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desenvolvimento regional
Resumo
partir da identificação da especialização regional região em relação ao VAB do mesmo segmento agrí-
e das possibilidades de desenvolvimento desta e, cola do estado.
também, das cadeias produtivas. Além disso, será A apresentação deste estudo está subdivida em
investigada a existência de gargalos produtivos que quatro itens: primeiramente, trata-se de alguns concei-
podem caracterizar-se como obstáculos ou dinami- tos de região e regionalização; a seguir, analisam-se
zados. os resultados dos Quocientes Locacionais e socioeco-
Busca-se responder a essa investigação por meio nômicos para identificar possíveis gargalos regionais
dos dados secundários de diferentes setores produti- e as conclusões.
vos, já tabelados e baseados em fontes como IBGE e
a Fundação de Economia e Estatística (FEE).
2 REGIÃO E REGIONALIZAÇÃO
A metodologia utilizada para calcular os
dados deste estudo será baseada nos Quocientes
Locacionais. Conforme Paiva (2004, p. 36) “Quo- Ao longo do tempo, o debate em torno da fun-
ciente Locacional é a medida de especialização ção e da definição de conceitos sobre regiões, regio-
regional mais difundida em pesquisas voltadas à nalização e métodos utilizados ocupou muitos pesqui-
identificação de estruturas econômicas e das poten- sadores, e ainda hoje faz parte de uma agenda consi-
cialidades dos territórios.” Segundo esse autor, essa derável de discussões. Conforme Pereira (2000), em
medida busca confrontar a participação relativa de relação à conceituação de região, é importante obser-
um determinado setor ou segmento produtivo na var que, sob a ótica da etimologia, as palavras região
economia de uma região com a participação relativa e território tiveram suas interpretações e utilizações
desse mesmo setor ou segmento em uma região de invertidas. A palavra território, originada da palavra
referência, em geral, uma macrorregião que englo- terra, do latim territorium, não tinha o caráter político
ba a primeira. Ainda é possível que existam tantos que tem hoje. Enquanto o termo região, derivado do
Quocientes Locacionais quanto forem as medidas de latim, refere-se à unidade político-territorial em que
participação relativa do setor ou segmento pesqui- se dividia o Império Romano, tem sua raiz no verbo
sado. A participação mais utilizada é a porcentagem regere, que significa governar, o que atribuía à região,
dos empregos gerados no setor/segmento comparada em sua ocupação original, uma conotação eminente-
ao conjunto de empregos do território. mente política.
Assim, para se obter os Quocientes Locacionais A região é considerada por Benko (1999, p. 20)
usados neste estudo, foram realizados os seguintes como “[...] um produto social gradualmente construído
passos. Inicialmente, dividiu-se o número de trabalha- por sociedades nos respectivos espaços de vida.” Nesse
dores de um determinado setor na microrregião pelo sentido, a região pode ser objetivamente distinguida na
número de trabalhadores da microrregião. O segundo paisagem, uma vez que os homens têm consciência da
passo foi a divisão do número de trabalhadores desse região à medida que constroem identidades regionais.
setor no estado pelo número de trabalhadores do Rio No entendimento de Klarmann (1999), o ter-
Grande do Sul. O resultado obtido no primeiro passo mo região sempre esteve ligado à noção de identida-
foi dividido pelo resultado do segundo, obtendo-se, de territorial, o que tornava possível criar um limite,
assim, os valores dos Quocientes Locacionais usados. fronteira demarcatória que representasse a área de
Observa-se, ainda, que a variável número de empre- presença desta. A região tornou-se, muitas vezes,
gados foi usada para os setores da indústria e serviços. resultado de uma ação essencialmente política, fru-
Para o setor da agricultura, dada a dificuldade de iden- to do exercício do poder e do controle do território
tificar-se os empregados de cada segmento, foi utili- por determinados grupos. “Território aqui entendido
zada a variável do Valor Adicionado Bruto (VAB) da como espaço definido e delimitado por e a partir de
produção agrícola de cada segmento calculado para a relações de poder [...]”, conforme Souza (1999 apud
Klarmann, 1999, p. 11). Com a evolução por parte rio usado é o chão mais a identidade. A identi-
dade é o sentimento de pertencer àquilo que nos
tanto da Geografia como de outras ciências, o ter- pertence. [...] É o território usado que é uma
mo região passou a representar a diferenciação exis- categoria de análise. (SANTOS, 2002, p. 10).
tente entre as áreas, remetendo-se a idéia de que a
superfície terrestre não possui uma homogeneidade Ainda contribuindo com a discussão, Pereira
intrínseca, seja do ponto de vista da natureza, seja da (2000, p. 65) afirma que:
sociedade.
