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FUNDAÇÃO
JOAQUI M
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EDITORA
JOSÉ ANTÔNIO GONSALVES DE MELLO
MASSANGANA
CLEONIR XAVIER DE ALBUQUERQUE
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1. IZAQUE DE CASTRO:
O mancebo que veio preso do Brasil. 358 p.
Elias Lipiner

2. 0 RECIFE: QUATRO SÉCULOS


DE SUA PAISAGEM. 300 p.
Leonardo Dantas Silva e Mário Souto Maior
organizadores

3. A PAISAGEM PERNAMBUCANA, 346 p.


Leonardo Dantas Silva e Mário Souto Maior
organizadores

4. A ESCRITA NO BRASIL COLÔNIA:


um guia para leitura de documentos
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Vera Lúcia Acioli

5. TRATADO DA TERRA &


HISTÓRIA DO BRASIL, 128 p.
Pero de Magalhães de Gândavo

6. GENTE DA NAÇÃO,
CRISTÃOS-NOVOS E JUDEUS EM PERNAMBUCO,
1542-1654, 542 p.
23 edição
José Antônio Gonsalves de Mello

7. CARTAS DE DUARTE COELHO A EL REI, 148 p.


23 edição
José Antônio Gonsalves de Mello
Cleonir Xavier de Albuquerque

8. DIÁLOGOS DAS GRANDEZAS DO BRASIL, 240 p.


Ambrósio Fernandes Brandão.

9. PERNAMBUCO, SEU DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO, 342 p.


33 edição
M. de Oliveira Lima
Edição organizada por José Antônio Gonsalves de Mello

10. TORDESILHAS: UM MARCO GEOPOLÍTICO, 128 p.


Manuel Correia de Andrade (organizador)
CARTAS DE
DUARTE COELHO
r.`)Ãei
SÉRIE DESCOBRIMENTOS, 7

1 edição: Recife: Imprensa Universitária 1967, sob o título: Cartas de Duarte Coelho
a El Rei — Reprodução fac-similar, leitura paleográfica e versão moderna
anotada.

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Dois Irmãos, 15, Apipucos - Recife - Pernambuco - Brasil - cep 52071-440 Tel.:
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Foi feito o depósito legal

Mello, José Antônio Gonsalves de, 1916 -


Cartas de Duarte Coelho a El Rei; reprodução fac-similar, leitura paleográfica e
versão moderna anotada/ José Antônio Gonsalves de Mello e Cleonir Xavier de
Albuquerque; prefácio de Leonardo Dantas Silva. — 2. ed. Recife: FUNDAJ, Ed.
Massangana, 1997.
138 p. il: (Descobrimentos, n. 7)

Inclui bibliografia.

ISBN 85-7019-293-2

1. PERNAMBUCO - HISTÓRIA. I. Albuquerque, Cleonir Xavier de. II. Titulo.


III. Série.

CDU 981.34
JOSÉ ANTÔNIO GONSALVES DE MELLO
CLEONIR XAVIER DE ALBUQUERQUE

C A R '1' A S 1) E
DUARTE COELHO
_-Aeté
)

Reprodução fac-similar, leitura paleográfica


e versão moderna anotada

EDIÇÃO

PREFÁCIO
LEONARDO DANTAS SILVA

Recife
Fundação Joaquim Nabuco
Editora Massangana - 1997
ISBN 85-7019-293-2
(e) 1997 José Antônio Gonsalves de Mello e Cleonir Xavier de Albuquerque

Reservados todos os direitos desta edição

Reprodução proibida mesmo parcialmente sem autorização da Editora Massangana


da Fundação Joaquim Nabuco

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Fernando de Mello Freyre - Presidente


Alexandrina Sobreira de Moura
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Direção Executiva da Editora Massangana

Leonardo Dantas Silva - Diretor


Silvio Bentzen Pessoa - Coordenador de Editoração
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Projeto Gráfico: Vanilda Pordeus


Ilustrações: la. capa: carta de Duarte Coelho a El Rei, datada de 20 de dezembro de 1546.
4a. capa: brasão de Duarte Coelho Pereira.
Folhas-de-guarda: detalhe de carta de 15 de abril de 1549, endereçada a El Rei,
onde aparece a assinatura de Duarte Coelho.
Edição Eletrônica: Maria do Socorro Onzena
Revisão: Liliana Salvi Dias e José Romero Sobreira
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PREFÁCIO: Leonardo Dantas Silva 5

INTRODUÇÃO: AS CARTAS DE DUARTE COELHO E OS


SEUS TEMAS PRINCIPAIS
José Antônio Gonçalves de Mello 11

REPRODUÇÃO FAC-SIMILAR E LEITURA PALEOGRÁFICA


Cleonir Xavier de Albuquerque 37

Carta de 1542 39
Carta de 1546 44
Carta de 1548 64
Carta de 1549 68
Carta de 1550 84

CARTAS DE DUARTE COELHO A EL REI


VERSÃO MODERNA
Cleonir Xavier de Albuquerque 95
Carta de 1542 97
Carta de 1546 99
Carta de 1548 107
Carta de 1549 109
Carta de 1550 117

ANOTAÇÕES ÀS CARTAS
José Antônio Gonsalves de Mello 123
Duarte Coelho, o fundador de Pernambuco

Leonardo Dantas Silva

ra ele um homem feito pelo seu próprio esforço e bravura,


gh- um self made man como se diria nos nossos dias, ou um
1 "soldado da fortuna" como era chamado pelos seus invejosos
contemporâneos.
Duarte Coelho Pereira, tão citado pelos cronistas portugueses do
século XVI, é uma figura de passado nebuloso e ainda hoje cheia de
interrogações com respeito a sua origem. Nascido no último quartel do
século XV, provavelmente em Miragaia, então freguesia do Porto
(Portugal), era filho ilegítimo de um certo Gonçalo Coelho, até hoje não
bem identificado, segundo demonstra Francis A. Dutra, que em artigo
sobre ele, baseado em documentos relativos ao período de 1475 a 1525,
encontrou pelo menos seis "Gonçalos Coelhos", como homens
proeminentes no reino de Portugal; in "Duarte Coelho Pereira, o primeiro
donatário de Pernambuco: o início de uma dinastia", The Americas, v.
XXIX, n9- 4. Washington, abril de 1973; segundo tradução de João Alfredo
dos Anjos.
Nem mesmo os cronistas do seu tempo, tão preocupados com as
informações genealógicas, fizeram qualquer menção aos seus genitores.
Assevera, porém, Braamcamp Freire, in Brasões da sala de Cintra
(Coimbra: 1921-30. 3 v.), não ser Duarte Coelho um fidalgo de nascimento,
mas elevado à nobreza pelos seus feitos no Oriente, por D. João III, em
25 de janeiro de 1521, tendo recebido o seu escudo d'armas em 6 de
junho de 1545 (ANU, Chancelaria de D. João III, Doações, liv. 35, fls. 75 v.).
Segundo as crônicas da época, Duarte Coelho ingressou para a
marinha portuguesa em 1509, incorporando-se à esquadra de D. Fernando
Coutinho que partia para missões na Índia, e por lá permaneceu durante
20 anos. No Oriente, conquistou ele fama, fortuna e merecidos elogios
pelos seus sucessos bélicos, destacando-se os seus feitos na tomada da
Malaca, quando derrotou as forças navais chinesas, e da sua ação como
embaixador de Portugal junto ao reino da Tailândia, ocasião em que se
estabeleceu o comércio pacífico dos portugueses na Malaca. Durante sua

3
presença na Ásia, realizou três viagens à China, uma ao Vietnã, à índia e
à Indonésia, além de quatro outras à Tailândia. Em 1526 participou da
conquista de Bitan, tendo comandado a armada encarregada da
"descoberta" de Cochin e do Vietnã do Sul, de modo a estabelecer as
rotas de exclusividade de comércio para os portugueses.
Retornando a Portugal em 1529, dono de uma imensa fortuna, é
nomeado por D. João III como embaixador junto à corte francesa, em
substituição ao Dr. Lourenço Garcês que houvera falecido. Em Paris
demora-se apenas seis meses, voltando a Lisboa onde recebe o comando
da esquadra real, em viagem de patrulha à fortaleza da Mina e à costa da
Malagueta, seguindo depois aos Açores a fim de esperar a frota que
vinha de regresso da Índia.
Entre 1529 e 1534, Duarte Coelho vem a casar-se com Dona
Brites de Albuquerque, irmã de Jorge de Albuquerque que por duas
vezes fora capitão da Malaca (1514-16 e 1521-25), pertencente à alta
nobreza portuguesa. Em sua linha genealógica, eram os Albuquerques
descendentes de D. Afonso Sanches, um filho bastardo de D. Diniz I, que
esposara Dona Tereza Martins, filha de D. João Afonso, primeiro conde
de Barcelos e quarto senhor de Albuquerque. A família vem ganhar fama
na segunda metade do século XV, através dos descendentes dos irmãos
Gonçalo e João Albuquerque que vieram se tornar as mais importantes
figuras na conquista da Índia e do Oriente.
Assim, Duarte Coelho Pereira, "um soldado da fortuna", como era
chamado por seus contemporâneos, "recebendo de dote tão somente a
linhagem nobre de sua mulher", forma uma aliança das mais fortes com
os Albuquerques, que desta forma se tornaram seus fiéis colaboradores
em Portugal, onde permanece junto à corte o seu cunhado Manuel de
Albuquerque, que ali cuidava dos seus interesses e o manteria informado
no Brasil. Em 10 de março de 1534, por especial benesse do Rei D. João
III, Duarte Coelho se vê contemplado com sessenta léguas de costa do
Norte do Brasil, que se constituía a testada da capitania de Pernambuco,
e da margem esquerda do Rio São Francisco com todas as suas ilhas até
as suas nascentes.
Chegando a Pernambuco, a 9 de março de 1535, a fim de tomar
posse da capitania que lhe fora doada pelo Rei D. João III, no ano
anterior, Duarte Coelho Pereira vinha impregnado do espírito de um
fundador de nação e não de um explorador de riquezas, como era comum
naqueles que ousavam deixar o continente em busca de outros mundos.
O primeiro donatário de Pernambuco, ao contrário de outros
colonizadores, acostumados com a presa fácil e a rapinagem nos mares
da índia, da China, do Japão, da África e do Oriente Médio, viera fundar
uma nação, fazendo-se acompanhar de sua mulher, Brites de Albuquerque,
e do seu cunhado, Jerônimo de Albuquerque, além de "muitos gentis-
homens da sua parentela, alguns fidalgos e bons colonos".
Contrário à exploração indiscriminada dos recursos naturais, como
a derrubada das matas de pau-brasil, chegou a solicitar ao Rei, em 1546,

4
a suspensão do corte daquela madeira numa faixa de quarenta léguas do
litoral. Na carta de 1549, endereçada ao Rei de Portugal, declara ser o
pau-brasil extraído de Pernambuco "o melhor de todo Brasil". Sobre o
assunto, José Antônio donsalves de Mello chama a atenção para o teor
de substância corante contida na madeira proveniente de Pernambuco,
"a ponto de em todos os dicionários de línguas européias de povos que
tiveram negociação com madeira — franceses, ingleses e holandeses—,
aparecer o 'bois de Fernambouc', Pernambucwood' e o
Pernambucohout' como sinônimo de pau-brasil", in Cartas de Duarte
Coelho a El Rei.
Analisa com muita propriedade Oliveira Lima que "instrumentos
como as doações de D. João III, em que estavam exarados direitos
absolutamente majestáticos, se perigosos nas mãos de um capitão
propenso a aventuras, eram preciosos para um Duarte Coelho, espírito
sério, refletido e enérgico", in Pernambuco seu desenvolvimento histórico.
Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1975. Coleção Pernambucana —
1á fase v. 1.
Avesso às aventuras, disposto a constituir as bases de uma nação,
com base na agroindústria, Duarte Coelho resistiu às tentações da conquista
do Oeste de sua capitania; muito embora haja financiado algumas
incursões, como a de Paulo Afonso que, subindo o Rio São Francisco,
descobriu "a formosa e célebre cachoeira que traz o seu nome".
Em carta ao Rei, datada "desta Vila de Olinda, a 27 de abril de
1542", Duarte Coelho defende-se da pressão de Lisboa, sequiosa por
ouro e prata que eram extraídos com abundância do Peru e do México:

Quanto, Senhor, às cousas do ouro, nunca deixo de inquirir


e procurar sobre elas, e cada dia se esquentam mais as
novas; mas, como sejam longe daqui pelo meu sertão
adentro, e se há de passar por três nações de muito perversa
e bestial gente e todas contrárias umas das outras, há-de
realizar-se esta jornada com muito perigo e trabalho para
a qual me parece, e assim a toda minha gente, que se não
pode fazer senão indo eu; e ir como se deve ir e empreender
tal empresa, para sair com ela avante, e não para ir fazer
aventuras, como os do rio da Prata, onde se perderam mais
de mil homens castelhanos, ou como os do Maranhão, que
perderam setecentos, e o pior é ficar a cousa prejudicada.
E por isso, Senhor, espero a hora do Senhor Deus, na qual
praza a Ele que me confie esta empresa, para Seu santo
serviço e de Vossa Alteza, que este será o maior
contentamento e ganho que eu disso queria ter.

A atividade extrativa não fixava o homem à terra, daí ser contrária


aos propósitos do nosso primeiro donatário, no dizer de José Antônio
Gonsalves de Mello:

5
... um fundador de nação, um defensor da estabilidade
social e da ordem jurídica. Um criador de riqueza baseada
na agricultura e não um explorador de bens da natureza.
Um fundador de colônia de plantação e não de colônia de
exploração. Daí por que se mostra tão irritado com os
"armadores de brasil". op. cit.

Em suas cartas de 14 de abril de 1549 e 24 de novembro de 1550,


repetia o preceito bíblico, como que sintetizando o objetivo de sua missão
de "pastor e não de mercenário".
Para Francis Dutra, op. cit., "o seu intento principal era implantar
uma colônia estável e próspera a qual, ele tinha esperança, tornar-se-ia
uma extensão de Portugal na linha do sonho de Afonso de Albuquerque
para Goa, mas com ênfase na agricultura".
Preferiu Duarte Coelho, em vez de aventuras e sobressaltos, fixar
o homem à terra construindo mais engenhos de açúcar, como narra em
carta ao Rei em 1546. A cana-de-açúcar já tomava conta da paisagem
pernambucana desde os primórdios da colonização, ainda ao tempo da
feitoria de Cristóvão Jaques, no Canal de Itamaracá (1515). Em 1526, já
figura na Alfândega de Lisboa o pagamento de direitos sobre o açúcar
proveniente de Pernambuco. A fonte dessa informação é desconhecida e
foi proclamada pela primeira vez por F . A . Varnhagen, in História Geral
do Brasil, 92 ed. São Paulo: Melhoramentos, 1975, t. 1. p. 106-128.
Além da cana-de-açúcar e do algodão, o donatário estimulou as
culturas da mandioca bem como outras de subsistência, além da pesca,
da criação de gado e, muito especialmente, a fundação de novos engenhos,
procurando criar um ambiente propício para a vinda de colonos, não
somente do Norte de Portugal e da Espanha, mas também das ilhas da
Madeira, dos Açores, das Canárias e até da península itálica, desde que
aqui quisessem se estabelecer com suas familias; como bem constata
Francis Dutra antes citado:
Por volta de 1550 a indústria açucareira tinha atraído artífices
qualificados do exterior. Encontram-se na capitania
carpinteiros, ferreiros, oleiros e metalúrgicos, a maioria dos
quais eram necessários à construção dos engenhos e seus
acessórios, assim como da casa-grande e capelas que mais
tarde seriam construídas como reflexo da riqueza da nova
Capitania.
Para encorajar os recém-chegados a se estabelecerem em
sua colônia, o primeiro donatário foi generoso na
distribuição de sesmarias, conservando cuidadosamente um
livro de registros com o fim de evitar conflitos sobre limites
das propriedades. E foi devido ao cuidado e vigilância de
Duarte [Coelho] que Pernambuco talvez tenha tido o que
foi provavelmente o melhor e mais ordenado método de
distribuição de terra no Brasil no século XVI .
6
Com a criação de um Governo-Geral no Brasil, tentou a Coroa
portuguesa centralizar a sua atuação, diminuindo assim o poder dos
donatários, através de uma legislação especial criada a partir de dezembro
de 1548. Duarte Coelho logo protestou, estribado nas prerrogativas que
lhe foram concedidas na carta de doação de 1534, conforme se depreende
de sua carta, datada de 24 de novembro de 1550, e outras aqui publicadas.
Diante da argumentação do primeiro donatário, D. João III manda
suspender, temporariamente, a execução em Pernambuco do Regimento
de Tomé de Souza. Este, por sua vez, expressa o seu descontentamento
em carta de 18 de junho de 1551: "... torno a dizer a V. A . que os
capitães destas partes merecem muita honra e mercê de V. A . e mais que
todos os Duarte Coelho sobre que largamente tenho escrito a V. A . , mas
não deixar ir Vossa justiça às suas terras parece-me grande desserviço de
Deus e de Vossa Consciência e danificamento de Vossas rendas"; in História
da Colonização Portuguesa v. III p. 362.
Vendo que a capitania estava calma, resolveu o donatário retornar
a Portugal para defender, pessoalmente, perante o Rei os seus interesses
já expressos em suas cartas. Segundo narrativa de Frei Vicente do Salvador,
foi Duarte Coelho recebido friamente por D. João III; "... quando lhe foi
beijar a mão lho remocou [censurou] e o recebeu com tão pouca graça
que, indo-se sara casa, enfermou de nojo , e morreu daí a poucos dias";
in História do Brasil 1500-1627. São Paulo: Melhoramentos, 1965.
E assim desiludido, Duarte Coelho Pereira vem a falecer em Lisboa,
provavelmente em agosto de 1553, sendo sepultado no túmulo de Manuel
Moura, marido de sua cunhada, na igreja de São Pedro da Praça, na
Alfama. Do seu túmulo nada mais resta, provavelmente desapareceu com
o terremoto ocorrido em Lisboa em 1Q de novembro de 1775.
Na ausência de Duarte Coelho, ficou a capitania de Pernambuco
entregue ao governo de sua mulher, Dona Brites de Albuquerque, "que
a todos tratava como filhos", na visão de Frei Vicente do Salvador, no que
era auxiliada de perto pelo seu irmão Jerônimo de Albuquerque, que,
segundo a mesma fonte, "por ter muitos filhos das filhas dos principais
[chefes índios], os tratava a eles com respeito".
A paisagem e o desenvolvimento da terra pernambucana, naqueles
dias, eram assim vistos por Oliveira Lima:

A capitania de Duarte Coelho foi a que mais cedo prosperou,


conquanto à custa de muito gasto e de muito esforço,
porque, além das pouco vulgares qualidades pessoais do
donatário, a terra recomendava-se pela sua excelência. Clima
quente, porém temperado pelas suaves virações de terra e
mar, tão faladas de Piso, o sábio médico de Maurício de
Nassau. Chuvas abundantes e regulares em toda zona aquém
do sertão, refrescando os campos, engrossando os rios e
evitando as secas. Terreno acidentado sem demasias,
descendo gradualmente dos platôs ou tabuleiros do interior
para as matas frondosas, nas quais a pujança não sobrepuja

7
a beleza, e para as várzeas fertilíssimas banhadas por muitos
rios, e expirando nos mangues ou alagados do mar. op. cit.
p. 11.

Originária da Ásia Meridional, trazida pelos árabes da África para


a Sicília e costa Sul da Espanha, cultivada pelos portugueses no Algarve,
ao tempo de D. João I (1404), transportada pelo Infante D. Henrique
para a Ilha da Madeira, a cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L .)
veio a ser o grande propulsor do progresso do sistema colonial português.
Sua cultura logo desenvolveu-se nas terras escarpadas da Madeira, que
em 1455 tinha uma produção de açúcar estimada em 6.000 arrobas. Em
1498, dois anos antes da descoberta do Brasil, D. Manuel I já fixara o
limite de 120.000 arrobas anuais, para a produção da Ilha da Madeira,
tendo a cultura da cana se estabelecido nas ilhas portuguesas dos Açores,
São Tomé e Cabo Verde.
Em Pernambuco, a "terra garanhona do massapê ", para usar a
expressão de Gilberto Freyre, foi o solo ideal para a fundação dessa
cultura. Com os seus engenhos espalhados pelas várzeas dos rios
Capibaribe, Beberibe, Jaboatão e Una, a capitania duartina viu florescer a
civilização do açúcar. Não uma colônia extrativista, como queriam as
ordens de Lisboa na primeira metade do século XVI, mas uma colônia de
plantação, embrião do que veio a ser a civilização do açúcar. Foi o açúcar
o suporte econômico da grande marcha civilizadora de Pernambuco,
responsável pela colonização de todo o Norte do Brasil.
Outro aspecto que marcou a civilização duartina foi a mestiçagem
que logo tomou conta da sociedade, encorajada pelo primeiro donatário
como se depreende das cartas jesuíticas da época, denunciando a
indiscriminada atividade sexual dos portugueses com os nativos; o que
faz Francis Dutra concluir que "desde o filho mais novo do primeiro
donatário aos mais insignificante degredado, os portugueses foram pais
de gerações de mestiços". Em depoimento prestado perante o inquisidor
Heitor Furtado de Mendoça, datado de Olinda, 15 de novembro de 1593,
Manuel Álvares, um criado de Dona Brites d' Albuquerque, faz referência
a "Manoel d' Oliveira, mameluco que dizem ser filho bastardo de Jorge
de Albuquerque e de uma índia mestiça deste Brasil", in Primeira Visitação
do Santo Ofício às partes do Brasil. Denunciações de Pernambuco, 1593 -

1595 . Recife: Fundarpe, 1984. p. 74; havendo ainda referências a uma


escrava, de nome Antônia, que Jorge de Albuquerque levou consigo,
quando do seu retorno a Portugal, in Naufrágio que passou Jorge
Dalbuquerque, cap. XIII.
Somente Jerônimo de Albuquerque (O Torto), cunhado do primeiro
donatário, em seu testamento, firmado em Olinda, em 13 de novembro
de 1584, reconhece como filhos onze concebidos de sua mulher legítima,
Filipa de Melo; oito com a índia Maria do Espírito Santo; cinco com
outras mulheres, uma das quais. Apolônia pequena, mãe do seu filho
Felipe de Albuquerque, citado expressamente no testamento, deixando
dúvidas ainda sobre uma filha tida com uma de suas escravas, de nome

8
Maria, e de uma outra, Jerônima, "que se criara em sua casa e que foi tida
por sua filha, mas que Deus sabia a verdade do ocorrido". Dos oito filhos
com a índia, posteriormente legitimados pela Coroa, os dois mais notáveis
foram Catarina de Albuquerque, que se casou com o florentino Felipe
Cavalcanti, fundador do clã Cavalcanti de Albuquerque, e o também
Jerônimo de Albuquerque que, como veremos, veio ganhar fama com a
expulsão dos franceses do Maranhão no início do século XVII.
Da descendência de Jerônimo de Albuquerque originaram-se
algumas das mais tradicionais famílias pernambucanas, como Cavalcanti
Albuquerque, Fragoso de Albuquerque, Albuquerque Maranhão, Siqueira
Cavalcanti, Pessoa de Albuquerque, dentre outras, justificando assim o
apelido de Adão Pernambucano , dado no decorrer dos séculos ao seu
patriarca.
Coube aos de Pernambuco, formados pela civilização duartina, a
colonização da Paraíba e do Rio Grande do Norte, estendendo sua
conquista ao Ceará e ao Pará, sendo sua participação decisiva na
incorporação do Maranhão ao território nacional.
Foi um pernambucano, por sua participação no esforço da
incorporação do Maranhão, cujo território era ocupado pelos franceses,
que orgulhosamente acresceu este topônimo ao seu nome de familia,
prática que se estendeu por todos os seus descendentes. Refiro-me a
Jerônimo de Albuquerque, antes citado, que, nascido em Olinda em
1548, filho do capitão Jerônimo de Albuquerque, cunhado do primeiro
donatário, com D. Maria do Espírito Santo, índia da tribo dos Tabaiares,
veio a conquistar o Maranhão aos franceses, então comandados pelo
Monsieur de la Ravardière, Daniel de la Touche. Por ocasião da assinatura
do termo de capitulação, em 2 de novembro de 1615, ao apor o seu
nome, Jerônimo de Albuquerque acrescentou o topônimo Maranhão.
Na qualidade de primeiro capitão-mor da Capitania do Maranhão,
Jerônimo de Albuquerque Maranhão fixou-se na cidade de São Luís,
onde veio a falecer em 11 de fevereiro de 1618, passando seus
descendentes a proclamar a sua glória com o apelido de Albuquerque
Maranhão.
A agroindústria do açúcar veio modificar a paisagem pernambucana
daqueles primeiros anos da colonização. O canavial, como se fosse um
rio a transbordar do seu próprio leito, espalhou-se pelas várzeas, galgou
as pequenas serras, derramou-se pelas encostas, encheu de verde-cana o
horizonte, substituindo o verde da floresta tropical. Graças a essa nova
ordem econômica, o açúcar passou de especiaria de alto luxo, vendido
em pequenas quantidades nas boticas de Lisboa, para o alcance das
classes de menor poder aquisitivo. O crescente aumento do número de
engenhos em Pernambuco é confirmado pelas narrativas dos primeiros
anos: 23 em 1570 (Gândavo), 66 em 1583 (Cardim) e 77 em 1608 (Campos
Moreno). O preço da arroba do açúcar branco em Lisboa passou de
1$400 em 1570 para 2$020 em 1610 (Simonsen).
Em 1630, foi a produção dos 121 engenhos de Pernambuco que
despertou a cobiça dos senhores da Companhia das Índias Ocidentais,
9
quando do financiamento da esquadra que veio estabelecer o Brasil
holandês. Ao contrário do que muitos podem pensar, foi "o açúcar e não
a esperança de descobrimento de minas ... o motivo principal do ataque
a Pernambuco". José Antônio Gonsalves de Mello, in Tempo dos Flamengos
ed. Recife. Secretaria de Educação e Cultura, 1978. Coleção
Pernambucana — la fase, v. 15, p 130.
* * *

Com a publicação de Cartas de Duarte Coelho a El Rei, de José


Antônio Gonsalves de Mello e Cleonir Xavier de Albuquerque, a Fundação
Joaquim Nabuco, através de sua Editora Massangana, dá prosseguimento
a sua Série Descobrimentos oferecendo aos seus leitores estes textos
básicos para o conhecimento dos fundamentos sobre os quais foram
construídas as pilastras da civilização duartina.
Não foi possível, porém, aos organizadores conseguir uma
reprodução da mais antiga das cartas de Duarte Coelho, datada de abril
de 1542, que permitisse o mesmo tipo de reprodução fac-similar das
quatro outras. A deterioração do papel, a dobra que o vincou ao meio, a
tinta que sombreou o texto, são defeitos inarredáveis. A leitura, contudo,
merece fé e assim atinge ao fim que se propõe.
O trabalho de reprodução fotográfica foi realizado para a primeira
edição pela Fotocópia Lafo, de Lisboa, sendo efetuado pelo fotógrafo
Gilvan F. da Silva; nas reproduções iconográficas foram utilizadas as da
primeira edição (1967), feitas pelo Atelier de Zuza (Diario de
Pernambuco), em zincogravuras; sendo a composição da nova edição
realizada pela Editora Massangana, em tipo gatineau, corpo 12, sob a
supervisão de José Antônio Gonsalves de Mello.
Os originais das cartas aqui reproduzidos encontram-se sob a
guarda do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Lisboa, sendo parte
integrante da Coleção Corpo Cronológico: a de 1542 parte 1, maço 71,
documento 1145; a de 1546 1, 78, 105; a de 1548 1, 80, 60; a de 1549 1,
82, 88; a de 1550 1, 85, 103.
Espera a Fundação Joaquim Nabuco, através de sua Editora
Massangana, com a publicação de Cartas de Duarte Coelho a El Rei, de
José Antônio Gonsalves de Mello e Cleonir Xavier de Albuquerque, estar
contribuindo com os estudiosos e interessados em tão importante fase
de nossa história colonial.

Recife,
Nossa Senhora do Rosário da Torre,
dezembro de 1996.

