente morre
força na década de 1930, garantindo prestígio literário é para provar que viveu”, falecendo, três dias depois, em
para os escritores que valorizavam, ainda que de modos virtude de um infarto.
diferentes, a abordagem temática de problemas ligados No texto a seguir, o autor discorre sobre sua cidade natal,
às suas regiões. demonstrando capacidade narrativa de transformar um sim-
Em um cenário de profundas mudanças políticas devido ples lugar em um universo amplo e de infinitos significados.
ao fim das oligarquias, ao desenvolvimento da indústria e Cordisburgo era pequenina terra sertaneja, trás montanhas,
à nova fase centralizadora, surgia, no Brasil, o sentimento no meio de Minas Gerais. Só quase lugar, mas tão de repente
geral de unidade da nação baseado no conhecimento de bonito: lá se desencerra a Gruta do Maquiné, milmaravilha, a das
suas diversidades regionais, com o desejo por uma estética Fadas; e o próprio campo, com vasqueiros cochos de sal ao gado
literária que pudesse aproximar e colocar lado a lado as bravo, entre gentis morros ou sob o demais de estrelas, falava-se
diferenças: o Brasil queria reconhecer sua totalidade de antes: “os pastos da Vista Alegre”. Santo, um “Padre Mestre”, o
maneira mais integrada e ampliar a consciência quanto às Padre João de Santo Antônio, que recorria atarefado a região como
suas imensas disparidades regionais. missionário voluntário, além de trazer ao raro povo das grotas
A literatura do período marcou-se pelo tom de denúncia toda sorte de assistência e ajuda, esbarrou ali, para realumbrar-se
e de conscientização dos problemas e das características e conceber o que tenha talvez sido seu único gesto desengajado,
regionais, ainda que acompanhada, principalmente nas obras gratuito. Tomando da inspiração da paisagem a loci opportunitas,
de Graciliano Ramos, por uma densa sondagem psicológica. declarou-se a erguer ao Sagrado Coração de Jesus um templo
A partir de 1945, essa conjuntura literária se modificou naquele mistério geográfico. Fê-lo e fez-se o arraial, a que o fun-
novamente, adquirindo uma nova dimensão com Guimarães dador chamou “O Burgo do Coração”. Só quase coração – pois
Rosa, cuja obra não trazia mais o tom da denúncia, embora onde chuva e sol e o claro do ar e o enquadro cedo revelam ser
mantivesse certa preocupação social e contato íntimo com o espaço do mundo primeiro que tudo aberto ao supraordenado:
a matéria regional, no seu caso, o sertão mineiro. O foco do influem, quando menos, uma noção mágica do universo.
trabalho do escritor era construir uma forma de expressão [...]
que garantisse um mergulho mais fundo na humanidade co- Mais eu murmure e diga, ante macios morros e fortes
mum das diversas experiências de vida do sujeito brasileiro, gerais estrelas, verde o mugibundo buriti, buriti, e a sempre-
ainda que a partir da observação de uma região específica. -viva-dos-gerais que miúdo viça e enfeita: O mundo é mágico.
Houve, assim, uma enorme transformação do conceito de — Ministro, está aqui CORDISBURGO.
regionalismo, que, se não levou à impossibilidade de usá-lo, ROSA, João Guimarães. Discurso de posse para a Academia Brasileira de
Letras. Rio de Janeiro, 16 nov. 1967. Disponível em: www.academia.org.br/
modificou radicalmente, de modo a originar uma literatura abl/cgi/cgilua.exe/sys/ start.htm?infoid=685&sid=96.
calcada em princípios mais universalistas. Acesso em: 28 fev. 2018.
147
“Sagarana transcende a região e constrói um certo sabor No trecho a seguir, do conto “Conversa de bois”, a mis-
regional”. Com essa forma de construção, que oferece uma tura e a indiferenciação entre o erudito e o popular se dão,
configuração estética complexa ao simples e primitivo, a obra ironicamente, no plano literal da escrita: a expressão em
se distancia do regionalismo tal como havia sido praticado latim é colocada lado a lado com as expressões coloquiais
até então, mas talvez seja a única obra do autor à qual, de das falas das personagens, demonstrando a mistura entre o
um modo ou de outro, ainda possamos estender essa no- popular e o erudito, traço forte na obra de Guimarães Rosa:
menclatura, visto que alguns dos enredos dos contos se “Visa sub obscurum noctis pecudesque locutae. Infandum!”
assemelham aos “causos” da tradição oral e boa parte de é um verso do poeta Virgílio, do Livro I das Geórgicas, e
suas personagens apresentam uma caracterização anedótica pode ser traduzido por “Vê que sob a noite obscura os
que as aproxima das fabulações regionalistas. bois falam. ”.
A palavra que dá título ao volume de contos, “sagarana”, é
um hibridismo composto por “saga”, palavra de origem germâ-
nica que significa “canto heroico, lenda”, e o sufixo “rana”, de
origem tupi, que significa “semelhante, feito à maneira de”. Esse Que já houve um tempo em que eles conversavam, en-
nome já revela a força e o teor das nove histórias que compõem tre si e com os homens, é certo e indiscutível, pois que bem
o livro: “O burrinho pedrês”, “A volta do marido pródigo”, “Sara- comprovado nos livros das fadas carochas. Mas, hoje-em-dia,
palha”, “Duelo”, “Minha gente”, “São Marcos”, “Corpo fechado”, agora, agorinha mesmo, aqui, aí, ali, e em toda parte, poderão
“Conversa de bois” e “A hora e vez de Augusto Matraga”. os bichos falar e serem entendidos, por você, por mim, por
Nessas histórias, as falas, os saberes populares e as todo o mundo, por qualquer um filho de Deus?!
formas literárias cultas atuam juntos e com a mesma força, — Falam, sim senhor, falam!... –, afirma o Manuel
e a memória e a experiência locais estão condensadas e Timborna, das Porteirinhas, filho do Timborna velho, pega-
se misturam a fabulações típicas da tradição literária culta. dor de passarinhos, e pai dessa infinidade de Timborninhas
barrigudos, que arrastam calças compridas e simulam todos
Assim, o rústico convive sem confronto com o sofisticado
o mesmo tamanho, a mesma idade e o mesmo bom-parecer;
no mesmo ambiente. Nessa convivência entre imprevistos,
– Manuel Timborna, que, em vez de caçar serviço para fazer,
o genial efeito literário: o leitor tende a perder-se no mundo
vive falando invenções só lá dele mesmo, coisas que as outras
narrado entre a noção do que é real e do que é ficção.
pessoas não sabem e nem querem escutar.
Tratar não apenas a temática, mas a própria linguagem
— Pode que seja, Timborna. Isso não é de hoje... “Visa sub
com que se narra a história como uma experiência mística
obscurum noctis pecudesque locutae. Infandum!...”. Mas, e os
para o leitor marca, desde Sagarana, toda a obra roseana,
bois? Os bois também?...
encontrando, a cada livro, novas formulações.
— Ora, ora!... Esses é que são os mais!... Boi fala o tempo
No trecho destacado a seguir, retirado do conto
todo. Eu até posso contar um caso acontecido que se deu.
“A hora e vez de Augusto Matraga”, o andamento da narra-
— Só se eu tiver licença de recontar diferente, enfeitado
tiva mistura a focalização animista, que sonda as vontades
e acrescentado ponto e pouco...
e disposições do animal ( jumento), com as superstições da
— Feito! Eu acho que assim até fica mais merecido, que
personagem que o monta.
não seja.
E quando o jegue empacava – porque, como todo jumento, ROSA, João Guimarães. “Conversa de Bois”. In: ROSA, João Guimarães;
COUTINHO, Eduardo (Org.). Ficção completa. 2. ed. Rio de Janeiro:
ele era terrível de queixo-duro, e tanto tinha de orelhas quanto Nova Aguilar, 2009. p. 211. v. 1.
de preconceitos, – Nhô Augusto ficava em cima, mui concorde,
rezando o terço, até que o jerico se decidisse a caminhar outra
vez. E também, nas encruzilhadas, deixava que o bendito asno Corpo de baile: o rodar das personagens e das
escolhesse o caminho, bulindo com as conchas dos ouvidos e formas literárias
ornejando. E bastava batesse no campo o pio de uma perdiz Dez anos depois da publicação de Sagarana – que, a par
magoada, ou viesse do mato a lália lamúria dos tucanos, para o ju- da novidade de sua linguagem, ainda manteve a forma con-
mento mudar de rota, pendendo à esquerda ou se em pescoçando vencional de um livro de contos –, surgia o enorme volume
para a direita; e, por via de um gavião casaco-de-couro cruzar-lhe que contém o ciclo de novelas Corpo de baile. Aliás, como
à frente, já ele estacava, em concentrado prazo de irresolução. em Sagarana, o nome do livro não é o nome de nenhum
Mas, somadas as léguas e deduzidos os desvios, vinham dos textos: trata-se do conjunto de sete textos de estruturas
eles sempre para o sul, na direção das maitacas viajoras. Agora, formais muito livres e diferentes entre si, possivelmente a
amiudava-se o aparecimento de pessoas – mais ranchos, mais razão pela qual o autor os denominou “Os poemas” no ín-
casas, povoados, fazendas; depois, arraiais, brotando do chão. dice que abre o volume. Certamente, esse é o motivo de o
E então, de repente, estiveram a muito pouca distância do próprio Guimarães e os críticos literários aplicarem a eles o
arraial do Murici. conceito de “novelas” – termo que designa textos literários
— Não me importo! Aonde o jegue quiser me levar, nós de maneira indefinida, ora mais próximos do conto, ora seme-
vamos, porque estamos indo é com Deus! ... lhantes a romances, mas sem que isso diga respeito apenas
E assim entraram os dois no arraial do Rala-Coco, onde às suas extensões, e sim à diversidade dos seus recursos
havia, no momento, uma agitação assustada no povo. narrativos. Uma das novelas, inclusive, “Cara-de-bronze”, tem
ROSA, João Guimarães. “A hora e vez de Augusto Matraga”. In: ROSA,
João Guimarães; COUTINHO, Eduardo (Org.). Ficção completa. 2. ed. Rio de
a peculiaridade de apresentar, entremeados à narrativa, lon-
Janeiro: Nova Aguilar, 2009. p. 264-5. v. 1. gos trechos na forma de um roteiro cinematográfico que
149
longe para chegar às determinações centrais do romance; das posições, às misturas e às reversibilidades que podem
em vez disso, o narrador olha para nós de dentro da nar- ocorrer em vários planos.
rativa e, por isso, pode narrar com todas as idas e vindas, Embaraçar a disposição de gêneros representa, tam-
interrupções e retornos, indecisões quanto ao “como” e ao bém, uma questão importante para o autor, haja vista a
“que” contar, próprias da liberdade de uma fala próxima, relação que podemos ter com uma alteridade radical e
que se dirige a alguém que está ao lado. com o tratamento que dedicamos ao outro, o qual nunca
Tal opção narrativa do autor – a de criar uma comple- conheceremos inteiramente.
xa personagem sertaneja que fala diretamente para nós As diferenças entre plebe e oligarquia e entre jagunços
– constrói a estranha impressão que o leitor tem ao se e chefes introduzem, ainda, outra dimensão de disparidade:
deparar com as palavras e a visão de mundo tão profundas Riobaldo transita entre as classes e sempre se pergunta
e elaboradas de Riobaldo: sem aquela mediação narrati- “quem sou eu?”. Assim, a busca do sentido da vida por esse
va típica do regionalismo anterior, que nos aproximava do herói problemático confere à narrativa uma característica
mundo narrado, aqui a fala direta desse mundo já está posta típica do romance de formação.
sem rodeios para a nossa atenção e possível decifração. Na história contada, a lei civil e o poder nacional centra-
[...] Me declare, franco, peço. Ah, lhe agradeço. Se vê
lizador se contrapõem aos costumes locais, como a tradição
que o senhor sabe muito, em ideia firme, além de ter carta patriarcal ou o modo arcaico de produção. Isso porque,
de doutor. Lhe agradeço, por tanto. Sua companhia me dá para os jagunços, a comunidade dá as diretrizes, ou seja,
altos prazeres. o coletivo se resolve. No entanto, Riobaldo, embora pas-
Em termos, gostava que morasse aqui, ou perto, era uma se a fazer parte do grupo de jagunços, vive com dúvidas
ajuda. Aqui não se tem convívio que instruir. Sertão. Sabe o complexas, questiona seus valores, seus princípios e suas
senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais ações: esse é o lado contemplativo do herói, que mostra
forte do que o poder do lugar. Viver é muito perigoso... sua interioridade contraditória.
Eh, que se vai? Jajá? É que não. Hoje, não. Amanhã, não. O encontro da personagem principal com a jagunça-
Não consinto. O senhor me desculpe, mas em empenho gem, por exemplo, é narrado, ao mesmo tempo, como uma
de minha amizade aceite: o senhor fica. Depois, quinta de- aparição tenebrosa e fascinante. Essas encruzilhadas vivi-
-manhã-cedo, o senhor querendo ir, então vai, mesmo me deixa das pelo sertanejo configuram sempre uma aproximação
sentindo sua falta. Mas, hoje ou amanhã, não. Visita, aqui em seguida de um distanciamento para reflexão.
casa, comigo, é por três dias!
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. In: ROSA, João Guimarães;
A bronzes. O ódio pousa na gente, por umas criaturas.
COUTINHO, Eduardo (Org.). Ficção completa. 2. ed. Rio de Janeiro: Já vai que o Hermógenes era ruim, ruim. Eu não queria ter
Nova Aguilar, 2009. p. 18. v. 2. medo dele. Digo ao senhor que aquele povo era jagunços; eu
Em Grande sertão: veredas, personagens, narrador, queria bondade neles? Desminto. Eu não era criança. Nunca
autor e leitor parecem estar unidos em uma mesma expe- bobo fui. Entendi o estado de jagunço, mesmo assim sendo
riência de conhecimento do mundo, de partilha de visão a eu marinheiro de primeira viagem. Um dia, agarraram um
homem, que tinha vindo à traição, espreitar a gente por conta
respeito de mundos tanto exteriores quanto interiores, os
dos bebelos. Assassinaram. Me entristeceu, aquilo, até ao vago
quais, muito aos poucos e desordenadamente – como na
do ar. O senhor vigie esses: comem o crú de cobras. Carecem.
vida –, vamos descobrindo.
Só por isso, para o pessoal não se abrandar nem esmorecer, até
[...] Todo caminho da gente é resvaloso. Mas; também, Sô Candelário, que se prezava de bondoso, mandava mesmo
cair não prejudica demais – a gente levanta, a gente sobe, a em tempo de paz, que seus homens saíssem fossem, para es-
gente volta! Deus resvala? Mire e veja. Tenho medo? Não. Estou tropelias, prática da vida. Ser ruim, sempre, às vezes é custoso,
dando batalha. É preciso negar que o “Que-Diga” existe. Que carece de perversos exercícios de experiência. Mas, com o
é que diz o farfal das folhas? Estes gerais enormes, em ventos, tempo, todo o mundo envenenava do juízo. Eu tinha receio
danando em raios, e fúria, o armar do trovão, as feias onças. de que me achassem de coração mole, soubessem que eu não
O sertão tem medo de tudo. Mas eu hoje em dia acho que era feito para aquela influição, que tinha pena de toda cria de
Deus é alegria e coragem – que Ele é bondade adiante, quero Jesus. — “E Deus, Diadorim?” – uma hora eu perguntei. Ele
dizer. O senhor escute o buritizal. E meu coração vem comigo. me olhou, com silenciozinho todo natural, daí disse, em res-
ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: veredas. In: ROSA, João Guimarães; posta: — “Joca Ramiro deu cinco contos de réis para o padre
COUTINHO, Eduardo (org.). Ficção completa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova
vigário de Espinosa...”.
Aguilar, 2009. p. 203-4. v. 2.
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. In: ROSA, João Guimarães;
Também por sua peculiar opção narrativa, o romance COUTINHO, Eduardo (org.). Ficção completa. 2. ed. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 2009. p. 112. v. 2.
é todo pautado por uma dimensão enigmática, lacunar e
misteriosa. O elemento principal desse plano reticente é A obra-prima de Rosa, sem dúvida um dos romances
Diadorim, que assume a tarefa de vingar a morte do pai, mais complexos e potentes de nossa literatura, eleva esse
o grande chefe jagunço Joca Ramiro. A personagem re- gênero literário a um patamar raro entre os brasileiros, que
presenta a coragem em relação à natureza e aos homens dificilmente encontrará par. Livro-mundo que tudo resume
e marca e favorece a entrada de Riobaldo para o mundo e abre, ele se dispõe a nós como a terra vasta do sertão:
lírico da beleza gratuita e da poesia. Porém, se por um assustadora e eventualmente difícil de transpor, mas ca-
lado Diadorim o ensina a ver a beleza do sertão, por outro paz de revelar belezas extremas se o leitor se dispuser a
oculta um segredo e revela que tudo está sujeito à inversão adentrar suas veredas.
151
própria vida também se abre e se fecha. Por meio dessas que sua estreia literária tenha sido com um romance intitu-
relações de transitoriedade, o escritor fala sobre o cará- lado Perto do coração selvagem (1943), escrito quando a
ter provisório da vida de modo simples, como quem quer autora tinha 0 anos.
apenas mostrar que as coisas podem ir e vir, mas que a Ainda que o ato de escrever fosse condição fundamen-
vivência plena desses momentos amplia a intensidade do tal para que Clarice se mantivesse viva, ela não aceitava ser
nosso estar no mundo. classificada como uma escritora profissional, uma vez que
Superando a desilusão que acompanha a dor de certos a obrigação outorgada pelo rótulo da profissão tolheria o
aprendizados de vida, os contos de Guimarães destacam a ato de escrever livremente, sem compromisso, algo de que
beleza do exercício de conhecer e experimentar sensações tanto precisava, como respirar ou se alimentar.
novas. O conto “Soroco, sua mãe, sua filha”, por exemplo,
E nasci para escrever. Minha liberdade é escrever. A palavra
faz suceder à tristeza da personagem Soroco – que leva
é o meu domínio sobre o mundo. Eu tive desde a infância várias
mãe e filha, acometidas de loucura, a caminho do embarque
vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações
para o hospício – a inesperada beleza e solidariedade do era escrever. E não sei por que foi essa que segui. Talvez porque
canto do povo do lugarejo, que, arremedando o “canto para as outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado,
sem razão” das duas mulheres, acompanha Soroco, agora enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se
sozinho, de volta à casa. vivendo em nós e ao redor de nós.
As narrativas focam experiências de continuidade e LISPECTOR, Clarice. Apud: WALDMAN, Berta. Clarice Lispector.
descontinuidade que dão forma aos ciclos naturais exerci- São Paulo: Escuta, 1993. p. 17-8.
dos sobre todas as coisas. Assim, a partir das experiências A obra de Clarice Lispector se desvia da norma de
singulares narradas, Guimarães apresenta ao leitor outras outros representantes literários do período e se constrói
possibilidades concretas de vida, que, na verdade, são de maneira inédita e surpreendente, sempre a partir do
universais, ou seja, dizem respeito a qualquer ser humano.
cruzamento entre a sua própria experiência do mundo e
o ato de escrever. Sem se preocupar com as formas lite-
Literatura e experiência em Clarice Lispector
rárias convencionais, sua escrita permite que as palavras
Clarice Lispector (190-1977) nasceu na Ucrânia, encontrem seu próprio fluxo e deem forma a uma espécie
porém veio ao Brasil com dois meses de idade, onde foi de subversão do fazer literário.
alfabetizada. Talvez seja por isso que ela afirmava em en-
trevistas que não se sentia estrangeira. Passou um longo Os contos: instantes epifânicos
período no Nordeste, daí o seu sotaque nordestino. Ca- Os muitos contos que a autora escreveu representam
sou-se com um diplomata e, por isso, viveu e morou em o caminho mais indicado para entendermos o mergulho
muitos locais diferentes. Assim, existe em sua biografia um para dentro do ser humano por ela proposto. Sempre di-
traço de não pertencimento a instituições sociais sólidas recionadas ao encontro da sua condição mais humana, as
e concretas, como nacionalidade, profissão e residência, personagens de Clarice se revelam a nós e a elas mesmas
fato que nos ajuda a compreender alguns pontos de vista ao se depararem com elementos inusitados do real, não
expressos em sua obra. percebidos cotidianamente. Na produção ficcional, de cunho
Fiz da língua portuguesa a minha vida interior, o meu existencialista, as personagens de Clarice sentem a neces-
pensamento mais íntimo, usei-a para palavras de amor. sidade de subjetivar os objetos, os animais, as pessoas e os
LISPECTOR, Clarice. Apud: WALDMAN, Berta. Clarice Lispector. fatos que as cercam e as atingem. O desejo de se integrar
São Paulo: Escuta, 1993. p. 16.
ao mundo e ao outro se efetiva por meio da experimen-
As obras de Clarice Lispector trazem à tona aspectos tação do prazer, da dor e das emoções, utilizando-se,
do nosso estar no mundo que passam despercebidos na também, da racionalidade, em um constante processo
vida corriqueira: são pequenos fatos que podem abrir um de autoanálise.
abismo no curso da vida, modificando-a, se soubermos per- Um dos contos que ficaram conhecidos por essa ideia
cebê-los e sondá-los. Pela palavra, Clarice apresenta um do instante epifânico de alteridade é “Amor”, publicado no
novo universo, em que uma consciência mais ampla acerca livro Laços de família (1960). Nele, o narrador nos apresenta
da existência nos fica subitamente acessível – um simples Ana, uma mulher comum, dedicada à família e imersa nos
detalhe pode nos colocar em contato com algo maior, es- afazeres domésticos. Em um momento banal e rotineiro
tranho, reconhecido como nosso, mas pouco entendível dentro de um ônibus, Ana avista um cego mascando chi-
pela racionalidade. Revelado, esse algo pode desestabilizar clete. A súbita revelação dessa imagem traz à tona um
as mais sólidas existências e descortinar outros níveis de possível avesso em relação à tranquila e inconsciente
consciência para nossa percepção do mundo. “normalidade” de Ana e conduz à reviravolta do conto: a
O caos que pode, de repente, transbordar da obser- personagem abala-se interiormente e é inundada por ques-
vação dos fatos humanos instigou Clarice Lispector por tionamentos acerca de sua identidade e do seu estar no
toda sua vida literária; suas obras procuram, de diferentes mundo. Não será mais possível à personagem apagar os
maneiras, sondar esse caos, aproximar-se dele e trazê-lo efeitos desse súbito desconcerto, pois seu olhar sobre ela
a nós por meio do fluxo de consciência. Muitas vezes, sua mesma e sobre o mundo estranharam-se irremediavel-
escrita abole os enredos e se entrega ao curso livre de pen- mente. A alteridade, inicialmente suscitada pela visão do
samentos mais abstratos. Nesse sentido, é muito expressivo cego, instala-se no próprio ser que a percebeu.
das baratas na cozinha, começa e termina de narrar a histó- LISPECTOR, Clarice. “O ovo e a galinha”. In: A legião estrangeira.
Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
ria do seu confronto com os insetos, mas, logo em seguida,
recomeça a mesma narrativa, ampliando suas implicações. É necessário, portanto, que o leitor dos textos de
Mesmo após a tentativa de escrita de cinco histórias sobre Clarice Lispector esteja preparado para um contato visceral
o mesmo fato, resta, para a narradora e para os leitores do e direto com a vida mais íntima que pulsa nas coisas e nos
conto, uma enorme perplexidade quanto às reações e aos seres do mundo, como se tudo pudesse ser visto sempre
sentimentos surgidos no embate com as baratas. como se o fizéssemos pela primeira vez.
153
Os romances e a transgressão filosófica, literária e linguística – também passam a ser ques-
das formas narrativas tões sociais, pois misturam planos que convergem para o
Se o conto, por sua brevidade e tendência a cons- constante desencontro entre a palavra literária e o universo
truir efeitos surpreendentes, foi o veículo literário exemplar social que ela almeja retratar.
para que Clarice testasse e conquistasse seus leitores, suas Macabéa, personagem tão singela e complexa, apa-
experimentações com a forma do romance não deixam a rece no texto sempre mediada pelo foco do narrador,
desejar em inovação e ousadia literárias. que procura traduzi-la pelas reações aos estímulos ex-
Em um de seus mais cultuados romances, A paixão se- ternos que nela adivinha. No trecho reproduzido a seguir,
gundo G. H. (1964), o que estamos acostumados a chamar o narrador flagra a percepção de mundo de Macabéa
de “enredo” limita-se ao fato de a narradora (nomeada por em confronto com a retórica convencional de seu (quase)
tais iniciais) encontrar uma barata na porta de um armário, namorado, Olímpico. A imagem da nordestina que resulta
em um quarto recém-desocupado por uma empregada. daí é a de um ser especial e sensível, mas deslocado, in-
O que seguirá a esse evento, ao longo de todo o romance, consciente de si e incompreensível para os outros; quase
é a tentativa que a narradora empreende para traduzir um não ser.
em palavras – nem sempre “coerentes” segundo a lógica Ele falava coisas grandes mas ela prestava atenção nas
vigente – o fluxo de sensações e pensamentos desen- coisas insignificantes como ela própria. Assim registrou um
cadeados pelo desestabilizador encontro com a barata. portão enferrujado, retorcido, rangente e descascado que abria
A “paixão” a que o título da obra se refere é a vivência des- o caminho para uma série de casinhas iguais de vila. Vira isso
se turbilhão de experiências interiores, tão viscerais como do ônibus. A vila além do número 106 tinha uma plaqueta
abstratas, que o evento viabilizou. O romance dá bem a onde estava escrito o nome das casas. Chamava-se “Nascer
medida da ousadia e da novidade perturbadoras que os do Sol”. Bonito o nome que também augurava coisas boas.
textos de Lispector trouxeram para a literatura brasileira, [...]
ou seja, a ideia de que um romance pode construir sua Maca, porém, jamais disse frases, em primeiro lugar por
ser de parca palavra. E acontece que não tinha consciência
força junto ao leitor não pelo enredo que desenvolve – a
de si e não reclamava nada, até pensava que era feliz. Não se
“história” que conta –, mas pela densidade no trato com
tratava de uma idiota mas tinha a felicidade pura dos idiotas.
as palavras, forçando-as a dar corpo a experiências, por
E também não prestava atenção em si mesma: ela não sabia.
princípio, pouco narráveis.
LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
A vocação metafísica e existencial da literatura de
Clarice pressupõe que não faz sentido procurarmos em As principais obras de Clarice Lispector são:
suas obras tematizações explícitas de questões sociais. y Perto do coração selvagem (1943)
Porém, o interessante é que o seu último romance, A hora y Laços de família (1960)
da estrela (1977), gira justamente em torno do desejo – y A paixão segundo G. H. (1964)
mas também da dificuldade – de um narrador, Rodrigo y A legião estrangeira (1964)
S. M., falar da vida de uma nordestina simples cujo olhar y Felicidade clandestina (1971)
e “sentimento de perdição” pegara “no ar, de relance, em y Água viva (1973)
uma rua do Rio de Janeiro”. y A imitação da rosa (1973)
Em vez de naturalizar a possibilidade de um narrador y A via crucis do corpo (1974)
poder falar de uma personagem tão recolhida em sua y A hora da estrela (1977)
existência miúda e desvalida – e, justamente por isso, tão
questionadora de nossas misérias sociais –, Clarice opta A “geração de 45” e a poesia de João Cabral de
por expor fragmentos da história da personagem Macabéa Melo Neto
sempre por meio da tensão e dos questionamentos que A geração de 45, como visto anteriormente, apresenta
descrever tal personagem traz ao narrador inventado por uma grande diversidade de procedimentos artísticos, tanto
ela. Assim, essa opção desloca um tipo de abordagem das na prosa quanto na poesia. Os seus mais renomados escri-
questões sociais que se tornou clássico na literatura brasilei- tores não se articularam em torno de manifestos – embora
ra (como em Vidas secas, de Graciliano Ramos), trazendo-o também os tenham conhecido –, ou seja, não cultivaram
para o interior do próprio processo de escrever: por que uma postura de grupo ou de gerações literárias como fa-
se escolhe escrever sobre certa personagem? Como fa- ziam os artistas em torno da Semana de na primeira
zê-lo? Que tipo de poder passamos a ter sobre alguém geração modernista ou os autores do novo romance re-
sobre quem decidimos escrever? Que consequências e gionalista na geração de 30. A despeito disso, João Cabral
questionamentos isso traz para um narrador? Escrever so- de Melo Neto manifestou simpatia pelos concretistas em
bre alguém desamparado muda o mundo que forjou esse mais de uma oportunidade, porém deixou claro que não
desamparo? Se não, por que escrevemos? Na obra de seguia ninguém.
Clarice, essas questões são tão importantes e carregadas de João Cabral de Melo Neto (190-1999), filho de do-
implicação social quanto a existência objetiva de Macabéa. nos de engenho, nasceu no Recife e sempre demonstrou
Dessa maneira, não podemos entender a personagem incomum interesse pela arte da palavra. Seguiu carreira
apenas pelo viés social, que reflete a opressão contra a como diplomata e morou por longos anos na Espanha, país
nordestina. No romance, diversas dimensões – existencial, cuja cultura dialogou de forma decisiva com sua poesia.
melhor qualidade: / a agudeza feroz, / certa eletricidade, Severino vai acumulando no seu desenrolar propõem den-
[...] o gosto do deserto” (“Uma faca só lâmina”). sas reflexões sobre a condição humana.
Em sua obra, também há elementos da cultura espa- Em seu âmbito formal, além de resgatar a tradição dos
nhola, a qual o autor conheceu de perto, como o canto “a autos medievais, o poema é rico em ritmos e musicalidade,
palo seco” (“cante sem guitarra”, “cante despido”, “cante o que demonstra o rigor estético do autor. Vários trechos
que se canta sob o silêncio a pino”), que pode dar conselho da obra foram musicados por Chico Buarque de Holanda
à poesia que se faz com e na aridez do Nordeste: “não o de para um importante espetáculo teatral de mesmo nome.
