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Elementos estruturais e funcionais do Sistema Nervoso humano

 Sistema nervoso
O sistema nervoso é constituído por um conjunto de estruturas que, integradas, são
responsáveis pelos nossos comportamentos: desde os mais simples (os reflexos) aos mais
complexos, como o pensamento lógico, a memória, a imaginação e a linguagem.

Constituído por um conjunto de órgãos inter-relacionados, o sistema nervoso tem como


função geral a coordenação dos processos que garantem o equilíbrio interno do organismo e
o equilíbrio do ser humano no exterior. Por exemplo, no(a):
1. Condução das informações provenientes dos órgãos sensoriais até aos centros
nervosos;
2. Processamento dessas informações, descodificando-as;
3. Decisão dos comportamentos que melhor se ajustam às informações;
4. Envio das ordens de execução desses comportamentos aos órgãos apropriados;
5. Circulação dessas ordens pelas vias que selecionou como sendo adequadas.
O sistema nervoso é constituído por dois subsistemas: o sistema nervoso central (SNC) e o
sistema nervoso periférico (SNP):
Sistema Nervoso Central: desempenha essencialmente as tarefas associadas ao
processamento e coordenação das informações. É constituído pela espinal medula e pelo
encéfalo.
Sistema Nervoso Periférico: desempenha funções ligadas à condução e circulação das
informações. É constituído por nervos sensoriais, motores e mistos.

 Neurónio
O sistema nervoso é constituído por células nervosas, unidades básicas, designadas por
neurónios, que são formados pelo corpo celular (onde se encontra o núcleo), por uma série de
prolongamentos – dendrites, e pelo axónio com as suas terminações. O axónio, e certas
dendrites de um neurónio, constituem uma fibra nervosa. Ao conjunto de fibras nervosas
envolvidas por uma membrana dá-se o nome de nervos.
Os neurónios apresentam duas propriedades:
Excitabilidade: que lhes permite reagir a estímulos e produzir uma pequena corrente a
transmitir a outro neurónio.
Condutibilidade: que lhes permite transmitir as excitações a outras células nervosas.

 Sinapse
Uma das funções dos neurónios é a transmissão de impulsos nervosos
que, no seu conjunto, constituem o influxo nervoso. No nosso cérebro,
milhões de neurónios, organizados em redes, trocam informações sob a forma de descargas
elétricas e químicas.

Influxo nervoso: energia ou impulsos elétricos que circulam nos neurónios

Não existe contacto físico entre as dendrites dum neurónio e as terminações do outro, mas
sim uma ligação funcional – sinapse. Nas extremidades do axónio existem pequenas vesículas
com substâncias químicas, os neurotransmissores ou mensageiros químicos.
Sinapse: ligação entre neurónios para passagem do influxo nervoso.
Neurotransmissores: substâncias químicas que preenchem a fenda sináptica (espaço entre os
neurónios) e possibilitam a comunicação entre os neurónios, de modo a transitar a informação.
Existem mais de 100 neurotransmissores, como a dopamina, serotonina, acetilcolina, etc,etc.

 Comunicação nervosa
Os nervos são vias de circulação de mensagens entre o SNC, os órgãos, glândulas e músculos.
Nervos sensoriais: transportam a informação dos órgãos sensoriais até à espinal medula e ao
cérebro, para aí serem processadas.
Nervos motores: transportam as informações do cérebro e espinal medula para os músculos e
os órgãos.
Nervos mistos: transportam a informação dos músculos para os órgãos centrais (cérebro e
espinal-medula) e vice-versa.
• O SNCentral integra o encéfalo (localizado
no crânio) e a medula espinal (localizada na
coluna vertebral);
• O SNPeriférico inclui o Sistema Nervoso
Somático (SNS) e o Sistema Nervoso
Autónomo (SNA).

O SNSomático é a parte do SNPeriférico que


interage com o meio externo. É composto
por nervos sensitivos e motores. O SNAutónomo participa na regulação do meio interno. Ele é
composto, tal como o SNSomático, por nervos sensoriais e motores.

• A espinal medula encontra-se alojada no interior da


coluna vertebral e é formada por uma substância branca
por fora e cinzenta por dentro. É um prolongamento do
cérebro com 2 funções fundamentais: coordenação e
condução:

Coordenação: a medula é responsável pela coordenação


de comportamentos reflexos. O reflexo é a forma de
comportamento mais natural, onde, para um
determinado estímulo, há sempre aquela resposta
imediata, espontânea e involuntária, como tirar a mão subitamente de uma fonte de intenso
calor.

