Você está na página 1de 12

Microrregião Campanha Meridional (RS): os condicionantes e o potencial de

desenvolvimento regional

Eliane Aparecida Gracioli Rodrigues*

Resumo

Neste estudo, procura-se abordar os condicionantes e as possíveis


potencialidades de desenvolvimento da Microrregião Campanha
Meridional, no Rio Grande do Sul. A partir de dados secundários,
foram calculados os Quocientes Locacionais (QL) e definidos os
coeficientes de especialização para essa microrregião, indicando-
se as suas principais potencialidades e especialização; procurou-se,
também, identificar e responder sobre possíveis gargalos regionais.
O estudo demonstrou que a Microrregião da Campanha Meridional
possui considerável coeficiente de especialização no setor agrope-
cuário, no entanto há baixo encadeamento produtivo com os demais *
Mestre em Desenvolvimento Regional pela Unisc;
setores, em especial indústria e serviços. Aponta-se como gargalo Especialista em Educação Ambiental pela UFSM;
dessa região a sua elevada dependência do setor primário. Bacharel em Ciências Econômicas pela UFSM;
Rua Gaspar Martins, n. 70, Bairro Santo Antônio,
Palavras-chave: Microrregião Campanha Meridional. Quocientes São Pedro do Sul, RS; CEP 97400-000; eco1321@
Locacionais. Desenvolvimento regional. hotmail.com

Race, Unoesc, v. 6, n. 2, p. 117-128, jul./dez. 2007 117


Eliane Aparecida Gracioli Rodrigues

1 INTRODUÇÃO setores, que uma vez mobilizados e incentivados, ge-


ram maiores benefícios. Desse modo, o potencial de
uma região deve ser avaliado como a capacidade da
A região conhecida como Campanha Gaúcha
região, no processo de autonomia e sustentação que
abrange áreas levemente onduladas com campos, assegure uma mobilização de recursos produtivos dis-
na porção sul do Rio Grande do Sul junto às fron- poníveis internamente, ou de outra forma, buscar um
teiras brasileiras com o Uruguai, ao sul e com a crescimento que em longo prazo passe a ser endoge-
Argentina, a oeste. Sua extensão varia ao longo do neizado. Paiva (2004, p. 16, grifo do autor) define os
tempo e segundo diferentes propostas de regionali- determinantes do potencial regional como:
zação. Conforme IBGE (2006), pelas características
do quadro natural, a pecuária extensiva gerou um O “potencial regional” é, assim, antes de mais
nada, a capacidade de crescimento sustentável
tipo de ocupação peculiar, marcada pela baixa den- (nos plano econômicos, social, ecológico) da
sidade de população rural e o predomínio de cidades produção e da renda apropriada internamente.
Vale dizer: a sustentabilidade do crescimento
de porte médio. A criação de ovinos e a produção de
é a primeira e principal determinação do que
lã também atribuíram uma característica particular denominamos “potencial regional”. Ela é tão
à região. Esse cenário tradicional transformou-se a importante que, usualmente o termo “potencial
regional” é utilizado significando “taxa poten-
partir da década de vinte com a introdução da lavou- cial de crescimento de longo prazo da região”.
ra de arroz e intensificou-se a partir de 1970, quando É isso que usualmente se faz quando compara-
mos o potencial de distintas regiões e concluí-
a cultura da soja provocou uma transformação sig- mos que o potencial da região X é superior ao
nificativa no espaço rural da Campanha. Esse fato, potencial da região Y.

associado à modernização das técnicas da pecuária,


aprimoramento genético e melhoria do suprimento O mesmo autor ainda aponta outras formas
alimentar no inverno e à introdução da vitivinicultu- de determinação de potencial regional, uma delas é
ra na região, atribui um novo perfil à área, articulada a identificação material dos recursos da região que
a complexos agroindustriais, segundo Vianna (1985 podem ser mobilizados de forma positiva pró-ativa,
apud IBGE, 2006). porque esses recursos estão subutilizados ou porque
A primeira demarcação da Campanha Gaúcha são usados de forma subotima. Ainda, outra forma
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de determinação de potencial regional diz respeito às
(IBGE) ocorreu em 1941 e, em 1966, foram delimita- especificidades da divisão regional do trabalho; para
das as zonas fisiográficas do Brasil, em que se identi- isso é necessário determinar vantagens absolutas.
fica a zona fisiográfica da Campanha. Em 1968, iden- Entretanto, quando se trata de desenvolvimento
tificou-se a microrregião homogênea da Campanha regional, a diversificação produtiva do território as-
Gaúcha, que corresponde à messorregião sudeste rio- sume considerável importância, pois terá o papel de
grandense, composta pelas microrregiões da Campa- alavancar outros setores econômicos ou produtivos da
nha Ocidental, da Campanha Central e da Campanha região.
Meridional (IBGE, 2006). Toda a especialização regional deve ser pensa-
O estado do Rio Grande do Sul foi dividido da em sua dimensão de “cadeia”, as vantagens
competitivas absolutas criadas pela especia-
em 35 microrregiões segundo a metodologia defini- lização estimulam o processo de integração
da pelo IBGE em 2002. A microrregião da Campanha regional crescente na cadeia produtiva à qual
pertencem o elo especializado que deu origem
Meridional, localizada no sul do estado do Rio Grande ao processo. (PAIVA, 2004, p. 21).
do Sul é formada pelos municípios de Aceguá, Bagé,
Dom Pedrito, Lavras do Sul e Hulha Negra. Neste estudo, tem-se como objetivo identifi-
Segundo Paiva (2004), para investigar o poten- car os condicionantes e o potencial de desenvol-
cial de uma região, é necessário identificar aqueles vimento da Microrregião Campanha Meridional, a