Região, por definição, é aquela porção de su-
A participação dos diferentes segmentos da
perfície que por algum critério, seja natural,
sociedade, na discussão dos problemas da região, econômico, político, enfim, por qualquer crité-
contribui para a consolidação da identidade regional. rio até mesmo arbitrário, adquire singularida-
de, características próprias, isto é, tem criada
A existência dessa identidade, aqui entendida como alguma identidade que a diferencia das demais,
sentimento compartilhado de pertencimento a uma segundo tal ou tais critérios.
comunidade territorialmente localizada, é condição
essencial para que um determinado território possa de No entanto, há dificuldades em definir o con-
forma significativa e não-arbitrária ser denominado ceito de região ou regionalização, o que é atribuído à
de região. complexidade e ao seu enfoque. Como indica Benko
A identidade regional reforça a própria capaci- (1999, p. 12):
dade da região. Partindo-se dessa realidade, pode-se
[...] a ciência regional, enquanto disciplina, tra-
pensar estratégias de pró-desenvolvimento regional ta do estudo atento e paciente dos problemas
como projeto alternativo que, num primeiro momen- sociais nas suas dimensões regionais ou espa-
to, pode ser funcional ao sistema, mas que pode vir a ciais, empregando diversas combinações de
investigação analítica e empírica.
se transformar num processo emancipatório, sendo o
espaço e o momento para que outros aspectos da vida
Também pode ser entendida como uma disci-
humana, além do econômico-material, possam ser
plina-cruzamento, para a qual convergem ou derivam
reintegrados ao processo de desenvolvimento, portan-
outras ciências, como economia, geografia, sociolo-
to, possibilitadores de trocas via diferenciação.
gia, ciência política e antropologia, sendo a sua prin-
Em período mais recente, essas mudanças no
cipal fonte de pesquisa a intervenção humana no ter-
conceito de espaço, território e região e no próprio
ritório.
modo de pensar e trabalhar regionalmente abrem
novos horizontes para prática e a pesquisa regio- A ciência regional apresenta todas as caracte-
nal. Quando se reafirma a importância da região rísticas de uma ciência de síntese: é a partir de
dados analíticos fornecidos por diferentes espe-
como método de análise e também como objeto de cialistas que se torna possível discernir, entre
construção de uma identidade territorial que pode casos específicos que a região oferece, certas
leis fundamentais da distribuição das atividades
agregar grupos sociais díspares em torno de deter- no espaço. (BENKO, 1999, p. 8).
minados projetos e desafios comuns, que possibilite
reunir esforços para ultrapassar obstáculos que se
Uma região pode ser entendida como uma en-
colocam nessa caminhada, destacam-se a cultura e
tidade física ou uma construção social, seu conceito
a identidade associadas ao território que, atualmen-
ainda é um tanto difuso. Um território pode servir a
te, apresentam-se revitalizadas, não só como valores
diferentes tipos e finalidades de regionalização, estan-
intrínsecos, mas como fatores propriamente de com-
do ligado diretamente ao objeto que se pretende pes-
petitividade regional.
quisar, o que levará a procedimentos e segmentação
O território não é apenas um conjunto dos siste- de territórios provavelmente distintos.
mas naturais e de sistemas de coisas superpos- A discussão em relação ao desenvolvimento de
tas. O território tem de ser entendido como o
território usado, não território em si. O territó-
determinada região, bem como as formas de conceituá-
la e defini-la ao longo do tempo, gerou um grande em- tivos instrumentalizados na atividade de pla-
bate teórico quanto à definição de região dentro da aná- nejamento. A regionalização definida a partir
lise regional. Esta ocupou os debates, principalmente, desse marco representa uma intencionalidade
de geógrafos e economistas, entre outros pesquisado- da autoridade pública de afirmar uma compre-
res, quando começaram a se delinear várias teorias. ensão do território a partir das necessidades de
Entretanto, o determinismo científico na aná- execução de determinados serviços públicos,
lise regional que utiliza a teoria geral dos sistemas, do exercício do poder regulatório do Estado
tentando resolver várias questões, como a delimitação ou, por exemplo, a focalização das políticas
funcional da região, a definição da escala regional e setoriais em determinada parte do território.