Condução: baseia-se na transmissão de mensagens do cérebro para o resto do corpo e vice-


versa. As sensações recebidas pelos órgãos sensoriais são levadas à medula pelos nervos
sensoriais e a medula encaminha-os para o cérebro de modo a serem processados. Ao
contrário, os nervos motores encaminham as mensagens cerebrais para os músculos e órgãos
internos.

 O Sistema Nervoso Central e Periférico

 O Sistema Nervoso Periférico


 O SN Autónomo Simpático e Parassimpático
Sistema Nervoso
Simpático: atua em
situações de stresse,
tensão, medo, esforço
físico.

Sistema Nervoso
Parassimpático: É o
responsável por estimular
ações que permitem ao
organismo responder a
situações de calma,
relaxamento, reposição do
“estado normal” do
organismo.

 O comportamento mais simples do sistema nervoso: o reflexo

 O sistema nervoso central: o encéfalo


Mas as características que nos tornam humanos e nos distinguem das restantes espécies estão
dependentes de uma estrutura complementar à espinal medula: o encéfalo.

Por razões de simplicidade podemos dividir o encéfalo em 3 unidades específicas, ou seja, em


3 cérebros distintos:
• o cérebro primitivo, relacionado com a auto preservação e sobrevivência;
• o cérebro intermédio, relacionado com as emoções e a formação de novas memórias;
• o cérebro superior ou racional, relacionado com as tarefas intelectuais.

O cérebro primitivo seria constituído pelas estruturas do tronco


cerebral e do cerebelo e corresponderia ao cérebro dos répteis. É
constituído por várias estruturas anatómicas com funções essenciais:
possui, por exemplo, o cerebelo (comanda a postura e movimentos
equilibrados), e o bolbo raquidiano (área que regula, por exemplo, o
ritmo cardíaco e respiratório, bem como a tosse ou vómito).

O cérebro intermédio seria constituído pelas estruturas seguintes:


amígdala, hipocampo, tálamo e hipotálamo e, em muitos aspetos,
corresponderia ao cérebro dos mamíferos inferiores:
Tálamo: estrutura que filtra as informações relevantes para o cérebro.
Hipotálamo: pequena estrutura que regula a secreção de hormonas vitais; ciclos de sono,
fome, sede, prazer.
Amígdala e hipocampo: grupo funcional com influência nas emoções, na memória e na
aprendizagem.

O cérebro superior (ou racional) é constituído pela maior parte dos hemisférios cerebrais e
corresponde ao cérebro dos mamíferos superiores. Está dividido em dois hemisférios: o
esquerdo e o direito, ligados pelo corpo caloso.
Os hemisférios cerebrais estão cobertos em alguns milímetros por uma camada cinzenta, com
aspeto muito enrugado, a que chamamos córtex cerebral, onde estão localizadas as funções
mais evoluídas dos seres humanos.

Cada hemisfério tem quatro áreas ou lobos: o lobo frontal, o lobo parietal, o lobo temporal e
o lobo occipital.
Os hemisférios controlam a parte oposta do corpo, ou seja, o hemisfério direito controla a
parte esquerda do corpo e vice-versa.
Uma das características cerebrais que nos distinguem dos restantes animais é o facto dos dois
hemisférios terem funções diferentes. Ambos se especializaram em funções distintas.
Por exemplo, o hemisfério direito: controla a formação de imagens, as relações espaciais, a
perceção das formas e cores. Já o hemisfério esquerdo controla o pensamento lógico, a
linguagem verbal, o discurso, o cálculo e o raciocínio abstrato.
No entanto, os dois hemisférios funcionam integradamente.

 O cérebro superior
No cérebro superior destaca-se pelo seu papel fundamental nos processos cognitivos (do
pensamento), a área designada por córtex cerebral.
O córtex cerebral é uma estrutura que
acolhe funções distintas em diversas
áreas, complementares e coordenadas
entre si.

As principais áreas do córtex cerebral


estão relacionadas com 4 funções: a
função motora, a função
somatossensorial, a função auditiva e a
função visual. Cada uma destas áreas
divide-se ainda em áreas primárias e áreas
secundárias.

