Você está na página 1de 70

Para meus sobrinhos Gabriel e Nina,

para meus afilhados Antonia e Benjamin, Matias e Marina,

para os queridos amigos Artur e Felipe,

para os talentosissíssimos atores Cauê, Caio, Letícia,

e à eternamente jovem Tamara!

Vocês sabem… eu adoro brincar de detetives com vocês!


SUMÁRIO

1. O CASO DO ANEL DE BRILHANTE


2. O CÃO SUSPEITO
3. O SUMIÇO DO CELULAR
4. O ROBÔ DO PRÉDIO AZUL
1. O CASO DO ANEL DE BRILHANTE

Podem me chamar de Capim, detetive Capim. Acabo de me mudar para o


Prédio Azul, um edifício antigo e malcuidado. Vim parar aqui por causa do
meu pai, que foi contratado como porteiro sem nem perguntar quanto
ganharia por mês. Este é o Severino! Estava precisando, aceitou. Afinal,
nossa casa no morro havia desabado na última chuva e o quarto nos fundos
deste prédio nos pareceu um lugar seguro para morar. Mas, desde o primeiro
momento, notei que teríamos problemas. E não deu outra!
– Pestes, pulgas, pirralhos! – ouvi alguém gritar, assim que pisamos na
portaria.
Pouco depois, surgia a síndica, dona Leocádia, correndo desesperada
atrás de um menino magricela e de uma garota com rabo de cavalo. Com um
único puxão, ela tirou o estilingue que estava na mão dele:
– Está confiscado!
– Devolva o meu estilingue, dona Leocádia! Por favor!
– Esta arma perigosa está proibida aqui no MEU prédio. Agora sumam
da minha frente!
– Mas por quê? O que foi que eu fiz? – insistiu o menino.
– Você sabe muito bem: quebrou o pote que estava em cima da minha
mesa, seu irresponsável! Vá para a sua casa e fique por lá pelo resto dos seus
dias! E você também, sua terrorista em miniatura! Circulando, andem!
Os dois garotos se entreolharam, cúmplices, desaparecendo logo
depois. Mal se livrou deles, a síndica veio andando na minha direção, e senti
que eu corria sério perigo. Ela me olhou de cima a baixo e depois encarou
meu pai, irada:
– Quem é esse pirralho, Severino? Você não me avisou que tinha filho.
Quem é esse pequeno selvagem?
Meu pai olhou para mim, tenso. Ele precisava daquele emprego.
Precisava muito. E estava tão nervoso que não conseguia responder. Então,
falei por ele:
– Meu nome é Capim. Cícero Capim. Mas não se preocupe, dona
Leocádia, eu não sou nenhum selvagem.
Ela me olhou no fundo dos olhos e sorriu, maquiavélica:
– Aposto que é! Agora desaparece da minha frente. E se aprontar
alguma bobagem no MEU prédio, seu pai vai pro olho da rua! Entendeu?
Fiz que sim, já recuando. A partir desse momento, a síndica passou a
agir como se eu não existisse e saiu dando ordens a meu pai:
– Largue suas coisas, Severino. Tem muito trabalho para você aqui.
Vamos começar com um problema que aconteceu na pia da minha cozinha…
– Na sua cozinha? Mas… eu vou ser porteiro do prédio, certo?
– E vai cuidar da minha casa também! Este prédio todo é MEU! E você
trate de me obedecer! Venha!
Meu pai nem respondeu. Apenas seguiu a síndica, rumo ao apartamento
dela. Que mulherzinha mais abusada! Que autoritária! Que vontade de fugir
dali! Acontece que não tínhamos outro lugar para morar, e eu sabia que não
podia atrapalhar as coisas. O jeito era achar um canto onde pudesse ficar
quieto, sem incomodar ninguém. Assim que ela e meu pai sumiram, o garoto
magricela surgiu por trás das plantas:
– Não ligue para essa tirana! O problema dela não é só com você. Ela
detesta TODAS as crianças do mundo. Seu nome é Cícero, não é?
– É, mas todo mundo me chama de Capim.
– Meu nome é Tom.
Logo depois, a garota com rabo de cavalo apareceu também, me
cutucando, meio implicante:
– Você não ficou com medo dela, ficou?
– Não – falei, um pouco tímido. – Na verdade, já vi gente pior. Muito
pior!
A menina sorriu para mim e se apresentou:
– Pode me chamar de Mila.
Ela e Tom vestiam capas incríveis, dessas de filme de detetives. De
repente, Mila abriu sua capa vermelha, que mais parecia um armário, e notei
que ali havia binóculo, lanterna, fita métrica… Ela tirou uma lupa da capa e
começou a me examinar, enquanto conversava com Tom:
– E aí, detetive Tom? Acha que ele é de confiança?
Tom também abriu a sua supercapa verde e, tirando uma caneta e um
bloco lá de dentro, começou a anotar:
– Vamos checar item a item. Primeiro: coragem! Isso parece que ele
tem. Segundo item: você sabe guardar segredos, Capim?
– Claro que sei – afirmei.
– Jura? – insistiu Tom.
– Juro pela minha mãe.
Os dois me olharam, desconfiados:
– Cadê a sua mãe? – Mila quis saber.
– Ela não vem morar aqui? Seus pais também são separados? – Tom
perguntou.
– Minha mãe morreu, mas não gosto de falar sobre isso – respondi,
seco.
– Morreu mesmo? – Tom insistiu. – Terceiro item: você mente, Capim?
– Minto só de vez em quando. E minha mãe morreu, sim. Agora vamos
mudar de assunto, tá?
– Acho que ele é de confiança, Mila. Vamos mostrar logo!
– Mostrar o quê? – perguntei, quase explodindo de curiosidade.
Sem responder, os dois me puxaram pela mão até o pátio, empurraram
alguns vasos de planta que escondiam uma portinha e, ao passarmos por ela,
chegamos a um esconderijo incrível! O lugar tinha teto baixo, paredes cheias
de recortes de jornal e uns caixotes de feira, que serviam como bancos. Nós
nos sentamos ali e Tom falou, orgulhoso:
– Bem-vindo ao nosso clubinho secreto, Capim
– Nenhum adulto sabe que este lugar existe – segredou Mila.
– Estávamos mesmo precisando de um terceiro detetive para o grupo –
continuou Tom. – Desde que o João saiu, ficou faltando um detetive no time.
– Quem é João? E o que houve com ele? – perguntei.
– O pai dele foi demitido em menos de um mês. Como todos os outros
porteiros…
Pensei novamente em meu pai, que andava sem casa e completamente
sem dinheiro, com a família longe… Eu precisava ajudar o bom e velho
Severino a se manter naquele emprego pelo maior tempo possível, e meus
dois novos amigos pareciam saber tudo sobre a tal síndica.
– Quer dizer que a dona Leocádia não apronta só com as crianças?
– Claro que não, Capim! Nossa “adorável” síndica ama enlouquecer os
porteiros. É um dos passatempos favoritos dela – respondeu Tom.
– Seu pai vai precisar de muita paciência – disse Mila.
Pouco depois, ouvimos o grito de dona Leocádia:
– Severiiiinooooooooo!
Mila, Tom e eu nos entreolhamos em estado de alerta. Era óbvio que
alguma coisa tinha acontecido e que o emprego do meu pai já corria sério
risco.
– Sempre que ela grita, a gente começa a espionar – explicou Mila. – É
a nossa sirene de alerta.
– Tome esta capa de detetive – ofereceu Tom.
Poucos minutos depois, eu estava vestido com uma capa amarela, me
sentindo um verdadeiro detetive. Dentro dela encontrei bloco, caneta, lupa,
durex, luvas, lanterna e até um canivete! Enquanto isso, Tom espiava pelo
buraco da fechadura. Assim que o caminho ficou livre, ele fez um sinal e
entendi que estávamos prontos para começar uma investigação. Antes,
porém, unimos nossas mãos e dissemos juntos:
– Essa é uma missão para os incríveis, os imbatíveis, os insuperáveis…
detetives do Prédio Azul!
Em seguida, empurramos a portinha com todo o cuidado e voltamos
correndo para a portaria, onde, escondidos atrás do sofá, ouvimos a síndica
gritar com meu pai:
– Fale logo, Severino! Foi você quem roubou o meu anel de brilhante
que estava na pia da minha cozinha, não foi? Confesse, seu gatuno!
– N… Nã… Não. Juro que não! Nem sei que anel é esse! – gaguejou
meu pai, apavorado.
– Mentiroso! Entrou na minha casa para consertar a minha pia e
aproveitou para afanar o que era meu, aposto.
– Eu n… nunca faria isso, dona Leocádia.
– Se não foi você, só pode ter sido uma das crianças! Talvez o pestinha
do seu filho – a síndica sugeriu, já me acusando.
– Meu filho? Não! Jamais! Ele é um garoto honesto, a senhora tem que
acreditar!
– Então, cadê o fedelho? Por que se escondeu? Hein? Hein? Diga
àquele pequeno selvagem que, se meu anel não aparecer hoje até o fim do
dia, você está demitido! Ouviu? Demitido!