118 Race, Unoesc, v. 6, n. 2, p. 117-128, jul./dez. 2007


Microrregião Campanha Meridional (RS): os condicionantes e o potencial...

partir da identificação da especialização regional região em relação ao VAB do mesmo segmento agrí-
e das possibilidades de desenvolvimento desta e, cola do estado.
também, das cadeias produtivas. Além disso, será A apresentação deste estudo está subdivida em
investigada a existência de gargalos produtivos que quatro itens: primeiramente, trata-se de alguns concei-
podem caracterizar-se como obstáculos ou dinami- tos de região e regionalização; a seguir, analisam-se
zados. os resultados dos Quocientes Locacionais e socioeco-
Busca-se responder a essa investigação por meio nômicos para identificar possíveis gargalos regionais
dos dados secundários de diferentes setores produti- e as conclusões.
vos, já tabelados e baseados em fontes como IBGE e
a Fundação de Economia e Estatística (FEE).
2 REGIÃO E REGIONALIZAÇÃO
A metodologia utilizada para calcular os
dados deste estudo será baseada nos Quocientes
Locacionais. Conforme Paiva (2004, p. 36) “Quo- Ao longo do tempo, o debate em torno da fun-
ciente Locacional é a medida de especialização ção e da definição de conceitos sobre regiões, regio-
regional mais difundida em pesquisas voltadas à nalização e métodos utilizados ocupou muitos pesqui-
identificação de estruturas econômicas e das poten- sadores, e ainda hoje faz parte de uma agenda consi-
cialidades dos territórios.” Segundo esse autor, essa derável de discussões. Conforme Pereira (2000), em
medida busca confrontar a participação relativa de relação à conceituação de região, é importante obser-
um determinado setor ou segmento produtivo na var que, sob a ótica da etimologia, as palavras região
economia de uma região com a participação relativa e território tiveram suas interpretações e utilizações
desse mesmo setor ou segmento em uma região de invertidas. A palavra território, originada da palavra
referência, em geral, uma macrorregião que englo- terra, do latim territorium, não tinha o caráter político
ba a primeira. Ainda é possível que existam tantos que tem hoje. Enquanto o termo região, derivado do
Quocientes Locacionais quanto forem as medidas de latim, refere-se à unidade político-territorial em que
participação relativa do setor ou segmento pesqui- se dividia o Império Romano, tem sua raiz no verbo
sado. A participação mais utilizada é a porcentagem regere, que significa governar, o que atribuía à região,
dos empregos gerados no setor/segmento comparada em sua ocupação original, uma conotação eminente-
ao conjunto de empregos do território. mente política.
Assim, para se obter os Quocientes Locacionais A região é considerada por Benko (1999, p. 20)
usados neste estudo, foram realizados os seguintes como “[...] um produto social gradualmente construído
passos. Inicialmente, dividiu-se o número de trabalha- por sociedades nos respectivos espaços de vida.” Nesse
dores de um determinado setor na microrregião pelo sentido, a região pode ser objetivamente distinguida na
número de trabalhadores da microrregião. O segundo paisagem, uma vez que os homens têm consciência da
passo foi a divisão do número de trabalhadores desse região à medida que constroem identidades regionais.
setor no estado pelo número de trabalhadores do Rio No entendimento de Klarmann (1999), o ter-
Grande do Sul. O resultado obtido no primeiro passo mo região sempre esteve ligado à noção de identida-
foi dividido pelo resultado do segundo, obtendo-se, de territorial, o que tornava possível criar um limite,
assim, os valores dos Quocientes Locacionais usados. fronteira demarcatória que representasse a área de
Observa-se, ainda, que a variável número de empre- presença desta. A região tornou-se, muitas vezes,
gados foi usada para os setores da indústria e serviços. resultado de uma ação essencialmente política, fru-
Para o setor da agricultura, dada a dificuldade de iden- to do exercício do poder e do controle do território
tificar-se os empregados de cada segmento, foi utili- por determinados grupos. “Território aqui entendido
zada a variável do Valor Adicionado Bruto (VAB) da como espaço definido e delimitado por e a partir de
produção agrícola de cada segmento calculado para a relações de poder [...]”, conforme Souza (1999 apud