155
— Severino, retirante, Saiba mais
deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida;
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga
é difícil defender,
só com palavras, a vida, Tendências da literatura
ainda mais quando ela é
contemporânea
esta que vê, severina
mas se responder não pude O mundo estava passando por um período de grande
à pergunta que fazia, agitação. Em 1954, Getúlio Vargas, que concorria a novas
ela, a vida, a respondeu eleições presidenciais, comete suicídio; eleito por voto di-
com sua presença viva. reto em 1956, o mineiro Juscelino Kubitschek inicia uma
E não há melhor resposta transformação pela qual todos esperavam: com o célebre
que o espetáculo da vida: slogan “cinquenta anos em cinco”, o desenvolvimento e a
vê-la desfiar seu fio, abertura de mercado foram protagonistas de um processo
que também se chama vida, de internacionalização que perdura até hoje.
ver a fábrica que ela mesma, A globalização e a urbanização foram sentidas intima-
teimosamente, se fabrica, mente por toda a população, pois, enquanto a Europa ainda
vê-la brotar como há pouco vivia a reconstrução ao longo dos anos do pós-guerra, o
em nova vida explodida; Brasil se esforçava em busca do crescimento econômico.
mesmo quando é assim pequena De fato, generalizou-se a crença na nossa modernização,
a explosão, como a ocorrida; o que provocou uma mudança nos desejos de vida das
mesmo quando é uma explosão pessoas: grandes transformações, novas esperanças e uma
como a de há pouco, franzina; euforia progressista.
mesmo quando é a explosão Um dos melhores exemplos desse momento de ânsia
de uma vida severina. pela expansão modernizadora do Brasil é a construção e
MELO NETO, João Cabral de. “Morte e vida severina”. inauguração de Brasília em 1960, uma vez que, ao trans-
In: Morte e vida Severina e outros poemas em voz alta. ferir a capital do país para o interior, construiu-se, também,
Rio de Janeiro: José Olympio, 1978. p. 115-6.
© by herdeiros de João Cabral de Melo Neto.
um símbolo: um projeto urbanístico integralmente planeja-
do possibilitou o nascimento de uma cidade ordenada e,
sobretudo, moderna, apesar da imensa dificuldade para
efetivar essas obras no meio do mais isolado cerrado do
Planalto central.
Posteriormente, Jânio Quadros é eleito e, alguns
meses depois, renuncia à presidência. Assim, assume o
poder o então vice-presidente João Goulart, o Jango, cuja
proximidade com o Partido Comunista Brasileiro e o Par-
tido Socialista Brasileiro, em época extraordinariamente
conservadora, coloca o país em estado de alerta. Jango
se manteria no poder até 1964, anunciando as reformas
agrária, urbana, educacional, bancária e fiscal.
No entanto, no final do mês de março daquele mes-
mo ano, Jango foi deposto por um golpe que instaurava a
ditadura militar, período de repressão e rigorosa censura –
agravada pelas publicações dos atos institucionais
–, o que culminou no exílio de diversos intelectuais
da época. Porém, na década de 1980, houve a anis-
Na última parada de sua viagem ao litoral, fugindo da tia dos exilados e o movimento “Diretas já”, quando
morte trazida pela seca, Severino assiste ao nascimento o Brasil voltou a caminhar em direção à democracia,
de um menino, a marcar a imagem da vida que resiste resultando no fim da ditadura (1985), em uma nova Cons-
diante da constante negação à existência trazida pelas tituição Federal (1988) e nas eleições democráticas para
condições adversas. Ficam claros, dessa maneira, tanto presidente (1989).
o “salto participante” na direção de uma poesia de cunho Todo esse cenário de transformações sociais e políticas
social quanto o compromisso ético e existencial da poesia refletiu-se, a seu modo, na modernização do país e, conse-
de João Cabral de Melo Neto. quentemente, na produção artística do período.
Augusto de Campos, seu irmão Haroldo de Campos e material (os elementos linguísticos e o espaço branco da
por Décio Pignatari, o qual estabelece os preceitos da página) e da forma como o artista o manipularia em busca
poesia concreta. A relação entre esses três autores era do efeito artístico desejado, gerava-se um objeto (o poema)
mais antiga; em 195 já haviam dado início ao movimento potente de significados, que se completariam apenas a
internacional da Poesia Concreta no Brasil, com o lan- partir do trabalho do leitor.
çamento da revista literária Noigandres, nome também Com isso, ficava clara a rejeição ao lirismo, pois os
desse grupo de poetas. autores concretistas já não estavam mais interessados na
157
relação entre a obra e a individualidade que a produziu ou sem restrições ou regras. Assim, o arranjo espacial dos
entre o poema e alguma realidade determinada (individual elementos adquiria mais importância do que as próprias
ou social) à qual ele se referia: a “temática” do poema era palavras, transformando a estrutura em uma espécie
a sua própria forma. Por ser proposto como uma realidade de organismo. O movimento foi liderado pelo poeta
em si, que não se referia diretamente a nada fora dele, o Wlademir Dias-Pino (197-018), apelidado “o construtor
poema resultava do trabalho racional do artista, e não de de livros”.
qualquer tipo de “inspiração”. Já a poesia-práxis foi proposta como uma forma de
Assim, ao privilegiar o experimento, a poesia concreta oposição ao modo de pensar concretista, pois considerava
inverte a ideia platônica de uma beleza artística já pronta: a palavra uma célula do discurso, valorizando-a dentro de
a arte passa a ser compreendida como um processo em um contexto extralinguístico. Ao contrário da concepção de
que o criador e o leitor interagem. Associa-se valor es- palavra-objeto dos concretistas, tomava-se a palavra não
tético a uma arte intencionalmente “inacabada”, em que, como materialidade imediata, mas como uma espécie de
muitas vezes, temos a impressão de que o rascunho ou energia ou de organismo vivo, uma matéria transformável
o fruto de uma improvisação livre com as palavras foram e passível de ser moldada pelo leitor, ou seja, pelo seu
emoldurados. ato de lidar com ela, pela sua ação prática (práxis) sobre
Esse caráter experimental provocou uma relevante e ela. Na poesia-práxis, também se retomava o verso, va-
permanente discussão em torno do significado da arte. Não lorizado, porém, na medida das relações tanto sintáticas
fazia mais sentido entendê-la como um objeto inalcançável, quanto semânticas que ele poderia conter e gerar. O
engrandecido e absolutamente duradouro, por ter encon- verso não admitia apenas a possibilidade de sua leitu-
trado um artista genial que a forjou e uma sociedade que ra discursiva, mas oferecia-se como campo de trabalho
a reconheceu como patrimônio a ser valorizado. prático no qual o leitor modelaria possíveis significados.
O movimento da poesia-práxis ficou conhecido como
Neoconcretismo instauração Práxis e foi liderado pelo poeta Mário Chamie
(197-011).
O Neoconcretismo surgiu como reação ao movimento
concretista. Um grupo de artistas encabeçados pelo poe-
A crítica ao Concretismo
ta Ferreira Gullar, dissidente do Concretismo, articulou-se
propondo uma arte que tirasse o leitor e o espectador da A geração dos anos 1960 se caracterizou pelo en-
sua passividade a fim de que passassem a interagir com a gajamento político, buscando a literatura como forma de
obra de arte. Assim, a composição da obra era fruto de um comprometimento e conscientização quanto à luta política
processo de criação do artista, mas ela só se completava direta que, conforme se julgava na época, tonara-se neces-
na relação com o seu interlocutor. Desse grupo, destaca- sária diante dos excessos repressivos da ditadura militar.
ram-se, além de Gullar, os artistas plásticos Lygia Clark e Assim, era natural que parte dessa geração articulasse
Hélio Oiticica. críticas ao Concretismo, acusando-o de falta de enraiza-
mento social e histórico na proposição de seus poemas,
Lygia Clark trouxe a público a série Bichos, esculturas
os quais eram mais voltados à experimentação com a lin-
articuláveis com dobradiças que convocavam o expectador
guagem do que à possibilidade de expressar ideias de
a fazer parte do processo de construção artística modifican-
natureza discursiva. Portanto, o incômodo da geração en-
do espontaneamente as formas finais das esculturas. Já os
gajada de 1960 com o Concretismo residia na diferença de
famosos Parangolés de Oiticica convidavam o espectador
visões quanto ao papel da arte que ambos apresentavam.
a entrar na obra e empreender performances inusitadas e
Para o Concretismo, a importância, inclusive política, da
transformadoras.
literatura centrava-se apenas na possibilidade de amplia-
Como neoconcretista, Ferreira Gullar concebia a poesia
ção, via poesia, da capacidade criadora de significados do
como um projeto que só se cumpria quando lida por um
leitor, e nunca na veiculação de ideias e visões de mundo
leitor ativo, capaz de explorar a gama de sentidos con-
já formatadas, visando à adesão do leitor a elas.
tida nas palavras. Gullar também enveredou pelas artes
plásticas, produzindo obras tridimensionais e passíveis de
transformação pelo espectador, mas, como poeta, a pala- Atenção
vra sobressaía, provocativa, contundente e reveladora, em
poemas-objetos concebidos pelo artista.
Poema-processo e poesia-práxis
Como uma radicalização do Concretismo, surgiu o
poema-processo, voltado totalmente para a concretude
da linguagem, isto é, valorizando o signo visual em de-
trimento da palavra, não mais considerada essencial.
A ideia do poeta como uma espécie de artista plásti-
co tornava-se ainda mais clara do que no Concretismo.
Para essa poesia, interessava somente criar novos pro-
cessos de promover significado a partir da visualidade,
As referências à literatura de Guimarães Rosa per- ver a fábrica que ela mesma,
passam vários campos artísticos. Como escritor, ele teimosamente, se fabrica,
representou um marco na nossa história cultural, pois vê-la brotar como há pouco
inventou palavras e estórias que descrevem mais do em nova vida explodida;
que o nosso jeito, o nosso povo e as nossas paisagens. [...]
Suas obras ultrapassam questões regionais e nacionais, MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida Severina. In: Morte e vida
Severina e outros poemas em voz alta. Rio de Janeiro: José Olympio,
chegando ao universo da arte, do espírito e do admi- 1978. © by herdeiros de João Cabral de Melo Neto
rável. Guimarães conta mais do que aquilo que vemos:
suas letras, vivas, caminham livremente pelo reino dos 4. Clarice Lispector e João Cabral de Melo Neto são
signos e, assim, colocam o leitor em um contato íntimo considerados autores de grande maturidade literária
e súbito com a grandeza do mundo. por terem seus estilos muito bem definidos. A partir
Leia o fragmento do romance Grande sertão: veredas dos trechos apresentados, comente sobre o estilo
para responder às questões de 1 a 3. que se pode depreender de cada um desses autores.
159
consumo, a imagem da propaganda, o slogan político, a que nos cerca, esperar das poéticas da dureza e da agressi-
canção popular e outras manifestações de uma cultura vidade algo mais que a fátua complacência na dureza e na
plural veiculada cada vez mais intensamente pelos meios agressividade: a denúncia do que aí está e a procura de uma
de comunicação de massa. Nessa atmosfera saturada de comunicação mais livre e inteligente com o semelhante.
consciência crítica e polêmica, assumem papel de extremo BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 41. ed.
relevo conceitos de origem filosófica (alienação, práxis, São Paulo: Cultrix, 1994. p. 439.
Exercícios propostos
1. PUC-Rio 2015 Mais em paz, comigo mais, Diadorim foi o pitoresco superficial, quanto pela dificuldade de ajus-
me desinfluindo. Ao que eu ainda não tinha prazo para tar a linguagem culta aos torneios populares. Mas este/a
entender o uso, que eu desconfiava de minha boca e da autor/a superou os perigos e elaborou a matéria regional
água e do copo, e que não sei em que mundo-de-lua eu com um senso transfigurador, que fez de seus livros ma-
entrava minhas ideias. O Hermógenes tinha seus defei- duros experiências de vanguarda dentro de um temário
tos, mas puxava por Joca Ramiro, fiel – punia e terçava. tradicional.
Que, eu mais uns dias esperasse, e ia ver o ganho do sol Antonio Candido. Iniciação à literatura brasileira, 2010. Adaptado.
nascer. Que eu não entendia de amizades, no sistema de
O comentário refere-se à obra de
jagunços. Amigo era o braço, e o aço!
a) Euclides da Cunha. d) Guimarães Rosa.
Amigo? Aí foi isso que eu entendi? Ah, não; amigo, para
b) Graciliano Ramos. e) Clarice Lispector.
mim, é diferente. Não é um ajuste de um dar serviço a outro,
c) Mário de Andrade.
e receber, e saírem por este mundo, barganhando ajudas,
ainda que sendo com o fazer a injustiça aos demais. Amigo,
para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de 3. Acafe-SC 2020 Relacione as colunas, considerando
conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira as especificidades e os diferentes aspectos aponta-
prazer de estar próximo. Só isto, quase; e os todos sacrifícios. dos relativamente às obras e aos respectivos autores.
Ou – amigo – é que a gente seja, mas sem precisar de saber . Guimarães Rosa fundiu neste romance elementos
o por quê é que é. Amigo meu era Diadorim; era o Fafafa, o do experimentalismo linguístico da primeira fase
Alaripe, Sesfrêdo. Ele não quis me escutar. Voltei da raiva. do modernismo e a temática regionalista da se-
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: gunda fase do movimento, para criar uma obra
José Olympio, 1979. p. 138-9.
única e inovadora.
a) Determine os distintos conceitos de “amigo” que . Romance de Graciliano Ramos, publicado em
podem ser identificados no texto. 1938, retrata a vida miserável de uma família de
b) Guimarães Rosa é, sem dúvida nenhuma, um dos retirantes sertanejos obrigada a se deslocar de
mais importantes escritores da Literatura brasileira. tempos em tempos para áreas menos castigadas
Considerado a sua obra-prima, Grande sertão: vere- pela seca.
das, romance publicado em 1956, representa uma . A relação entre Martim e a protagonista significa a
profunda inovação em termos de narrativa, sendo união entre o branco colonizador e o índio, entre a
até hoje referência para a nossa literatura. A partir cultura europeia, civilizada, e os valores indígenas,
da leitura do texto, destaque e comente dois aspec- apresentados como naturalmente bons. É uma es-
tos que reiteram o que foi afirmado anteriormente. pécie de mito de fundação da identidade brasileira.
. Retratando o movimento de tropas, Euclides da
2. FMABC-SP 2022 A partir do Modernismo, sobretudo Cunha constantemente se prende à individualida-
nos anos 1930, os centros de atividade literária e cultural de das ações e mostra casos isolados marcantes
se tornaram mais numerosos e importantes. Esta expan- que demonstram bem o absurdo massacre dos
são parece culminar simbolicamente no aparecimento “monarquistas” de Canudos, liderado pelo “fami-
de uma obra onde a dimensão regional perde o caráter gerado e bárbaro” Antônio Conselheiro.
contingente, para tornar-se veículo de uma mensagem . Um homem vai a uma loja de antiguidade e se de-
da mais completa universalidade. O mais impressionan- para com um quadro com uma imagem de mãos
te na sua realização é a fragilidade aparente da base, decepadas. A loja “... tinha o cheiro de uma arca
pois o regionalismo é uma tendência cheia de perigos, de sacristia com seus panos embolorados e livros
tanto pela redução de humanidade dos personagens e comidos de traça”.
Atende ao enunciado o que está em 8. UPE/SSA 2016 Graciliano Ramos, Clarice Lispector
a) I, II e III. d) I e III, apenas. e Guimarães Rosa produziram nos mesmos gêneros
b) I e II, apenas. e) II, apenas. textuais narrativos; são romancistas e contistas, cujas pro-
c) II e III, apenas. duções são referenciadas nacional e internacionalmente.
161
Sobre isso, analise as armativas a seguir: que mesmo até quando dorme todo-tempo sonha que está
I. Graciliano Ramos, em seu romance Vidas se- sendo perseguido. O tatú levanta as mãozinhas cruzadas,
cas, retoma um dos problemas vivenciados pelo ele não sabe — e os cachorros estão rasgando o sangue
homem nordestino, que, apesar de remontar ao dele, e ele pega a sororocar. O tamanduá. Tamanduá passeia
início do século passado, haja vista a alusão a no cerrado, na beira do capoeirão. Ele conhece as árvores,
ele realizada no título do romance de Rachel de abraça as árvores. Nenhum nem pode rezar, triste é o gemi-
Queiroz, O quinze, ainda persiste na atualidade. do deles campeando socôrro. Todo choro suplicando por
Do mesmo modo, Patativa de Assaré tratou da socôrro é feito para Nossa Senhora, como quem diz a sal-
seca em seus poemas populares, e a televisão ve-rainha. Tem uma Nossa Senhora velhinha. Os homens,
não se cansa de transmitir as consequências pé-ante-pé, indo a peitavento, cercaram o casal de taman-
desse fenômeno. duás, encantoados contra o barranco, o casal de tamanduás
estavam dormindo. Os homens empurraram com a vara de
II. Clarice Lispector, em A Hora da estrela, parece dar
ferrão, com pancada bruta, o tamanduá que se acordava.
sequência à temática de Vidas secas, quando trata
Deu som surdo, no corpo do bicho, quando bateram, o ta-
da trajetória de Macabéa, imigrante nordestina no
manduá caiu pra lá, como um colchão velho.
Rio de Janeiro. Por sua vez, Fabiano e sua família,
ROSA, G. Noites do sertão Corpo de baile.
no último capítulo de Vidas secas, deixam a fazenda. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.
O romance termina em aberto; dentre outras pos-
sibilidades, sugere o início de uma nova vida na Na obra de Guimarães Rosa, destaca-se o aspecto
cidade, onde os meninos poderiam até ir à escola. afetivo no contorno da paisagem dos sertões mineiros.
III. Há pontos comuns entre a produção dos três Nesse fragmento, o narrador empresta à cena uma
autores, pois os textos por eles criados demons- expressividade apoiada na
tram, dentre outros aspectos, preocupação com a a) plasticidade de cores e sons dos elementos nativos.
linguagem, a interioridade e a condição humana, b) dinâmica do ataque e da fuga na luta pela sobre-
além de as narrativas se desenrolarem no campo, vivência.
tendo a cidade apenas como plano de fundo. Es- c) religiosidade na contemplação do sertanejo e de
sas afirmações se confirmam nos romances Vidas seus costumes.
secas e A Hora da estrela e no conto “A menina d) correspondência entre práticas e tradições e a
de lá”, integrante da coletânea Primeiras estórias, hostilidade do campo.
de João Guimarães Rosa. e) humanização da presa em contraste com o des-
IV. Em A Hora da estrela, há dois discursos narra- dém e a ferocidade do homem
tivos que se intercruzam, assim como ocorre
em Vidas secas e Famigerado, pois o narra- 10. Fuvest-SP 2020
dor onisciente e intruso analisa cada uma das
E grita a piranha cor de palha, irritadíssima:
personagens dos três romances, revelando mi-
– Tenho dentes de navalha, e com um pulo de ida-e-
nuciosamente suas interioridades. Isso interfere
-volta resolvo a questão!...
na continuidade da narrativa que sofre rupturas
– Exagero... – diz a arraia – eu durmo na areia, de ferrão
constantes, as quais resultam dos comentários a prumo, e sempre há um descuidoso que vem se espetar.
do narrador intruso. – Pois, amigas, – murmura o , mole, carregan-
V. Os contos dos três autores, Clarice Lispector, do a bateria – nem quero pensar no assunto: se eu soltar
Graciliano Ramos e Guimarães Rosa são psicoló- três pensamentos elétricos, bate-poço, poço em volta, até
gicos, tal como “Amor”, pertencente à coletânea vocês duas boiarão mortas...
Laços de família, de Clarice Lispector; “O relógio
do hospital”, de Graciliano Ramos, integrante de
Insônia e O espelho, de Primeiras estórias, de
Guimarães Rosa. Acresce-se, ainda, que todos Esse texto, extraído de Sagarana, de Guimarães Rosa,
eles, com exceção de “Amor”, são narrados em a) antecipa o destino funesto do ex-militar Cassiano
primeira pessoa, imprimindo-lhes um tom emotivo Gomes e do marido traído Turíbio Todo, em “Due-
e confessional. lo”, ao qual serve como epígrafe.
Está correto, apenas, o que se arma em b) assemelha-se ao caráter existencial da disputa
a) I, II e III. d) I, II, III e IV. entre Brilhante, Dansador e Rodapião na novela
b) I, III e IV. e) I, II e V. “Conversa de Bois”.
c) II, IV e V. c) reúne as três figurações do protagonista da no-
vela “A hora e vez de Augusto Matraga”, assim
9. Enem PPL 2019 O mato do Mutúm é um enorme mundo denominados: Augusto Estêves, Nhô Augusto e
preto, que nasce dos buracões e sobe a serra. O guará-lobo Augusto Matraga.
trota a vago no campo. As pessôas mais velhas são inimigas d) representa o misticismo e a atmosfera de feitiçaria
dos meninos. Soltam e estumam cachorros, para ir matar os que envolve o preto velho João Mangalô e sua
bichinhos assustados — o tatú que se agarra no chão dando desavença com o narrador-personagem José, em
guinchos suplicantes, os macacos que fazem artes, o coelho “São Marcos”.
163
15. PUC-SP 2017 A obra Sagarana, de João Guimarães O trecho apresentado integra a obra Sagarana, de
Rosa, foi publicada em . Dela é correto afirmar que Guimarães Rosa. Indique, nas alternativas a seguir, o
a) se intitula Sagarana porque reúne novelas que nome do conto que contém o referido trecho.
se desenvolvem à maneira de gestas guerreiras e a) “A hora e vez de Augusto Matraga”, que narra a
lendas e apresentam um tema comum que abarca violência como instrumento de redenção, mate-
a vida simples dos sertanejos da região baiana do rializada na morte de Joãozinho Bem-Bem e do
São Francisco. jagunço protagonista.
b) compõe-se de nove novelas, entre as quais se b) “Corpo fechado”, história de valentões e de es-
sobressai “Corpo fechado”, história de valentões pertos, de violência e de mágica, protagonizado
e espertos, de violência e de mágica, protagoni- por Manuel Fulô.
zada por Manuel Fulô. c) “São Marcos”, que relata a desavença entre o nar-
c) estrutura-se em doze narrativas, de sentido moral rador e um feiticeiro que o deixa cego por força
e embasadas na tradição mineira, entre as quais de uma bruxaria.
se destacam “Questões de família”, história meio d) “Minha gente”, em que se relata a situação vivida
autobiográfica, e “Uma história de amor”, expres- por um moço da cidade que vai passar uma tem-
sivo drama passional. porada no campo e vive amores desencontrados.
d) apresenta narrativas apenas de teor místico reli-
gioso como a que se engendra em “A hora e vez 18. UPF-RS 2016 Em relação à obra Primeiras estórias,
de Augusto Matraga”, cujo estilo destoa do con- de Guimarães Rosa, apenas é incorreto afirmar que:
junto das outras que compõem o livro. a) reúne contos de vários tipos, entre eles o psicoló-
gico, o anedótico, o fantástico e o satírico.
16. PUC-SP 2017 O sol cresce, amadurece. Mas eles es- b) confere destaque à voz do narrador culto, que
tão esperando é a febre, mais o tremor. Primo Ribeiro permanece distanciado das personagens e preo-
parece um defunto – sarro de amarelo na cara chupa- cupado em desvendar a lógica subjacente à ação
da, olhos sujos, desbrilhados, e as mãos pendulando, das crianças, loucos e seres rústicos que povoam
compondo o equilíbrio, sempre a escorar dos lados a os contos.
bambeza do corpo. Mãos moles, sem firmeza, que dei- c) demonstra a preocupação do autor em recriar a
xam cair tudo quanto ele queira pegar. Baba, baba, linguagem, através de deslocamentos sintáticos e
cospe, cospe, vai fincando o queixo no peito; e trouxe
do uso de arcaísmos e neologismos, entre outros
cá para fora a caixinha de remédio, a cornicha de pó
recursos.
e mais o cobertor.
d) não se trata, apesar do título, do livro de estreia
O trecho apresentado integra o conto “Sarapalha” e do autor, mas apenas de seu primeiro livro com-
faz parte da obra Sagarana de João Guimarães Rosa. posto unicamente por narrativas curtas.
Dessa narrativa como um todo, é errado armar que e) ultrapassa, frequentemente, as fronteiras entre a
a) apresenta duas narrativas, uma em tempo presente narrativa e a poesia lírica, através do destaque dado
e outra, em tempo passado, a qual assume dimen- aos aspectos sonoros e melódicos da linguagem.
são mítica na cabeça delirante de Primo Ribeiro.
b) enfoca a solidão, o abandono e a decadência de 19. Unicamp-SP 2019 Um cego me levou ao pior de mim
duas personagens acometidas de maleita e que mesma, pensou espantada. Sentia-se banida porque ne-
passam os dias em diálogo sobre suas condições nhum pobre beberia água nas suas mãos ardentes. Ah!
físicas e sentimentais. era mais fácil ser um santo que uma pessoa! Por Deus,
c) gera um conflito entre dois primos, quando um pois não fora verdadeira a piedade que sondara no seu
coração as águas mais profundas? Mas era uma piedade
deles revela ter gostado muito de Luísa, mulher
de leão.
do outro, que o abandonara por um boiadeiro.
Clarice Lispector, “Amor”, em Laços de família. 20a ed. Rio de Janeiro:
d) usa predominantemente discurso indireto livre, Francisco Alves, 1990, p. 39.
que faz aflorar o pensamento íntimo da persona-
gem e despreza o diálogo objetivo e direto por Ao caracterizar a personagem Ana, a expressão “pie-
sua incapacidade de interlocução. dade de leão” reúne valores opostos, remetendo
simultaneamente à compaixão e à ferocidade. É cor-
17. FICSAE-SP 2017 De repente, na altura, a manhã gar- reto armar que, no conto “Amor”, essa formulação
galhou: um bando de maitacas passava, tinindo guizos, a) revela um embate de natureza social, já que a
partindo vidros, estralejando de rir. E outro. Mais outro. pobreza do cego causa náuseas na personagem.
E ainda outro, mais baixo, com as maitacas verdinhas, b) expressa o dilema cristão da alma pecadora dian-
grulhantes, gralhantes, incapazes de acertarem as vozes te de sua incapacidade de fazer o bem.
na disciplina de um coro. [...] O sol ia subindo, por cima c) indica um conflito psicológico, uma vez que a per-
do voo verde das aves itinerantes. Do outro lado da cer- sonagem não se sente capaz de amar.
ca, passou uma rapariga. Bonita! Todas as mulheres eram d) alude a um contraste moral e existencial que pro-
bonitas. Todo anjo do céu devia de ser mulher. voca na personagem um sentimento de angústia.
165
23. ITA-SP 2015 O título do livro A hora da estrela, de Clarice Lispector, diz respeito ao seguinte momento do romance:
a) O despertar amoroso de Macabéa no namoro com Olímpico.
b) A descoberta de Macabéa de que Olímpico a traía com Glória.
c) A obtenção por Macabéa de um bom emprego como datilógrafa.
d) A previsão do grande futuro de Macabéa, feita pela cartomante.
e) A morte de Macabéa, atropelada por um carro de luxo.
24. Unicamp-SP 2017 Leia o seguinte trecho do conto “Amor”, de Clarice Lispector.
Então ela viu: o cego mascava chicles... Um homem cego mascava chicles.
Ana ainda teve tempo de pensar por um segundo que os irmãos viriam jantar – o coração batia-lhe violento, espaçado.
Inclinada, olhava o cego profundamente, como se olha o que não nos vê. Ele mastigava goma na escuridão. Sem sofrimento,
com os olhos abertos. O movimento de mastigação fazia-o parecer sorrir e de repente deixar de sorrir, sorrir e deixar de
sorrir – como se ele a tivesse insultado, Ana olhava-o. E quem a visse teria a impressão de uma mulher com ódio.
LISPECTOR, Clarice. Laços de família.Rio de Janeiro: Rocco, 2009. p. 21-2.
a) Em textos de Clarice Lispector, é comum que um acontecimento banal se transforme em um momento perturbador
na vida das personagens. Considerando o contexto do conto “Amor”, indique que tipo de inquietações o aconteci-
mento narrado anteriormente acarreta na vida da personagem.
b) A frase “olhava o cego profundamente, como se olha o que não nos vê” sugere uma maneira pouco comum de olhar
para as coisas. Explique o sentido que tem esse olhar profundo, a partir dali, na caracterização da personagem Ana.
Nos estudos sobre a obra de Clarice Lispector, fala-se da epifania (ou revelação) que se dá com a personagem. Em
determinado momento do texto, a personagem passa a entender algo que, para ela, estava escondido ou obscuro.
Assinale a opção cujo trecho transcrito indica esse momento na crônica.
a) “Até que fui obrigada a chegar à conclusão de que sou daqueles que rolam pedras durante séculos...” (Ref. 1)
b) “Um dia uma folha me bateu nos cílios. Achei Deus de uma grande delicadeza.” (Ref. 4)
c) “Vivo de coincidências, vivo de linhas que incidem uma na outra e se cruzam...” (Ref. 2)
d) “Até que um dia, abrindo a bolsa, encontro entre os objetos a folha seca, engelhada, morta. Jogo-a fora: não me
interessa fetiche morto como lembrança.” (Ref. 3)
26. UFT-TO 2014 Leia o poema “Ovos da páscoa”, de Adélia Prado, e o fragmento do conto “O ovo e a galinha”, de Clarice
Lispector.
Ovos da páscoa
O ovo não cabe em si, túrgido de promessa,
a natureza morta palpitante.
Branco tão frágil guarda um sol ocluso,
o que vai viver, espera.
PRADO, Adélia. “Bagagem”. In: Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991. p. 28.
