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Capítulo

2 Dinâmicas e relações entre


o espaço rural e o urbano
No capítulo anterior, começamos a estudar as diferentes paisagens e a importância delas para a aná-
lise e a compreensão das transformações do espaço geográfico. Neste capítulo, vamos abordar as dinâ-
micas entre o espaço rural e o urbano, apresentando como as atividades desempenhadas no campo e na
cidade se inter-relacionam e refletem diretamente na organização e no desenvolvimento econômico social
do Brasil.
Observe atentamente as imagens a seguir e, depois, converse com os colegas e o professor para res-

Luciana Tancredo/Shutterstock
ponder às perguntas.
A

▶ Plantação de café do tipo arábica em Carmo de Minas, na Serra da Mantiqueira, Minas Gerais.

Habilidades
SEF06GE71 SEF06GE72 SEF06GE73 SEF06GE74 SEF06GE75

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Geografia

• Qual das imagens corresponde a uma paisagem do campo e qual remete a uma paisagem da cidade?
• Descreva os elementos que compõem cada uma das imagens.
• Quais atividades você imagina que sejam realizadas nesses espaços?

B
Cacio Murilo/Shutterstock

▶ Vista aérea do bairro de Boa Viagem, na Zona Sul de Recife, Pernambuco.

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1. Desmistificando o espaço rural
Para entendermos o espaço rural, é importante esclarecer que esse ambiente vem passando por
inúmeras transformações nas últimas décadas e, devido a isso, é uma área que merece constante estudo
dentro da Geografia.
Antigamente, acreditava-se que o campo tinha um atraso em relação à cidade, como se o meio rural
fosse inferior ou menos importante que o meio urbano. Também é comum que o espaço rural seja vincu-
lado única e exclusivamente às atividades relacionadas ao setor primário da economia, como agricultura,
pecuária e extrativismo.
Como veremos a seguir, o espaço rural tem um papel fundamental no desenvolvimento econômico e
social do país, estabelecendo relações que não se restringem somente ao campo, mas também comple-
mentam as atividades e as dinâmicas realizadas nos espaços urbanos.

Alf Ribeiro/Shutterstock
▶ Trabalhadores
colhendo algodão
no município de
Leme, interior do
estado de São
Paulo.
ThiagoSantos/Shutterstock

▶ Hotel de luxo
no Vale dos
Vinhedos, em
Bento Gonçalves,
Rio Grande do Sul.
A Serra Gaúcha é
a maior produtora
de vinho do país
e movimenta o
turismo rural na
região.

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Geografia

Compreendendo o conceito
Segundo a definição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a lei brasileira, o espaço rural é compreendido
pelas áreas que estão fora dos perímetros definidos como urbanos. Embora essa definição seja bastante utilizada, ela não é
universal. Outros países classificam o espaço rural de acordo com o tamanho da população, a renda, a ocupação e a pressão
antrópica (intervenção humana no meio).

O uso da terra no Brasil


Caracterizado pelo baixo grau de ocupação, o espaço rural está relacionado a tipos específicos de uso
da terra. Podemos dizer que as formas de uso da terra normalmente não dependem de grande concen-
tração de pessoas, diferentemente da indústria e do comércio. Assim, mesmo com o surgimento de novos
padrões de uso da terra dentro do espaço rural, a exemplo do chamado “turismo rural” e do uso misto, as
atividades predominantes ainda são a agricultura, a pecuária e a manutenção da cobertura vegetal.

Cobertura e uso da terra no Brasil - 2018

AMAPÁ
RORAIMA
Linha do equador

AMAZONAS PARÁ MARANHÃO RIO GRANDE


CEARÁ
DO NORTE

PARAÍBA
PIAUÍ
ACRE PERNAMBUCO
ALAGOAS
TOCANTINS
RONDÔNIA SERGIPE
BAHIA
MATO GROSSO

OCEANO
DF
ATLÂNTICO
GOIÁS
MINAS Arquip. de Abrolhos
GERAIS
MATO GROSSO
OCEANO DO SUL
ESPÍRITO SANTO
PACÍFICO
SÃO PAULO
RIO DE JANEIRO
Classes
Área artificial Trópico de
Capricórni
Área agrícola PARANÁ o
Pastagem com manejo
Mosaico de ocupações
em área florestal
SANTA CATARINA
Silvicultura
Vegetação florestal
N
Área úmida RIO GRANDE
Vegetação campestre DO SUL
Moisaco de ocupações O L
em área campestre
Corpo d’água continental S
Corpo d’água costeiro 0 346 km
Área descoberta

GIRARDI, Eduardo Paulon. Proposição teórico-metodológica de uma cartografia geográfica crítica e sua aplicação no desenvolvimento do atlas da
questão agrária brasileira. Tese. Presidente Prudente, 2008. Uso da terra (predominância) – 2006. p. 239.