a coesão do conteúdo regional, relegou a um segundo
plano o reconhecimento e a determinação histórica da Entretanto, mesmo partindo de conceitos já ela-
região, considerando mais relevante a classificação e borados, ainda encontram-se muitas dificuldades para
a hierarquização funcional. obter uma regionalização que permita englobar todos
Alguns aspectos servem para caracterizar re- os diferentes fins e necessidades de análise a que são
giões: distintas especializações, diferença do que é propostas. Desse modo, entende-se que região ou re-
produzido e no modo como a produção se realiza, gionalizações são criadas para determinados territó-
envolvendo produtos distintos, meios de produção e rios e direcionadas para estudos, análise ou projetos
relações sociais, principalmente diferentes níveis de específicos, ligados diretamente ao objeto que se pre-
articulação internos, inter-regionais com ênfase nas tende pesquisar, o que levará a processo e segmenta-
características próprias de cada região. ção de territórios provavelmente distintos.
Toni e Klarmann (2001) argumentam que o de-
bate sobre delimitação regional ou regionalização flui
invariavelmente para três tipos de critérios em que se 3 ANÁLISE DOS QUOCIENTES
estruturam o conceito de regionalização: LOCACIONAIS E INDICADORES
SOCIOECONÔMICOS COM VISTAS À
a) região homogênea – baseada na possibi- ESPECIALIZAÇÃO REGIONAL
lidade de agregação territorial a partir de
características uniformes, arbitrariamente A análise dos dados secundários é relativa aos
especificadas. Os padrões de comparação três setores (agricultura, indústria e serviços), disponí-
e agregação podem estar baseados na es- veis no Censo 2000 do IBGE e com informações do
trutura produtiva existente, em fatores ge- banco de dados da Fundação Estadual de Economia e
ográficos, na dinâmica do consumo interno Estatística (FEE). Procura-se, por intermédio da medi-
ou na ocorrência de recursos naturais espe- da do Quociente Locacional (QL), identificar setores ou
cíficos; cadeias produtivas que possam ser estimulados visando
b) região polarizada – assume a hipótese de alavancar o desenvolvimento socioeconômico e as pos-
polarização espacial a partir do campo de síveis cadeias produtivas da microrregião da Campanha
forças que se estabelece entre unidades pro- Meridional e dos municípios que a compõe.
dutivas, centros urbanos ou aglomerados Em relação aos municípios, serão analisados os
industriais. A região é considerada hetero- coeficientes de correlação entre ambos tomando por
gênea e funcionalmente estruturada, com base os dados de um município correlacionado esta-
fluxos de intensidade variada, normalmente tisticamente com os demais municípios da microrre-
convergindo para os pólos; gião. Os coeficientes demonstram que quanto mais
c) região de planejamento – essa região deriva elevados forem os percentuais, maior será o encadea-
da aplicação de critérios político-administra- mento entre os municípios.
des empregam 440 pessoas, sendo o segundo maior que deveriam ser melhor investigadas no sentido de
segmento industrial em relação ao número de empre- verificar o destino da produção, se há um encadea-
gos efetivos na microrregião. mento com produtos que sirvam à agricultura ou aos
serviços.
Segmento industrial Quociente
Locacional (QL)
Abate de reses, preparação de produtos 27,00
de carne. 3.4 OS QUOCIENTES LOCACIONAIS DO
Preparação de carne, banha e produtos 3,74 SETOR DE SERVIÇOS
de salsicharia.
Fabricação de sorvetes. 4,45
Beneficiamento de arroz e fabricação de 13,14
produtos do arroz. Na microrregião, o setor de serviços apresenta
Torrefação e moagem de café. 2,48 valores superiores a um em diversas atividades, con-
Fabricação de produtos de padaria, 4,32
confeitaria e pastel. forme Quadro 3.
Preparação de especiarias, molhos, 4,78 Destacam-se algumas atividades específicas
temperos e condimento.