Agora era questão de sobrevivência: ou encontrávamos o anel da síndica, ou


meu pai perderia o emprego, e nós dois ficaríamos novamente sem dinheiro
e sem lugar para morar. De uma coisa eu tinha certeza: a culpa não era dele.
Muito menos minha! Meu pai sempre foi um homem corretíssimo. Desses
certinhos mesmo, que não sabem improvisar respostas, muito menos mentir.
Preocupado em manter seu emprego, ele não perdeu tempo: pegou o balde e
o esfregão e começou a limpar as escadas.
Sem nenhum adulto pelo caminho, Tom, Mila e eu saímos de trás do
sofá já decididos a solucionar o caso. Mas ainda não tínhamos nenhuma
pista.
– Por onde começamos? – perguntei, totalmente inexperiente.
– Siga-me, detetive Capim. Vamos entrar na casa da síndica em busca
de pistas – falou Mila, audaciosa.
– Você está maluca? Nós vamos entrar lá dentro? Sem autorização
dela?
– Meu caro Capim, esse é o único jeito de esclarecer o mistério. Não
acha? – ela respondeu.
Foi assim que decidimos espiar pela janela da casa da síndica, que
ficava ali no térreo, virada para o pátio dos fundos. Como a janela tinha sido
esquecida entreaberta e dona Leocádia não estava ali, Mila aproveitou a
chance para entrar. Tom pulou atrás dela, e, depois, os dois me puxaram. Era
a primeira vez que eu entrava na casa de alguém desse jeito e confesso que
fiquei bastante tenso. Mas Tom tinha uma boa desculpa:
– Esqueceu que ela confiscou o meu estilingue? Eu vou achar o que é
meu, custe o que custar.
Dizendo isso, começou a abrir todos os armários e as gavetas da sala,
enquanto Mila e eu procurávamos o anel. A primeira coisa que vimos foram
os cacos de um pote quebrado.
– Foi este o pote que você quebrou com o seu estilingue, Tom?
– Não quebrei coisa nenhuma, Capim. Essa mulher vive acusando a
gente injustamente!
– Então, quem foi que quebrou? – perguntei, intrigado.
– Esse é um dos mistérios que precisamos descobrir – disse Mila, já
anotando alguma coisa em seu caderninho.
– Que outras pistas nós temos?
– Por enquanto, nenhuma, detetive Capim. Talvez seja bom procurar
alguma impressão digital! Que acham? – sugeriu Tom.
Com minha lupa, examinei todo o balcão ao lado da pia, onde dona
Leocádia dizia ter deixado o anel, mas não achei impressão digital alguma.
Só uma espécie de desenho. Parecia um Y, com um risco no meio.
– Acham que isso é alguma pista? – apontei.
– Claro que é! – afirmou Tom, já se juntando ao grupo com seu
estilingue de volta na mão.
– Ei, onde estava o seu estilingue? – perguntei, animado.
– Dentro daquele outro pote que está lá no alto do armário – apontou
Tom.
Notei que os potes da sala estavam no alto do armário, como se
houvesse alguma criança pequena por perto pronta para derrubar alguma
coisa.
– Acham que tem alguma criança morando aqui?
– Não. Claro que não! Que ideia, Capim. Dona Leocádia odeia
crianças. Nunca teria uma criança em casa. Nem que fosse parente! –
afirmou Mila.
Eles pareciam conhecer dona Leocádia muito bem e se movimentavam
pela sala totalmente à vontade. Já eu estava com medo de encostar em
qualquer coisa, mas seguia arriscando palpites:
– Será que a síndica adotou um animal?
– Um animal? – Tom e Mila me olharam, surpresos.
Expliquei a eles o que estava pensando: se a janela da casa de dona
Leocádia ficava sempre aberta, talvez um animal, tipo um gato, tenha
entrado ali e derrubado o pote. E quem sabe ela adotou o tal gato? Meu
argumento, porém, não convenceu ninguém!
– Mas o que o gato teria a ver com o sumiço do anel? E com a marca do
Y riscado? – lembrou Mila.
– Faltam provas! – concluiu Tom.
Meus amigos tinham razão! Precisávamos encontrar mais sinais para
seguirmos a trilha certa. Iluminei o ralo da pia e não vi nada brilhando lá
dentro. Então, decidi checar a geladeira. Se houvesse leite nas prateleiras,
talvez dona Leocádia estivesse mesmo alimentando algum gato… Mila
também veio espiar, e foi aí que descobrimos algo surpreendente: na
geladeira só havia ovos. Muitos ovos!
– Alguém quer um ovo mexido aí? – Mila brincou.
– Que estranho! Uma geladeira só com ovos e água? Isso parece
suspeito. Suspeitissíssimo! – falou Tom, puxando seu bloco para anotar
aquela descoberta.
Em seguida, ele enumerou as informações que tínhamos conseguido até
o momento:

Fiquei confuso. Ainda não dava para concluir nada com aquelas
informações. Precisávamos de alguma outra pista que nos levasse a
conclusões mais certeiras. De repente, Mila nos chamou, empolgada:
– Detetives, vejam isso.
Corremos até ela, curiosos, mas, quando Mila ia nos mostrar o seu
achado, dona Leocádia surgiu na sala, gritando:
– Pestes, pulgas, pirralhos! Invasores de lar! Agora eu tenho certeza de
que foram vocês que roubaram meu anel! Pivetes! Vou ligar para o
reformatório de menores infratores agora mesmo!
Apavorado, não consegui agir com frieza. Meu instinto me dizia para
fugir! Eu não podia ir parar no tal reformatório para menores infratores de
jeito nenhum. Por isso tentei pular de volta para o pátio. Que erro! Aos olhos
de dona Leocádia, minha tentativa de fuga só confirmava a minha culpa.
Pouco depois, a síndica me agarrava pelos pés, fechando a janela e trancando
a porta da casa com nós três lá dentro. Aquilo parecia o fim da linha!

Dona Leocádia estava fora de si e começou a me sacudir, enquanto berrava,


com ódio:
– Ladrãozinho! Eu sabia que tinha sido você!
Eu estava tão nervoso que não consegui me defender. Bem mais calma,
Mila tentou inverter o jogo, mostrando a pista que havia acabado de
encontrar:
– Posso saber o que esta pena branca está fazendo aqui na sua casa,
dona Leocádia?

Tom agiu rápido, unindo-se a Mila na estratégia de contra-ataque:


– A senhora por acaso anda matando passarinhos? Nós podemos
denunciar a senhora para os defensores de animais, sabia?
Acontece que dona Leocádia não se abalava à toa e, sem me largar,
puxou Mila pelo vestido:
– Olhe aqui, ô fedelha, eu vou ligar agora mesmo para o seu pai e…
Mas, antes que ela dissesse alguma outra coisa, Tom abriu a geladeira,
pegou um ovo, colocou no estilingue e atirou!
Acertou em cheio! Dona Leocádia ficou paralisada de nojo e ódio. Era
a nossa chance de fugir. Abrimos a janela e escapamos, enquanto ela gritava:
– Pestes, pulgas, pirralhos! Eu ainda acabo com vocês!
Saímos em disparada rumo ao clubinho secreto. Ali dentro sabíamos
que estávamos a salvo. Mas, mesmo com a porta trancada, meu coração
continuava batendo forte, como se eu tivesse realmente cometido o pior
crime de toda a minha vida. Já Tom e Mila, acostumados a enfrentar a fera,
riam, divertidos:
– Grande pontaria, Tom!
– Viu a cara dela quando levou o ovo no meio da testa?
– Que ideia genial!
– Mas… por que será que ela tem tanto ovo na geladeira? – perguntei,
intrigado.
– Boa pergunta, detetive Capim! Vamos aos fatos! Temos que juntar
todas as informações que conseguimos até o momento.
Entusiasmada, Mila se levantou e começou a escrever num quadro-
negro todas as pistas:
Juntando tudo aquilo, tive um estalo e falei, todo empolgado:
– Amigos, a marca do Y riscado só pode ser uma pegada de galinha!
Meus amigos me olharam espantados e eu continuei tagarelando, com o
pensamento acelerado:
– Só pode ser! Foi uma galinha que quebrou o pote na mesa. Depois,
pulou na pia da cozinha e deixou a marca da pata! O Y riscado!
– Claro! Como não pensamos nisso antes? A pena branca pode ser
mesmo de uma galinha! – concordou Mila. – E aposto que foi essa galinha
misteriosa que botou os ovos que estão na geladeira. Elementar, meus caros
detetives!
– Só falta confirmar uma coisa: dona Leocádia normalmente detesta
animais! Onde ela teria escondido essa galinha? – questionou Tom.
– Temos mais uma pergunta não respondida: onde está o anel? –
indaguei.
– Falou tudo, detetive Capim. Temos que achar a galinha e o anel.
Talvez as duas coisas estejam ligadas – suspeitou Mila.
Precisávamos descobrir as respostas antes do fim do dia ou meu pai
seria demitido. Mas como faríamos para entrar na casa de dona Leocádia
novamente sem sermos pegos? Enquanto Tom e eu rabiscávamos um plano
no papel, Mila espiava pela fechadura da portinha. De repente, ela nos
chamou:
– Detetives, é a nossa chance. Dona Leocádia está saindo com uma
cesta.
– Será que ela está criando galinhas para vender ovos?
– Não duvido nada, Capim. Vamos lá conferir tudo isso de perto –
decidiu Tom.
Assim que a área ficou limpa, empurramos a porta e conseguimos
passar por ali sem sermos vistos. Mas, dessa vez, a janela da casa de dona
Leocádia estava fechada. E agora? Como faríamos para entrar no
apartamento da síndica e resolver o caso do anel desaparecido?
O que eu não sabia é que Tom e Mila já tinham entrado na casa de dona
Leocádia tantas vezes que haviam se tornado especialistas no assunto. Logo
começaram a procurar a chave do apartamento, que costumava ficar
escondida entre as plantas, e que não demoraram muito a encontrar, no vaso
de um cacto bem espinhento. Com um jeitinho todo especial, Mila calçou
suas luvas e pegou a chave sem se espetar. Depois, giramos a maçaneta e
pronto! Estávamos na cozinha da síndica novamente. Mas era preciso agir
rápido. Decidimos investigar tudo em volta, e, ao ver uma luz saindo da
fresta da porta do armário da sala, Tom tirou de sua capa um estetoscópio de
médico, que logo aproximou do local suspeito.
– Estou ouvindo sons estranhos. Vamos abrir, rápido!
Abrimos o armário e lá estava a galinha branca, andando de um lado
para o outro, toda estressada. Perto dela, uma lâmpada acesa e um punhado
de palha, que funcionava como ninho.

– Ela não devia estar cacarejando? – estranhou Mila.


– Parece que está engasgada – falei.
– Engasgada? Com o quê? Será que engoliu alguma coisa? – indagou
Tom.
– O anel! – gritou Mila, eufórica.
– Claro, detetive Mila. Faz todo o sentido! Nós tivemos uma galinha lá
no morro que ciscava tudo o que via pela frente! Especialmente coisas
brilhantes – contei.
– É uma boa possibilidade. Mas… e agora? Como vamos fazer para ter
certeza de que ela engoliu o anel?
Fizemos uma rápida lista das nossas poucas opções:

Opção 1 – Abrir a galinha para olhar.


Opção 2 – Esperar a galinha colocar o anel para fora.