Existem ainda as áreas de integração e coordenação (localizadas na região pré-frontal), onde


se estabelecem relações com as áreas primárias e secundárias, unificando a atividade cerebral.

 A especialização das áreas do córtex cerebral


É possível estabelecer relações gerais entre os quatro lobos do cérebro (áreas) e o córtex
cerebral (funções).

1. Lobo frontal: o lobo frontal está implicado nas funções conscientes e


nas decisões que tomamos continuamente no nosso dia a dia. Por
isso, nele se situam as funções mais complexas: pensamento lógico e
abstrato, pensamento sócio-moral, criatividade, controlo superior
das emoções básicas e controlo superior das cadeias complexas de movimentos das
mãos e corpo.

No lobo frontal existem o córtex motor e o córtex pré-frontal, como áreas principais, mas
também a área de Broca (centro de produção da linguagem).

O córtex motor tem especial importância na nossa espécie, considerando que o bipedismo e
as mãos livres permitem o desenvolvimento de capacidades cerebrais novas na área motora.
Por exemplo, a função da área secundária do córtex motor é a de organizar e ajustar
na sequência apropriada os movimentos que realizamos. Cada ato é uma sequência
de pequenos atos que devem ser ligados na sequência necessária. Veja-se o caso do ato de
“vestir”: o ato de vestir implica não só ser capaz de calçar meias, os sapatos, e outras peças de
vestuário, mas também conseguir coordenar por ordem tais movimentos. Tal é válido para
outros comportamentos motores complexos, como cantar e dançar em simultâneo, executar
uma melodia num instrumento enquanto se canta, ou operações manuais técnicas difíceis.

O córtex pré-frontal: É hoje possível afirmar que é nas zonas do córtex pré-frontal que estão
as funções intelectuais superiores, nomeadamente o pensamento abstrato e moral, a atenção
e a imaginação, e as capacidades de invenção, previsão, planificação e tomada de decisão. No
fundo, é o centro da personalidade da pessoa.

As lesões nesta zona cortical podem ter diferentes consequências:


• perda de movimentos simples em várias partes do corpo (paralisia cortical no córtex motor);
• incapacidade para planear sequências de movimentos complexos (apraxia no córtex motor);
• alterações na capacidade de expressar a linguagem (afasia de Broca);
• perda de flexibilidade de pensamento e da capacidade de resolução de problemas.

Outros problemas que se podem manifestar traduzem-se na persistência de pensamentos


obsessivos, depressão, incapacidade em manter a atenção numa tarefa e na instabilidade de
humor, diversos transtornos psicoafetivos. Como as áreas pré-frontais são o centro da
personalidade, uma lesão nestas áreas pode provocar outras e graves alterações no
comportamento.

2. Lobo parietal – Córtex somatossensorial: as funções do lobo


parietal abrangem o reconhecimento de sensações internas e a perceção
do tacto.

-Área Primária: A área primária do córtex somatossensorial


tem como função receber as sensações do corpo (térmicas, dor,
tácteis) e mensagens relativas à consciência da localização das diversas partes do corpo.
Uma lesão na área primária do córtex somatossensorial provoca a anestesia cortical, que é
a incapacidade de na área correspondente do corpo sentir os estímulos (perda da sensibilidade
ou à dor ou ao frio e ao calor e também a estímulos tácteis).

-Área Secundária: A função da área secundária do córtex somatossensorial é a


de localizar as sensações no corpo e distinguir as sensações quanto à qualidade e intensidade.
Uma lesão na área secundária do córtex somatossensorial provoca a agnosia somatossensorial.
Não se fica incapaz de receber estímulos (não se perde a sensibilidade) mas sim de os
localizar corretamente no corpo e de distingui-los quanto à qualidade e intensidade.

3. Lobo temporal – Córtex auditivo: capacidade auditiva, em geral.

-Área Primária: A função da área primária do córtex auditivo é


a de receber as informações e impressões auditivas. Uma lesão nesta
área produz surdez cortical, isto é, a incapacidade de ouvir som.

-Área Secundária: Analisar, identificar e interpretar os dados


auditivos (por exemplo, distinguir a palavra falada da
palavra cantada).