Race, Unoesc, v. 6, n. 2, p. 117-128, jul./dez. 2007 119


Eliane Aparecida Gracioli Rodrigues

Klarmann, 1999, p. 11). Com a evolução por parte rio usado é o chão mais a identidade. A identi-
dade é o sentimento de pertencer àquilo que nos
tanto da Geografia como de outras ciências, o ter- pertence. [...] É o território usado que é uma
mo região passou a representar a diferenciação exis- categoria de análise. (SANTOS, 2002, p. 10).
tente entre as áreas, remetendo-se a idéia de que a
superfície terrestre não possui uma homogeneidade Ainda contribuindo com a discussão, Pereira
intrínseca, seja do ponto de vista da natureza, seja da (2000, p. 65) afirma que:
sociedade.
Região, por definição, é aquela porção de su-
A participação dos diferentes segmentos da
perfície que por algum critério, seja natural,
sociedade, na discussão dos problemas da região, econômico, político, enfim, por qualquer crité-
contribui para a consolidação da identidade regional. rio até mesmo arbitrário, adquire singularida-
de, características próprias, isto é, tem criada
A existência dessa identidade, aqui entendida como alguma identidade que a diferencia das demais,
sentimento compartilhado de pertencimento a uma segundo tal ou tais critérios.
comunidade territorialmente localizada, é condição
essencial para que um determinado território possa de No entanto, há dificuldades em definir o con-
forma significativa e não-arbitrária ser denominado ceito de região ou regionalização, o que é atribuído à
de região. complexidade e ao seu enfoque. Como indica Benko
A identidade regional reforça a própria capaci- (1999, p. 12):
dade da região. Partindo-se dessa realidade, pode-se
[...] a ciência regional, enquanto disciplina, tra-
pensar estratégias de pró-desenvolvimento regional ta do estudo atento e paciente dos problemas
como projeto alternativo que, num primeiro momen- sociais nas suas dimensões regionais ou espa-
to, pode ser funcional ao sistema, mas que pode vir a ciais, empregando diversas combinações de
investigação analítica e empírica.
se transformar num processo emancipatório, sendo o
espaço e o momento para que outros aspectos da vida
Também pode ser entendida como uma disci-
humana, além do econômico-material, possam ser
plina-cruzamento, para a qual convergem ou derivam
reintegrados ao processo de desenvolvimento, portan-
outras ciências, como economia, geografia, sociolo-
to, possibilitadores de trocas via diferenciação.
gia, ciência política e antropologia, sendo a sua prin-
Em período mais recente, essas mudanças no
cipal fonte de pesquisa a intervenção humana no ter-
conceito de espaço, território e região e no próprio
ritório.
modo de pensar e trabalhar regionalmente abrem
novos horizontes para prática e a pesquisa regio- A ciência regional apresenta todas as caracte-
nal. Quando se reafirma a importância da região rísticas de uma ciência de síntese: é a partir de
dados analíticos fornecidos por diferentes espe-
como método de análise e também como objeto de cialistas que se torna possível discernir, entre
construção de uma identidade territorial que pode casos específicos que a região oferece, certas
leis fundamentais da distribuição das atividades
agregar grupos sociais díspares em torno de deter- no espaço. (BENKO, 1999, p. 8).
minados projetos e desafios comuns, que possibilite
reunir esforços para ultrapassar obstáculos que se
Uma região pode ser entendida como uma en-
colocam nessa caminhada, destacam-se a cultura e
tidade física ou uma construção social, seu conceito
a identidade associadas ao território que, atualmen-
ainda é um tanto difuso. Um território pode servir a
te, apresentam-se revitalizadas, não só como valores
diferentes tipos e finalidades de regionalização, estan-
intrínsecos, mas como fatores propriamente de com-
do ligado diretamente ao objeto que se pretende pes-
petitividade regional.
quisar, o que levará a procedimentos e segmentação
O território não é apenas um conjunto dos siste- de territórios provavelmente distintos.
mas naturais e de sistemas de coisas superpos- A discussão em relação ao desenvolvimento de
tas. O território tem de ser entendido como o
território usado, não território em si. O territó-
determinada região, bem como as formas de conceituá-

120 Race, Unoesc, v. 6, n. 2, p. 117-128, jul./dez. 2007


Microrregião Campanha Meridional (RS): os condicionantes e o potencial...

la e defini-la ao longo do tempo, gerou um grande em- tivos instrumentalizados na atividade de pla-
bate teórico quanto à definição de região dentro da aná- nejamento. A regionalização definida a partir
lise regional. Esta ocupou os debates, principalmente, desse marco representa uma intencionalidade
de geógrafos e economistas, entre outros pesquisado- da autoridade pública de afirmar uma compre-
res, quando começaram a se delinear várias teorias. ensão do território a partir das necessidades de
Entretanto, o determinismo científico na aná- execução de determinados serviços públicos,
lise regional que utiliza a teoria geral dos sistemas, do exercício do poder regulatório do Estado
tentando resolver várias questões, como a delimitação ou, por exemplo, a focalização das políticas
funcional da região, a definição da escala regional e setoriais em determinada parte do território.
a coesão do conteúdo regional, relegou a um segundo
plano o reconhecimento e a determinação histórica da Entretanto, mesmo partindo de conceitos já ela-
região, considerando mais relevante a classificação e borados, ainda encontram-se muitas dificuldades para
a hierarquização funcional. obter uma regionalização que permita englobar todos
Alguns aspectos servem para caracterizar re- os diferentes fins e necessidades de análise a que são
giões: distintas especializações, diferença do que é propostas. Desse modo, entende-se que região ou re-
produzido e no modo como a produção se realiza, gionalizações são criadas para determinados territó-
envolvendo produtos distintos, meios de produção e rios e direcionadas para estudos, análise ou projetos
relações sociais, principalmente diferentes níveis de específicos, ligados diretamente ao objeto que se pre-
articulação internos, inter-regionais com ênfase nas tende pesquisar, o que levará a processo e segmenta-
características próprias de cada região. ção de territórios provavelmente distintos.
Toni e Klarmann (2001) argumentam que o de-
bate sobre delimitação regional ou regionalização flui
invariavelmente para três tipos de critérios em que se 3 ANÁLISE DOS QUOCIENTES
estruturam o conceito de regionalização: LOCACIONAIS E INDICADORES
SOCIOECONÔMICOS COM VISTAS À
a) região homogênea – baseada na possibi- ESPECIALIZAÇÃO REGIONAL
lidade de agregação territorial a partir de
características uniformes, arbitrariamente A análise dos dados secundários é relativa aos
especificadas. Os padrões de comparação três setores (agricultura, indústria e serviços), disponí-
e agregação podem estar baseados na es- veis no Censo 2000 do IBGE e com informações do
trutura produtiva existente, em fatores ge- banco de dados da Fundação Estadual de Economia e
ográficos, na dinâmica do consumo interno Estatística (FEE). Procura-se, por intermédio da medi-
ou na ocorrência de recursos naturais espe- da do Quociente Locacional (QL), identificar setores ou
cíficos; cadeias produtivas que possam ser estimulados visando
b) região polarizada – assume a hipótese de alavancar o desenvolvimento socioeconômico e as pos-
polarização espacial a partir do campo de síveis cadeias produtivas da microrregião da Campanha
forças que se estabelece entre unidades pro- Meridional e dos municípios que a compõe.
dutivas, centros urbanos ou aglomerados Em relação aos municípios, serão analisados os
industriais. A região é considerada hetero- coeficientes de correlação entre ambos tomando por
gênea e funcionalmente estruturada, com base os dados de um município correlacionado esta-
fluxos de intensidade variada, normalmente tisticamente com os demais municípios da microrre-
convergindo para os pólos; gião. Os coeficientes demonstram que quanto mais
c) região de planejamento – essa região deriva elevados forem os percentuais, maior será o encadea-
da aplicação de critérios político-administra- mento entre os municípios.