Abrir a galinha ninguém queria, principalmente Mila, que parecia


adorar animais e já tinha até inventado um nome para a dita-cuja: Filomena.
Esperar que ela colocasse para fora talvez demorasse dias, e o caso era
urgente! Foi Tom quem trouxe a opção número 3, que parecia ser a mais
criativa e certeira:
– Já sei! Vamos tirar um raio X da Filomena!
Foi assim que escondemos a ave numa sacola e corremos com ela para
o veterinário! Chegando lá, foi preciso explicar todo o caso para que
fizessem o exame. Por fim, veio a radiografia e a prova do crime: o anel
estava entalado na goela da galinha! Quem diria?! A galinha engoliu o anel e
quase fez o meu pai perder o emprego…
Ao voltarmos para o prédio, eu estava aliviado com a descoberta, mas
Mila parecia angustiada:
– O que acham que a dona Leocádia vai fazer com a Filomena?
– Não sei. Só sei que agora a síndica já não pode demitir meu pai. Nem
pode me mandar para o reformatório de menores infratores – respondi.
– Sua vida está resolvida, Capim. Mas e a da galinha? – questionou
Tom.
– Meu medo é exatamente este: e se a dona Leocádia resolver cozinhar
a Filomena só para recuperar o anel?! – exclamou Mila, apreensiva.
Nesse exato momento, dona Leocádia surgiu na portaria e olhou para
nós como se fôssemos três ratos:
– Eu sabia! Eu sabia! Além de roubarem meu anel, vocês pegaram a
minha galinha! Pivetes! Vocês são piores do que eu imaginava.
– Calma, dona síndica. A gente pode explicar – tentei falar.
– Eu não quero ouvir mais nada! Vou chamar a polícia e é pra já!
Dona Leocádia pegou o celular e começou a discar, quando Tom ergueu
a radiografia e apontou:
– Olhe onde está o seu querido anel. Dentro da sua galinha!
– Isso mesmo. Nós não temos culpa de nada – afirmou Mila. – A
senhora devia estar agradecida por termos resolvido o mistério.
Dona Leocádia ficou olhando para a radiografia e para a ciscadora de
anéis por alguns instantes, sem saber o que dizer. Até que agarrou a galinha
pelo pescoço, muito decidida:
– Devolvam o que é meu agora mesmo. Essa danada vai pra panela!
Quem mandou engolir o que não devia…
Acontece que Mila tinha se apegado àquela ave de tal jeito que não
podia imaginar Filomena dentro da panela. E, antes que fosse tarde, puxou a
coitada de volta, gritando:
– Pra panela ela não vai mesmo! Fuja, Filomena. Fuja! Voe para bem
longe!
Dizendo isso, Mila abriu a porta e empurrou a galinha para fora do
Prédio Azul. Desesperada, dona Leocádia saiu em disparada atrás da ave,
mas Filomena parece ter seguido direitinho o conselho de Mila: bateu as asas
e nunca mais foi encontrada.
Nem preciso dizer que dona Leocádia agora só falta rosnar de raiva
quando passa por nós. Mesmo assim, estou começando a gostar do Prédio
Azul. Algo me diz que a síndica ainda vai nos dar muito trabalho, mas um
detetive nunca se cansa, nunca desiste, nunca se abala. Especialmente
quando se chama Capim. Detetive Capim.
2. O CÃO SUSPEITO

Podem me chamar de Capim. Detetive Capim. Todo dia, Mila, Tom e eu nos
reunimos no clubinho secreto, aguardando que um novo caso surja para ser
desvendado. Quando nada acontece, passamos a tarde jogando Uno.
Ultimamente, o Prédio Azul anda calmissíssimo, como diria o Tom. Só que,
depois da calmaria, sempre vem a tempestade, e esse silêncio todo não me
engana.
– Vocês acham que a síndica pode estar aprontando alguma? –
perguntei aos meus amigos, depois de mais uma rodada de Uno.
– Ainda não ouvi o grito-sirene dela chamando o Severino.
– Tem razão, Mila. Essa mulher anda mesmo quietissíssima – observou
Tom.
– Vai ver arrumou algum trabalho para se ocupar. Tomara que se
esqueça de vez da gente – desejou Mila.
– Ela não vai esquecer a gente nunca! Pode ter certeza – afirmou Tom.
– Tem razão. Temos que continuar de olho – falei, já me aproximando
da fechadura da portinha para dar uma espiada.
Espiei para um lado e para o outro, sem ver nada de anormal. Quer
dizer, ver eu não vi. Mas senti! Sim. Senti um cheiro de bolo tão bom que
resolvi chamar os meus amigos para perto:
– Tom! Mila! Estão sentindo esse cheirinho bom? Ai, que vontade de
comer um bolo bem quentinho! Quem será que está na cozinha?
– Se o bolo for da dona Leocádia, melhor manter distância, Capim! –
disse Mila.
– Sério? Mas parece cheiro de bolo de chocolate!
– É bom você saber, Capim: nunca coma nada que venha das mãos da
dona Leocádia, ok?
– Mas por quê, Mila? É perigoso?
– Confie na gente, cara. Fique longe das comidinhas dela ou…
– Ou?…
– O risco será todo seu! – afirmou Tom, com uma voz grave.
– Acham que ela pode querer envenenar a gente? – perguntei.
– Nós temos sérias suspeitas de que a dona Leocádia é quase… quase
uma bruxa! – sussurrou Mila.
Fiquei mudo. Aquilo era mesmo preocupante. Eu já tinha visto gente
malvada, mas uma quase… quase bruxa eu ainda não conhecia. Recuei para
longe da porta, para não sentir mais o cheiro daquele bolo delicioso e não
ficar tentado a ir lá pedir um pedacinho.
– Ei, Mila, qual é o seu maior sonho? – Tom perguntou, mudando de
assunto.
– Meu sonho é ter um mascote aqui no clubinho – ela respondeu.
– Um mascote, tipo… um animal?
– Mais precisamente, um gato. Que tal? Um gato chamado Górki! –
falou Mila, já desenhando o bichano no papel.
– Boa ideia, mas… vocês sabem quando a dona Leocádia vai deixar a
gente ter um gato no prédio dela? Nunca! – disse Tom, desanimado.
– Tudo bem, mas e se ela deixasse? Que bicho você gostaria de ter,
Tom? – perguntei.
– Ah, Capim. Se ela deixasse, eu teria um papagaio chamado
Compadre.
– Fala sério! – ponderou Mila. – Um papagaio ficaria falando sem
parar. Gatos são muito mais quietos e espertos.
– Pois eu preferia ter um cachorro – falei. – Sempre sonhei ter um cão
chamado Bóris.
– Bóris? – riu Tom. – Parece nome de espião russo!
– Por isso mesmo. Seria perfeito para andar junto com os detetives do
Prédio Azul, não acham?
De repente, Mila, que fazia o seu turno espiando pela fechadura da
porta do clubinho, abriu o maior sorriso e me chamou:
– Venha ver isso, Capim. Acho que hoje é o seu dia de sorte! Seu amigo
Bóris acaba de entrar no prédio.
– Verdade?! – exclamei, já pulando para ver.
Tom e eu nos esprememos para olhar pelo buraco da fechadura: o
cachorro era um golden retriever grande, peludo, muito bonito. Talvez
tivesse se perdido dos donos. Ou, quem sabe, estava em busca de um novo
lar e de um novo dono? Ficamos muito animados e, sem que ninguém nos
visse, saímos do clubinho atrás dele. Aquele cachorro tinha que ser nosso!
O cão estava na portaria, fuçando o tapete da entrada, quando me aproximei
dele, chamando:
– Venha cá, Bóris, venha…
O cachorro atendeu na hora. Parecia ter gostado do nome. Aproximou-
se de mim, aceitou um carinho e se deitou aos meus pés. Tom foi buscar
água, Mila sacou da capa vermelha uma escova para pentear aquele belo
pelo cor de caramelo, e eu tirei da minha capa uma bola de tênis para treinar
nosso mascote.
Atirei a bola com força, e nosso craque, Bóris, a abocanhou com um
salto. Depois, pedi que se sentasse e estendesse a pata. Ele sabia fazer tudo,
até rolar pelo chão. Parecia um cão bem-treinado, educado, incrível.
– Esse cachorro tem dono, com certeza! Por que será que entrou aqui?
– Não sei, Capim. Vai ver ele fugiu de alguém que o tratava mal –
sugeriu Tom.
– Mas ele não tem nenhuma ferida! – observei.

– Tem razão – concordou Mila. – Ele está com a coleira e parece ter
sido muito bem-cuidado.
– Alguma coisa aconteceu com ele, Tom. E nós temos que descobrir o
que foi – falei.
Enquanto Tom e eu pensávamos em interrogar os porteiros da rua
buscando pistas sobre a origem daquele belo golden retriever, Mila
continuava brincando com Bóris, sem pensar em mais nada. Estava tão
confiante que pegou a bola da minha mão e a arremessou com toda a força:
– Corra, Bóris! Pegue essa!
Preciso contar um detalhe: Mila é uma garota linda, mas muito
desastrada. E, assim que ela atirou a bola, ouvimos um grito conhecido:
– Pestes, pulgas, pirralhos! Eu acabo com vocês!
A bola tinha acertado em cheio o braço de dona Leocádia, que urrava
de dor. Isso é o que eu chamo de falta de sorte!
Furibunda, dona Leocádia tirou o chinelo do pé, pronta para alguma
maldade. Mas… que erro! Na mesma hora, Bóris pulou na mão da síndica e
abocanhou o chinelo, fugindo em disparada.