No Brasil, as áreas de pastagens e de matas (plantadas ou naturais) ocupam a maior parte do territó-
rio. Porém, a agricultura ainda hoje é a atividade rural mais importante, seja em razão da mão de obra que
ela necessita e emprega, seja pelo fato de ser a base de outras atividades realizadas no campo (agrope-
cuária, por exemplo) ou na cidade (fornecimento de alimentos e matéria-prima às indústrias).

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Agricultura
A agricultura surgiu há milhares de anos e, sem dúvida, é uma das atividades mais antigas já realizadas
pelo ser humano. Pode ser caracterizada como o conjunto de conhecimentos e técnicas que envolvem
o preparo do solo, o plantio, a manutenção da plantação e a colheita. A princípio, foi desenvolvida pelas
civilizações para a subsistência da espécie humana e, posteriormente, com o aperfeiçoamento técnico,
consolidou-se como uma das principais bases econômicas de muitos países, inclusive o Brasil.
Como dito anteriormente, as atividades desenvolvidas no espaço rural brasieiro relacionam-se prin-
cipalmente à agricultura. Os maiores cultivos em território nacional são de cana-de-açúcar, soja, laranja,
café, milho, cacau, arroz, feijão e algodão.

Murilo Mazzo/Shutterstock
▶ Colheita mecanizada de cana-de-açúcar em Pederneiras, São Paulo.

Agricultura familiar
Pode-se afirmar que a agricultura familiar é mais que uma forma de produzir no campo, é também um
modo de viver. Nesse tipo de categoria, o trabalho costuma ser familiar, tendo como principal objetivo a
subsistência. Quando há lucratividade, ela é baixa em comparação com os modelos praticados em gran-
des propriedades rurais. Na maior parte dos países do mundo, a agricultura familiar é muito importante,
principalmente para o abastecimento de alimentos Cesar Diniz/Pulsar Imagens
no mercado interno.
A família se mantém com pouca terra; por essa
razão, a agricultura familiar é feita em pequenas
propriedades, distinguindo-se da agricultura lati-
fundiária, desenvolvida em grandes áreas e com o
uso do trabalho assalariado.
De modo geral, em países periféricos, o que se
observa é a falta de estímulos do governo ao pe-
queno produtor, fazendo com que ele permaneça
pobre. Isso ocorre não pelo fato de não ser impor-
tante (como já vimos, o campesinato é responsável
por grande parte da produção de alimentos básicos
para a população), mas devido ao interesse de ba-
ratear os alimentos e abaixar os custos da mão de
obra, tendo em vista que os “salários” são baseados ▶ Família de agricultores em uma plantação de pimentão em
no custo de vida dos agricultores. Apiaí, São Paulo.

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Geografia

Agricultura moderna
Com o objetivo de alcançar altos lucros, alguns ramos da agricultura desenvolveram um novo tipo de
sistema agrícola, caracterizado por grandes investimentos na organização empresarial. É o que se deno-
mina de empresa agrícola ou agronegócio.
Surgiu em países desenvolvidos, como Estados Unidos, Canadá e Austrália, e há mais de trinta anos
vem sendo introduzido em países periféricos e no Brasil. Especificamente no país em que vivemos, o agro-
negócio está intensamente relacionado à produção de soja, laranja e cana-de-açúcar.
Em algumas situações, o dinheiro aplicado à produção agrícola é gerenciado pelas empresas que se
instalam nas grandes cidades. Dessa maneira, as propriedades funcionam como fábricas de alimentos e
matérias-primas que já distribuem os produtos nos comércios ou direcionam para os setores responsáveis
pelo acabamento (no caso das matérias-primas).
O fenômeno da expansão do agronegócio pelos territórios é uma tendência mundial e está ligado à
modernização da agricultura. Nesse contexto, quando abordamos a modernização, cabe ressaltar que
não se trata apenas do uso de novas tecnologias no campo, mas da mudança dos padrões tradicionais
para padrões modernos. Entre eles, podemos citar: o processo de substituição da mão de obra do trabalha-
dor pelas máquinas agrícolas, o que resulta em maior produtividade; o surgimento de grandes propriedades
empresariais e a priorização da produção de bens destinados à agroindústria, em detrimento da produção
voltada para os mercados local e regional.