Race, Unoesc, v. 6, n. 2, p. 117-128, jul./dez. 2007 121


Eliane Aparecida Gracioli Rodrigues

3.1 OS COEFICIENTES DE CORRELAÇÃO para considerar a produção significativa foi o QL com


ENTRE MUNICÍPIOS DA MICRORREGIÃO valor igual ou superior a um em, pelo menos, um dos
municípios que compõe a microrregião. Após esse
recorte, foi refeita uma nova planilha com os novos
Inicialmente, observa-se que a correlação entre
valores. Observa-se que os municípios que formam
os municípios da microrregião mostra-se relativamen-
a região possuem índices de Quociente Locacional
te homogênea quando se compara a correlação das re-
agrícola relativamente baixo e também poucos pro-
giões vizinhas. Entretanto, há algumas discrepâncias
dutos se apresentaram como significativos.
observadas entre os municípios de Lavras do Sul e
Como se verifica no Quadro 1, o produto agrí-
Dom Pedrito em relação aos demais.
cola de maior QL entre todos os municípios é o sorgo
O município de Aceguá possui uma correlação
que, em Hulha Negra, possui QL 69,5 e QL 20 e 21
de 97% com Bagé, 95% com Hulha Negra e correla-
em Aceguá e Bagé. Entretanto, o sorgo é um produ-
ção de 66% e 62% com Dom Pedrito e Lavras do Sul,
to de baixo valor comercial e utilização restrita com
respectivamente.
mercado não-significativo; seu maior uso é destinado
O município de Bagé apresenta correlação ele-
vada com todos os municípios, até porque possui ca- à ração animal.
racterísticas de cidade-pólo, entretanto possui uma cor-
Produtos Municípios e Quociente Locacional (QL)
relação de 97% e 94% com os municípios de Aceguá e agrícolas Aceguá Bagé Dom Hulha Lavras
Hulha Negra, respectivamente. Esses municípios foram Pedrito Negra do Sul
desmembrados de Bagé há menos de 10 anos e, como Arroz 3,5557 2,4875 4,2396 1,2351 0,7887
as correlações são bastante significativas, infere-se que Milho 0,1467 0,1171 0,0586 1,1775 0,2493
há uma identidade bem maior dos municípios recém- Tomate 0,0000 0,0000 0,0000 2,0631 0,0639
criados em relação aos seus municípios de origem. Cevada 0,9713 2,3959 0,2535 0,4645 0,0511
O município de Dom Pedrito apresenta um co- Sorgo 20,1231 21,4209 3,8870 69,5438 7,1873
eficiente de correlação inferior a 66% com Aceguá, Amendoim 0,2718 1,0333 0,0019 0,3538 0,8866
Bagé 68% e Hulha Negra 48%; esse índice passa para Melão 0,7870 0,0138 0,0015 1,6923 1,5240
78% em relação a Lavras do Sul.
Bovino 3,1975 4,0256 2,5664 3,0475 6,3999
O município de Hulha Negra tem correlação
Eqüino 4,1259 4,6947 2,1556 7,6092 4,9687
superior a 94% com Bagé e Aceguá, mas inferior a
Bubalino 0,7742 2,7990 0,8514 0,8387 2,5697
50% comparado aos municípios de Dom Pedrito 48%
Ovino 3,9622 4,6869 3,4233 3,7511 10,8160
e Lavras do Sul 44%, o que caracteriza baixa conec-
Leite (mil litros) 3,5079 0,1946 0,2016 2,7745 0,2897
ção dos seus setores e estrutura produtiva com esses
Lã (kg) 3,9552 4,8910 4,2223 3,7736 11,0519
dois últimos municípios.
Lavras do Sul apresenta uma maior correlação Mel de abelha 0,9097 1,8434 3,7053 3,3995 0,8352
(kg)
com o município de Dom Pedrito do que com os de-
Quadro 1: Municípios da Campanha Meridional (RS): pro-
mais. Pode-se inferir que seja em função da estrutura dução agrícola dos municípios e os Quocientes
produtiva desses municípios ser mais especializada Locacionais da produção (com valor maior que um
na pecuária do que na agricultura. em, pelo menos, um município) – 2000
Fonte: IBGE (2000).