– Socorro! Um monstro no MEU prédio! Ele me mordeu! Roubou meu


chinelo. Desgraçado! Eu acabo com a sua raça!
Dona Leocádia saiu correndo atrás de Bóris, fazendo de tudo para
alcançar nosso mascote. Ao ver aquilo, tive uma única certeza: nossos
problemas estavam apenas começando…

Bóris atravessou o pátio latindo, e quando voltou para perto de nós… o


chinelo havia desaparecido. Dona Leocádia fazia ameaças assustadoras:
– Eu acabo com esta fera raivosa! Este ser perigoso engoliu o meu
chinelinho chinês! Minha preciosidade… Seus pivetes! Ou vocês devolvem
o meu chinelo ainda hoje ou podem dizer adeus a esse cão ladrão!
Dizendo isso, a síndica puxou Bóris pela coleira para dentro de sua
casa:
– Este cachorro é um perigo para a humanidade! Está confiscado!
Era só o que faltava! Nosso mascote ser confiscado por aquela… quase
bruxa! Só nos restava uma saída: achar o chinelo e trocar pela liberdade de
Bóris. Mas onde ele teria escondido a tal “preciosidade chinesa”?
A missão foi até bem fácil para três detetives atentos como nós. Afinal,
as pistas eram muito evidentes: uma planta destruída, um bocado de terra
mexida e, debaixo da terra, o chinelo. O problema é que a alça estava
arrebentada e dona Leocádia não iria gostar nadinha de ver o seu amado
chinelo naquele estado lastimável…
– Ah, não se preocupem. Um bom sapateiro pode resolver esse
problema rapidinho – disse Mila.
– Espero que a dona Leocádia concorde com você, Mila. Ou… adeus
Bóris! – falei, desanimado.
– Nada de desânimo, Capim. Temos que agir rápido – decidiu Tom, já
tocando a campainha.
Quando a síndica abriu a porta, entregamos o chinelo e notamos que ela
estava ainda mais furiosa do que antes. Seria por causa da alça rasgada?
Ou… o que mais teria acontecido?
– Esse cachorro é maluco! Rouba tudo, esconde tudo, morde tudo. No
meu prédio ele não pode ficar nem mais um minuto. Vou ligar agora mesmo
para o abrigo de animais!
– Abrigo de animais? Nunca! – exclamei, apavorado.
– A carrocinha tem que levar esse monstro daqui.
– Mas nós já devolvemos o seu chinelo, dona Leocádia. Agora devolva
o nosso cachorro – implorei.
Uma coisa eu já devia ter aprendido: não é nada fácil negociar com uma
mulher autoritária. Parece que nós estamos sempre devendo algo, enquanto
ela nunca cumpre o prometido…
– Eu não vou devolver esse cachorro de jeito nenhum. Além de triturar
o meu chinelo, ele ainda sumiu com a minha bolsa! Eu vou dar uma lição
nesse cão desgovernado! Ah, se vou!
Dizendo isso, bateu a porta nas nossas caras. Do lado de fora, podíamos
ouvir os latidos de Bóris, coitado. Precisávamos agir de maneira urgente e
radical, ou seja, entrando novamente pela janela, antes que aquela síndica
maluca aprontasse alguma maldade com o nosso cachorro. Imediatamente,
Tom, Mila e eu juntamos nossas mãos e falamos, ao mesmo tempo:
E partimos para outra investigação perigosa.

Com um periscópio bem comprido inventado pelo Tom, conseguimos espiar


aquela malvada pela janela, sem sermos vistos. E, assim que dona Leocádia
sumiu pelo corredor, pulamos pela janela e entramos no apartamento dela.
Mila tirou um canivete de dentro da sua capa vermelha e cortou logo a corda
que prendia Bóris. Tom pegou sua lupa e resolveu investigar a casa. Eu
saquei a minha lanterna da capa e iluminei o chão da sala.
– Venha, Bóris. Vamos sair logo daqui – chamou Mila.
Nosso cachorro, porém, continuava latindo, sem querer se mover.
– Estranho! Será que ele está latindo para a dona Leocádia? – eu quis
saber.
– Deve estar com raiva dela! – exclamou Mila.
– Olhem! – apontou Tom. – Marcas de sangue no chão.
– As marcas vão até o banheiro! Será que ele mordeu a dona Leocádia?
– Boa pergunta, detetive Capim. Mas se Bóris mordeu a síndica, foi em
legítima defesa, aposto!
– Certamente, detetive Mila! Ei! Olhem isso! Estou vendo migalhas de
bolo perto das marcas de sangue. Será que o bolo da quase bruxa matou
alguém? – questionei.
Aquilo parecia estranho. Muito estranho. As migalhas de bolo sumiam
pelo corredor, junto com as marcas de sangue. Enquanto eu analisava o
sangue e as migalhas, Tom levantava as almofadas, procurando a bolsa de
dona Leocádia:
– Será que Bóris brincou de enterrar a bolsa da síndica no sofá?
– Vamos ter que continuar a investigação depois, detetives. Estou
ouvindo passos! – sussurrou Mila.
Ela tinha razão. Era hora de partir, mas Bóris não queria vir com a
gente. Continuava arredio, rosnando na direção do banheiro, de um jeito
fixo, cismado. Tivemos que puxar nosso amigo janela afora, na marra.
Ao voltarmos para o clubinho, nos sentamos sobre os caixotes, prontos
para listar tudo o que sabíamos. Bóris, porém, continuava estranho,
arreganhando os dentes perto da porta de entrada.
– Esse cachorro está mesmo furioso – observou Mila.
– Furiosissíssimo! – concordou Tom.
– Será que a dona Leocádia bateu nele?
– Isso eu não sei, Capim. Mas que ela apertou demais a corda que
estava presa ao pescoço dele, isso ela apertou! – afirmou Mila, fazendo um
carinho em Bóris.
– Amigos, se queremos salvar a pele do nosso mascote, temos que agir
rápido. Vamos aos fatos – sugeri, já escrevendo os primeiros itens no
quadro-negro:
Além dos fatos, tínhamos algumas pistas suspeitas, que também
resolvemos listar:

Pista 1 – Sangue na casa de dona Leocádia.


Pista 2 – Migalhas de bolo pelo chão.

O mais importante é que tínhamos também algumas perguntas sem


resposta. E logo aprendi que um bom detetive tem que saber fazer as
perguntas certas para achar as respostas reveladoras. Então, juntos,
anotamos:

Pergunta 1 – Como Bóris foi parar no prédio? E por quê?


Pergunta 2 – Onde está a bolsa de dona Leocádia?
Pergunta 3 – Será que Bóris escondeu a bolsa da síndica?
Pergunta 4 – Por que Bóris rosnava na direção do banheiro?

Nossas pistas não eram ainda suficientes para responder àquelas


perguntas. Precisávamos de mais provas, mais informações. Tom parecia
especialmente intrigado com um detalhe:
– Quando um cachorro rouba uma bolsa, ele puxa com os dentes,
arrasta pela casa, faz uma bagunça danada, certo?
– Certo! – Mila e eu concordamos.
– Mas não vimos nada pelo chão que pudesse ter caído da bolsa da
síndica. Não encontramos nenhuma moeda, nenhum batom, nada.
– Tem razão, Tom. E toda mulher costuma carregar mil coisas na bolsa
– confirmou Mila.
– Está faltando uma peça neste jogo! Algo me diz que Bóris é inocente!
– Concordo plenamente, Tom. Mas como vamos provar?
– Elementar, detetive Capim. Vamos voltar ao local do crime! – decidiu
Mila.
Não tínhamos opção. O único jeito de resolver o enigma era continuar
investigando. Achei que seria melhor deixar Bóris quieto no clubinho para
não corrermos o risco de ver nosso amigo ser enviado para o abrigo de
animais. Tom, porém, insistia em levar o mascote com a gente:
– Bóris vai nos ajudar a desvendar esse mistério. Aposto!
Achei a decisão arriscada, mas Tom talvez tivesse razão. Assim que nos
aproximamos da casa da síndica, percebemos uma movimentação diferente e
recuamos. De longe, vimos o pai da Mila, a mãe do Tom e até meu pai
entrando na casa de dona Leocádia. Parecia que uma reunião geral havia
sido convocada e encostamos o ouvido na fechadura da porta para escutar.
Logo ouvimos a síndica discursar, exaltada:
– Animais estão proibidos neste prédio! Um cachorro hoje entrou aqui e
fez um estrago na minha casa: comeu meu chinelo, comeu meu bolo e
escondeu minha bolsa em algum lugar. Acontece que seus filhos sumiram
com o cachorro e ele só pode estar escondido na casa de um de vocês!
– Mas nossos filhos nunca tiveram animais! – argumentou o pai de
Mila.
– E meu filho não levou cachorro nenhum pro nosso apartamento –
disse a mãe de Tom.
– Nem pro nosso quartinho – falou meu pai.
– Em algum lugar essas crianças esconderam a fera. Então, ou vocês me
entregam esse maldito cão ainda hoje para ser enviado ao abrigo de animais,
ou todos vocês serão expulsos do MEU prédio. Entenderam?
Ninguém conseguiu contra-argumentar. Afinal, além de síndica, dona
Leocádia era também dona de todos os apartamentos e se achava no direito
de expulsar os inquilinos quando bem quisesse. A coisa parecia mesmo
séria: ou Bóris, ou nós! Tom, Mila e eu nos entreolhamos sem saber o que
fazer. Não podíamos entregar nosso mascote nas mãos daquela… bruxa!
Mas também não podíamos ser expulsos do prédio. E agora?
Quando a reunião acabou, todos saíram ainda discutindo, inclusive a síndica,
que, por descuido, deixou a porta entreaberta. Era a nossa chance! Sem fazer
barulho, entramos no local do crime para novas investigações, junto com
Bóris, claro.
Tom procurou por todos os lados objetos que pudessem ter caído da
bolsa. Sem resultado. Nem uma lixa de unha, nem um batom ou uma escova
de cabelo, nada! Enquanto isso, eu segurava a coleira de Bóris, que
recomeçou a rosnar na direção do corredor, inquieto.
– Nosso cachorro está farejando alguma coisa! Não vou conseguir mais
segurar a coleira dele! – falei.
Sem forças, soltei Bóris, que saiu em disparada pelo corredor e
começou a arranhar a porta do banheiro. Corremos atrás dele, e quando
tentamos girar a maçaneta… estava trancada! Se dona Leocádia morava
sozinha e estava fora de casa, quem poderia estar no banheiro?
– Muito suspeito! – exclamei.
– Suspeitissíssimo! – concordou Tom.
Mila, Tom e eu nos entreolhamos amedrontados. Uma coisa era certa:
tinha mais um suspeito nessa história. Como Bóris rosnava e latia sem parar,
Tom decidiu olhar pelo buraco da fechadura, cheio de coragem.
– E então? – perguntei, aflito.
– Tem uma coisa se mexendo lá dentro. Mas não consigo ver o que é.
Mila já ia encostar o olho para tentar ver também quando surgiu dona
Leocádia, seguida por meu pai.
– Olhe aí o ladrão de bolsas! Agora esse cão maldito vai embora de
qualquer jeito – decidiu a síndica, pegando nosso mascote pela coleira.
Mas quem disse que conseguiu puxar o cachorro? Bóris estava tão
furioso que não havia força capaz de movê-lo.
– Me ajude, Severino. Leve esse bicho embora. Ande! E vocês três
sumam da minha frente, seus pestes! Aliás, o que estão fazendo dentro da
minha casa, posso saber?
– Nós viemos aqui para tentar desvendar o mistério!
– Não tem mistério nenhum, seus fedelhos. Foi esse cachorro que
roubou minha bolsa. Eu tenho certeza!
– Acho melhor a senhora chamar a polícia! – insistiu Tom.
– Polícia? Quem vai prender esse cachorro é a carrocinha. Agora xô,
fora, todos vocês!
– Espere, dona Leocádia. Estamos achando que tem alguém dentro do
seu banheiro – revelou Mila.
Dona Leocádia ficou muda por um instante. Depois, soltando uma
gargalhada, encostou a mão na maçaneta, toda confiante:
– Alguém no meu banheiro! Ah! Contem outra e…
Assim que ela tentou girar a maçaneta, percebeu o que nós já sabíamos:
a porta estava trancada por dentro. Ela forçou, forçou e nada! A porta não
abria!
– Parem de gracinha agora mesmo! Quem trancou essa porta?
Devolvam a chave do MEU banheiro! Agora! – bradou a síndica, cheia de
raiva.
– Quem trancou o seu banheiro provavelmente foi a mesma pessoa que
roubou a sua bolsa – afirmou Tom.
– Exatamente! O verdadeiro ladrão de bolsas! – completou Mila.
– Bóris é inocente – afirmei, orgulhoso.
– Não pode ser! – insistiu dona Leocádia.
– Eles parecem estar falando a verdade, dona síndica – falou meu pai,
tentando ajudar a resolver a situação. – Por que mentiriam?
– Eles estão falando a verdade, sim! E provavelmente o bandido que
está aí dentro não roubou apenas a senhora. Roubou a minha bolsa também –
disse uma mulher de cabelos brancos, chegando junto com um policial.
Ficamos todos impressionados. Quem era aquela mulher? E do que
estava falando? Pouco depois, Bóris pulava sobre ela, lambendo seu rosto,
todo amoroso. Não havia dúvidas: só podia ser sua verdadeira dona.
Enquanto isso, o policial arrombava a porta do banheiro, junto com meu pai.
Lá dentro, como nós suspeitávamos, estava o verdadeiro bandido, com duas
bolsas! Uma da dona Leocádia e outra da dona de Bóris.
– O Bóris é seu? – perguntei àquela senhora simpática.
– O nome dele é Borges! – ela respondeu, dando um biscoito para o
cachorro. – Obrigada pela ajuda, meninos. Esse bandido me roubou no meio
da rua! E meu cachorro correu atrás dele!
– Então foi isso! Ele viu o ladrão entrar no nosso prédio e entrou
também… – concluiu Tom.
– Aposto que sim. Ele é muito bem-treinado para me defender – contou
a mulher. – Borges até conseguiu morder o larápio, mas ele fugiu.
– Fugiu e entrou aqui no prédio, deixando marcas de sangue pelo
corredor – eu disse.
– É… o bandido entrou na casa de dona Leocádia para mais um roubo e
aproveitou para comer um pedaço de bolo – deduziu Mila.
– Elementar, meus caros detetives – disse Tom, rindo. – O que o
pilantra não sabia é que os bolos da síndica são horríveis. E aposto que
precisou correr para o banheiro, com o maior piriri!
– Como ousa falar mal dos meus bolos, seu pestinha?!
– Seu bolo é um veneno! – gritou o bandido antes de sair, enquanto o
policial o arrastava para fora.
– Bom trabalho, Borges. Agora vamos pra casa! – disse a dona dele.
E foi assim que voltamos a ficar sem mascote, para a tristeza de todos.
Ou melhor, de quase todos…
3. O SUMIÇO DO CELULAR