167
b) “Então, como se todos tivessem tido a prova fi- 29. EBMSP-BA 2017
nal de que não adiantava se esforçarem, com um
Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não
levantar de ombros de quem estivesse junto de
passava de nove horas da manhã. Foi, pois, uma surpresa
uma surda, continuaram a fazer a festa sozinhos,
quando a viram abrir as asas de curto voo, inchar o peito
comendo os primeiros sanduíches de presunto
e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço.
mais como prova de animação que por apetite,
Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua
brincando de que todos estavam morrendo de
fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa.
fome. O ponche foi servido, Zilda suava, nenhuma
Em seguida carregada em triunfo por uma asa através das
cunhada ajudou propriamente, a gordura quente
telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência.
dos croquetes dava um cheiro de piquenique; e, Ainda tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos
de costas para a aniversariante, que não podia e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura afobação
comer frituras, eles riam inquietos”. LISPECTOR, a galinha pôs um ovo. Só a menina estava perto e assistiu a
Clarice. “Feliz aniversário”. In: Laços de família. tudo estarrecida. Mal, porém, conseguiu desvencilhar-se
Rio de Janeiro: Rocco, 2009. p. 57. do acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos:
c) “Ela não era bonita. Às vezes, como que o espírito — Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs
a abandonava e então revelava-se o que, por uma um ovo! Ela quer o nosso bem!
vigilância sobre-humana – imaginava Otávio –, Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha
jamais se descobria. No rosto que então surgia, passou a morar com a família. Uma vez ou outra, sempre
os traços limitados e pobres não tinham beleza mais raramente, lembrava de novo a galinha que se re-
própria. Nada restava do antigo mistério senão cortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar.
a cor da pele, creme, sombria, fugitiva. Se os Nesses momentos enchia os pulmões com o ar impuro da
instantes de abandono prolongavam-se e se su- cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não canta-
cediam, então ele via assustado a feiura, e mais ria, mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses
que a feiura, uma espécie de vileza e brutalidade, instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na
alguma coisa cega e inapelável dominar o corpo fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando milho –
de Joana como uma decomposição”. LISPECTOR, era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada
Clarice. Perto do coração selvagem. Rio de Janei- no começo dos séculos.
ro: Rocco, 1998. p. 94. Até que um dia mataram-na, comeram-na e passa-
d) “A vida se vingava de mim, e a vingança consistia ram-se anos.
apenas em voltar, nada mais. Todo caso de loucu- LISPECTOR, Clarice. “Uma galinha”. Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco,
ra é que alguma coisa voltou. Os possessos, eles 1998. p. 30. Disponível em: www.releituras.com/clispector_galinha.asp.
Acesso em: 20 set. 2016. (Adapt.).
não são possuídos pelo que vem, mas pelo que
volta. Às vezes a vida volta. Se em mim tudo se No fragmento adaptado do conto “A galinha”, de
quebrava à passagem da força, não é porque a Clarice Lispector, o elemento gurativo “ovo” torna-se
função desta era a de quebrar: ela só precisava marco importante na narrativa, pois
enfim passar, pois já se tornara caudalosa demais a) traz para aquele grupo familiar o valor dessa ave
para poder se conter ou contornar – ao passar ela doméstica, uma vez que ela viva poderia continuar
cobria tudo. E depois, como após um dilúvio, so- dando alimento para todos.
brenadavam um armário, uma pessoa, uma janela b) é um momento de epifania para a menina, que
solta, três maletas. E isso me parecia o inferno, percebe o quanto o animal poderia transformar a
essa destruição de camadas e camadas arqueo- realidade de sua vida, atribuindo-lhe outro signifi-
lógicas humanas”. LISPECTOR, Clarice. A paixão cado.
segundo G.H. Rio de Janeiro: Rocco, 2014. p. 70. c) se caracteriza como a simbologia de uma nova
e) “Nessa época encontrávamo-nos de noite em existência, contribuindo para tornar o viver de sua
casa, exaustos e animados: contávamos as faça- espécie ainda mais insignificante.
nhas do dia, planejávamos os ataques seguintes. d) se constitui como um elemento fundamental para
Não aprofundávamos muito o que estava suce- a mudança da percepção da galinha pela família,
dendo, bastava que tudo isso tivesse o cunho da passando aquela a ter, por algum tempo, uma nova
amizade. Pensei compreender por que os noivos condição existencial.
se presenteiam, por que o marido faz questão de e) se transforma no acontecimento revelador para a
dar conforto à esposa, e esta prepara-lhe afanada própria ovípara, que nota a sua incapacidade de
o alimento, por que a mãe exagera nos cuidados reagir, mediante a crença de que nasceu para ali-
ao filho. Foi, aliás, nesse período que, com algum mentar o ser humano.
sacrifício, dei um pequeno broche de ouro àquela
Texto para a questão 30.
que hoje é minha mulher. Só muito tempo depois
eu ia compreender que estar também é dar”. Tentação
LISPECTOR, Clarice. “Uma amizade sincera”. In: A le- Ela estava com soluço. E como se não bastasse a cla-
gião estrangeira. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. p. 87. ridade das duas horas, ela era ruiva.
co de uma estação.
nem mãe compreenderiam. Acompanhou-o com olhos
c) incompatibilidade psicológica entre mulheres de
pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e
os joelhos, até vê-lo dobrar a outra esquina. gerações diferentes.
Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou d) constrangimento da aproximação formal de pes-
para trás. soas desconhecidas.
LISPECTOR, Clarice. A legião estrangeira. Rio de Janeiro: e) sentimento de solidão alimentado pelo processo
Editora do Autor, 1964. p. 67-9.
de envelhecimento.
169
32. UFU-MG 2016 Com o intuito de compreender as ra- d) Os sonhos cobrem-se de pó. Um último esforço
zões do comportamento humano, a narradora do conto de concentração morre no meu peito de homem
“Felicidade clandestina”, de livro homônimo de Clarice enforcado. Tenho no meu quarto manequins cor-
Lispector, atém-se a um fato de sua infância, em que cundas onde me reproduzo e me contemplo em
uma menina, filha do dono de uma livraria, percebendo silêncio.
o gosto da narradora pelos livros e pela leitura, prome- e) O mar soprava sinos os sinos secavam as flores
te lhe emprestar o livro As reinações de Narizinho, de as flores eram cabeças de santos. Minha memória
Monteiro Lobato. Entretanto, em uma atitude de cruel- cheia de palavras meus pensamentos procurando
dade, sempre adia o empréstimo. Para a narradora fantasmas meus pesadelos atrasados de muitas
personagem, o comportamento da menina advém noites.
a) da vingança fracassada, que se originou da de-
Leia um trecho do ensaio de Modesto Carone para
sagregação familiar da menina e do rompimento
responder às questões 35 e 36.
com o namorado.
b) da inveja, que a corroía em função da contrapo- É fato sabido que a trajetória de João Cabral come-
sição de sua feiura à beleza das outras meninas. ça num surrealismo despojado da escrita automática,
c) do transtorno de conduta, que depois levou a me- passa pelo ardor da construção e da lucidez, discute
nina à demonstração de sentimento de remorso. a pureza e a decantação da poesia antilírica e, des-
d) do distúrbio de dupla personalidade, que instaurava cartando a desconfiança (então em moda) quanto à
na menina a dúvida quanto ao empréstimo do livro. possibilidade de dizer o mundo e os seus conflitos,
assume, de Morte e vida severina em diante, o lado
33. Ufes 2015 Leia o fragmento de texto a seguir e res- sujo da miséria do Nordeste.
ponda às duas proposições que se lhe seguem. Modesto Carone. “Severinos e comendadores”. In: Roberto Schwarz (org).
Os pobres na literatura brasileira, 1983.
Pareceu-lhe então, meditativa, que não havia homem
ou mulher 1que por acaso não se tivesse olhado ao espelho
35. Famerp-SP 2018 Conforme o comentário de Modesto
e não se surpreendesse consigo próprio. Por uma fração de
segundo a pessoa se via como um objeto a ser olhado, 2o Carone, João Cabral
que poderiam chamar de narcisismo, mas já influenciada a) afastou-se da poesia antilírica, por considerá-la
por Ulisses, ela chamaria de: gosto de ser. Encontrar na impura e decantada.
figura exterior os ecos da figura interna: ah, então é ver- b) praticou o que a crítica literária chama, hoje, de
dade que eu não imaginei: eu existo. “poesia suja”.
LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. c) explorou, ao longo da fase inicial de sua poesia, a
Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 19. escrita automática.
a) Aponte uma das características marcantes da d) duvidou da poesia engajada, notadamente de-
narrativa de Clarice Lispector, sugerida no ato de pois de Morte e vida severina.
olhar-se no espelho. e) ignorou a desconfiança que foi moda em relação
b) Identifique os elementos do texto que são reto- à poesia de crítica social.
mados pelos seguintes termos:
I. “que” (ref. 1); 36. Famerp-SP 2018 Segundo Modesto Carone, o trecho
II. “o” (ref. 2). que melhor ilustra a última fase da poesia de João
Cabral é:
34. Unifesp 2019 A verve social da poesia de João Cabral a) O mar, que só preza a pedra,
de Melo Neto mostra-se mais evidente nos versos: que faz de coral suas árvores,
a) A cana cortada é uma foice. Cortada num ângulo luta por curar os ossos
agudo, ganha o gume afiado da foice que a corta da doença de possuir carne,
em foice, um dar-se mútuo. Menino, o gume de b) Sobre o lado ímpar da memória
uma cana cortou-me ao quase de cegar-me, e o anjo da guarda esqueceu
uma cicatriz, que não guardo, soube dentro de perguntas que não se respondem.
mim guardar-se. c) Com peixes e cavalos sonâmbulos
b) Formas primitivas fecham os olhos escafandros pintas a obscura metafísica
ocultam luzes frias; invisíveis na superfície pál- do limbo.
pebras não batem. Friorentos corremos ao sol d) Ó face sonhada
gelado de teu país de mina onde guardas o ali- de um silêncio de lua,
mento a química o enxofre da noite. na noite da lâmpada
c) No espaço jornal a sombra come a laranja, a la- pressinto a tua.
ranja se atira no rio, não é um rio, é o mar que e) As nuvens são cabelos
transborda de meu olho. No espaço jornal nas- crescendo como rios;
cendo do relógio vejo mãos, não palavras, sonho são os gestos brancos
alta noite a mulher tenho a mulher e o peixe. da cantora muda;
na ‘freguesia’, revela informações acerca dos pais sob a guarda do irmão da Portaria.
e da região onde vive. Mas o lavrador tem dificul-
dades em sua apresentação, pois Severinos no Fica permitido o canivete
norte são “iguais em tudo na vida”. nos passeios à chácara
II. À medida que apresenta, Severino faz revelações para cortar cipó
sobre ele e os demais sujeitos que estão em condi- descascar laranja
ções de sobrevida tão ou mais precárias que a sua. e outros fins de rural necessidade.
171
Restituam-se, pois, os canivetes da personagem, na fala inicial do texto, nos mostra
a seus proprietários um Severino que, quanto mais se define, menos se in-
com obrigação de serem recolhidos dividualiza, pois seus traços biográficos são sempre
na volta do passeio, e tenho dito partilhados por outros homens.
SECCHIN, A. C. João Cabral: a poesia do menos.
Só que na volta do passeio Rio de Janeiro: Topbooks, 1999.
verificou-se com surpresa:
Com base no trecho de “Morte e vida severina” (Texto I)
no matinho ralo da chácara
e na análise crítica (Texto II), observa-se que a relação
todos os canivetes tinham sumido.
ANDRADE, Carlos Drummond de.
entre o texto poético e o contexto social a que ele faz
referência aponta para um problema social expresso
A partir da análise da temática dos dois poemas ante-
literariamente pela pergunta “Como então dizer quem
riores, avalie as proposições a seguir e assinale quais
fala / ora a Vossas Senhorias?”. A resposta à pergunta
são verdadeiras (V) ou falsas (F):
expressa no poema é dada por meio da:
- João Cabral inspira-se nos padrões da poesia
a) descrição minuciosa dos traços biográficos do
clássica. Drummond, ao contrário, reflete as pre-
tensões estéticas da vanguarda modernista. narrador personagem.
- No poema de João Cabral, o suposto interlocutor b) construção da figura do retirante nordestino como
é evocado explicitamente: as desinências verbais um homem resignado com a sua situação.
são indícios disso. Em Drummond, prevalece um c) representação, na figura do narrador personagem,
discurso normativo: daí o predomínio do uso do de outros Severinos que compartilham sua condição.
imperativo. d) apresentação do narrador personagem como
- O poema de João Cabral é uma peça literária uma projeção do próprio poeta, em sua crise
emblemática da luta que tem sido travada em re- existencial.
lação às desigualdades sociais advindas da má e) descrição de Severino, que, apesar de humilde, or-
distribuição na posse da terra. gulha-se de ser descendente do coronel Zacarias.
- No verso: “é uma cova grande para tua carne
pouca”, a antítese reformula um conhecido pro- 40. UFRGS 2017 (Adapt.) Leia a seguir o diálogo entre
vérbio popular. Severino e Mestre Carpina, retirado de Morte e vida
- Em “Somem canivetes”, Drummond, com fina severina, de João Cabral de Melo Neto.
ironia, admite que o uso do canivete é “indescul-
— Seu José, mestre carpina,
pável”, pois se trata de um país “civilizado” e de
que lhe pergunte permita:
estudantes “civilizadíssimos”, “a nata do Brasil”.
há muito no lamaçal
apodrece a sua vida?
39. Enem
e a vida que tem vivido
Texto I foi sempre comprada à vista?
O meu nome é Severino, — Severino, retirante,
não tenho outro de pia. sou de Nazaré da Mata,
Como há muitos Severinos, mas tanto lá como aqui
que é santo de romaria, jamais me fiaram nada:
deram então de me chamar a vida de cada dia
Severino de Maria; cada dia hei de comprá-la.
como há muitos Severinos — Seu José, mestre carpina,
com mães chamadas Maria, e que interesse, me diga,
fiquei sendo o da Maria há nessa vida a retalho
do finado Zacarias, que é cada dia adquirida?
mas isso ainda diz pouco: espera poder um dia
há muitos na freguesia, comprá-la em grandes partidas?
por causa de um coronel — Severino, retirante,
que se chamou Zacarias não sei bem o que lhe diga:
e que foi o mais antigo não é que espere comprar
senhor desta sesmaria. em grosso tais partidas,
Como então dizer quem fala mas o que compro a retalho
ora a Vossas Senhorias? é, de qualquer forma, vida.
MELO NETO, João Cabral de. Obra completa.
Rio de Janeiro: Aguilar, 1994.
— Seu José, mestre carpina,
que diferença faria
Texto II
se em vez de continuar
João Cabral, que já emprestara sua voz ao rio, transfe- tomasse a melhor saída:
re-a, aqui, ao retirante Severino, que, como o Capibaribe, a de saltar, numa noite,
também segue no caminho do Recife. A autoapresentação fora da ponte e da vida?
Os homens que se achavam no café Uma das questões centrais para Décio Pignatari é a
Tiraram o chapéu maquinalmente “afirmação plena da vida por meio da afirmação da razão,
e) O arranha-céu sobe no ar puro lavado pela chu- do sensível e do sexual, numa síntese feliz”
va e desce refletido na poça de lama do pátio. SIMON, Iumna Maria; DANTAS, Vinícius. Literatura comentada: poesia
concreta. São Paulo: Abril Educação, 1982. p. 18.
Entre a realidade e a imagem, no chão seco que
as separa, Levando em consideração esse comentário, elabore
quatro pombas passeiam. uma proposta de leitura para o poema anterior.
173
45. PUC-Minas 2014 c) o descaso social com relação aos menores aban-
donados e às crianças de rua.
d) o desemprego, que ocorre sempre quando a de-
manda é maior do que a oferta.
Nasce o poema
Não vou discutir se o que escrevo, como poeta, é bom
ou ruim. Uma coisa, porém, é verdade: parto sempre de
algo, para mim inesperado, a que chamo de espanto. E é
isso que me dá prazer, me faz criar o poema.
E, por isso mesmo, também, copiar não tem graça.
Um dos poemas mais inesperados que escrevi foi O formi-
gueiro, no comecinho do movimento da poesia concreta.
É que, após os últimos poemas de A luta corporal
(1953), entrei num impasse, porque, inadvertidamente,
implodira minha linguagem poética. Não podia voltar atrás
nem seguir em frente.
Foi quando, instigado por três jovens poetas paulistas,
tentei reconstruir o poema. Havíamos optado por trocar o
discurso pela sintaxe visual.
Já em alguns poemas de A luta corporal, havia ex-
plorado a materialidade da palavra escrita, percebendo o
branco da página como parte da linguagem, como o seu
contrário, o silêncio.
Por isso, diferentemente dos paulistas – que explo-
ravam o grafismo dos vocábulos, desintegrando-os em
letras –, eu desejava expor o “cerne claro” da palavra,
materializado no branco da página.
Daí por que, nesse poema, busquei um modo de gra-
far as palavras, não mais como uma sucessão de letras,
Analise as armativas a seguir e coloque V nas verda-
e sim como construção aberta, deixando à mostra seu
deiras e F nas falsas. núcleo de silêncio.
No poema 1, a linguagem visual e a verbal criam um Mas não podia grafá-las pondo as letras numa ordem
todo inseparável, uma vez que as próprias palavras arbitrária. Por isso, tive de descobrir um meio de superar
formam o símbolo de innito, sendo possível reali- o arbitrário, de criar uma determinação necessária.
zar a leitura em, pelo menos, duas direções. Ocorre, porém, que essas eram questões latentes em
Há duas possibilidades de leitura no poema 1, o que mim, mas era necessário surgir a motivação poética para
caracteriza a plurissignicação da poesia concreta. pô-las em prática.
Trata-se de dois poemas concretos em que, no E isso surgiu das próprias letras, que, de repente, me
primeiro, predomina a linguagem verbal e, no se- pareceram formigas, o que me levou a uma lembrança
gundo, a linguagem visual. mágica, de minha infância, em nossa casa, em São Luís do
No poema 2, o título repete o primeiro verso, razão Maranhão. A casa tinha um amplo quintal, em que surgiu,
pela qual se deduz tratar-se de prática exclusiva- certa manhã, um formigueiro: eram formigas ruivas que
mente do Concretismo. brotavam de dentro da terra.
Há certa ironia no tema do poema 2, quando o eu Eu ouvira dizer que “onde tem formiga tem dinheiro
lírico admite, no último dístico, que, só aos setenta, enterrado” e convenci minhas irmãs a cavarem comigo o
vai chegar à consciência plena. chão do quintal de onde brotavam as formigas. E cavamos
a tarde inteira à procura do tesouro que não aparecia, até
Assinale a alternativa que indica a sequência CORRETA. que caiu uma tempestade e pôs fim à nossa busca. Foi essa
a) V – F – F – F – F d) V – F – V – F – F lembrança que abriu o caminho para o poema, mas não
b) V – V – V – V – F e) V – V – F – F – V sabia como realizá-lo. Basicamente, eu tinha as letras, que
c) F – F – F – V – V me lembravam formigas, mas isso era apenas o pretexto-
Textos para as questões de 49 a 51. -tema para explorar a linguagem em sua ambiguidade de
som e silêncio, matéria e significado. Que fazer então?
Texto 1 Como encontrei a solução, não me lembro, mas sei que
não surgiu pronta, e sim como possibilidades a explorar.
Tinha a palavra formiga, que era o elemento cerne.
FRENTE 2
175
série de frases dispostas de tal modo que as letras de certas manuseáveis, e finalmente o poema-enterrado, de que o
palavras servissem para formar outras. Nasceu o núcleo do leitor participa, corporalmente, entrando no poema.
poema, a metáfora gráfica de um formigueiro. Ele surgiu GULLAR, Ferreira. Folha de S.Paulo, São Paulo,
29 jan. 2012. p. E10. Ilustrada.
da conjugação das seguintes frases: “A formiga trabalha
na treva a terra cega traça o mapa do ouro maldita urbe”.
Construído esse núcleo, o poema nasceu dele, palavra 49. UFG-GO 2012 A que movimento literário o poeta se
por palavra, sendo que cada palavra ocupava uma página refere ao dizer “Havíamos optado por trocar o dis-
inteira e suas letras obedeciam à posição que ocupavam curso pela sintaxe visual”? Explique como o autor
no núcleo. Desse modo, a forma das palavras nada tinha caracteriza esse movimento.
da escrita comum. Não era arbitrária porque determinada
pela posição que cada letra ocupava no núcleo. 50. UFG-GO 2012 Segundo Ferreira Gullar, o processo
O formigueiro foi, na verdade, o primeiro livro-poema de criação de suas palavras não foi arbitrário. Explique
que inventei, muito embora, ao fazê-lo, não tivesse cons- como surgiu a motivação poética para a criação de
ciência disso. O formigueiro.
Chamaria de livro-poema um tipo de criação poética
em que a integração do poema no livro é de tal ordem 51. UFG-GO 2012 A disposição gráfica do Texto 1 reme-
que se torna impossível dissociá-los. Nos livros-poemas te à arquitetura de um formigueiro, e, como tal, esse
posteriores, essa integração é maior, porque as páginas texto foi elaborado a partir de um núcleo. Segundo a
são cortadas para acentuar a expressão vocabular. O li- descrição feita por Ferreira Gullar no Texto 2, qual é
vro-poema é que me levou a fazer os poemas espaciais, a base desse núcleo e como ele se constitui?
Texto complementar
Em relação à natureza do romance Grande sertão: veredas, o sertão pode ser dividido em três planos, conforme explicação
da crítica literária Walnice Nogueira Galvão, descritos a seguir:
Geográfico
Mítico
Metafísico
Aspectos gerais trabalhados por Guimarães Rosa y Questão social presente de maneira intrínseca à questão
y Plano metafísico. existencial.
y Embate entre as forças do bem e do mal. y As posições sociais se projetam em questões psicológicas
y Mistério da morte e os enigmas da vida. e existenciais.
y Perenidade da vida e de todas as coisas. João Cabral de Melo Neto
y Regionalismo e universalidade. y Pertencimento à geração de 1945.
A linguagem roseana y Reconhecimento por seu rigor estético.
y Neologismos, arcaísmos, latinismos, estrangeirismos e y Poemas construídos de forma inédita a partir de padrões
indianismos. formais.
y Estruturas sintáticas livres. y Objetividade como traço principal.
y Preferência às orações coordenadas, sem qualquer y Recusa de sentimentalismos.
relação de dependência. y Poesia como objeto de trabalho construído, planejado
y Convivência entre o popular e o erudito. e objetivado.
y Estilo próprio, inédito e único. y Preocupação com a realidade social, especialmente a
y Jogo com as palavras. do Nordeste brasileiro.
Relação com o leitor Poesia concreta
y Desafio à compreensão do leitor. y Abolição do verso.
y Convite ao olhar primitivo de descoberta. y Disposição das palavras na página a contribuir para a
y Expectativa do acaso: uma mudança sempre pode ocorrer. significação.
y Reflexão sobre o caráter fragmentário do homem. y Visual e sonoro juntos na construção do sentido.
Conteúdo regional, nacional e universal y Rejeição do lirismo.
y Mistura entre a descrição histórico-geográfica real com y Possibilidade de múltiplas leituras.
a fantasia e a imaginação. y Poema sem ser fruto de mera inspiração.
y Saberes populares e cultos com a mesma força de atuação. Neoconcretismo
y Transcendência e epifania: momentos de luz. y Leitor com importância fundamental na construção do
y Perspectiva do autor: proximidade absoluta com a ma- poema, que se cumpre na leitura.
téria narrada. y Interlocutores retirados da passividade contemplativa e
y Condensação entre realidade e ficção. convocados a interagir com as obras.
Clarice Lispector y Destaque no movimento ao poeta Ferreira Gullar e aos
y Literatura intensa e profunda a partir de temas aparen- artistas plásticos Lygia Clark e Hélio Oiticica.
temente corriqueiros. Poesia-práxis
y Intenção de mostrar o que estava prestes a transbordar y Poesia transformada pela manipulação do leitor.
do terreno oculto. y Retomada do verso.
y Mundo caótico e tenso mesmo nos fatos mais simples y Valorização do sentido das palavras e suas relações em
do cotidiano.
nível sintático, semântico e pragmático.
y Temas que tocam nos sentimentos e instintos humanos,
como desejos, paixões etc. Poesia-processo
y Processo de alteridade e identidade a partir da diferença y Concretude da linguagem.
entre o eu e o outro. y Valorização do visual em detrimento do verbal.
Livro
MARTINS, Nilce Sant’Anna. O léxico de Guimarães Rosa. São Paulo: Edusp, 200.
Uma vasta pesquisa reúne, em forma de dicionário, o palavrear de Guimarães Rosa. É uma forma de conhecer um pouco mais
sobre a inventividade da linguagem desse grande autor.
Reportagens
Professor Willi Bolle e Ederson Granetto sobre Grande sertão: veredas
FRENTE 2
O professor Willi Bolle, livre-docente da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da USP, conversa com Ederson Granetto a
respeito da obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Disponível em:
https://tvcultura.com.br/videos/_literatura-fundamental-grande-sertao-veredas-willi-bolle.html. Acesso em: mar. 022.
Entrevista com Clarice Lispector para a TV Cultura
Clarice pediu que a entrevista, apresentada no ano de pelo jornalista Júlio Lerner, para a TV Cultura, fosse divulgada após
a sua morte, e assim se fez. O programa foi ao ar dez meses depois de seu falecimento. Disponível em: http://p.ped.com/TCFIM.
Acesso em: mar. .
177
Filmes
A hora e vez de Augusto Matraga. Direção: Roberto Santos, 966.
O longa-metragem é uma adaptação do conto homônimo de Guimarães Rosa.
A hora da estrela. Direção: Suzana Amaral, 98.
O filme baseia-se no último livro lançado por Clarice Lispector em vida, em . Oito anos depois, sua história é levada ao cinema
e se consagra ao ser premiada nos importantes festivais de Berlim e de Brasília. Disponível em: https://youtu.be/JgN-cEc.
Acesso em: mar. .
Morte e vida Severina. Produção: TV Escola/OZI/FUNDAJ – Fundação Joaquim Nabuco, 2009.
A adaptação para os quadrinhos da obra-prima de João Cabral de Melo Neto, pelo cartunista Miguel Falcão, é retratada em D,
preservando o texto original e, assim, dando vida às personagens do auto de Natal pernambucano. Lançado em . Disponível
em: https://youtube/clKnAGYgyw. Acesso em: mar. .
Site
Site oficial do poeta Augusto de Campos
Na página, é possível conhecer a vida e obra do escritor, além de interagir com seus poemas. Disponível em: http://www.
augustodecampos.com.br/home.htm. Acesso em: mar. .
Exercícios complementares
1. Enem 2014 O correr da vida embrulha tudo. A vida é amor, pela doença ou pela morte, procuram de-
assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega sesperadamente tomar consciência de si mesmas
e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. e buscam o sentido de sua vida”. Como a ausên-
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: cia de Dito desperta a inquietação de Miguilim?
Nova Fronteira, 1986.
batalhas.
9
A arte cristã primitiva e medieval teve altos momentos, Por outro lado, 10menos libertário, 11doutrinas totali-
desde os consagrados à figuração religiosa nas paredes dos taristas, como a stalinista e a nazifascista, pretenderão que
templos, como as imagens da Virgem e do Menino, até os artistas se submetam às suas ideologias. Já Mondrian
as ilustrações de exemplares do Evangelho, as chamadas fará escola com a geometria das formas, Salvador Dalí
“iluminuras” artesanais. Na altura do século XII, o estilo expandirá o surrealismo dos sonhos, e muitas tendências
gótico se impôs, tanto na arquitetura como na pintura. contemporâneas passam a sofrer certa orientação do mer-
Nesta, o fascínio dos artistas estava em criar efeitos de cado da arte, agora especulada como mercadoria.
179
Em suma, a história da pintura nos 12ensina a enten- muito a passar, mas sempre passa. E você ainda pode
der o que podemos ver do mundo e de nós mesmos. As ter muito pedaço bom de alegria... Cada um tem a sua
peças de um museu parecem estar ali 13paralisadas, 14mas hora e a sua vez: você há de ter a sua.
basta um pouco da nossa atenção a cada uma delas para ROSA, João Guimarães. “A hora e vez de Augusto Matraga”. Sagarana.
que a vida ali contida se manifeste. Com a arte da pintura Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p. 380.
aprenderam as artes e técnicas visuais do nosso tempo: a [...] Então, Augusto Matraga fechou um pouco os
fotografia, o cinema, a televisão devem muito ao que olhos, com sorriso intenso nos lábios lambuzados de san-
o homem aprendeu pela força do olhar. Novos recursos gue, e de seu rosto subia um sério contentamento.
ampliam ou restringem nosso campo de visão: atualmente Daí, mais, olhou, procurando João Lomba, e disse,
muitos andam de cabeça baixa, apontando os olhos para a agora sussurrando, sumido:
pequena tela de um celular. Ironicamente, alguém pode bai- — Põe a bênção na minha filha..., seja lá onde for
xar nessa telinha “A criação do homem”, que Michelangelo que ela esteja... E, Dionóra... Fala com a Dionóra que
produziu para eternizar a beleza do forro da Capela Sistina. está tudo em ordem!
BATISTA, Domenico, inédito.
Depois morreu.
Idem, p. 413.