3.2 OS QUOCIENTES LOCACIONAIS DA Um segundo produto com QL significativo


AGRICULTURA em todos os municípios é o arroz, com destaque
para o município de Dom Pedrito com um QL 4,23
Os Quocientes Locacionais da agricultura fo- seguido de Aceguá com QL 3,55. O município de
ram calculados e tabulados por municípios. O critério Lavras do Sul tem um QL 0,7 (inferior a um); logo,

122 Race, Unoesc, v. 6, n. 2, p. 117-128, jul./dez. 2007


Microrregião Campanha Meridional (RS): os condicionantes e o potencial...

apresenta produção não-significativa, provavel- 3.3 OS QUOCIENTES LOCACIONAIS DA


mente em virtude das condições naturais do rele- INDÚSTRIA
vo do município que não são apropriadas para esse
tipo de lavoura.
Os valores dos Quocientes Locacionais da in-
Os demais produtos agrícolas com QL supe-
dústria da microrregião foram calculados em relação
rior a um mostram que há especialização em poucos
ao estado, não estando separados por municípios. Os
produtos, os quais possuem baixos valores de mer-
QLs com valores mais significativos foram depois in-
cado e se fazem presentes em um ou outro município
vestigados em relação ao número de empregados em
da região, como milho, tomate, cevada, amendoim
cada segmento, a fim de garantir que fossem realmen-
e melão. Os produtos básicos de subsistência e os
te significativos e merecedores de maior atenção. No
produtos de fruticultura não aparecem nos dados,
Quadro 2, constam somente os segmentos com os dez
mas subentende-se que nem por isso deixam de ser
maiores valores. Embora haja outros segmentos com
produzidos.
valores também positivos, será sobre esses que recai-
O segmento agropecuário tem QLs representa-
rá essa análise.
tivos em todos os municípios da região e é formado
Na análise do Quociente Locacional do setor in-
pela produção de bovinos, eqüinos, bubalinos e ovi-
dustrial, tem-se como destaque o segmento da indús-
nos, com destaque para o município de Lavras do Sul,
tria de abate de animais e produção de carnes, com QL
que possui QLs com valores mais elevados, o que se
27, que indica especialização nessa atividade. Também
infere uma maior aptidão para a pecuária do que para
esse segmento, segundo a Classificação Nacional de
a agricultura.
Atividades Econômicas (2003), apresenta o maior nú-
Outro segmento que se destaca em todos os mu-
mero de empregos gerados, totalizando 1.374 na mi-
nicípios da microrregião é a produção de ovinos com
crorregião, embora as indústrias se concentrem apenas
QLs positivos em todos os municípios, conseqüente-
nos municípios de Bagé e Hulha Negra.
mente, QLs também positivos na produção de lã. Os
Ainda se apresenta como setor especializado
municípios de Aceguá e Hulha Negra mostraram-se
o preparo de carnes e produtos derivados de animais
especializados na produção de leite.
com QL 3,7, o que indica uma relação desse segmen-
Um produto que apresenta QL positivo é o mel
to, como de abates e produção de carnes. Do mesmo
de abelha, com destaque para os municípios de Dom
modo, o processo de curtimento e preparo de couro
Pedrito e Hulha Negra, com valores do QL superior a
aparece como significativo embora com QL 1,1. Com
três e Bagé com QL 1,84. Nesse sentido, pode foca-
isso, pode-se inferir que esses três segmentos têm in-
lizar um nicho de mercado bem específico, mas essa
terligação, caracterizando uma potencial cadeia pro-
produção necessita de condições naturais apropriadas
dutiva que pode ser incentivada.
ou de alguma outra cultura que permita produção con-
O preparo de leite e a produção de sorvetes
sorciada (externalidade positiva, por exemplo, flores-
também se apresentam como setores significativos.
tamento).
Entretanto, apenas Aceguá e Hulha Negra produzem
A análise dos Quocientes Locacionais da agri-
leite, e a produção de sorvete possui duas unidades no
cultura demonstra que a microrregião é especializada
município de Bagé.
em poucos produtos. O sorgo que teve resultados altos
Associada ao setor agrícola, a indústria de be-
é um produto que tem baixo valor agregado, sendo di-
neficiamento de arroz apresenta um QL 13, aprovei-
fícil o encadeamento com outros setores. Identificou-
tando a especialização da microrregião na produção
se, também, que a produção de arroz é significativa
de arroz. As indústrias beneficiadoras de arroz con-
nas microrregiões vizinhas, o que permite fazer um
centram-se em Bagé (13 unidades) e Dom Pedrito (9
encadeamento produtivo com o setor de beneficia-
unidades). Quanto ao pessoal ocupado, essas unida-
mento do produto.