10
INTRODUÇÃO

C_)5‘ cw.(,(ci4, c4 1uco(,& Wuedo-

José Antônio Gonsalves de Mello


t/ nv\,0(p-R,AGipmj .

esta Nova Lusitânia estão datadas cinco cartas que Duarte


Coelho, donatário da Capitania de Pernambuco, escreveu
ao Rei de Portugal D. João III, documentos fundamentais
para a história não só deste Estado, como ainda para a do esforço
português de colonização ultramarina. O propósito de fundar colônia
de plantação, com a transmigração e fixação de um grupo de
portugueses em terras tropicais, o convívio com os nativos da terra
colonizada, a intenção de estabelecer uma sociedade baseada na justiça
e na qual os interesses dos povoadores prevalecessem sobre os dos
armadores e mercenários, são alguns dos aspectos daquele esforço,
bem documentados na correspondência de Duarte Coelho.
Duas das cinco cartas do donatário de Pernambuco, até hoje
descobertas, as de 1546 e 1549, eram do conhecimento de uns poucos
do Recife desde fins do século XVIII. Foi o comerciante Antônio
Marques da Costa Soares, português fixado no Recife, quem teve a
iniciativa, em 1793, de mandar copiar na Torre do Tombo, em Lisboa,
não só o título de doação da Capitania de Pernambuco e o foral
concedido a Duarte Coelho por D. João III, como também as duas
cartas citadas. ( 1) Dessas cópias teve conhecimento o Governador de
Pernambuco, Caetano Pinto de Miranda Montenegro (1804-17), o qual,
em carta ao Secretário de Estado Luís de Vasconcelos e Sousa, datada
de 17 de novembro de 1805, observou que lhe parecia que não se
deveria conceder cópias daqueles documentos aos colonos da América,
para que não viessem a ter conhecimento de direitos que lhes haviam
sido outorgados e cuja conservação talvez lhes devesse ser negada. (2)
Mas a iniciativa de Costa Soares foi aproveitada pelo governo

13
da Capitania, e a prova é que no arquivo da Câmara de Olinda existia
não só cópia daquela doação e do foral, como ainda das duas cartas
de Duarte Coelho citadas» ) Creio que foi o historiador pernambucano
José Bernardo Fernandes Gama (1809-53) o primeiro a divulgar as
mencionadas cartas de 1546 e 1549. (4) Em meados do século XIX
foram feitas cópias de todas as cinco que se conservam na Torre
do Tombo, por iniciativa de D. Pedro II e por ele oferecidas ao
Instituto Histórico Brasileiro do Rio de Janeiro. (5) Cópias guardam-
se ainda na Biblioteca Nacional também daquela cidade Pereira • (6)

da Costa refere que Melo Morais (pai) publicou a de 1546 na sua


coletânea intitulada Brasil Histórico, o que não pude comprovar. ( 7)
Maistrde,nulOviaLmeMnulVs-Boadivgrm
nas no Correio do Brasil, jornal quinzenal que editavam em Lisboa,
ainda estudantes, em 1885: 8) Desde 1926 o terceiro volume da His-
tória da Colonização Portuguesa do Brasil,impresso no Porto, oferece
o melhor texto dos cinco documentos pernambucanos, pela leitura
paleográfica que deles fez o Dr. Antônio Baião. (9) Entretanto alguns
erros de leitura escaparam ao ilustre erudito, como Costa Porto
percebeu
Fazia-se necessário, pela extraordinária importância dessas
cartas, editá-las com rigor técnico, e a Divisão de História do Instituto
de Ciências do Homem da Universidade Federal de Pernambuco tomou
a iniciativa desse empreendimento, oferecendo aos eruditos e outros
interessados uma edição fac-similar, com a leitura paleográfica, linha
a linha, de todas elas, além de uma versão moderna, anotada. Da
leitura paleográfica, da versão moderna e do índice foi encarregada a
Licenciada em História e Assistente de Ensino da referida Divisão,
Srta. Cleonir Xavier de Albuquerque.
Como verá o leitor, houve dois (ou talvez três) amanuenses a
encarregar-seda tarefa de transcrever as cinco cartas que Duarte Coelho
escreveu ao Rei e chegaram até nós, o que se reconhece pela letra,
que é em todas elas do tipo processado.
O primeiro amanuense transcreveu as cartas de 1542, 1548 e
1550 e fez os acréscimos às cartas de 1546 e 1549: há, portanto, em
todas as cinco cartas, a marca de sua presença. Entretanto, há diferenças
entre o tipo de letra da carta de 1542 (de um lado) e o das cartas de
1548 e 1550 (de outro); aquela é mais arredondada, a destas mais
angulosa, mais ponteagudá. Coincidem, porém, todas três, em
pormenores, alguns insignificantes, como é a maneira de escrever
Vossa Alteza, com traços e pontos, assim: ".V. /. A. /"; qual é escrito
"q11"; o s cortado (= ser) na palavra serviço (duas vezes na 2.1 página
e uma na 3.° página da carta de 1542), etc.
O segundo amanuense, que transcreveu as cartas de 1546 e

14
1549 (as conhecidas no Recife desde 1793), oferece um tipo de letra
mais legível, mais uniforme, mais arredondada do que a do primeiro.
A palavra Deus é sempre abreviada em "DS", com o sinal diacrítico de
abreviatura; Vossa Alteza é simplesmente "V.A." e há traços no início
e no fim das linhas.
A grafia do primeiro amanuense difere claramente do segundo
não só no aspecto geral e nas minudências já indicadas, como ainda
no tipo do S da palavra Senhor com que inicia as cartas, na palavra
Deus, escrita por extenso, mas com o sinal diacrítico, supérfluo (aliás,
há dezenas de palavras por extenso com sinal de abreviatura, por ex.:
"povoadores", "paz", "natureza", "pollo", "Iluzeiro" etc.), na letra e
com til (tanto na preposição em, como no caso de sílaba inicial), etc.
Algumas regras foram estabelecidas para a transcrição
paleográfica do texto:

— as abreviaturas foram desdobradas (Sor = Senhor; Ds = Deus);


—fez-se a pontuação necessária à clareza do texto;
— as palavras ligadas foram separadas (dellaa = de llaa; Dal-
buquerque = d'Albuquerque);
— maiúsculas foram usadas no início dos períodos, nos nomes
próprios e nas siglas;
—ã transcreveu-se, conforme o caso, ã, an ou am;
— c = c ou ç; ç = ç ou c;
—e com til = en ou em, conforme o caso;
—i = i ou j; j = i ou j, conforme o caso;
—õ = õ, on ou om, conforme o caso;
—p cortado = por, per ou pro;
—s cortado = ser;
— v = u ou v; u =vou u; u com til = un ou um;
—y—i

A ortografia, mesmo quando errônea, foi mantida. Foram


sublinhados os trechos das cartas escritos em letra diferente da do
amanuense que as transcreveu.
As cinco cartas de Duarte Coelho têm extensão desigual;
contadas as linhas apresentam-se assim:
carta de 1542 75 linhas
de 1546 341 "
de 1548 48
de 1549 291
de 1550 191 t?
total 946 linhas
Os assuntos mais longamente tratados nelas são os seguintes:

15
respeito aos termos da doação e do foral (cartas de 1549 e
1550): 247 linhas
exploração do pau-brasil (cartas de 1546 e 1549): 162 linhas
respeito às normas judiciárias (carta de 1546): 61 linhas
assaltos aos índios da costa (carta de 1546): 49 linhas
malogro das capitanias do sul (carta de 1546): 39 linhas
degredados (carta de 1546): 33 linhas.
Os dois primeiros sobrepujam de muito os quatro últimos, sendo
inegavelmente a defesa dos "privilégios e liberdades" concedidos no
Foral da Capitania (1534), ameaçados pela criação do governo geral
(1548), o tema versado com maior extensão. Trataremos deles em
resumo:

1) O respeito às "liberdades e privilégios"

A questão é referida como sendo tratada desde 1549 na carta


— hoje perdida — que levava ao Rei Francisco Frazão e que deveria
estar datada de meados de março. Vê-se que Duarte Coelho tinha
bons correspondentes em Portugal, pois a decisão da criação de um
governo geral deveria ter sido tomada em meado de 1548, sendo de
dezembro desse ano os Regimentos dados a Tomé de Sousa, ao Pro-
vedor-mor e aos Provedores das Capitanias."" Naquela carta de março
de 1549, não conservada, e na de abril do mesmo ano, que chegou
até nós, referia D.C. que em Portugal os funcionários reais não queriam
cumprir o que havia sido concedido no Foral da Capitania aos
povoadores dela, do que se queixavam também pessoas moradoras
na metrópole que queriam financiar a construção ou vir a Pernambuco
construir engenhos. Alegavam uns e outros que D.C. nos alvarás que
lhes tinha passado dizia que havia por bem e serviço de Sua Alteza
"que do dia que vierem, ou por si ou por pessoa sua, povoar e fazer
engenhos, trazendo ou mandando trazer os oficiais e toda a gente e
cousas necessárias para eles, possam gozar dos privilégios e liberdades
dos moradores e povoadores destas minhas terras, como em minhas
doações se contém" (carta de 1549).
O que o Foral da Capitania continha a esse respeito era que
"querendo o dito Capitão e moradores e povoadores da dita Capitania
trazer ou mandar trazer, por si ou por outrem, a meus Reinos ou
senhorios qualquer sorte de mercadorias que na dita terra e partes
delas houver, tirando escravos e as outras cousas que acima são defesas,
podê-lo-ão fazer; e serão recolhidos e agasalhados em quaisquer portos,
cidades, vilas ou lugares dos ditos meus Reinos e senhorios em que
vierem aportar, e não serão constrangidos a descarregar suas
mercadorias nem as vender em algum dos ditos portos, cidades ou

16
vilas contra suas vontades, se para outras partes antes quiserem ir
fazer seus proveitos; e querendo-os vender nos ditos lugares de meus
Reinos e senhorios não pagarão neles direito algum, somente a siza
do que venderem, posto que pelos Forais, Regimentos ou . costumes
dos tais lugares fossem obrigados a pagar outros direitos ou tributos"
etc .02)
Divulgada em Olinda a ameaça do cerceamento dos direitos
"foi grande o alvoroço e ajuntamento de todo o povo e todos os
oficiais e pessoas nobres e honradas, todos em comum se juntaram
em conselho e fizeram câmara", dirigindo petição ao donatário, que
os sossegou "dando-lhes algumas desculpas de Vossa Alteza não ser
disso sabedor... e dando-lhes esperança de que Vossa Alteza os
atenderia nisso".
A ameaça, ou antes, pois já não era apenas ameaça, a restrição
que se fazia ao direito concedido pelo Foral da Capitania, D.C. atribuía
à estreiteza de interpretação de funcionários régios — dos quais diz
"que se querem exceder para se mostrarem beneméritos" perante o
Rei — que passavam a conferir a qualidade de "moradores e
povoadores" apenas àqueles que residissem em Pernambuco com a
família: "dizem aí que alguns deles têm as mulheres no Reino e por
isso não se lhes hão de respeitar as liberdades e privilégios em minhas
doações contidas", escreve o donatário.
O mesmo acontecia com aquelas "pessoas nobres e poderosas
que moram no Reino mas aqui povoam" através de prepostos seus,
que traziam oficiais de ofícios, escravos e capitais para a construção
de engenhos "que é cousa real que muito aumenta e acrescenta o
bem da terra". A esses tais não os queriam reconhecer por "moradores
e povoadores", contra o que protesta D.C., alegando que a ele e não
aos funcionários da coroa cabia decidir se eram ou não moradores e
povoadores: "querem aí entender por moradores e povoadores o que
eles querem, e não os que eu aqui, por minha ordem e por meu
trabalho e indústria, ando adquirindo para a terra e mando assentar
no livro da matrícula e tombo das terras todos aqueles que são
moradores e povoadores".
Duarte Coelho dava ao texto do Foral uma interpretação ampla,
partindo da razão de que "toda esta ordem e maneira se há de ter
para povoar terras novas e tão distanciadas do Reino e tão grandes
como estas são". Como "moradores e povoadores" considerava ele
todos aqueles que, com seus capitais e com seu trabalho, concorressem
para a tarefa de desbravar a terra, de fundar a base econômica e de
estabelecer as relações de comércio. Uns, portanto, eram senhores de
engenho (mesmo ausentes) "porque são poderosos para isso", outros
eram lavradores, outros operários de vários mesteres, outros

17
comerciantes ou marujos, uns casados, outros solteiros, uns naturais
de Portugal, outros galegos e canários, etc. Com o objetivo de criar
meios para a expansão do povoamento, a idéia deveria ser não de
diminuir "porém para mais se acrescentar as liberdades e privilégios".
A interpretação restritiva dos funcionários reais baseava-se no
Regimento dos Provedores da Fazenda Real, redigido quando da
criação do governo-geral do Brasil em 1548. Nesse Regimento, datado
de Almeirim 17 de dezembro de 1548, lê-se: " Quando algumas pessoas
que [no Brasil] forem moradores vierem para estes Reinos e trouxerem
para eles mercadorias, pedirão certidões ao Provedor da Capitania
donde partirem de como assim lá são moradores, para gozarem da
liberdade que pelo dito Foral é concedida, e o dito Provedor lhes
dará a dita certidão feita pelo Escrivão da dita Alfândega e assinada
por ele dito Provedor, o qual antes de lha passar se informará se as
pessoas que lhe as tais certidões pedirem são moradoras nas ditas
terras com mulher e casa e quanto tempo há que lá vivem, e se as
mercadorias que trazem são de suas novidades, ou as compraram e a
quem, e se são delas pagos os direitos, e do que nisso se achar lhes
passarão suas certidões; e sendo as ditas certidões passadas por outros
oficiais ou pessoas se não cumprirão nem isso mesmo se guardarão,
não vindo com a tal declaração, posto que pelo dito Provedor sejam
passadas" (13)
O novo texto vinha claramente modificar o que dispunha o
Foral, onde não se estabelecia a condição de considerar como morador
e povoador apenas aqueles que aqui tivessem "mulher e casa". Por
isso é que o povo da Nova Lusitânia protestou junto a D.C., pedindo
que lhe fossem mantidas as "liberdades e privilégios que até aqui lhe
foram guardadas e agora lhe queriam anular". D.C. deu-lhes
documentos com que pudessem requerer sua justiça perante os
tribunais da coroa. Mas não se eximiu de falar com franqueza ao Rei:
"é cousa muito odiosa e prejudicial ... quebrar e não guardar as
liberdades e privilégios ... de que estão de posse e de que usam".
Pediu-lhe que reconsiderasse o assunto, pois na manutenção dos
dispositivos do Foral estava o Rei empenhado na "sua obrigação e
consciência", como também atendia ao seu proveito. Apelou por fim
a que não lhe criasse dificuldades ao trabalho de atrair colonos e
capitais para Pernambuco e "com isso deixe-me realizar e verá o
proveito que disso se segue".

II) A exploração do pau-brasil

Essa atividade extrativa não fixava o homem à terra, portanto,


contrária aos interesses daquele homem que era essencialmente um

18
fundador de nação, um defensor da estabilidade social e da ordem
jurídica. Um criador de riqueza baseada na agricultura e não um
explorador de bens da natureza. Um fundador de colônia de plantação
e não de colônia de exploração. Daí porque se mostra tão irritado
com os "armadores de brasil".
A excitação causada entre os índios por esses armadores,
comprando-lhes o serviço não apenas com as ferramentas do costume
mas com os objetos de luxo, e, o que era pior, com armas de fogo,
abria concorrência no recrutamento da mão de obra com os lavradores
de canaviais e senhores de engenho, pelo que já não era possível
obter, como dantes, quem trabalhasse as terras e fizesse as obras
necessárias aos engenhos ou viesse vender mantimentos aos colonos.
E agora, armados, obrigavam os moradores a maiores gastos para sua
defesa.
Aos armadores pouco se lhes dava a estabilidade de vida que
D.C. tentava estabelecer na sua Capitania. É certo que D.C. fazia
também cortar pau-brasil, mas como atividade menor e considerando
o interesse maior da agricultura. Por isso é que o fazia "muito devagar",
não só pela distância em que a madeira se achava das praias, como
pela própria "condição dos índios", sua incapacidade de trabalho
regular: o lenho necessário à carga de um navio exigia de dez a doze
meses para ser cortado e trazido à beira do mar. Esse vagar na carga
dos navios saía a D.C. "custoso", mas era necessário sofrê-lo "pelo
que cumpre ao bem da terra". Não assim os armadores: estes queriam
o serviço concluído o mais breve possível e para apressar os índios
prometiam-lhes "tanta cousa fora de ordem, que metem a terra em
desordem da ordem em que eu a tenho posto".
A propriedade e o trato do pau-brasil eram privilégios da Coroa:
O pau do brasil da dita Capitania [de Pernambuco], e assim qualquer
especiaria ou drogaria de qualquer qualidade que seja que nela houver,
pertencerá a mim e será tudo sempre meu e de meus sucessores,
sem o dito Capitão nem outra alguma pessoa poder tratar nas ditas
cousas, nem em alguma delas lá na terra, nem as poderá vender nem
tirar para meus Reinos e senhorios, nem para fora deles, sob pena de
quem o contrário fizer perder por isso toda a sua fazenda para a
Coroa do Reino e ser degredado para a Ilha de São Tomé para sempre.
E, porém, quanto ao brasil, hei por bem que o dito Capitão e assim os
moradores da dita Capitania possam aproveitar-se dele aí na terra, no
que lhes for necessário, não sendo em o queimar, porque, queimando-
o, incorrerão nas sobreditas penas"."
O Rei concedia licença, mediante certa retribuição, a pessoas
para cortar pau-brasil e embarcá-lo para o Reino. O próprio D.C.

19
tinha, como o declara na carta de 1546, licença para o cortar, "de que
Vossa Alteza me fez mercê". Dos direitos de entrada da madeira nas
alfândegas do Reino o donatário percebia uma cota-parte, como se lê
na carta de doação da Capitania: era "a vintena parte do que
liquidamente render para mim, forro de todos os custos, o brasil que
se da dita Capitania trouxer a estes Reinos". ( 15) Portanto, 5% não só
da madeira cortada por conta do próprio soberano, como da cortada
por terceiros com licença régia.
Entretanto, de posse os armadores da licença régia, como lhes
impedir o trabalho? Era esta a angústia do donatário . Na carta de
1549 afirma ele que, "de quantos alvarás de permissão que Vossa
Alteza tem mandado passar, todos se querem utilizar deles aqui". A
razão dessa preferência era não só a relativa proximidade de
Pernambuco dos portos de Portugal, em comparação com os demais
do Brasil, como, e sobretudo, pelo fato de ser o "pau de Pernambuco"
"o melhor de todo este brasil" e o mais rico em matéria corante, a
ponto de, em todos os dicionários de línguas européias de povos que
tiveram negociações com a madeira — franceses, ingleses e holandeses
—, aparecer o "bois de Fernambouc", o "Pernambucwood" e o
"Pernambucohout" como sinônimo de pau-brasil. " Outros armadores
preferiam, porém, negociar em capitanias onde encontravam o apoio
do Capitão ou seu lugar-tenente, como era o caso de Itamaracá, onde
o próprio representante do donatário era, segundo D.C., "feitor dos
armadores".
No caso de Itamaracá, onde não chegava a jurisdição de D.C.,
o problema era o da vizinhança das terras de Igaraçu, onde começara
a colonização da Capitania de Pernambuco e onde D.C. se empenhava
em levantar a povoação de Santa Cruz — assunto, este último, de que
trataremos adiante.
D.C. pedia na carta de 1546, que o Rei lhe concedesse por
provisão que a vinte léguas da povoação de Santa Cruz para o norte
e outras tantas da vila de Olinda para o sul não se fizesse pau-brasil
pelo prazo de dez a doze anos. O difícil do pedido era que a povoação
de Santa Cruz deveria ser levantada à margem sul do atual Rio Igaraçu,
limite das Capitanias de Pernambuco e Itamaracá e, portanto, as vinte
léguas para o norte caíam todas "na terra de Pero Lopes de Sousa"
como o declara D.C., pelo que sua pretensão vinha ferir o direito e os
interesses do vizinho. Para granjear o apoio do Rei, lembra que o que
existisse na área de exploração proibida "ficará guardado para quando
Vossa Alteza se quiser servir".
A preocupação do donatário agravou-se com a notícia, trazida
por navio do Reino, de que certas pessoas estavam prestes para vir

20
aqui fazer cortar trinta mil quintais (isto é, cerca de 18 toneladas) ou
mais de pau-brasil. Com a ameaça que tal notícia representava para a
estabilidade da vida agrícola, houve "escândalo e alvoroço neste povo
de Olinda e em todos os moradores e povoadores destas minhas
terras", os quais fizeram petições ao donatário requerendo-lhe que
não consentisse nisso, ameaçando de abandonar suas fazendas e os
engenhos. D.C. acrescenta que, para sossegar o povo, mandou renovar
o seu edital, já anteriormente publicado, pelo qual proibia o fazer-se
brasil a menos de vinte léguas "destas povoações" — o que parece
abranger também a de Santa Cruz — sob as penas constantes do
Foral. Tal proibição, acrescenta, foi publicada "em nome de Vossa
Alteza", e o donatário ajunta que no caso se comprometeu
pessoalmente pois "prometi e jurei ao povo o não fazer nem consentir
fazer", pedindo ao Rei, para confirmação, "provisão nesta
conformidade". Não se sabe se D. João III o atendeu, pois, como
vimos, a pretensão feria o interesse de Pero Lopes de Sousa, donatário
de Itamaracá; parece, porém, que não, pois em carta de 1548 — isto
é, dois anos depois da que nos referimos — se queixa de que o
soberano "não provê nem me responde as cartas e avisos que há três
anos e por três ou quatro vias lhe tenho escrito", sem mesmo lhe
fazer saber "sua intenção". Para alcançar sabê-la mandou a Portugal
um criado seu, Francisco Frazão, com cartas, pedindo ao Rei que o
não detivesse com a resposta, pois "os gastos são grandes para esperar
muito tempo". A mesma queixa de falta de interesse régio por suas
cartas se lê na de 1549, em que repete que "há três anos que por
quatro vias tenho escrito e dado conta a Vossa Alteza de tudo o que
me pareceu seu serviço e até o presente não tenho visto nem tido
resposta", do que se pode concluir ter Frazão regressado a Pernambuco
em 1548 sem qualquer resultado, pois em 1549 torna a dizer que o
mesmo partira daqui "há vinte dias" com cartas ao Rei.
Em 1549 veio a saber que algumas pessoas se tinham oferecido
ao Rei para povoar as capitanias abandonadas, debaixo de certas
condições, entre as quais a do privilégio de exportação do pau-brasil,
de preferência "o destas minhas terras da Nova Lusitânia"; tal notícia
causou-lhe "grande paixão e desgosto", pois lhe parecia que o esforço
e despesas que fizera para fazer prosperar a sua donataria mereciam
recompensa e não ser agora despojado do "gosto e contentamento e
algum proveito e fruto que de meus trabalhos me pudesse vir e haver".
E escreve verdades duras ao Rei: "não deixarei de dizer o que com
verdade entendo", e é que, igual por igual, deveria ser preferido para
tais concessões quem até ali trabalhara na terra e não os que agora
surgiam para colher o lucro do esforço alheio. "Não concordarei em
me meterem em tais armações e companhias". Se Sua Alteza quisesse

21
reconhecer a justeza de suas razões que o ajudasse com os meios
para desenvolver as suas terras, concedendo-lhe os dízimos dos
engenhos que construísse e da parte que tivesse nos engenhos de
outras pessoas, bem como lhe permitisse exportar anualmente três
mil quintais de pau-brasil para onde quisesse.
Este corte de brasil ele o faria "onde não faça dano" às
povoações, o que não ocorria com os armadores, pois todos se queriam
aproveitar das licenças que lhes outorgava Sua Alteza em terras das
comarcas de Olinda e da Santa Cruz. E pedia que lhe concedesse que
entre o Rio Capibaribe-mirim e o Cabo de Santo Agostinho não fosse
permitido o corte de pau-brasil, que poderia ser cortado do Cabo até
o Rio São Francisco e, para o norte, "no litoral dos petiguares". O Rio
Capibaribe-mirim situa-se em território da Capitania de Itamaracá, e a
pretensão era renovação do pedido, já antes citado, de proibição do
corte no trecho até vinte léguas para o norte da povoação da Santa
Cruz. Para os que quisessem fazer nos locais por ele indicados prometia
"toda ajuda e favor que lhes puder dar". Mais tarde o Rei lhe veio a
dar razão, pois em 6 de julho de 1551 o Governador-geral deu
conhecimento de uma carta do soberano, de data não indicada, aos
Provedores da Fazenda Real em Pernambuco e Itamaracá, pela qual
"mandava que se não fizesse brasil nos lugares e Capitanias desta
costa que estivessem povoadas, e que as pessoas que tivessem licenças
de Sua Alteza para fazerem o dito brasil o fossem fazer aos pitiguares,
por assim haver por serviço e bem das ditas capitanias... e que sendo
caso que os capitães das ditas Capitanias quisessem nisso entender,
impedindo o que o dito Senhor mandava, fizessem autos" que
enviariam à metrópole."
Duarte Coelho podia considerar-se vitorioso no seu pleito.

III) Respeito às normas judiciárias

O terceiro assunto mais longamente tratado nas cartas, encontra-


se versado na de 1546. Duarte Coelho nela reclama ao Rei o não
cumprimento por outros donatários ou seus prepostos das normas
judiciárias, como a das cartas precatórias. Lamenta que se tratassem
os moradores de umas Capitanias uns aos outros como se fossem
inimigos: "uns como se fossem portugueses e outros como franceses
e outros como se fossem castelhanos", quando "todos somos
portugueses e seus vasssalos e súditos". Pede-lhe que determine que
todos "cumpram e façam cumprir as cartas precatórias".
A insistência de Duarte Coelho pelo cumprimento das cartas
precatórias explica-se pelos problemas que enfrentava na sua Capitania,
onde dava guerra sem trégua a trapaceiros, ladrões, salteadores e

22
outros criminosos. Quando queria haver à mão um desses elementos
responsável por algum delito, e este conseguia escapar, era inútil
requerer sua prisão por meio de carta precatória à Capitania onde se
acolhera: o donatário não dava atenção a esses processos judiciários.
O caso dos homiziados era ilustrativo: em carta datada de Évora
em 24 de setembro de 1534, que aqui se publica pela primeira vez,
D.C. obteve de D. João III, que se lhe desse o privilégio de acolher
os foragidos das justiças da metrópole. Era este um dos meios de que
então se lançava mão — mesmo em certos lugares do Reino — para
favorecer o povoamento de determinadas regiões. Da carta passada a
D.C. se vê que os condenados pelas justiças do Reino que andassem
foragidos e que se passassem às terras da sua Capitania ficariam livres
de prisão "pelos crimes que cá tivessem cometido", isto é, que tivessem
cometido em Portugal.(18) Acontecia, porém, que os donatários que
haviam obtido concessão semelhante queriam entender o favor de
forma mais ampla: que os criminosos em uma Capitania se pudessem
homiziar em qualquer das demais. Duarte Coelho era de opinião —
aliás nos precisos termos da carta de privilégios concedida aos
donatários — que "os delitos e malefícios aqui cometidos e feitos,
aqui hão de ser punidos e castigados, como for razão e justiça".
Assim o cumpria ele, mas quando queria fazer prender alguém que
se tivesse foragido de Pernambuco eram inúteis as cartas precatórias:
nenhum dos donatários as atendia.
Essa desobediência à prática judiciária e esse desconhecimento
das leis procedia de que muitos dos loco-tenentes dos donatários e
outros funcionários não eram "pessoas aptas e suficientes", mas sim
"homens quaisquer". Nem os próprios ouvidores eram letrados, como
era o caso do de Itamaracá, pois não cumpria as cartas precatórias.
Não devia ser raso único o que da Capitania dos Ilhéus escreveu
o Ouvidor-geral Pedro Borges em carta ao Rei, de Porto Seguro 7 de
fevereiro de 1550: "Está aí na dita Capitania dos Ilhéus um capitão
conhecido por Jorge de Figueiredo que também serve de ouvidor, a
que chamam Francisco Romeiro, que já ali esteve outra vez com o
mesmo cargo e foi preso no Limoeiro muitos dias por culpas que
cometeu no mesmo ofício, o qual é bom homem mas não para ter
mando de justiça, porque é ignorante e muito pobre, o que muitas
vezes faz fazer aos homens o que não devem... Parece-me que devia
Vossa Alteza mandar a Jorge de Figueiredo e aos outros capitães que
ao menos pusessem ouvidores homens entendidos" pois havia caso
aqui de juiz que "não sabe ler nem escrever". De ouvidores de
Capitanias repete que são "homens simples e ignorantes que não
sabiam nem sabem ler nem escrever". 09)

23
IV) O assalto aos índios da costa

Ao lado da excitação causada entre os índios pelos armadores


de brasil, havia, igualmente danosa aos interesses da fixação do colono
na nova terra, a ação dos apresadores dos indígenas que habitavam
ao longo do litoral do Nordeste. É assunto tratado na carta de 1546.
Esse apresamento faziam-no os moradores das Capitanias ao sul da
de Pernambuco, às quais Duarte Coelho se referia, talvez um tanto
depreciativamente, como "as Capitanias de baixo". "Não sei se lhes
chame povoadores ou se lhes diga ou chame salteadores". Não os
coibiam os donatários ou seus prepostos.
Não se limitavam na sua ação às áreas próximas de suas
moradas, mas vinham fazer os seus assaltos também em terras de
Pernambuco: atacavam os índios, tomavam-nos prisioneiros e os
levavam como escravos para outras regiões. Naquele ano de 1546
vieram eles em seis caravelões a Pernambuco e, ganhada a confiança
de Duarte Coelho, a quem prometeram ajuda no projeto de
descobrimento das terras interiores — certamente pela via do Rio São
Francisco — logo que o apanharam descuidado levantaram pano e
"foram salteando por minha costa antes que eu acudisse". Dos seis
conseguiu apresar apenas um dos caravelões. Aos índios libertou-os
D.C. e aos salteadores "dei o castigo que me pareceu merecido" e
que bem se pode imaginar qual fosse, pois o donatário não tinha
condescendência com esses tipos.
Os prejuízos causados por esses salteadores estão consignados
em outros testemunhos da época, como é o caso da carta de Pero de
Góis ao Rei, datada da Vila da Rainha 29 de abril de 1549, em que
refere que o levante dos índios fora causado por "um homem por
nome Henrique Luís, [que] como outros e em um caravelão, sem eu
ser sabedor, se foi a um porto desta minha Capitania e contra o Foral
de Vossa Alteza resgatou o que quis, e não contente com isso tomou
por engano um índio, o maior principal que nesta terra havia, e mais
amigo dos cristãos, e o prendeu no navio, pedindo por ele muito
resgate, o qual, depois de por ele lhe darem o que pediu, por congraçar
com outros índios contrários deste que prendeu, lho levou e entregou
preso e lho deu a comer". E chamava a atenção do Rei para esses
assaltos e o perigo que representavam para a estabilidade da
colônia.(20 O Ouvidor-geral Pedro Borges em outra também ao Rei,
datada de Porto Seguro 7 de fevereiro de 1550, escreve que "a causa
que principalmente fazia a estes gentios fazer guerra aos cristãos era
o salto que os navios que por esta costa andavam faziam neles. E
neste negócio se faziam cousas tão desordenadas que o menos era
salteá-los, porque houve homem a que um índio principal livrou de

24
mãos de outros mal ferido e maltratado e o teve em sua casa e o
curou... Este homem tornou ali com um navio e mandou dizer ao
índio principal, que o tivera em sua casa, que o fosse ver ao navio,
cuidando o gentio que vinha ele agradecer-lhe o bem que lhe tinha
feito; como o teve no navio o cativou com outros que com ele foram
e o foi vender por essas capitanias".( 2 1) Um desses salteadores foi
Pero Correia, que depois (1550) se fez Irmão da Companhia de Jesus:
"passou a maior parte de sua vida viajando em um navio duma parte
para a outra, na pilhagem destes índios, ora matando a muitos, ora
trazendo para entre os cristãos os que tirava da própria pátria com
muitos enganos, e reduzia a cativeiro" escreveu o Padre José de
Anchieta em carta de 1555. (22)
A atitude de defesa dos índios deu condições especiais de
sossego e ordem a Duarte Coelho para o governo de sua Capitania.
Em carta de Olinda 14 de setembro de 1551 declara-o assim o Padre
Manuel da Nóbrega: em Pernambuco "o gentio está mui aparelhado a
se nele frutificar, por estar já mais doméstico e ter a terra capitão que
não consentiu fazerem-lhe agravo, como nas outras partes".( 23)
Conseqüência da atitude e do pedido de D.C. ao Rei, de
providências contra os assaltos, foi a disposição constante do Regimento
dado em 1548 ao Governador-geral Tomé de Souza. "Eu sou informado
que nas ditas terras e povoações do Brasil há algumas pessoas que
têm navios e caravelões e andam neles de uma Capitania para outras
e que por todas as vias e maneiras que podem salteiam e roubam os
gentios que estão de paz e enganosamente os metem nos ditos navios
e os levam a vender a seus inimigos e a outras partes, e que por isso
os ditos gentios se alevantam e fazem guerra aos cristãos"...
determinando providências no sentido de evitar a continuação desses
fatos, proibindo inclusive que fossem construídos navios e caravelões
sem licença do Governador-geral ou dos Provedores das Capitanias.( 24)
Que Duarte Coelho assim o executava com rigor, comprova-se de
documento de 1552, do qual consta que um caravelão de Francisco
Medeiros, morador na cidade do Salvador, foi tomado na Capitania
de Pernambuco "pelo capitão dela por perdido para Sua Alteza, com
toda fazenda que nele ia, por dizer ir o dito caravelão resgatar à dita
sua capitania sem sua licença".( 25)

V) Malogro das Capitanias do sul

Um dos problemas que inquietava Duarte Coelho era o do


mau sucesso da colonização das "capitanias de baixo", muito
especialmente a da Bahia, sua vizinha ao sul, doada a Francisco Pereira
Coutinho. Apelava ao Rei para que os aquinhoados com doações de