Pecuária
Pode ser definida como a atividade que compreende criação, domesticação, venda e abate de ani-
mais. Devido às condições naturais e à detenção de terras por grandes produtores, a pecuária brasileira é
uma das mais produtivas em todo o mundo. Além de ser um dos maiores exportadores de carne bovina,
o Brasil também se destaca no comércio de carne de aves e suínos.
A criação de gado bovino no Brasil concentra-se, atualmente, em grandes propriedades, geralmente
com mais de mil hectares, mas destina-se sobretudo à produção de carne, tendo em vista que esse pro-
duto é o mais valorizado e o mais voltado para a exportação. A produção de leite e derivados ocorre de
maneira mais acentuada em propriedades de pequeno ou médio porte, uma vez que o mercado desse
tipo de produto é interno (apesar de alguns produtos terem ganhado espaço no mercado internacional,
como é o caso do queijo da Serra da Canastra, produzido em Minas Gerais).
A avicultura (criação de aves) caracteriza-se principalmente pela produção da carne de frango e con-
figura-se como um dos setores que têm grande destaque no comércio internacional. O efetivo do rebanho
de aves do Brasil é o maior da América Latina e um dos maiores do mundo, ficando atrás apenas de alguns
poucos países asiáticos, com destaque para a Rússia.

Alf Ribeiro/Shutterstock

▶ Granja avícola destinada à produção de carne de frango em Santa Catarina.

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Quantidade e distribuição dos principais tipos de rebanho brasileiros
Efetivo dos rebanhos (cabeças) –
Brasil e grande região – 2017

Tipo de Centro-
Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul
rebanho -Oeste

Bovino 214 899 796 48 471 454 27 736 607 37 529 834 27 033 684 74 128 217

Bubalino 1 381 395 911 166 130 065 184 948 103 366 51 850

Equino 5 501 872 883 059 1 311 786 1 318 066 946 586 1 042 375

Suíno – total 41 099 460 1 581 433 5 445 150 6 884 430 20 970 570 6 217 877

Suíno –
matrizes de 4 744 876 328 595 1 054 586 709 983 1 969 461 682 251
suínos

Caprino 9 592 079 164 597 8 944 461 161 412 230 932 90 677

Ovino 17 976 367 656 251 11 544 939 622 959 4 258 309 893 909

Galináceos –
1 425 699 944 44 801 645 164 838 480 372 777 530 670 863 385 172 418 904
total

Galináceos –
242 767 457 11 865 593 43 505 925 94 016 660 63 232 957 30 146 322
galinhas

Codornas 15 473 981 152 533 2 005 322 9 675 364 2 727 834 912 928

Fonte: IBGE. Pesquisa Pecu‡ria Municipal (PPM), 2017.

Para ampliar contextos


Quem é a Embrapa e o que ela faz?
Conheça o importante papel dessa empresa de tecnologia para o crescimento e a riqueza
da agricultura brasileira.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pe-
cuária e Abastecimento (Mapa), foi criada em 1973 e atua na inovação tecnológica focada na geração de
conhecimento e tecnologia para a agropecuária nacional.
O objetivo da Embrapa é desenvolver, em conjunto com parceiros do Sistema Nacional de Pesquisa
Agropecuária (SNPA), um modelo de agricultura e pecuária tropical genuinamente brasileiro, superando as
barreiras que limitavam a produção de alimentos, fibras e energia no país em que vivemos.
Esse esforço ajudou a transformar o Brasil. Segundo a empresa, atualmente a agropecuária nacional é
uma das mais eficientes e sustentáveis do planeta. Incorporou-se aos sistemas produtivos uma larga área
de terras degradadas dos cerrados.
Atualmente, é uma região responsável por quase 50% da produção brasileira de grãos. O trabalho de
pesquisa científica da Embrapa ajudou a quadruplicar a oferta de carnes bovina e suína e a ampliar em
22 vezes a oferta de frango.
De acordo com a empresa, essas são algumas das conquistas que tiraram o país de uma condição de
importador de alimentos básicos para a condição de um dos maiores produtores e exportadores mundiais.