Race, Unoesc, v. 6, n. 2, p. 117-128, jul./dez. 2007 123


Eliane Aparecida Gracioli Rodrigues

des empregam 440 pessoas, sendo o segundo maior que deveriam ser melhor investigadas no sentido de
segmento industrial em relação ao número de empre- verificar o destino da produção, se há um encadea-
gos efetivos na microrregião. mento com produtos que sirvam à agricultura ou aos
serviços.
Segmento industrial Quociente
Locacional (QL)
Abate de reses, preparação de produtos 27,00
de carne. 3.4 OS QUOCIENTES LOCACIONAIS DO
Preparação de carne, banha e produtos 3,74 SETOR DE SERVIÇOS
de salsicharia.
Fabricação de sorvetes. 4,45
Beneficiamento de arroz e fabricação de 13,14
produtos do arroz. Na microrregião, o setor de serviços apresenta
Torrefação e moagem de café. 2,48 valores superiores a um em diversas atividades, con-
Fabricação de produtos de padaria, 4,32
confeitaria e pastel. forme Quadro 3.
Preparação de especiarias, molhos, 4,78 Destacam-se algumas atividades específicas
temperos e condimento.
Fiação de fibras artificiais ou sintéticas. 10,92 que apresentam QL elevado, como o comércio de
animais vivos (QL 5,87), demonstrando uma espe-
Edição de discos, fitas e outros materiais 16,15
gravados. cialização nessa atividade, o que se pode associar ao
Impressão de material escolar e de 2,35 potencial agropecuário e à indústria (frigoríficos) da
material para usos industriais.
Fabricação de outros produtos de 2,67 microrregião.
minerais não metálicos.
Quadro 2: Microrregião Campanha Meridional (RS): Quo- Setor de serviços Quociente
cientes Locacionais agregados pelos 10 maiores Locacional (QL)
valores para o setor da indústria – 2000 Comércio atacadista de animais vivos. 5,87
Fontes: IBGE (2000) e Classificação Nacional de Atividades Eco- Comércio atacadista de produtos do fumo. 2,82
nômicas (2003).
Comércio atacadista de mercadorias em 3,60
geral (não- especializado).
No setor de alimentação, destacam-se a indus- Comércio varejista de móveis, artigos de 4,44
iluminação e outros.
trialização de produtos alimentícios, padarias e condi- Comércio varejista de artigos usados. 4,23
mentos que, mesmo sendo uma atividade com pouco
Pesquisa e desenvolvimento das ciências 6,56
valor agregado, pode assegurar emprego e renda à físicas e naturais.
população. Sedes de empresas e unidades 2,94
administrativas locais.
O item “Edição de discos e fitas gravadas” apa- Educação infantil – pré-escola. 7,27
rece com QL 16, no entanto, pode-se dizer que é um Educação superior – graduação e pós- 4,10
valor isolado porque são empregadas somente três graduação.
Organismos internacionais e outras 6,34
pessoas nesse ramo, no município de Bagé. instituições.
Uma atividade industrial que merece ser inves- Quadro 3: Microrregião Campanha Meridional (RS): Quo-
tigada mais detalhadamente é o segmento de vestu- cientes Locacionais agregados pelos 10 maiores
ário, que aparece com QL 10,92 na fiação de fibras valores para o setor de serviços – 2000
Fontes: IBGE (2000) e Classificação Nacional de Atividades Eco-
artificiais. O aproveitamento dessa produção de fibra nômicas (2003).
é usado na fabricação de vestuário, a princípio essa
hipótese parece se confirmar. Entretanto, não se iden- A atividade de pesquisa e desenvolvimento pos-
tifica a fabricação ou fiação de fibras naturais, por sui um QL 6,65, no entanto esse índice merece uma
exemplo, a lã que é um produto com produção bas- pesquisa mais aprofundada para que seja identificado o
tante significativa para a região. destino desta, ou seja, se está voltada às necessidades e
Os setores metal-mecânicos e impressões apre- potencialidades da microrregião, ou se está sendo pro-
sentam, também, valores positivos e possíveis cadeias duzida para atender a interesses externos.

124 Race, Unoesc, v. 6, n. 2, p. 117-128, jul./dez. 2007


Microrregião Campanha Meridional (RS): os condicionantes e o potencial...