25
capitanias no Brasil viessem não só ocupá-las como residir nelas,
"pois essa foi a condição" da doação. Por um feitor de Afonso de
Torres, da Bahia, veio a saber do que ali se passava, pedindo para ela
a intervenção régia, "porque Francisco Pereira é velho e doente e não
está para isso".
A Francisco Pereira julgava, sem muita severidade, um fraco:
não sabia governar sua gente "como bom capitão", e era "mole para
resistir às doidices e desmandos" de alguns dos seus, do que se
originaram parcialidades de que ele não se podia eximir de culpa.
Entretanto convinha que os responsáveis fossem castigados, pois de
suas desordens fora causa perder-se a Bahia. "E o clérigo, que foi o
princípio daquele mal e dano, deve-o Vossa Alteza mandar ir preso
para Portugal e que nunca torne ao Brasil, porque tenho sabido ser
um grande velhaco". Esse clérigo chamava-se Francisco Bezerra, e de
sua atuação no Brasil tem-se conhecimento através de outras fontes.
Delas se conclui a justeza com que o caracterizou D.C.: "um grande
velhaco".
Na carta, já atrás citada, de Pedro Borges, ao Rei, datada de
1550, refere-se outra ação do clérigo, mancomunado com certo mestre
algarvio de um navio que lançara em terra de petiguares (cerca de
1543) homens, mulheres e meninos portugueses que foram mortos
pelos índios, "e eles vieram vender as roupas e fazenda destes à
Bahia", ação que o Ouvidor-geral considera "grande caso e desumano",
fato também narrado em carta ao Rei por Duarte de Lemos, de Porto
Seguro 14 de julho de 1550.( 20

VI) Malefícios dos degredados

É sabido que as Ordenações manuelinas — em vigor na época


da colonização da Nova Lusitânia — castigavam com degredo para o
Brasil crimes vários, muitos dos quais não têm nos modernos códigos
penais pena qualificada. Eram sobretudo crimes contra a moral, mas
incluíam os contra a integridade da pessoa, contra a verdade, (27)
os de
resistência à ação da justiça, uso de jogos proibidos, etc. Os
degredados eram embarcados no Reino nas caravelas que vinham ao
Brasil, às vezes em número que excedia o da tripulação, do que se
seguia, em algumas oportunidades, dominarem os tripulantes e
apossarem-se do barco. Em carta de 1546 Duarte Coelho informa que
"achamos menos dois navios, que por trazerem muitos degredados
estão desaparecidos".
Os malefícios eram talvez maiores ao chegarem ao lugar de
degredo. Duarte Coelho queixa-se deles na referida carta, dos que
"de três anos para cá me mandam" (1543-46). Não eram colonos

26
estáveis, porém malfeitores, "que nenhum fruto nem bem fazem na
terra, mas muito mal e dano", particularmente nas relações com os
indígenas. Não eram os colonos que se devia desejar, pois "não são
para nenhum trabalho e vêm pobres e nus". Viviam a imaginar "suas
manhas" e a projetar fugas.
Contra isso era inútil combater, nem o conseguiria D.C. recuperá-
los moralmente, "porque o que Deus nem a natureza remediou, como
eu o posso remediar?" O donatário não tinha dúvida em dizer ao Rei
— certificando-o com o jurar "pela hora da morte" — que eram
irrecuperáveis e como tais os mandava enforcar. E rogava ao Rei,
"pelo amor de Deus, que tal peçonha para aqui não me mande", pois
causavam antes malefícios à boa obra iniciada de colonização do que
lhes servia de conetivo o degredo.
O padre Manuel da Nóbrega, em carta escrita ao Padre Simão
Rodrigues, datada da Bahia 9 de agosto de 1549, pede: "trabalhe
Vossa Reverendíssima por virem a esta terra pessoas casadas, porque
certo é mal empregada esta terra em degredados, porque cá fazem
muito mal, e já que cá viessem havia de ser para andarem aferrolhados
nas obras de Sua Alteza".( 28) Em outra ao Padre Inácio de Loiola, de
São Vicente 25 de março de 1555, afirma: "La causa porque en estos
índios de toda esta costa onde habitan los portugueses se hará poco
fruto al presente, es porque están indómitos, y a esta tierra no an
venido hasta agora sino desterrados, de la mas vil y perversa gente
del Reyno".(29) Duarte de Lemos em carta ao Rei, de 1550, registra
também os crimes aqui cometidos por eles.€ 50 Tomé de Sousa queixa-
se outrossim ao Rei, em 1551, de malfeitorias contra os índios levadas
a efeito por "degredados e homens de mau viver". 61) Em 1560 dizia
Mem de Sá, em carta ao Rei, que "os mais deles mereciam a morte e
não têm outro ofício senão urdir males".(32)

VII) A povoação e comarca da Santa Cruz

Na carta de 1546 Duarte Coelho refere-se a "estas minhas


povoações, a saber... Olinda... e Santa Cruz"; na de 1549 menciona
"esta comarca de Olinda e da Santa Cruz". Olinda, vila desde 1537,
tem no Foral que lhe deu o donatário, em 12 de março deste último
ano, fixado o seu termo ou comarca. Com relação à Santa Cruz não
há documento semelhante.
No primeiro número da Revista do Instituto Histórico de Goiana,
da fase de sua criação por Francisco Manuel Raposo de Almeida,
publicada em 1872, propõe-se uma tese histórica a ser debatida, com
a afirmativa de que a Vila de Santa Cruz estava localizada não em
Igaraçu (como era a opinião comum dos historiadores) mas no trecho

27
compreendido entre as praias de Rio Doce e Maria Farinha, em
Pernambuco. Não se oferece, porém, qualquer indicação documental
ou evidência material para a afirmativa.( 33)
O nome de Santa Cruz está repetidamente ligado às terras de
Igaraçu. Como é bem sabido, D. João III, ao doar a capitania de
Pernambuco a Duarte Coelho em 10 de março de 1534, declarou que
as 60 léguas que concedia seriam contadas a partir do Rio São Francisco
"e acabarão no rio que cerca em redondo toda a Ilha de Itamaracá, ao
qual rio ora novamente ponho o nome de Rio de Santa Cruz e mando
que assim se nomeie e chame daqui por diante, e isto com tal
declaração que ficará com o dito Duarte Coelho a terra da banda do
sul do dito rio onde Cristóvão Jaques fez a primeira casa de minha
feitoria... [e] ficará assim mesmo com ele Duarte Coelho a metade do
dito Rio de Santa Cruz para a banda do Sul"... ( 34) Na carta de doação
da capitania de Itamaracá a Pero Lopes de Sousa, em 1 de setembro
de 1534, determinou que a terra doada teria início "no rio que cerca
em redondo a Ilha de Itamaracá, ao qual rio eu ora pus o nome Rio
de Santa Cruz... [e] ficará assim mesmo com ele dito Pero Lopes a
metade do braço sul do dito Rio da Santa Cruz da banda do Norte e
será sua a dita Ilha de Itamaracá e toda a mais parte do dito Rio de
Santa Cruz que vai ao Norte"...( 33)
No Foral de Olinda, de 12 de março de 1537, vê-se que Duarte
Coelho dividiu as jurisdições das duas primitivas vilas de Pernambuco
pelo Rio Doce. Leia-se o texto e ver-se-á que "do Rio Doce para a
banda do Norte fica com o termo de Santa Cruz", pelo que os terrenos
dali em diante estavam fora das concessões do Foral aos moradores
de Olinda. No mesmo Foral faz-se referência à "Vila de Santa Cruz".( 36)
Admito que de uma leitura menos atenta do texto do Foral de
Olinda se tenha originado a suposição de Raposo de Almeida acerca
da localização da Vila de Santa Cruz. Lê-se no Foral: "E da dita ribeira
sainte de Val de Fontes até o rio Doce, que se chama Paratibe, tudo
será para serventia do povo e vila [de Olinda] até as várzeas, que
serão pouco mais ou menos 200 braças de largo, da praia para dentro
das várzeas, porque do rio Doce para a banda do Norte fica com o
termo de Santa Cruz outro tanto ao longo do mar 200 braças pela
terra dentro, de arvoredo, para madeira e lenha do povo da vila de
Santa Cruz, assim como atrás conteúdo é para a Vila de Olinda".( 37)
Duarte Coelho fixava assim direitos iguais de aproveitamento da faixa
litorânea entre a praia e as terras de cana, no trecho compreendido
entre Val de Fontes (que é o Rio Tapado) e o Rio Doce, para o povo
de Olinda, e do Rio Doce para o norte para os habitantes da Vila de
Santa Cruz.
Além do Rio de Santa Cruz, nomeado por D. João III, Afonso

28
Gonçalves denomina a Capitania de Pernambuco de "terra de Santa
Cruz". Na carta por ele endereçada ao Rei em 1548 escreveu: "Depois
que de Vossa Alteza me parti e embarquei para esta terra de Santa
Cruz, de que é Capitão e Governador Duarte Coelho"...( 38)
Há ainda referência a uma "ermida de Santa Cruz", localizada
na vila de Igaraçu. Menciona-a um alvará datado de Lisboa em 11 de
novembro de 1595, onde se diz: "Eu El Rei faço saber, aos que este
alvará virem, que por ser informado que a igreja matriz freguesia da
invocação dos Santos Cosme e Damião da Vila de Igaraçu, Capitania
de Pernambuco, partes do Brasil, estava caída de todo, sem os fregueses
terem onde se lhes dissesse missa, senão em uma ermida de Santa
Cruz dentro da vila, tão pequena que não cabia a terça parte dos ditos
fregueses"... (39) A ermida de Santa Cruz, arruinada após a expulsão
dos holandeses (1654), foi reconstruída na segunda metade do século
XVII por Paulo Ordonho de Sepeda, que lhe deu nova invocação de
Nossa Senhora dos Prazeres, por sua vez também desaparecida.
Pereira da Costa identifica a Vila de Santa Cruz com a Vila de
Igaraçu. Nos Anais Pernambucanos, em data de 9 de março de 1535,
escreveu que "essa denominação da vila, dada pelo donatário, vem
naturalmente da de Santa Cruz que recebeu o rio Juçará, que separa
o continente da ilha de Itamaracá", acrescentando que "teve também
a vila, talvez concurrentemente com a denominação originária de
Santa Cruz, a de Cosmos, como escreve Gabriel Soares de Sousa em
1587... predominava, porém, o nome vulgar de Igaraçu"...( 40
Vem esclarecer tudo isto um documento inédito do arquivo do
Instituto Arqueológico Pernambucano, até hoje não citado, transcrito
em certidão datada de Lisboa em 29 de novembro de 1656, na qual se
inclui uma Provisão assinada em Lisboa em 2 de setembro de 1594.
Por ela Jorge de Albuquerque Coelho, donatário de Pernambuco, "há
por devolutas as terras e marinhas dadas à vila de Santa Cruz". Diz o
documento: "Jorge de Albuquerque Coelho, Capitão e Governador
da Capitania de Pernambuco da Nova Lusitânia nas partes do Brasil
por El Rei Nosso Senhor, etc. Faço saber que Duarte Coelho Pereira
meu Senhor e Pai, que Deus tem, ao tempo que foi povoar e conquistar
a dita Capitania, parecendo-lhe que em Santa Cruz, que é o lugar e
sítio que se chama os marcos, que dividem a dita minha Capitania da
de Itamaracá, se fizesse uma vila, fez mercê à dita vila de Santa Cruz
de todas as terras e marinhas do Rio Doce até Jaguaribe, e porque a
dita vila de Santa Cruz se não fez, nem há lá para os moradores dela
poderem gozar das ditas terras que lhes estavam dadas pelo dito
Senhor na sobredita maneira"... (41)
Este documento vem confirmar o que consta de Frei Vicente
do Salvador, na sua História do Brasil acabada de escrever em 1627.

29
Ao referir a chegada de Duarte Coelho a Pernambuco narra que "foi
desembarcar no Rio de Igaraçu, onde chamam os Marcos,... onde já
estava uma feitoria de El Rei para o pau-brasil e uma fortaleza de
madeira que El Rei lhe largou. E nela se recolheu e morou alguns
anos"... (42) Descontado o erro da residência nos Marcos por "alguns
anos", parece certo que Duarte Coelho ali se deteve por algum tempo,
vendo-se agora pelo documento transcrito, de 1594, do Instituto
Arqueológico, que ele, pelo menos no papel, fundou uma "vila de
Santa Cruz" a ser levantada nos Marcos. No Foral de Olinda, de 1537,
bem como na carta de 1546, ele ainda se refere à "Vila de Santa Cruz",
pelo que se pode concluir que ainda então não afastara a idéia da
fundação da referida Vila. Neste caso, não é crível que tivesse fundado
Igaraçu, sete quilômetros distante dos Marcos, dada a proximidade
em que estariam os dois núcleos.
Parece, pois, justo admitir que Igaraçu tenha sido levantada
depois de 1537 e talvez por Afonso Gonçalves, que pretende para a
igreja que ali construiu a concessão dos dízimos cobrados naquelas
proximidades. O vianês Afonso Gonçalves não diz positivamente ser
o fundador de Igaraçu embora a mencione como "minha fazenda" e
"minha povoação", como terra de sua propriedade, como criação sua.
Leia-se a carta que escreveu ao Rei em 1548: "Senhor, a igreja desta
minha fazenda de que lhe dei conta... eu quisera adquirir os dízimos
desta igreja para os gastar nela e em cousas necessárias para o culto
divino e ornamentos, pois sou fundador dela e a fiz às minhas custas
próprias... e tive sempre nela um padre que é obrigado a dizer missa
e confessar a gente desta minha povoação, e isto tudo pago à minha
custa, porque não se sofre uma povoação tão grande como esta estar
sem igreja e clérigo que os confesse e lhes diga missa"... ( 43) Repare-
se que o missivista não se refere a Igaraçu como vila, mas como
"povoação".
Entretanto, é certo que desde a guerra holandesa há referência
à vila de Igaraçu como sendo a "mais antiga" das de Pernambuco. A
Câmara usava mesmo, segundo Pereira da Costa, o título de "Muito
nobre, sempre leal e mais antiga Vila de Santa Cruz e Santos Cosme e
Damião de Igaraçu".( 44) Nesse título e na menção à "Santa Cruz"
parece-me estar a explicação: a Vila de Igaraçu considerar-se-ia herdeira
da antigüidade da Vila de Santa Cruz, nos Marcos, onde residira Duarte
Coelho ao desembarcar em Pernambuco em março de 1535. Ter-se-ia
levado em conta que não tendo sido fundada, de fato, a Vila de Santa
Cruz, a Vila de Igaraçu, criada nas proximidades, podia incorporar a
si a precedência oficial daquela sobre a de Olinda.
É reveladora dessa intenção de fazer crer em tal precedência, a
alegação, também citada por Pereira da Costa, de que existiria um

30
alvará de D. João III conferindo à Vila de Igaraçu a mercê daquele
título, com que a "condecorara, a pedido do donatário Duarte Coelho,
quando conferiu esse predicamento de vila", o qual se perdera quando
da ocupação holandesa. ,45, Entretanto, tal documento não foi ainda
encontrado, não obstante as buscas realizadas nos livros da chancelaria
de D. João III por diferentes pesquisadores, e em especial pelos que
escreveram a História da Colonização Portuguesa do Brasil.
Aliás, um jornalista, que revelou constante interesse pela história
de sua Província, José de Vasconcelos, proprietário do Jornal do Recife,
chegara à conclusão de que Olinda era a mais antiga vila de
Pernambuco. Baseando-se em Frei Vicente do Salvador, no trecho em
que se refere à residência de Duarte Coelho nos Marcos e a ter
encarregado Afonso Gonçalves da fundação de Igaraçu, observa: "Esta
narrativa de Frei Vicente destrói a inveterada crença de ter sido a Vila
de Igaraçu fundada primeiro que Olinda e por Duarte Coelho, que,
parece, nem lá fora quando chegou. Pensamos que nasceu ela de
terem sido as terras daquelas bandas as primeiras que se povoaram
em Pernambuco, do que não existe a menor dúvida, pois foi nelas
que se fez a feitoria de 1516 no sítio que se chamou depois do
Mar co" (46)

Todo o acima expendido deve, porém, ser considerado como


hipótese e cabe aguardar a revelação de novos documentos para a
elucidação do problema, que continua aberto.

José Antônio Gonsalves de Mello

P.S. - Erros graves foram constatados na leitura paleográfica das cartas de contemporâneos de
D.C. no Brasil — de Tomé de Sousa e outros — publicadas na História da Colonização Portuguesa do
Brasil, onde inclusive a de Pero de Góis é atribuída a 1551, quando nela se lê 1554. As transcrições
delas aqui feitas sofreram as correções necessárias

31
clfrotcm,

(1) Conforme registra Fernandes Gania, a carta de doação e o foral de


Pernambuco foram "extraídos em 1793 por certidão dos próprios originais na Torre
do Tombo, em Lisboa, a requerimento do falecido Coronel Antônio Marques da
Costa Soares" (1764-1837);; adiante acrescenta que "duas cartas que Duarte Coelho
endereçou ao Rei em 1546 e 1549 [foram] copiadas, como a doação régia, dos
próprios originais da Torre do Tombo", as quais transcreveu em notas ao texto de
suas Memórias Históricas de Pernambuco, 4 vols. (Recife 1841-48)) I, pp. 70/82.

(2) Às ditas cópias refere-se o Governador na carta citada na qual informa


que na Capitania não se conservava cópia do foral dado a Duarte Coelho "e só no
ano de 1793 um negociante desta praça a pediu por certidão da Torre do Tombo,
da qual certidão tirei a cópia que possuo": Bib. Pública de Pernambuco, coleção
de MSS., livro 14 de Correspondência da Corte.

(3) Bib. Pública de Pernambuco, coleção de MSS., Ordens Régias, 1710-


1824, fls. 22v/28v onde está transcrito a carta de 1546 e fls. 28v-34v onde se lê a de
1549.

(4) Livro cit. em nota 1, pp. cit.

(5) Revista do Instituto Histórico Brasileiro vol. 67, 1g parte (Rio, 1906),
pp. 9/11. Estas cópias constaram da Exposição de História do Brasil de 1881; Catálogo
sob na 5682.

(6) Anais da Biblioteca Nacional riQ 71 (Rio, 1951), pp. 171/172,


documentos nQ 4/8.
(7) Anais Pernambucanos, 10 vols. (Recife 1951-67), I, pp. 232.

32
Por tres jerações de mui perversa e bestiall gente e
todos contrairos huns doutros a se de pasar esta
jornada com muito peligro e trabalho, para o quall me
parese e asi a toda minha gente que se não pode
fazer senão indo eu e ir como se deve ir e
a cometer a tall empresa para sair com ella avante
e não para ir fazer barcoriadas como os do
Rio da Prata que se perderam pasante de mill
homens castelhanos e como os do Maranhão
que perderam sete centos e o pior he ficar a cousa
danada. E por iso Senhor espero a ora do Senhor
Deos em a quall praza a ele Deos que ma cometa
esta empreza e para seu santo serviço, e de Vossa
Alteza que este sera o maior contentamento e ganho
que eu diso queria ter.
Isto Senhor tenho asentado e la tenho mandado buscar
cousas necesarias para jornada e alguns bons homens
porque he necesario deixar aqui a cousa forne-
cida e a bom recado por todalas vias em especiall
por estes franceses que se sentirem não estar na
terra cometeram a fazer das suas riballda-
rias porque a xiiij [quatorze] dias que aqui quiseram fazer
o que soiam a fazer mas não poderam, la mando
a serteza diso para que a Sua Alteza veja se for necesa-
rio.
E comtudo eu Senhor tenho o quidado que se deve
ter nas cousas de seu serviço e Deos me ha-
jude e me de a sua ora para tudo ir a bom
fim e porque Pero de Goes e Luis de Goes que ora por
aqui pasam as mais novas de mim e da
terra darão a Vossa Alteza não me alargo mais
nesta e delles pode Vossa Alteza saber das cousas
de qua. E porque para as cousas de tanta impor-
tancia a mester muito grandes gastos e eu estou

41
mui gastado e individado e não puder sofrer
tanta gente de solido como ate qui sofri
a ja tres anos que pedi a Vossa Alteza me fizese
merce de me dar licença e maneira de aver alguns
escravos de Guine por meu resgate e o ano
pasado me saio que ate não se acabar o contra-
to que era feito se não podia fazer dando me
a entemder que como fose acabado seria
provido polo quall ja la esprevi a Vossa Alteza sobre
iso não sei se me fez esta merce por que os
navios não sam ainda vindos. Peço a Vossa
Alteza que se me não proveo desta licença que olhe
quanto seu serviço isto he quão pouco dano nem
estorvo faz darme licensa para aver
algumas pesas descravos para o milhor
servir e a Dom Pedro de Moura e a Manuell
D'albquerque mande Vossa Alteza dar a provisam
para isto. Desta vila d'Olinda a xxbij [27]
d'abrill de 1542

Servo de Vossa Alteza


DUARTE COELHO

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osto que neste ano de 1546 tenha escripto por tres vezes
a Vossa Alteza damdo lhe conta das cousas de qua e asi de
alguas cousas que me pareçeo seu serviço, e pella
enserteza das cousas do mar quis Senhor por esta tornar
a dar a mesma conta para Vossa Alteza prover o que for seu servi-
ço.
Quamto he Senhor a esta Nova Lusitania posto que com muito
trabalho e com asaz de fadiga tamta quanta
ho Senhor Deos sabe a cousa estaa bem premcipiada
a Deos louvores mas ha muitos encomvinientes e estorvos
para ir a cousa em crescimento e aumento como eu Senhor desejo
para serviço de Deos e de Sua Alteza. E os que eu qua Senhor
poso remedear trabalho tamto por iso quanto Senhor he
posivell, mas ao que eu não poso Senhor acudir he ne-
cesario Vossa Alteza remedear e com brevidade prover sobre
iso, se quer ser servido.
Ja tenho escripto a Vossa Alteza e lhe fiz saber por outras que escripto
lhe tenho que huma das cousas que mais denefica ao bem
e aumento destas terras he fazerse brasill nem a vim-
te legoas das povoações que se ora novamente povoam
em especiall nesta Nova Lusitania porque o brasill
Senhor esta mui lonje polo sertão a demtro e
mui trabalhoso e mui peligroso de aver e
mui custoso, e os imdeos fazem no de ma vontade
polo quall ese que eu la tenho mandado estes anos

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pasados para Vossa Alteza e asi hum pouco que até ho presente
fiz para mim pella licença de que me Vossa Alteza fez merce
faz se todo por sua ordem e muito devagar confor-
me ha condição dos imdeos em dez e doze meses
e em ano e meo a carrega de hum navio e que me
saia mais custoso he necesario Senhor sofrello
polo que cumpre ao bem da terra, mas a eses
a quem Vossa Alteza la faz merce de brasil! como quer
que lhe custa pouco nem estão com os trabalhos e fa-
digas e nos peligros e derramamento de sangue
em que eu Senhor estou e ando não lhes da nada
Senhor de cousa alguma do que me a mim daa e do que
eu simto não ho semtem elles, nem a perda que Vossa Alteza tera
por que por fazerem seu brasill emportunão tanto os im-
deos e prometem lhe tamta cousa fora d'ordem
que metem a terra toda em desordem da ordem em que
ha eu tenho posto e se lhe dão alguma cousa
do que lhe prometem he deitar a perder ho conserto
e ordem que tinha posto para o que cumpre ao trato
deste brasil quamdo se Vossa Alteza quiser servir delle
porque não basta Senhor darlhe as ferramentas como estaa
em costume mas por fazerem os imdeos fazer brasill
dam lhe comtas da bailia e carapuças de pe-
na e roupas de cores que homem qua não pode
alcançar para seu vestir e o que pior he espadas
e espingardas em especiall huns poucos de pou-
cos homens que com favor e abriguo meu de
tres anos para qua estão na terra de Pero Lopez
pegado comiguo que em som d'armadores de fa-
zer fazendas como abitadores na terra são ar-
madores de brasil! que nunca deixão de ho fa-
zer e carregar porque de tres anos para qua tem
levados mais de seis ou sete navios carregados
de brasil. Eu ja lho tenho reqerido e feito sobre
iso ho que me pareçeo bem e serviço de Sua Alteza
e qua em minhas terras Senhor provido sobre iso
e pregoado conforme a lei que Vossa Alteza pos em minhas
doações e vou a mão a iso quamto poso, porque ser-
tefico a Vossa Alteza que de tres anos para qua que se corrom-

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Por tres jerações de mui perversa e bestiall gente e
todos contrairos huns doutros a se de pasar esta
jornada com muito peligro e trabalho, para o quall me
parese e asi a toda minha gente que se não pode
fazer senão indo eu e ir como se deve ir e
a cometer a tall empresa para sair com ella avante
e não para ir fazer barcoriadas como os do
Rio da Prata que se perderam pasante de mill
homens castelhanos e como os do Maranhão
que perderam sete centos e o pior he ficar a cousa
danada. E por iso Senhor espero a ora do Senhor
Deos em a quall praza a ele Deos que ma cometa
esta empreza e para seu santo serviço, e de Vossa
Alteza que este sera o maior contentamento e ganho
que eu diso queria ter.
Isto Senhor tenho asentado e la tenho mandado buscar
cousas necesarias para jornada e alguns bons homens
porque he necesario deixar aqui a cousa forne-
cida e a bom recado por todalas vias em especiall
por estes franceses que se sentirem não estar na
terra cometeram a fazer das suas riballda-
rias porque a xiiij [quatorze] dias que aqui quiseram fazer
o que soiam a fazer mas não poderam, la mando
a serteza diso para que a Sua Alteza veja se for necesa-
rio.
E comtudo eu Senhor tenho o quidado que se deve
ter nas cousas de seu serviço e Deos me ha-
jude e me de a sua ora para tudo ir a bom
fim e porque Pero de Goes e Luis de Goes que ora por
aqui pasam as mais novas de mim e da
terra darão a Vossa Alteza não me alargo mais
nesta e delles pode Vossa Alteza saber das cousas
de qua. E porque para as cousas de tanta impor-
tancia a mester muito grandes gastos e eu estou

41
mui gastado e individado e não puder sofrer
tanta gente de solido como ate qui sofri
a ja tres anos que pedi a Vossa Alteza me fizese
merce de me dar licença e maneira de aver alguns
escravos de Guine por meu resgate e o ano
pasado me saio que ate não se acabar o contra-
to que era feito se não podia fazer dando me
a entemder que como fose acabado seria
provido polo quall ja la esprevi a Vossa Alteza sobre
iso não sei se me fez esta merce por que os
navios não sam ainda vindos. Peço a Vossa
Alteza que se me não proveo desta licença que olhe
quanto seu serviço isto he quão pouco dano nem
estorvo faz darme licensa para aver
algumas pesas descravos para o milhor
servir e a Dom Pedro de Moura e a Manuell
D'albquerque mande Vossa Alteza dar a provisam
para isto. Desta villa d'Olinda a xxbij [27]
d'abrill de 1542

Servo de Vossa Alteza


DUARTE COELHO

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osto que neste ano de 1546 tenha escripto por tres vezes
a Vossa Alteza damdo lhe conta das cousas de qua e asi de
alguas cousas que me pareçeo seu serviço, e pella
enserteza das cousas do mar quis Senhor por esta tornar
a dar a mesma conta para Vossa Alteza prover o que for seu servi-
ço.
Quamto he Senhor a esta Nova Lusitania posto que com muito
trabalho e com asaz de fadiga tamta quanta
ho Senhor Deos sabe a cousa estaa bem premcipiada
a Deos louvores mas ha muitos encomvinientes e estorvos
para ir a cousa em crescimento e aumento como eu Senhor desejo
para serviço de Deos e de Sua Alteza. E os que eu qua Senhor
poso remedear trabalho tamto por iso quanto Senhor he
posivell, mas ao que eu não poso Senhor acudir he ne-
cesario Vossa Alteza remedear e com brevidade prover sobre
iso, se quer ser servido.
Ja tenho escripto a Vossa Alteza e lhe fiz saber por outras que escripto
lhe tenho que huma das cousas que mais denefica ao bem
e aumento destas terras he fazerse brasill nem a vim-
te legoas das povoações que se ora novamente povoam
em especiall nesta Nova Lusitania porque o brasill
Senhor esta mui lonje polo sertão a demtro e
mui trabalhoso e mui peligroso de aver e
mui custoso, e os imdeos fazem no de ma vontade
pollo quall ese que eu la tenho mandado estes anos

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fiz para mim pella licença de que me Vossa Alteza fez merce
faz se todo por sua ordem e muito devagar confor-
me ha condição dos imdeos em dez e doze meses
e em ano e meo a carrega de hum navio e que me
saia mais custoso he necesario Senhor sofreio
polo que cumpre ao bem da terra, mas a eses
a quem Vossa Alteza la faz merce de brasill como quer
que lhe custa pouco nem estão com os trabalhos e fa-
digas e nos peligros e derramamento de sangue
em que eu Senhor estou e ando não lhes da nada
Senhor de cousa alguma do que me a mim daa e do que
eu simto não ho semtem elles, nem a perda que Vossa Alteza tera
por que por fazerem seu brasil emportunão tanto os im-
deos e prometem lhe tamta cousa fora d'ordem
que metem a terra toda em desordem da ordem em que
ha eu tenho posto e se lhe dão alguma cousa
do que lhe prometem he deitar a perder ho conserto
e ordem que tinha posto para o que cumpre ao trato
deste brasil quamdo se Vossa Alteza quiser servir delle
porque não basta Senhor darlhe as ferramentas como estaa
em costume mas por fazerem os imdeos fazer brasil
dam lhe comtas da bahia e carapuças de pe-
na e roupas de cores que homem qua não pode
alcançar para seu vestir e o que pior he espadas
e espingardas em especiall huns poucos de pou-
cos homens que com favor e abriguo meu de
Ires anos para qua estão na terra de Pero Lopez
pegado comiguo que em som d'armadores de fa-
zer fazendas como abitadores na terra são ar-
madores de brasil que nunca deixão de ho fa-
zer e carregar porque de tres anos para qua tem
levados mais de seis ou sete navios carregados
de brasill. Eu ja lho tenho reqerido e feito sobre
iso ho que me pareçeo bem e serviço de Sua Alteza
e qua em minhas terras Senhor provido sobre iso
e pregoado conforme a lei que Vossa Alteza pos em minhas
doações e vou a mão a iso quamto poso, porque ser-
tefico a Vossa Alteza que de tres anos para qua que se corrom-

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peo este fazer de brasil que põe em muita comfusão
ha terra e a mim da grande trabalho e fadiga
em acodir a tamtos desconcertos e arremedear
desmanchos. Porque ate nos estovar este fazer
de brasil! ao fazermos nosas fazendas em especiall
os enjenhos porque quamdo estavam os imdeos
famintos e desejosos de ferramentas pollo que lhe dava-
mos nos vinhão a fazer as levadas e todalas
outras obras grosas e nos vinhão a vender os
mantimentos de que temos asaz necesidade. E como
estão fartos de ferramentas fazem se mais roins
do que são e alivorançam se e emsoberbesem se, e levantam se.
Porque as fazendas em especiall dos enjenhos por estarem
espalhadas e não jumtas, e os que vem a fazer
estes enjenhos não vem como homens poderosos
para resistir mas para fazerem seus proveitos
e para os eu aver d'emparar e defemder como cada
dia faço. Mas quem Senhor tera tamto dinheiro para
pollvora e piouros artelharia e armas
e as outras cousas necesarias, diguo Senhor
que he mui necesario remedear Vossa Alteza e prover
sobre isto e mandar me loguo provisão que
a vinte legoas de todas estas minhas povo-
ações, .s. [a saber] d'Olinda vinte legoas para o sull
que he ja outra jeração de imdeos e de Samta
Cruz a vinte legoas para ho norte que he ja outra
jeração na terra de Pero Lopez de Sousa se não
faça brasil! daqui a dez ou doze anos
ao menos, sob pena da mesma pena que Vossa Alteza ja
tem posto e mande me provisão disto e nisto
remedeara Vossa Alteza o que por outra via alguma se não
pode remedear e quem qiser fazer brasil ha outros
portos muitos omde ho podem fazer sem nos fazerem tanto
mall e dano e tamto desserviço de Deos e de Vossa Alteza
e este de por aqi ao redor que he o milhor de todo ou-
tro brasil ficara guardado para quando se Vossa Alteza
qiser servir delle. Que por sua ordem e com tudo resguado
se fara.