Fiação de fibras artificiais ou sintéticas. 10,92 que apresentam QL elevado, como o comércio de
animais vivos (QL 5,87), demonstrando uma espe-
Edição de discos, fitas e outros materiais 16,15
gravados. cialização nessa atividade, o que se pode associar ao
Impressão de material escolar e de 2,35 potencial agropecuário e à indústria (frigoríficos) da
material para usos industriais.
Fabricação de outros produtos de 2,67 microrregião.
minerais não metálicos.
Quadro 2: Microrregião Campanha Meridional (RS): Quo- Setor de serviços Quociente
cientes Locacionais agregados pelos 10 maiores Locacional (QL)
valores para o setor da indústria – 2000 Comércio atacadista de animais vivos. 5,87
Fontes: IBGE (2000) e Classificação Nacional de Atividades Eco- Comércio atacadista de produtos do fumo. 2,82
nômicas (2003).
Comércio atacadista de mercadorias em 3,60
geral (não- especializado).
No setor de alimentação, destacam-se a indus- Comércio varejista de móveis, artigos de 4,44
iluminação e outros.
trialização de produtos alimentícios, padarias e condi- Comércio varejista de artigos usados. 4,23
mentos que, mesmo sendo uma atividade com pouco
Pesquisa e desenvolvimento das ciências 6,56
valor agregado, pode assegurar emprego e renda à físicas e naturais.
população. Sedes de empresas e unidades 2,94
administrativas locais.
O item “Edição de discos e fitas gravadas” apa- Educação infantil – pré-escola. 7,27
rece com QL 16, no entanto, pode-se dizer que é um Educação superior – graduação e pós- 4,10
valor isolado porque são empregadas somente três graduação.
Organismos internacionais e outras 6,34
pessoas nesse ramo, no município de Bagé. instituições.
Uma atividade industrial que merece ser inves- Quadro 3: Microrregião Campanha Meridional (RS): Quo-
tigada mais detalhadamente é o segmento de vestu- cientes Locacionais agregados pelos 10 maiores
ário, que aparece com QL 10,92 na fiação de fibras valores para o setor de serviços – 2000
Fontes: IBGE (2000) e Classificação Nacional de Atividades Eco-
artificiais. O aproveitamento dessa produção de fibra nômicas (2003).
é usado na fabricação de vestuário, a princípio essa
hipótese parece se confirmar. Entretanto, não se iden- A atividade de pesquisa e desenvolvimento pos-
tifica a fabricação ou fiação de fibras naturais, por sui um QL 6,65, no entanto esse índice merece uma
exemplo, a lã que é um produto com produção bas- pesquisa mais aprofundada para que seja identificado o
tante significativa para a região. destino desta, ou seja, se está voltada às necessidades e
Os setores metal-mecânicos e impressões apre- potencialidades da microrregião, ou se está sendo pro-
sentam, também, valores positivos e possíveis cadeias duzida para atender a interesses externos.
Outros QLs significativos no setor de serviço Sul, é de 12,21%; comparando-se os resultados, todos
estão nas atividades de educação, com índices posi- os municípios possuem valores superiores aos do es-
tivos na educação infantil e ensino superior, o que tado, por exemplo, Bagé e Lavras do Sul com per-
demonstra uma lacuna no ensino intermediário. Vale centual acima de 16%, Dom Pedrito maior que 13%,
observar mais atentamente a origem e destino de o que demonstra que os números do desemprego na
quem demanda ensino superior, uma vez que, prova- microrregião são mais elevados que no estado.
velmente, esse profissional qualificado não permane- Outro indicador é a relação da população ocu-
cerá na microrregião. Os dados relativos ao número pada em idade ativa e a população em idade ativa com
de estabelecimentos apontam a concentração desses rendimento. O Rio Grande do Sul tem um índice de
no município de Bagé, o que indica um caráter de po- 82,57% e, na microrregião, apenas o município de
larização na área da educação. Hulha Negra, com 88,04%, possui índice superior ao
Destacam-se, também, os QLs da Área da do Rio Grande do Sul. Os demais municípios estão
Saúde, mostrando alguma especialização nessa pres- abaixo, Bagé 71,7%, Dom Pedrito 74,5% e Lavras do
tação de serviço, mas que deveria ser melhor investi- Sul 72,18%. Isso aponta que na microrregião há mais
gada a sua característica, se pública ou privada, e se pessoas aposentadas ou rentistas do que a média do
há no segmento da medicina alguma especialização estado.