5. PUC-Campinas 2016 A linguagem e o universo de
a) O segundo excerto, de certo modo, confirma os di-
Guimarães Rosa na obra-prima que é o romance
tos do padre apresentados no primeiro. Contudo,
Grande sertão: veredas estão em parte caracteriza-
“a hora e a vez” do protagonista não são assegura-
dos no seguinte segmento do texto:
das, segundo a narrativa, pela reza e pelo trabalho.
a) apanhando uma realidade moldada mais pela
impressão da imaginação criativa do que pelas O que lhe garantiu ter “a sua hora e a sua vez”?
formas nítidas naturais. b) “A hora e a vez” de Nhô Augusto relacionam-se
b) o fascínio dos artistas [do estilo gótico] estava em aos encontros que ele tem com outra personagem,
criar efeitos de perspectiva e a ilusão de espaços Joãozinho Bem-Bem, em dois momentos da narra-
que parecem reais. tiva. Em cada um desses momentos, Nhô Augusto
c) as paisagens rurais e retratos de pessoas, sobre- precisa realizar uma escolha. Indique quais são
tudo das diferentes aristocracias, apresentam-se essas escolhas que importam para o processo de
num auge de realismo. transformação da personagem protagonista.
d) paisagens bucólicas e jardins harmoniosos desfi-
lam ainda pelo desejo de realismo e fidedignidade 8. FICSAE-SP 2017
na representação da natureza. As ancas balançam, e as vagas de
e) acentuará as cores dramáticas, convulsionadas, dorsos, das vacas e touros, batendo
as formas quase irreconhecíveis de uma realida- com as caudas, mugindo no meio,
de fraturada. na massa embolada, com atritos de
couros, estralos de guampas, estrondos
6. UFRGS 2014 Considere as seguintes afirmações so- e baques, e o berro queixoso do gado
bre Contos gauchescos, de Simões Lopes Neto, e junqueira, de chifres imensos, com
Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa. muita tristeza, saudade dos campos,
I. Ambos dedicam-se principalmente à narrativa ru- querência dos pastos de lá do sertão...
ral, embora alguns dos Contos gauchescos sejam “Um boi preto, um boi pintado,
ambientados na cidade. Cada um tem sua cor.
II. Os narradores de ambos são homens que, a certa Cada coração um jeito
altura da vida, contam suas memórias a um inter- De mostrar o seu amor.”
locutor externo ao mundo em que vivem. Boi bem bravo, bate baixo, bota baba,
III. Em ambos os livros, está registrada a fala regional boi berrando...
rural das personagens, em contraste com a lin- Dança doido, dá de duro, dá de dentro,
dá direito... Vai,
guagem culta dos narradores.
Vem, volta, vem na vara, vai não volta,
Qual(is) está(ão) correta(s)? vai varando...
a) Apenas II. d) Apenas II e III. “Todo passarinh’ do mato
b) Apenas I e II. e) I, II e III. Tem seu pio diferente.
c) Apenas I e III. Cantiga de amor doído
Não carece ter rompante...”
7. Unicamp-SP 2016 O trecho integra o conto “O burrinho pedrês”, da obra
[...] E, páginas adiante, o padre se portou ainda mais Sagarana, escrita por João Guimarães Rosa. Dele é
excelentemente, porque era mesmo uma brava criatura. correto armar que
Tanto assim, que, na despedida, insistiu: a) descreve o movimento agitado dos bois por meio
— Reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida de uma linguagem construída apenas pelo em-
é um dia de capina com sol quente, que às vezes custa prego abusivo de frases nominais e de gerúndios.
mesma de desatino, que as duas tanto tinham cantado. O senhor é homem de pensar o dos outros como sendo o
Cantava continuando. seu, não é criatura de pôr denúncia. E meus feitos já revo-
ROSA, João Guimarães. “Sorôco, sua mãe, sua filha”. Primeiras estórias.
garam, prescrição dita. Tenho meu respeito firmado. Agora,
4. ed. Rio de Janeiro: José Olyimpio. s.d. p. 16-8.
sou anta empoçada, ninguém me caça. Da vida pouco me
Guimarães Rosa, escritor inserido na chamada resta – só o deo-gratias; e o troco. Bobeia. Na feira de São
Geração de 1945 – Modernismo brasileiro –, apresen- João Branco, um homem andava falando: — “A pátria não
ta uma obra de cunho universalista. pode nada com a velhice...” Discordo. A pátria é dos velhos,
181
mais. Era um homem maluco, os dedos cheios de anéis Isto tudo que estou escrevendo é tão quente como um
velhos sem valor, as pedras retiradas – ele dizia: aqueles ovo quente que a gente passa depressa de uma mão para
todos anéis davam até choque elétrico... Não. Eu estou a outra e de novo da outra para a primeira a fim de não
contando assim, porque é o meu jeito de contar. Guerras se queimar – já pintei um ovo. E agora como ria pintura
e batalhas? Isso é como jogo de baralho, verte, reverte. Os só digo: ovo e basta.
revoltosos depois passaram por aqui, soldados de Prestes,
vinham de Goiás, reclamavam posse de todos os animais Leia as seguintes armações sobre os segmentos e
de sela. Sei que deram fogo, na barra do Urucuia, em São a autora.
Romão, aonde aportou um vapor do Governo, cheio de I. Clarice Lispector é a grande representante da
tropas da Bahia. Muitos anos adiante, um roceiro vai lavrar narrativa intimista brasileira, com sua prosa que
um pau, encontra balas cravadas. O que vale, são outras explora a subjetividade, a partir do eu que absor-
coisas. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos ve os temas do mundo.
diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com II. O enredo, na narrativa, está a serviço das re-
os outros acho que nem não misturam. Contar seguido, flexões e dos sentimentos, motivo pelo qual é
alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância. possível chamá-la de prosa poética.
De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou III. A narradora tem consciência da limitação da pala-
pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse vra para representar a complexidade da vida e do
diferente pessoa. Sucedido desgovernado. Assim eu acho, mundo, por isso se contenta com a palavra míni-
assim é que eu conto. [...] Tem horas antigas que ficaram ma/a palavra básica.
muito mais perto da gente do que outras, de recente data.
O senhor mesmo sabe. Qual(is) está(ão) correta(s)?
Grande sertão: veredas, 2015. a) Apenas I.
b) Apenas II.
11. Unesp 2021 No texto, o narrador c) Apenas I e II.
a) sugere que a narração de eventos significativos d) Apenas I e III.
não permite uma visão abrangente da vida. e) I, II e III.
b) admite que sua narrativa sinuosa visa confundir e
enganar o seu interlocutor. 15. Udesc 2014 Analise as proposições em relação à
c) sugere que a narração de eventos significativos obra A hora da estrela, Clarice Lispector.
não cabe em uma narrativa linear. I. O tempo na obra é o psicológico, pois há uma aná-
d) alega que sua narrativa linear busca conferir coe- lise mais aprofundada das personagens que revela,
rência e sentido a uma vida de desacertos. por meio da narrativa interior, o fluxo da consciência.
e) alega que uma narrativa sinuosa conduz a uma II. A leitura da obra leva o leitor a inferir que, ao ser
compreensão limitada da existência. atropelada, Macabéa descobre a sua essência,
desvelando a situação paradoxal de que ela só
nasce, ou seja, só chega a ter consciência de si
12. Unesp 2021 No trecho “O senhor é homem de pensar
mesma, na hora da sua morte.
o dos outros como sendo o seu, não é criatura de pôr
III. Da leitura da obra infere-se que o fato de a au-
denúncia”, o narrador caracteriza seu interlocutor como
tora ter criado um personagem-narrador foi para
a) desrespeitoso.
que ele relatasse a história com sentimentalismo,
b) distraído.
descrevesse Macabéa com ternura e desse a ela
c) presunçoso.
um final feliz.
d) indulgente.
IV. Toda a narrativa é entrecortada pela metalin-
e) perseverante.
guagem: é o narrador, Rodrigo S. M., tecendo
ponderações em relação à posição e ao papel
13. Unesp 2021 O evento histórico mencionado no texto que o escritor ocupa na sociedade e, principal-
está relacionado mente, sobre o ato de escrever.
a) à Revolta da Chibata. V. Infere-se da leitura da obra que os apelos do
b) à Revolta da Armada. mundo midiático afastavam os pensamentos de
c) ao Cangaço. Macabéa sobre a sua triste condição de sobrevi-
d) ao Abolicionismo. vente no mundo. Era por meio da Rádio Relógio
e) ao Tenentismo. que ela contava as horas, os minutos, os segundos,
sem música para nutrir seus impossíveis sonhos.
14. UFRGS 2015 Considere os segmentos a seguir, Assinale a alternativa correta.
retirados de Água viva, de Clarice Lispector. a) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras.
Sei que depois de me leres é difícil reproduzir de b) Somente as afirmativas I, III e V são verdadeiras.
ouvido a minha música, não é possível cantá-la sem tê-la c) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
decorado. E corno decorar uma coisa que não tem história? d) Somente as afirmativas I, II, IV e V são verdadeiras.
[...] e) Somente as afirmativas I, IV e V são verdadeiras.
c) Olímpico abandonou Macabéa porque tentara O trecho em que Clarice Lispector declara seu amor
fazer sexo com ela, mas, diante dos pudores da pela língua portuguesa, acentuando seu caráter patri-
moça, perdeu o interesse no relacionamento. monial e sua capacidade de renovação, é:
d) O término do namoro deixa Macabéa tão trans- a) “A língua portuguesa é um verdadeiro desafio
tornada que, ao correr de volta para casa, é para quem escreve”.
atropelada por um automóvel e acaba morrendo. b) “Um Camões e outros iguais não bastaram para nos
e) Olímpico desistiu de Macabéa porque pouco an- dar para sempre uma herança de língua já feita”.
FRENTE 2
tes conhecera Glória, que, em suas estratégias de c) “Todos nós que escrevemos estamos fazendo do tú-
sedução, prometera fazer dele um deputado. mulo do pensamento alguma coisa que lhe dê vida”.
d) “Mas não falei do encantamento de lidar com uma
19. UPF-RS 2019 Considerando o fragmento transcrito de língua que não foi aprofundada”.
A hora da estrela e o romance como um todo, as- e) “Eu até queria não ter aprendido outras línguas:
sinale a alternativa cujas informações preenchem só para que a minha abordagem do português
corretamente as lacunas do enunciado a seguir. fosse virgem e límpida”.
183
21. UPF-RS 2017 No desfecho de A hora da estrela, de [...] Numa das brincadeiras de “essa casa é minha”,
Clarice Lispector, a personagem Macabéa sofre um paramos diante de uma que parecia um pequeno castelo.
atropelamento e morre. Em relação a esse desfecho, No fundo via-se o imenso pomar. E, à frente, em canteiros
apenas é incorreto afirmar que: bem ajardinados, estavam plantadas as flores.
a) Após a cena do atropelamento, ao longo de vá- LISPECTOR, Clarice. “Cem anos de perdão”. Felicidade clandestina.
Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 60.
rias páginas, revela-se não apenas a indecisão
do narrador, Rodrigo S. M., quanto ao destino A narrativa de cção joga com sentidos duplos e -
que dará à sua protagonista, como também sua gurados e explora as variadas possibilidades da
relutância em anunciar a morte de Macabéa ao linguagem. Na obra de Clarice Lispector, para atingir
leitor. uma maior expressividade na construção do texto,
b) Ao final de sua agonia, Macabéa profere uma última destaca-se ainda a epifania.
e enigmática frase, “— Quanto ao futuro”, justamen- Considerando-se o conceito de epifania na obra des-
te um dos doze títulos alternativos que figuram no sa autora, pode-se ler o conto “Cem anos de perdão”
início do romance, junto ao título A hora da estrela. como
c) Por amarga ironia, Macabéa, que nunca desperta- a) antítese do prazer da criança que desvela, por
ra atenção maior das outras pessoas ao longo de meio do ato de roubar, as possibilidades da
toda a sua vida, encontra a sua “hora de estrela” transgressão das rígidas normas impostas pela
no momento de morrer, ao se ver cercada por vá- sociedade, mas que sofre de forma antecipada
rios desconhecidos que espiam seu corpo caído devido à possibilidade da punição.
no meio da rua. b) metáfora da passagem da infância para a adoles-
d) Após o atropelamento, Macabéa se entrega, re- cência, uma vez que a descoberta dos grandes
signada, à morte, pois em momento algum dera jardins com suas rosas e pitangas acena, figura-
crédito às fantasiosas promessas de felicidade tivamente, para a descoberta do erotismo e da
futura que madama Carlota, a cartomante, lhe sexualidade.
acabara de fazer. c) alegoria da dor da criança pobre que, ao andar
e) A narrativa de Lispector estabelece um diálogo inter- pelas ruas ricas do espaço urbano, percebe a
textual com o conto “A cartomante”, de Machado desigualdade social de Recife, o que autoriza e
de Assis, no qual também há uma personagem legitima o ato de roubar.
que, logo após visitar uma cartomante e receber d) metonímia do mal que se manifesta, de forma
dela vaticínios auspiciosos, encontra a morte. inofensiva, nas crianças, por meio do roubo de
rosas e de pitangas, mas que na vida adulta se
22. UFU-MG 2016 Na obra Felicidade clandestina, de manifestará em atos e atitudes que prejudicarão
Clarice Lispector, há contos em que crianças são pro- a sociedade.
tagonistas, ora diante de situações densas, ora leves,
com suas alegrias e tristezas na relação com o outro.
24. PUC-PR 2015 No conto “Felicidade clandestina”, de
Nessa tessitura, o fio condutor do conto
Clarice Lispector, a protagonista termina a narrativa
a) “Miopia progressiva” indica a manipulação das
com a seguinte frase:
coisas e das pessoas por parte do protagonista
para garantir a sua entrada no mundo adulto. Não era mais uma menina com um livro: era uma
b) “Restos de Carnaval” destaca o desejo da per- mulher com o seu amante.
sonagem menina de divertir-se como centro das LISPECTOR, Clarice. “Felicidade clandestina”.
Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
atenções na festa de momo.
c) “Tentação” evidencia a importância do olhar entre Com base nessa frase, assinale a alternativa correta.
os protagonistas para representar a comunicação a) A autora expressa que a menina cresceu e não
entre eles. se interessou mais pelo livro porque tem um
d) “Come, meu filho” prioriza o discurso autoritário da amante.
mãe para contrapor-se ao fluxo de consciência b) Clarice Lispector expressa que a menina já não
do filho. se interessa mais pelo livro, e que a felicidade
clandestina se realizou no momento em que o
23. UFU-MG 2016 conseguiu.
c) Clarice Lispector expressa a relação entre a infân-
Havia em Recife inúmeras ruas, as ruas dos ricos,
ladeadas por palacetes que ficavam no centro de gran- cia e a vida adulta da protagonista.
des jardins. Eu e uma amiguinha brincávamos muito de d) Clarice Lispector expressa a troca do livro por um
decidir a quem pertenciam os palacetes. “Aquele branco amante.
é meu.” “Não, eu já disse que os brancos são meus.” e) A autora define com uma metáfora o que é feli-
“Mas esse não é totalmente branco, tem janelas verdes.” cidade clandestina, já que uma mulher ao ter um
Parávamos às vezes longo tempo, a cara imprensada nas amante vive situações de perigo, mas que lhe
grades, olhando. proporcionam felicidade.
rativas. A concentração das preocupações da esforços para dilapidar o patrimônio do marido, tal
autora nas emoções interiores das personagens como acontece no capítulo Libras esterlinas.
impede o afloramento, nos contos, de questões Laços de família é uma coletânea de Clarice
como o papel da mulher, o racismo, o preconceito, Lispector, composta por contos que, na maioria,
a violência social, entre outras. Trata-se, portanto, possuem como protagonistas personagens femi-
de uma literatura alienada e alienante. ninas, tomando-se como exemplo Ana, no conto
Soma: Amor, e Dona Anita, em Feliz aniversário. Nas duas
185
narrativas, elas são idosas e lamentam só terem
descoberto a si mesmas em idade avançada.
Primeiras histórias, de Guimarães Rosa e Laços
de família, de Clarice Lispector demonstram a
preocupação de seus autores com a linguagem,
característica peculiar à produção literária tanto do
escritor mineiro quanto da autora brasileira, assim
considerada, apesar de ter nascido na Ucrânia.
Dom Casmurro, de Machado de Assis, Famige-
rado, de Guimarães Rosa, e Uma galinha, de
Clarice Lispector são três narrativas que têm por
narradores-personagens Dom Casmurro, a galinha
e Famigerado. Por essa razão, os três relatos são
protagonizados por guras ambíguas, resultantes
do comprometimento dos personagens-narradores.
Em Dom Casmurro, são narrados acontecimentos que
se passam no Rio de Janeiro; o mesmo fato ocorre no
conto Amor, cuja personagem Ana é identicada por FRANCO, Siron. O aliado (1978), Óleo sobre tela. Disponível em: http://
um substantivo que, ao sofrer inversão, mantém-se enciclopedia.itaucultural.org.br/obra12757/o-aliado. Acesso em: 24 ago. 2017.
inalterado, pois nada se lhe modica. Já em A menina
Um galo sozinho não tece uma manhã:
de lá, o espaço é um lugar que “cava para trás da
ele precisará sempre de outros galos.
Serra do Mim, quase no meio de um brejo de água De um que apanhe esse grito que ele
limpa, lugar chamado o Temor-de-Deus”. e o lance a outro; de um outro galo
Assinale a alternativa que contém a sequência que apanhe o grito de um galo antes
CORRETA. e o lance a outro; e de outros galos
a) F – F – F – F – F que com muitos outros galos se cruzem
b) F – F – V – F – V os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
c) V – V – V – F – F
se vá tecendo, entre todos os galos.
d) F – F – V – V – V
e) V – F – V – F – V
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
29. Unicamp-SP 2017 No conto “Amor”, de Clarice Lispector, se entretendo para todos, no toldo
após ver um cego mascando chicletes, a personagem (a manhã) que plana livre de armação.
passa por uma situação que, segundo o narrador, ela A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
própria chama de “crise”: que, tecido, se eleva por si: luz balão.
MELO NETO, João Cabral de. Tecendo a manhã. Disponível em: www.
O que chamava de crise viera afinal. E sua marca era jornaldepoesia.jor.br/joao02.html. Acesso em: 24 ago. 2017.
o prazer intenso com que olhava agora as coisas, sofrendo
espantada. O calor se tornara mais abafado, tudo tinha
30. UEG-GO 2018 A leitura da pintura e do poema permi-
ganho uma força e vozes mais altas.
te que se entreveja a importância da
LISPECTOR, Clarice. Laços de família. Rio de Janeiro:
Rocco, 2009. p. 23. a) expectativa de pessoas e animais que anseiam
pela construção de um mundo melhor.
Essa crise, que transforma a relação da personagem b) solidariedade e da comunicação para a constru-
com o mundo e com a família, ção de vínculos e de novas realidades.
a) nasce do colapso da vontade de viver da perso- c) ênfase a sentidos que se estabelecem por meio
nagem, em razão do doloroso prazer com que do isolamento individual.
passou a ver as coisas. d) indiferença e da informação para constituir narra-
b) revela o conflito vivido pela personagem entre o tivas ficcionais de caráter social.
tipo de vida que havia escolhido e as coisas que e) caracterização literal de figuras cujo retrato meta-
passou a desejar. foriza o desencontro entre os seres.
c) constitui, para a personagem, uma alteração no
modo de vida que antes a fazia sofrer e do qual
31. UEG-GO 2018 O poema apresenta uma linguagem
agora havia se libertado.
permeada de aliterações e assonâncias, o que lhe
d) remete à excitação da personagem por ter con-
confere mais musicalidade, ao passo que a pintura
seguido harmonizar sua antiga vida com os novos
apresenta traços de uma estética
desejos e sensações.
a) expressionista. d) dadaísta.
Observe a imagem e leia o poema a seguir para res- b) impressionista. e) cubista.
ponder às questões. c) fauvista.
e embora seja um utensílio Integra o texto cabralino uma cena intitulada “Fu-
caseiro e que não se usa sem risco, neral do lavrador”, composta por redondilhas, a
não é o utensílio impessoal, qual foi musicada por Chico Buarque de Holanda,
sempre manso, de gesto usual: na década de 0, momento de plena ditadura.
é um utensílio semivivo, Contudo, o texto não sofreu nenhuma censura do
de reação própria como bicho, sistema constituído, por não apresentar ideologia,
e que, como bicho, é mister na época, considerada subversiva.
187
Morte e vida severina segue a estrutura de um auto. (palavras confeito, pílula), na glace
Como romance que é, em treze capítulos, a per- de uma entonação lisa, de adocicada.
sonagem central desloca-se da Serra da Costela, Enquanto que sob ela, dura e endurece
situada no interior de Alagoas, vem margeando o o caroço de pedra, a amêndoa pétrea,
Rio Capibaribe, chega ao Recife, onde se encontra dessa árvore pedrenta (o sertanejo)
com Mestre Carpina. incapaz de não se expressar em pedra.
O texto de João Cabral é composto por versos 2
metricados, redondilhas, em uma perfeita harmo- Daí por que o sertanejo fala pouco:
nia entre a personagem e a linguagem, peculiar as palavras de pedra ulceram a boca
à literatura popular desde os autos do teatrólogo e no idioma pedra se fala doloroso;
português Gil Vicente até a atualidade.
o natural desse idioma fala à força.
Nos versos: “E se somos Severinos / iguais em tudo
Daí também por que ele fala devagar:
na vida, / morremos de morte igual, / mesma mor-
tem de pegar as palavras com cuidado,
te severina: / que é a morte de que se morre / de
confeitá-las na língua, rebuçá-las;
velhice antes dos trinta”, encontramos o uso de ali-
pois toma tempo todo esse trabalho.
terações que trazem musicalidade ao texto. Além
disso, a palavra severina exerce uma função adje- Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes
tiva, pois qualica o substantivo “morte” de modo armações sobre o poema.
criativo e inusitado. O eu lírico do poema é o próprio sertanejo que re-
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. ete sobre sua forma de falar.
a) F – F – F – V – V d) V – F – V – F – V A ideia dos quatro primeiros versos da primeira es-
b) V – V – V – F – V e) V – V – V – F – F trofe é retomada nos quatro últimos da segunda;
c) V – V – F – F – V neles, é descrita a melodia aparentemente doce da
fala do sertanejo.
3. UFRGS 2020 Leia o fragmento da canção Funeral de Os quatro últimos versos da primeira estrofe estão
um lavrador, feita por Chico Buarque de Holanda, em relacionados aos quatro primeiros da segunda; ne-
6, a partir da obra Morte e vida Severina (Auto de les, é descrita a essência rude do falar sertanejo.
Natal pernambucano), de João Cabral de Melo Neto. O sertanejo falando opõe-se aos demais poemas
de A educação pela pedra; nele, João Cabral de
É uma cova grande pra tua carne pouca
Melo Neto apresenta um rigor formal, uma preo-
Mas a terra dada, não se abre a boca
É a conta menor que tiraste em vida cupação com a estrutura do poema, ausente no
É a parte que te cabe deste latifúndio restante do livro.
É a terra que querias ver dividida A sequência correta de preenchimento, de cima para
Estarás mais ancho que estavas no mundo baixo, é
Mas a terra dada, não se abre a boca a) V – V – V – F
Considere as armações abaio, sobre o fragmento. b) F – V – F – V
I. O tema da reforma agrária, recuperado por Chico c) V – F – V – V
Buarque de Holanda, também está presente no d) F – F – F – V
Auto de João Cabral de Melo Neto. e) F – V – V – F
II. A magreza do lavrador faz a cova parecer um
latifúndio.
38. PUC-Campinas 2015 No imediato pós-guerra, pre-
III. A morte, para o lavrador pobre, parece ser mais
cisamente no ano de 4, um grupo de poetas − a
vantajosa do que a miséria em vida.
chamada geração de 4 – acabou se caracterizando
Quais estão corretas? por abraçar
a) Apenas I. a) uma recomposição de valores estéticos clássicos
b) Apenas II. e tradicionais, em reação a teses centrais do Mo-
c) Apenas III. dernismo de 22.
d) Apenas II e III. b) manifestos e programas de tendências várias da
e) I, II e III. vanguarda europeia.
c) uma nova onda nacionalista, da qual emergi-
37. UFRGS 201 (Adapt.) Leia o poema a seguir, de João riam grupos como o dos poetas concretos e o
Cabral de Melo Neto. da poesia Praxis.
d) a missão claramente ideológica de promover a
O sertanejo falando
conscientização política das camadas populares.
A fala a nível do sertanejo engana: e) certo proselitismo religioso, recuperando a tradi-
as palavras dele vêm, como rebuçadas ção medieval da poesia mística e dos hinos de fé.
189
a) participação efetiva do espectador na obra, o que determina a proximidade entre arte e vida.
b) percepção do uso de objetos cotidianos para a confecção da obra de arte, aproximando arte e realidade.
c) reconhecimento do uso de técnicas artesanais na arte, o que determina a consolidação de valores culturais.
d) reflexão sobre a captação artística de imagens com meios ópticos, revelando o desenvolvimento de uma lingua-
gem própria.
e) entendimento sobre o uso de métodos de produção em série para a confecção da obra de arte, o que atualiza
as linguagens artísticas.
Observe os dois poemas a seguir para responder à questão 43.
hugo PONTES
Poços de Caldas-MG, Brasil
PONTES, Hugo. Disponível em: www.germinaliteratura.com.br.
Acesso em: 24 mar. 2015.
43. UEG-GO 2015 Considerando o experimentalismo surgido com as vanguardas do século XX, constata-se que os poe-
mas de Campos e Pontes são respectivamente
a) poema árcade e poesia futurista.
b) poesia concreta e poema processo.
c) poema abstrato e poesia surreal.
d) poesia parnasiana e poema barroco.
Pulsar
Campos, Augusto. Viva vaia – poesia 1949-1979. São Paulo: Duas cidades, 1979. p. 175.
Explique como se articula a substituição de letras por outros sinais grácos na construção do poema concreto “Pulsar”,
de Augusto de Campos.
45. UEM-PR Leia as informações a seguir sobre tendências contemporâneas da literatura e assinale o que for correto.
O que, no campo literário, de modo geral, a crítica tem chamado de tendências contemporâneas aponta para as obras
e os movimentos surgidos a partir de meados da década de 1950 e que reetem, nas décadas de 1960 e 1970, um
momento histórico caracterizado inicialmente pelo autoritarismo e pela censura, seguido de um progressivo processo
de democratização. Trata-se de uma produção literária bastante vasta e diversicada. Na poesia, dois aspectos são
considerados: um marcado pela permanência, em que autores consagrados continuam produzindo com certa ênfase
na temática social; outro, pela ruptura, em que ganha corpo a luta contra esquemas analítico-discursivos da sintaxe
tradicional. Na prosa, uma das características mais marcantes é a pluralidade de estilos, consequência de diferentes
tratamentos conferidos à linguagem.
O Concretismo, no âmbito da poesia, impulsionado pelos avanços tecnológicos da época e pelos meios de
comunicação de massa, abandona o discurso poético tradicional em prol dos recursos gráficos das palavras.
Decorrem daí a abolição do verso tradicional, o aproveitamento do espaço em branco, a exploração da pa-
lavra como “coisa”, a ausência de lirismo, a rejeição do tema (o poema não significa, ele é), a possibilidade
de leituras múltiplas. Essa estética teve em Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari seus
principais poetas.
No âmbito da ficção, a temática política, para escapar à censura aos meios de comunicação de massa, valeu-se
de subterfúgios. De um lado, o romance-reportagem, por meio de uma linguagem jornalística e baseado em fatos
reais, denuncia e protesta contra a violência social e política. De outro lado, o realismo mágico denuncia o mesmo
estado de coisas por meio de situações consideradas irreais, absurdas e/ou insólitas.
A prosa memorialista ou autobiográfica, gênero bastante difundido durante o período simbolista, é retomada na
segunda metade do século XX pela pena de grandes escritores, como Dalton Trevisan e Rubem Fonseca. Por
meio de uma linguagem introspectiva, o escritor faz emergir seu universo pessoal como reação velada às intem-
péries da vida anônima e massificada nos grandes centros urbanos.
8 Em função de sua preocupação com a organização do texto, com a precisão e a concisão da linguagem, João
Cabral de Melo Neto é considerado precursor da poesia concreta e visual. Sua obra poética abarca desde os po-
emas surrealistas de “A pedra do sono”, passando pelos poemas metalinguísticos de “Psicologia da composição”,
até a ênfase social de “Morte e vida severina”, poema que relata a trajetória de Severino, retirante nordestino que
FRENTE 2
191
BNCC em foco
EM13LP47
A inclusão [de Carolina Maria de Jesus], no campo literário, talvez, ainda mais do que nos outros, é uma questão de
legitimidade. Neste sentido, a própria crítica e a pesquisa acadêmica não são desprovidas de relevância. Afinal, são espaços
importantes de legitimação, ao lado dos próprios criadores reconhecidos [...]. Ler Carolina Maria de Jesus como literatura,
colocá-la ao lado de nomes consagrados, como Guimarães Rosa e Clarice Lispector, em vez de relegá-la ao limbo do “tes-
temunho” e do “documento”, significa aceitar como legítima sua dicção, que é capaz de criar envolvimento e beleza, por
mais que se afaste do padrão estabelecido pelos escritores da elite.
1.
a) b) c) d) e)
EM13LP51
O que vale são outras coisas. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e
sentimento, uns com os outros acho que nem não misturam. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa
importância. De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se
fosse diferente pessoa. Sucedido desgovernado. Assim eu acho, assim é que eu conto. O senhor é bondoso de me ouvir. Tem
horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data. O senhor mesmo sabe.
2.
EM13LP45 e EM13LP4
3.
a) b) c) d) e)
16
A terceira geração modernista no Brasil surge após o término do Estado Novo de Getúlio
Vargas, em 1945, e se desenvolve até meados da década de 1950, quando as denomi-
nadas tendências literárias contemporâneas começam a aparecer, como o Concretismo,
a poesia-práxis e a poesia “marginal”. A partir de então, surgem experimentações com a
palavra em si e a poesia visual, que permitem leituras diversas, fora do verso, ousando
com as livres associações semântico-fonéticas. Além disso, toda a experimentação é
feita em épocas muito duras para o país: a ditadura militar, um regime de exceção que
cassou liberdades e garantias individuais, resultando em tempos difíceis para os artistas
em geral.