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Outro sim Senhor por as outras que atras digo ter escripto
a Vossa Alteza lhe dei comta e por esta lha torno a dar
que cumpre muito a seu serviço e ao bem e salvação
das cousas de qua mandar que pois todos somos
portugeses e seus vasallos e suditos que não huzem
huns como portugeses e outros como francezes
e outros como se fosem castelhanos. Digo isto
Senhor por esoutras pesoas a que Vossa Alteza tem dado terras
por esta costa do Brasill que em suas terras ou capi-
tanias que cumprão e fação comprir as cartas
precatorias que lhe os outros capitães e governado-
res mandarem e que fação e huzem como huza
Duarte Coelho a quem Vossa Alteza qua mandou e porque
ho qua mandou precura de fazer o que deve e ho
que cumpre a seu serviço como sempre fez
e diguo isto a Vossa Alteza porque anda esta cousa em des-
ordem e he muito necesario prover Vossa Alteza sobre
iso antes que ahi aja mais desarranjos porque
nisto não lhes quebramta Vossa Alteza suas doações
porque eu de minha parte não tão somente obedecerei
mas receberei merce de Vossa Alteza ser eu ho primeiro
a que ho mande. E os outros que sigam por isso.
Quamto he Senhor ao previlegio e liberdade
que Vossa Alteza deu a mim aserca dos omiziados que em Evora
lhe pedi se emtende nos delitos de llaa para os
que lla andarem omisiados aimda que lla sejam
comdenados por suas justiças vimdo se a estar e
a povoar comigo em minhas terras não poderam
por aqelles casos ser qua citados nem demandados
desta maneira Senhor se entemde e estoutras te-
rras e capitanias se lhes Vossa Alteza tem dado esta
liberdade entemdem na ao reves porque os de-
litos e maleficios qua cometidos e feitos
qua hão de ser punidos e castigados como for
rezão e justiça e se de minhas terras fogirem
alguns malifeitores para outras com temor do cas-
tiguo, ou doutras para a minha esta tall li-

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berdade e previlegio lhes não deve de valler
porque se asi for e como esoutros capitaes qua
costumão diguo Senhor e afirmo que se não povo-
ara a terra mas que em breve tempo se despovoara
o povoado e ira tudo atraves pollo quall Senhor
diguo que he muito necesario que todos em jerall
huzem das cartas precarias e as cumprão.
E que Vossa Alteza o mande.
Outro si Senhor ja por tres vias tenho escripto e diso
dado comta a Vossa Alteza aserca dos degradados e isto
Senhor diguo por mim e por minhas terras e por quão
pouco serviço de Deus e de Vossa Alteza he do bem e
aumento desta Nova Lusitania mandar qua
taes degradados como de tres anos para qua
me mandão porque sertefico a Vossa Alteza e lho juro
pella ora da morte que nhum fruito nem bem fa-
zem na terra mas muito mall e dano e por sua cau-
sa se fazem cada dia manes e temos perdido
o credito que ate qui tinhamos com os imdeos
porque o que Deus nem a natureza não remedeou como
eu ho poso remedear Senhor senão com cada dia
os mandar enforcar o quall he grande descredito
e menoscabo com os imdeos, e outrosi não
são para nhum trabalho vem proves e nus
e não podem deixar de husar de suas ma-
nhas e nisto cuidão e reinão sempre em fogir
e em se irem crea Vossa Alteza que são piores qua na
terra que peste pollo quall peço a Vossa Alteza que pollo amor
de Deus tall peçonha me qua não mande porque he
mais destruir o serviço de Deus e seu e o bem meu
e de quamtos estão comiguo que não huzar
de misericordia com tall jemte porque ate nos
navios em que vem fazem mill malles e como vem
mais dos degradados que da jemte que marea
os navios levamtam se e fogem e fazem mill
malles e achamos qua menos dous navios
que por trazerem muitos degradados são desaparecidos
torno a pedir a Vossa Alteza que tall jemte me qua não man-
de e que me faça merce de mandar as suas justiças

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que os não metão por força nos navios que para minhas
terras vierem porque he Senhor deitarem me a perder.
Outrosi Senhor dou comta a Vossa Alteza e lembro lhe o que
lhe ja tenho escripto que proveja e mande a todas
as pessoas a que deu terras no Brasil que venhão a po-
voar e resedir nellas que asi cumpre a seu
serviço pois esa foi ha condição, ou ja que
não vem que ponhão em suas terras pesoas autas
e soficiemtes e ouvidores que emtendam
e saibam o que hão de fazer e não homens
de por ahi por que estes taes não fazem mas des-
fazem no bem que se deve de fazer. Porque
mercenarius mercenarius sum.
Nestas terras de Pero Lopez de Sousa que Deus aja
que estão aqui jumto comiguo mande Vossa Alteza que
ponhão ahi ouvidor que saiba e emtenda ho que
ha de fazer porque tem ahi quatro pesoas que milhor
seria não estarem ahi porque outra fazenda nem
fruito não fazem senão fazer brasil d'ar-
madores e como gero castigar degradados
vão se para llaa e fazem cousas por omde mereciam
ja todos ser enforcados, se lla mando alguma
carta precatoria dizem que aqillo que he couto
e que tem previlegios estas cousas Senhor não
são para sofrer e se as eu ategora sofri foi Senhor
por não qebramtar a jurdição alhea mas pa-
receme que sera necesario e serviço de Deus e de
Vossa Alteza acudir a iso pello peligro e dano que se
pode causar das taes desordeis.
Das cousas desas terras e capitanias de baixo
este agosto pasado por hum feitor de Afomso de
Torres que aqui veo ter esprevi a Vossa Alteza por a quall
lhe dei diso alguma breve conta e por esta
torno a lembrar a Vossa Alteza que deve de prover sobre
as cousas da Bahia porque me parece comprir a seu
serviço porque Francisco Pereira he velho e doente e não

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esta para iso, e posto que Vossa Alteza la tenha tudo bem
sabido todavia direi o que eu qua Senhor entem-
do aserca do que emqeri e soube das cousas
da Bahia que posto que Francisco Pereira tenha culpa
de não saber husar com a jemte como bom capi-
tão e ser mole para resestir as doudices e
desmandos dos doudos e mall ensinados
que fazem e causão levantamentos e oniões de que
se elle não pode escuzar de cullpa todavia
Senhor cumpre e he necesario os que em tal erro
cairam por suas doudices e desordens e maos
ensinos e desobediencias que com o dito Francisco
Pereira tiveram serem mui bem castiguados
por que afirmo a Vossa Alteza que foi huma cousa mui deso-
nesta e fea e diria de muito castigo porque nellas
revolltas e levantamentos contra ho Francisco Pereira
foi a causa de se a Bahia perder. E o
cllerigo que foi o prencipio daqelle dano e
mall deve Vossa Alteza de ho mandar ir preso para Por-
tugall e que nunca torne ao Brasill porque tenho
sabido ser hum grão riballdo.
Outrosi torno a dar conta por esta a Vossa Alteza do que
pasa aserca dos dizimos e dos direitos dos en-
jenhos o quall tudo por petição do povo e re-
querimento do feitor de Vossa Alteza se procesaram autos
em os quaes eu sahi com semtença que pagasem todos
em jerall o dizimo em açuquar feito e purgado
segumdo huzo e costume nos reinos e senhorios
de Portugal com as mais rezoes que Vossa Alteza lia
vera pello trellado dos autos e sentença que com esta
vai com outros costumes novos que mandei que se huza-
sem daqui em diamte por asi ser rezão e justiça
porque estes donos dos enjenhos geriam me esfollar
o povo peço a Vossa Alteza que ho mande ler peramte si e
se lhe pareser ser justiça que ho confirme porque afir-
mo a Vossa Alteza que he justiça e que amtes vou contra ho
povo que comtra os donos dos enjenhos mas ha

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negra cobiça do mundo he tanta que turba ho
juizo aos homens para não comsederem no que
he rezão e justiça.
Torno a lembrar a Vossa Alteza e a lhe pedir proveja sobre
este fazer do brasill porque ora novamente por hum
navio que aqi chegou do Reino nos deu qua novas
de estarem la prestes para se virem aqi fazer
trinta mill quintaes e pasante delles cousa que tamto
escamdollo e allvoroço meteo neste povo d'Olinda
e em todos os moradores e povoadores destas
minhas terras e me vieram Senhor com pitições e com
reqerimentos que tall não comsemtise senão que me
encampariam as fazendas e os enjenhos e mas ouveram
por encampadas se tall consemtise, e posto Senhor
que ja o qua tinha defeso oje neste dia o tornei
mandar pregoar por todallas povoações e fazendas
que pessoa alguma ho não corte nem faça nem falle em
se fazer brasill a vinte legoas destas povoa-
ções sob a pena por Vossa Alteza posta em minhas doações
que he perdimento de bens e ir degradado para sempre
para Sam Tome isto Senhor foi mandado e provicado
em nome de Vossa Alteza e por vertude de minhas doações
pello quall Senhor he necesario mandarme Vossa Alteza logo
provisão conforme a isto porque eu prometi e jurei
ao povo de ho não fazer nem comsentir fazer
pois tamto dano por iso se recrese ao serviço
de Deus e de Vossa Alteza e ao bem e salvação de todos
os que qua estamos.
Outrosi Senhor he necesario dar comta a Vossa Alteza dalguas
outras desordens que qua andam e se huzam por
estoutras terras e capitanias de mim para baixo
para o sull. Ao quall não sei se lhes chame
povoadores ou se lhes diga e chame sallteadores
digo isto Senhor porque aos capitães ou pessoas a que Vossa Alteza
deu as terras por lei e costume militar e huzança

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de guerra elles devem mui bem de olhar e tomar
mui bom conçelho sobre ho fazer paz ou gerra
e a gerra fazerem na elles como lhes milhor pare-
ce e a necesidade se lhe oferecer e não deixa-
rem nem comsentirem que ha jemte povo andem
sallteando por todas partes a quem mais podera
salltear por omde se causa danarem e deitarem
a perder tudo e andam tão encarniçados
nisto que tem por lla tudo alevantado e não abasta
por lla mas aimda vem a salltear em minha
costa e em toda parte omde podem porque este ano
Senhor presemte vieram de llaa de baixo aqi ter
seis caravelloes como que me vinhão a ver
e a tratar com minha jemte e quamdo entem-
deram que eu estou esperando a ora que Deus for
servido de me dar posebilidade para se-
gir esta empresa do sertão que tamto desejo
por servir a Vossa Alteza ofereceram se a irem comiguo
prometendo lhes eu grandes partidos e me
pus a fazer bragantis novos e quando me não
precatei todos apanharam o panete e em pago
das boas obras que de mim receberam soube
como foram sallteando por minha costa primeiro
que a iso acodise sem poder aver a mão senão
hum so que sallteou nos pitiguoares terra
omde ora ha tres anos ouve por resgate vinte
e cinqo ou trinta portugeses que se ahi perderam
e todos quamtos imdeos traziam sallteados
lhos tomei e os tornei a mandar para suas terras
porque quando a fortuna der com alguns portu-
geses ahi a costa por ser roim parajem
tera homem esperança de hos aver por resgate
e a estes sallteadores dei ho castigo que me bem
pareceo. Dou esta conta a Vossa Alteza porque sera necesario
mandar Vossa Alteza a todos eses capitaes de baixo que
tall não huzem porque eu em minhas terras ho

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não comsimto nem comsimtirei, qis dar
de todas as sobre ditas cousas conta a Vossa Alteza
por descarrego de minha consciencia e por comprir
o que Vossa Alteza me tem mandado e emcomendado
peço a Vossa Alteza que proveja sobre todas estas cou-
sas pois cumpre a seu serviço. Desta
vila d'Olinda a 20 de dezembro de 1546.
Este março passado de 1546 foi aqui entregue a hum
piloto de hum navio de Constantim de Cairos huma caixa
de mostra d'açuqueres escolhidos para Vossa Alteza ver
e ho feitor de Vossa Alteza por meu mandado lha entregou
pregada e asi como perante mim foi consertada e soube
ora que não fora dada a Vossa Alteza posto que me diseram que fora
entregue n'allfandega e que ahi desaparecera. Mande
Vossa Alteza aos oficiaes que quado virem cousa que vai para Vossa
Alteza que lha levem e lhe seja presentada e que não desapa-
resa la pois a Deos lia lleva.
As cousas que me Vossa Alteza escrepveo que proveria para as igrejas
não lhe esquesam.

Servo de Vossa Alteza


DUARTE COELHO

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or ja ter escripto e por outras e dado conta a Vossa Alteza


do que qua paca, como por ellas Senhor vera, lhe não dou por
esta mais conta que do seu feitor e allmoxarife Vasco
Fernandes que commigo Vossa Alteza mandou a treze anos ho
quall me pedio que delle dese conta a Vossa Alteza he lhe fizese
saber que a treze anos que qua esta servindoo deixando sua
mulher e filhos sem mais tornar ao Reino he asi he
verdade. E em tudo o em que foi necesario e compria a seu serviço
o fez e deu boa conta de si e sertefico a Vossa Alteza que he
muito homem de bem, e desejoso de o servir e que não vira
por elle mall por ser homem manso e de boa consiensea
que em todos se não acha no tempo d'agora, elle ate ho pre-
sente tem gastado do seu e não aproveitado nada por
ate ho presente, tudo ser trabalhos e gastos e não proveito
allgum. E por a terra ir agora para bem a Deos llouvo-
res querem os homens fazer fundamento della e fazerem
fazendas, para ter allgua cousa de seu com que se sostentem
para o quall he necesario a merce e ajuda de Deos e de Vossa Alteza
e por elle querer ora fazer hum enjenho em huma ribeira
e nhum pedaço de terra que lhe dei, pede a Vossa Alteza por ajuda
de o fazer, lhe faça merce de lhe dar llicença para poder
mandar allgum brasill de qua por ajuda diso e que o ira
fazer por a costa domde não faça dano nem prejuizo serto Senhor
que elle diso e de toda outra merce he merecedor a Vossa Alteza

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e a mim Senhor a fará fazendo a elle pois lha merece e elle
escrepve a Vossa Alteza sobre iso por hum seu filho.
Não tenha Vossa Alteza em tam pouco estas terras do Brasill em espe-
ciall esta Nova Liusitanea, como mostra ter em pouco
pois não prove nem me responde as cartas e avisos que
a tres anos e que por tres ou quatro vias lhe tenho escripto
mostra que tem, pois a iso não aqude. Nem menos me
tenha em tam pouco e em tam pouca estima, que aja por mall
empregado em mim dar credito ao que lhe digo e escrepvo para
bem de seu serviço e responder me para que eu saiba sua entem-
sam e perqure das cousas irem como an dir porque ainda
que este prove e gastado da fazenda nhuma inveja tenho
aos mais ricos nem a suas riquesas pois do all para
o de Deos e para o do meu Rei e Senhor a poucos darei a vem-
tagem asi do pasado como do porvir confiamdo em Deos
Por outro navio que ora daqui Senhor partio esprevo a Vossa
[Alteza e as
cartas ileva Francisco Frazam meu criado aqui casado e morador
peço a Vossa Alteza as veja e me responda o que for servido porque
elle a d'esperar lla polia reposta e os gastos sam grandes
para esperar muito tempo.
Deos por sua gran misericordia tenha a Vossa Alteza e a seu
seutro reall em sua santa guarda e lhe de vitorea
contra todos os que contra elle prezumirem ser
amem. D'011inda a 22 de março de 1548.

Servo de Vossa Alteza


DUAR7E COELHO

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vera hum mes que por hum meu criado por nome Francisco
[Farazão es-
crevi a Vossa Alteza damdo lhe comia de mim e do que me parece() seu
serviço e rellatamdo lhe as ()ousas comforme ao tempo e a
necesidade seguindo meu entemder a quall me reporto e
peço a Vossa Alteza a veja e sobre ho nella conteudo proveja e me
respomda para que saiba ho que devo fazer.
Por esta Senhor quero dar conta a Vossa Alteza do que depois da outra
escripta e daqui partida a vimte dias vim a saber por car-
tas de meus amigos em especiall por huma de Manoell d'All-
burquerque que me diso deu comta, por ja lla ter pasado alguma
pratica sobre isto com allgumas pesoas que no negoceo enten-
dem ou entemder querem, os quaes segundo por huns apomtamentos
vi se ofrecem a Vossa Alteza de quererem povoar ou ajudar ha
povoar as capitanias perdidas de lla de baixo e outras
cousas que nos apomtamentos vi, para ho quall pedem a Vossa
[Alteza que
por vimte anos lhes de ho brasill todo de toda a costa
metemdo diamte de tudo ho destas minhas terras da Nova
Lusitania e asi lhe pedem que demtro no dito tempo lhe
llarge e de todollos dizemos e remdas de todallas terras
e costa do Brasill, asi ho remdimento de qua como ho de lla
do que de qua for, e outras cousas que nos apomtamentos vi.
E posto Senhor que se ofereciam algumas cousas em este instamte
para sobre isto dizer me sofri e callo e ho não faço por não ter

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serteza se ho de mim Vossa Alteza tomara segundo minha sãa e
[verdadeira em-
temção, e por aver tres anos que por quatro vias tenho esprito e
dado comta a Vossa Alteza de tudo ho que me pareceo seu serviço e ate
ho presemte não tenho visto nem avido reposta. Ho quall Senhor me
parece proceder do pouco credito que com Vossa Alteza tenho.
Mas quis Senhor acudir ho que com rezão e com justiça a mim toca
e relleva não me afastamdo do que a seu serviço cumpre
pois este foi sempre meu preposito e custume. E diguo
Senhor que quamto he a se tornarem a povoar e aproveitar
as terras e capitanias de llaa de baixo que se despovoaram da
maneira que Vossa Alteza ja lia sabe he muito bem e serviço de Deus
[e de Vossa Alteza
e se Vossa Alteza as que lhe tenho escripto vio nellas veria o que sobre
iso lhe escrepvi e dei comta, porque sempre me pareceo muito seu
serviço prover sobre iso pollos respeitos que nas minhas
a Vossa Alteza lhe lembrava. E este foi e he meu parecer que torne
ha mandar que se povoe e aproveitem as ditas terras como
Vossa Alteza for servido e for rezão e justiça.
Mas aspera cousa Senhor parece quererem eses armadores ou com-
tratadores meter ho que Deus por sua misericordia e meus gram-
des trabalhos gastos e despezas e derramamento de samge qis
que este ganhado e milhor primcipiado e povoado e regido
e guovernado e com justiça administrado que todallas outras
com ho que por muitos desvairos esta perdido. E o proveito e bem
disto que tenho adquerido e gramjeado para Vossa Alteza do que levo
muito gosto e comtemtamento em espeçiall pello mais que daqui
em diamte se mostra aver e multiplicar, e outro si
alem de me niso tirarem o gosto e comtentamento, algum
proveito e fruito que de meus trabalhos me podese vir
e caber querem no elles para si, não me parece Senhor rezão
nem justiça e Vossa Alteza niso fara ho que for servido. Mas eu Senhor
não deixarei de dizer ho que com verdade entemdo que tamto por
tamto milhor e mais rezão seria acudir com alguma ajuda
e favor a quem ho ganhou e com trabalho gasto e fadi-
ga e derramamento de samge ho pos e tem no estado em
que estaa, e para ha cousa ir de bem em milhor e se mais mull-
tiplicar e aumentar e que he ho propio pastor e não
mercenarios que querem diso adqerir e tirar seu proveito.
E por sima de tudo Vossa Alteza fara ho que for servido, posto que
[de minha
livre vomtade não comcederei em me meterem em taes ar-
mações e companhias nem quero de Vossa Alteza o que elles querem
[e pedem
somente se Vossa Alteza for servido e lhe pareser rezão e justiça para a
cousa que emtre as maos trago e desejo fazer vir a bom efeito
ajudar me e favorecer me receberei niso merce que he o seguinte.

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Quanto Senhor aos direitos e dizemos destas minhas terras asi os
de qua como os de llaa que lhe pedem torno Senhor a dizer
que Vossa Alteza os leve e aja em tudo e por tudo como se em minhas
doações comtem que nada delles lhe peço somente que delles
se tirem qua os pagamentos dos ordenados dos seçardotes
como se ora qua faz e por Vossa Alteza foi ordenado quando para
qua vim. E asi Senhor para as obras e cousas das igrejas
da obrigação de Vossa Alteza, sobre o quall tenho escripto a Vossa
[Alteza
por tres vezes e por tres vias, e sobre isto peço a Vossa Alteza que
[proveja,
por aver diso muita necesidade.
Mas ha merce que a Vossa Alteza peço e que me licitamente pode fazer
que por espaço dos vimte anos ou pollo espaço que Vossa Alteza com-
seder a eses armadores aja por bem de me largar os dizemos
dos meus propios enjenhos e isto somente do de minha lavra
e o que me pertemcer das partes que a parte dos lavradores
seja muito embora de Vossa Alteza. E isto se Vossa Alteza diso for
[servido e se não
seja como mandar.
Outrosi que por espaço do dito tempo aja por bem de me dar li-
lemça que em cada hum ano posa mandar de qua tres mill
qimtaes de brasill as minhas propias custas forros
de todos os direitos para ajuda dos sobreditos gastos para
me tornar a fornecer e reformar de cousas de que tenho
necesidade para os negoceos de qua porque não acho ja no
Reino quem me empreste nem de tamto dinheiro a caimbos, ho quall
brasill poderei mandar adomde me bem vier quer a levamte
quer a ponente omde quer que mandar buscar as cousas necesarias
e aqui sera pezado pello seu feitor e oficiaes e pasarão
sua arrecadação para omde quer que for com decllaração do que he
do quall semdo Vossa Alteza diso servido me mande pasar a provisão
e a mande dar a Manoell d'Albuquerque ou ha quem por minha
parte lha reqerer o quall brasill farei em parte omde
não faça nojo porque asi me cumpre. E digo Senhor tres mill quin-
tais porque
segun qua custa e o pouco que lla vall não se tornaram em mill quintais.
Por quamto Senhor este fazer de brasill que com tamta desor-
dem querem fazer e he tão danoso e tão oudioso o fa-
zer dele nesta comarca d'Olinda e Samta Cruz quanto ja
tenho escripto a Vossa Alteza e enviado por estromentos e pedimdo
[lhe ha
tres anos e por tres vias que sobre iso proveja porque de quam-
tos allvaraes Vossa Alteza tem mandado pasar todos se gerem
aqui vir para acabar de deitar a perder tudo e para pior
ser esta pegado comigo a terra de Pero Lopes de Sousa que Deos aja
omde não estaa o propio pastor mas hum mercenario

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por limgoa e feitor d'armadores que em outra cousa não em-
temdem senão em fazer brasil ja disto tenho dado
comta a Vossa Alteza proveja sobre iso, peço a Vossa Alteza que mande
que do cabo de Samto Agostinho ate Capiguoaribe
merim que he o estremo dos petiguoares que pode ser doze
ou treze legoas pouco mais ou menos que he tudo de
huma jeração que nesta sobre-dita comarca se não fa-
ça brasil allgum daqi a dez ou doze anos para se
ha cousa tornar a meter em ordem, pois ahi ha tam-
tos outros portos em que ho podem fazer asi do cabo
de Santo Agostinho ate São Francisco que he na mesma mi-
nha costa como dahi para baixo e na costa dos pe-
tigoares que são outras jeraçoes comtrairos destes e
fazendoo lia não nos daneficam, e a quem Vossa Alteza ou-
ver por bem de ho dar quer nos petigoares quer nos outros
meus portos de baixo podem Senhor vir aqui para mais
segoridade e toda hajuda e favor que lhes eu poder
dar lhe darei de boa vomtade asi para os petigoares
que he daqi doze qinze vinte trinta e corenta legoas
tudo costa omde ha brasil muito e bom e mais barato
que este daqi asi polia desordem como por ser dez
doze qinze legoas pello sertão a demtro, como querendo
ir aos outros meus portos do cabo de Samto Agostinho
para ho sull que he outra jeração comtrairos destes. Por-
que asi como os meus bragantins e os caravelloes dos mora-
dores andam a maior parte do ano por toda minha costa
asi poderam andar os seus navios e eu os favorecerei
e ajudarei no que poder e aqi se poderam fornecer e aviar
de limgoas e do mais que lhes cumprir e poderão com-
prar e vemder com os moradores e povoadores da terra
e fazerem seu proveito sem nos daneficarem asi
ha mim como aos que comigo estão
Posto Senhor que disto tenho esprito e dado comta a Vossa Alteza
[avera
obra de hum mes a serca de não me serem lia guarda-
das minhas doações comveo me tornar por esta a escrepver
sobre iso e dar comta a Vossa Alteza do que pasa. E a causa he
esta, allguas pesoas aqui moradores se me vieram
a qeixar de como lhes lia não geriam guardar as liber-
dades comteudas em minhas doações e sobre isto mes-
mo me escrepveram de Portugall algumas pesoas

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que comigo estam consertados para virem ou mandarem
fazer enjenhos, e parece que por saberem lla que se não guar-
davam minhas doações e porque nos allvaraes que de mim
tem diz que ei por bem e serviço de Vossa Alteza que do dia que vierem
ou por si e em sua pessoa mandarem a povoar e a fazer os en-
jenhos trazendo ou mandando trazer os oficiaes e to-
da a jemte e cousas necesarias para elles que posam gozar
dos previlegios e liberdades de moradores e povoado-
res destas minhas terras como se em minhas doaçoes
comtem. Sabido isto Senhor qua foi gramde allvoroço
e ajumtamento em todo ho povo e todolos oficiaes e pesoas
nobres e omrradas todos jumtamente se ajuntaram em
comcelho e fizeram camara, e me fizeram sobre iso huma
petição por elles asinada que com esta vai pedimdo me
com grandes cllamores que hos provese com justiça, ao quall
eu respondi o que Vossa Alteza vera nas costas da petição, e os
comsollei de seu agastamento e os apacefiqei dando lhe
allguas descullpas de Vossa Alteza diso não ser sabedor
e prometemdo lhes de logo o fazer saber a Vossa Alteza e dando lhes
esperança que Vossa Alteza proveria niso.
Para ho quall Senhor peço a Vossa Alteza veja minha carta e lhe tome
ho entemto e achara que he tudo de sustamcia de seu ser-
viço sobre que ando morremdo, que milhor me fora ja huma
morte que tamtas sem acabar de morrer, porque as cousas
destas calidades qua por fora tão alomgadas do Reino
querem se Senhor por outros meos e maneiras que não as de llaa,
e pois Vossa Alteza sabe que eu sempre tive cuidado tão especiall-
mente das cousas de seu serviço, e dado tão boa conta
de mim como Deus e Vossa Alteza sabe, e a todos he notoreo, rezão
sera Senhor que por sua parte me não venhão estorvos para as
cousas de seu serviço que desejo levar avamte. Porque
muito mais perda sera o que se pode segir não se guardamdo
has liberdades e previlegios que o proveito que diso
pode redundar. Eu não tenho para mim nem poso crer
que isto vem por Vossa Alteza nem que diso he sabedor, mas que
[por ofi-
ciaes que gerem eiceder ho modo por se mostrarem servido-
res. Ou se vem por remdeiros lembre se Vossa Alteza do que cumpre
[a seu
serviço porque eses taes não se lembrão senão de seu
proveito.
Pois Vossa Alteza sabe que polo servir qua vim e me concedeo em mi-
nhas doaçoes para se a cousa milhor e mais prestesmente
pode fazer e ir para bem como louvores a Deus vai entre

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has quaes cousas comcedeo e ouve por bem polia enformação
decllaração que diso lhe dei ouve por bem e seu servi-
ço que asi eu como todos meus erdeiros e sobceçores e todo-
llos moradores e povoadores que em minhas terras viesem
a morar, ou povoar, que de todallas mercadorias e
cousas que de qua mandaremos ou levasemos llaa
no Reino não pagasem senão huma soo siza .s. [a saber] de
dez hum e que podesem vender e fazer dellas o que lhes
bem viese, e outrosi que posto que sejam entrados ou
chegados a quallquer porto cidades villas ou lu-
gares de seus reinos e senhorios e ahi não qiserem
vender nem descarregar que livremente ho posão fazer e
irem para omde lhe bem vier sem serem constrangidos
nem lhe poderem ir a mão a iso posto que nos taes portos
cidades villas e lugares aja outros foraes ou
custumes em comtrairo deste, o quall segumdo me
de lia Senhor esprevem e qua todo o povo se me qeixa
se não guarda llaa. Nem querem guardar aos mora-
dores e povoadores que ha doze e dez e oito e seis
anos que moram e povoam na terra e qua tem grosas
fazemdas criados e espravos que onrram e aumentão
ha terra porque arguem llaa, que tem as molheres no
Reino e que lhes não hão de guardar as liberdades
e previlegios em minhas doaçoes conteudos.
Outro si pesoas nobres e poderosas que lla estão
no Reino e qua povoam e outros que querem povoar por
seus feitores e jemte e espravaria e fazer enjenhos
que he cousa reall e que muito aumenta e acresemta
ho bem da terra e dão muito proveito a Vossa Alteza e muito mais
daqui em diamte imdo a terra para bem como louvo-
res a Deus vai Vossa Alteza avera.
Outro si Senhor querem llaa aver por moradores e povoadores
o que elles querem e não os que eu qua por minha ordem
e por meu trabalho e endustria ando adquerindo para
a terra e mando asemtar no livro da matri-
colla e tombo das terras todos aqelles que são
moradores e povoadores, e a estes o feitor e allmo-
xarife de Vossa Alteza e esprivão de seu carrego pasão
as arrecadaçoes de moradores e povoadores e aos

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outros não. Outro si dizem llaa e levamtam
outro sologismo que não hão de gozar das liber-
dades os moradores e povoadores que de qua mandam
açuqeres ou algodoes senão os que forem de sua lavra
e colheita, isto Senhor parece abuzão porque em todas
as terras do mundo se custuma e huza o que eu aqi
custumo e huzo e tenho posto em ordem .s. [a saber]
que entre todos os moradores e povoadores huns fa-
zem enjenhos daçuquer porque são poderosos para iso
outros canaveaes e outros algodoaes e outros man-
timentos que he a primcipall e mais necesaria cousa
para a terra outros huzão de pescar que outrosi he
mui necesario para ha terra outros huzão de
navios que andam buscando mantimentos e tratando
pella terra comforme ao regimento que tenho posto, ou-
tros são mestres d'emjenhos outros mestres d'açuqueres
carpinteiros ferreiros pedreiros oleiros e oficiaes de formas
e sinos para os açuqueres e outros oficiaes que ando
trabalhando e gastando o meu por adqerir para terra
e os mando buscar a Portugall e a Galiza e as Ca-
nareas as minhas custas e alguns que os que vem a fazer
os enjenhos trazem, e aqi moram e povoam delles
sollteiros e delles casados aqui e delles que cada dia
caso e trabalho por casar na terra, porque toda esta
ordem e maneira Senhor se ha de ter para povoar terras
novas e tão alomgadas do Reino e tão grandes
como estas e de que se espera tamto bem e proveito
asi para ho serviço de Deus como de Vossa Alteza e para bem de
todos seus Reinos e senhorios e pollas mais rezoes
que Vossa Alteza sabe por cuja causa me qua mandou. Ora pois
Senhor pois que eu qua por minha parte trabalho e faço
tamto o que devo não comsimta Vossa Alteza lla bulirem
com taes cousas porque não he tempo para com tall se bullir
mas para mais acresemtar as liberdades e previ-
legios e não para os demenuir. Peço a Vossa Alteza que veja
esta minha e que lhe tome ho imtento e que sobre
todas estas cousas proveja com brevidade. E que
me leve em conta minha boa e sãa emtenção e pois
sabe que minha condição e emtenção he fazer verdade
e fallar verdade com todos em jerall quamto mais com Vossa Alteza

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e nas cousas de seu serviço sobre que ando trabalhando,
e que tanto cumpre e inporta, que se isto não fora e asi o não entendera
juro polia ora da morte que dias a que para Purtugall me fora, pois
sam homem para em todas partes de mais honra e proveito servir
a Vossa Alteza do que ate o presente tenho e sei de serto que dera boa
conta de mim como o que a milhor deu ou der.
Torno a pedir a Vossa Alteza que proveja sobre todas estas cousas
que lhe tenho escripto e dado conta para que saibaa o que devo fazer
e se não pase o tempo emballde que he a maior perda das perdas
pois tudo se pode cobrar senão o tempo perdido.
Deos por sua misericordia tenha a Vossa Alteza em sua guarda e a
[todallas
cousas de seu serviço e lhe de vitoria contra todos os que presumi-
rem de contra ellas ser amem. D'011inda a 15 d'abrill de 1549.
Acerqua das cousas do brasil proveja Vossa Alteza asi polia desordem
como porque o roubam com estas desordens e asi o afirmo do
que llevo grande paixam e desgosto. E se eu qua quero reme-
dear lia Senhor fasse outra cousa e não o que ordeno pollo servir
e atalhar a tanta desordem que não acho que não presuma de
fazer e tratar em brasill como tratar em erva e allcaser e villo
vender a praça eu castigei alguns que se desmandaram mas na
jurdisam alhea não entemdo senão com requirimentos e cartas
precatorias o qual não dam mais por iso que por cantigas de
sollao, eu tenho ja diso avisado a Vossa Alteza não sera a mim
a qullpa.