ou serviço com maior destaque. Ademais, os setores A análise da participação setorial nos três prin-
que possuem Quocientes Locacionais mais significa- cipais setores (indústria, serviços e agricultura) em
tivos são complementares, como comércio em geral, relação à população ocupada permite fazer inferên-
distribuidores, ou seja, atividades básicas do setor de cias de como se distribui a ocupação da população em
serviços. relação ao seu trabalho, em quais setores produtivos
há maior concentração.
No Rio Grande do Sul, a ocupação de pessoal
3.5 OS INDICADORES SOCIOECONÔMICOS DA
no setor agropecuário é de 20,09%. Os municípios
MICRORREGIÃO
da microrregião têm índices bastante díspares, como
em Bagé com apenas 11,98%. Dom Pedrito e Lavras
Os dados econômicos dos municípios da mi- do Sul com valores acima da média estadual, 22,95%
crorregião são baseados nos Indicadores Econômicos e 27,34%, respectivamente. Hulha Negra apresenta
e Informações Sociais Demográficas do Censo 2000, um índice importante de 48,57%, mais do que o do-
relativos aos municípios que formam a microrregião, bro ao Rio Grande do Sul. Infere-se que os valores
com exceção do município de Aceguá, criado oficial- elevados do município de Hulha Negra seja conseqü-
mente no ano de 2001. Esses dados permitiram que ência dos assentamentos rurais realizados pelo Incra
fosse feita uma análise comparativa da situação dos no município.
municípios da microrregião em relação aos dados do Quanto à participação do setor industrial, os da-
estado do Rio Grande do Sul. Para simplificar a análi- dos percentuais do Rio Grande do Sul são de 24,42%,
se comparativa, trabalhou-se com os dados percentu- enquanto que, nos municípios da microrregião, esses
ais analisando os valores dos municípios em relação valores estão todos abaixo da média estadual.
ao estado. A população total da microrregião era de A análise da divisão do Rendimento Domiciliar
172.645 pessoas, o equivalente a 1,7% da população Total pelo PIB permite que se identifique quanto da
do Rio Grande do Sul. renda gerada no município é apropriada nesse mes-
O primeiro indicador analisado foi a taxa de mo município ou região. No Rio Grande do Sul, esses
desocupação, esse valor é dado pelo número total de valores são da ordem de 50%, enquanto que, nos mu-
pessoas desocupadas sobre o total das pessoas econo- nicípios da microrregião da Campanha Meridional,
micamente ativas. Esse valor, para o Rio Grande do Bagé consegue endogeneizar 73% da sua renda ge-
rada. Como esse índice é superior ao do Rio Grande A segunda situação que pode afetar significati-
do Sul, pode-se inferir que Bagé ainda receba renda vamente a região são problemas de sanidade animal,
externa. Os demais municípios, como Dom Pedrito por ser a microrregião especializada na produção de
e Hulha Negra, estão na média estadual, e Lavras do bovinos e ovinos, formando nesses segmentos uma
Sul consegue reter apenas 29% da sua riqueza produ- cadeia produtiva com a industrialização de seus deri-
zida, havendo uma evasão de renda desse município. vados. Conseqüentemente, problemas relativos à sa-
Em relação aos índices sociais baseados no nidade animal (por exemplo, um foco de febre aftosa)
Censo Demográfico 2000 do IBGE, estes apontam deixariam vulnerável a região, pois afetariam a indús-
um crescimento do estado na ordem de 1,2%. Bagé tria frigorífica, que é a principal da região e o próprio
foi o único município da região que cresceu em índi- rebanho, uma vez que os animais infectados, via de
ces iguais, os demais municípios tiveram crescimento regra, são mortos.