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Geografia

Sistema Nacional de Pesquisa Agropecu‡ria

Alf Ribeiro/Shutterstock
O Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA)
foi criado em 1992 e é constituído pela Embrapa, pelas Or-
ganizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Oepas),
por universidades e institutos de pesquisa de âmbito fe-
deral ou estadual, além de outras organizações públicas e
privadas, direta ou indiretamente vinculadas à atividade de
pesquisa agropecuária.
O SNPA, entre vários objetivos, visa compatibilizar as
diretrizes e estratégias de pesquisa agropecuária com as
políticas de desenvolvimento, definidas para o país, como
um todo, e para cada região, em particular.
O sistema também executa em conjunto projetos de
pesquisa de interesse comum, fomentando uma ação de
parceria entre instituições, no desenvolvimento de ciência ▶ Pesquisadores realizam a análise de plantas e
e tecnologia para a agropecuária, além de coordenar o es- fungos em laboratório da Embrapa na região
semiárida de Petrolina, Pernambuco.
forço de pesquisa para atender às necessidades de regiões,
estados e municípios, a fim de proporcionar melhor suporte ao desenvolvimento da agropecuária brasileira.
Textos produzidos pelo autor especialmente para esta obra.

Para pensar!
SEF06GE71; SEF06GE72; SEF06GE73

Em grupos, façam a leitura do trecho de uma notícia que aborda as atividades econômicas nos muni-
cípios que compõem o estado do Paraná. Em seguida, discutam sobre ele e respondam ao que se pede.
Dos 399 municípios que compõem o Paraná, 84% são de pequeno porte. São 335 localidades que, juntas,
geram negócios, empregos e movimentam a economia do Estado. A indústria tem papel de destaque nesse
cenário: representa 19,7% do PIB (valor bruto da produção) das pequenas cidades. Quando somada à agro-
pecuária, é responsável por quase metade da geração de renda e riqueza, segundo recorte adotado em análise
do Sistema Fiep. O levantamento considerou municípios de até 30 mil habitantes e analisou a importância da
atividade industrial nas cidades de pequeno porte.
[...]
Carnes, grãos, derivados do leite e madeira. Esses são apenas alguns dos segmentos que impulsionam
grandes cadeias produtivas industriais no recorte de municípios feito pelo Sistema Fiep. O Departamento de
Economia Rural do Estado calculou um valor bruto de R$ 89,6 bilhões na produção agropecuária em 2018,
atividade que representa 28,2% do PIB em cidades menores. “Esse valor, somado ao valor bruto da produção
industrial, mostra qual é a característica econômica mais forte e relevante dessas pequenas localidades. A par-
ticipação do PIB do setor agroindustrial na geração de riquezas dos municípios é de 48%, um número muito
expressivo”, destaca Evanio.
O economista explica que o perfil da pauta de exportação do Estado é basicamente atrelado ao movimento
das atividades agroindustriais.“Em 2018, mais da metade do valor total das exportações do Estado teve origem
nesse segmento, sobretudo nas vendas dos setores alimentício e madeireiro. Boa parte desses produtos expor-
tados vem de pequenos municípios. Há também, a partir deste ano, uma previsão de aumento nas exportações
de laticínios do mercado brasileiro para o mercado chinês. Provavelmente quem vai suprir esse aumento de
demanda serão os produtores e as agroindústrias do segmento de leite localizadas em pequenos municípios do
país”, diz o economista.
NO PARANÁ, atividade industrial em pequenas cidades representa quase 20% do PIB. G1, 6 ago. 2019.
Disponível em: <https://g1.globo.com/pr/parana/especial-publicitario/fiep/sistema-fiep/noticia/2019/08/06/
no-parana-atividade-industrial-em-pequenas-cidades-representa-quase-20percent-do-pib.ghtml>.
Acesso em: 28 maio 2021.