Servo de Vossa Alteza


DUARTE COELHO

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uma carta de Vossa Alteza me foi dada este agosto ora pasado
de 1550, a quall parece segundo a feitura della tardar
por maa navegaçam na viagem.
Polia quall carta me diz Vossa Alteza ter me ja antes desta espirito
outra por o galleam que foi para Baia, a quall carta ate o presente
não vi nem sei mais della do que por esta Vossa Alteza me diz por-
[que como
ho galleam foi ter a Baia daria as cartas a Tome de Sousa
e não veio mais de laa para qui navio allgum pollo quall da-
quellas cartas não sei dar razam a Vossa Alteza pois as não
vi.
Quanto ao que por esta me Vossa Alteza escrepve e diz que ha por bem
asi por follgar de me fazer merce, como pollas mais razões
conteudas em minhas cartas que lhe o ano pasado esprevi
que e estar como estava e guardar me minhas doações e que
não se entenda em mim o que tinha mandado a Tome de Sousa
nem ele venha qua nem entenda em minha jurdiçam, no quall
Vossa Alteza fez he usa como magnanimo e vertuosisimo e justi-
simo rei e senhor, he eu tall confiança de Vossa Alteza tinha
e tenho muito perfeitamente e terei em mentres ho Senhor Deos lhe
sostentar os dias de vida, e afirmo a Vossa Alteza que a todos
pareceo tanto bem e tam eicellente enxempro quall era razam
he se de Vossa Alteza esperava por sua reall e magnanima com-
diçam e virtuosisima encrinaçam, e pois he ho
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tom` 1-711.1:
ho lluzeiro e estrela do norte por onde todos avemos
de navegar, e seguirmos em nosas hobrigações hos que
caregos por Sua Alteza tivermos e tiverem.
Pollo quall praza ao Senhor Deos acresente e conserve seus
reaes dias de vida com muita prosperidade e vitorea
que lhe dara contra todolos que ententaren ser contra
Vossa Alteza e contra seu reall estado e seutro reall amem
e a mim deixe e ajude ate o fim de meus dias servillo como
ate qui fiz e com ho mesmo amor e llealldade e verdade
amem.
Quanto he Senhor ao que por esta me Vossa Alteza diz he manda
que pois ate qui fiz ho que devia e guardei justiça e que
diso tenha quidado como sam obrigado eu prometo
a Vossa Alteza que asi o faça, porque aliem de mo Vosa Alteza
mandar he de minha condiçam e incrinaçam fazer
ho que devo e não estimar pelligro allgum e antes ir
contra mim que contra as partes e antes dar trabalho
a mim que dallo aos outros e meu costume he Senhor
ser aspero no reprenender e moderado no
castigar. Porque posto que seja pecador he hum bichino
da terra amoo e temo ao Senhor Deos por sua divina mise-
ricordia de quem nos vem todo bem. Pollo quall senpre me
ho Senhor Deos livrou de muitos pelligros e me ajudou
a que senpre de mim dese boa conta e asi confio em elle
meu Deos que me ajudara ate o fim de meus dias.
Quanto Senhor a merce que me ora por esta sua faz para mim
e em vida de Vosa Alteza bastava porque outras merces he
honras ainda espero, mas para o da diante, para com
seus filhos que Deus deixara lograr depois de Vossa Alteza
e por fim de seus dias, seus reinos e senhorios he
Senhor necesario ser por alvara de confirmação sinada
por Vossa Alteza e sellada de seu sello e pasado por sua chãn-
selheria conforme as minhas doações e isto outro si
por causa destas mudanças que ora ouve. Depois ao diante
não aja hl alguns mas conselheiros que com os reis se
querem congraçar, as qustas de suas consienceas
de que se os taes induzidores não dão nada por não
terem amor verdadeiro senão aos seus intereses
seguindo suas incrinações não olhando a obrigaçam
do seu rei e senhor que diante se devia de por e respeitar
pollo qual peço a Vossa Alteza pois começou acabe de me
fazer esta justa merce.

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Ha rezam Senhor me hobriga por descarego de comsien-
sea a dar disto esta breve conta a Vossa Alteza, e digo que
todo este povo e repruvica desta Nova Llusitanea
foi e esta mui alterado e confuso, com estas mudanças
e afirmo a Vossa Alteza que se por mim não fora que se que-
riam muitos ir da terra. E isto sobretudo em lhes não
quererem seus oficiaes qua nem no Reino guardar suas
'liberdades e previllejos conteudos em minhas doações e
forall que lhe por mim foram provicado e pregoado e estes
oficiaes que qua vieram quiseram usar d'asperezas que para
em taall tempo e sazam e para em terras novas não eram
e tam cedo, porque sam Senhor cousas mais para despovoar
e povoado que para povoar ho despovoado. Eu
Senhor remedeei tudo isto como milhor pude e com muito
sofrimento com o siso que me ho Senhor Deos deu, como
tudo esta por asentos e autos que sobre iso se fizeram
e toda esta gente da me Senhor a qullpa por eu favore-
cer tanto a seus oficiaes, o quall eu juro polla ora
da morte que fiz por serviço de Vossa Alteza por ser asi ne-
cesario porque a seus hoficiaes que qua vieram não
os conhecia nem lhe devia usar com elles como usei
e fiz, e dei maneira que me não fizesem 'logo então
requirimentos prometendo lhe que eu espreveria sobre
tudo a Vossa Alteza como lho escrepvi, de que não tenho reposta.
Agora fizeram me grandes requirimentos e protestos
para que lhes guardase e fizese guardar as 'liber-
dades e previllejos que ate qui lhe foram guardados
e lhes ora queriam quebrar e se não que largariam
a terra. Eu Senhor lhes respondi o que me bem e razam
pareceo ho quall tem para mandar presentar a Vossa
Alteza e requerer de sua justiça.
Pollo quall Senhor digo que he necesario dizer acerqua disto a
Vossa Alteza a verdade do que me parece seu serviço e descarego
de sua consiencea e da minha se lho não diser pollo
quall digo que he muito oudiosa cousa e prejudica-
tiva ao serviço de Deos e seu e proveito de sua fazenda
e bem e aumento das cousas que tam caro qustam que-
brar e não guardar as 'liberdades e previllejos aos
moradores e povoadores e vasallos de que ja estam de
pose e de que usam depois de lhe serem provicados
e pregoados como por minhas doaçoes lhes eu denun-
ciei e pregoei.

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Ho que em tempo allgum nem em parte allguma se não deve
fazer, quanto mas tam cedo e e estas partes tam a-
llongadas do Reino, e que com tanto trabalho pelligro e
gasto se faz e povoa e sostenta, como Senhor sam estas terras
e o Senhor Deos o sabe e eu que o padeço.
Tome Vosa Alteza isto de mim como o deve de tomar de quem se
diso doe e o deseja servir asi acerqua do que a sua hobriga-
çam e consiencea toqua, como no do seu proveito, por-
que a gente contente e quieta estara e areigara na
terra e faram fazendas, de que muito dobrado e tres-
dobrado proveito Vossa Alteza tera desta terra e cada vez mais
isto Senhor he asi averiguadamente polla esperiencea que tenho
que rifam verdadeiro he que quem as sabe as tanje. E não
deve Vossa Alteza dar credito a quem o não entemde e lhe vai
com fallças enformaçoes e vãas e sopresticiosas im-
novações que não importam a seu serviço nem proveito mas
por deradeiro se vera ser seu desserviço e perda e o tempo
dara diso testemunho se se não emendar o ero.
Pois eu Senhor trabalho como trabalho e faço ho que faço por a
cousa ir avantra como cumpre a serviço de Deos e seu e com a gente
uso como uso por todallas vias e com lhes fazer todallas boas
obras e avondanças do meu e do que a mim toca por a cousa
ir avante sem ate o presente ter proveito mas muitos
gastos e despesas do quall Vosa Alteza he servido e tem proveito
e cada vez mais se espera, peço a Vossa Alteza que por sua parte
se não prejudique este bem, pois não ha de por do seu
mas acresentallo com somente guardar e conservar os
previllejos e lliberdades que me consedeo para meus mora-
dores e povoadores como ouve por serviço de Deos e seu.
Qua Senhor foram provicados muitas novidades que por outra
dou conta a Vossa Alteza e allguas delias prejudicam a mim e ao
povo moradores e povoadores desta Nova Llusitanea e sam
bem contra seu serviço, e asi me deixou aqui diso o prove-
dor mor Antoneo Cardoso em seu regimento as ditas novidades
e asi que Vossa Alteza madava e com pena que eu não entemdese em
sua fazenda ao quall digo que isto me não prejudica por minha
parte, porque nem da minha queria ter quidado mas se
prejudicar a fazenda de Vossa Alteza iso vejalla que a mim não seria
qullpa, mas ali de menos não sera por me eu nunca
em parte allguma nem em tempo allgum aproveitar de sua
fazenda nem lhe ser em carego de hum soo reall nem nunca
o Deos permita nem mande que lhe eu Senhor seja nunca em tall
carego, mas antes se achara he he pruvico e no-
toreo ter eu em toda parte aliem dos serviços de minha
pesoa o servi e a seu pai, que Deos em sua glloria tem com
muitos gastos de minha fazenda na Indea e aqui e em todas
partes e asi o juro pollo meu Deos que creio e adoro.

91
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sem oje em dia ter nem llevar tença nem juro de Vossa Alteza nem esa
moradia que tinha depois que de la parti que agora faz dezaseis
anos não a venço sequer para especearia que não poso
viver sem ella. Digo isto Senhor porque isto deste regi-
mento destes seus novos oficiaes ou foi ennovação delles ou
allguma fallça enformação dallgum pouco vertuoso que contra mim
dese o que me não maravilho dizerem os maos de mim servo
dos servos de Deos pois delle mesmo Deos dizem. Porem
não se deve dar credito contra mim sen eu ser ouvido pois
minha condiçam vida e obras sam tam aprovadas e conhe-
cidas minhas cousas e a conta que em tudo tenho de mim dado
a Deos graças e llouvores. E creia Senhor de mim que tudo ho
que tomo a carego tomo e faço como propio pastor e não
como mercenario. E por iso o Senhor Deos ajuda e confio que a-
judara ate o fim de meus dias porque dizem os naturaes
que no nacer e no viver e no morer se vera quem cada
hum he.
Muitas cousas se me ofrecem para poder dizer que por não enfadar
a Vossa Alteza e por ser de tam longa via o deixo para quando me com
Vossa Alteza vir o que bem desejo. Somente Senhor digo que ao
[presente
estamos de paz e pacificos a Deos llouvores, e estes cinquo
enjenhos estam de todo moentes e corentes e cada dia se
fazem mais fortes as casas deles polia maneira de hum
que eu tenho feito. E tudo vai para bem se estas mudanças ho
não estorvar. Mas outros enjenhos que commigo esta-
vam averiguados estes estam duvidosos e me escrepvem que core RI
não saberem guardarem lhes as lliberdades e previllejos
que lhes foram por mim provicados conteudos em minhas doações
e forall pois lhes eu guardo o que lhes fiqui que não viram
peço a Vossa Alteza pollo que a serviço de Deos cumpre e ao proveito de
sua fazenda que mande comprir e guardar as lliberdades
e previllejos conteudos em minhas doações e forall aos mora-
dores e povoadores que eu tiver asentados por moradores
e povoadores em o llivro da matricolla e tonbo que para iso
he feito des o principio e com isto deixe me fazer e vera ho
proveito que se diso sege. Desta vila d'011inda a 24 de
novembro de 1550.
Servo he vasallo de Vossa Alteza

DUARTE COELHO

93
CeaJeia4, Ceoedo- a

versão moderna

Cleonir Xavier de Albuquerque


elo capitão dos navios que daqui mandei o mês de
setembro passado, dei conta a Vossa Alteza de minha
viagem e chegada a esta Nova Lusitânia e do que aqui
era passado. (i) Depois meti-me, Senhor, a dar ordem ao sossego e
paz da terra, com dádivas a uns e apaziguando a outros porque tudo
é necessário. E assim dei ordem a se fazerem engenhos de açúcares
que de lá trouxe contratados, fazendo tudo quanto me requereram e
dando tudo o que me pediram, sem olhar a proveito nem interesse
algum meu, mas a obra ir avante, como desejo. Temos grande soma
de canas plantadas, todo o povo, com todo trabalho que foi possível,
e dando a todos a ajuda que a mim foi possível, e cedo acabaremos
um engenho muito grande e perfeito, e ando ordenando a começar
outros.(2) Praza ao Senhor Deus que me ajude segundo Sua grande
misericórdia e minha boa intenção.
Quanto, Senhor, às cousas do ouro, nunca deixo de inquirir e
procurar sobre elas, e cada dia se esquentam mais as novas; mas,
como sejam longe daqui pelo meu sertão a dentro, e se há-de passar
por três nações de muito perversa e bestial gente e todas contrárias
umas das outras, há-de realizar-se esta jornada com muito perigo e
trabalho, para a qual me parece, e assim a toda minha gente, que se
não pode fazer senão indo eu; e ir como se deve ir e empreender tal
empresa, para sair com ela avante, e não para ir fazer aventuras,
como os do rio da Prata, onde se perderam mais de mil homens
castelhanos, ou como os do Maranhão, que perderam setecentos, e o
pior é ficar a cousa prejudicada. (3) E por isso, Senhor, espero a hora
do Senhor Deus, na qual praza a Ele que me confie esta empresa,
para Seu santo serviço e de Vossa Alteza, que este será o maior
contentamento e ganho que eu disso queria ter. (4)
97
Isto, Senhor, tenho assentado e mandado aí buscar cousas
necessárias para a jornada e alguns bons homens, porque é necessário
deixar aqui tudo provido e a bom recado, por todas as vias, em
especial por os franceses, os quais se sentirem não estar eu na terra,
começarão a fazer das suas velhacarias, pois há quatorze dias aqui
quiseram fazer o que costumavam, mas não puderam. Mando a Vossa
Alteza a notícia disso para que a veja, se for necessário. (5)
Em tudo, Senhor, eu tenho o cuidado que se deve ter nas
cousas de seu serviço e Deus me ajude e me dê a Sua hora para tudo
ir a bom fim. Pero de Góis e Luís de Góis, que ora por aqui passam,
darão a Vossa Alteza as mais novas de mim e da terra e não me alargo
mais nesta e deles pode Vossa Alteza saber das cousas daqui. (6) E
porque para as cousas de tanta importância há necessidade de muito
grandes gastos e eu estou muito gastado e endividado, e não posso
suportar tanta gente de soldo como até aqui suportei, há já três anos
que pedi a Vossa Alteza me fizesse mercê de me dar licença e maneira
de haver alguns escravos de Guiné por resgate, e o ano passado
respondeu-se-me que até se acabar o contrato que era feito nada se
podia fazer, dando-se-me a entender que, acabado, seria provido,
pelo que já escrevi a Vossa Alteza sobre isso. (7) Não sei se me fez esta
mercê, porque os navios não são ainda chegados. Peço a Vossa Alteza
que, se me não concedeu esta licença, olhe quanto isto é do seu
serviço, e quão pouco dano e estorvo faz dar-me licença para obter
alguns escravos para o servir melhor. A Dom Pedro de Moura e a
Manuel de Albuquerque mande Vossa Alteza dar a provisão para isto. (8)

Desta Vila de Olinda, a 27 de abril de 1542

Servo de Vossa Alteza

DUARTE COELHO

98
PWidA5vie

osto que neste ano de 1546 tenha escrito por três vezes
a Vossa Alteza, dando-lhe conta das cousas daqui, e de
algumas que me pareceram de seu serviço, pela incerteza
das cousas do mar, quis, Senhor, por esta tornar a dar a mesma conta,
para Vossa Alteza prover o que for seu serviço? )
Quanto, Senhor, a esta Nova Lusitânia, posto que com muito
trabalho e com assaz de fadiga, tanta quanta o Senhor Deus sabe, a
cousa está bem principiada, a Deus louvores, mas há muitos
inconvenientes e estorvos para ir a cousa em crescimento e aumento,
como eu, Senhor, desejo, para serviço de Deus e de Sua Alteza. E os
que eu aqui, Senhor, posso remediar, trabalho tanto por isso quanto,
Senhor, é possível, mas ao que eu não posso, Senhor, acudir, é
necessário Vossa Alteza remediar e com brevidade prover sobre isso,
se quer ser servido.
Já tenho escrito a Vossa Alteza e lhe fiz saber por outras que
lhe tenho escrito, que uma das cousas que mais prejudica ao bem e
aumento destas terras é fazer-se pau-brasil mesmo a vinte léguas das
povoações que se começam a formar, em especial nesta Nova Lusitânia,
porque o brasil, Senhor, está muito longe pelo sertão a dentro e é
muito trabalhoso e perigoso de obter, e muito custoso, e os índios
fazem-no de má vontade. (10) Esse que eu lá tenho mandado, estes
anos passados, para Vossa Alteza, e assim um pouco que até o presente
fiz para mim, pela licença de que Vossa Alteza me fez mercê, (1 i) faz-
se todo por sua ordem e muito devagar, conforme a condição dos
índios, em dez, doze meses e em ano e meio a carga de um navio, e
embora me saia mais custoso, é necessário, Senhor, sofrê-lo pelo que

99
importa ao bem da terra. Mas a esses a quem Vossa Alteza aí faz
mercê de brasil , como lhes custa pouco, nem estão com os trabalhos
e fadigas e nos perigos e derramamentos de sangue em que eu, Senhor,
estou e ando, não lhes dá nada, Senhor, de cousa alguma do que a
mim dá, e o que eu sinto não o sentem eles, nem a perda que Vossa
Alteza terá. Porque, por fazerem seu brasil, importunam tanto os
índios e prometem-lhes tanta cousa fora da ordem, que metem a terra
em desordem da ordem em que eu a tenho posto; e se lhes dão
alguma cousa do que lhes prometem, deitam a perder o concerto e
ordem que eu tinha posto para o que convém ao trato deste brasil ,
quando Vossa Alteza se quiser servir dele. Porque não basta, Senhor,
dar-lhes as ferramentas, como está em costume, mas, por induzirem
os índios a fazer brasil, dão-lhes contas da Bahia e carapuças de
pena e roupas de cores que homem aqui não pode alcançar para seu
vestir, e, o que é pior, espadas e espingardas, em especial uns poucos
homens que, com favor e abrigo meu, de três anos para cá estão na
terra de Pero Lopes, pegada comigo, os quais, com disfarce de esta-
belecer fazendas como habitantes na terra, são exploradores de brasil,
que nunca deixam de o fazer e carregar, porque de três anos para cá
têm levado mais de seis ou sete navios carregados dele. (12) Eu já
tenho requerido e feito sobre isso o que me pareceu bem e serviço de
Sua Alteza, e aqui em minhas terras, Senhor, provido sobre isso e
apregoado conforme a lei que Vossa Alteza pôs em minhas doações
e procuro impedir isso quanto posso. (13) Porque afirmo a Vossa Alteza
que de três anos para cá se perverteu este fazer de brasil, que põe em
muita confusão a terra, e a mim dá grande trabalho e fadiga em
acudir a tantos desconcertos e remediar desacertos. Até nos estorva
este fazer de brasil o fazermos nossas fazendas, em especial os
engenhos, porque quando estavam os índios famintos e desejosos de
ferramentas, pelo que lhes dávamos nos vinham a fazer as levadas e
todas as outras obras grossas e nos vinham a vender mantimentos de
que temos assaz necessidade, e, como estão fartos de ferramentas,
fazem-se piores do que são e alvoroçam-se e ensoberbecem-se e
revoltam-se.
As fazendas, em especial os engenhos, estão espalhados e não
juntos, e os que vêm a fazer estes engenhos não vêm como homens
poderosos para resistir, mas para fazerem seus proveitos e para eu os
haver de amparar e defender como cada dia faço. (14) Mas, quem,
Senhor, terá tanto dinheiro para pólvora e pelouros, artilharia e armas
e as outras cousas necessárias? Digo, Senhor, que é muito necessário
remediar Vossa Alteza e prover sobre isso e mandar-me logo provisão
para que a vinte léguas de todas estas minhas povoações, a saber, de
Olinda vinte léguas para o sul, que é já outra nação de índios, e de

100
Santa Cruz a vinte léguas para o norte, que é já outra nação, na terra
de Pero Lopes de Sousa, não se faça brasil daqui a dez ou doze anos
ao menos, sob a mesma pena que Vossa Alteza já tem posto, e mande-
me provisão disto. (15) Com isto remediará Vossa Alteza o que por
outra via alguma se não pode remediar. E quem quiser fazer brasil há
muitos outros portos onde o podem fazer, sem nos fazerem tanto mal
e dano e tanto desserviço de Deus e de Vossa Alteza; e o de por aqui
ao redor, que é o melhor de todo este brasil, ficará guardado para
quando Vossa Alteza se quiser servir, o que por sua ordem e com
toda a prudência se fará. (16)
Outrossim, Senhor, pelas outras que atrás digo ter escrito a
Vossa Alteza, lhe dei conta, e por esta lha torno a dar, que convém
muito a seu serviço e ao bem e salvação das cousas daqui, mandar
que, pois todos somos portugueses e seus vassalos e súditos, não
procedam uns como se fossem portugueses e outros como franceses
e outros como se fossem castelhanos. Digo isto, Senhor, por essas
pessoas a quem Vossa Alteza tem dado terras por esta costa do Brasil,
para que em suas terras ou capitanias cumpram e façam cumprir as
cartas precatórias que os outros capitães e governadores lhes
mandarem, e façam e pratiquem como pratica Duarte Coelho, a quem
Vossa Alteza aqui mandou, e porque o aqui mandou procura fazer o
que deve e o que convém a seu serviço, como sempre fez. Digo isto
a Vossa Alteza porque anda esta cousa em desordem e é muito
necessário prover Vossa Alteza a isso, antes que aí haja mais desarranjos,
porque nisto não lhes quebranta Vossa Alteza suas doações, porque
eu de minha parte não tão somente obedecerei, mas receberei mercê
de ser eu o primeiro a quem Vossa Alteza o mande, e os outros que
sigam por isso. (17)
Quanto é, Senhor, ao privilégio e liberdade que Vossa Alteza
deu a mim acerca dos homiziados, que em Évora lhe pedi, se entende
nos delitos daí, para os que aí andarem homiziados, ainda que aí
sejam condenados por suas justiças; vindo a estar e a povoar comigo
em minhas terras, não poderão, por aqueles casos, ser aqui citados
nem demandados. Desta maneira, Senhor, se entende, mas as outras
terras e capitanias às quais Vossa Alteza tem dado esta liberdade,
entendem-na ao revés, porque os delitos e malefícios aqui cometidos
e feitos, aqui hão de ser punidos e castigados como for razão e justiça.
Se de minhas terras fugirem alguns malfeitores para outras, com temor
do castigo, ou de outras para a minha, esta tal liberdade e privilégio
não lhes deve valer, porque se assim for, como estes outros capitães
costumam fazer, digo, Senhor, e afirmo, que se não povoará a terra,
mas em breve tempo se despovoará o povoado e irá tudo ao través,
pelo que, Senhor, digo que é muito necessário que todos em geral

1 01
usem das cartas precatórias e as cumpram, e que Vossa Alteza o
mande. (18)
Outrossim, Senhor, já por três vias tenho escrito e dado conta
a Vossa Alteza acerca dos degredados, e isto, Senhor, digo por mim e
por minhas terras, e como é pouco serviço de Deus e de Vossa Alteza
e do bem e aumento desta Nova Lusitânia, mandar para aqui tais
degredados, como de três anos para cá me mandam. Porque certifico
a Vossa Alteza e lhe juro pela hora da morte, que nenhum fruto nem
bem fazem na terra, mas muito mal e dano, e por sua causa se fazem
cada dia males, e temos perdido o crédito que até aqui tínhamos com
os índios, porque o que Deus e a natureza não remediou, como eu
posso remediar, Senhor, senão com cada dia os mandar enforcar, o
que é grande descrédito e menoscabo com os índios. Outrossim não
são para nenhum trabalho, vêm pobres e nus, e não podem deixar de
usar de suas manhas, e nisto cuidam e planejam sempre fugir e se ir.
Creia Vossa Alteza que são piores aqui do que peste, pelo que peço a
Vossa Alteza, pelo amor de Deus, que tal peçonha para aqui não me
mande, porque é mais destruir o serviço de Deus e seu e o bem meu
e de quantos estão comigo, que usar de misericórdia com tal gente,
porque até aos navios em que vêm fazem mil males, e como vêm
mais dos degredados que da gente da tripulação dos navios, revoltam-
se e fogem e fazem mil males, e achamos menos dois navios, que por
trazerem muitos degredados estão desaparecidos. Torno a pedir a
Vossa Alteza que não me mande tal gente, e me faça mercê mandar às
suas justiças que os não metam por força nos navios que para minhas
terras vierem, porque é, Senhor, deitarem-me a perder." 9)
Outrossim, Senhor, dou conta a Vossa Alteza e lembro-lhe o
que já lhe tenho escrito, que proveja e mande a todas as pessoas a
quem deu terras no Brasil, que venham a povoar e residir nelas,
porque assim convém a seu serviço, pois essa foi a condição. Ou, já
que não vêm, que ponham em suas terras pessoas aptas e suficientes
e ouvidores que conheçam e saibam o que hão de fazer, e não
homens quaisquer, porque estes não fazem mas desfazem no bem
que se deve fazer, porque mercenarius mercenarius sum.(20)
Nestas terras de Pero Lopes de Sousa, que Deus haja, que
estão aqui junto às minhas, mande Vossa Alteza que nelas ponham
ouvidor que saiba e entenda o que há de fazer, porque têm ali quatro
pessoas que melhor seria não estarem, porque outra cousa não fazem
senão brasil para os armadores, e quando quero castigar degredados
vão-se eles para lá e fazem cousas por onde já mereciam todos serem
enforcados; se lhes mando alguma carta precatória, dizem que ali é
couto e têm privilégios. Estas cousas, Senhor, não são para sofrer, e
se eu até agora as sofri, foi, Senhor, por não desrespeitar a jurisdição

102
alheia, mas parece-me que será necessário e do serviço de Deus e de
Vossa Alteza acudir a isso, pelo perigo e dano que se pode causar
com tais desordens. (")
Das cousas das terras e capitanias do sul este agosto passado,
por um feitor de Afonso de Tôrres que aqui veio ter, escrevi a Vossa
Alteza, e pela carta lhe dei disso alguma breve conta; por esta torno a
lembrar a Vossa Alteza que deve prover sobre as cousas da Bahia,
pois me parece convir a seu serviço, porque Francisco Pereira é velho
e doente e não está para isso. E posto que Vossa Alteza lá tenha tudo
bem sabido, todavia direi aqui o que eu, Senhor, entendo acerca do
que inquiri e soube das cousas da Bahia. Posto que Francisco Pereira
tenha culpa de não saber governar sua gente como bom capitão, e
ser mole para resistir às doidices e aos desmandos dos doidos e mal
ensinados, que fazem e causam levantamentos e partidos de que ele
não se pode escusar de culpa, todavia, Senhor, convém e é necessário,
aos que em tais erros caíram, por suas doidices e desordens e mal
ensinos e desobediências que com o dito Francisco Pereira tiveram,
serem muito bem castigados, porque afirmo a Vossa Alteza que foi
uma cousa muito desonesta e feia e digna de muito castigo, porque
aquelas revoltas e levantamentos contra o Francisco Pereira foram a
causa de a Bahia se perder. E o clérigo, que foi o princípio daquele
dano e mal, deve-o Vossa Alteza mandar ir preso para Portugal e que
nunca torne ao Brasil, porque tenho sabido ser um grande ve-
lhaco. (22)
Outrossim torno a dar conta por esta a Vossa Alteza do que se
passa acerca dos dízimos e dos direitos dos engenhos, do que tudo
por petição do povo e requerimento do feitor de Vossa Alteza se
lavrou em autos, nos quais se deu por sentença que pagassem todos,
em geral, os dízimos em açúcar feito e purgado, segundo uso e costume
dos Reinos e senhorios de Portugal, com as mais razões que Vossa
Alteza verá pelo traslado dos autos e sentença que com esta vai, com
outros costumes novos que mandei que se usassem daqui por diante,
por assim ser razão e justiça, porque estes donos dos engenhos queriam
esfolar o povo. Peço a Vossa Alteza que o mande ler perante si, e se
lhe parecer ser justiça o confirme, porque afirmo a Vossa Alteza que
é justiça, e antes vou contra o povo que contra os donos dos engenhos,
mas a negra cobiça do mundo é tanta, que turva o juízo aos homens
para não concederem o que é razão e justiça. (23)
Torno a lembrar a Vossa Alteza e a lhe pedir proveja sobre o
fazer do brasil, porque recentemente, por um navio que aqui chegou
do Reino, nos deram novas de estarem aí prestes para virem aqui
fazer trinta mil quintais e mais dele, cousa que tanto escândalo e
alvoroço causou neste povo de Olinda e em todos os moradores e