Junto da área secundária do córtex auditivo situa-se a área de Wernicke, a área auditiva
da linguagem, cuja função é compreender e dar sentido às palavras pronunciadas por outras
pessoas.
Uma lesão na área secundária do córtex auditivo provoca agnosia auditiva, isto é, incapacidade
de reconhecer e identificar os sons que ouvimos. Uma lesão na área de Wernicke provoca
afasia de Wernicke: não impede que a pessoa fale (mas o discurso não tem sentido) e,
sobretudo, torna muito difícil compreender o que nos dizem.
Em resumo, as lesões do lobo temporal podem manifestar-se em:
• incapacidade de ouvir sons elementares (surdez cortical);
• incapacidade no reconhecimento de sons específicos (agnosia auditiva);
• dificuldades na compreensão do discurso oral (afasia de Wernicke).

4. Lobo occipital – Córtex visual: capacidade visual, em geral.

-Área Primária: A área sensorial tem como função receber as


informações captadas pelos olhos.
Se esta área for lesionada, perde-se a capacidade de ver – cegueira
cortical.

-Área Secundária: Tem a função de coordenar os estímulos visuais e de reconhecer o


que se vê. Esta é a função global. Tem além disso uma função particular: o reconhecimento
da palavra escrita.
A lesão da área secundária provoca a agnosia visual. É a impossibilidade, não de ver, mas de
reconhecer e de identificar o que é visto.

 Relação entre desenvolvimento cerebral, meio ambiente e comportamento

Segundo a teoria do neurologista português António Damásio o cérebro não funciona


como um todo indiferenciado, mas havendo zonas que dão um contributo mais específico para
o comportamento – ESPECIALIZAÇÃO (zonas onde há especialização de funções); mas, ao
mesmo tempo, em funções mais complexas, como a linguagem, a memória, a aprendizagem,
estão envolvidas em simultâneo várias áreas do cérebro – INTEGRAÇÃO (o funcionamento do
cérebro exige diferentes áreas).

Ao longo do crescimento de uma criança, e em especial nos primeiros anos de vida, observam-
se modificações extraordinárias do córtex, com a construção de ramificações e novo contactos
entre neurónios. Como o ser humano é o ser com a infância mais longa, demorando largos
anos a ultrapassar a sua imaturidade e dependência dos outros, isso permite uma
aprendizagem também muito longa e contínua, de modo que o seu cérebro se torna cada vez
mais complexo.
Da relação entre o desenvolvimento cerebral e as experiências do indivíduo surge o conceito
de PLASTICIDADE CEREBRAL. O cérebro é um órgão maleável que se modifica consoante as
experiências, as perceções, as ações e os comportamentos de cada indivíduo. O meio
ambiente desempenha um papel fundamental na plasticidade cerebral, o que significa que
juntamente com os fatores genéticos, o cérebro é moldado pelas características do meio
envolvente e pelas características das ações dos indivíduos nos processos de aprendizagem.

Plasticidade cerebral: Conjunto de alterações estáveis na estrutura do cérebro que


acompanham a experiência do indivíduo ao longo da vida e que permitem ao cérebro níveis
elevados de adaptação.

Como neste exemplo, o cérebro do rato,


quando está ocupado numa nova
aprendizagem ou numa nova experiência,
estabelece uma série de novas ligações entre
neurónios. Estes novos circuitos entre
neurónios criam-se através da aprendizagem
e da prática.
Cada vez que se adquirem novos
conhecimentos (através da prática repetida), a comunicação entre os neurónios implicados vê-
se reforçada, como se observa na constituição de cada neurónio, na imagem.

Uma melhor comunicação entre os neurónios significa que os sinais elétricos viajam de
maneira mais eficiente ao longo do novo caminho. Por exemplo, quando se tenta reconhecer
um novo pássaro, realizam-se novas ligações entre alguns neurónios. Assim, os neurónios do
córtex visual determinam a sua cor ou forma, os do córtex auditivo registam e identificam o
seu canto, e outros neurónios de outras áreas do córtex, o nome do pássaro, etc, etc. Para
conhecer o pássaro e as suas características, a cor, o canto e o seu nome são repetidamente
lembrados. A comunicação entre os neurónios correspondentes melhora, a cognição
(conhecimento) faz-se cada vez mais rápida. A plasticidade cerebral é esta capacidade de
aprender e adaptar-se continuamente ao longo da vida.

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