Outros QLs significativos no setor de serviço Sul, é de 12,21%; comparando-se os resultados, todos
estão nas atividades de educação, com índices posi- os municípios possuem valores superiores aos do es-
tivos na educação infantil e ensino superior, o que tado, por exemplo, Bagé e Lavras do Sul com per-
demonstra uma lacuna no ensino intermediário. Vale centual acima de 16%, Dom Pedrito maior que 13%,
observar mais atentamente a origem e destino de o que demonstra que os números do desemprego na
quem demanda ensino superior, uma vez que, prova- microrregião são mais elevados que no estado.
velmente, esse profissional qualificado não permane- Outro indicador é a relação da população ocu-
cerá na microrregião. Os dados relativos ao número pada em idade ativa e a população em idade ativa com
de estabelecimentos apontam a concentração desses rendimento. O Rio Grande do Sul tem um índice de
no município de Bagé, o que indica um caráter de po- 82,57% e, na microrregião, apenas o município de
larização na área da educação. Hulha Negra, com 88,04%, possui índice superior ao
Destacam-se, também, os QLs da Área da do Rio Grande do Sul. Os demais municípios estão
Saúde, mostrando alguma especialização nessa pres- abaixo, Bagé 71,7%, Dom Pedrito 74,5% e Lavras do
tação de serviço, mas que deveria ser melhor investi- Sul 72,18%. Isso aponta que na microrregião há mais
gada a sua característica, se pública ou privada, e se pessoas aposentadas ou rentistas do que a média do
há no segmento da medicina alguma especialização estado.
ou serviço com maior destaque. Ademais, os setores A análise da participação setorial nos três prin-
que possuem Quocientes Locacionais mais significa- cipais setores (indústria, serviços e agricultura) em
tivos são complementares, como comércio em geral, relação à população ocupada permite fazer inferên-
distribuidores, ou seja, atividades básicas do setor de cias de como se distribui a ocupação da população em
serviços. relação ao seu trabalho, em quais setores produtivos
há maior concentração.
No Rio Grande do Sul, a ocupação de pessoal
3.5 OS INDICADORES SOCIOECONÔMICOS DA
no setor agropecuário é de 20,09%. Os municípios
MICRORREGIÃO
da microrregião têm índices bastante díspares, como
em Bagé com apenas 11,98%. Dom Pedrito e Lavras
Os dados econômicos dos municípios da mi- do Sul com valores acima da média estadual, 22,95%
crorregião são baseados nos Indicadores Econômicos e 27,34%, respectivamente. Hulha Negra apresenta
e Informações Sociais Demográficas do Censo 2000, um índice importante de 48,57%, mais do que o do-
relativos aos municípios que formam a microrregião, bro ao Rio Grande do Sul. Infere-se que os valores
com exceção do município de Aceguá, criado oficial- elevados do município de Hulha Negra seja conseqü-
mente no ano de 2001. Esses dados permitiram que ência dos assentamentos rurais realizados pelo Incra
fosse feita uma análise comparativa da situação dos no município.
municípios da microrregião em relação aos dados do Quanto à participação do setor industrial, os da-
estado do Rio Grande do Sul. Para simplificar a análi- dos percentuais do Rio Grande do Sul são de 24,42%,
se comparativa, trabalhou-se com os dados percentu- enquanto que, nos municípios da microrregião, esses
ais analisando os valores dos municípios em relação valores estão todos abaixo da média estadual.
ao estado. A população total da microrregião era de A análise da divisão do Rendimento Domiciliar
172.645 pessoas, o equivalente a 1,7% da população Total pelo PIB permite que se identifique quanto da
do Rio Grande do Sul. renda gerada no município é apropriada nesse mes-
O primeiro indicador analisado foi a taxa de mo município ou região. No Rio Grande do Sul, esses
desocupação, esse valor é dado pelo número total de valores são da ordem de 50%, enquanto que, nos mu-
pessoas desocupadas sobre o total das pessoas econo- nicípios da microrregião da Campanha Meridional,
micamente ativas. Esse valor, para o Rio Grande do Bagé consegue endogeneizar 73% da sua renda ge-

Race, Unoesc, v. 6, n. 2, p. 117-128, jul./dez. 2007 125


Eliane Aparecida Gracioli Rodrigues

rada. Como esse índice é superior ao do Rio Grande A segunda situação que pode afetar significati-
do Sul, pode-se inferir que Bagé ainda receba renda vamente a região são problemas de sanidade animal,
externa. Os demais municípios, como Dom Pedrito por ser a microrregião especializada na produção de
e Hulha Negra, estão na média estadual, e Lavras do bovinos e ovinos, formando nesses segmentos uma
Sul consegue reter apenas 29% da sua riqueza produ- cadeia produtiva com a industrialização de seus deri-
zida, havendo uma evasão de renda desse município. vados. Conseqüentemente, problemas relativos à sa-
Em relação aos índices sociais baseados no nidade animal (por exemplo, um foco de febre aftosa)
Censo Demográfico 2000 do IBGE, estes apontam deixariam vulnerável a região, pois afetariam a indús-
um crescimento do estado na ordem de 1,2%. Bagé tria frigorífica, que é a principal da região e o próprio
foi o único município da região que cresceu em índi- rebanho, uma vez que os animais infectados, via de
ces iguais, os demais municípios tiveram crescimento regra, são mortos.
negativo, sendo o caso mais marcante Hulha Negra, Outro aspecto que pode ser caracterizado
que apresentou um índice negativo de 2,8 %. como gargalo é a limitação ambiental, em espe-
Os índices sociais dos municípios da microrre- cial, a indisponibilidade de água em quantidade
gião demonstram uma estrutura familiar peculiar. Um suficiente, o que afeta a produção agrícola, pois o
dado que chama atenção são os elevados índices em arroz como atividade-base da região demanda em
todos os municípios da região de mulheres com renda torno de 70% da água disponível para irrigação,
de até um salário, sendo chefes de domicílio. Outro e a região sofre de escassez hídrica, o que limita
dado significativo, que mostra perda de renda, é a o próprio plantio da área já cultivada e evita a ex-
queda na quantidade de pessoas com renda superior a pansão da produção, afetando também a cadeia de
5 salários mínimos, embora os dados apresentem uma um dos setores de maior especialização da região,
elevação no nível de escolaridade da população e na além da qualidade de vida da população. Essa pri-
sua qualificação. vação compromete o que é entendida como condi-
ção básica necessária para o desenvolvimento, pela
restrição de acesso à água para consumo humano e
4 POSSÍVEIS CONDICIONANTES E
para o setor produtivo. Essa situação é relativamen-
GARGALOS DA MICRORREGIÃO
te complexa, mas não impede que sejam buscadas
alternativas eficientes que certamente vão requerer
Após a discussão e análise dos dados produtivos elevados investimentos.
e das atividades de maior especialização da região,
observa-se o predomínio do setor primário, com algu-
5 CONCLUSÃO
mas possibilidades de encadeamentos produtivos.
Diante dos resultados, cabe indagar o que pode
afetar o setor primário, base para o desenvolvimen- No estudo da microrregião da Campanha
to e crescimento da microrregião. Esse setor pode vir Meridional, observou-se pelos índices de correlação
a ser um gargalo à microrregião em função de duas e dos Quocientes Locacionais uma considerável afi-
premissas. Primeiro, o setor agrícola é vulnerável a nidade entre os municípios, principalmente, Bagé,
diferentes impactos, como condições naturais que não Aceguá e Hulha Negra, também dos municípios de
podem ser controladas. Outros aspectos são os preços Dom Pedrito e Lavras do Sul.
dos produtos agrícolas determinados pela lei de con- Quando se analisa os Quocientes Locacionais
corrência perfeita e dada pelo mercado. A microrre- que medem a especialização da região e sinalizam
gião da Campanha Meridional está na fronteira com o com o grau de especialização e, portanto, como a re-
Uruguai e é afetada com a concorrência de produtos gião se potencializa para o enfrentamento das demais
agrícolas externos. regiões, principalmente, com vistas ao mercado, ob-