A arte engajada dos anos 1960 dos interesses culturais a elas ligados; a possibilidade ou
não de a arte se integrar a práticas revolucionárias; a via-
O processo de modernização e desenvolvimento da
bilidade ou inviabilidade de produzir material artístico de
nação brasileira a partir dos anos 1950 foi acompanhado
qualidade que fosse, ao mesmo tempo, mobilizador em
por uma série de propostas de renovação e atualização do
termos políticos, acessível às largas camadas da população
legado dos modernistas no campo da cultura. A literatura
e fizesse jus às complexidades de pensamento próprias à
brasileira procurou dar forma às tensões ideológicas com as
interpretação da realidade; além da discussão quanto às di-
quais convivia naquele período, oriundas do sempre contra-
versas e não necessariamente direcionáveis possibilidades
ditório e ambíguo processo histórico de desenvolvimento
de engajamento político das nossas artes populares mais
do país. Tais tensões atingiram seu ápice com a instauração
tradicionais, como o cordel ou a canção popular.
da ditadura a partir de um golpe militar em 1964. Assim,
A produção cultural dos anos 1960 se viu predominan-
era inevitável que alguns artistas daquele período buscas-
temente orientada pelo pensamento de esquerda, ainda
sem a aproximação entre questões políticas e estéticas,
que as ideias socialistas e comunistas tenham sofrido mu-
fazendo aparecer em suas obras questionamentos acerca
danças e reformulações significativas, especialmente no
da realidade social e promovendo, de modo mais acirrado
final dos anos 1950, a partir das dúvidas sobre os rumos
e explícito do que até então, certa politização da cultura.
da Revolução Russa após o desmascaramento de Stalin e
Muitos intelectuais, especialmente os mais próximos aos
das constantes denúncias de suas práticas repressivas e
círculos estudantis e universitários, passaram a buscar uma
ditatoriais no Ocidente. No Brasil, depois do golpe militar
expressão artística que pudesse contribuir para o processo
de conscientização do povo a respeito de nossas mazelas de 1964, as diferentes organizações de esquerda oscila-
sociais. Além disso, eles começaram a participar ativamente ram entre a clandestinidade e a luta armada e a adesão
das passeatas, das reivindicações e dos movimentos de parcial a novas concepções ideológicas, mais orientadas
massa, que se tornaram constantes no período. e adaptáveis às propostas de desenvolvimento econômico
Nessa perspectiva, surgiu, em 1961, o Centro Popular próprias, ainda que não inteiramente obrigatórias, a um país
de Cultura (CPC), ligado à União Nacional dos Estudantes. capitalista emergente.
Seus integrantes deveriam atuar simultaneamente como A militância política de esquerda buscou se inserir nos
artistas, membros do povo e revolucionários, o que nem movimentos populares, tornando-se fácil entender sua
sempre se verificou, principalmente no tocante à dese- crescente importância junto aos trabalhadores rurais e ao
jada elaboração artística. Entre esses integrantes, estão operariado urbano. Os artistas, atentos a tal mobilização
artistas que posteriormente se tornaram importantes para social, viram-se cada vez mais confrontados em relação às
a cultura brasileira, como os cineastas Eduardo Coutinho, suas ideologias. Com isso, as questões estéticas implicadas
Cacá Diegues e Leon Hirszman, o poeta Ferreira Gullar e nas formas poéticas passaram a ser questionadas e vistas
os dramaturgos Gianfrancesco Guarnieri, João das Neves como alienantes, por exemplo, nas críticas ao Concretismo.
e Oduvaldo Vianna Filho. Com o fortalecimento do regime ditatorial a partir do
Ato Institucional no 5, em 1968, a censura instaurada bus-
Saiba mais cou inviabilizar as manifestações artísticas que tentavam
transmitir ideias revolucionárias às classes populares, e a
clandestinidade e/ou a busca de novas formas de divulga-
ção passaram a vigorar também para a arte.
195
Paulo Leminski, Torquato Neto, Cacaso, Charles, José Os diversos caminhos da
Agrippino de Paula, Waly Salomão, Francisco Alvim, Ana Cristina
Cesar e Chacal são alguns dos autores que integraram a invenção literária no século XX
chamada “geração mimeógrafo”, nome que aludia à busca Estudar a literatura brasileira do século XX e inteirar-se
de recursos fáceis e baratos de reproduzir e divulgar poesia a respeito dos escritores e das obras que a engrandeceram
à margem do viciado mercado editorial. Essa procura incluía esteticamente ou que trouxeram inovações significativas,
a distribuição gratuita ou a venda direta das publicações destacando-se do panorama mais geral, implica abando-
aos interessados e o barateamento dos custos a partir do nar a visão intelectualista e se abrir às novas tendências
aproveitamento de todos os formatos e tipos de papel e de que vão se afirmando. Da inventividade desses caminhos
modalidades de publicação caseira. Além disso, valorizava literários, destacam-se a ficcionista Lygia Fagundes Telles,
até mesmo os muros das cidades como suporte para a picha- a poetisa Adélia Prado e o inclassificável escritor mato-gros-
ção de textos poéticos. Até a simples leitura oral de poemas sense Manoel de Barros, os quais nos dão belas amostras
em locais públicos foi reconhecida na medida em que dava desse novo caminhar literário.
destaque à performatividade lúdica e teatral dos poetas:
denominados happenings, tais eventos cênicos públicos A ficção introspectiva
e improvisados mesclavam literatura, artes visuais e teatro. de Lygia Fagundes Telles
Ainda que alguns poetas dessa geração tenham publi-
cado suas obras posteriormente no formato de livros, não A partir dos anos 1940, podemos observar na pro-
havia originalmente nenhuma preocupação quanto à pe- sa de ficção brasileira uma linhagem de escritores que
renidade da poesia que a publicação mais formal garantia. cultivaram em romances e livros de contos a abordagem
A ideia era transmitir o recado poético naquele momento densamente psicológica de personagens e questões
presente nas mais variadas circunstâncias. humanas que, remontando ao chamado “realismo psico-
Também é importante mencionar a aliança com a música lógico” de um Machado de Assis, incorporaram conquistas
popular. Naquela fase, começou-se a recuperar a noção – estéticas – por exemplo, o fluxo de consciência – dos
antiga na história das formas populares da literatura e hoje grandes romancistas europeus do século XX, como Proust
largamente aceita – de que as letras de música pouco ou e Virginia Woolf.
nada se diferenciam dos poemas publicados em livro quanto O crítico Alfredo Bosi nomeia essas obras de “ro-
à sua natureza e ao seu valor. Uma das mais importantes mances de tensão interiorizada”, nos quais o herói ou as
canções tropicalistas, “Geleia geral”, por exemplo, resultou da personagens principais não encontram forças para afron-
parceria entre o poeta Torquato Neto e o músico Gilberto Gil. tar diretamente o mundo social que os oprime de algum
A ideia de denominar tais poetas como pertencentes à modo e interiorizam o conflito, evadindo-se para a memória
“geração mimeógrafo” cabe perfeitamente no contexto dessa da infância ou para a nem sempre objetiva possibilidade
poesia, já que, ao contrário da forçada tendência didatizante de autoanálise, privilegiando constantemente o mergulho
que tem como preferência dividir arbitrariamente escritores intenso na interioridade e nos devaneios. De acordo com
em “gerações”, o objetivo desse grupo era justamente relatar essa premissa, tais obras intensificam a atmosfera e o “cli-
ma” dos relatos mais do que propriamente o desenrolar de
poeticamente a experiência da sua geração, bem como seu
uma trama. Grandes escritores, como Otávio de Faria, Cornélio
posicionamento crítico e conflituoso em relação às anteriores.
Pena, Cyro dos Anjos, Osman Lins e Lúcio Cardoso – com o
A produção desses poetas era marcada pela forte irreve-
romance Crônica da casa assassinada como obra-prima da
rência, pelo humor, pela coloquialidade e por um intencional
tendência – compõem essa linhagem, e não há dúvida de
não acabamento das formas poéticas, o qual previa, inclusive,
que a escritora paulista Lygia Fagundes Telles (1923-2022)
a possibilidade de não dar título aos poemas ou de fazê-los
é sua representante maior até os dias de hoje.
acompanhar de desenhos, como se os aproximassem a um
Lygia estreou na literatura em 1954 com o romance
caderno de rascunhos. Além disso, seu trabalho era marcado
Ciranda de pedra, tornando-se muito conhecida por seus
pela exploração de elementos recuperados do primeiro Mo-
contos impactantes, perturbadores e não raro tendentes
dernismo – como o “poema-piada” – e pelo apelo à síntese
ao fantástico e ao “realismo maravilhoso”, como é o caso
e à visualidade da poesia, ainda que longe do rigor das com-
de “A caçada” (do livro Antes do baile verde, publicado em
posições concretistas. Ainda, era importante a preocupação
1970), em que um homem obcecado pela contemplação
com a expressão poética mais espontânea e circunstanciada,
de uma velha tapeçaria exposta em um antiquário acaba
feita a partir de fatos triviais, de sentimentos comuns e de si-
por nela penetrar e viver dolorosamente a cena de caça
tuações diretamente observáveis no cotidiano da vida social.
que ali se representa.
Atenção O romance As meninas (1973) é a obra que con-
sagrou a escritora, já que dele emerge o retrato de um
momento crucial da vida da classe média urbana sob a
ditadura militar, em meio às investigações intimistas de
Lorena, Ana Clara e Lia (ou Lião), três estudantes de um
internato dirigido por freiras. No intrincado relato de Lygia,
um narrador onisciente abre espaço alternadamente para
a perspectiva em primeira pessoa das personagens: a
197
A crônica e as tendências [...]
Por que ressuscita dentro de mim essa imagem, essa manhã?
neorrealistas no conto brasileiro Foi um momento apenas. Havia muita luz, e um vento. Eu estava
contemporâneo de pé na praia. Podia ser um momento feliz, e em si mesmo talvez
fosse; e aquele singelo quadro de beleza me fez bem; mas uma
Ao lado do impulso a uma literatura de sondagem
fina, indefinível angústia me vem misturada com essa lembrança.
interior, ou marcada por inovações linguísticas, a segunda
[...]
metade do século XX também assistiu ao florescimento
BRAGA, Rubem. “As meninas”. Rubem Braga: 200 crônicas escolhidas. 33 ed.
de uma ficção de expressão mais realista, que tendia à Rio de Janeiro: Record, 2010. p. 438.
observação da simples poesia do cotidiano, como no caso Como se percebe no texto, o cronista é um artista
da crônica, ou que mergulhava no caos dos relaciona- atento às menores coisas do cotidiano, que se oferecem
mentos dilacerados e na violência da vida urbana dos fugazmente aos sentidos, e sabe extrair delas a beleza
grandes centros, como nas ficções de Rubem Fonseca simples e a essencial inutilidade contemplativa que elas
e Dalton Trevisan. inspiram para alguém ávido por fugir à sanha consumista
Ambas as tendências refletem o caos da vida moderna de “acontecimentos” que as notícias de jornal alimentam.
em sociedade, ora forjando a resistência lírica, a qual preser- Os iluminados instantâneos, ou os “quase nada” da crônica,
va instantes e brechas de vida mais leve, como na crônica de podem resgatar nossa embrutecida sensibilidade moderna.
Rubem Braga, ora fazendo registros secos e brutais, como
nos desconcertantes contos curtos do paranaense Dalton
A opressão e a violência da vida
Trevisan, autor que parece cutucar a ferida do capitalismo
selvagem e das suas sempre renovadas opressões, interio- urbana nos contos de Rubem
rizadas até mesmo na vida afetiva e conjugal. Fonseca
Na contramão do lirismo da crônica, os contos e ro-
A crônica como gênero literário e mances de Rubem Fonseca parecem valorizar justamente
seu mestre Rubem Braga o estado de choque que os seus retratos hiper-realistas
O sentido mais genérico da palavra “crônica”, ou seja, do caos e da violência da vida urbana causam ao leitor.
a ideia de registro do tempo tanto na forma de sua fixação Assim, potencializar a brutalidade do relato surge como um
em instantes privilegiados quanto no ato de captar sua su- possível recurso catalisador do nosso olhar crítico para os
cessão vertiginosa, inspirou um gênero moderno de escrita males da vida social segregadora e esvaziada de valores
tributário do jornalismo, mas que encontrou autores entre humanos das grandes cidades.
nós que o elevaram à arte literária. O trecho inicial de “Feliz Ano Novo”, um dos contos
Quase todos os grandes ficcionistas e poetas brasilei- mais famosos do autor, coloca-nos em choque – pelo re-
ros a partir do Realismo, como Machado de Assis e Carlos corte bruto, ainda que muito trabalhado literariamente, da
Drummond de Andrade, escreveram crônicas em jornal. fala popular – dentro do momento em que um grupo se
Na maior parte das vezes, esses textos eram um tanto di- prepara para um assalto.
ferenciados em relação ao tom mais elaborado de suas
incursões pela poesia, pelo conto ou pelo romance: traziam Vi na televisão que as lojas bacanas estavam vendendo
adoidado roupas ricas para as madames vestirem no réveillon.
algo mais próximo do relato direto de fatos ou do comentá-
Vi também que as casas de artigos finos para comer e beber
rio jornalístico sobre acontecimentos de repercussão social,
tinham vendido todo o estoque.
ainda que vazados em estilo quase literário.
Pereba, vou ter que esperar o dia raiar e apanhar cachaça,
No Modernismo expandido (dos anos 1950 em diante),
galinha morta e farofa dos macumbeiros.
no entanto, alguns escritores se especializaram, de certa
[...]
forma, no gênero, refinando seus procedimentos literários. Onde você afanou a TV, Pereba perguntou.
Foi o caso de grandes cronistas, como Sérgio Porto (ou sob Afanei, porra nenhuma. Comprei. O recibo está bem em
seu pseudônimo, Stanislaw Ponte Preta), Millôr Fernandes cima dela. Ô Pereba! Você pensa que eu sou algum babaquara
e Lourenço Diaféria, os quais, entretanto, nunca superaram para ter coisa estarrada no meu cafofo?
o brilho do capixaba Rubem Braga (1913-1990). [...]
Rubem Braga dedicou-se profissionalmente ao jornalis- FONSECA, Rubem. “Feliz ano novo”. MORICONI, Ítalo (Org.).
mo, e suas crônicas foram publicadas em livro pela primeira Os cem melhores contos brasileiros do século.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. p. 334.
vez em 1936, no volume O conde e o passarinho. A ele,
seguiram-se inúmeras outras coletâneas nas quatro déca- Pela leitura do fragmento, podemos imaginar o impac-
das posteriores cujas constantes reedições atestam sua to que o livro – de mesmo título do conto – acarretou em
popularidade como escritor. 1975, auge da ditadura militar. Após a venda de 30 mil
O trecho de “As meninas”, reproduzido a seguir, exemplares, a obra foi proibida pela censura por “atentado
exemplifica bem o caráter da crônica de Rubem Braga contra a moral e os bons costumes”; nunca antes na litera-
como “meditação lírica de um Eu que falasse sozinho, tura brasileira a linguagem e o modo de vida dos excluídos
recordando contemplativamente momentos vividos com da sociedade pelo sistema econômico e político tinham
grande intensidade”, como a caracterizou o crítico Davi aparecido tão cruamente, tão depurados dos dispensáveis
Arrigucci Jr. e falsos disfarces linguísticos da “boa literatura”.
199
dramática concebida segundo os princípios revolucionários O trecho reproduzido a seguir, um diálogo entre
do Modernismo: sintoniza-se com experiências vanguardistas Abelardo I e sua esposa Heloísa, inicia-se a propósito
que já frequentavam o teatro europeu desde o fim do século de uma reprodução do célebre retrato da Mona Lisa (ou
XIX (como o anárquico texto “Ubu Rei”, do francês Alfred Gioconda), de Leonardo da Vinci, que Abelardo tem em
Jarry, de 1896); apresenta uma visão desmistificadora do seu escritório e dá bem a medida da virulenta crítica social
país, colocando em cena uma feroz caricatura da burgue- implicada na peça.
sia nacional, dos seus hábitos e seus discursos; privilegia o
gesto crítico e demolidor de todos os valores e nega meta- [...]
linguisticamente em sua totalidade o tradicionalismo cênico Abelardo I – A Gioconda.... Um naco de beleza. O pri-
de base romântica ou realista, elegendo a descompostura meiro sorriso burguês...
como finalidade última. Uma fala da personagem Abelardo Heloísa – Você é realista. E por isso enriqueceu magi-
II, de O rei da vela, resume bem essa intenção demolidora: camente. Enquanto os meus pais, lavradores de cem anos,
empobreceram em dois...
A burguesia só produziu um teatro de classe. A apresen- [...]
tação da classe. Hoje evoluímos. Chegamos à espinafração. Abelardo I – Por que não? O pânico do café. Com dinhei-
Oswald de Andrade. O rei da vela. São Paulo:Companhia das Letras, 2017. ro inglês comprei café na porta das fazendas desesperadas.
De posse de segredos governamentais, joguei duro e certo
O fato é que O rei da vela guardou seu potencial no café-papel! Amontoei ruínas de um lado e ouro do outro!
explosivo até 1967, mais de trinta anos depois de ter Mas, há o trabalho construtivo, a indústria.... Calculei ante a
sido escrita, quando finalmente pôde ser encenada, sem regressão parcial que a crise provocou.... Descobri e incentivei
medo do fracasso comercial, pelo grupo do Teatro Oficina, a regressão, à volta a vela... sob o signo do capital americano.
dirigido por José Celso Martinez Corrêa, em uma monta- [...]
gem que marcou época pelo tom anárquico e libertário. A ANDRADE, Oswald de. O rei da vela. São Paulo:Globo, 1991. p. 53-4.
encenação influenciou todo o teatro brasileiro posterior a
ela, e seu impacto se fez notar também nas artes visuais Nelson Rodrigues e a criação do moderno
e na música (no movimento tropicalista) e no cinema (no teatro brasileiro
âmbito do chamado Cinema Novo). O texto de Oswald
Como vimos, uma vez que a renovação modernista fi-
tornou-se, assim, o caso mais notável da longevidade do
cou suspensa para o teatro nacional por tantas décadas,
poder de fogo modernista na renovação das nossas artes.
coube ao nosso maior dramaturgo, Nelson Rodrigues (1912-
A peça promove uma caricatura, em uma série de peque-
1980), a primazia de ter criado o teatro brasileiro moderno,
nas cenas, a vida familiar e as práticas comerciais e financeiras
ao estrear, em 1943, a peça Vestido de noiva. O texto teatral
abusivas de Abelardo I – um fabricante de velas – típico re-
centrava-se no conflito afetivo entre duas irmãs, mas o en-
presentante da burguesia industrial brasileira, inescrupulosa
trecho dramático era apresentado ao público em três níveis
quanto aos meios de enriquecimento, exploradora das classes
de encenação, ora simultâneos, ora alternados, nem sempre
menos favorecidas e subserviente ao capital estrangeiro.
claramente diferenciados: alucinação, memória e realida-
de. Nunca entre nós, até então, o teatro havia apresentado
Coletivo Garapa/Projeto Produção Cultural no Brasil/Teatro Oficina
201
A prosa poética de Mia Couto Misturando um e outro, os mestiços
O escritor moçambicano Mia Couto obteve o reco- O povo brasileiro se caracteriza pela grande diversi-
nhecimento da crítica e do público, ambos atraídos pela dade cultural e étnica. Nossa cultura é resultante de uma
originalidade das suas narrativas recheadas de enredos complexa conjugação de elementos provenientes da
pungentes que remexem em feridas do seu país. Estes Europa, da África e da população indígena nativa.
tratam das imposições colonialistas, assim como da rigidez
de valores que orientam uma sociedade machista do pon-
to de vista dos direitos humanos, com certas intolerâncias
e perversidades. Sobressai daí uma prosa, por vezes do-
lorosa, na qual proliferam imagens inusitadas produzidas
poeticamente, inflamadas por um léxico vibrante em que se
alterna o uso de palavras nativas ou inventadas, à maneira
dos neologismos do brasileiro Guimarães Rosa.
map-traditional-symbols-culture-nature-image44738811.
http://www.dreamstime.com/stock-illustration-brazil-
Saiba mais
Revisando
1. UEL-PR 2015 Leia o poema a seguir: No que diz respeito aos procedimentos formais veri-
cados (rimas, sonoridade e jogos de palavras) e aos
desencontrários sentidos construídos, relacione os dois primeiros ver-
Mandei a palavra rimar, sos ao restante do poema.
ela não me obedeceu.
Falou em mar, em céu, em rosa, 2. UFBA
em grego, em silêncio, em prosa.
Parecia fora de si, Emergência
FRENTE 2
Mário Quintana
a sílaba silenciosa.
Quem faz um poema abre uma janela.
Mandei a frase sonhar,
Respira, tu que estás numa cela
e ela se foi num labirinto. abafada,
Fazer poesia, eu sinto, apenas isso. esse ar que entra por ela.
Dar ordens a um exército, Por isso é que os poemas têm ritmo
para conquistar um império extinto. — para que possas profundamente respirar.
LEMINSKI, P. Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 190. Quem faz um poema salva um afogado.
203
Agosto 1964 num tic tac que não se ouve
Ferreira Gullar (senão quando se cola o ouvido à altura do meu co-
Entre lojas de flores e de sapatos, bares, ração)
mercados, butiques, tic tac tic tac
viajo GULLAR, Ferreira. Poema Sujo. São Paulo: Círculo do Livro, 1980, p. 11-13.
(fragmento).
num ônibus Estrada de Ferro – Leblon.
Volto do trabalho, a noite em meio,
fatigado de mentiras. 3. UFT-TO 2020 Sobre o fragmento do Poema Sujo, de
O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud, Ferreira Gullar, assinale a alternativa CORRETA.
relógio de lilases, concretismo, a) Retrata, por meio de um narrador em terceira pes-
neoconcretismo, ficções da juventude, adeus, soa, a memória de um homem cosmopolita de
que a vida meia idade.
eu a compro à vista aos donos do mundo. b) Traz como temáticas centrais as paixões da juventude
Ao peso dos impostos, o verso sufoca, e a solidão que compõe o eu-lírico na idade adulta.
a poesia agora responde a inquérito policial-militar. c) Apresenta as impressões do eu-lírico sobre o cor-
Digo adeus à ilusão po-vida que o constitui.
mas não ao mundo. Mas não à vida, d) Compõe-se de um narrador em terceira pessoa
meu reduto e meu reino. que descreve sua trajetória de vida, do nascimen-
Do salário injusto, to à velhice.
da punição injusta,
da humilhação, da tortura, 4. UFRGS 2015 Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso)
do terror, as afirmações a seguir, sobre o álbum Tropicália ou
retiramos algo e com ele construímos um artefato Panis et Circencis,
um poema O álbum foi lançado em julho de 1968, antes da
uma bandeira edição do Ato Institucional nº 5, que agravou a
censura e a perseguição política a artistas e inte-
Com base na leitura dos poemas “Emergência”, de
lectuais opositores do regime.
Mário Quintana, e “Agosto ”, de Ferreira Gullar,
O álbum ressalta a impossibilidade de conciliação
explique a concepção de poesia de cada sujeito
entre referências musicais como o “brega”, a Bossa
poético e destaque, pelo menos, dois recursos lin-
Nova, a Jovem Guarda e a canção de protesto.
guísticos que constituem imagens poéticas de cada
O álbum está em consonância com outras formas
texto. Justique sua escolha.
artísticas do período, entre elas o cinema de Glau-
Leia o fragmento para responder à questão 3. ber Rocha, o Teatro Oficina de Zé Celso Martinez
Corpo meu corpo corpo Correa e as artes plásticas de Hélio Oiticica.
que tem um nariz assim uma boca O álbum, no campo literário, dialoga com a Poesia
dois olhos Concreta de Décio Pignatari, Augusto e Haroldo
e um certo jeito de sorrir de Campos e com a antropofagia de Oswald de
de falar Andrade.
que minha mãe identifica como sendo de seu filho A sequência correta de preenchimento dos parênte-
que meu filho identifica ses, de cima para baixo, é
como sendo de seu pai a) V – F – F – F d) F – V – F – F
b) V – F – V – V e) V – V – V – F
corpo que se para de funcionar provoca c) F – F – F – V
um grave acontecimento na família:
sem ele não há José Ribamar Ferreira 5. Enem 2015
não há Ferreira Gullar Tudo era harmonioso, sólido, verdadeiro. No prin-
cípio. As mulheres, principalmente as mortas do álbum,
eram maravilhosas. Os homens, mais maravilhosos ainda,
e muitas pequenas coisas acontecidas no planeta
ah, difícil encontrar família mais perfeita. A nossa família,
estarão esquecidas para sempre
dizia a bela voz de contralto da minha avó. Na nossa
família, frisava, lançando em redor olhares complacentes,
corpo-facho corpo-fátuo corpo-fato
lamentando os que não faziam parte do nosso clã. […]
[...] Quando Margarida resolveu contar os podres todos que
meu corpo nascido numa porta-e-janela da Rua dos sabia naquela noite negra da rebelião, fiquei furiosa. […]
[Prazeres É mentira, é mentira!, gritei tapando os ouvidos. Mas
ao lado de uma padaria Margarida seguia em frente: tio Maximiliano se casou com
sob o signo de Virgo a inglesa de cachos só por causa do dinheiro, não pas-
sob as balas do 24º BC sava de um pilantra, a loirinha feiosa era riquíssima. Tia
na revolução de 30 Consuelo? Ora, tia Consuelo chorava porque sentia falta
e que desde então segue pulsando como um relógio de homem, ela queria homem e não Deus, ou o convento
205
c) As comparações com a cadela quase cega e com 9. Unicamp-SP 2018 Leia a seguir dois excertos de
o tapete gasto reforçam o estado de fragilidade Terra Sonâmbula, de Mia Couto.
do filho.
d) A precariedade do espaço narrativo, acentuada Muidinga não ganha convencimento. Olha a planície,
por elementos sensoriais (cheiros, cores, sons), é tudo parece desmaiado. Naquele território, tão despido de
igualmente metáfora da relação entre mãe e filho. brilho, ter razão é algo que já não dá vontade.
e) O autor do excerto também escreveu O ovo apu-
nhalado e Morangos mofados, entre outras obras. [...]
8. UFRN 2013 Leia os fragmentos extraídos, respectiva- — Sabe, miúdo, o que vamos fazer? Você me vai ler
mente, de Capitães da Areia e de O santo e a porca. mais desses escritos.
Texto 1 — Mas ler agora, com esse escuro?
Tá com outra, não é? Mas meu Senhor do Bonfim — Acendes o fogo lá fora.
há de fazer com que os dois fique entrevado. Senhor do — Mas, com a chuva, a lenha toda se molhou.
Bonfim é meu santo. — Então vamos acender o fogo dentro do machim-
AMADO, Jorge. Capitães da Areia. São Paulo: bombo. Juntamos coisa de arder lá mesmo.
Companhia das Letras, 2009. p. 43.
— Podemos, tio? Não há problema?
Texto 2 — Problema é deixar este escuro entrar na cabeça da
Ah, isso é o que eu não digo. Queria saber, hein? Está gente. Não podemos dançar nem rir. Então vamos para
bem, saia. Afinal de contas, já o revistei todo. Fora daqui! dentro desses cadernos. Lá podemos cantar, divertir.
E que Santo Antônio lhe cegue os olhos e lhe dê paralisia COUTO, Mia. Terra sonâmbula.
nos dois braços e nas duas pernas duma vez. Rio de Janeiro: Record, 1993. p. 10 e 152.
SUASSUNA, Ariano. O santo e a porca. 22. ed. Rio de Janeiro:
José Olympio, 2010. p. 106. a) No primeiro excerto, descreve-se a relação da
personagem com o espaço narrativo. Consi-
Os fragmentos trazem cenas que apresentam derando o conjunto do romance, caracterize a
a) um tom anticlerical em virtude de as entidades identidade narrativa de Muidinga em relação a
sagradas serem representadas como seres de
esse espaço e explique por que o território era
caráter vingativo.
“despido de brilho”.
b) um tom cômico em decorrência da forma como as
entidades sagradas são tratadas. b) No segundo excerto, o diálogo das duas perso-
c) uma situação irônica, visto que o mal que as perso- nagens principais do romance aborda a questão
nagens desejam aos outros também as acometerá. da leitura e sua função para a situação existencial
d) uma situação humorística, uma vez que as per- dos protagonistas. Explique o que seriam os “es-
sonagens sabiam que seus desejos não seriam critos” e “cadernos” mencionados e por que neles
atendidos. os protagonistas poderiam “cantar e divertir”.
Exercícios propostos
1. UFJF/Pism-MG 2020 Leia o poema abaixo para res- Marque a alternativa INCORRETA a respeito do poe-
ponder à questão: ma acima:
a) Trata-se de um texto que pode ser rotulado como
Meu povo, meu poema
poema participante ou poesia engajada.
Meu povo e meu poema crescem juntos
b) O texto apresenta forte adesão à temática de in-
como cresce no fruto
teresse da coletividade, o que afasta o eu poético
a árvore nova
do individualismo sentimental.
No povo meu poema vai nascendo c) A ideia-núcleo do poema é a da transformação.
como no canavial A esse núcleo estão associadas as metáforas do
nasce verde o açúcar poema.