103
povoadores destas minhas terras; e me apresentaram, Senhor, petições
e requerimentos que eu tal não consentisse, senão que abandonariam
as fazendas e os engenhos e os haveriam por abandonados se tal
consentisse. E posto que, Senhor, já o tenha proibido, hoje de novo
o tornei a apregoar por todas as povoações e fazendas, que pessoa
alguma o corte, nem faça, nem fale em fazer pau-brasil a vinte léguas
destas povoações, sob a pena por Vossa Alteza posta em minhas
doações, que é a perda de bens e ir degredado para sempre para São
Tomé. Isto, Senhor, foi mandado e publicado em nome de Vossa
Alteza, por virtude de minhas doações, pelo que, Senhor, é necessário
mandar-me Vossa Alteza logo provisão nesta conformidade, porque
eu prometi e jurei ao povo o não fazer nem consentir fazer, pois tanto
dano por isso sobrevem ao serviço de Deus e de Vossa Alteza e ao
bem e salvação de fidos os que aquiestam os(z 4)
Outrossim, Senhor, é necessário dar conta a Vossa Alteza de
algumas outras desordens de que aqui usam e praticam por estas
outras terras e capitanias de mim para baixo, para o sul, e não sei se
lhes chame povoadores ou se lhes diga e chame salteadores. Digo
isto, Senhor, porque os capitães ou pessoas a quem Vossa Alteza deu
as terras, por lei e costume militar e usança de guerra devem muito
bem olhar e tomar muito conselho sobre o fazer paz ou guerra; e a
guerra fazerem-na eles como lhes melhor parecer e a necessidade se
lhes oferecer. Mas não deixarem nem consentirem que a gente ande
salteando, por todas as partes, a quem poderem saltear, por onde se
causa danar-se e deitar-se a perder tudo. E andam tão encarniçados
nisto, que têm por lá tudo revoltado, e não lhes basta por lá, mas
ainda vêm saltear em minha costa e em toda parte onde podem. Este
ano presente, Senhor, vierem de lá de baixo aqui ter seis caravelões,
como que vinham a ver e a comerciar com minha gente; e quando
entenderam que eu estava esperando a hora em que Deus for servido
de me dar possibilidade para seguir esta empresa do sertão, que tanto
desejo por servir a Vossa Alteza, ofereceram-se a irem comigo,
prometendo-lhes eu grandes vantagens, e me pus a fazer bergantins
novos; e quando me não acautelei todos levantaram vela e, em pago
das boas obras que de mim receberam, foram salteando por minha
costa, antes que eu a isso acudisse, sem poder haver à mão senão um
só, que salteou nos pitiguares, terra onde, há três anos agora, houve
por resgate vinte e cinco ou trinta portugueses que ali se perderam.
Todos os índios que traziam cativados lhos tomei e os tornei a mandar
para suas terras, porque quando a fortuna der ali com alguns
portugueses à costa, por ser ruim a paragem, ter-se-á esperança de os
haver por resgate. A estes salteadores dei o castigo que me pareceu
merecido. Dou esta conta a Vossa Alteza pois será necessário mandar

104
Vossa Alteza a todos estes capitães de baixo, que tal não pratiquem,
porque eu em minhas terras o não consinto, nem consentirei. Quis
dar de todas as sobreditas cousas conta a Vossa Alteza, por descargo
de minha consciência e por cumprir o que Vossa Alteza me tem
mandado e encomendado. (25) Peço a Vossa Alteza proveja sobre todas
estas cousas, pois são convenientes a seu serviço. Desta vila de Olinda,
a 20 de dezembro de 1546.
Este março passado de 1546 foi aqui entregue a um piloto de
um navio de Constantino de Caires uma caixa de amostras de açúcares
escolhidos para Vossa Alteza ver, e o feitor de Vossa Alteza, por meu
mandado, lha entregou pregada, como perante mim foi preparada.
Soube agora que não fora dada a Vossa Alteza, posto que me disseram
que fora entregue na Alfândega, e que daí desaparecera. Mande Vossa
Alteza aos oficiais que, quando virem cousa que vai para Vossa Alteza,
lha leve e lhe seja apresentada e que não desapareça lá, pois Deus a
leva.(26)
As cousas que Vossa Alteza me escreveu que proveria para as
igrejas, não lhe esqueçam.
Servo de Vossa Alteza

DUAR IE COELHO

105
or já ter escrito e por outras dado conta a Vossa Alteza
do que aqui passa, como por elas, Senhor, verá, não lhe
dou por esta mais conta que do seu feitor e almoxarife
Vasco Fernandes, que Vossa Alteza mandou comigo há treze anos, o
qual me pediu que dele desse conta a Vossa Alteza e lhe fizesse saber
que há treze anos que aqui o está servindo, deixando sua mulher e
filhos, sem mais tornar ao Reino, e assim é verdade. Em tudo em que
foi necessário e convinha a seu serviço, o fez e deu boa conta de si,
e certifico a Vossa Alteza que é muito homem de bem e desejoso de
o servir e que não virá por ele mal, por ser homem manso e de boa
consciência, o que em todos se não acha no tempo de agora. Até o
presente tem gastado do seu e não aproveitado nada, por até o presente
tudo ser trabalhos e gastos, e não proveito algum. (27) E por a terra ir
agora em aumento a Deus louvores, querem os homens fazer
fundamento nela e fazerem fazendas, para ter alguma cousa de seu
com que se sustentem, para o que é necessário a mercê e ajuda de
Deus e de Vossa Alteza. Por ele querer agora fazer um engenho em
uma ribeira, em um pedaço de terra que lhe dei, pede a Vossa Alteza,
por ajuda para o fazer, lhe faça mercê de lhe dar licença para poder
mandar algum pau-brasil daqui, e que o irá fazer pela costa, onde
não faça dano nem. prejuizo. (28) Certo, Senhor, que ele disso e de toda
outra mercê é merecedor a Vossa Alteza, e a mim, Senhor, a fará
fazendo-a a ele, pois a merece, e ele escreve a Vossa Alteza sobre isso
por um seu filho.
Não tenha Vossa Alteza em tão pouco estas terras do Brasil,
em especial esta Nova Lusitânia, como mostra ter, pois não provê
nem me responde as cartas e avisos que há três anos e por três ou

107
quatro vias lhe tenho escrito; mostra que tem, pois a isso não acode.
Nem me tenha em tão pouco e em tão pouca estima, que haja por
mal empregado dar crédito ao que lhe digo e escrevo, para bem de
seu serviço, e responda-me para que eu saiba sua intenção e procure
que as cousas vão como hão de ir, porque, ainda que esteia pobre e
gastado da fazenda, nenhuma inveja tenho aos mais ricos nem a suas
riquezas, pois para o de Deus e para o de meu Rei e Senhor a poucos
darei vantagem, assim no passado como no porvir, confiando em
Deus.
Por outro navio que agora partiu daqui, Senhor, escrevo a Vossa
Alteza, e as cartas leva Francisco Frazão, meu criado, aqui casado e
morador. Peço a Vossa Alteza que as veja e me responda o que for
servido, porque ele há de esperar aí pela resposta, e os gastos são
grandes para esperar muito tempo. (29)
Deus por Sua grande misericórdia tenha Vossa Alteza e seu
cetro real em Sua santa guarda e lhe dê vitória contra todos os que
contra ele intentarem ser, amém. De Olinda a 22 de março de 1548.

Servo de Vossa Alteza

DUARTE COELHO

108
averá um mês que por um meu criado, por nome
Francisco Frazão, escrevi a Vossa Alteza, dando-lhe conta
de mim e do que me pareceu seu serviço, e relatando-
lhe as coisas conforme ao tempo e à necessidade, segundo meu
entender, à qual me reporto e peço a Vossa Alteza a veja e sobre o
nela contido proveja e me responda, para que saiba o que devo
fazer. 6°)
Por esta, Senhor, quero dar conta a Vossa Alteza do que, depois
da outra escrita e daqui partida há vinte dias, vim a saber por cartas
de meus amigos, em especial por uma de Manuel de Albuquerque
que me deu conta disso, por já aí ter tido alguma conversa sobre isto
com algumas pessoas que no negócio entendem, ou querem entender,
as quais , segundo por uns apontamentos vi, se oferecem a Vossa
Alteza para povoar ou ajudar a povoar as capitanias perdidas, de lá
de baixo, e outras cousas mais que nos apontamentos vi, para o que
pedem a Vossa Alteza que por vinte anos lhes dê todo o pau-brasil de
toda a costa, e antes de tudo o destas minhas terras da Nova Lusitânia;
e lhe pedem ainda que dentro no dito tempo lhes largue e dê todos
os dízimos e rendas de todas as terras e costa do Brasil, assim o
rendimento daqui como o daí, do que for de cá, e outras cousas que
nos apontamentos vi. (31)
E posto que, Senhor, se me ofereciam algumas cousas neste
instante para dizer sobre isto, sofro e calo e não o faço por não ter
certeza se Vossa Alteza o aceitará de mim, segundo minha sã e
verdadeira intenção, e por haver três anos que por quatro vias tenho
escrito e dado conta a Vossa Alteza de tudo o que me pareceu seu

109
serviço, e até o presente não tenho visto nem tido resposta. O que,
Senhor, me parece proceder do pouco crédito que tenho com Vossa
Alteza. (32)
Mas quis, Senhor, acudir ao que, com razão e com justiça, a
mim toca e importa, não me afastando do que a seu serviço convém,
pois este foi sempre meu propósito e costume. E digo, Senhor, que
quanto é a se tornarem a povoar e aproveitar as terras e capitanias de
lá de baixo, que se despovoaram da maneira que Vossa Alteza já aí
sabe, é muito útil e do serviço de Deus e de Vossa Alteza; e se Vossa
Alteza viu as que lhe tenho escrito, nelas veria o que sobre isso lhe
escrevi e dei conta, porque sempre me pareceu muito seu serviço
prover sobre isso, pelos respeitos que nas minhas a Vossa Alteza lhe
lembrava. E este foi e é meu parecer, que torne a mandar que se
povoem e aproveitem as ditas terras, como Vossa Alteza for servido e
for razão e justiça.
Mas, Senhor, áspera cousa parece-me ser quererem esses
armadores ou contratadores incluir nisso as terras que Deus por sua
misericórdia e meus grandes trabalhos, gastos e despesas e
derramamento de sangue quis que estejam ganhadas e melhor
principiadas e povoadas e regidas e governadas e com justiça
administradas que todas as outras, as quais por muitos desvarios estão
perdidas. E o proveito e bem que nisto tenho adquirido e granjeado
para Vossa Alteza, do que levo muito gosto e contentamento, em
especial pelo muito que daqui em diante há de haver e multiplicar,
além de nisso me tirarem o gosto e contentamento e algum proveito
e fruto que de meus trabalhos me pudesse vir e haver, querem-no
eles para si. Não me parece, Senhor, razão nem justiça e Vossa Alteza
nisso fará o que for servido. Mas eu, Senhor, não deixarei de dizer o
que com verdade entendo, e é que, igual por igual, melhor e mais
razão será acudir com alguma ajuda e favor a quem as conquistou e
com tanto trabalho, gasto e fadiga e derramamento de sangue as pôs
e tem no estado em que estão; e para a cousa ir de bem em melhor e
mais se multiplicar e aumentar, é ele o próprio pastor e não mercenário,
como os que as querem adquirir para tirar seu proveito. Mas, acima
de tudo, Vossa Alteza fará o que for servido, posto que de minha livre
vontade não concordarei em me meterem em tais armações e
companhias, nem quero de Vossa Alteza o que eles querem e pedem,
mas, se Vossa Alteza for servido e lhe parecer razão e justiça, ajudar-
me e favorecer-me na cousa que trago entre mãos e desejo que alcance
bom efeito, receberei nisso mercê, que é o seguinte.
Quanto, Senhor, aos direitos e dízimos destas minhas terras,
que lhe pedem, quer os que aqui se cobram quer os que aí se pagam,
torno, Senhor, a dizer que Vossa Alteza os leve e haja em tudo e por

110
tudo como se contém em minhas doações, que nada deles lhe peço,
somente que deles se tirem aqui os pagamentos dos ordenados dos
sacerdotes, como agora aqui se faz e por Vossa Alteza foi ordenado
quando para aqui vim, e também, Senhor, para as obras e cousas das
igrejas, da obrigação de Vossa Alteza, sobre o que tenho escrito a
Vossa Alteza por três vezes e por três vias, e peço que Vossa Alteza
proveja, por haver disso muita necessidade.€33)
Mas a mercê que a Vossa Alteza peço e que licitamente me
pode fazer, é que, por espaço dos vinte anos, ou pelo espaço que
Vossa Alteza conceder a esses armadores, haja por bem de me ceder
os dízimos dos meus próprios engenhos, e isto somente do de minha
lavra, e o que me pertencer nos de terceiros, e que a parte dos
lavradores seja muito embora de Vossa Alteza. E isto se Vossa Alteza
disso for servido, e se não, seja como mandar. (34)
Outrossim, e por espaço do dito tempo, haja por bem de me
dar licença para que, em cada um ano, possa mandar daqui três mil
quintais de pau-brasil às minhas próprias custas, livres de todos os
direitos, para ajuda dos sobreditos gastos, para me tornar a abastecer
e refazer de cousas de que tenho necessidade para os negócios daqui,
porque não acho já no Reino quem me empreste nem dê tanto dinheiro
a juros; o dito pau-brasil poderei mandar aonde bem me convier,
quer a Levante quer a Poente, aonde quer que mande buscar as cousas
que me são necessárias, o qual será aqui pesado pelo seu feitor e
oficiais, e passarão as ordens para onde quer que for, com declaração
do que se trata, do que, sendo Vossa Alteza disso servido, me mande
passar a provisão e a mande dar a Manuel de Albuquerque ou a
quem por minha parte lha requerer. (35) O brasil farei em parte onde
não faça dano, porque assim convém, e peço, Senhor, três mil quintais,
porque, pelo que aqui custa e o pouco que aí vale, não representarão
mil quintais.
O fazer brasil, Senhor, que com tanta desordem o querem fazer,
é tão danoso e tão odioso o fazer-se nesta comarca de Olinda e Santa
Cruz, que já tenho escrito a Vossa Alteza e enviado documentos de
prova, pedindo-lhe, há três anos e por três vias, que proveja sobre
isso, porque, de quantos alvarás de permissão que Vossa Alteza tem
mandado passar, todos se querem utilizar deles aqui, o que será acabar
de deitar a perder tudo. (36) E, para ser pior, está pegada comigo a
terra de Pero Lopes de Sousa, que Deus haja, onde não está o próprio
pastor, mas um mercenário por intérprete e feitor de armadores, que
de outra cousa não se ocupa senão em fazer brasil. Já disto tenho
dado conta a Vossa Alteza para que proveja nisto. Peço a Vossa Alteza
que mande que do cabo de Santo Agostinho até o Capibaribe-mirim,
que é o extremo dos petiguares, que pode ser doze ou treze léguas

111
pouco mais ou menos, ocupadas por uma só nação de índios, que
nessa sobredita comarca não se faça brasil algum daqui a dez ou doze
anos, para que a cousa se torne a meter em ordem, pois há tantos
outros portos em que o podem fazer, assim do cabo de Santo Agostinho
até o Rio São Francisco, que é na mesma minha costa, como daí para
baixo e no litoral dos petiguares, que são de outras nações contrárias
destes. E fazendo-o nesses sítios não nos causam dano; e a quem
Vossa Alteza houver por bem de dar licença, quer na região dos
petiguares, quer nos outros meus portos do sul, pode, Senhor, vir
aqui para maior segurança, e toda ajuda e favor que eu lhes puder
dar, dar-lhes-ei de boa vontade, assim para os petiguares, que estão
em distância daqui de doze, treze, quinze, vinte, trinta e quarenta
léguas, tudo costa onde há brasil muito bom e mais barato que este
daqui, assim pela desordem, como por estar a dez, doze, quinze
léguas pelo sertão a dentro, como querendo ir aos outros meus portos
do cabo de Santo Agostinho para o sul, onde se acha outra nação
oontária destes. 37) Porque, assim como os meus bergantins e os
caravelões dos moradores andam a maior parte do ano por toda a
minha costa, assim o poderão fazer os seus navios, e eu os favorecerei
e ajudarei no que puder, e aqui se poderão fornecer e aviar de
intérpretes e do mais que lhes convier, e poderão comprar e vender
aos moradores e povoadores da terra e fazerem seu proveito, sem
nos causarem dano assim a mim, como aos que comigo estão.
Posto que, Senhor, disto tenha escrito e dado conta a Vossa
Alteza, haverá obra de um mês, acerca de aí não me serem guardadas
as minhas doações, convém-me tornar por esta a escrever sobre isso
e dar conta a Vossa Alteza do que se passa. E a causa é esta: algumas
pessoas aqui moradoras vieram-se-me a queixar de como aí não lhes
queriam guardar as liberdades contidas em minhas doações, e sobre
isto mesmo me escreveram de Portugal algumas pessoas que comigo
estão concertadas para virem ou mandarem fazer engenhos; e parece
que por saberem aí que se não guardavam minhas doações, e porque
nos alvarás que de mim têm digo que hei por bem e serviço de Vossa
Alteza que do dia que vierem, ou por si ou por pessoa sua, povoar e
fazer os engenhos, trazendo ou mandando trazer os oficiais e toda
gente e cousas necessárias para eles, possam gozar dos privilégios e
liberdades de moradores e povoadores destas minhas terras, como
em minhas doações se contém. Sabido isto aqui, Senhor, foi grande o
alvoroço e ajuntamento de todo o povo e todos os oficiais e pessoas
nobres e honradas, todos em comum se juntaram em conselho e
fizeram câmara. Fizeram-me sobre isso uma petição, por eles assinada,
que com esta vai, pedindo-me com grandes clamores que os
despachasse conforme a justiça, ao que respondi o que Vossa Alteza

112
verá nas costas da petição, e os consolei de seu agastamento e os
pacifiquei, dando-lhes algumas desculpas de Vossa Alteza não ser
disso sabedor, e prometendo-lhes de logo o fazer saber a Vossa Alteza
e dando-lhes esperança que Vossa Alteza os atenderia nisso"
Para o que, Senhor, peço a Vossa Alteza leia minha carta e lhe
veja a intenção, e achará que é tudo do interesse de seu serviço, no
qual ando morrendo, que melhor me fora já uma morte que tantas
sem acabar de morrer, porque as cousas destas qualidades, em terras
tão distantes do Reino, querem-se, Senhor, por outros meios e maneiras
que não os daí. E pois Vossa Alteza sabe que eu sempre tive cuidado,
e em especial nas cousas de seu serviço, e dado tão boa conta de
mim como Deus e Vossa Alteza sabem e a todos é notório, será razão,
Senhor, que de sua parte não me venham estorvos para as cousas de
seu serviço que desejo levar avante, porque muito maior perda será o
que se pode seguir de não se guardarem as liberdades e privilégios,
do que o proveito que disso pode redundar. Eu não tenho para mim,
nem posso crer, que isto vem de Vossa Alteza, nem que é disso sabedor,
mas de funcionários que se querem exceder para se mostrarem
beneméritos; e se vem de contratadores, lembre-se Vossa Alteza do
que convém a seu serviço, porque esses tais não se lembram senão
de seu proveito.
Sabe Vossa Alteza que por o servir aqui vim, e o que me
concedeu em minhas doações, para que a cousa melhor e mais
rapidamente se pudesse fazer e ir avante, como louvores a Deus vai,
entre as quais concedeu e houve por bem e seu serviço, pela boa
informação e declaração que disso lhe dei, que, assim eu como todos
os meus herdeiros e sucessores e todos os moradores e povoadores
que em minhas terras viessem morar ou povoar, de todas as
mercadorias e cousas que daqui mandássemos ou levássemos para o
Reino, não pagassem senão um só imposto, a saber, de cada dez um,
e que pudéssemos vender e fazer delas o que nos conviesse; outrossim,
que, posto que entrem ou cheguem a qualquer porto, cidades, vilas
ou lugares de seus Reinos e senhorios e aí não quiserem vender nem
descarregar, livremente o possam fazer e ir para onde bem lhes convier,
sem serem constrangidos nem lhes poderem impedir, posto que nos
tais portos, cidades, vilas e lugares haja outros forais ou costumes em
contrário deste, o que, segundo o que daí, Senhor, me escrevem e
aqui todo o povo se me queixa, não se cumpre aí, nem querem
cumprir aos moradores e povoadores que há doze e dez e oito e seis
anos moram e povoam nesta terra e aqui têm grandes fazendas,
criados e escravos, que honram e aumentam a terra, porque dizem aí
que alguns deles têm as mulheres no Reino, e por isso não lhes hão
de respeitar as liberdades e privilégios em minhas doações contidos. (39)

113
O mesmo acontece com pessoas nobres e poderosas que moram
no Reino mas aqui povoam, e outras que querem povoar por seus
feitores e gente e escravaria e fazer engenhos, que é cousa real que
muito aumenta e acrescenta o bem da terra, e dão muito proveito a
Vossa Alteza, e muito mais a Vossa Alteza darão daqui ao diante, indo
a terra em progresso como, louvores a Deus, vai.
Outrossim, Senhor, querem aí entender por moradores e
povoadores os que eles querem, e não os que eu aqui, por minha
ordem e por meu trabalho e indústria, ando adquirindo para a terra e
mando assentar no livro da matrícula e tombo das terras como
moradores e povoadores; a eles o feitor e almoxarife de Vossa Alteza
e o escrivão de seu cargo passam as certidões de moradores e
povoadores e aos outros não.e" Ainda dizem aí e levantam outro
embaraço, que não hão de gozar das liberdades os moradores e
povoadores que daqui mandam açúcares ou algodões, senão dos que
forem de sua lavra e colheita. Isto, Senhor, parece malícia, porque em
todas as terras do mundo se costuma e usa o que eu aqui costumo e
uso e tenho posto em ordem, a saber, que entre todos os moradores
e povoadores uns fazem engenhos de açúcar porque são poderosos
para isso, outros canaviais, outros algodoais, outros mantimentos, que
é a principal e mais necessária cousa para a terra, outros usam de
pescar, que também é muito necessário para a terra, outros usam de
navios que andam buscando mantimentos e tratando pela terra
conforme ao regimento que tenho posto, outros são mestres de
engenhos, outros mestres de açúcares, carpinteiros, ferreiros, oleiros
e oficiais de fôrmas e sinos para os açúcares e outros oficiais que
ando trabalhando e gastando o meu por adquirir para a terra, e os
mando buscar em Portugal, na Galiza e nas Canárias às minhas custas,"
além de alguns que os que vêm fazer os engenhos trazem, e aqui
moram e povoam, uns solteiros e outros casados aqui, e outros que
cada dia caso e trabalho por casar na terra, (42) porque toda esta ordem
e maneira, Senhor, se há de ter para povoar terras novas e tão
distanciadas do Reino e tão grandes como estas são, das quais se
espera tanto bem e proveito, assim para o serviço de Deus como de
Vossa Alteza e bem de todos seus Reinos e senhorios, e pelas mais
razões que Vossa Alteza sabe, por cuja causa aqui me mandou. (43)
Ora,poisSenhjáquaporminhtebalfço
tanto o que devo, não consinta aí Vossa Alteza bulirem com tais cousas,
porque não é tempo para com isso se bulir, porém para mais se
acrescentar as liberdades e privilégios, e não para os diminuir.
Peço a Vossa Alteza que veja esta minha carta e lhe considere
a intenção e sobre todas estas cousas tome resolução com brevidade.
E leve em conta a minha boa e sã intenção, pois sabe que minha

114
índole e intenção é fazer verdade e falar verdade com todos em geral,
quanto mais com Vossa Alteza e nas cousas de seu serviço, no que
ando trabalhando e que tanto convém e importa, que se assim não
fora e assim não entendera, juro pela hora da morte que há dias me
fora para Portugal, pois sou homem para em todas as partes de mais
honra e proveito servir a Vossa Alteza melhor do que até o presente
tenho feito, e sei de certo que darei boa conta de mim como o que
melhor a deu ou der.
Torno a pedir a Vossa Alteza que disponha sobre todas estas
cousas de que lhe tenho escrito e dado conta, para que saiba o que
devo fazer e se não passe o tempo embalde, que é a maior perda das
perdas, pois tudo se pode recobrar exceto o tempo perdido.
Deus por Sua misericórdia tenha Vossa Alteza em Sua guarda e
a todas as cousas de seu serviço, e lhe dê vitória contra todos os que
pretenderem contra elas ser, amém. De Olinda, a 15 de abril de 1549.
Acerca das cousas do pau-brasil providencie Vossa Alteza, assim
pela desordem, como porque o roubam com estas desordens, e assim
o afirmo, do que levo grande paixão e desgosto; e se eu aqui quero
remediar, aí, Senhor, fazem outra cousa e não o que disponho para o
servir e atalhar a tanta desordem, que não acho quem não presuma
de fazer e tratar de brasil como se fosse de uma erva qualquer e
vendê-la no mercado. Eu castiguei alguns que se desmandaram, mas
na jurisdição alheia não interfiro, senão com requerimentos e cartas
precatórias, a que não dão mais atenção do que a conversas vãs. Eu
tenho já disso avisado a Vossa Alteza e não será minha a culpa. (")

Servo de Vossa Alteza

DUARTE COELHO

115
ma carta de Vossa Alteza me foi dada este agosto ora
passado de 1550, a qual parece, segundo a feitura dela,
tardar por má navegação na viagem.
Pela carta diz Vossa Alteza me ter já antes desta escrito outra
pelo galeão que foi para a Bahia, a qual carta até o presente não vi,
nem sei mais dela do que Vossa Alteza me diz, porque, como o galeão
foi ter à Bahia, daria as cartas a Tomé de Sousa, e não veio mais de lá
para aqui navio algum, pelo que daquelas cartas não sei dar razão a
Vossa Alteza, pois não as vi."
Quanto ao que por esta Vossa Alteza me escreve e diz que
resolveu, assim por folgar de me fazer mercê, como pelas mais razões
contidas em minhas cartas que o ano passado lhe escrevi, que é estar
eu como estava e respeitar minhas doações, e que não se entenda
comigo o que tinha mandado a Tomé de Sousa, nem ele venha cá
nem interfira em minha jurisdição, nisso Vossa Alteza age como
magnânimo e virtuosíssimo e justíssimo rei e senhor, em quem eu
tanta confiança tinha e tenho muito perfeitamente e terei enquanto o
Senhor Deus lhe sustentar os dias de vida. (46) E afirmo a Vossa Alteza
que a todos pareceu tanto bem e tão excelente exemplo como era
razão e se esperava de Vossa Alteza, por sua real e magnânima condição
e virtuosíssima inclinação, pois é o luzeiro e estrela do norte por
onde todos havemos de navegar e seguir em nossas obrigações, os
que de Vossa Alteza tivermos e tiverem cargos. Pelo que praza ao
Senhor Deus acrescente e conserve seus reais dias de vida com muita
prosperidade e vitória, que lhe dará contra todos os que intentarem
ser contra Vossa Alteza e contra seu real estado e cetro real, amém. E
a mim permita e ajude até o fim de meus dias a servi-lo, como até

117
aqui fiz, e com o mesmo amor e lealdade e verdade, amém.
Quanto, Senhor, ao que por esta carta Vossa Alteza me diz e
manda, que aqui fiz o que devia e guardei justiça, e que disso tenha
cuidado, como sou obfigado, (47) prometo a Vossa Alteza que assim o
farei, porque, além de Vossa Alteza mo mandar, é de minha condição
e inclinação fazer o que devo e não temer perigo algum, e antes ir
contra mim que contra as partes, e antes dar trabalho a mim que o
dar aos outros. Meu costume é, Senhor, ser áspero no repreender e
moderado no castigar, porque, posto que seja pecador e um bichinho
da terra, amo e temo ao Senhor Deus por Sua divina misericórdia, de
quem nos vem todo bem. Pelo que o Senhor Deus sempre me livrou
de muitos perigos e me ajudou a que sempre de mim desse boa
conta, e assim confio nele, meu Deus, que me ajudará até o fim de
meus dias.
Quanto, Senhor, à mercê que agora por esta me faz em vida
de Vossa Alteza, basta-me, porque outras mercês e honras ainda espero,
mais para o adiante, para com seus filhos, que Deus deixará lograr
depois de Vossa Alteza, e, no fim de seus dias, seus reinos e se-
nhorios;'" a qual, Senhor, é necessário ser por alvará de confirmação,
assinado por Vossa Alteza e selado de seu selo e passado por sua
chancelaria, conforme as minhas doações. E isto também por causa
destas mudanças que ora houve, e para que no futuro não haja aí
alguns maus conselheiros, que com os reis se querem harmonizar às
custas de suas consciências, de que os tais conselheiros pouco caso
fazem, por não terem amor verdadeiro senão aos seus interesses,
seguindo suas inclinações, não olhando a obrigação de seu rei e senhor,
que a tudo se devia antepor e respeitar; pelo que peço a Vossa Alteza
pois começou acabe de me fazer esta justa mercê.
A razão, Senhor, obriga-me, por descargo de consciência, a
dar disto esta breve conta a Vossa Alteza. E digo que todo este povo
e república desta Nova Lusitânia esteve e está muito alterado e confuso
com estas mudanças, (49) e afirmo a Vossa Alteza que se não fora por
mim muitos se queriam ir da terra. Isto sobretudo por não lhes
quererem os funcionários de Vossa Alteza, aqui e no reino, guardar
suas liberdades e privilégios contidos em minhas doações e foral,
que por mim foram publicados e apregoados; e estes funcionários
que aqui vieram quiseram usar de asperezas, que não eram para este
tempo e ensejo e para terras novas e tão cedo, porque são, Senhor,
cousas mais para despovoar o povoado, que para povoar o des-
povoado.m Eu, Senhor, remediei tudo isto como melhor pude, e
com muito sofrimento, com o siso que o Senhor Deus me deu, como
tudo consta de assentos e autos que sobre isso se fizeram; e toda esta
gente lança-me, Senhor, a culpa, por eu favorecer tanto a seus

118
funcionários, o que eu juro pela hora da morte que fiz por serviço de
Vossa Alteza, por ser assim necessário, porque os seus funcionários,
que aqui vieram, não os conhecia; não devia agir com esta gente
como agi e fiz, e dei maneira que não me fizessem logo então
requerimentos, prometendo-lhes que escreveria sobre tudo a Vossa
Alteza, como escrevi, de que não tenho resposta.
Agora fizeram-me grandes requerimentos e protestos para que
lhes guardasse e fizesse guardar as liberdades e privilégios que até
aqui lhes foram guardados, e agora lhes queriam anular, e, no caso
contrário, largariam a terra. Eu, Senhor, lhes respondi o que me pareceu
bem e razão, o que eles têm para mandar apresentar a Vossa Alteza e
requerer sua justiça. 3 "
Digo, Senhor, o que é necessário dizer acerca disto a Vossa
Alteza e a verdade do que me parece ser seu serviço e para descargo
de sua consciência e da minha: é cousa muito odiosa e prejudicial ao
serviço de Deus e seu e proveito de sua fazenda e bem e aumento
das cousas que tão caro custam, quebrar e não guardar as liberdades
e privilégios aos moradores e povoadores e vassalos de que já estão
de posse e de que usam, depois de lhe serem publicados e apregoados,
como eu, por minhas doações, lhes anunciei e apregoei, o que em
tempo algum nem em parte alguma se deve fazer, quanto mais tão
cedo e nestas partes tão distantes do Reino, e que com tanto trabalho,
perigo e gasto se fazem e povoam e sustentam, como são estas terras,
e o Senhor Deus sabe como eu padeço.
Aceite Vossa Alteza isto de mim, como o deve aceitar de quem
disso se dói e o deseja servir, não só acerca do que toca à sua obrigação
e consciência, como ao seu proveito, porque a gente contente e quieta
permanecerá e se arraigará na terra e fará fazendas, de que muito
dobrado e desdobrado proveito Vossa Alteza terá desta terra e cada
vez mais. Isto, Senhor, é averigüadamente assim, pela experiência
que tenho, que rifão verdadeiro é que quem as sabe as tange. E não
deve Vossa Alteza dar crédito a quem não entende disso e lhe vai
com falsas informações e vãs e supersticiosas inovações, que não
convêm a seu serviço nem a seu proveito, mas por fim se verá ser em
seu desserviço e perda, e o tempo dará disto testemunho, se não se
emendar o erro.
Eu, Senhor, trabalho como trabalho e faço o que faço para a
cousa ir avante como convém ao serviço de Deus e seu; com a gente
procedo como é sabido por todas as vias, com lhe fazer todas as boas
obras e larguezas do que é meu e do que a mim toca, para a cousa ir
avante, sem até o presente ter proveito, mas muitos gastos e despesas,
no que Vossa Alteza é servido e tem proveito e cada vez mais se
espera. Peço a Vossa Alteza que, por sua parte, se não prejudique

119
este bem, pois não há de pôr do seu, mas acrescentá-lo, com somente
respeitar e conservar os privilégios e liberdades que me concedeu
para meus moradores e povoadores, como houve por serviço de Deus
e seu.
Aqui, Senhor, foram publicadas muitas novidades, que por outra
dou conta a Vossa Alteza, e algumas delas prejudicam a mim e ao
povo, moradores e povoadores desta Nova Lusitânia, e são bem contra
seu serviço; e disso me deixou aqui o provedor-mor Antônio Cardoso,
em seu regimento, as ditas novidades, entre elas que Vossa Alteza
mandava, sob punição, que eu não interferisse em sua fazenda. (54 A
este respeito digo que isto não me prejudica, por minha parte, porque
nem da minha queria eu ter cuidado; mas se prejudicar a fazenda de
Vossa Alteza, veja lá que a mim não me caberá a culpa, nem também
o será por eu, em parte alguma nem em tempo algum, me aproveitar
de sua fazenda, nem lhe dar prejuízo de um só real, nem nunca Deus
o permita, nem mande que eu, Senhor, o faça nunca, mas antes se
achará e é público e notório o ter eu servido em toda parte, assim
como a seu pai, que Deus em Sua glória tem, não só com os serviços
de minha pessoa, como com muitos gastos de minha fazenda na
Índia e aqui e em todas as partes. Assim o juro pelo meu Deus, que
creio e adoro, sem hoje em dia ter nem levar pensão nem juro de
Vossa Alteza, nem ainda essa moradia que tinha, depois que daí parti,
que agora faz dezesseis anos que não a recebo nem mesmo para
especiaria, que não posso viver sem ela. (53) Digo isso, Senhor, porque
este ponto do regimento destes seus novos funcionários ou foi inovação
deles, ou alguma falsa informação que alguém pouco virtuoso deu
contra mim, e não me maravilho falarem os maus de mim, servo dos
servos de Deus, pois do mesmo Deus falam; e não se deve dar crédito
contra mim sem eu ser ouvido, pois minha condição, vida e obras são
tão aprovadas e conhecidas minhas cousas e a conta que em tudo
tenho de mim dado, a Deus graças e louvores. Creia, Senhor, de mim,
que tudo o que tomo a cargo tomo e faço como próprio pastor, e não
como mercenário, e porisso o Senhor Deus me ajuda e confio que me
ajudará até o fim de meus dias, porque dizem os naturais que no
nascer, no viver e no morrer se verá quem cada um é. (54)
Muitas cousas se me oferecem para dizer, que por não enfadar
a Vossa Alteza e por não ser tão longo as deixo para quando me
avistar com Vossa Alteza, o que bem desejo. (55) Somente, Senhor,
digo que ao presente estamos de paz e pacíficos, a Deus louvores, e
estes cinco engenhos estão de todo moentes e correntes e cada dia se
fazem mais fortes as casas deles, pela maneira de um que tenho feito,
e tudo vai para bem, se estas mudanças não o estorvarem; (56) entretanto,
outros engenhos cuja construção estavam acertadas comigo, estes

120
estão duvidosos e me escrevem que, com não lhes saberem guardar
as liberdades e privilégios que lhes foram por mim anunciados, contidos
em minhas doações e foral, pois eu lhes guardo o demais, não virão.
Peço a Vossa Alteza, pelo que convém ao serviço de Deus e ao proveito
de sua fazenda, que mande cumprir e guardar as liberdades e privilégios
contidos em minhas doações e foral, aos moradores e povoadores
que eu tiver assentados por moradores e povoadores no livro da
matrícula e tombo, que para isso está feito desde o princípio, e com
isso deixe-me realizar e verá o proveito que disso se segue.
Desta Vila de Olinda, a 24 de novembro de 1550.