126 Race, Unoesc, v. 6, n. 2, p. 117-128, jul./dez. 2007


Microrregião Campanha Meridional (RS): os condicionantes e o potencial...

serva-se que há pouca especialização nos três setores sua dependência de fatores naturais. A escassez de
básicos da economia; conseqüentemente, há poucas recursos hídricos constitui um do gargalo da região,
possibilidades de cadeia significativa na produção. mas tem solução viável.
Uma primeira cadeia produtiva que se pode Outro fator que deve ser estimulado é a produção
identificar na região está ligada à pecuária pelos ele- consorciada de produtos agrícolas com outros setores
vados QLs da produção de bovinos e industrialização distintos como forma de melhor aproveitar a nova ma-
da carne seus derivados e, no setor de serviço, o co- triz produtiva que se apresenta para a região em função
mércio de animais. do florestamento. Assim, o segmento da silvicultura
A segunda cadeia produtiva está ligada à pro- pode ser estimulado por meio da produção de madeira
dução de arroz com elevado índice de especialização consorciada com culturas temporárias, visando a uma
na produção de grãos e à indústria de beneficiamento, maior diversificação produtiva, além de ser uma forma
entretanto, essa cadeia merece atenção especial pela de gerar emprego e renda à população.

Meridional Plain Micro Region (RS): the regional development conditioning and potentials

Abstract

This study is intended to approach the development conditionings and possible potentialities of the Meridional
Plain Micro, in Rio Grande do Sul. From secondary data, the location quotients were calculated and the
specialization quotients to this region were defined, indicating its potentialities and specializations, aiming
to identify it as a planning region. It was also intended to draw some answers on the regional neck. The study
showed that the Meridional Plain Micro Region has a considerable specialization quotient on the farming sector,
however, there is a low productive connection to the other sectors, industry and service. A great dependence to
the primary sector is set as a neck.
Keywords: Meridional. Plain Micro Region. Location Quotients. Regional Development.

REFERÊNCIAS

BENKO, Georges. Economia espaço e globalização: na aurora do século XXI. São Paulo: Hucitec, 1999.

CLASSIFICAÇÃO NACIONAL DE ATIVIDADES ECONÕMICAS. Cnae. 2006. Disponível em: <http://


www.fee.tche.br/dados>. Acesso em: 15 maio 2006.

FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA. FEE dados. Disponível em: <http://www.fee.tche.br/


dados>. Acesso em: 15 maio 2006.

KLARMANN, Herbert. Região e identidade regional: um estudo da espacialidade e representatividade


regional no Vale do Rio Pardo. 1999. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional)–Universidade de
Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul, 1999.

Race, Unoesc, v. 6, n. 2, p. 117-128, jul./dez. 2007 127


Eliane Aparecida Gracioli Rodrigues

IBGE. Atlas das representações literárias de regiões brasileiras. Rio de Janeiro: IBGE, 2006.

______. Censo 2000. Disponível em: <http://www.ibge.com.br>. Acesso em: 9 maio 2006.

PAIVA, Carlos A. N. Como identificar e mobilizar o potencial de desenvolvimento endógeno de uma


região. Porto Alegre, 2004. (Documentos FEE, n. 59).

______.O que é uma Região de Planejamento com vistas ao planejamento do desenvolvimento endógeno
e sustentável. In: JORNADAS DE ECONOMIA REGIONAL COMPARADA, 2005, Porto Alegre. Anais
eletrônicos... Porto Alegre, 2005. CD-ROM. Disponível em: <http://www.jornadasregionais.com.br>. Acesso
em: 9 maio 2006.

PEREIRA, Paulo Affonso Soares. Rios, redes e região: a sustentabilidade a partir de um enfoque integrado
dos recursos terrestres. Porto Alegre: AGE, 2000.

SANTOS, Milton et al. A natureza espaço: técnica tempo e razão. São Paulo: Hucitec, 1996.

______. Territórios. Rio de Janeiro: Ed. UFF, 2002.

TONI, J. de.; KLARMANN, H. Regionalização e planejamento, reflexões metodológicas e gerencias sobre


a experiência gaúcha. Porto Alegre, 2001.

Recebido em 4 de setembro de 2007


Aceito em 10 de dezembro de 2007

128 Race, Unoesc, v. 6, n. 2, p. 117-128, jul./dez. 2007

Você também pode gostar