Podem me chamar de Capim. Detetive Capim. Meu programa favorito é


encontrar meus amigos Tom e Mila para investigações sensacionais. E, hoje,
algo me dizia, o dia prometia ser daqueles! Estávamos na portaria, curtindo o
celular novinho que Tom acabara de ganhar de aniversário. O aparelho era
moderníssimo, um verdadeiro computador de bolso! De repente, porém,
nossa diversão foi interrompida por um grito muito conhecido:
– Severiiiinooooooooo!
Só podia ser ela, claro, a inigualável, a insuperável, a insuportável dona
Leocádia! Para variar, ela já chegou gritando e nos acusando injustamente:
– Pestes, pulgas, pirralhos! Qual de vocês roubou o meu celular, hein?
Hein? Falem logo antes que eu chame a polícia e expulse todos do MEU
prédio!
Dessa vez nós não tínhamos a menor ideia do que aquela maluca estava
falando. Ninguém tinha roubado o celular dela, imagine! Só queríamos saber
do celular novissíssimo do Tom!
Mas dona Leocádia não devia estar muito boa da cabeça, pois, além de
gritar alguns decibéis acima do normal, chegou vestida com uma calça de
bolinhas cor de laranja que só servia para fantasia de Carnaval. Talvez a
roupa feia fosse uma técnica de síndica, pois, quando nos distraímos olhando
para aquela calça horrorosa, ela aproveitou para agarrar o celular do Tom:
– Esse celular está confiscado!
– Espere aí, dona Leocádia. Isso não é justo! Meu celular novinho… A
senhora não pode fazer isso!
– Vou ficar com ele até vocês devolverem o meu. Entendido?
– Mas nós não roubamos o seu celular! E a senhora não pode nos acusar
sem provas – Mila tentou argumentar.
– Pensam que me enganam? Conheço bem as manias de vocês!
– Mas quando foi a última vez que a senhora viu o seu celular, dona
Leocádia? – perguntei, querendo entender o que tinha acontecido.
– Eu apoiei o celular bem aqui, na mesa desta portaria, e vocês
afanaram! Confessem logo e devolvam o meu aparelho, andem!
– Nós não pegamos nada! Devolva o meu celular – gritou Tom,
revoltado.
– Falsos! Mentirosos! Pivetes! Larápios – rosnou dona Leocádia.
A conversa se encerrou bruscamente, com nossa inimiga se trancando
em casa e levando junto o aparelho de Tom. Que maldade! Que injustiça!
Não podíamos ficar de braços cruzados. Tínhamos que agir urgentemente
para resgatar o que era do nosso amigo antes que fosse tarde!
Apressados, atravessamos a portinha escondida atrás das plantas e
entramos no clubinho secreto para uma reunião de emergência:
– Precisamos recuperar o celular do Tom, galera!
– Certo, Mila. Mas também seria bom achar o telefone desaparecido. Só
assim a dona Leocádia vai acreditar que não somos pivetes nem larápios! –
falei.
– Apoiado, Capim. Vamos em busca do celular perdido – decidiu Tom.
Foi então que vestimos nossas capas, juntamos nossas mãos e soltamos
o nosso grito de guerra:
– Essa é mais uma missão para os incríveis, os imbatíveis, os
insuperáveis… detetives do Prédio Azul!
Depois, com todo o cuidado, voltamos para a portaria decididos a
resolver mais aquele mistério. Primeira tarefa: precisávamos listar quem
tinha entrado e quem tinha saído do edifício naquele dia. Tom logo abriu o
caderninho e começou a interrogar meu pai:
– Então, Severino: precisamos de nomes e horários.
– Como assim, minha gente?
– O senhor não passou o dia aqui, olhando a portaria? – quis saber Mila.
– Passei. É o meu trabalho, ora essa!
– E não viu se entrou alguém para fazer uma entrega? Um serviço?
Alguém de fora do prédio? – perguntei, já com o bloco de notas na mão.
– Nomes. Nós queremos nomes! – insistiu Mila.
– Só vi os moradores mesmo e…
– E…?
– Seu Osmar, o técnico que veio consertar a lavadora de roupa de dona
Leocádia!
Claro que nós não podíamos acusar ninguém sem provas. Mas, pelo
menos, já tínhamos uma pista para começar nossas investigações.
– A que horas ele entrou? A que horas saiu? – perguntei, ansioso.
– Seu Osmar? Ele entrou de manhã e ainda não saiu. Foi tomar uma
ducha lá em casa antes de ir embora porque estava todo cheio de graxa.
Atenta a tudo, Mila tirou a lupa de dentro da capa e apontou para a
primeira pista:
– Olhem! A mesa do Severino está com marcas de graxa. Alguém
colocou os dedos aqui!
– E a dona Leocádia disse que deixou o celular nesta mesa! – exclamei.
– Muito suspeito. Suspeitissíssimo! – falou Tom. – Vamos pegar esse
bandido agora mesmo! Venham!
– Vamos atrás dele! – concordou Mila.
– Esperem aí! Seu Osmar é boa gente! Não é nenhum bandido, não! –
gritou meu pai, tentando nos deter.
Mesmo sem nenhuma certeza, corremos em busca do suspeito.

Quando chegamos ao quartinho onde moro com meu pai, seu Osmar estava
trancado no banheiro, tomando banho. Mas tinha deixado o macacão de
trabalho, sujo de graxa, sobre a cadeira. Ao ver a roupa ali estendida, Mila
não perdeu tempo e saiu investigando bolso por bolso. Encontrou chaves,
carteira, canivete…
– E aí, Mila? Achou o celular da dona Leocádia? – Tom perguntou,
aflito.
– Não tem nenhum celular nesse macacão, pessoal.
– Venham aqui! Estou escutando uma voz vindo do banheiro – falei, já
grudando o ouvido na fechadura da porta.
Como seu Osmar falava alto, não foi difícil ouvir a conversa:
– Oi, amorzinho! Já tô indo. Demorei pra resolver aquele problema,
mas agora o que faltava já está na mão…
Tom olhou para mim e para Mila, e dessa vez teve certeza:
– Ele está falando num celular! Só pode ser o da síndica!
– Temos que pegar o aparelho da dona Leocádia para trocar pelo seu,
Tom! Urgentemente! – disse Mila.
A questão era: como resgatar o aparelho das mãos do larápio?
Decidimos armar um plano:
– Vamos fazer o seguinte: quando seu Osmar sair do banheiro, Mila
coloca o pé para ele tropeçar.
– Deixem comigo – falou Mila, pronta para entrar em ação.
– Você, Capim, aproveita e dá um empurrão extra. Quando seu Osmar
cair, eu pego o celular e a gente foge, ok?
Ficou combinado! Nós nos escondemos pela sala e, mal seu Osmar saiu
do banho, enrolado na toalha e com o celular na mão, seguimos o plano.
Pobre seu Osmar! Caiu de bunda para cima, estatelado no chão!
O aparelho voou pelos ares e foi aterrissar bem em cima do sofá. Sem
pensar duas vezes, Tom agarrou o aparelho e nós saímos em disparada porta
afora.
O segundo passo era simples: tocar a campainha da casa de dona
Leocádia para destrocar o telefone dela pelo de Tom.