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Para pensar!

1 Qual é a relação entre indústria e agricultura no estado do Paraná?

2 Explique a importância dessa relação para a economia do estado.

Êxodo rural
Compreende-se como êxodo rural o processo de migração em massa da população do campo para as
cidades. No Brasil, foi mais evidenciado entre as décadas de 1960 e 1980. Pode-se afirmar que as causas
desse fenômeno estão relacionadas, principalmente, à concentração da produção nas áreas agrícolas; à
crescente substituição da mão de obra dos trabalhadores rurais pelo maquinário, gerando menor oferta
de empregos no campo; e às condições atrativas das cidades, que, com a industrialização do final do
século XX, passaram a oferecer empregos nos setores secundário e terciário da economia.
Ainda sobre esse viés, é importante mencionar que esse movimento gerou uma série de problemas
urbanos, como a mão de obra excedente, causando desemprego às pessoas menos qualificadas profis-
sionalmente, expansão desenfreada das habitações irregulares e ampliação de favelas nas grandes me-
trópoles urbanas.

Donatas Dabravolskas/Shutterstock
▶ Imagem aérea da favela da Rocinha, a maior favela da América Latina. A comunidade
é composta de mais de 70 000 habitantes e localiza-se no Rio de Janeiro.

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Geografia

Para construir
SEF06GE71; SEF06GE72; SEF06GE75

1 Quais são as principais atividades econômicas desenvolvidas no espaço rural brasileiro?

2 De acordo com o que você estudou, o que é a agricultura familiar?

3 Quais são as diferenças entre a agricultura familiar e o agronegócio?

4 Observe com atenção esta imagem para responder à pergunta.


Alf Ribeiro/Shutterstock

▶ Visão aérea de plantação no campo.


A imagem áerea analisada na questão é uma paisagem natural ou artificial? Justifique sua resposta.

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2. A construção do espaço urbano
O termo urbanização é utilizado para designar quando a população urbana de um país passa a ter
um crescimento maior que o apresentado por sua população rural. No século XX, o processo chamado
de urbanização se propagou de uma forma nunca vista anteriormente. A princípio, estava restrito apenas
aos países desenvolvidos, mas atualmente se expandiu para todas as regiões e continentes do mundo.
No início do século XIX, menos de 5% da humanidade vivia em cidades; no século XXI, mais de 50% da
população mundial está concentrada nos espaços urbanos.

TonyV3112/Shutterstock
▶ Fotografia registrada na cidade de Xangai, na China. A população urbana do país é de quase 800 milhões (2020), de um total
de 1,347 bilhão de habitantes.

Atualmente, estudos apontam que mais da metade da população mundial vive em cidades e o modo
de vida urbano-industrial foi o principal responsável pelo deslocamento de grande parcela da população
das áreas rurais. Nos países desenvolvidos da América do Norte e da Europa, a urbanização chegou a
níveis elevadíssimos. Existem países cuja urbanização ultrapassa os 90%, como é o caso da Bélgica, no
continente europeu. Na Ásia e na África, os níveis de urbanização são muito baixos, pois a maior parte da
população ainda vive na área rural, em razão de a economia desses países estar baseada em atividades
do setor primário da economia.

Urbanização nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos


A urbanização dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos não ocorreu de maneira homogênea e,
por isso, apresenta diferenças significativas e que estão diretamente relacionadas ao processo de indus-
trialização.
Nos países desenvolvidos, o processo de industrialização passou por diferentes transformações, de-
vido às três revoluções industriais, e evoluiu gradativamente. Nesse âmbito, o processo de urbanização
acompanhou esse andamento, fazendo com que milhares de pessoas migrassem para as cidades ao longo
de todo o processo. Portanto, podemos afirmar que a urbanização nos países desenvolvidos se deu de
maneira lenta e gradual, assim como a industrialização, contribuindo para um melhor planejamento urba-
no nesses países.
Nos países classificados como subdesenvolvidos, a urbanização também se desenvolveu graças à
influência do processo industrial; porém, diferentemente dos países desenvolvidos, ocorreu em um curto
período de tempo, de modo desordenado. Dessa forma, as cidades que receberem grandes fluxos migra-
tórios não estavam preparadas para o rápido crescimento urbano, o que resultou em diversos problemas
para elas, tanto do ponto de vista social quanto do econômico e do ambiental.