No povo meu poema está maduro d) Plantar equivale no poema à tarefa de abrir mão
como o sol do presente em benefício do futuro.
na garganta do futuro e) O eu poético parece inclinado a unir os requin-
tes do formalismo de vanguarda à linguagem dos
Meu povo em meu poema
cantadores populares.
se reflete
como a espiga se funde em terra fértil
2. Enem PPL 2017
Ao povo seu poema aqui devolvo
menos como quem canta Sou um homem comum
do que planta brasileiro, maior, casado, reservista,
(GULLAR, Ferreira. Toda Poesia. José Olympio: Rio de Janeiro, 2000.) e não vejo na vida, amigo
211
Mudo-lhe a água do bebedouro, jogo-lhe pedrinhas de Não tem quatrocentos cruzeiros. Fui andando em
calcita que ele gosta de trincar. E me sinto bem com essa direção à porta.
presença viva que não me compreende, mas que sente em Ele bloqueou a porta com o corpo. É melhor pagar,
mim um outro bicho, amigo ou inimigo, uma outra vida. Ele disse. Era um homem grande […]. E meu físico franzino
não sabe da morte, não a espera nem a teme – e a desmente encoraja as pessoas. Odeio dentistas, comerciantes, advo-
em cada vibração de seu pequeno ser ávido e inquieto. Meu gados, industriais, funcionários, médicos, executivos, essa
bicudo é um grande companheiro e irmão, e, na verdade, canalha inteira. Todos eles estão me devendo muito. Abri
muito me ajuda.” o blusão, tirei o 38 [...]. Ele ficou branco, recuou. Apon-
(Adaptado de: BRAGA, Rubem. Recado de primavera. tando o revólver para o peito dele comecei a aliviar o meu
Rio de Janeiro: Record, 1984, p. 156). coração: tirei as gavetas dos armários, joguei tudo no chão,
chutei os vidrinhos todos como se fossem balas, eles pipo-
18. PUC-Campinas 2022 No desenvolvimento do texto, cavam e explodiam na parede. Arrebentar os cuspidores e
a presença e as atuações do passarinho transmitem motores foi mais difícil, cheguei a machucar as mãos e os
ao cronista, dono desse “meu bicudo”, pés. O dentista me olhava, várias vezes deve ter pensado
a) o conforto de uma solidariedade que só encon- em pular em cima de mim, eu queria muito que ele fizesse
tramos na natureza quando tomados de grande isso para dar um tiro naquela barriga grande […].
aflição humana. Eu não pago mais nada, cansei de pagar!, gritei para
b) a sensação da cumplicidade quando reconhece- ele, agora eu só cobro!
mos numa outra espécie os mesmos limites que (O melhor de Rubem Fonseca, 2015.)
se impõem à nossa.
c) um sentimento confuso de consternação, por ima- 20. FICSAE 2020 No trecho, o narrador expressa, sobre-
ginar que só o desconhecimento da morte explica tudo, um sentimento de
a agitação do pássaro. a) perplexidade. d) tédio.
d) uma proveitosa lição de vitalidade, captada pela b) melancolia. e) desprezo.
observação das iniciativas e reações enérgicas c) rancor.
do pequeno companheiro.
Texto para as questões 21 e 22.
e) a necessidade de um agradecimento, por sentir
que o pequeno pássaro sabe superar as infelici- Ao crepúsculo, a mulher
dades que o acometem. Ao crepúsculo, a mulher bela estava quieta, e me
detive a examinar sua cabeça com atenção e o extremado
19. PUC-Campinas 2022 O cronista vale-se de ex- carinho de quem fixa uma flor. Sobre a haste do colo fino
pressão cujos termos indicam contraste entre si no estava apenas trêmula: talvez a leve brisa do mar; talvez o
seguinte trecho: estremecimento de seu próprio crepúsculo. Era tão linda
a) pequena conversa triste assim, entardecendo, que me perguntei se já estávamos
b) ciúme e pressa da vida preparados, nós, os rudes homens destes tempos, para
c) desesperadamente banais testemunhar a sua fugaz presença sobre a terra. Foram
d) Não é bonito e canta pouco precisos milênios de luta contra a animalidade, milênios
e) ágil, infatigável, seu apetite de milênios de sonho para se obter esse desenho delicado
e firme. Depois os ombros são subitamente fortes, para
Leia o trecho inicial do conto “O cobrador”, de Rubem suster os braços longos; mas os seios são pequenos, e o
Fonseca, para responder à questão 20. corpo esgalgo foge para a cintura breve; logo as ancas
Na porta da rua uma dentadura grande, embaixo es- readquirem o direito de ser graves, e as coxas são longas,
crito Dr. Carvalho, Dentista. Na sala de espera vazia uma as pernas desse escorço de corça, os tornozelos de raça,
placa, Espere o Doutor, ele está atendendo um cliente. os pés repetindo em outro ritmo a exata melodia das mãos.
Esperei meia hora, o dente doendo, a porta abriu e sur- Ela e o mar entardeciam, mas, a um leve movimento
giu uma mulher acompanhada de um sujeito grande, uns que fez, seus olhos tomaram o brilho doce da adolescên-
quarenta anos, de jaleco branco. cia, sua voz era um pouco rouca. Não teve filhos. Talvez
Entrei no gabinete, sentei na cadeira, o dentista botou pense na filha que não teve... A forma do vaso sagrado não
um guardanapo de papel no meu pescoço. Abri a boca e se repetirá nestas gerações turbulentas e talvez desapareça
disse que o meu dente de trás estava doendo muito. Ele para sempre no crepúsculo que avança. Que fizemos desse
olhou com um espelhinho e perguntou como é que eu sonho de deusa? De tudo o que lhe fizemos só lhe ficou o
tinha deixado os meus dentes ficarem naquele estado. olhar triste, como diria o pobre Antônio, poeta português.
Só rindo. Esses caras são engraçados. O desejo de alguns a seguiu e a possuiu; outros ainda se
Vou ter que arrancar, ele disse, o senhor já tem pou- erguerão como torvas chamas rubras, e virão crestá-la,
cos dentes e se não fizer um tratamento rápido vai perder eis ali um homem que avança na eterna marcha banal.
todos os outros, inclusive estes aqui — e deu uma pancada Contemplo-a... Não, Deus não tem facilidade para de-
estridente nos meus dentes da frente. senhar. Ele faz e refaz sem cessar Suas figuras, porque o erro
Uma injeção de anestesia na gengiva. Mostrou o dente e a desídia dos homens entorpecem Sua mão: de geração
na ponta do boticão: A raiz está podre, vê?, disse com em geração, que longa paciência Ele não teve para juntar
pouco caso. São quatrocentos cruzeiros. a essa linha do queixo essa orelha breve, para firmar bem
Só rindo. Não tem não, meu chapa, eu disse. a polpa da panturrilha. Sim, foi a própria mão divina em
Não tem não o quê? um momento difícil e feliz. Depois Ele disse: anda... E ela
213
Cada pessoa que chegava erguia-se na ponta dos pés, Elas diante vós são as estrelas,
embora não o pudesse ver. O senhor gordo repetia que Que ficam com vos ver logo eclipsadas.
Dario sentara-se na calçada, soprando ainda a fumaça do Mas se elas têm por sol essas rosadas
cachimbo e encostando o guarda-chuva na parede. Mas Luzes de sol maior, felizes elas!
não se via guarda-chuva ou cachimbo ao seu lado. Em perfeição, em graça e gentileza,
A velhinha de cabeça grisalha gritou que ele estava Por um modo entre humanos peregrino,
morrendo. Um grupo o arrastou para o táxi da esquina. Já A todo belo excede essa beleza.
no carro a metade do corpo, protestou o motorista: quem
pagaria a corrida? Concordaram chamar a ambulância. Oh! Quem tivera partes de divino
Dario conduzido de volta e recostado à parede – não tinha Para vos merecer! Mas se pureza
os sapatos nem o alfinete de pérola na gravata. De amor vale ante vós, de vós sou digno.
CAMÕES, Luís de. Rimas: Segunda parte, Sonetos. In: Obra completa.
Alguém informou da farmácia na outra rua. Não car- Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003. p. 529.
regaram Dario além da esquina; a farmácia no fim do
quarteirão e, além do mais, muito pesado. Foi largado na Texto II
porta de uma peixaria. 34.
Ocupado o café próximo pelas pessoas que vieram
Seu João, perdido de catarata negra nos dois olhos:
apreciar o incidente e, agora, comendo e bebendo, go-
— Meu consolo que, em vez de nhá Biela,
zavam as delícias da noite. Dario ficou torto como o
vejo uma nuvem.
deixaram, no degrau da peixaria, sem o relógio de pulso.
Um terceiro sugeriu que lhe examinassem os papéis,
retirados – com vários objetos – de seus bolsos e alinhados
sobre a camisa branca. Ficaram sabendo do nome, idade, si-
nal de nascença. O endereço na carteira era de outra cidade.
Registrou-se correria de mais de duzentos curiosos
que, a essa hora, ocupavam toda a rua e as calçadas: era a
polícia. O carro negro investiu a multidão. Várias pessoas
tropeçaram no corpo de Dario. O guarda aproximou-se
do cadáver e não pôde identificá-lo – os bolsos vazios.
(Herberto Sales (org.). Antologia escolar de contos brasileiros, s/d. Adaptado.)
Arma-se sobre a obra de Dalton Trevisan que seus Trevisan, Dalton. 111 ais. Ilustração de Ivan Pinheiro Machado.
personagens vivenciam situações banais, porém car- Porto Alegre: L&PM, 2001. p. 39.
regadas de signicação, pois o autor insere em seus
26. UFJF/Pism-MG 2016 Os textos I e II, ainda que muito
contos a crítica ao processo de desumanização do
distantes entre si do ponto de vista cronológico, tratam
ser humano.
basicamente do mesmo tema, evidenciando alguns
É correto concluir que o trecho do conto
dos aspectos atemporais da existência humana. En-
a) respalda essa armação, pois algumas pessoas que
quanto em Camões (texto I) a Senhora é apreciada em
assistem à cena são indiferentes à morte de Dario e cada detalhe de sua composição, formando um todo
outras chegam a ponto de subtrair-lhe os pertences. perfeito e divino, Seu João de Dalton Trevisan (texto II):
b) respalda essa armação, visto que a polícia recusa a) resigna-se em apreciar sua Senhora apenas de
-se a tomar providências uma vez que não tem longe.
condições de identicar quem é o indivíduo morto. b) idealiza platonicamente a imagem da mulher amada.
c) contesta essa armação, pois, pela descrição da c) foge ao julgamento da beleza exterior de nhá Biela.
personagem, constata-se que Dario era displicen- d) lamenta a cegueira que o impede de ver sua musa.
te com a saúde e desprezava a própria morte. e) contenta-se com a indistinção da figura de nhá Biela.
d) contesta essa armação, visto que alguns pas-
santes, apesar dos contratempos, levam Dario de
27. UFJF/Pism-MG 2016 As referências à Senhora de
táxi ao hospital e, posteriormente, à farmácia.
Camões (texto I) e à nhá Biela de Dalton Trevisan (tex-
e) respalda essa armação, pois os passantes não
to II) têm em comum:
procuram descobrir quem era aquele homem
a) as antíteses reiteradas.
morto e se omitem, portanto, da tarefa de avisar b) a comparação aos deuses.
os familiares. c) a metáfora celeste.
Leia os textos I e II para responder às questões 26 e 27. d) a aliteração sibilante.
e) a hipérbole da beleza.
Texto I
CLIII 28. UFRGS 2016 Leia as seguintes afirmações sobre os
Criou a Natureza damas belas, contos de Murilo Rubião.
Que foram de altos plectros celebradas; I. O conto “O edifício” é narrado em primeira pes-
Delas tomou as partes mais prezadas, soa pelo próprio engenheiro, João Gaspar, que é
E a vós, Senhora, fez do melhor delas. contratado para a construção de um arranha-céu.
215
mim, chegavam a fazer romaria lá em casa, aborreciam E afinal, chovesse ou fizesse sol, sagradamente lá
minha mãe com pedidos de interferência; e como eu não estavam eles, aos sábados. Naturalmente chovesse-ou-fi-
podia negar nada a minha mãe eu estava sempre na es- zesse-sol é apenas isso que se convencionou chamar força
trada acompanhando uns e outros. […] de expressão, já que há muito tempo não fazia sol, talvez
VEIGA, José J. “Fronteira”. In: Melhores contos J. J. Veiga. Seleção de J. por ser agosto − mas de certa forma é sempre agosto nesta
Aderaldo Castello. 4. ed. São Paulo: Global, 2000. p. 37. cidade, principalmente aos sábados.
No conto “Fronteira”, há a inversão dos papéis Não é que fossem chatos. Na verdade, eu nunca soube
que critérios de julgamento se pode usar para julgar alguém
comumente atribuídos ao adulto e à criança. Nessa in-
definitivamente chato, irremediavelmente burro ou irrecu-
versão, a imagem da criança é construída por meio da
peravelmente desinteressante. Sempre tive uma dificuldade
a) metáfora de um saber excepcional, manifesto
absurda para arrumar prateleiras. Acontece que não tínha-
no poder de ajudar os adultos a realizar suas mos nada em comum, não que isso tenha importância, mas
travessias. nossas famílias não se conheciam, então não podíamos falar
b) alegoria de um anjo guardião das passagens se- sobre os meus pais ou os avós deles, sobre os meus tios ou
cretas, conhecidas apenas pelos iniciados nos os seus sobrinhos ou qualquer outra dessas combinações
mistérios da magia. genealógicas. Também não sabia que tipo de trabalho fa-
c) paráfrase do mito dos profetas messiânicos, que ziam, se é que faziam alguma coisa, nem sequer se liam,
conduzem os viajantes por espaços insólitos. se estudavam, iam ao cinema, assistiam à televisão ou com
d) hipérbole da capacidade imaginativa na infância, que se ocupavam, enfim, além de me visitar aos sábados.
que transforma estradas comuns em travessias (Caio Fernando Abreu. Mel e girassóis, 1988. Adaptado.)
perigosas.
e) estilização das parábolas bíblicas, explícita nos 3. FGV-SP 2021 Ao dizer “força de expressão” (o pará-
ensinamentos adquiridos ao longo da existência. grafo), o narrador informa que não se devem tomar as
palavras em seu sentido
A questão 33 refere-se ao livro Morangos mofados, a) abstrato. d) ofensivo.
de Caio Fernando Abreu. b) exagerado. e) irônico.
c) literal.
33. UFRGS 2017 Considere as seguintes afirmações so-
bre o livro. 35. FGV-SP 2021 “[...] para julgar alguém definitivamente
I. Os contos apresentam as características marcantes chato, irremediavelmente burro ou irrecuperavelmente
da prosa de Caio Fernando Abreu: tom confessio- desinteressante. Sempre tive uma dificuldade absurda
nal, linguagem coloquial e perspectiva intimista. para arrumar . Acontece que não tínhamos
II. Os contos trazem referências explícitas à geração da nada em comum, não que [...]” (3o parágrafo).
década de e ao contexto histórico brasileiro.
III. A estrutura do livro é dividida em duas partes, “O Considerado o contexto, a expressão sublinhada
mofo” e “Os morangos”, justificando, pois, seu título. pode ser entendida como:
a) lembrar o nome de cada um dos visitantes.
Qual(is) está(ão) correta(s)? b) classificar de maneira precisa os visitantes.
a) Apenas I. d) Apenas II e III. c) arrumar a casa para receber os visitantes.
b) Apenas III. e) I, II e III. d) interagir adequadamente com os visitantes.
c) Apenas I e II. e) sentir-se confortável na presença dos visitantes.
Considere o trecho inicial do conto “Uns sábados, uns Leia o texto a seguir para responder à questão 36.
agostos”, de Caio Fernando Abreu, para responder às
questões 3 e 35. Beijo sem
Eu não sou mais quem
Eles vinham aos sábados, sem telefonar. Não lembro
Você deixou, amor
desde quando criou-se o hábito de virem aos sábados, sem
Vou à Lapa
telefonar – e de vez em quando isso me irritava, pensando
Decotada
que se quisesse sair para, por exemplo, passear pelo par-
Viro todas
que ou tomar uma dessas lanchas de turismo que fazem
Beijo bem
excursões pelas ilhas, não poderia porque eles bateriam
Madrugada
com as caras na porta fechada e ficariam ofendidos (eles
Sou da lira
eram sensíveis) e talvez não voltassem nunca mais. E como,
Manhãzinha
aos sábados, eu jamais faria coisas como ir ao parque ou
De ninguém
andar nessas tais lanchas que fazem excursões pelas ilhas,
Noite alta é meu dia
era obrigado a esperá-los, trancado em casa. Certamente os
E a orgia é meu bem
odiava um pouco enquanto não chegavam: um ódio de ter
meus sábados totalmente dependentes deles, que não eram Eu não sou mais quem
eu, e que não viveriam a minha vida por mim – embora eu Você deixou de ver
nunca tivesse conseguido aprender como se vive aos sába- Vou à Lapa
dos, se é que existe uma maneira específica de atravessá-los. Perfumada
[...] Viro outras
217
40. Unicamp-SP 2017 Leia com atenção os excertos a se- mas, se não me engano, aquele sujeito acaba de chamar
guir de Lisbela e o prisioneiro. o senhor de Manuel.
MANUEL – Foi isso mesmo, João. Esse é um dos meus
LISBELA: Compre um curió para mim. nomes, mas você pode me chamar também de Jesus, de
DR. NOÊMIO: Não, Lisbela, eu não gosto de ver ani- Senhor, de Deus... Ele gosta de me chamar de Manuel ou
mais presos. Emanuel, porque assim quer se persuadir de que sou somen-
CITONHO: Por quê, Doutor? te homem. Mas você, se quiser, pode me chamar de Jesus.
DR.NOÊMIO: Por que isso é malvadez. Os animais JOÃO GRILO – Jesus?
foram feitos para viver em liberdade. MANUEL – Sim.
PARAÍBA: E como que é que o Doutor está me vendo JOÃO GRILO – Mas espere, o senhor é que é Jesus?
aqui preso e nem se importa? MANUEL – Sou.
DR. NOÊMIO: Você é um animal? JOÃO GRILO – Aquele a quem chamavam Cristo?
LINS, Osman. Lisbela e o prisioneiro. São Paulo: Planeta, 2003. p. 25. JESUS – A quem chamavam, não, que era Cristo. Sou,
DR. NOÊMIO: Lisbela, vamos. Você é minha noiva, não por quê?
deve opor-se às minhas convicções. As convicções do ho- JOÃO GRILO – Porque... não é lhe faltando com o
mem devem ser, optarum causa, as de sua esposa ou noiva. respeito não, mas eu pensava que o senhor era muito me-
Ibidem.
nos queimado. [...] A cor pode não ser das melhores, mas
o senhor fala bem que faz gosto. [...]
a) Nos trechos citados, estão presentes duas MANUEL – Muito obrigado, João, mas agora é sua
atitudes características do Dr. Noêmio com im- vez. Você é cheio de preconceito de raça. Vim hoje assim
plicações morais, que são desmascaradas pelo de propósito, porque sabia que ia despertar comentários.
efeito cômico do texto. Quais são essas duas ati- Que vergonha! Eu, Jesus, nasci branco e quis nascer ju-
tudes características com implicações morais? deu, como podia ter nascido preto. Para mim tanto faz um
b) No segundo excerto, a expressão “minhas convic- branco ou um preto. Você pensa que sou americano para
ções” é dita de forma solene e expressa um valor ter preconceito de raça?
social. Que valor é esse e que tipo de sociedade
está sendo caracterizado por tal enunciado? 42. PUC-RS 2015 Com base no diálogo e na obra literária
de Ariano Suassuna, analise as armativas.
41. UFU-MG 2016
I. João Grilo mostra-se desrespeitoso diante de um
DODÓ: Mas dizer tudo como, meu bem? Não tenho Jesus negro, que não corresponde às suas ex-
um tostão meu, meu pai é contra a ideia de eu me casar pectativas.
sem estudar, seu pai só deixa você casar com um homem II. Na sua fala, Manuel demonstra que o valor das
rico... O que é que eu posso fazer contra este inferno? pessoas independe da cor da pele.
MARGARIDA: Talvez se seu pai soubesse que a noiva III. O companheiro inseparável de João Grilo,
sou eu, permitisse o casamento e lhe desse terra para você Chicó, é um contador de estórias que se carac-
trabalhar. Ele gostou tanto de mim quando estive lá! teriza como uma espécie de mentiroso ingênuo.
DODÓ: E eu mais ainda, tanto assim que abandonei IV. A obra dramática de Ariano Suassuna mostra-se
meu estudo e vim me meter nesse armazém por sua causa. alinhada a uma tradição literária ibérica que apre-
MARGARIDA: Mas com a chegada de seu pai, tudo senta obras fundacionais, como o Auto da barca
se complica! Ele vai descobrir! do Inferno, de Gil Vicente.
DODÓ: Talvez você tenha razão, é melhor confessar. Estão corretas as armativas
Quando ele chegar, descobrimos tudo e ficamos de joelhos a) I e II, apenas. d) II, III e IV, apenas.
diante dos dois, pedindo consentimento para nos casar. b) III e IV, apenas. e) I, II, III e IV.
CAROBA: O senhor quer um conselho? c) I, II e III, apenas.
SUASSUNA, Ariano. O Santo e a Porca. Rio de Janeiro:José Olympio, 2005. p. 44.
Com base no texto, faça o que se pede. 43. Enem PPL 2015
a) Exponha, em um parágrafo, as artimanhas empre- Texto I
endidas por Dodó para se aproximar de Margarida Quem sabe, devido às atividades culinárias da esposa,
nesses idílios Vadinho dizia-lhe “Meu manuê de milho
e se instalar no armazém.
verde, meu acarajé cheiroso, minha franguinha gorda”, e
b) A personagem Caroba é de suma importância
tais comparações gastronômicas davam justa ideia de certo
para o desenrolar das ações na peça. Justifique,
encanto sensual e caseiro de dona Flor a esconder-se sob
com exemplos da peça O Santo e a Porca, essa
uma natureza tranquila e dócil. Vadinho conhecia-lhe as
afirmação.
fraquezas e as expunha ao sol, aquela ânsia controlada
Para responder à questão 42, leia o excerto do texto dra- de tímida, aquele recatado desejo fazendo-se violência e
mático Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. mesmo incontinência ao libertar-se na cama.
AMADO, Jorge. Dona Flor e seus dois maridos.São Paulo: Martins, 1966.
MANUEL – Sim, é Manuel, o Leão de Judá, o Filho de
Davi. Levantem-se todos pois vão ser julgados. Texto II
JOÃO GRILO – Apesar de ser um sertanejo pobre e As suas mãos trabalham na braguilha das calças do
amarelo, sinto que estou diante de uma grande figura. Não falecido. Dulcineusa me confessou mais tarde: era assim
quero faltar com o respeito a uma pessoa tão importante, que o marido gostava de começar as intimidades. Um
44. Fuvest-SP 2022 Por narrativas paralelas entende-se um 46. Uerj 2014 Ao dizer que o pai sofria de sonhos (ref. 2),
procedimento literário segundo o qual dois ou mais fios e não que ele sonhava, o autor altera o significado cor-
narrativos pertencentes a níveis distintos de realidade rente do ato de sonhar.
se desenrolam intercaladamente formando um todo. Este novo signicado sugere que o sonho tem o
Considerando-se a sua estrutura, as duas narrativas que poder de:
podem ser identificadas com base nessa definição são: a) distrair. c) informar.
a) Quincas Borba e Nove noites. b) acalmar. d) perturbar.
b) Campo geral e Terra sonâmbula.
c) Angústia e Campo geral. 47. Uerj 2014 Este texto é uma narrativa ficcional que se
d) Nove noites e Terra sonâmbula. refere à própria ficção, o que caracteriza uma espécie
e) Quincas Borba e Angústia. de metalinguagem.
A metalinguagem está mais bem explicitada no se-
Texto para as questões de 45 a 48. guinte trecho:
O tempo em que o mundo tinha a nossa idade a) As estórias dele faziam o nosso lugarzinho cres-
5 cer até ficar maior que o mundo. (ref. 1)
Nesse entretempo, ele nos chamava para escutarmos
seus imprevistos improvisos. 1As estórias dele faziam o nosso b) Meu pai sofria de sonhos, saía pela noite de olhos
lugarzinho crescer até ficar maior que o mundo. Nenhuma transabertos. (ref. )
narração tinha fim, o sono lhe apagava a boca antes do des- c) E nos juntávamos, todos completos, para escutar
fecho. 9Éramos nós que recolhíamos seu corpo dorminhoso. as verdades que lhe tinham sido reveladas. (ref. 3)
6
Não lhe deitávamos dentro da casa: ele sempre recusara d) Nesses anos ainda tudo tinha sentido. (ref. 4)
cama feita. 10Seu conceito era que a morte nos apanha dei-
tados sobre a moleza de uma esteira. Leito dele era o puro 48. Uerj 2014 Um elemento importante na organização
chão, lugar onde a chuva também gosta de deitar. Nós sim- do texto é o uso de algumas personificações.
plesmente lhe encostávamos na parede da casa. Ali ficava até Uma dessas personicações encontra-se em:
de manhã. Lhe encontrávamos coberto de formigas. Parece a) Éramos nós que recolhíamos seu corpo dormi-
que os insectos gostavam do suor docicado do velho Taímo. nhoso. (ref. 9)
7
Ele nem sentia o corrupio do formigueiro em sua pele. b) Seu conceito era que a morte nos apanha deita-
— Chiças: transpiro mais que palmeira! dos sobre a moleza de uma esteira. (ref. 10)
Proferia tontices enquanto ia acordando. 8Nós lhe sa- c) Nós lhe sacudíamos os infatigáveis bichos. (ref. 8)
FRENTE 2
cudíamos os infatigáveis bichos. Taímo nos sacudia a nós, d) Os mais velhos faziam a ponte entre esses dois
incomodado por lhe dedicarmos cuidados.
2 mundos. (ref. 11)
Meu pai sofria de sonhos, saía pela noite de olhos
transabertos. Como dormia fora, nem dávamos conta. Mi- Textos para a questão 49.
nha mãe, manhã seguinte, é que nos convocava:
— Venham: papá teve um sonho! Texto I
3
E nos juntávamos, todos completos, para escutar as — Traíste-me, Sem Medo. Tu traíste-me.
verdades que lhe tinham sido reveladas. Taímo recebia (...)
219
Sabes o que tu és afinal, Sem Medo? És um ciumento. d) forte tensão homoafetiva entre ele e Sem Medo,
Chego a pensar se não és homossexual. Tu querias-me e aceitação da verdadeira orientação sexual do
só, como tu. Um solitário do Mayombe. (...) Desprezo-te. companheiro.
(...) Nunca me verás atrás de uma garrafa vazia. (...) Cada e) ira, diante do anticatolicismo de Sem Medo, e culpa
sucesso que eu tiver será a paga da tua bofetada, pois não que o atinge ao perceber que sua demonstração
serei um falhado camo tu. de coragem colocara o companheiro em risco.
Pepetela, Mayombe. Adaptado.
Texto complementar
Marco do teatro brasileiro, a peça do poeta modernista Oswald de Tropicália. Em 1937, quando o texto foi publicado, o Modernismo
Andrade segue atual nos palcos devido ao vigor, perspicácia e irreverên- já tinha desembarcado na literatura, nas artes plásticas e na mú-
cia das sucessivas montagens do Teatro Oficina. Leia a seguir a resenha sica brasileira. Mas no teatro, o movimento que só chegou nos
sobre a reestreia da peça O Rei da Vela, em 2017. anos 1940, ainda correspondia à estética europeia de 1890. Até
então, os atores em São Paulo só tinham duas linhas para seguir:
Após 50 anos, Oficina volta com o ‘Rei da Vela’, marco o teatro burguês do Teatro Brasileiro de Comédia ou o realismo
do teatro brasileiro do Teatro de Arena.
Zé Celso e Renato Borghi recordam da obra de Oswald de Andrade No entanto, quando o ator Renato Borghi trouxe o texto os-
que transformou o palco no berço da Tropicália waldiano a um dos ensaios do Oficina, ao lado de nomes como
Etty Fraser, Dina Sfat e Othon Bastos, fez-se um novo caminho.
Para quem não viveu o fim dos anos 1960, imaginar o tea-
“Ele chegou e leu um trecho. No final, aquilo foi a confirmação de
tro brasileiro como o catalisador de um movimento artístico e
que seria nosso próximo trabalho e de que ele viveria o Abelardo
estético que foi capaz de inspirar artistas como Caetano Veloso,
I, com toda a ironia e intensidade”, recorda Zé Celso.
Hélio Oiticica e Glauber Rocha e ainda enfrentar a censura, é um
NUNES, Leandro. “Após 0 anos, Oficina volta com o ‘Rei da Vela’, mar-
pensamento inédito. Neste 2017, a montagem do espetáculo O Rei
co do teatro brasileiro”. O Estado de S. Paulo, 0 out. 017. Disponível
da Vela, de Oswald de Andrade, completa 50 anos com a força e
em: http://cultura.estadao.com.br/noticias/teatro-e-danca,apos-0-anos-
rebeldia do Teatro Oficina, neste sábado, 21, no Sesc Pinheiros. oficina-volta-com-o-rei-da-vela-marco-do-teatro-brasileiro
O intervalo entre o lançamento da obra de Oswald e a estreia ,70000307. Acesso em: 1 abr. 0.
da peça é parte do segredo da montagem que foi o berço da
Resumindo
Neste capítulo, você viu... Tropicalismo
A arte engajada dos anos y Movimento de ruptura e inovação.
y O processo de modernização e desenvolvimento da nação brasileira y Reflexão das aspirações de jovens.
a partir dos anos 1950.
y Caráter de resistência.
y A renovação e atualização do legado dos modernistas.
y O surgimento e a atuação do Centro Popular de Cultura (CPC). A poesia marginal e a “geração mimeógrafo”
y Forte irreverência.
Ferreira Gullar e a poesia participante
y Adesão e rompimento com a poesia concreta. y Exploração de detalhes modernistas.
y Começo e amadurecimento de uma poesia de caráter social. y Descompressão do rigor concretista.
y Poema sujo: uma obra-prima. y Preocupação com a expressão e o alcance da poesia.
Livro
BARROS, Manoel de. O fazedor de amanhecer. Ziraldo (Ilust.). São Paulo: Salamandra, 200.
O poeta conta como descobriu o amor e revela seus inventos (a manivela para pegar no sono, por exemplo), apresentando uma
poesia atrelada à inventividade do traços e desenhos de Ziraldo.
Vídeos
Entrevista com a historiadora Marina de Mello e Souza (USP) sobre o ensino de História da África nas escolas brasileiras.
Disponível em: https://youtu.be/q_Y_mCFvA-4. Acesso em: mar. 22.
Roda Viva com entrevista de Ferreira Gullar.
Disponível em: https://youtu.be/JOZIS-_Pwxo. Acesso em: abr. 22.
Café Filosófico CPFL especial Fronteiras do Pensamento, com Mia Couto.
Disponível em: https://youtu.be/BbruWdNhf. Acesso em: mar. 22.
Filme
Só dez por cento é mentira.
Direção: Pedro Cézar, 2. O documentário transpõe para as telas os versos inventivos e a “biografia inventada”, de Manoel
de Barros.