Dessa vez a síndica abriu a porta com uma calça ainda mais feia: cor-
de-rosa choque com borboletas verdes. A calça brilhava tanto que precisei
desviar os olhos para não me desconcentrar.
– O que vocês querem agora, seus fedelhos fedidos?
– Viemos devolver o seu celular! – disse Tom, todo empolgado, já
estendendo o telefone para dona Leocádia.
– Isso mesmo! Descobrimos o ladrão e recuperamos o seu aparelho! –
continuou Mila.
– Agora é só a senhora devolver o celular do Tom! – completei.
Para nossa surpresa, porém, dona Leocádia pegou o telefone da mão de
Tom, fazendo uma careta horrorosa! Parecia coisa de bruxa mesmo!
– Vocês pensam que eu sou idiota? Pensam que vão me passar para
trás? Mas não vão mesmo!
E, dizendo isso, atirou o celular pela janela.
Nem preciso dizer que fomos expulsos da casa da síndica sem nenhuma
explicação! Totalmente perdidos, decidimos voltar ao clubinho para
organizar as pistas com calma.
– Então, detetives? O que sabemos até agora? – perguntei aos meus
parceiros.
Mila logo pegou o giz e começou uma lista no quadro-negro:

Ao olhar aquela lista, tive a impressão de que estávamos voltando à


estaca zero.
– Tem razão, Mila. O celular de seu Osmar não é o da síndica. Que
confusão! Acho que suspeitamos da pessoa errada – falei, já me sentindo
péssimo.
– Um detetive nunca se abala, Capim. E não desiste jamais – afirmou
Tom, pegando o giz da mão de Mila.
Em seguida, ele listou as perguntas que nos intrigavam:
Pergunta 1 – Como o celular de dona Leocádia sumiu?
Pergunta 2 – Por que tem graxa na mesa?

Nós não sabíamos as respostas, só que, de repente, me ocorreu outra


dúvida. Parecia sem importância, mas talvez nos levasse a uma boa resposta.
Então, pegando o giz da mão de Tom, escrevi no quadro-negro:

Pergunta 3 – Por que dona Leocádia usou hoje duas calças


horrorosas?

Antes que meus amigos me ajudassem a encontrar alguma resposta,


ouvimos meu pai e seu Osmar passarem pelo pátio, gritando palavras nada
gentis contra os incríveis, os imbatíveis, os equivocáveis… detetives do
Prédio Azul!
Infelizmente, até os melhores detetives se enganam de vez em quando.
E parece que dessa vez nós tínhamos falhado!
– Esses meninos devem estar malucos – falou meu pai. – Roubaram
mesmo o seu celular, seu Osmar?
– Sim, são uns pivetes, seu Severino. Arrancaram o aparelho da minha
mão e me jogaram no chão!
Mila correu para olhar pela fechadura da portinha. Pouco depois,
ouvimos uma voz muito conhecida:
– Não falei? Não falei que eles eram uns larápios incorrigíveis?
Era dona Leocádia, claro! E ao ver a síndica ali por perto, seu Osmar
aproveitou para cobrar pelo conserto da máquina de lavar:
– Custou cinquentinha, dona Leocádia.
– Cinquenta? Mas isso é um roubo! Quase o preço de uma máquina
nova.
– Deixe de história. Uma nova custaria dez vezes mais. E eu deixei a
sua zerada, funcionando perfeitamente!
– Perfeitamente uma ova! Eu estou ouvindo um barulho estranho.
Parece que tem uma peça solta. Enquanto não resolver isso, seu Osmar, eu
não vou lhe pagar coisa nenhuma.
Assim que ouvi aquela conversa, comecei a listar algumas pistas no
quadro-negro:
Meu raciocínio lógico me dizia que estávamos perto da solução do
caso:
– Amigos, esse barulho na máquina é muito suspeito.
– Suspeitissíssimo! – concordou Tom.

– Vamos voltar para a casa da síndica agora mesmo, antes que seja
tarde!
– Voltar para o campo inimigo? Com dois inimigos lá dentro? Melhor
esperar um pouco – sugeriu Tom.
– Se quisermos resgatar o celular desaparecido, temos que agir
urgentemente e desligar a máquina de lavar! – afirmei.
– Vamos logo, Tom. Esta é a grande chance de recuperarmos o seu
celular também – disse Mila, já nos puxando para fora do clubinho.

Voltar à casa de dona Leocádia não seria tarefa fácil. Antes de mais
nada, decidimos recuperar o celular de seu Osmar, que a síndica tinha
atirado pela janela. Por sorte, ele tinha caído entre as plantas, sofrendo
apenas dois arranhões.
– Será que ele vai aceitar o aparelho de volta? – Mila questionou.
– Tá funcionando, gente! Vai aceitar, sim! – concluiu Tom.
– E nós vamos ter que pedir desculpas a ele, amigos. Erramos feio! –
falei.
Mal entramos na casa de dona Leocádia, devolvemos o celular a seu
Osmar e pedimos desculpas. Ele aceitou o aparelho de volta, mas não quis
mais saber de conversa. Pobre homem! Além da nossa confusão, ele ainda
tinha que ouvir a voz aguda de dona Leocádia, que seguia reclamando da
máquina de lavar:
– Serviço malfeito! Olhe só o barulho! Tem peça solta nesta máquina.
Aposto que tem.
Talvez fosse tarde demais para uma solução perfeita, mas o caso do
celular estava prestes a ser resolvido.
– Desligue a máquina, dona Leocádia, por favor! – pedi.
– E você lá entende de máquinas, garoto?
– Não. Mas nós três somos muito bons em resolver mistérios. Agora
acompanhe o nosso raciocínio – disse Mila.
Foi então que Tom fez a primeira pergunta:
– A que horas o seu celular desapareceu, dona Leocádia? A senhora se
lembra?
– Por volta das dez da manhã. Por quê?
– E que calça a senhora estava usando pela manhã? – perguntei.
– Calça? Mas o que a minha roupa tem a ver com o roubo do meu
celular?
– Será que foi roubo mesmo? – foi a pergunta que Mila fez.
– Responda, por favor – insistiu Tom.
– De manhã, eu estava com uma calça vermelha. Mas, como sujou de
graxa, eu coloquei uma calça laranja antiga que eu amo, só que estava meio
apertada. Então, troquei para esta calça rosa aqui que está super na moda!
Gostaram?
– Não estamos aqui para falar de moda. Nosso assunto é um só: o
sumiço do celular – disse Tom, muito sério.
– E sabem onde ele está? Quem foi que roubou, afinal?
– Diga, dona Leocádia, onde está a calça vermelha que a senhora usou
hoje pela manhã e que sujou de graxa? – indaguei.
– Dentro da máquina de lavar! Finalmente ela voltou a funcionar e…
– Podemos abrir a máquina e verificar? – pediu a detetive Mila,
interrompendo a tagarelice.
Seu Osmar decidiu nos ajudar e apertou um botão, parando a máquina.
Mila, Tom e eu logo tiramos a calça vermelha lá de dentro e… pimba! Caso
solucionado! Lá estava o celular de dona Leocádia: no bolso da calça
vermelha.
– Mas quem fez isso?! – gritou a síndica, indignada.
– Dessa vez a senhora tem que admitir: foi a senhora mesma! Colocou
o celular no bolso quando foi à portaria, depois esqueceu que o aparelho
estava aí dentro e jogou a calça na máquina de lavar. Com celular e tudo! –
expliquei.
– Então esse novo barulho, essa peça solta, era o celular?
– Elementar, seu Osmar. Pode ligar a máquina novamente para checar.
Dito e feito: seu Osmar voltou a ligar e… o barulho tinha desaparecido.
Tom tentou secar o celular de dona Leocádia com toalha e secador de
cabelos, mas, depois de girar por um bom tempo com muita água e sabão,
ele só servia para enfeite.
Faltava ainda uma coisa: recuperar o celular de Tom. E, sem esperar
mais nada, nosso amigo pegou o que era seu e saiu em disparada. Mila e eu
corremos atrás dele, enquanto dona Leocádia gritava:
– Pestes, pulgas, pirralhos! Voltem aqui! Vocês precisam me emprestar
esse celular! Só por cinquenta anos.
Emprestar por cinquenta anos? Ah, essa dona Leocádia não tem jeito!
Não podemos bobear, senão ela vem e confisca o que não é dela. Por isso é
que eu digo: um bom detetive tem que andar de olhos bem abertos e de
ouvidos bem atentos. Eu e meus parceiros somos assim: não tememos os
tiranos e resolvemos todos os mistérios, sem desistir jamais!
4. O ROBÔ DO PRÉDIO AZUL

Podem me chamar de RPA. Robô do Prédio Azul. Estou brincando, claro!


Meu nome é Capim. Detetive Capim. Mas, nas horas vagas, Tom, Mila e eu
decidimos nos reunir no clubinho secreto para construir um robô! Isso
mesmo! Um robô que possa enxergar à distância e espionar a casa de dona
Leocádia, nos poupando de correr certos riscos. O robô já tem pernas e
braços, só falta algo para a cabeça. Em busca das últimas peças, empurramos
a portinha do nosso esconderijo secreto e levamos o robô para a portaria.
– Olhem! O rádio de pilha do meu pai! Que acham disso para a cabeça
do RPA?
– Ah, acho muito quadradão, Capim. Que tal essa cúpula de abajur? –
sugeriu Mila.
– Perfeito! Me ajudem aqui – disse Tom, já tentando soltar a cúpula
para colocar no robô.
Retiramos a lâmpada e, quando já estávamos quase terminando de
desmontar o abajur, ouvimos um grito conhecido e estridente:

– É que nós precisamos de uma cabeça para o nosso robô – tentei


explicar.
– E isso lá é problema meu? Seus moleques! Eu sabia que vocês iriam
aprontar alguma. Pelo menos agora eu vou poder mostrar aos pais de vocês
tudo o que fizeram, porque coloquei uma câmera aqui perto da minha janela
e…
De repente, dona Leocádia apontou para o alto e emudeceu. Foi então
que vimos a síndica ficar vermelha, roxa e azul, enquanto gritava cheia de
ódio:
– Malditos! Onde está a câmera que instalei bem aqui?
– De que câmera a senhora está falando? – Tom perguntou, intrigado.
– Não se façam de sonsos. Estou falando da novíssima câmera de
segurança que eu mesma aparafusei naquela parede para vocês nunca mais
entrarem na minha casa e nunca mais aprontarem qualquer bagunça no MEU
prédio.
Sempre que cismava de nos acusar, dona Leocádia começava por mim:
– Confesse! Onde está a minha câmera?! Fale antes que eu chame a
polícia!
Por sorte, Tom e Mila logo vieram em minha defesa e me puxaram para
longe daquela síndica raivosa.
– Pare de implicar com o Capim, dona Leocádia! Nós não pegamos
câmera nenhuma! – disse Tom.
– Nós juramos! – falou Mila.
Dona Leocádia, porém, não se convencia facilmente. E continuou
olhando para nós três, muito desconfiada:
– Se não foram vocês, quem foi? Será que esse robô rouba coisas?
Ao ouvir aquilo, Tom se abraçou ao robô, tentando defender o RPA das
garras da terrível confiscadora do Prédio Azul:
– Nosso robô é cem por cento honesto! Nunca roubaria um parafuso!
– Já entendi tudo. Foi você, seu trombadinha! Roubou a minha câmera
só para colocar nessa montanha de lata velha que você chama de robô. Não
foi?
Dizendo isso, dona Leocádia começou a puxar o robô de um lado,
enquanto Tom puxava do outro:
– Me dê isso, vamos!
– Não. Nunca! Solte o RPA! Ele é nosso!
– Era! Esse robô está confiscado! – decretou dona Leocádia, soltando
uma gargalhada horrorosa.
De nada adiantou gritar, chorar, espernear, pois a bruxa era mais forte e,
num único puxão, tomou o nosso robô e se trancou em casa. Aquilo não era
justo! Não era mesmo! Nós precisávamos reagir, tínhamos que resgatar o
nosso robô urgentemente!
Sem mais demora, entramos no clubinho, vestimos nossas capas e
soltamos o nosso famoso grito de guerra:
– Essa é mais uma missão para os incríveis, os imbatíveis, os
insuperáveis… detetives do Prédio Azul!
Depois, começamos a traçar uma estratégia.
– Como vamos fazer para recuperar nosso robô? Algum plano, detetive
Tom?
– Vamos ter que esperar a síndica sair de casa, meu caro Capim.
– Não! Não podemos esperar! Temos que começar a investigação agora
mesmo. Se a câmera sumiu e não fomos nós que pegamos, quem terá
cometido esse crime?
– Boa pergunta, detetive Mila. Para variar, vamos ter que achar o
verdadeiro ladrão e provar que nós não roubamos a câmera! – falei.
– Isso aí, detetive Capim. Vamos começar a procurar pela portaria,
perto do local do roubo. Venham! – decidiu Mila, já nos puxando para fora
do clubinho.
Mais do que depressa, atravessamos novamente a passagem secreta e
saímos em busca de pistas que nos levassem ao temível ladrão de câmeras!
Quem seria? Como faríamos para descobrir?

Precisávamos encontrar digitais, fios de cabelo, pegadas, qualquer pista que


nos levasse ao verdadeiro ladrão de câmeras. Assim, decidimos nos separar,
e Mila, puxando a lupa de dentro da capa, começou a examinar as paredes.
Tom foi investigar a maçaneta da porta de entrada, enquanto eu analisava o
chão de mármore.
De repente, notei marcas de lama perto da janela da síndica. Observando
melhor, vi que eram marcas de um sapato e chamei meus amigos:
– Tom, Mila, venham ver isso!
– Que pegada enorme! – exclamou Mila, impressionada.
– Enormissíssima! Vamos medir o tamanho da pegada enlameada.
Assim, poderemos medir o pé dos moradores do prédio e verificar se alguém
tem um sapato deste tamanho!
– Boa ideia, Tom! Aqui está a fita métrica – falei, já entregando a fita a
ele.
Quando Tom mediu a pegada, concluímos que devia ser de um homem
adulto, com sapato número 44! Então, fomos de apartamento em
apartamento e examinamos um por um os pés de todos os moradores do
Prédio Azul. Acontece que ninguém ali usava sapato 44.
– E agora, galera? Nossa única pista não serviu de nada! Voltamos à
estaca zero.
– Nada disso, detetive Capim. Não desanime. Afinal, podemos concluir
uma coisa!
– Que coisa? – eu quis saber.
– Que o suspeito só pode ser alguém de fora do prédio! Um visitante ou
um entregador de pizza, quem sabe?
Com essa informação anotada, voltamos à portaria para observar quem
entrava e quem saía. Foi nessa hora que meu pai descobriu que eu não tinha
almoçado e me obrigou a tomar uma sopa de repolho. Eu detesto sopas,
ainda mais de repolho. Aquele negócio me deixou em estado de ebulição e,
logo depois, comecei a soltar torpedos fedorentíssimos, um depois do outro.
Não dava nem para disfarçar, e fiquei morrendo de vergonha de continuar
perto dos meus amigos:
– Foi mal. Esse repolho é fogo! Melhor eu desistir da investigação e me
trancar no banheiro!
– Nada disso! Nós precisamos de você para resolver esse caso. Só
vamos ter que nos equipar melhor para ficar ao seu lado – disse Mila,
puxando da capa um lenço que amarrou em volta do rosto.
Enquanto isso, Tom colocava um prendedor de roupas no nariz. A
verdade, porém, é que o cheiro que contaminava o ambiente era tão forte que
meus parceiros quase me abandonaram. Tom e Mila já estavam voltando
para o clubinho quando vi um desconhecido entrar no prédio. Quase
sussurrando, chamei meus amigos de volta, pelo walkie-talkie:
– Um suspeito se aproxima! Voltem! É urgente!
– Tudo bem! Mas tente segurar esses puns supersônicos, Capim, por
favor! Senão você mata a gente – pediu Tom, pelo rádio.
Prometi tentar me segurar e nos escondemos atrás das plantas. Com
nossos binóculos, vimos bem quando aquele homem estranho entrou com
sua mala e ajeitou o cabelo com um pente, diante do espelho. Depois,
caminhou até a casa da síndica, tocou a campainha, e dona Leocádia abriu a
porta toda cheia de sorrisos:
– Jerônimo! Você voltou? Que surpresa!
Quando a porta se fechou, nós nos entreolhamos, intrigados:
– Será que esse aí é o novo namorado da bruxa? – questionou Mila.
– Para namorar a bruxa, só mesmo alguém com muito estômago!
– Tem razão, Tom. E beijar essa maluca deve ser pior do que tomar
sopa de repolho! – falei, rindo.
O momento, porém, não era de brincadeiras. Por isso, corremos para
junto da janela de dona Leocádia, de onde vimos o tal Jerônimo apoiar a
mala sobre o sofá e pegar a mão da síndica, exagerando nos elogios:
– Leocádia, você está cada dia mais perfumada, mais bonita, mais
estonteante…
– Imagine, Jerônimo. Gentileza sua. Mas… eu não esperava sua visita
hoje de novo. Nossa aula de dança foi de manhã e você já voltou de tarde?
– Vim para uma aula extra, querida. Não consigo mais ficar longe de
você!
Empolgado, Jerônimo ligou a música e puxou dona Leocádia para
dançar. Ao ver aquilo, Tom e eu tivemos que segurar o riso. Que figuras! Os
dois dançavam de um jeito muito engraçado, com pernas que se enroscavam
e mãos que subiam e desciam desajeitadamente. Foi a detetive Mila que
notou um detalhe importantíssimo:
– Vocês viram o tamanho do pé dele?
– É enorme! – reparei.
– Enormissíssimo! – concordou Tom.
Aquilo era muito suspeito, mas, dessa vez, não queríamos acusar
ninguém sem provas. E como ainda faltavam pistas mais conclusivas, o jeito
era esperar e esperar, sem parar de espionar. Nesse dia, descobri que um bom
detetive precisa ter paciência. Muita paciência!

Quando aquela dança finalmente terminou, dona Leocádia resolveu oferecer


uma limonada ao parceiro. Com o periscópio inventado por Tom,
conseguimos acompanhar tudo sem sermos vistos.
– Que bom que você voltou para essa aula extra, Jejê! Sabe, quando vi
o seu curso de dança particular pela internet, eu não podia imaginar que
nossas aulas seriam tão… quentes!
– Tão quentes que vou precisar de mais gelo na limonada. Um balde de
gelo, por favor!
Ao escutarmos aquilo, Tom, Mila e eu nos abaixamos para trocar
algumas ideias:
– Chegou a hora de anotarmos as pistas que já temos, parceiros –
sugeriu Tom.
Então, Mila puxou o caderno de notas e começou a escrever:

– As evidências são muito claras, detetives: além de terem se conhecido


pela internet, dona Leocádia não tinha nenhuma aula extra marcada para
hoje – comentou Mila.
– Essa dona Leocádia é muito ingênua! Mal conhece o sujeito e já
chama o maluco para dentro de casa! Que perigo! – exclamou Tom.
– Mas ele é professor de dança, galera. Tem uma página na internet
sobre o curso e tudo – eu falei, sem querer tirar conclusões precipitadas.
– Concordo, Capim. Mas que professor de dança é esse que pinga gotas
azuis no copo da aluna? – questionou Tom, com o periscópio nas mãos.
Na mesma hora, peguei o periscópio para conferir, e nossas suspeitas se
confirmaram: era evidente que Jerônimo tentava aplicar algum golpe em
dona Leocádia. Ficamos paralisados, sem saber como agir. Uma coisa,
porém, era certa: nossa maior inimiga estava correndo perigo! Afinal,
aquelas gotas azuis não tinham cara de adoçante nem coisa parecida. Seriam
veneno?
– E agora? Que fazemos? Sabemos que a síndica é insuportável, mas
não merece morrer.
– Tem razão, Capim. Precisamos entrar em ação – disse Tom.
Já estávamos nos preparando para pular a janela e salvar dona Leocádia
quando vimos nossa inimiga favorita beber o suco e… tarde demais!
Segundos depois, a síndica caía apagada no chão da sala.