22
Geografia

Interação com o ambiente


SEF06GE74; SEF06GE75

Leia o texto para, em seguida, responder ao que se pede.


A cidade de São Paulo é um dos mais impressionantes casos em todo o mundo de intensa urbanização
associada diretamente a um processo de industrialização. De uma relativamente pequena vila durante
o período colonial e a maior parte do século XIX, São Paulo tornou-se uma das maiores cidades de todo o
planeta, com cerca de 10,5 milhões de habitantes. A região metropolitana, composta de 37 municípios nos
arredores da cidade, possui quase 18 milhões de moradores.
O fim do século XIX foi decisivo para a história da cidade. São Paulo passou por grandes transfor-
mações econômicas e sociais naqueles anos, em grande medida devido à expansão da lavoura do café e
ao afluxo de imigrantes europeus. Já no início do século XX, seu relevante parque industrial começa a ser
formado. Distritos como Brás (sede também da famosa “hospedaria dos imigrantes”, onde os recém-che-
gados trabalhadores europeus e asiáticos eram recepcionados), Lapa, Mooca e Barra Funda tornaram-se
bairros operários, dada a alta concentração de indústrias nessas regiões e a proximidade com ferrovias e
rios que cortavam a cidade.
[...]
[...] a preservação de fábricas e de todos os elementos que integram a atividade fabril já é, há algumas
décadas, uma forte tendência urbanística e turística em várias partes do mundo. [...].
Na cidade de São Paulo, existem algumas experiências bem-sucedidas de transformação de antigas fá-
bricas em espaços culturais e educacionais, como são os casos do Sesc Pompeia (entre os bairros da Lapa e
Barra Funda), do Sesc Belenzinho (na Mooca)
e das Faculdades Anhembi Morumbi em

Juca Martins/Olhar Imagem


uma antiga fábrica de calçados no Brás. Mais
importante ainda, nos últimos anos tem ocor-
rido uma série de iniciativas e mobilizações
de movimentos sociais comunitários pela
preservação de antigas fábricas e espaços in-
dustriais e operários. Ações em torno na Vila
Maria Zélia (vila operária próxima a Brás e
Mooca), do Cotonifício Crespi na Mooca, Cia.
Nitro Química em São Miguel Paulista e as
fábricas Matarazzo Petybom e Melhoramentos
na Lapa são alguns exemplos dessas mobili-
zações que buscam não apenas garantir uma
melhor qualidade de vida para os moradores
dessas áreas, mas também preservar a me-
mória dos trabalhadores, migrantes e mora-
dores pobres que construíram a riqueza e o
desenvolvimento da cidade.
FONTES, Paulo. Mapeando o patrimônio
industrial em São Paulo. Patrimônio.
Disponível em: <www.labjor.unicamp.br/
patrimonio/materia.php?id=166>.
Acesso em: 28 maio 2021.

▶ Fachada do Sesc Pompeia,


na cidade de São Paulo.

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Interação com o ambiente

1 De acordo com o texto, por que a urbanização da cidade de São Paulo é um caso impressionante? Que
fatores contribuíram para esse fenômeno?

2 No início da urbanização de São Paulo, o que contribuiu para a formação de bairros operários?

3 Atualmente, como esses espaços industriais históricos têm sido preservados e utilizados?

Viajando na cultura
Visite o site do Sesc para conhecer mais a respeito da construção da unidade sobre a Fábrica da Pompeia. Nele é possível
visualizar informações e vídeos com detalhes desse processo. Disponível em: <www.sescsp.org.br/unidades/11_POMPEIA>.
Acesso em: 14 jul. 2021.

Faça você mesmo


SEF06GE71; SEF06GE72; SEF06GE73; SEF06GE74; SEF06GE75

1 Defina o que é o processo de urbanização.

2 De que forma os países desenvolvidos se urbanizaram? Explique.

3 De que forma os países subdesenvolvidos se urbanizaram? Explique.

4 Qual é a relação entre o crescimento das cidades e o processo de industrialização?

5 Quais foram os problemas gerados pela rápida urbanização brasileira?

6 Explique a dinâmica populacional do Brasil no período entre 1950 e 2000.

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