Exercícios complementares
maravilhoso que a vida possui e de que as pessoas necessitam. a) obrigação que os artistas têm de seguir uma cor-
GULLAR, Ferreira. Disponível em: https://www.dgabc.com.br/Noticia/365915/ rente estética.
ferreira-gullar-fala-de-arte-e-cultura-brasileira. Acesso em: 18 ago. 2021.
b) impotência do artista diante da realidade social.
c) consciência política do artista como fator essen-
1. PUC-Rio 2022 No texto, o autor se coloca a favor do(a) cial para a sua sobrevivência no mercado.
a) defesa de procedimentos estéticos que caracteri- d) capacidade do artista de transformar o real em
zam o cânone literário. algo sensível e prazeroso.
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3. Unicamp-SP 2020
Texto I
Leia os versos iniciais da peça "Se correr o bicho pega, se car o bicho come" (1966), de Oduvaldo Vianna Filho e
Ferreira Gullar. Em formato de cordel, os versos são cantados por todos os atores.
Se corres, bicho te pega, amô.
Se ficas, ele te come.
Ai, que bicho será esse, amô?
Que tem braço e pé de homem?
Com a mão direita ele rouba, amô,
e com a esquerda ele entrega;
janeiro te dá trabalho, amô,
dezembro te desemprega;
de dia ele grita “avante”, amô,
de noite ele diz: “não vá”:
Será esse bicho um homem, amô,
ou muitos homens será?
(Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar, Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 3.)
Texto II
Observe a charge de Laerte que fez parte da mostra Maio na Paulista, em 2019.
Considerando a relação entre os textos I e II, conclui-se que a charge
a) resgata a temática do cordel, rompendo com o impasse vivido pelos personagens.
b) reafirma o dilema dos personagens da peça, parafraseando os versos iniciais do cordel.
c) evidencia a tradição popular nordestina, utilizando a imagem para sofisticar os versos.
d) confirma a força transformadora da versificação popular, reproduzindo-a em imagens.
4. ITA-SP 2018
Passeio no bosque
canivete na mão não deixa
marcas no tronco da goiabeira
cicatrizes não se transferem
CACASO. Beijo na boca. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2000.
Algumas pessoas, ao gravarem nomes, datas etc., nos troncos das árvores, buscam externar afetos ou sentimentos.
Esse texto, contudo, registra uma experiência particular de alguém que, fazendo isso,
a) se liberta das dores amorosas, pois as exterioriza de alguma forma.
b) percebe que provocará danos irreversíveis à integridade da árvore.
c) busca refúgio na solidão do espaço natural.
d) se dá conta de que é impossível livrar-se dos sentimentos que o afligem.
e) encontra dificuldade em gravar o tronco com um simples canivete.
ções entre a expressão poética e a vida cotidiana. reto livre para se confundir com a personagem
Assinale a alternativa correta. protagonista.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. b) é um narrador em primeira pessoa que constrói
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. um monólogo interior.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. c) é um narrador protagonista, que relata, em primei-
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. ra pessoa, as experiências que outra personagem
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. lhe contou.
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d) é um narrador em terceira pessoa pouco atento c) incorpora uma visão do amor ancorada no senso
aos pensamentos da personagem protagonista. comum.
e) é um narrador judicativo que recrimina a culpa d) reafirma sua resignação diante de uma estrutura
que a personagem protagonista sente e, por isso, patriarcal.
faz perguntas a si próprio. e) traduz uma percepção crítica em face de sua re-
corrente anulação.
9. ITA-SP 2022 (Adapt.) Leia atentamente o trecho des-
Texto para as questões 11 e 12.
tacado do conto “Noturno amarelo”, do livro Seminário
dos ratos, de Lygia Fagundes Telles, e, em seguida, as- Momento
sinale a alternativa CORRETA. Enquanto eu fiquei alegre,
Tudo então aconteceu muito rápido. Ou foi lento? Vi permaneceram um bule azul com um
o Avô dirigir-se para a porta que ficava no fundo da sala, descascado no bico,
pegar a chave que estava no chão, abrir a porta, deixar a uma garrafa de pimenta pelo meio,
chave no mesmo lugar e sair fechando a porta atrás de si. um latido e um céu limpidíssimo
Foi a vez da Avó, que passou por mim com sua bengala com recém-feitas estrelas.
e seu lorgnon, me fez um aceno e deixando a chave no Resistiram nos seus lugares, em seus ofícios,
mesmo lugar, seguiu o Avô. Vi Eduarda de longe, ajudando constituindo o mundo pra mim, anteparo
o noivo a vestir a capa. Mas onde foram todos? perguntei para o que foi um acometimento:
e ela não ouviu ou não entendeu. súbito é bom ter um corpo pra rir
e sacudir a cabeça. A vida é mais tempo
a) a visita de Laura, protagonista do conto, à antiga
alegre do que triste. Melhor é ser.
casa de sua família, aconteceu realmente, mas
PRADO, Adélia. In: A Bagagem. Rio de Janeiro: Record, 2014 [1979], p.54.
isso não a afeta em nada.
b) a visita de Laura à antiga casa de sua família só 11. Uece 2022 Sobre o poema “Momento”, é INCORRETO
aconteceu na sua imaginação, o que revela a futi- afirmar que.
lidade da personagem. a) retrata o cotidiano com a felicidade e encanto.
c) por nunca ter nutrido sentimentos de amor por b) trata do tempo recuperado e recuperável.
sua família, Laura decide voltar no meio do cami- c) demonstra o tédio de uma mãe, esposa e dona
nho e cancelar a visita. de casa.
d) mais importante do que saber se a visita de Laura d) apresenta o contraste para reorganizar o sentido
à antiga casa de sua família aconteceu realmente da vida.
ou não é entender que as suas memórias a levam
a passar a sua vida a limpo. 12. Uece 2022 No texto de Adélia Prado, o eu lírico
e) mais importante do que saber se a visita de Laura revela que o tempo é
à antiga casa de sua família aconteceu realmente a) o que se vive aqui e agora.
ou não é entender que nenhuma lembrança é ca- b) o que já se viveu.
paz de alterar a sua falsidade e dissimulação em c) algo inatingível.
relação ao passado. d) sempre um contraste.
Texto para as questões de 13 a 16.
10. Enem Libras 2021
Canção do ver
Enredo Fomos rever o poste.
Ele me amava, mas não tinha dote, O mesmo poste de quando a gente brincava de pique
Só os cabelos pretíssimos e uma beleza e de esconder.
De príncipe de estórias encantadas. 1
Agora ele estava tão verdinho!
Não tem importância, falou a meu pai, O corpo recoberto de limo e borboletas.
Se é só por isto, espere. Eu quis filmar o abandono do poste.
Foi-se com um abandeira, O seu estar parado.
E ajuntou ouro pra me comprar três vezes. O seu não ter voz.
Na volta me achou casada com D. Cristóvão. O seu não ter sequer mãos para se pronunciar com
Estimo que sejam felizes, disse. as mãos.
O melhor do amor é a sua memória, disse meu pai. Penso que a natureza o adotara em árvore.
Demoraste tanto, que... disse D. Cristóvão. Porque eu bem cheguei de ouvir de passarinhos
Só eu não disse nada, que um dia teriam cantado entre as suas folhas.
Nem antes, nem depois. Tentei transcrever para flauta a ternura dos arrulos.
Prado, A. Bagagem. São Paulo: Siciliano, 1993. Mas o mato era mudo.
Agora o poste se inclina para o chão − como alguém
No poema de Adélia Prado, o eu lírico relata uma ex- que procurasse o chão para repouso.
periência em que a mulher Tivemos saudades de nós.
a) constrói modelos masculinos de feições idealizadas. BARROS, Manoel de. Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010.
b) exerce um papel centralizador na formação da
família.
Considere as seguintes armações sobre o poema: menção a uma princesa e a um povo. Essa menção
I. Nos quatro primeiros versos, apresenta-se uma sugere, principalmente, que o escritor deseja que
situação que remete ao universo de fantasia da suas palavras tenham o poder de:
criança. a) desfazer as ilusões antigas.
II. No diálogo entre o menino e sua mãe, é flagrante b) permear as classes sociais.
o contraste entre a lógica do adulto e a capacida- c) ajudar as pessoas discriminadas.
de imaginativa da criança. d) abolir as hierarquias tradicionais.
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19. Uerj 2012 Qual(is) está(ão) correta(s)?
a) Apenas I.
Imprudente ofício é este, de viver em voz alta. (ref. )
b) Apenas II.
O ofício a que Rubem Braga se refere é o seu próprio, c) Apenas I e III.
o de escritor. Para caracterizá-lo, além do adjetivo “im-
d) Apenas II e III.
prudente”, ele recorre a uma metáfora: “viver em voz
e) I, II e III.
alta”. O sentido dessa metáfora, relativa ao ofício de
escrever, pode ser entendido como:
24. UFRGS 2012 Em “Intestino grosso”, de Rubem Fonse-
a) superar conceitos antigos.
ca, a personagem denominada Autor
b) prestar atenção aos leitores.
a) argumenta que sua literatura tem por assunto a
c) criticar prováveis interlocutores. vida urbana e a violência, embora ele mesmo se
d) tornar públicos seus pensamentos. considere um seguidor de Guimarães Rosa.
b) alega que gostaria de escrever como Machado
20. Uerj 2012 O episódio do canário traz uma contribui- de Assis, para conquistar leitores.
ção importante para o sentido do texto, ao estabelecer c) sustenta que, apesar de os autores brasileiros re-
uma analogia entre a palavra do escritor e a música velarem os detalhes da vida dos poderosos, os
assobiada pela amiga. aspectos mais abstratos sobre finanças e proprie-
A inserção desse episódio no texto reforça a seguinte dade não aparecem.
ideia: d) comenta a importância da literatura brasileira e
a) A intolerância leva o artista ao isolamento. sua capacidade de diálogo com as obras da lite-
b) A arte atinge as pessoas de modo inesperado. ratura latino-americana de tema rural.
c) A solidão é remediada com soluções artísticas. e) discute em que termos sua literatura pode ser
d) A profissão envolve o artista em conflitos desne- considerada pornográfica, argumentando longa-
cessários. mente sobre a pornografia na arte.
21. Uerj 2012 25. UFRGS 2014 Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso)
as seguintes afirmações sobre os contos de Murilo
Alguma coisa que eu disse distraído – talvez palavras
Rubião.
de algum poeta antigo – foi despertar melodias esquecidas
Todos apresentam uma epígrafe bíblica que está
dentro da alma de alguém. (ref. )
relacionada às temáticas dos contos.
O cronista revela que sua fala ou escrita pode conter Todos podem ser considerados fantásticos e não
algo escrito por “algum poeta antigo”. Ao fazer essa têm relação com a realidade brasileira.
revelação, o cronista se refere ao seguinte recurso: Cariba, o protagonista do conto “A cidade”, é preso
a) Polissemia. por ser a única pessoa que faz perguntas na cidade.
b) Pressuposição. O título do conto “O lodo” pode ser interpretado
c) Exemplificação. metaforicamente, já que é a forma como o psicana-
d) Intertextualidade. lista descreve o inconsciente de Galateu.
A sequência correta de preenchimento dos parênte-
22. Uerj 2012 Toda a indagação do cronista acerca da pa- ses, de cima para baixo, é
lavra se baseia na diferença entre a importância que a) F – V – V – F
ela pode ter, por um lado, para quem a escreve e, por b) V – F – V – V
outro, para quem a lê. O par de vocábulos que melhor c) F – F – F – V
exemplifica essa diferença no texto é: d) F – V – F – V
a) esqueci (ref. 3) − feri (ref. 4). e) V – V – V – F
b) ofício (ref. 5) − consolo (ref. ).
c) espontânea (ref. 7) − secreta (ref. 8). 26. UFRGS 2014 Considere as seguintes afirmações so-
d) reconciliar (ref. ) − despertar (ref. ). bre os contos de Murilo Rubião.
I. Nos contos “O pirotécnico Zacarias” e “O ex-
23. UFRGS 2012 Considere as seguintes afirmações so- -mágico da Taberna Minhota”, a narrativa está
bre contos de Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca. em primeira pessoa. Os narradores relatam
I. Em “Botando pra Quebrar”, um segurança de bo- acontecimentos fantásticos – ou seja, inexplicá-
ate, percebendo que será demitido, provoca uma veis racionalmente – com a maior naturalidade:
briga coletiva ao agredir os clientes do estabele- Zacarias é um cadáver falante que descreve o
cimento, que fica destruído depois do incidente. atropelamento que resultou na sua morte; o ex-
II. Em “Passeio Noturno (parte I)”, um bem pago
-mágico tenta suicidar-se, mas é boicotado pela
executivo, que perdeu a família em um acidente
própria magia.
rodoviário, percorre as ruas de São Paulo à pro-
cura de vítimas a serem atropeladas. II. Nos contos “Os dragões” e “Teleco, o coelhi-
III. Em “Entrevista”, dois interlocutores anônimos, um nho”, os animais têm comportamentos de seres
homem e uma mulher, encontram-se em uma sala humanos. Os dragões bebem em botequins, en-
escura onde a mulher narra os episódios violen- volvem-se com mulheres e assistem a aulas de
tos em que esteve envolvida com seu marido. um professor; Teleco fala, fuma e barbeia-se.
226 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 16 Literatura contemporânea
III. Nos contos “Bárbara” e “Ofélia, meu cachimbo e o — Está direitinho um macaco em galho de pau.
mar”, as personagens femininas citadas nos títulos Doril olhou só com os olhos e revidou:
são, respectivamente, uma mulher que, após ca- — Macaco é quem fala. Está até comendo banana.
sar-se, começa a emagrecer assustadoramente e — Marmelo é banana, besta?
uma menina que só se interessa por histórias de — Não é mais serve.
marinheiro. Ficaram calados, cada um pensando por seu lado.
Diana cuspiu mais um caroço.
Qual(is) está(ão) correta(s)? — Sabe aquele livro de história que o Mirto ganhou?
a) Apenas I. — Que Mirto, seu. É Milllton. Mania!
b) Apenas II. — Mas sabe? Eu vou ganhar um igual. Tia Jura vai mindar.
c) Apenas I e II. — Não é mindar. É me-dar. Mas não é vantagem.
d) Apenas II e III. — Não é vantagem? É muita vantagem.
e) I, II e III. — Você já não leu o de Milton?
— Li mas quero ter. Pra guardar e ler de novo.
27. UFG-GO 2014 O fato de as histórias de Melhores — Vantagem é ganhar outro. Diferente.
contos J. J. Veiga serem livremente inspiradas na — Deferente eu não quero. Pode não ser bom.
realidade espacial e econômica do interior de Goiás, — Como foi que você disse? Diz de novo?
nas décadas de 1960 e 190, contribui para a natura- — Já disse uma vez, chega.
lização dos eventos insólitos de tais narrativas. Essa — Você disse deferente.
afirmativa se comprova no conto — Foi não.
a) “A usina atrás do morro”, que aponta a construção — Foi. Eu ouvi.
de usinas na zona rural como responsável pelas — Foi não.
mudanças na vida dos moradores do vilarejo. — Foi.
b) “A espingarda do Rei da Síria”, que indica a presen- — Foi não.
ça de imigrantes na zona rural como explicação — Foooi.
Continuariam até um se cansar e tapar os ouvidos
para a capacidade imaginativa do protagonista.
para ficar com a última palavra se Diana não tivesse a
c) “Na estrada do Amanhece”, que associa a che-
habilidade de se retirar logo que percebeu a dízima. Com
gada do automóvel no campo às transformações
pedacinho final do marmelo entre os dedos, ela chegou-se
culturais vividas pelos trabalhadores da fazenda.
mais perto do irmão e disse:
d) “A viagem de dez léguas”, que apresenta o alto ín-
— Gi! Matando louva-deus! Olhe o castigo!
dice de mortalidade entre as mulheres do campo — Eu estou matando, estou?
como justificativa para a tristeza das personagens. — Está judiando. Ele morre.
e) “A máquina extraviada”, que relaciona a imple- — Eu estou judiando?
mentação de novidades tecnológicas no campo — Amolar um bicho tão pequenininho é o mesmo
à rejeição do progresso por parte dos moradores que judiar.
do sertão. Doril não disse mais nada, qualquer coisa que ele
dissesse ela aproveitaria para outra acusação. Era difícil
Texto para as questões de 28 a 33. tapar a boca de Diana, ô menina renitente. Ele preferiu
Texto 1 continuar olhando o louva-deus. Soprou-o de leve, ele
encolheu-se e vergou o corpo para o lado do sopro, como
Diálogo da relativa grandeza faz uma pessoa na ventania. O louva-deus estava no meio
Sentado no monte de lenha, as pernas abertas, os de uma tempestade de vento, dessas que derrubam árvores
cotovelos nos joelhos, Doril examinava um louva-deus e arrancam telhados e podem até levantar uma pessoa do
pousado nas costas da mão. Ele queria que o bichinho chão. Doril era a força que mandava a tempestade e que
voasse, ou pulasse, mas o bichinho estava muito à vonta- podia pará-la quando quisesse. Então ele era Deus? Será
de, vai ver que dormindo – ou pensando? Doril tocava-o que as nossas tempestades também são brincadeira?
com a unha do dedo menor e ele nem nada, não dava Será que quem manda elas olha para nós como Doril
confiança, parece que nem sentia; se Doril não visse o estava olhando para o louva-deus? Será que somos peque-
leve pulsar de fole do pescoço – e só olhando bem é que nos para ele como um gafanhoto é pequeno para nós, ou
se via – era capaz de dizer que o pobrezinho estava morto, menores ainda? De que tamanho, comparando – do de
ou então que era um grilo de brinquedo, desses que as formiga? De piolho de galinha? Qual será o nosso tamanho
moças pregam no vestido para enfeitar. mesmo, verdadeiro?
Entretido com o louva-deus Doril não viu Diana che- Doril pensou, comparando as coisas em volta. Seria
FRENTE 2
gar comendo um marmelo, fruta azeda e enjoada que só engraçado se as pessoas fossem criaturinhas miudinhas,
serve para ranger os dentes. Ela parou perto do monte de vivendo num mundo miudinho, alumiado por um sol do
lenha e ficou descascando o marmelo com os dentes mas tamanho de uma rodela de confete.
sem jogar a casca fora, não queria perder nada. Quando Diana lambendo os dedos e enxugando no ves-
ela já tinha comido um bom pedaço da parte de cima e tido. Qual seria o tamanho certo dela? Um palmo de
nada de Doril ligar, ela cuspiu fora um pedaço de miolo cabeça, um palmo de peito, palmo e meio de bar-
com semente e falou: riga, palmo e meio até o joelho, palmo e meio até o
227
pé... uns seis palmos e meio. Palmo de quem? Gafa- — Ora sebo, Doril. Pau de fósforo é deste tamanho
nhoto pode ter seis palmos e meio também – mas de — ela mostrou dois dedinhos separados, dando tamanho
gafanhoto. Formiga pode ter seis palmos e meio – que ela imaginava.
de formiga. E os bichinhos que existem mas a gente não — Isso que você está mostrando não é tamanho de
vê, de tão pequenos? Se tem bichos que a gente não vê, pau de fósforo. Pau de fósforo é quase do seu tamanho.
não pode ter bichos que esses que a gente não vê não Diana ficou pensativa, triste por ter diminuído de ta-
veem? Onde é que o tamanho dos bichos começa, e manho de repente. Doril aproveitou para ensinar mais.
onde acaba? Qual é o maior, e qual o menor? Bonito se — Como você é tapada, Diana. Tudo no mundo é
nós também somos invisíveis para outros bichos muito muito pequeno.
grandes, tão grandes que os nossos olhos não abarcam? O mundo é muito pequeno. — Olhou em volta pro-
E se a Terra é um bicho grandegrandegrandegrande e nós curando uma ilustração. — Está vendo aquela jaca? Sabe
somos pulgas dele? Mas não pode! Como é que vamos o tamanho dela?
ser invisíveis, se qualquer pessoa tem mais de um metro — Sei sim. Regula com uma melancia.
de tamanho? — Pronto. Não sabe. É do tamanho de cajá.
Doril olhou o muro, os cafezeiros, as bananeiras, tudo Diana olhou a jaca já madura em ponto de cair, qual-
bem maior do que ele, uma bananeira deve ter mais de quer dia caía.
dois metros... — Ah, não pode, Doril. Comparar jaca com cajá?
Aí ele notou que o louva-deus não estava mais na — Mas é porque você não sabe que cajá não é cajá.
mão. Procurou por perto e achou-o pousado num pau de — O que é então?
lenha, numa ponta coberta de musgo. Doril levantou o — É bago de arroz.
pau devagarinho, olhou-o de perto e achou que a camada Diana olhou em volta aflita, procurando uma prova
de musgo lembrava um matinho fechado, com certeza de que Doril estava errado.
cheio de... — E coqueiro o que é?
— Quando é que você vai deixar esse bichinho sos- — Coqueiro é pé de salsa.
segado? — E eu?
Tamanho homem! — Você é formiga de dois pés.
Doril largou o pau devagarinho no monte, limpou as — Se eu sou formiga como é que eu pulo rego d’água?
mãos na roupa. — Que rego d’água?
— Você não sabe qual é o meu tamanho. — Esse nosso aí.
Ela olhou-o desconfiada, com medo de dizer uma Doril sacudiu a cabeça, sorrindo.
coisa e cair em alguma armadilha. Doril estava sempre — Aquilo não é rego d’água. É risquinho no chão, da
arranjando novidades para atrapalhá-la. grossura de um fio de linha.
— Você nem sabe qual é o seu tamanho – insistiu ele. — E... E aquele morro lá longe?
— Então não sei? Já medi e marquei com um carvão — Não é morro. Você pensa que é morro porque
atrás da porta da sala. Pode olhar lá, se quiser. você é formiga.
Ele sorriu da esperada ingenuidade. Aquilo é um montinho de terra que cabe num carri-
— Isso não quer dizer nada. Você não sabe o tamanho nho de mão.
da marca. Diana olhou-se de alto a baixo, achou-se grande para
— Sei. Mamãe mediu com a fita de costura. Diz que ser formiga.
tem um metro e vinte e tantos. — Onde você aprendeu isso?
— Em metro de anão. Ou metro invisível. Ela precisava da garantia de uma autoridade para
Ela olhou-o assustada, desconfiada; e não achando o aceitar a nova ideia.
que responder, desconversou: — Em parte nenhuma. Eu descobri.
— Ih, Doril! Você está bobo hoje! Diana deu um riso de zombaria, como quem começa
— Boba é você, que não sabe de nada. a entender. Tudo aquilo era invenção dele, coisa sem pé
Ela esperou, ele explicou: nem cabeça. Como a história de recado por pensamento.
— Você não sabe que nós somos invisíveis, de tão A mãe chamou da janela. Doril desceu do monte
pequenos? de lenha, um pau resvalou e feriu-o no tornozelo. Ele ia
— Sei disso não. Invisível é micuim, que a gente sente xingar mas lembrou que pau de fósforo não machuca. A
mas não vê. mãe chamou de novo, ele saiu correndo e gritou para trás:
— Pois é. Nós somos como micuins. — Quem chegar por último é filho de lesma.
Diana olhou depressa para ela mesma, depois para Doril. Diana correu também, mais para não ficar sozinha
— Como é que eu vejo eu, vejo você, vejo minha mãe? do que para competir. Pularam uma bacia velha, simples
— E você pensa que micuim não vê micuim? tampa de cerveja emborcada no chão. Pularam o fio de
Diana franziu a testa, pensando. Doril tinha cada linha que Diana tinha pensado que era um rego d’água.
ideia. [...] Doril tropeçou num balde furado (isto é, um dedal com
— Não pode, Doril. A gente é grande. Olha aí, você alça), subiu de um fôlego os dentes do pente que servia
é quase da altura desse monte de lenha. de escada para a varanda, e entrou no caixotinho de giz
— Está vendo como você não sabe nada? Isso não é onde eles moravam. A mãe uma formiguinha severa de
um monte de lenha. É um monte de pauzinhos menores pano amarrado na cabeça estava esperando na porta com
do que pau de fósforo. uma colher e um vidro de xarope nas mãos, a colher uma
30. UFG-GO 2014 O trecho “Foi não. / Foi. Eu ouvi. / Foi não.
/ Foi. / Foi não. Foooi. / Continuariam até um se cansar
e tapar os ouvidos para ficar com a última palavra se
Diana não tivesse a habilidade de se retirar logo que
http://gulliveresuasviagens.blogspot.com.br. Acesso em: 16 out. 2013.
percebeu a dízima” descreve uma particularidade do di-
álogo infantil. Nesse jogo discursivo, vence aquele que O Texto 2 é uma cena do romance Viagens de
a) constrói imagens fantasiosas e impossíveis de Gulliver, de Jonathan Swift, com o qual o conto de J. J.
contraposição. Veiga faz um intertexto ao discutir questões sobre
b) deixa de refutar os argumentos de seu interlocu- o conhecimento humano e sua racionalidade. Con-
tor e bloqueia o canal de entendimento. siderando a cena retratada e os episódios narrados
c) demonstra maturidade e reverte a discussão em no conto, quais trechos evocam respectivamente o
seu favor. paradoxo humano entre a arrogância e a fragilidade?
d) aceita as evidências e reconhece a derrota de a) “Soprou-o de leve, ele encolheu-se e vergou o
seu ponto de vista. corpo para o lado do sopro, como faz uma pessoa
e) apresenta argumentos lógicos e desqualificado- na ventania.”/“Você é formiga de dois pés.”
res de seu interlocutor. b) “Ela cuspiu fora um pedaço de miolo com semen-
te...”/“Doril largou o pau devagarinho no monte,
31. UFG-GO 2014 Uma das barreiras ao livre comércio limpou as mãos na roupa.”
está relacionada à falta de homogeneidade nos pa- c) “Doril desceu do monte de lenha, um pau resva-
FRENTE 2
drões de medida. Em que trecho do texto, transcrito a lou e feriu-o no tornozelo.”/“Diana deu um riso de
seguir, a relatividade da padronização é constatada? zombaria, como quem começa a entender.”
a) “Ele queria que o bichinho voasse, ou pulasse.” d) “Já medi e marquei com um carvão atrás da porta
b) “Doril tocava-o com a unha do dedo menor.” da sala.”/“Você não sabe o tamanho da marca.”
c) “Já tinha comido um bom pedaço da parte de cima.” e) “Ele queria que o bichinho voasse, ou pulasse,
d) “Macaco é quem fala. Está até comendo banana.” mas o bichinho estava muito à vontade...”/“Está
e) “Em metro de anão. Ou metro invisível.” direitinho um macaco em galho de pau.”
229
34. Enem PPL 2019 ODORICO – Povo sucupirano! Agoramente já in-
vestido no cargo de Prefeito, aqui estou para receber a
A máquina extraviada
confirmação, a ratificação, a autenticação e por que não
Você sempre pergunta pelas novidades daqui deste ser- dizer a sagração do povo que me elegeu.
tão, e finalmente posso lhe contar uma importante. Fique Aplausos vêm de fora.
o compadre sabendo que agora temos aqui uma máquina ODORICO – Eu prometi que o meu primeiro ato
imponente, que está entusiasmando todo o mundo. Desde como prefeito seria ordenar a construção do cemitério.
que ela chegou – não me lembro quando, não sou muito Aplausos, aos quais se incorporam as personagens
bom em lembrar datas – quase não temos falado em outra em cena.
coisa; e da maneira que o povo aqui se apaixona até pelos ODORICO – (Continuando o discurso:) Botando de
assuntos mais infantis, é de admirar que ninguém tenha lado os entretantos e partindo pros finalmente, é uma ale-
brigado ainda por causa dela, a não ser os políticos. [...] gria poder anunciar que prafrentemente vocês já poderão
Já existe aqui um movimento para declarar a máquina morrer descansados, tranquilos e desconstrangidos, na
monumento municipal. [...] Dizem que a máquina já tem certeza de que vão ser sepultados aqui mesmo, nesta terra
feito até milagre, mas isso – aqui para nós – eu acho que é morna e cheirosa de Sucupira. E quem votou em mim,
exagero de gente supersticiosa, e prefiro não ficar falando basta dizer isso ao padre na hora da extrema-unção, que
no assunto. Eu – e creio que também a grande maioria tem enterro e cova de graça, conforme o prometido.
dos munícipes – não espero dela nada em particular; para GOMES, D. O bem-amado. Rio de Janeiro: Ediouro, 2012.
mim basta que ela fique onde está, nos alegrando, nos
inspirando, nos consolando. O gênero peça teatral tem o entretenimento como
VEIGA, J. J. A máquina extraviada: contos. Rio de Janeiro: Civilização uma de suas funções. Outra função relevante do gê-
Brasileira, 1974. nero, explícita nesse trecho de O bem-amado, é
Qual procedimento composicional caracteriza a cons- a) criticar satiricamente o comportamento de pesso-
trução do texto? as públicas.
a) As intervenções explicativas do narrador. b) denunciar a escassez de recursos públicos nas
b) A descrição de uma situação hipotética. prefeituras do interior.
c) As referências à crendice popular. c) censurar a falta de domínio da língua-padrão em
d) A objetividade irônica do relato. eventos sociais.
e) As marcas de interlocução. d) despertar a preocupação da plateia com a expec-
tativa de vida dos cidadãos.
35. Cefet-MG 2013 e) questionar o apoio irrestrito de agentes públicos
aos gestores governamentais.
Abelardo I (Sentado em conversa com o Cliente.
Aperta um botão, ouve-se um forte baru-
37. UFPE 2013 Considerando os primórdios da moderni-
lho de campainha.) — Vamos ver...
dade da arte teatral no Brasil, leia os textos 1, 2 e e
Abelardo II (Veste botas e um completo domador de
feras. Usa pastinha e enormes bigodes analise as proposições a seguir.
retorcidos. Monóculo. Um revólver à Texto 1
cinta.) — Pronto Seu Abelardo.
Abelardo I — Traga o dossier desse homem. Primeiro ato
Abelardo II — Pois não! O seu nome? (Cenário dividido em três planos – primeiro plano:
Cliente (Embaraçado, o chapéu na mão, uma alucinação; segundo plano: memória; terceiro plano:
gravata de corda no pescoço magro.) realidade. Quatro arcos no plano da memória; duas esca-
— Manoel Pitanga de Moraes. das laterais. Trevas.)