Servo e vassalo de Vossa Alteza

DUAR7E COELHO

121
à4, ca/).(tm,

(1) Não há referência em outras fontes a esta viagem de Duarte Coelho


a Por-tugal em 1541 ou pouco antes. José de Vasconcelos é de opinião que ela
teria ocorrido entre 24 de julho de 1540 (data da sesmaria dada a Vasco Fernandes:
veja-se a nota 25, infra) e setembro de 1541: Datas Célebres e Fatos Notáveis da
História do Brasil (Recife, 1890), pp. 124/125.

(2) Outras fontes documentais não registram que "engenho muito grande
e perfeito que cedo acabaremos" era este, nem se seria de propriedade do próprio
D.C., que ainda menciona que "ando ordenando a começar outros". É de crer que
o fosse, pois dele devia partir a iniciativa e o exemplo aos colonos. O fato de
referir que "temos grande soma de cana plantada, todo o povo", parece indicar
que o sistema de produção adotado a princípio por D.C. era do tipo daquele do
Infante D. Henrique na Ilha da Madeira: o engenho (a parte industrial propriamente
dita) era pertença sua, ao passo que os canaviais pertenciam aos moradores, ao
"povo". Exploração desse tipo está prevista no "Regimento" dado pelo Rei a Tomé
de Sousa em 1548: "além da terra que a cada engenho haveis de dar para serviço e
meneio dele, lhe limitareis a terra que vos bem parecer, e o senhorio dela será
obrigado de no dito engenho lavrar aos lavradores as canas que no dito limite
houverem de suas novidades" ... Alberto Iria, "Regimento que levou Tomé de
Sousa, 1 2 Governador-geral do Brasil", Anais do IV Congresso de História Nacional,
13 vols. (Rio 1950-52), II, p. 52. O próprio Rei em 1555 mandou fundar um engenho
desses na Bahia: "eu sou informado que havendo nessa Capitania engenhos em
que os moradores dela pudessem desfazer suas canas, se plantariam e fariam muitos
canaviais... hei por bem que, à custa de minha fazenda, se faça nessa Capitania um
engenho de açúcares"... Documentos Históricos (da Bib. Nac.) vol. 35 (Rio 1937)
pp. 321/324. O propósito de fundar novos engenhos, referido na carta de 1542,
acima citada, parece que teve efeito, pois em carta de 1549 pede ao Rei que dos
"meus próprios engenhos" lhe cedesse os dízimos daquele "de minha lavra", bem
como do que lhe pertencesse no de terceiros. O que lhe pertencia no de terceiros
era o que estava previsto no título de doação da Capitania e vinha a ser uma
percentagem do açúcar produzido em cada um deles, pois aquele título de doação

123
lhe concedia que ninguém pudesse fazer engenhos, salinas nem moendas de água
senão mediante o pagamento de foro ou tributo: Fernandes Gama, Memórias
Históricas cit., I, p. 46. Que, de fato, D.C. possuiu engenho há confirmação de
outras procedências: em carta de 1561, já morto o fundador, o Jesuíta Rui Pereira
menciona que sua viúva, Beatriz de Albuquerque, "quando chegamos acertou de
estar em um seu engenho fora da vila [de Olinda] uma légua": Serafim Leite,
Monumenta Brasiliae 4 vols. (Roma, 1956-60), III, p. 332. Frei Vicente do Salvador
na sua História do Brasil, 9 ed. (São Paulo, 1965), p. 133, recorda que a expulsão
dos franceses e a paz com os índios deram a D.C. lugar "para fazer um engenho
uma légua da vila e seu cunhado Jerônimo de Albuquerque outro". Sugeri em
outra ocasião que às margens do Rio Beberibe, que corre aos pés dos morros de
Olinda, houve um engenho da invocação do Salvador, que é a mesma da primeira
matriz, depois Sé, de Olinda. Teria a devoção pelo Salvador do Mundo levado o
donatário a dar a mesma invocação à sua igreja e ao seu engenho?

(3) O episódio do Rio da Prata, onde teriam morrido mais de mil


castelhanos à mão dos índios, é, possivelmente, pela semelhança da situação aqui
configurada por D.C., a de Aleixo Garcia. Este aventureiro português, náufrago da
expedição de João Dias de Solís àquele rio (1514-16), obteve , no atual Estado de
Santa Catarina, notícia da existência de grandes riquezas minerais no interior do
continente, e até de um "rei branco", assim chamado por se cobrir de jóias de
prata. Partiu ele com quatro companheiros europeus e um forte contingente de
indígenas, guiado por alguns destes que anteriormente haviam realizado a viagem;
cruzando o Rio Paraguai penetrou no Chaco, que atravessou, atingindo na Bolívia
os contrafortes andinos, onde obteve objetos de ouro e prata. Atacado pelos incas
regressou com a carga preciosa, mas, ao atingir o Rio Paraguai, foi assaltado pelo
gentio paiaguá, que, cobiçando o metal, massacrou o chefe e parte de sua tropa,
da qual alguns elementos atingiram o litoral atlântico, narrando o sucedido. A
viagem ocorreu entre 1521 e 1525, ano, este último, da morte de Aleixo Garcia.
Veja-se a respeito Charles E. Nowell, "Aleixo Garcia and the White King", Hispanic
American Historical Review vol XXVI IV 4, novembro de 1946, pp. 450/466. A
notícia dessa expedição já era conhecida em Pernambuco, quando da passagem
aqui de Sebastião Caboto, em 1526. Duarte Coelho, entretanto, enganou-se ao
supor castelhana a tropa que acompanhava Garcia. Outros episódios de massacre
no Rio da Prata — se a referência de D.C. não é a Aleixo Garcia, como supomos —
são: em 1516 João Dias de Solís é morto com oito companheiros; em 1529 a
guarnição do forte Sancti Spiritus, fundado por Caboto, foi atacada e em parte
morta pelos indígenas. Com relação ao Maranhão, a referência deve ser à expedição
de 12 navios que veio de Lisboa sob o comando de Aires da Cunha a povoar a
capitania de João de Barros, Fernão Álvares e do próprio comandante, a qual ao
demandar aquelas terras passou por Pernambuco em fins de 1535 ou começos do
seguinte, tendo recebido ajuda de D.C. Segundo informa Luís Sarmiento, D.C.
indicou aos expedicionários a existência de ouro na terra aonde iam: "les dixo
como el tenia ciertos lenguas dela tiera que le certificaban que en una sierra y
província que estaba cabo del Rio Manafion avia mucha cantidade de oro y que
por otro rio que estaba mas cerca dezian estos lenguas que podian yr a dar en
aquella sierra adonde dizian que avia el oro": carta de Sarmiento ao Imperador
Carlos V, Évora 15 de julho de 1536 em Varnhagen, História Geral cit., I, p. 241.
Aliás os donatários associados haviam recebido uma carta de mercê e doação das
minas de ouro e prata que viessem a descobrir nas suas capitanias, datada de
Évora 18 de junho de 1535: História da Colonização cit., III, pp. 269/270. A tentativa
malogrou-se, perecendo vários tripulantes em um naufrágio, inclusive o chefe. O

124
total das perdas dado por D.C. é, porém, muito exagerado: Varnhagen, História
Geral cit., I, pp. 225/228 e 241/243.
(4) Há algumas referências a que D.C. fez uma entrada em direção ao
interior, talvez subindo o Rio São Francisco. Em carta de 1551 Tomé de Sousa
refere que "Antônio Cardoso escreve a Vossa Alteza acerca das mostras do metal
que mandou de Pernambuco, que se perderam no recife de Arzila e eu não hei-de
falar mais em ouro senão se o mandar a Vossa Alteza", as quais teriam sido enviadas
na segunda metade de 1549, quando Antônio Cardoso esteve em Pernambuco:
Hist. da Colonização cit., III, p. 361. O mesmo Governador-geral, em carta ao Rei,
em data de 1553, declara: "ordenei doze homens e um clérigo irmão da Companhia
de Jesus como eles e estão para entrar pela terra firme pela via do Porto Seguro, e
por Pernambuco são já entrados outros": Hist. da Colonização cit., III, p. 366. No
alvará de nomeação de Gabriel Soares de Sousa na qualidade de Capitão-mor e
Governador da conquista do Rio São Francisco (Lisboa 1 de abril de 1591) e no
regimento que deveria obedecer nessa conquista (Lisboa 13 de março de 1591)
ordena-se que Gabriel Soares deveria partir da cidade do Salvador "à sua custa e
despesa, indo direito até ser tanto avante do lugar onde chegou Duarte Coelho
pela via da Capitania de Pernambuco": Arquivo Geral de Simancas, Secretarias
Provinciais, códice 1466, fls. 288/290.

(5) Deste ataque de franceses a Pernambuco, em 13 de abril de 1542,


nada se sabe. Ainda em 1548 escrevia Luís de Góis ao Rei, da Vila de Santos em 12
de maio, que "se com tempo e brevidade Vossa Alteza não socorre a estas capitanias
e costa do Brasil, ainda que nós percamos as vidas e fazendas Vossa Alteza perderá
a terra"... Hist. da Colonização cit., III, p. 259. A ameaça dos franceses era sempre
constante. No mesmo ano de 1548 escrevia de Igaraçu ao Rei Afonso Gonçalves
que "quando aqui vim ter deram-me novas de sete naus francesas que passaram
para os pitiguares... e depois passaram outras muitas"... liv. cit., III, p. 317. Mais
graves advertências fez em 1554 Pero de Góis em carta a D. João III, datada de
Salvador 29 de abril, salientando a presença constante e em força de corsários
franceses no sul do Brasil: liv. cit., III, p. 322.

(6) Pero de Góis foi companheiro da expedição de Martim Afonso de


Sousa ao Brasil (1530-32), tendo aqui ermanecido depois do regresso desta. Foi
donatário da capitania do Paraíba do Sul, sendo Luís de Góis seu irmão, por ele
convocado para o auxiliar na tarefa da colonização de suas terras. A viagem ao
Reino em 1542, referida nesta carta, visava a obter capitais para o desenvolvimento
da empresa. Tornou ao Brasil com Tomé de Sousa, na qualidade de Capitão-mor
do mar, e do seu desempenho faz elogiosa referência o Governador-geral em carta
de 1551, Hist. do Colonização cit., III, p. 361; partindo para o Reino em 1553,
Tomé de Sousa, como D.C. seis anos e meio antes, referia-se ao depoimento que
acerca das cousas do Brasil devia prestar ao monarca: "o mais remeto a Pero de
Góis, que além de saber desta terra mais que outrem, passou e viu tudo comigo":
Hist. da Colonização cit., III, p. 364. Há referência ainda a que possuíra dez léguas
de terra nas quais se incluía o porto dos Búzios, no Rio Grande do Norte, as quais
vendeu antes de 1544 a João de Barros por 500 cruzados. Antônio Baião,
"Documentos inéditos sobre João de Barros", Boletim da Segunda Classe da
Academia de Ciências de Lisboa, vol. XI (Coimbra 1918), pp. 339/344.

(7) Desde começos do século XVI que se fazia tráfico de certo vulto,
pelos portugueses, de escravos africanos com destino às Antilhas, onde Portugal

125
tinha feitores desse comércio. D.C. solicitava que uma parte desse tráfico fosse
desviada em benefício de sua capitania: Pedro de Azevedo, "Os primeiros
donatários", Hist. da Colonização cit., III, p. 193. Parece que foi atendido, pois em
1552, segundo o Padre Antônio Pires, da Companhia de Jesus, havia em Pernambuco
"grande escravaria assim de Guiné como da terra": Monumenta Brasiliae, cit., 1, p.
324.

(8) D. Pedro de Moura deve ser parente de D. Manuel de Moura,


concunhado de D.C., em cujo jazigo de família na Igreja de São João da Praça, na
Alfama, em Lisboa, foi o donatário sepultado: Duarte de Albuquerque Coelho,
Marquês de Basto, Conde e Senhor de Pernambuco, "Compendio de los Reys de
Portugal... Ano 1652", Bib. Nac. de Lisboa, Reservados, Coleção Pombalina, códice
140, p. 210. Manuel de Albuquerque era irmão de Beatriz, portanto cunhado de
D.C. Serviu na Índia no governo de Nuno da Cunha, nos anos de 1531-36, tendo
sido por vezes capitão-mor de armadas da costa. Morreu em Portugal em 21 de
janeiro de 1552: A. Braamcamp Freire, Brasões da sala de Sintra, 22 ed., 3 vols.
(Coimbra 1921-30), II, p. 213.

(9 ) Estas três cartas escritas em 1546 não chegaram até nós.

(10) A principal zona da ibirapitanga em Pernambuco era a chamada


"mata do brasil", da qual ainda guardam o nome dos atuais municípios de São
Lourenço da Mata, Nazaré da Mata e Santo Antão da Mata: situa-se o mais distante
(este último) a 50 km do Recife para oeste.
(11) Monopólio da coroa, o Rei podia conceder licença a particulares,
para cortá-lo e exportá-lo para a metrópole; de uma dessas permissões foi beneficiário
D.C.

(12) Varnhagen considera como de contrabando esse pau-brasil embarcado


em Itamaracá: História Geral cit., 1, p. 198. Alexander Marchant, tomando como
padrão a carga de pau-brasil feita em 1511 pela nau Bretoa, de 5 mil toros (125
toneladas), calcula que esses 6 ou 7 navios levaram de 30 a 35 mil toros de lenho
ou de 750 a 875 toneladas: Do Escambo à Escravidão (São Paulo, 1943), pp. 48 e
94. No regimento de Tomé de Sousa, Almeirim 17 de dezembro de 1548, mandou
o Rei que "pessoa alguma de qualquer qualidade e condição que seja, não dê aos
gentios da dita terra do Brasil artilharia, arcabuzes, espingardas, pólvora, nem
munições para elas... e qualquer pessoa que o fizer o contrário morra por isso
morte natural": Alberto Iria, "Regimento", Anais cit., II, p. 60. Entretanto, desde
antes era proibida, inclusive com excomunhão, a entrega de armas de fogo aos
índios, como o afirma o Licenciado Manuel em carta a El Rei, da cidade do Salvador
3 de agosto de 1550, ao lhe dizer que "em esta terra há muitas pessoas ligadas em
excomunhão maior por darem armas defesas ao gentio": Hist. da Colonização cit.,
III, p. 360. Já anteriormente, em 1511, no regimento da nau Bretoa se lia: "notificareis
assim mesmo a toda a dita companha que não resgate, não venda, nem troque
com a gente da dita terra nenhumas armas de nenhuma sorte que seja, punhais
nem outras cousas que são defesas pelo Santo Padre e por El Rei Nosso Senhor e
poderão levar facas e tesouras como sempre levaram": liv. cit., II, p. 344.

(13) A carta de doação da Capitania de Itamaracá, como a da de


Pernambuco, proibia ao donatário, "ou outra alguma pessoa", negociar com pau-
brasil ou exportá-lo para o Reino sem autorização régia, sob pena de perda de
bens: veja-se carta de doação de Itamaracá em Antônio Caetano de Sousa, Provas
da História Genealógica da Casa Real Portuguesa, 22 ed., 6 vols. (Coimbra, 1946-

126
54), VI, pp. 399/408 e o Foral dado à mesma Capitania, em Jaime Cortesão, Pauliceae
Lusitana Monumenta Historica, 2 vols. (Lisboa 1956), II, p. 315, onde se lê: "o pau-
brasil da dita Capitania e assim qualquer especiaria ou drogaria de qualquer
qualidade que seja, que nela houver, pertencerá a mim e será tudo sempre meu e
de meus sucessores, sem o dito capitão nem outra alguma pessoa poder tratar nas
ditas cousas nem em alguma delas lá na terra, nem nas poderão vender nem tirar
para meus Reinos e senhorios nem para fora deles, sob pena de quem o contrário
fizer perder por isso toda sua fazenda para a coroa do Reino e ser degredado para
a Ilha de São Tomé para sempre"...

(14) O Rei no Regimento dado a Tomé de Sousa (1548) determinou


providências para evitar a dispersão dos engenhos: "ordenareis que daqui em
diante se façam o mais perto das vilas que poder ser"; estabeleceu também que
deviam possuir "torres ou casas-fortes" onde se abrigassem os moradores na ocasião
de ataques, e fixou o armamento de que deveriam estar munidos: "Regimento"
cit., pp. 56 e 57. A determinação régia não foi sempre cumprida. Jerônimo de
Albuquerque atribuía a destruição pelos índios do Engenho Camaragibe (veja-se
nota 56, infra) "por estar fracamente provido nele um Diogo Fernandes, que o fez
com outros companheiros de Viana, por ser gente pobre mandei recolher a esta
vila, por achar não tinha escravaria, armas, nem artilharia com que se pudessem
defender"... carta de agosto de 1555, Hist. da Colonização cit., III, p. 381. Em parte
a culpa desse despreparo deve-se atribuir ao Provedor-mor da Fazenda Real, por
ter este, em 1552, mandado ao Provedor de Pernambuco "que tanto que lhe este
apresentado fosse, mandasse entregar na mão do dito Vasco Fernandes, Feitor da
Capitania, toda a artilharia que nela ficou do galeão São João Batista, que na dita
Capitania estava, e bem assim toda a mais artilharia e munições que estavam
emprestadas por alguns engenhos, a qual logo fizesse trazer e entregar ao dito
Feitor à custa das pessoas a que fora emprestada": Doc. Históricos cit., vol. 14, p.
413.

(15) Sobre a pretensão de criação de uma zona onde estivesse proibido


o corte do pau-brasil veja-se a introdução § II; sobre a povoação da Santa Cruz,
idem, § VII.

(16) Já em 1546 havia-se comprovado que o pau-brasil de Pernambuco "é


o melhor de todo este brasil". Não conheço estudo botânico a esclarecer o fato,
mas segundo Alexander Marchant, que não cita fonte, "de todas as madeiras a mais
rica em substância corante é o chamado 'pau de Pernambuco', Caesalpinia crista,
até hoje abundante no Brasil e na Jamaica": Do Escambo à Escravidão cit., p. 41 n.
24. Os engenheiros André e José Rebouças mencionam o douradinho, o tamarino,
o pitanga e o araçá, existentes na Bahia: Ensaio Geral das Madeiras do Brasil (Rio,
1878), cit. por Bernardino José de Sousa, O Pau-Brasil na História Nacional (São
Paulo, 1939) pp. 47/48. Caetano Pinto de Miranda Montenegro, Governador de
Pernambuco (1804-17), indica a existência aqui dos seguintes: "as qualidades boas
são o chamado Dourado, o Sangue de boi, o Flor de algodão, o Roxo amargoso, o
Roxo Doce, o Amargoso e as más qualidades o Amargoso pardilho, o Amargoso
preto, o Flor de algodão mais deslavado": "Instruções para os que forem examinar
as matas de pau-brasil", Recife 13 de novembro de 1807, Biblioteca Pública de
Pernambuco, Livro 17 de Ofícios do Governo, 1804-07. Caetano Pinto aliás faz eco
à afirmativa de D.C.: é "em Pernambuco donde se extrai o melhor pau-brasil que
se conhece": carta a Luís de Vasconcelos e Sousa, Recife 17 de novembro de 1805,
Biblioteca Pública de Pernambuco, Livro 14 de Correspondência da Corte, 1804-

127
07.

(17) Veja-se a Introdução § III.

(18) A carta de privilégios aos homiziados que D. João III concedeu a D.C.
em Évora, está datada de 24 de setembro de 1534 e ficou transcrita em nota 18 da
introdução supra. Conhece-se também o texto das que, com o mesmo fim , foram
passadas a Pero Lopes e a Martim Afonso de Sousa, datadas de Évora 5 de outubro
de 1534; publicou-as Jaime Cortesão, Pauliceae Lusitana Monumenta Historica
cit., II, pp. 311/313. Nelas se declara que os condenados pelas justiças do Reino
que andassem foragidos, passando-se às Capitanias do Brasil, ficassem livre de
prisão "pelos casos que cá tivessem cometido". Isto não se entendia, pois, com os
crimes cometidos no lugar de homizio. Entretanto os loco-tenentes dos donatários
entendiam, ou fingiam entender, que as suas capitanias eram coutos e tinham
privilégios, quando de fato o Rei não lhes concedera carta de couto, mas apenas o
direito de homizio por crimes cometidos no Reino. Veja-se sobre "couto" e "couto
de homiziados" Henrique da Gama Barros, História da Administração Pública em
Portugal 22 ed., 11 vols. (Lisboa 1945-54), II, pp. 430 e seguintes e V, pp. 255 e
seguintes. Medida tendente a evitar que os criminosos em uma Capitania se
refugiassem em outra, consta do Regimento dado a Tomé de Sousa, onde se
determina que as pessoas que desejassem passar de uma para outra pedissem
antes licença ao donatário ou seu representante e "lhe passará para isso sua certidão
em que assim o declare e levando a dita certidão será recolhido em qualquer outra
Capitania para onde for, e não a levando o Capitão dela o não recolherá, e
recolhendo-o hei por bem que incorra em pena de 50 cruzados": "Regimento" cit.,
p. 63.

(19) Veja a Introdução § VI.

(20) Seis anos e meio mais tarde o Governador-geral do Brasil, Tomé de


Sousa, repetiria este mesmo pedido: "Vossa Alteza deve mandar que os capitães
próprios residam em suas capitanias e quando isto não for por alguns justos respeitos,
ponham pessoas de que Vossa Alteza seja contente, porque os que agora servem
de capitães não os conhece a mãe que os pariu": carta da Bahia, 1 de junho de
1553, Hist. da Colonização cit., III, p. 365.

(21) Embora queixando-se dos representantes que os sucessores de Pero


Lopes tinham em Itamaracá, declara D.C. que não interferiria na jurisdição alheia.
Frei Vicente do Salvador registra, porém, que, por "algumas diferenças" que teve
com Francisco Braga, loco-tenente do donatário daquela Capitania, D.C. "lhe mandou
dar uma cutilada pelo rosto", o que o forçou a deixar o Brasil: História do Brasil,
livro II, cap. XII. Dé suas cartas se verifica que D.C. se fazia não só respeitar como
temer, e proclamava que na sua capitania não devia sujeição a ninguém, ou, nas
palavras de Paio Correia, que dele se queixava, ser "senhor isento desta Nova
Lusitânia, segundo ele publicamente diz": Hist. da Colonização, cit. III, p. 198.
Essa atitude era necessária ao tempo, como se verifica das insubordinações
verificadas em outras capitanias e das palavras de Pero de Góis, ele próprio também
donatário, de que a situação difícil que atravessavam quase todas elas "tudo nasce
da pouca justiça e pouco temor de Deus e de Vossa Alteza que em algumas partes
desta terra se faz e há, por donde se de Vossa Alteza não é provida perder-se-á
todo o Brasil antes de dois anos": liv. cit., III, p. 263.

128
(22) Veja-se a introdução § V. Sobre Afonso de Tôrres, sesmeiro na
Bahia, natural da Espanha, homem de negócios em Portugal, falecido em 1560 ou
61, veja-se Braamcamp Freire, Brasões da Sala de Sintra, cit., I, pp. 482/487.

(23) Destes autos nada chegou até nós. O "feitor de Vossa Alteza" era
Vasco Fernandes: veja-se nota 27, infra. O pagamento do dízimo devia ser feito em
açúcar e não em dinheiro, que não havia suficiente, como em 1555 determinava o
Rei em carta ao Provedor-mor e ao Ouvidor-geral: Documentos Históricos, vol. 35
cit., pp. 372/374.

(24) Veja-se Introdução § II.

(25) Veja-se Introdução § IV.

(26) Constantino de Caires deixou nome famoso no Oriente, de cujos


feitos faz menção Manuel Tomás, Insulana (Antuérpia, 1635). Caires é uma
povoação minhota. Luís Dias, mestre das obras del Rei na Bahia, pedia a este em
1551 que lhe mandasse pagar o salário em Pernambuco, onde havia renda "e o
melhor açúcar que há": Anais da Biblioteca Nacional vol. 57 (Rio, 1939), pp. 19 e
24.