Por mais que dona Leocádia sempre implicasse com a gente, por mais que
sempre confiscasse nossos brinquedos, ela não merecia morrer nas mãos
daquele bandido. E, enquanto ela continuava caída no chão, o professor de
dança abria todas as portas e gavetas dos armários, onde achou caixas pretas
que pareciam conter joias preciosas. Rapidamente, ele guardou as caixas em
sua mala e já parecia pronto para sair.
Não podíamos deixar que o gatuno escapasse, e traçamos rapidamente
um plano de emergência: aproveitando que ele estava de costas, Tom e Mila
entrariam pela janela. Enquanto eu ficaria sentado ali no parapeito,
distraindo o larápio.
– Talvez, com a minha arma secreta, eu possa deixar o homem tonto!
– E posso saber que arma secreta é essa, detetive Capim?
– Coloque o seu lenço no rosto e me observe, detetive Mila!
Num pulo, Tom e Mila entraram na sala. Ao ouvir o barulho, Jerônimo
se virou e me viu na janela. Assim que ele veio na minha direção, eu me
posicionei e soltei o maior torpedo de toda a minha vida. Dessa vez, meu
pum supersônico teve grande utilidade e deixou o bandido totalmente
paralisado. Aproveitando a distração dele, Mila e Tom sacaram cordas de
suas capas e enrolaram o meliante com tantos nós que ele não pôde mais se
mover.
– Me soltem! Me larguem!
– Acorde a dona Leocádia, Capim, rápido! – pediu Tom.
– Espero que não seja tarde demais – temeu Mila.
Sem pensar duas vezes, peguei a jarra de suco e joguei o líquido gelado
no rosto da síndica. Dona Leocádia despertou assustada, ainda sem entender
o que estava acontecendo:
– Mas que confusão é essa na minha casa?
– Fique tranquila. Nós já prendemos o assaltante! – falou Tom, dando
mais um nó na corda que prendia Jerônimo.
– O que vocês fizeram, seus malucos? Coitadinho do Jejê…
Leocádia já queria soltar o bandido, mas Mila impediu a síndica,
falando com firmeza:
– Alto lá, dona Leocádia. De coitadinho esse homem não tem nada!
– Não tem mesmo! Olhe como a mala dele está recheada! – falei, já
puxando as caixinhas pretas dali de dentro.
– Devolva isso! – gritou o ladrão.
– O colar de ametista que foi da minha avó?! Jejê, por que você fez
isso? Alguém pode me explicar o que está acontecendo?

– Elementar, minha cara Leocádia. Você conheceu este homem pela


internet. Ele fingiu ser professor de dança, mas nós nunca vimos alguém
dançar tão mal – começou Tom.
– Depois, ele fingiu se chamar Jerônimo, mas olhem a verdadeira
identidade dele aqui no bolso da calça. Ele se chama Ariosvaldo! –
continuou Mila.
– Ariosvaldo? Não é possível! – exclamou dona Leocádia, chocada.
– E desconfiamos que foi ele quem roubou a câmera hoje cedo para
entrar na sua casa sem ser filmado – deduzi.
– Vocês estão inventando isso! Só pode! – choramingou dona Leocádia,
arrasada.
Foi então que partimos para a prova final: medimos o pé do bandido
e… ele calçava 44! O mesmo tamanho da pegada deixada na portaria. E
mais: o sapato dele estava todo sujo de lama. Por fim, Tom virou a mala do
homem de cabeça para baixo e, entre outras coisas, lá estava a câmera
roubada.
Atento à confusão, meu pai não perdeu tempo e entrou na casa da
síndica com um policial, que logo reconheceu o bandido enganador. Assim,
o espertinho foi levado para a delegacia e nosso prédio voltou à paz de
sempre. Se bem que sabíamos que aquela paz seria apenas momentânea…

– Bom serviço, Severino. Dessa vez, você me salvou – agradeceu dona


Leocádia, num raro momento de gentileza.
Só nos equivocamos em uma coisa: acreditamos que dona Leocádia
ficaria tão grata por nossos serviços que nos devolveria o robô. Que engano!
– Por favor, dona Leocádia! Devolva o RPA! – insistiu Tom.
– Nunca! Isso aqui ainda vai me ser muito útil. Aposto! Agora saiam da
minha casa! Pestes, pulgas, pirralhos!
Voltamos para o nosso clubinho, arrasados. Afinal, apesar de termos
desvendado aquele mistério todo e salvado a síndica das garras do bandido,
continuávamos sem o nosso robô. Não era justo. Não mesmo!
– O que será que ela vai fazer com o RPA, galera?
– Boa coisa não é, Mila. Aposto – Tom respondeu.
– Melhor a gente ir lá espionar. Topam? – sugeri.
Nem precisei insistir. Logo saímos pela porta do clubinho e corremos
para olhar o que acontecia na cozinha de dona Leocádia. Que tragédia! Mal
podíamos acreditar no que víamos: nosso robô acabava de ser jogado numa
enorme panela de ferro que mais parecia o caldeirão de uma bruxa!
– Já era! Adeus, RPA! – lamentou Tom, tapando os olhos.
– Olhem! Que líquido verde é aquele que a dona Leocádia vai jogar no
caldeirão? – indaguei, intrigado.
– Vai ver é para dissolver metais – palpitou Tom, já temendo o pior.
– É o ingrediente secreto. O item mais suspeito que existe na cozinha
dessa… bruxa! – falou Mila.
O líquido verde devia ser mesmo coisa muito secreta. Ficava num
frasco com desenho de caveira, e, assim que a síndica o entornou sobre
nosso robô, ouvimos uma explosão. A cozinha foi tomada por uma fumaça
preta, e, pouco depois, vimos que o robô tinha crescido e andava de um lado
para o outro! Surreal! Como dona Leocádia tinha feito aquilo? Quais seriam
os componentes daquele ingrediente secreto? Muitas dúvidas pairavam no ar.
Será que dona Leocádia sabia fazer poções mágicas? Quem era aquela
mulher, afinal? Seria uma espécie de bruxa? Não podíamos ficar sem
resposta. Precisávamos investigar mais de perto aquela síndica misteriosa,
mesmo que nossa tarefa fosse arriscada. Arriscadissíssima!
Acontece que Tom, Mila e eu não tememos bruxas nem bandidos.
Perigos não nos paralisam! Ameaças não nos amedrontam! Afinal, nós
somos

OS INCRÍVEIS, OS IMBATÍVEIS,
OS… INSEPARÁVEIS
DETETIVES DO
PRÉDIO AZUL!
fim
SOBRE A AUTORA

Flávia Lins e Silva cresceu lendo os livros de suspense de Agatha Christie,


Arthur Conan Doyle e a série A inspetora, escrita por Ganymédes José.
Formada em jornalismo pela PUC-Rio, adoraria ter feito reportagens
investigativas, mas acabou mudando de rumo, tornando-se roteirista de
televisão. Trabalhou durante dezesseis anos como autora na TV Globo, onde
escreveu os programas Caça talentos e Sítio do Pica-pau Amarelo, além de
algumas novelas. Em 2012, criou para o canal Gloob a série Detetives do
Prédio Azul. Com mestrado em Literatura para Crianças e Jovens pela
Universitat Autònoma de Barcelona (UAB), na Espanha, é também autora da
personagem Pilar, que viaja pelo mundo com seu amigo Breno e o gato
Samba. Tem mais de dez livros publicados, entre eles Diário de Pilar na
Grécia, Diário de Pilar na Amazônia e Nas folhas do chá, editados pela
Zahar.

www.flavialinsesilva.com
Copyright © 2013, Flávia Martins Lins e Silva
Copyright desta edição © 2013:
Jorge Zahar Editor Ltda.
rua Marquês de S. Vicente 99 – 1º
22451-041 Rio de Janeiro, RJ
tel (21) 2529-4750 | fax (21) 2529-4787
editora@zahar.com.br | www.zahar.com.br
Todos os direitos reservados.
A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação de direitos
autorais. (Lei 9.610/98)
Grafia atualizada respeitando o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
Capa: Rafael Nobre | Babilonia Cultura Editorial
Produção do arquivo ePub: Simplíssimo Livros
Edição digital: novembro 2013
ISBN: 978-85-66642-01-8
Os detetives do prédio azul
Lins e Silva, Flávia
9788566642339
128 páginas

Compre agora e leia

Mais aventura e muito mais mistério com os inseparáveis detetives do Prédio


Azul.

Escrito a partir do sucesso da série homônima exibida no canal infantil


Gloob, esse é o segundo livro da série que traz as divertidas aventuras de
Capim, Mila e Tom, amigos que brincam de detetive e desvendam todos os
mistérios que surgem no prédio em que moram. A maior inimiga da turma é
a síndica dona Leocádia, que odeia crianças e gosta de dar ordens em todo
mundo.
Nessa aventura, narrada pela detetive Mila, uma missão mais do que
enigmática, cheia de magia, com plantas que falam e um livro de bruxaria!

"Coisas pra lá de estranhas acontecem no Prédio Azul... Além de a minha


bateria ter sumido, encontrei uma misteriosa mala escondida atrás da cama
do meu pai. Dentro dela, quatro objetos mais do que enigmáticos: uma capa
preta, o diário de uma certa Anete L., um frasco com um líquido cor-de-rosa
e um livro de... bruxaria! Por que meu pai guardaria tudo aquilo? Eu não
tinha a menor ideia! E o que dona Leocádia, a síndica - e nossa suspeita
preferida -, teria a ver com isso? É o que eu, Tom e Capim, meus melhores
amigos, vamos tentar descobrir nessa missão que pode mudar a minha vida!
Abra o livro e embarque com a gente nessa aventura cheia de magia! Ass:
Detetive Mila."

Compre agora e leia


Grimble
Freud, Clement
9788566642292
136 páginas

Compre agora e leia

"Não é todo menino que volta da escola para uma casa vazia de gente e cheia
de bilhetinhos dos pais, por exemplo um escrito em caneta verde num
biscoito, dizendo "Não coma esse biscoito porque comer tinta verde não faz
bem para você".
Mas Grimble se vira. Ele consegue até garantir um jantar de Natal, apesar de
seus pais meio birutas terem esquecido que era Natal...
Grimble é um menino muito divertido - e esse livro também!!

"Grimble é um dos livros mais engraçados que eu já li, e o próprio Grimble é


um personagem sensacional."
J.K. Rowling

"Quando eu era criança, eu amava as ilustrações de Quentin Blake,


especialmente as de Grimble."
Lauren Child

"No porão encontrei meu exemplar, maltratadinho mas adorado, de Grimble,


a maravilhosa história de Clement Freud, um livro que eu não lia desde os
treze anos, talvez. E é um desses livros tão bons quanto você lembra de eles
serem, desde a primeira página."
Neil Gaiman"

Compre agora e leia


Table of Contents
Dedicatória
Sumário
1. O caso do anel de brilhante
2. O cão suspeito
3. O sumiço do celular
4. O robô do prédio azul
Sobre a Autora
Copyright

Você também pode gostar