negativo, sendo o caso mais marcante Hulha Negra, Outro aspecto que pode ser caracterizado
que apresentou um índice negativo de 2,8 %. como gargalo é a limitação ambiental, em espe-
Os índices sociais dos municípios da microrre- cial, a indisponibilidade de água em quantidade
gião demonstram uma estrutura familiar peculiar. Um suficiente, o que afeta a produção agrícola, pois o
dado que chama atenção são os elevados índices em arroz como atividade-base da região demanda em
todos os municípios da região de mulheres com renda torno de 70% da água disponível para irrigação,
de até um salário, sendo chefes de domicílio. Outro e a região sofre de escassez hídrica, o que limita
dado significativo, que mostra perda de renda, é a o próprio plantio da área já cultivada e evita a ex-
queda na quantidade de pessoas com renda superior a pansão da produção, afetando também a cadeia de
5 salários mínimos, embora os dados apresentem uma um dos setores de maior especialização da região,
elevação no nível de escolaridade da população e na além da qualidade de vida da população. Essa pri-
sua qualificação. vação compromete o que é entendida como condi-
ção básica necessária para o desenvolvimento, pela
restrição de acesso à água para consumo humano e
4 POSSÍVEIS CONDICIONANTES E
para o setor produtivo. Essa situação é relativamen-
GARGALOS DA MICRORREGIÃO
te complexa, mas não impede que sejam buscadas
alternativas eficientes que certamente vão requerer
Após a discussão e análise dos dados produtivos elevados investimentos.
e das atividades de maior especialização da região,
observa-se o predomínio do setor primário, com algu-
5 CONCLUSÃO
mas possibilidades de encadeamentos produtivos.
Diante dos resultados, cabe indagar o que pode
afetar o setor primário, base para o desenvolvimen- No estudo da microrregião da Campanha
to e crescimento da microrregião. Esse setor pode vir Meridional, observou-se pelos índices de correlação
a ser um gargalo à microrregião em função de duas e dos Quocientes Locacionais uma considerável afi-
premissas. Primeiro, o setor agrícola é vulnerável a nidade entre os municípios, principalmente, Bagé,
diferentes impactos, como condições naturais que não Aceguá e Hulha Negra, também dos municípios de
podem ser controladas. Outros aspectos são os preços Dom Pedrito e Lavras do Sul.
dos produtos agrícolas determinados pela lei de con- Quando se analisa os Quocientes Locacionais
corrência perfeita e dada pelo mercado. A microrre- que medem a especialização da região e sinalizam
gião da Campanha Meridional está na fronteira com o com o grau de especialização e, portanto, como a re-
Uruguai e é afetada com a concorrência de produtos gião se potencializa para o enfrentamento das demais
agrícolas externos. regiões, principalmente, com vistas ao mercado, ob-
serva-se que há pouca especialização nos três setores sua dependência de fatores naturais. A escassez de
básicos da economia; conseqüentemente, há poucas recursos hídricos constitui um do gargalo da região,
possibilidades de cadeia significativa na produção. mas tem solução viável.
Uma primeira cadeia produtiva que se pode Outro fator que deve ser estimulado é a produção
identificar na região está ligada à pecuária pelos ele- consorciada de produtos agrícolas com outros setores
vados QLs da produção de bovinos e industrialização distintos como forma de melhor aproveitar a nova ma-
da carne seus derivados e, no setor de serviço, o co- triz produtiva que se apresenta para a região em função
mércio de animais. do florestamento. Assim, o segmento da silvicultura
A segunda cadeia produtiva está ligada à pro- pode ser estimulado por meio da produção de madeira
dução de arroz com elevado índice de especialização consorciada com culturas temporárias, visando a uma
na produção de grãos e à indústria de beneficiamento, maior diversificação produtiva, além de ser uma forma
entretanto, essa cadeia merece atenção especial pela de gerar emprego e renda à população.
Meridional Plain Micro Region (RS): the regional development conditioning and potentials
Abstract
This study is intended to approach the development conditionings and possible potentialities of the Meridional
Plain Micro, in Rio Grande do Sul. From secondary data, the location quotients were calculated and the
specialization quotients to this region were defined, indicating its potentialities and specializations, aiming
to identify it as a planning region. It was also intended to draw some answers on the regional neck. The study
showed that the Meridional Plain Micro Region has a considerable specialization quotient on the farming sector,
however, there is a low productive connection to the other sectors, industry and service. A great dependence to
the primary sector is set as a neck.
Keywords: Meridional. Plain Micro Region. Location Quotients. Regional Development.
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