ANDRADE, Oswald de. O rei da vela. São Paulo: Globo, 1994. p. 39. RODRIGUES, Nelson. Vestido de Noiva.
se destina à leitura e interpretação do texto, e não à – “Ai a crise, ai a carestia!” – reforça a característi-
sua encenação. ca cômica dessa personagem avarenta.
a) “Passaram-se dezesseis anos e nunca mais fez a comédia de Ariano Suassuna pretende denun-
sol. Não há dia para Ismael e sua família.” (Primeiro ciar o caráter dos sovinas como algo ridículo e,
quadro do terceiro ato) por meio do riso, educar moralmente o público.
b) “No andar térreo, um velório. O pequeno caixão Santo Antônio é evocado como protetor dos
de ‘anjo’ – de seda branca – com os quatro círios, pobres, como aquele que ajuda a encontrar os
231
objetos perdidos, mas, sobretudo, como interven- Renê, um recepcionista noturno de hotel, tenta re-
tor direto das uniões matrimoniais, ao final da peça. construir sua vida e encontra na amizade de Copi,
a personagem Euricão Engole-Cobra acaba soli- um travesti obcecado por fotograas, uma alterna-
tária e pobre ao final da peça porque essa seria a tiva para sua vida destruída. Renê lerá o que Copi
justiça poética do destino contra a presença dos escreve e será o único que terá acesso a suas fo-
imigrantes árabes na região Nordeste. tos de surpreendente beleza.
[...] Vou me acalmando desse jeito. Foi bom botar
Soma:
pra fora essa coisa toda, dizer claramente pra mim
mesma o que tinha vergonha de dizer a qualquer
41. Fatec-SP 2015 O escritor, dramaturgo e poeta Ariano pessoa, vergonha de dizer o que minha lha fez co-
Suassuna morreu em 201, aos anos. Membro da migo?, ou da minha raiva, do meu próprio egoísmo?,
Academia Brasileira de Letras (ABL), esse autor tradu- é egoísmo querer ter minha própria vida? Diga-me,
ziu em suas obras a tradição popular do Nordeste. Barbie, você que nasceu pra ser vestida e despida,
Assinale a alternativa que apresenta um trecho da manipulada, sentada, levantada, embalada, deitada
obra Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. e abandonada à vontade pelos outros, você é feliz
a) “SEVERINO assim?, você não tem vergonha?, eu tenho vergonha
Não pode ser, João. Eu matei o bispo, o padre, o de ter cedido, estou lhe dizendo, vergonha.
sacristão, o padeiro e a mulher e eles morreram espe- As personagens principais de seus contos são
rando por você. Se eu não o matar, vêm-me perseguir quase sempre femininas. Velhas, moças, crianças.
de noite, porque será uma injustiça com eles. [...]” Negras, quase todas e quase todos. Ex-prostitutas,
Disponível em: http://tinyurl.com/lelivros. Acesso em: 24 mar. 2018. (Adapt.). domésticas, pedreiros, tracantes. E outros e ou-
tras. Pobres todas e todos.
b) “Chamava-se João Teodoro, só. O mais pacato e O enredo da peça é um trabalho de montagem e
modesto dos homens. Honestíssimo e lealíssimo, moldagem baseado em uma tradição antiquíssima,
com um defeito apenas: não dar o mínimo valor a si que remonta aos autos medievais de Gil Vicente
próprio. Para João Teodoro, a coisa de menos impor- e mais diretamente a inúmeros autores populares
tância no mundo era João Teodoro. [...]” que se dedicaram ao gênero do cordel.
Disponível em: http://tinyurl.com/leitura-encantada.
Os meninos foram crescendo, sicamente eram
Acesso em: 24 mar. 2018. (Adapt.).
idênticos, porém suas opiniões e modo de pensar
c) “Havia muito que João Romão vivia exclusivamente divergiam muito. Isso aigia Natividade, que era
para essa ideia; sonhava com ela todas as noi- toda dada aos lhos, esses por muitas vezes bri-
tes; comparecia a todos os leilões de materiais de gavam por nada, aigindo a mãe ainda mais. Um
construção; arrematava madeiramentos já servidos; dos motivos de tanta discórdia eram as opiniões
comprava telha em segunda mão; fazia pechinchas políticas que tinham.
de cal e tijolos; acumulados (...)” a) – – 3 – 5 – 4 c) 4 – – – 3 – 5
Disponível em: http://tinyurl.com/dominiopub-1. b) – 4 – 5 – – 3 d) 3 – 5 – 4 – –
Acesso em: 24 mar. 2018. (Adapt.).
d) “Aplica esta prova a todos os órgãos e compreendes 43. Unicamp-SP 2022 Tudo na vida é mortal, tudo se apa-
o meu princípio. Enquanto a inteligência e a felici- ga. Se a tua chama se apaga é em ti que está a falta. Faz
o que te digo e magia nenhuma te derrubará nesta vida.
dade que dela se tira pela incansável acumulação de
Tu és feitiço por excelência e não deves procurar mais
noções, só te peço que compares Renan e o Grillo...”
magia nenhuma. Corpo de mulher é magia. Força. Fra-
Disponível em: http://tinyurl.com/dominiopub-2.
Acesso em: 24 mar. 2018. (Adapt.). queza. Salvação. Perdição. O universo inteiro cabe nas
curvas de uma mulher.
e) “Nhá Tolentina estava ficando rica de vender no (Paulina Chiziane, Niketche: uma história de poligamia. São Paulo:
arraial pastéis de carne mexida com ossos de mão Companhia das Letras, 2021. p. 38.).
de anjinho; dos vinténs enterrados juntamente com O excerto acima corresponde a uma das primeiras
mechas de cabelo, em frente das casas; e do João lições que a conselheira amorosa oferece a Rami, a
Mangolô velho de guerra, voluntário do mato nos personagem principal do romance. Tendo em vista as
tempos do Paraguai (...)” várias peripécias vividas por Rami, essa lição é
Disponível em: http://tinyurl.com/literaturapoeta-1. a) aceita pela protagonista, mas sua trajetória lhe ensina
Acesso em: 24 mar. 2018. (Adapt.).
que o corpo feminino é, no fim das contas, perdição.
b) abandonada pela personagem principal, uma
42. Acafe-SC 2017 Associe os autores aos trechos. vez que seu marido não se encanta com seus
. Ariano Suassuna novos ardis.
. Machado de Assis c) frustrada, pois Rami, ao conhecer suas rivais, per-
3. Carlos Henrique Schroeder cebe que não possui todos os atributos desejáveis.
4. Conceição Evaristo d) confrontada com a experiência pessoal de Rami e de
5. Maria Valéria Rezende suas rivais, transformando-as de modo significativo.
Amoreira Africana.
O Comissário apertou-lhe mais a mão, querendo transmitir-lhe o sopro de vida. Mas a vida de Sem Medo esvaía-se para
o solo do Mayombe, misturando-se às folhas em decomposição.
[...]
Mas o Comissário não ouviu o que o Comandante disse. Os lábios já mal se moviam.
A amoreira gigante à sua frente. O tronco destaca-se do sincretismo da mata, mas se eu percorrer com os olhos o
tronco para cima, a folhagem dele mistura-se à folhagem geral e é de novo o sincretismo. Só o tronco se destaca, se
individualiza. Tal é o Mayombe, os gigantes só o são em parte, ao nível do tronco, o resto confunde-se na massa. Tal o
homem. As impressões visuais são menos nítidas e a mancha verde predominante faz esbater progressivamente a clari-
dade do tronco da amoreira gigante. As manchas verdes são cada vez mais sobrepostas, mas, num sobressalto, o tronco
da amoreira ainda se afirma, debatendo-se. Tal é a vida.
[...]
Os olhos de Sem Medo ficaram abertos, contemplando o tronco já invisível do gigante que para sempre desaparecera
no seu elemento verde.
Pepetela. Mayombe.
44 Fuvest-SP 2017 Considerando-se o excerto no contexto de Mayombe, os paralelos que nele são estabelecidos entre
aspectos da natureza e da vida humana podem ser interpretados como uma
a) reflexão relacionada ao próprio Comandante Sem Medo e a seu dilema característico entre a valorização do
indivíduo e o engajamento em um projeto eminentemente coletivo.
b) caracterização flagrante da dificuldade de aceder ao plano do raciocínio abstrato, típica da atitude pragmática do
militante revolucionário.
c) figuração da harmonia que reina no mundo natural, em contraste com as dissensões que caracterizam as rela-
ções humanas, notadamente nas zonas urbanizadas.
d) representação do juízo do Comissário a respeito da manifesta incapacidade que tem o Comandante Sem Medo
de ultrapassar o dogmatismo doutrinário.
e) crítica esclarecida à mentalidade animista – que tende a personificar os elementos da natureza – e ao tribalismo,
ainda muito difundidos entre os guerrilheiros do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
45. Fuvest-SP 2017 Consideradas no âmbito dos valores que são postos em jogo em Mayombe, as relações entre a
árvore e a floresta, tal como concebidas e expressas no excerto, ensejam a valorização de uma conduta que corres-
FRENTE 2
ponde à da personagem
a) João Romão, de O cortiço, observadas as relações que estabelece com a comunidade dos encortiçados.
b) Jacinto, de A cidade e as serras, tendo em vista suas práticas de beneficência junto aos pobres de Paris.
c) Fabiano, de Vidas secas, na medida em que ele se integrava na comunidade dos sertanejos, seus iguais e vizinhos.
d) Pedro Bala, de Capitães da Areia, em especial ao completar sua trajetória de politização.
e) Augusto Matraga, do conto “A hora e vez de Augusto Matraga”, de Sagarana, na sua fase inicial, quando era o
valentão do lugar.
233
BNCC em foco
EM13LP47
1.
EM13LP47
2.
EM13LP49
3. Muitos povos indígenas brasileiros costumavam matar os gêmeos antes do contato com os brancos, que
combateram a prática. “Quando chegamos lá (ao Parque Indígena do Xingu), ainda matavam. Fizemos uma campanha, mas,
apesar da tolerância, os índios ainda recebem com muita reserva os gêmeos. O repúdio ao duo é muito forte”, disse à Folha
o sertanista Orlando Villas Boas. “Muitos povos indígenas têm uma atitude contrária aos gêmeos porque seriam sinal de
transgressão. Eles são vistos como perigosos e, segundo os índios, poderiam trazer males e doenças”, afirma a antropóloga
Betty Mindlin, autora de “Terra Grávida”, antologia de mitos indígenas.
a)
b)
1. D 5. B
1. E
2. A 2. a) A oração subordinada é “que você 6. E
3. D joga na rua”, que se classifica como 7. D
adjetiva restritiva.
4. D 8. C
b) A oração subordinada adjetiva res-
5. A tritiva enfatiza que o lixo que pode 9. A
6. D voltar para a sua casa é aquele que 10. B
7. C você mesmo jogou na rua. Para re-
11. A
forçar essa ideia, o cartaz mostra
8. E 12. B
imagens de resíduos expostos e in-
Exercícios propostos setos que podem surgir nas casas. 13. D
1. C 3. C 14. D
2. D 15. C
3. A 16. D
4. B Capítulo 14 – Sintaxe do 17. D
5. C período composto III 18. B
6. D Revisando 19. A
7. C
1. D 20. E
8. C
2. E 21. a) “Quanto mais exigia” e “Quanto mais
9. C o buscava para si”. Orações subordi-
3. C
10. C nadas adverbiais proporcionais.
4. E
11. E b) Embora utilize conjunções diferencia-
5. B das (“quanto mais... menos” e “quanto
12. A
6. C mais... mais”), o sentido aditivo de
13. B
7. E “mais”, na segunda, não altera o sen-
14. D tido negativo expresso em ambas as
8. B
15. Soma: 01 + 08 = 09 orações. Embora “mais à outra ele
16. E Exercícios propostos pertencia” tenha um sentido aditivo,
isso reforça a ideia de que Lânia me-
Exercícios complementares 1. A
nos conseguia. A “outra” se refere à
2. D sua irmã, Lisíope, por quem o moço
1.A
3. E se apaixona.
2. E
4. C 22. D
3. A
5. D 23. D
4. A
24. B
5. A 6. C
6. B 7. D BNCC em foco
7.C 8. B 1. a)Encontramos como exemplo de ora-
8. B 9. C ção subordinada adverbial “... para
a produção local de mais 5 mi-
9. A 10. A lhões de doses de vacinas contra a
10. E 11. B COVID-19”. Essa oração é classifi-
11.A cada como subordinada adverbial
12. B final.
12. B
13. E b) A utilização de uma oração subordi-
13. No trecho “É uma pena que seja assim”,
14. E nada adverbial final tem por objetivo
temos uma oração principal (“É uma pena”)
e uma oração subordinada substantiva apresentar uma finalidade, um obje-
15. C
subjetiva (“que seja assim”) que exercem a tivo, um fim que justifica a aquisição
funcão de sujeito da primeira oração. 16. D daquela vacina.
14. a) As orações adjetivas restritivas “que 17. D 2. B
eu não perdesse” e “que não cabem” 18. D 3. a) A oração “Se você acha que não
destacam a ideia de perda, que se escreve nada” deve ser classificada
19. D
subtende a partir da leitura do poema. como oração subordinada adverbial
b) A oração “senão saber isto” contém 20. D condicional, pois apresenta condi-
uma ideia de redução expressa pela 21. A ção para a oração principal.
palavra “senão” e é classificada como b) Ao substituir “se” por “enquanto”,
22. B
subordinada substantiva subjetiva. As estamos construindo uma oração
orações “Grandes são os desertos” e 23. B subordinada adverbial temporal, por
“Grande é a vida” transmitem a ideia 24. Soma: 01 + 02 + 04 + 08 = 15 determinar tempo.
235
28. B BNCC em foco
Capítulo 15 – Pontuação: 29. A 1. Texto original: O rap, palavra formada
emprego e efeitos de sentido 30. A corrupção é uma doença da alma. pelas iniciais de rhythm and poetry (rit-
Como todas as doenças, ela não aco- mo e poesia), junto com as linguagens
Revisando mete a todos. Muitas pessoas são da dança (o break dancing difundido,
suscetíveis a ela, outras não. A corrupção para além dos guetos, com o nome de
1. As vírgulas foram utilizadas, no trecho,
é uma doença que deve ser combatida cultura hip hop. O break dancing surge
para separar termos enumerados.
por meio de uma vacina: a educação. como uma dança de rua. O grafite nas-
2. A ce de assinaturas inscritas pelos jovens
Uma educação de qualidade para to-
3. B dos os brasileiros deverá exercitar o com sprays nos muros, trens e estações
4. C pensamento e a crítica argumentada e, de metrô de Nova York. As linguagens
principalmente, introduzir e consolidar do rap, do break dancing se tornaram
5. B os pilares da cultura hip hop.
virtudes como a solidariedade e a ética.
6. C Devemos preparar uma nova geração na 2. C
7. B qual a corrupção seja um fenômeno do 3. D
8. E passado. Nesse futuro não tão remoto,
teremos conquistado a utopia de uma
Exercícios propostos verdadeira justiça social.
1. D 31. D
Capítulo 16 – Mecanismos
2. D 32. D gramaticais e coesivos nos
3. A Exercícios complementares
vestibulares
4. D Revisando
1. B
5. B
2. A informação está correta, pois, com o 1. A
6. A
emprego da vírgula, a expressão tem 2. B
7. E sentido explicativo. Caso esse sinal de 3. C
8. C pontuação fosse suprimido, a expressão
4. B
9. B passaria a ter sentido restritivo.
5. B
10. D 3. A
6. B
11. C 4. B
7. A
12. D 5. C
8. E
13. A 6. C
14. B 7. B Exercícios propostos
15. O uso da vírgula é obrigatório, já que há 8. Agora, vivendo sob a vigilância do Pro- 1. C
vírgula depois do termo “passo a passo”. grama de Proteção a Testemunhas, leva 2. a) O anúncio publicitário na primei-
16. Os adjetivos “textual” e “imagéticas” podem uma vida tranquila ao lado de Debra ra cena exibe a barbatana de um
ficar entre vírgulas, sendo classificados sin- (Vanessa Angel), sua esposa. Porém, lidera- tubarão fora da água, e esta cena
taticamente, nesse caso, como apostos. da porMiles (Michael Beach), uma gangue associada à legenda “assustador”,
de mafiosos, frios e armados até os dentes, tem por objetivo causar no leitor sen-
17. A
está em sua perseguição, para recuperar o timentos de medo e insegurança. A
18. A dinheiro roubado e se vingar de Bill. segunda cena, sem a presença da
19. C 9. C barbatana do tubarão em evidên-
20. B cia, direciona o foco do leitor para
10. D a legenda “mais assustador”. Ao
21. A 11. B relacionar o anúncio ao contexto
22. D 12. C do Texto 2, o qual trata sobre cons-
23. Por indicar uma fala da personagem, o ciência ecológica e sobre respeito
13. E à natureza, o desaparecimento do
travessão não poderia ser substituído por
dois-pontos. Se isso fosse feito, haveria 14. E tubarão perde o sentido denotativo
um rompimento com a norma gramatical, sobre o perigo de um ataque e leva
15. D
além de mudar o sentido do texto. o leitor a refletir sobre o risco de ex-
16. B tinção da espécie marinha.
24. D
17. A b) No título do Texto 2, a função sin-
25. D tática do trecho “Por respeito à
18. C
26. a) Em “Por ideologia, Paloma Duarte natureza” é de adjunto adverbial de
apoiou Lula e Regina, Serra, em 19. B
causa. Assim, o título antecipa o fato
2002.”, se não obtivéssemos conhe- 20. A apresentado no texto sobre a jorna-
cimento de mundo e referências, 21. C da lenta e respeitosa do indígena na
entenderíamos que Paloma Duarte feitura do cocar, sem agredir a fauna
apoiou Lula e Regina. 22. D
e sem apresentar qualquer atitude
b) Para mantermos o sentido solicitado, 23. C antinatural na coleta das penas.
deveríamos escrever: “Por ideologia, 24. E 3. C
Paloma Duarte apoiou Lula, Regina, 25. A
Serra, em 2002”. 4. D
26. B 5. A
c) Após a alteração, a frase fica: “Empre-
sa Financeira procura profissionais 27. D 6. B
para compor seu quadro comercial. 28. C 7. B
O profissional precisa conhecer as 29. E 8. C
áreas financeira e bancária. Preferi-
mos ex-gerentes de Factoring e de 30. A 9. A
Bancos especializados”. 31. C 10. D
27. B 32. E 11. Soma: 01 + 16 + 32 = 49
237
em momentos simples do cotidiano, 43. B contrastes no ser humano, que pode
as personagens compreendem o sen- 44. A leitura do poema de Pignatari deve tanto se “ajuntar com as coisas”
tido da vida e do mundo, resultando privilegiar a ambiguidade dos sentidos e quanto “mudar de forma”. O homem
em um processo de conscientização. os recursos verbo-visuais empregados é um ser que não tem constância,
Em “Amor”, a personagem Ana, ao se a fim de envolver o leitor na construção/ transformando-se de maneira mági-
deparar com a imagem do cego mas- interpretação do texto. Assim sendo, há ca. Já nos versos de “Um boi vê os
cando chicletes, questiona a rotina de múltiplas possibilidades de leitura. homens”, de Drummond, o eu lírico
mulher tradicional que até aquele mo- observa vários contrastes nos seres
45. C
mento levava: dona de casa e esposa humanos, que são “Tão delicados
46. A (mais que um arbusto)” e, ao mes-
dedicada ao marido e aos filhos.
b) A cena do cego mascando chicletes é 47. C mo tempo, “graves e até sinistros”.
48. E Além disso, apesar de os homens
tão marcante para a protagonista que,
apresentarem-se “nobres”, “chegam
a partir disso, Ana passa a enxergar 49. O poeta refere-se ao Concretismo. Na à crueldade” quando ficam tristes.
as pessoas e as coisas que estão ao caracterização desse movimento, o au-
seu redor de maneira profunda e filo- tor defende uma sintaxe visual, em que 5. A
sófica. Atitudes ou gestos simples são a materialidade da palavra escrita é uma 6. A
interpretados à luz do existencialismo construção aberta, exposta e desnudada, 7. a) “A hora e a vez” do protagonista
sartreano. O simples movimento da que deixa à mostra o núcleo do silêncio, Augusto Matraga acontecem quan-
boca do cego é uma metáfora da re- representado pelo branco da página. do ele salva uma família inteira de
petição da vida cotidiana de Ana. 50. A motivação poética surgiu para o autor ser dizimada, no Arraial do Rala-Co-
25. B a partir das letras, que, para ele, pareciam co, ao lutar epicamente com o líder
formigas e remetiam à magia de sua in- dos jagunços, Joãozinho Bem-Bem.
26. C
fância em São Luís do Maranhão, onde, As motivações que levaram Nhô
27. D quando menino, cavou, em certa ocasião, Augusto à sua redenção foram uma
28. D o chão do quintal à procura de um tesouro. mistura de fé e violência, pois ele
51. O núcleo do poema surgiu da conjuga- sente prazer ao derrotar seu adver-
29. D
ção das frases: “A formiga trabalha na sário, depois de sete anos e meio de
30. a) O conto é narrado em terceira pessoa treva a terra cega traça o mapa do ouro prazeres reprimidos.
a partir de um narrador onisciente. maldita urbe”. Esse núcleo é constituído b) A primeira escolha consiste no fato
O narrador, embora não seja perso- pela disposição de uma série de frases, de Augusto Matraga ter recusado
nagem da história, sabe de todas as de tal modo que as letras de certas pa- o convite de Joãozinho Bem-Bem,
ações e sensações e conta ao leitor lavras servem para formar outras, e as logo que eles se conheceram e tive-
sobre o pedido do cachorro e da letras lembram formigas trabalhando. ram uma simpatia mútua, para fazer
menina de ficarem juntos.
Exercícios complementares parte do bando de jagunços deste,
b) O título traz uma ideia de atração por mais que a sede de vingança
calcada nas semelhanças entre o 1. D contra seus inimigos ainda fosse for-
cachorro e a menina. Ambos per-
2. a) Como é do conhecimento geral e te. A segunda aponta para o clímax
tencem ao universo do “vermelho”. também dado pela questão, quias- da narrativa, pois o protagonista, ao
O cão é descrito como “ruivo”, e a mo é uma figura retórica que cria reencontrar o líder dos jagunços, re-
menina como “ruiva” e “Os pelos de um paralelo ou uma dupla antítese solve defender pessoas inocentes
ambos eram curtos, vermelhos”. cujos termos se cruzam. Dessa for- de um vilarejo, lutando e matando
31. E ma, encontramos quiasmo em: “Dito Joãozinho Bem-Bem antes de tam-
32. B morto ainda no Dito vivo, ou do Dito
bém morrer. Portanto, as escolhas
vivo mesmo no Dito morto”. Para ex-
33. a) O olhar-se no espelho e o surpreen- que Matraga faz constituem o seu
pressar seu desejo de fazer o luto,
der-se consigo mesmo revelam Miguilim constrói uma oração que caráter de ser humano permeado de
pontos-chave na narrativa de Clarice entrecruza a vida e a morte de Dito, bem e mal (ambiguidade), caracte-
Lispector: buscando compreender a dor e ten- rística principal das personagens de
• o intimismo da vivência humana, tando falar sobre a perda. Em Campo Guimarães Rosa.
em especial, a feminina; geral, a família e aqueles próximos 8. B
• a epifania, isto é, a revelação ou se recusam a falar da morte de Dito,
9. D
a compreensão inesperada de si o que aflige Miguilim e o motiva a
mesmo diante de uma situação; buscar compreender o que ficara do 10. Soma: 01 + 02 = 03
uma observação que conduz a per- Dito, nele mesmo e no mundo. 11. C
sonagem a conhecer-se melhor; b) Dito fora para Miguilim não só o ir- 12. D
• a exploração da psicologia huma- mão mais próximo, como também
na por meio do monólogo interior, 13. E
uma espécie de guia diante das
cuja metáfora pode ser justamente dificuldades, nas surras do pai, no 14. E
a de “olhar-se no espelho”. medo do diabo etc. Apesar de crian- 15. D
b) I. O “que” (ref. 1) retoma o termo “ho- ça, Dito tinha sabedoria a respeito 16. A
mem ou mulher”. da vida, por isso Rosa afirma “que o
17. A
II. O “o” (ref. 2) retoma o trecho “a Dito parecia uma pessoinha velha,
pessoa se via como um objeto a muito velha, em nova”. Dessa for- 18. B
ser olhado”. ma, sua morte prematura deixa em 19. A
34. A Miguilim uma imensa lacuna, afinal, 20. B
era Dito quem o ajudava a pensar o
35. E 21. D
que ele não conseguia compreender
36. A ou temia. Sem esse suporte, Migui- 22. C
37. C lim precisará “tomar consciência de 23. B
38. F; V; V; F; V si mesmo” e buscar “sentido de sua 24. E
vida”, como considera Rónai.
39. C 25. Soma: 04 + 08 = 12
3. A
40. A 26. B
4. a) No excerto de “Conversa de Bois”,
41. C de Guimarães Rosa, a análise fei- 27. E
42. B ta pelo boi Dançador observa 28. B
239
24. E b) Caroba é a empregada de Euricão, 20. B
25. A interessada em um pedaço de ter- 21. D
ra onde possa viver com Pinhão. Ela
26. E 22. A
organiza situações para unir Dodó e
27. C Margarida, principalmente evitando 23. C
28. D que Eudoro, um velho fazendeiro, 24. E
29. A consiga se casar com a jovem: para 25. B
tanto, chega a trancar Dodó e Margari-
30. D 26. C
da em um quarto, e Eudoro e Benona,
31. a) O protagonista está machucado, com tia de Margarida, no outro; dessa for- 27. A
problemas no pé, no entanto, seu avô ma, Euricão será obrigado a defender 28. B
lhe promete um cavalinho caso o meni- a honra das mulheres de sua família
no permita que seu pé seja lancetado. 29. D
com a celebração dos casamentos.
O avô morre, gerando uma frustração 30. B
nas perspectivas do menino. 42. D
31. E
b) Segundo a imaginação infantil do pro- 43. B
32. A
tagonista, para que a frustração não se 44. D
33. A
transforme em um trauma pela morte 45. A
do avô e pelo não recebimento do ca- 34. E
46. D
valinho prometido, a criança transpõe 35. A
a realidade para o sonho de onde ga- 47. A
36. A
nhará vários cavalinhos coloridos. 48. B
37. V; V; V; F; F
32. A 49. B
38. A
33. C 50. a) O objetivo político a ser alcançado
pelo MPLA era dar fim ao tribalismo, 39. C
34. C
fazer florescer em Angola um projeto 40. Soma: 01 + 04 + 08 = 13
35. B social, político e econômico multiétni- 41. A
36. E co, nacionalista. Uma tribo não pode
ver a outra como inimiga. De inimigo, 42. D
37. Soma: 01 + 02 + 08 + 16 = 27
basta o tuga. 43. D
38. D
b) As “makas” e os “rancores” dos an- 44. A
39. B golanos repercutem no modo como 45. D
40. a) A peça de Osman Lins, Lisbela e o o romance é narrado em virtude da
prisioneiro, é uma comédia de cos- polifonia. O narrador permite que BNCC em foco
tumes, pois há crítica social por meio algumas personagens tomem a voz
da sátira. Em outras palavras, algu- 1. 2 – 1 – 3
para si e emitam sua opinião diante
mas personagens são caracterizadas dos acontecimentos, além da presen- 2. 4 – 2 – 3 – 1
como hipócritas e têm seus atos ques- ça do discurso indireto livre, recurso 3. a) A personagem de Terra sonâmbula
tionados. É o caso da personagem esse que permite a manifestação do que se associa aos fatos da matéria
Dr. Noêmio, na cena mencionada, pois pensamento da personagem. apresentada é Farida, irmã gêmea da
defende veementemente a liberdade personagem Carolinda. De acordo
de um pássaro preso, porém desde- Exercícios complementares com o romance de Mia Couto, a
nha da situação do prisioneiro Paraíba. presença das gêmeas na tribo traria
Além disso, tem atitudes autoritárias 1. D
desgraças, “males e doenças” assim
com relação à noiva Lisbela, deixando 2. D como a crença dos indígenas do
demonstrar todo o machismo contra 3. A Xingu. Na narrativa, Carolinda é dada
as mulheres. como morta pela tribo por desnutrição,
4. D
b) A expressão “minhas convicções” mas a mãe a manteve viva e deu a
simboliza todo o machismo que per- 5. D menina a um viajante que não podia
meia Dr. Noêmio com relação à noiva 6. C ter filhos; já Farida e sua mãe sofreram
Lisbela; além disso, utiliza palavras e 7. E maus-tratos e foram marginalizadas
expressões requintadas e de difícil como reparação aos males dos quais
8. A
compreensão (“optarum causa”) em foram geradoras.
9. D b) A personagem Romão Pinto, descrito
seu discurso. Esses dois elemen-
tos demonstram que a personagem 10. E como homem branco de origem por-
pertence à classe social dos mais 11. C tuguesa, distancia-se grandemente
abastados do interior do Nordeste 12. A do “homem civilizado”, pois apresenta
em meados da década de 1960. caráter inescrupuloso e corrupto, ca-
13. D racterístico do colonizador europeu,
41. a) Dodó não pode namorar Margarida,
14. D com atitudes preconceituosas e ex-
pois seu pai exige que ele estude.
Dodó decide fingir estudar na capital, 15. D ploratórias voltadas contra os povos
mas foge e esconde-se, disfarçado 16. B moçambicanos. Pai adotivo de Farida,
de corcunda, na casa de Euricão fez uso de violência para possuí-la. De
17. E
Árabe. Seu sustento vem da mesada personalidade insensível e desumana,
que o pai lhe envia, e um amigo a 18. B Romão Pinto representa uma crítica
reenvia a seu esconderijo. 19. D consistente ao dito “homem civilizado”.