(27) Vasco Fernandes — a que Frei Vicente do Salvador acrescenta "de


Lucena": História do Brasil livro II capítulos IX e X — já tinha experiência brasileira
ao ser nomeado Feitor e Almoxarife de Pernambuco em 22 de abril de 1534, pois
na carta régia em que o nomeia o Rei diz dele ser "cavaleiro de minha casa, língua
do Brasil". Merece ser divulgada esta carta régia, pois somente a de 26 setembro de
1534 é conhecida, através da publicação feita nos Documentos Históricos, vol. 35
cit., pp. 35/37; esta última também a transcrevemos diretamente dos livros da
chancelaria de D. João III. "Eu, D. João, etc. A quantos esta minha carta virem, faço
saber que confiando eu de Vasco Fernandes, cavaleiro de minha casa, língua do
Brasil, que nisto me servirá bem e fielmente com todo o recado e diligência que a
meu serviço cumpre, e querendo lhe fazer mercê, tenho por bem e lhe faço
novamente mercê dos ofícios de feitor e Almoxarife da minha feitoria e almoxarifado
de toda a terra de Pernambuco, que é no dito Brasil, assim e pela maneira que o
ele deve ser e o são os feitores e almoxarifes das outras minhas feitorias e
almoxarifados, e hei por bem e me praz que ele tenha e haja, do dia que isso
começar a servir em diante, dois por cento de todas as rendas e direitos que para
mim arrecadar e feitorizar e ficar em proveito da dita feitoria e almoxarifado e o
que nisso montar ele o poderá tomar em si do rendimento das ditas rendas e
direitos e pelo traslado desta carta, que se registrará no livro da dita feitoria pelo
Escrivão dela, e com conhecimento do dito Vasco Fernandes de como tomou em si
o dito seu ordenado de dois por cento, mando que lhe seja levado em conta o que
isso montar. Notifico-o assim ao Capitão e oficiais da dita terra de Pernambuco e a
quaisquer outras pessoas a que esta minha carta for mostrada e o conhecimento
disto pertencer e lhes mando que lhe dêem posse dos ditos ofícios e lhes deixem
ter e servir e deles usar e haver o dito ordenado e todos os próis e percalços que
lhe direitamente pertencer, sem nisso lhe ser posto dúvida nem embargo algum,
porque assim é minha mercê, e o dito Vasco Fernandes haverá juramento dos
Santos Evangelhos que lhe será dado pelo Feitor da Casa da Índia e Mina, que bem
e verdadeiramente sirva, guardando inteiramente meu serviço e o direito das partes
e de como lhe assim deu o dito juramento lhe passará sua certidão nas costas
desta, que se registrará na dita casa. Pedro Henriques a fez em Évora aos 22 dias

129
do mês de abril, ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1534. E o
ordenado dos ditos dois por cento que assim há de haver se não entenda de
mercadoria, nem coisa alguma que da dita feitoria e almoxarifado vier a estes
Reinos, salvo do que ele, Vasco Fernandes, feitorizar e arrecadar e aproveitar."
(Torre do Tombo, chacelaria de D. João III, livro 7, fls. 77). "D. João, etc. A quantos
esta minha carta virem, faço saber que por confiar de Vasco Fernandes, cavaleiro
de minha casa, que nisto me servirá bem e com todo recado e fidelidade que a
meu serviço cumpre, e por lhe fazer mercê, hei por bem de lhe fazer ora novamente
mercê dos ofícios de Feitor e Almoxarife da feitoria e almoxarifado de todas as
sessenta léguas de terra de Pernambuco no Brasil de que fiz doação e mercê a
Duarte Coelho, fidalgo de minha casa, assim e pela maneira que o ele deve ser e o
são os feitores e almoxarifes das outras feitorias e almoxarifados que nas outras
Capitanias dessa terra do Brasil tenho servidos e quero e me praz que o dito Vasco
Fernandes sirva o dito ofício em sua vida e haja para seu mantimento e ordenado
dois por cento de todos os dízimos, rendas e direitos e cousas outras que a mim
e à Ordem pertencerem, de tudo o que se fizer e feitorizar e negociar na dita
feitoria e almoxarifado, por terra como por mar, e assim do que se carregar para
estes meus Reinos e para quaisquer outras partes, e tomará e haverá em si os ditos
dois por cento do rendimento da dita feitoria e almoxarifado e pelo traslado desta
carta, que se registrará no livro da dita feitoria pelo Escrivão do seu cargo, com
conhecimento do dito Vasco Fernandes de como tomou em si os ditos dois por
cento, mando que lhe seja levado em conta o que nisso se montar. Notifico assim
ao Capitão e oficiais da dita terra e porto e a quaisquer outros a que esta carta for
mostrada e o conhecimento pertencer e mando que o metam logo de posse do
dito ofício e lho deixem inteiramente servir em tudo o que lhe pertencer e haver os
ditos dois por cento do dia que começar a servir em diante, e todos os próis e
percalços, porque assim é minha mercê, e ele jurará na chancelaria que sirva bem
e verdadeiramente, guardando em tudo a mim meu serviço e às partes seu direito,
e por esta mando ao Feitor e oficiais das Casas da Índia e Mina que façam registrar
esta na dita Casa. Dada em Évora aos 26 de setembro. Álvaro de Avelar a fez, ano
do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1534. E posto que diga que jurará
na chancelaria ser-lhe-á dado o dito juramento na Casa da índia, pelo Feitor dela,
e levará a certidão sua nas costas desta de como lho assim deu". (Torre do Tombo,
chacelaria de D. João III, livro 7, fls. 164). Vasco Fernandes passou a perceber 3%
"de tudo o que a capitania render" por uma provisão de Tomé de Sousa datada de
3 de julho de 1550: Documentas Históricos, vol. 14 p. 390 e vol. 38 p. 204. Em 1552,
por dizer ele "ser velho, mal disposto e fraco", foi-lhe permitido nomear quem
fizesse suas vezes na cobrança dos dízimos nos engenhos: liv. cit., vol. 14 p. 411 e
vol. 38 p. 227. Em 1554 o segundo Governador-geral, considerando o pedido de
Vasco Fernandes de ser "já velho e muito cansado e ter sua conta por dar e outros
respeitos", e não mais poder trabalhar, e ter apresentado para o substituir no cargo
Diogo Português, pessoa "muito apta", nomeou a este para Feitor e Almoxarife da
Capitania de Pernambuco "enquanto o dito Vasco Fernandes o não puder servir":
Doc. Históricos vol. 35, pp. 216/217. Diogo Português era provavelmente filho seu,
pois um Sebastião Português declaradamente o era, como se comprova do
documento que se segue: "D. Sebastião, etc. Aos que esta carta virem, faço saber
que Bastião de Lucena, meu moço da câmara, me enviou dizer que El Rei meu
Senhor e avô, que Santa Glória haja, houvera por bem, por uma carta feita em 26
de setembro de 1534, fazer mercê a Vasco Fernandes, seu pai, cavaleiro de minha
casa, em sua vida, dos ofícios de Feitor e Almoxarife da feitoria e almoxarifado de
todas as sessenta léguas de terra de Pernambuco no Brasil de que eu fizera mercê
e doação a Duarte Coelho, e isto assim e da maneira que o ele devia ter e o eram

130
os feitores e almoxarifes das outras feitorias e almoxarifados que nas capitanias
das ditas terras do Brasil tinha providas, e que houvesse de seu mantimento e
ordenado dois por cento de todos os dízimos, rendas, direitos e cousas outras que
ao dito Senhor e à Ordem pertença, e assim de tudo o que se fizesse, feitorizasse
e negociasse na dita feitoria e almoxarifado, assim por terra como por mar, e assim
do que se carregasse para estes Reinos e para quaisquer outras pártes, e que
houvesse todos os próis e percalços que lhe direitamente pertencessem e tomasse
cada ano em si os ditos dois por cento do rendimento da dita feitoria e almoxarifado
como mais largamente na dita carta era declarado, e que Sua Alteza houvera por
bem, por um alvará de lembrança feito em 14 de julho do ano de 1548, havendo
respeito aos serviços de Vasco Fernandes, seu pai, de por seu falecimento fazer
mercê a Sebastião Português, seu filho, dos ditos ofícios, e que o dito alvará não
passasse pela chancelaria, como nele era declarado, pedindo-me que, porquanto
Vasco Fernandes, seu pai, era falecido, e ele Sebastião de Lucena, seu filho é seu
filho e de Beatriz Dias sua mulher, dos quais não ficara outro filho e o próprio
Sebastião Portugueses fsid conteúdo no dito alvará, porque se passou a se chamar
assim e depois disso mudar o sobrenome, como fazia certo por uma certidão de
justificação do doutor Simão Cabral, do meu Desembargo e Corregedor dos feitos
crimes na cidade de Lisboa, que serve de Juiz dos feitos e causas de justificações
de Guiné, Mina e Índia, lhe mandasse passar carta em forma dos ditos ofícios, e
visto seu requerimento e o traslado da dita carta, concertado e assinado pelo Feitor
e oficiais da Casa da Mina, que foi tirada dos registros dela, que está no livro dos
registros da dita Casa, e o dito alvará de lembrança e certidão de justificação que
parecia ser subscrita por Francisco Gonçalves, Escrivão das justificações, aos 4 de
dezembro do ano passado de 1568 e assinada pelo dito Simão Cabral, hei por bem
e me praz fazer mercê ao dito Sebastião de Lucena em sua vida dos tais ofícios,
assim e da maniera que os seu pai tinha, pela dita carta, e haverá com eles os ditos
dois por cento das cousas sobreditas, de mantimento e ordenado cada ano e todos
os próis e percalços que lhe direitamente pertencerem, como tudo tinha e havia
seu pai pela dita carta, e começará a vencer e haver dele pagamento do dia que for
metido em posse dos tais ofícios e começar a servir em diante, dos quais dois por
cento se pagará em si do rendimento da dita feitoria e almoxarifado, o que assim
hei por bem, porquanto pela dita certidão de justificação constou o dito Sebastião
de Lucena ser o próprio Sebastião Portugueses conteúdo no dito alvará, e pelo
traslado desta carta, que será registrada no livro de sua despesa pelo Escrivão de
seu cargo, com seu conhecimento como se pagou em si dos ditos dois por cento
cada ano, mando aos contadores que lhe levem em conta o que nisso montar;
notifico assim ao Capitão e oficiais da dita terra e porto e quaisquer outros a que
esta carta for mostrada e o conhecimento dela pertencer, e mando-lhes que metam
a Sebastião de Lucena logo de posse dos tais ofícios e lho deixem servir inteiramente
na maneira que dito é, e em tudo o que lhe pertencer, e haver os dois por cento e
os próis e percalços como dito é, sem dúvida e embargo algum, porque assim é
minha mercê e na chancelaria lhe será dado juramento que bem e verdadeiramente
sirva os ditos ofícios, guardando em tudo meu serviço e às partes seu direito, do
qual juramento e posse se fará declaração nas costas desta, que se registrará no
livro da Casa da Mina dentro de quatro meses primeiros seguintes, e ao Feitor e
oficiais dela mando que dêem embarcação a Sebastião de Lucena quando houver
de ir servir os ditos ofícios, o qual pagou de ordenado deles na chancelaria mil
réis, que foram entregues em receita sobre Jorge de Oliveira, recebedor dela, segundo
se viu por um seu conhecimento em forma, que se rompeu ao assinar desta, e
assim se rompeu o traslado da dita carta e alvará de lembrança e a certidão de
justificação e a própria carta se não rompeu por jurar que a não tinha em seu

131
poder, nem sabia dela parte, e que vindo-lhe ter à mão apresentará em minha
fazenda para se romper, e no registro dela que está no dito livro da Casa da Mina
se porá verba que lhe foi passada esta na maneira sobredita e outra tal verba se
porá no registro do alvará de lembrança que está no livro das mercês, e de como
as tais verbas ficam postas passarão os oficiais que as puseram suas certidões nas
costas desta, que, por firmeza do que dito é, lhe mandei dar por mim . assinada e
selada de meu selo pendente. Dada em Almeirim a 29 do mês de janeiro. Álvaro
Fernandes a fez no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1569.
Manoel Soares a fez escrever." (Torre do Tombo, chancelaria de D. Sebastião, livro
24, fls. 291/291v). Diogo Português deixou de servir o cargo em 1557 (Documentos
Históricos vol. 35, p. 380), sendo nomeado Feitor e Almoxarife Pedro Rodrigues
Anzulho, fato que deve estar relacionado com o falecimento, por esse tempo, do
ocupante efetivo, Vasco Fernandes. Ainda sobre Vasco Fernandes veja-se Pereira
da Costa, Anais Pernambucanos cit., I pp. 211/212.

(28) D.C. fez a doação de terras em 24 de julho de 1540 e o texto se lê no


Livro do Tombo do Mosteiro de São Bento de Olinda (Recife, 1948), pp. 287/289. Os
doados foram, em partes iguais, Vasco Fernandes e seus filhos Francisco, Sebastião
e Clara, e as terras abrangiam uma légua de extensão, desde o Rio Merueira até o
Rio Jaguaribe, ao norte da Vila de Olinda; e isto "havendo respeito ao dito Vasco
Fernandes e seus filhos serem os primeiros que comigo vieram povoar esta minha
Vila de Olinda". A referência aos filhos como povoadores desmente em parte a
afirmação de D.C. de que Vasco Fernandes deixara no Reino mulher e filhos.

(29) Nesta carta de março de 1548 D.C. diz que Frazão, "meu criado",
partira há um mês para o Reino, como portador de cartas suas dirigidas ao Rei,
devendo esperar pela resposta. Na carta seguinte, de abril de 1549, refere que
"haverá um mês que por um meu criado, por nome Francisco Frazão, escrevi a
Vossa Alteza"; a partida ocorrera "há vinte dias". Teriam sido duas as viagens de
Frazão, com o espaço de um ano, ou teria falhado a primeira? Frazão foi em
Pernambuco mamposteiro-mor dos cativos (27 de janeiro de 1558) e escrivão dos
órfãos de Olinda (9 de dezembro de 1564): Torre do Tombo, chancelaria de D.
Sebastião, livro 5, fls. 143 e livro 14, fls. 102v.
(30) Veja-se a nota anterior.

(31) O oferecimento feito pelos armadores não foi tomado em


consideração pelo Rei, segundo Varnhagen, "graças à presença na corte de Pero de
Góis e à sua ilustração e gênio ativo, e se assentou, em fim do mencionado ano de
1548, no melhor partido, qual o de criar no Brasil um centro de poder, para acudir
onde houvesse mais necessidade". Desta afirmativa não cita qualquer fonte, nem a
pudemos identificar: História Geral cit., I, p. 270 e nota 17. Com relação a Manuel
de Albuquerque veja-se nota 8, supra.

(32) Idêntica queixa fizera antes, na carta de 1548.

(33) Carta régia datada de Évora 5 de outubro de 1534 mostra que haviam
sido designados para servir na Capitania de D.C. um vigário e quatro sacerdotes,
pagos pela Fazenda Real: Documentos Históricosvol. 35 cit., pp. 42/44. A referência
"às obras e cousas das igrejas, da obrigação de Vossa Alteza" parece dar razão a
Frei Odulfo van der Vat ao escrever que, não obstante cobrar o Rei de Portugal o
dízimo eclesiástico ou de Deus, "das primeiras igrejas do Brasil só algumas foram
fundadas e sustentadas pela Coroa, talvez as de Olinda e São Vicente somente.

132
Outras, como por exemplo as de Porto Seguro e de Igaraçu, foram fundadas e
dotadas pelos respectivos capitães. Só desde o ano de 1541, ao que consta, começou
o Rei a contribuir também, gradativamente, para estas": Princípios da Igreja no
Brasil (Petrópolis, 1952), p. 284.

(34) Veja-se nota 2, supra.

(35) Sobre Manuel de Albuquerque veja-se nota 8.

(36) Pelo Foral dado por D.C. a Olinda, em 12 de março de 1537, a


"comarca" limitava-se ao norte no Rio Doce e ao sul atingia pelo menos a ribeira
do Sirinhaém, pois ainda no século XIX a Câmara daquela cidade ali cobrava e
recebia foros: Biblioteca Pública de Pernambuco (Manuscritos), Livro das sizas dos
bens forais da Câmara de Olinda, 1830-32. Do Foral de Olinda não se conservou
texto do século XVI. Após a Restauração de 1654 encontrou-se o que os Monges
Beneditinos daquela cidade haviam guardado e do qual foram extraídas certidões.
Nos nossos dias são conhecidas de quem escreve estas linhas cinco cópias
manuscritas: a mais antiga, datada de 1675, existente no Arquivo Histórico
Ultramarino de Lisboa, Pernambuco, papéis avulsos, caixa 6; a segunda, datada de
1723 existente no mesmo Arquivo, Pernambuco, papéis avulsos, caixa 39; a terceira
datada de 1822, guarda-se no Instituto Arqueológico Pernambucano, estante A,
gaveta 4, e foi publicada por Pereira da Costa, Anais Pernambucanos cit., I, pp.
187/193; a quarta datada de Olinda, 1842, conserva-se no Mosteiro de São Bento
dali, no volume "Monte, Documentos 1766-1866", pp. 1 a 4; a quinta, de cerca de
1876, também no Instituto Arqueológico na coletânea "Notícias Históricas e curiosas.
Livro 1. 9 ", pp. 204/215, foi divulgada por José Vasconcelos, Datas Célebres e Fatos
Notáveis da História do Brasil cit., I, pp. 111/114. Há entre essas cópias notáveis
divergências de texto, sendo que os publicados estão lamentavelmente estropiados.
Quanto à "comarca" da Santa Cruz, estava situada entre os Rios Igaraçu e Doce:
veja-se a introdução § VII.

(37) Das referências a tribos indígenas e limites de suas respectivas áreas


de ocupação, pode-se concluir que os petiguares estendiam-se do norte até o Rio
Capibaribe-mirim, na Capitania de Itamaracá; deste ao Cabo de Santo Agostinho
havia outra geração cuja denominação não é indicada (tabajaras?); do Cabo para o
sul tendo, ao que parece, por extremo o Rio São Francisco, estavam os caetés.

(38) Veja-se Introdução § 1.

(39) O texto do Foral da Capitania de Pernambuco aqui referido por D.C.


é o seguinte: "Querendo o dito Capitão e moradores e povoadores da dita Capitania
trazer ou mandar trazer por si ou por outrem a meus Reinos ou senhorios qualquer
sorte de mercadorias que na dita terra e parte delas houver, tirando escravos e as
outras mais cousas que acima são defesas, podê-lo-ão fazer; e serão recolhidos e
agasalhados em quaisquer portos, cidades, vilas ou lugares dos ditos meus Reinos
e senhorios em que vierem aportar, e não serão constrangidos a descarregar suas
mercadorias nem as vender em algum dos ditos portos, cidades ou vilas contra
suas vontades, se para outras partes antes quiserem ir fazer seus proveitos; e
querendo-os vender nos ditos lugares de meus Reinos ou senhorios não pagarão
deles direitos algum, somente a siza do que venderem, posto que por os forais,
regimentos ou costumes dos tais lugares fossem obrigados a pagar outros direitos
ou tributos; e poderão os sobreditos vender suas mercadorias a quem quiserem, e

133
r-

levá-las para fora do Reino se lhes bem vier, sem embargo dos ditos forais, regimentos
e costumes que em contrário haja": Fernandes Gama, Memórias Históricas cit., I,
pp. 55/56. O texto em que os funcionários da Coroa se baseavam para deixar de
respeitar as "liberdades e privilégios" consta do Regimento dos Provedores da
Fazenda Real das Capitanias do Brasil, transcrito na Introdução § I.

(40) Como ficou dito em nota 27, o Feitor e Almoxarife de Pernambuco


era, desde 1534, Vasco Fernandes. O Escrivão da feitoria de Pernambuco era
Francisco Monteiro (não Nunes, como está na Hist. da Colonização cit., III, p. 199)
nomeado em carta régia de 25 de outubro de 1540: Torre do Tombo, chancelaria
de D João III, livro 6, fls. 129. Em 19 de agosto de 1549 o Provedor-mor da Fazenda
do Estado do Brasil designou Lopo Gonçalves para as mesmas funções: Documentos
Históricos vol. 35 cit., pp. 38/39. Em 22 de agosto de 1550 foi nomeado para o
mesmo cargo Vicente Fernandes: Torre do Tombo, chancelaria cit., livro 62, fls.
115v.

(41) Nas Ilhas Canárias havia importantes fábricas de açúcar no começo


do século XVI e oficiais aptos nos diversos misteres dos engenhos. Muitos destes
transferiram-se para a Ilha da Madeira, como o atesta a carta régia de Lisboa 22 de
janeiro de 1505, que permitiu a permanência naquela Ilha de "canareos mestres
daçuquer forros ou cativos que na dita ylha ouver que verdadeyramente foram
ysaminados pelos mestres daçuquer que a camara tem por ysaminadores e acharem
e disserem por seu juramento que são mestres daçuquer": Arquivo Distrital do
Funchal, livro 1 2 do Tombo da Câmara do Funchal, fls. 107/107v. Mas não apenas
mestres de engenho existiam na Madeira; também carpinteiros de engenho, como
se conclui da carta régia datada de Évora 19 de janeiro de 1537, em que se proíbe
aos carpinteiros irem a terra de mouros fazer engenhos: livro cit., fls. 372v. Prova
que não era fácil obter oficiais para o serviço dos engenhos tem-se na carta escrita
pelo donatário Pero de Góis ao capitalista Martim Ferreira, seu sócio, Vila da Rainha
18 de agosto de 1545: Hist. da Colonização cit., III p. 262. A cultura do algodão
teria já a este tempo uma relativa importância em Pernambuco, embora não haja
confirmação de documentação contemporânea; mas como de Itamaracá se diz em
1552 ser o algodão "a principal cousa e mais grossa de que os moradores viviam e
tratavam e que ao presente era mais que o açúcar", provavelmente teria também
cultura em Pernambuco: Documentos Históricos cit., vol. 14, p. 420 e vol. 38 p. 235.
Embora o donatário não o mencione, havia também um começo de pecuária. Há
referência em 1549 a pagamento feito pelo Feitor e Almoxarife de Pernambuco de
certa quantia "aos homens que amansaram os novilhos, em que entram os 4$200
que custou um boi que se comprou para el Rei Nosso Senhor", esclarecendo-se em
outro documento que o pagamento fora feito "aos dois homens que três meses
amansaram e ensinaram os novilhos del Rei Nosso Senhor": Documentos Históricos
cit., vol. 13 pp. 299 e 303. Com relação a mantimentos, foi em Pernambuco que o
Governador-geral mandou comprar farinha em 1549, 1551 e 1552: veja-se Alexander
Marchant, Do Escambo à Escravidão cit., pp. 120/122 e fontes aí referidas, que
devem ser completadas com indicações omitidas constantes dos Documentos
Históricos vol. 38, pp. 39, 40 e 152.

(42) O colono casado era estável, ao contrário do solteiro, como observou


em 1551 Antônio Cardoso de Barros em carta ao Rei: "lembro a Vossa Alteza que
aproveita cá mais um homem casado que dez solteiros, porque os solteiros não
procuram senão como hão-de ir e os casados como hão-de nobrecer a terra e

134
sustentá-la": Anais da Bibl. Nacional vol. 57 cit., p. 14. Não obstante o propósito
de D.C. de fazer casar na terra os seus povoadores - o que evidentemente não
significa casar com índias - Nóbrega observou em 1551 que eram freqüentes as
uniões não matrimoniais. Referindo-se a Pernambuco, de onde escrevia naquele
ano, diz: "Para as outras Capitanias mande Vossa Alteza mulheres órfãs, porque
todas casarão. Nesta não são necessárias por agora, por haverem muitas filhas de
homens brancos e de índias da terra, as quais todas agora casarão com a ajuda do
Senhor; e se não casavam dantes era porque consentiam viver os homens em seus
pecados livremente"... Padre Serafim Leite (ed.) Monumenta Brasiliae cit., 1, p.
293.

(43) D.C. invoca as "mais razões que Vossa Alteza sabe" e foram causa de
mandá-lo ao Brasil a povoar a Capitania de Pernambuco. Entre as de mais peso
estava a de criar núcleos de povoamento que afastassem o perigo da presença de
franceses. É conhecido o episódio da tomada da fortaleza de Pernambuco pelos
corsários a serviço do Barão de Saint Blancard, em 1532, e do apresamento da nau
La Pélerine carregada de gêneros embarcados em Pernambuco: esses dois fatos
deram grandes preocupações a D. João III. Veja-se a carta deste a Martim Afonso de
Sousa, Lisboa 28 de setembro de 1532, publicada por Varnhagen, Hist. Geral, cit.,
I, pp. 160/162.

(44) Na carta de 1546 D.C. escreveu que "por não desrespeitar a jurisdição
alheia" sofria os desmandos dos moradores de Itamaracá. Aqui repete a mesma
queixa. Em nota 21 fica registrado o episódio narrado por Frei Vicente do Salvador,
que caracteriza o oposto do aqui reafirmado pelo donatário.

(45) Da carta régia citada não é conhecido o texto. Não era freqüente a
comu-nicação entre a Bahia e Pernambuco e vice-versa. Pero Borges em carta ao
Rei, Porto Seguro 7 de fevereiro de 1550, diz: "de Pernambuco, nem do Espírito
Santo nem de São Vicente não foi ainda navio à Bahia depois da vinda do
Governador": Hist. da Colonização cit., III, p. 269.

(46) Das cartas escritas em 1549 só uma chegou até nós: a anterior. Não
é co-nhecido o documento pelo qual D. João III isentou D.C. da subordinação ao
Governador-geral do Brasil; mas é evidentemente posterior à data de nomeação
deste, em cuja carta, lavrada em Almeirim 7 de janeiro de 1549, se lê: "Notifico
assim a todos os capitães e governadores das ditas terras do Brasil ou a quem seus
cargos tiverem ... que hajam o dito Tomé de Sousa por Capitão da dita povoação e
terras da Bahia e Governador-geral da dita capitania e das outras capitanias e terras
da dita costa, corno dito é", determinação que está repetida na carta de nomeação
do seu sucessor, D. Duarte da Costa em 1-Q de março de 1553: Hist. da Colonização
cit., III, pp. 335 e 367. O "Regimento" dado ao Governador-geral, em 1548, também
não faz qualquer exceção de jurisdição. Parece que o fez apenas em carta dirigida
tanto a D.C. como a Tomé de Sousa, como o permite supor certo trecho de carta
deste último e o fato do donatário solicitar nesta, mais abaixo, que a mercê fosse
feita "por alvará de confirmação, assinada por Vossa Alteza e selada do seu selo e
passado por sua chancelaria". O próprio Tomé de Sousa refere que "me Vossa
Alteza tem escrito que não vá lá até ver outro recado seu". O Governador-geral
magoou-se com o caso e, com erro de pronome de tratamento, aconselha em carta
da Bahia em 18 de julho de 1551: "torno a dizer a Vossa Alteza que os capitães
destas partes merecem muita honra e mercê de Vossa Alteza, e mais que todos

135
Duarte Coelho, sobre que largamente tenho escrito a Vossa Alteza, mas não deixar
ir vossas justiças às suas terras parece-me grande desserviço de Deus e de vossa
consciência e danificamento de vossas rendas": Hist. da Colonização cit., III, p.
362.

(47) D. João recomendou-lhe que guardasse justiça às partes e isto se


prende ao fato de que, ao mesmo tempo que isentava D.C. da subordinação ao
Governador-geral, eximia a justiça da Capitania de Pernambuco de dependência
do Ouvidor geral, como se vê da carta que em 1553 Tomé de Sousa escreveu ao Rei, em
-

que propõe "que a justiça de Vossa Alteza entre em Pernambuco e em todas as capitanias
desta costa e doutra maneira não se deve tratar da fazenda que Vossa Alteza tiver nas ditas
capitanias, nem menos da justiça que se faz": Hist. da Colonização cit., III, p. 365. O Padre
Nóbrega dissera já, em 1551, em carta datada de Olinda escrita ao Rei, que D.C. "é já velho
e falta-lhe muito para o bom regimento da justiça": Monumenta Brasiliae cit., I, p. 291.

(48) D.C. parece indicar aqui ser mais moço que D. João III, pois ainda aspirava
servir aos filhos deste. O Rei nasceu em Lisboa a 6 de junho de 1502, contando à data desta
carta 48 anos feitos. Faleceu em 1557. Não é conhecida a data do nascimento de D.C., mas
se pode presumir fosse dos últimos vinte anos do século XV, pois desde 1509 serviu na
Índia: Pedro de Azevedo, "Os primeiros donatários", Hist. da Colonização cit., III, p. 194.

(49) Estas "mudanças" eram as introduzidas no regime donatarial pelo Regimento


dos Provedores da Fazenda Real, datado de 17 de dezembro de 1548: publica-o Alberto Iria,
Anais do IV Congresso de História Nacional cit., II, pp. 82/110.

(50) Talvez por causa dessas "asperezas" de que teria usado o Provedor-mor da
Fazenda Antônio Cardoso de Barros — que em agosto de 1549 já estava em Olinda, como se
vê de provisões publicadas em Documentos Históricos vol. 35, cit., pp. 35/42 — é que teria
havido as diferenças de que faz menção Tomé de Sousa em carta de 1551: "o Provedor-mor
[ 1 está muito diferente com Duarte Coelho e com seu cunhado Jerônimo de Albuquerque
": Hist. da Colonização cit., III, p. 362. Duarte Coelho advoga a opinião de que em "terras
tão novas e tão cedo" a legislação deveria ser branda e não rigida, de forma a facilitar o
povoamento e o desenvolvimento econômico do país. O Ouvidor-geral do Brasil, formado
em leis, Pedro Borges, manifestava em 1550 opinião semelhante, ao defender que "esta
terra, Senhor, para se conservar e ir avante há mister não se guardarem em algumas cousas
as Ordenações, que foram feitas não havendo respeito aos moradores dela": Hist. da
Colonização cit., III, p. 269. De idêntica opinião era Afonso Gonçalves, que escrevia de
Igaraçu ao Rei, em 1548, que "as terras novas como estas não se povoam e sustentam senão
com muita benignidade e justiça, cada um a seu tempo, isto digo porque sou criado de
Vossa Alteza e obrigado a lho fazer saber": liv. cit., III, p. 317. D. Duarte da Costa era de
parecer que "terra tão nova como esta e tão minguada de cousas necessárias é digna de
muitos perdões e mercês para se acrescentar": livro cit., III, p. 372.

(51) Veja-se a Introdução 5 L

(52) No Regimento dos Provedores, cit. em nota 49, determina o Rei: "Mando aos
ditos Capitães [donatários] e pessoas que por eles estiverem nas ditas capitanias, e a todas as
outras justiças das ditas terras, que não conheçam das cousas que por este Regimento hão
de conhecer os ditos Provedores, nem se entremetam nelas nem em alguma que toque a
minha fazenda ou dela dependa, sob pena de suspensão de suas jurisdições"... Anaiscit., II,
p. 100.

(53) A longa permanência no Oriente — de 1509 a 1527 — habituara D.C. ao uso


da especiaria, talvez da pimenta, "que não posso viver sem ela". Entre as que eram objeto de
maior negociação por parte dos portugueses, além da já citada, estavam o gengibre, a
canela, o cravo, as maçãs e a noz-moscada.

136
(54) Aos Padres e Irmãos da Companhia de Jesus de Coimbra, em data de 2 de
agosto de 1551, escreveu o Padre Antônio Pires, narrando sua chegada a Pernambuco: "Y
aqui fuimos muy bien recebidos deste pueblo, principalmente do los Capitanes, que son
hombres virtuosos y amigos de Dios"... Em carta a D. João III, datada de Olinda 14 de
setembro de 1551, o Padre Manuel da Nóbrega confirma: "Duarte Coelho e sua mulher são
tão virtuosos como a fama que têm, e certo creio que por eles não castigou a justiça do
Altíssimo tantos males até agora", repetindo em carta aos Padres de Coimbra que "o Capitão
desta capitania e sua mulher são mui virtuosos"... Monumenta Brasiliae cit. 1,
e 291. pp. 261, 288

(55) Ao que parece tal oportunidade só ocorreu em 1553, vindo D.C. a falecer em
Lisboa em 7 de agosto, segundo a judiciosa observação de Costa Porto, Duarte Coelho
1961), p. 11. (Rio,

(56) "Estes cinco engenhos" existentes em Pernambuco em 1550 são possivelmente


os seguintes: 1) Engenho de Duarte Coelho (do Salvador?) situado talvez em Beberibe,
citado em carta de D.C. de 1542: veja-se nota 2, supra; 2) Engenho Velho, da Invocação de
Nossa Senhora da Ajuda, fundado por Jerônimo de Albuquerque: veja-se a nota citada; 3)
Engenho de Igaraçu, de Afonso Gonçalves, referido por Frei Vicente do Salvador, História
cit., livro II cap. VIII; 4) Engenho de Camaragibe, da invocação de Santiago, fundado por
Diogo Fernandes "e outros companheiros de Viana, gente pobre", segundo informa Jerônimo
de Albuquerque em carta datada de Olinda, agosto de 1555, Torre do Tombo, Corpo
cronológico, Parte I, maço 96, doc. 74, publicado na Hist. da Colonização cit., lII
, pp. 380/
381. O engenho já estava fundado em 1549: Documentos Históricos
vol. 13 (Rio, 1929), p.
303 e vol. 37 (Rio, 1937), p. 34; 5) Engenho de Aiama (Inhaman) fundado por Vasco
Fernandes, cuja construção estava iniciada em 1548, segundo referência de D.C. em sua
carta desse ano; veja-se nota 28, supra. Na luta contra os indígenas iniciada em 1553 os
engenhos de Igaraçu e de Camaragibe foram inteiramente destruídos, e um terceiro,
provavelmente o de Aiama, por sua localização, foi danificado: veja-se a carta de Jerônimo
de Albuquerque citada. Sobre este assunto veja-se Costa Porto, Duarte Coelho,
cit., pp. 27/
29.

1 37
Produzido na Editora Massangana
e impresso na Recife Gráfica e Editora
no mês de janeiro de 1997, ano em que se comemoram
os 460 anos da Carta Foral de Olinda; 444 anos da morte do donatário
Duarte Coelho Pereira; 400 anos da morte do Padre José de Anchieta;
360 anos da chegada do Conde João Maurício de Nassau
a Pernambuco; 300 anos da morte do Padre Antônio Vieira;
180 anos da República Pernambucana de 1817;
172 anos do arcabuzamento de
Frei Joaquim do Amor Divino Caneca;
170 anos da elevação da cidade do Recife à capital da
Província de Pernambuco; 100 anos da Guerra de Canudos;
Centenário do nascimento de
Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho
e de fundação do Clube Lenhadores do Recife; 90 anos do
pintor Elezier Xavier; cinqüentenário do lançamento do livro
Tempo dos Flamengos - Influência da ocupação holandesa
na vida e na cultura do Norte do Brasil,
de José Antônio Gonsalves de Mello
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FUNDAÇÃO
JOAQUIM
NABUIC O

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BRASIL
GOVERNO FEDERAI

ISBN 85-7019-293-2

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