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ANATOMIA

APLICADA À
ENFERMAGEM

Márcio Haubert
Aspectos
anatomofuncionais
do sistema nervoso
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar os componentes anatômicos e as funções do sistema ner-


voso central e periférico.
„„ Definir os componentes anatômicos e as funções do sistema nervoso
autônomo.
„„ Relacionar os aspectos morfofuncionais do sistema central, periférico
e autônomo com aspectos clínicos.

Introdução
O sistema nervoso é considerado o mais complexo sistema do corpo
humano. Ele, merecidamente, recebe esse título pelo fato de ter a capa-
cidade e a versatilidade de transmitir um rápido fluxo de informações em
alta velocidade de processamento. Todas essas atividades são chamadas
de sinapses nervosas e ocorrem por meio de atividades elétricas que
perpassam os neurônios, células funcionais desse sistema.
O sistema nervoso é composto pelo sistema nervoso central (SNC) e
pelo sistema nervoso periférico (SNP). O SNP recebe outras subdivisões
que serão apresentadas ao decorrer do conteúdo.
Neste capítulo, você conhecerá as estruturas anatômicas e fisioló-
gicas do sistema nervoso central e periférico, identificando as mesmas
características do sistema nervoso autônomo e relacionando o conteúdo
anatômico estudado com os aspectos clínicos relevantes para a prática
da enfermagem.
2 Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso

Sistema nervoso
O sistema nervoso é o mais complexo e importante sistema orgânico que existe
nos seres humanos. Sua função é receber informações sobre variações internas
e externas e, com isso, produzir respostas a essas variações, o que garante ao
corpo humano a homeostase, proporcionando e favorecendo o bom funciona-
mento sistêmico. Também tem como função o ajustamento do organismo ao
ambiente por meio da identificação das condições ambientais externas, bem
como das condições existentes dentro do próprio corpo, elaborando respostas
que o adaptem a essas condições.
Fica incumbido ao sistema nervoso, além das funções de mobilidade e
sensibilidade, as funções superiores do organismo, como processamento e
armazenamento da memória, capacidade de aprendizado, funções intelectuais,
processos de pensamento e características de personalidade.
Toda a atividade do sistema nervoso depende das células nervosas, conhe-
cidas como neurônios. O neurônio é a menor unidade funcional do sistema
nervoso. A transmissão dos impulsos nervosos possibilita a troca de informa-
ções e ocorre por meio das sinapses. As sinapses correspondem às ligações
que um neurônio tem com outro, transmitindo, assim, os impulsos nervosos
(Figura 1). As sinapses podem ocorrer entre os neurônios (sinapses neuronais),
entre neurônios e músculos (junções neuromusculares) e entre neurônios e
glândulas (sinapses neuroglandulares), como mostra a Figura 2.
Os axônios de maior diâmetro possuem uma bainha que envolve os tratos
nervosos do sistema nervoso central e periférico. Conhecida com bainha de
mielina, ela tem por função proteger o axônio e promover a aceleração da
velocidade de condução do estímulo elétrico.
Figura 1. Anatomia de um neurônio.
Fonte: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 349).
Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso
3
4 Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso

Figura 2. Tipos de sinapses.


Fonte: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 349).

A organização do sistema nervoso ocorre da seguinte maneira:

Cérebro
Sistema nervoso central (SNC) Encéfalo Cerebelo Mesencéfalo
Tronco encefálico Ponte
Bulbo
Medula espinal

Simpático
Autônomo Parassimpático
Sistema nervoso periférico (SNP)
Somático Nervos cranianos (12 pares)
Nerbos espinais (31 pares)
Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso 5

Sistema nervoso central


Os órgãos do SNC estão localizados dentro do esqueleto axial, e são protegidos
pela caixa craniana e pelo canal vertebral. O SNC é composto pelos seguintes
órgãos e estruturas:

Encéfalo — Em adultos, tem peso aproximado de 1,4 kg, dividido em três


partes: cérebro, cerebelo e tronco encefálico (Figura 3). A seguir, conheça
cada uma dessas estruturas:

„„ Cérebro: constitui 90% da massa encefálica, apresentando uma su-


perfície bastante pregueada que possibilita um aumento considerável
da superfície cerebral.

As principais funções do cérebro são: controle das sensações, execução de


atos conscientes e voluntários (movimentos), pensamentos, memória, inteli-
gência, aprendizagem, recebimento e interpretação dos sentidos e manutenção
do equilíbrio. Apresenta um córtex, camada externa que abriga a substância
cinzenta contendo os corpos neuronais. Em sua região interna, abriga a subs-
tância branca que contém dendritos e axônios de neurônios.
O cérebro é dividido em dois hemisférios cerebrais, o direito e o es-
querdo. Eles estão conectados por um feixe de filamento nervoso conhecido
como corpo caloso, que permite a comunicação entre os dois hemisférios,
transmitindo diferentes informações como, por exemplo, a memória e o
aprendizado. O cérebro humano é dividido, ainda, em: lobo frontal, lobo
temporal, lobo parietal, lobo occipital e lobo da ínsula, conforme veremos
a seguir:

■■ Lobo frontal: controla o sentimento de afeto, a personalidade, o


raciocínio e a inibição de impulsos comportamentais. Ele também
responde pela função motora e pela associação da fala por meio da
área de Broca. Estende-se do polo anterior do cérebro até o sulco
central. É composto por três superfícies:
–– Superfície superolateral: apresenta três sulcos (sulco pré-central,
frontal superior, frontal inferior) que delimitam os giros pré-
-central, frontal superior, frontal médio e frontal inferior;
–– Superfície medial: estende-se até o sulco cingulado e, posterior-
mente, por uma linha imaginária que o liga ao topo do sulco
central. Na parte inferior, é contínuo com a parte orbital do lobo
6 Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso

frontal, que tem essa designação por estar localizada sobre a


órbita. A zona demarcada pelo sulco do cíngulo superiormente à
circunvolução cingulada é, com exceção da extremidade posterior,
parte do lobo frontal.
–– Superfície inferior: contendo a parte inferior orbital e abrigando
o giro orbital, o bulbo olfativo e o giro reto.
■■ Lobo parietal: lobo puramente sensitivo que realiza a interpretação
das sensações. Atua também na consciência corporal, no espaço e
na recepção sensorial, principalmente, em sensações de dor, tato,
gustação, temperatura e pressão. Possui uma superfície superolateral
dividida pelos sulcos pós-central e intraparietal, contendo três prin-
cipais áreas: giro pós-central, lobo parietal superior e lobo parietal
inferior. Apresenta uma superfície medial delimitada pelos sulcos
subparietal e calcarino e pelo sulco parietoccipital.
■■ Lobo temporal: abriga os sentidos do paladar, olfato e audição,
além de armazenar as memórias de curto prazo. Esse lobo apre-
senta uma superfície superolateral que abriga o sulco temporal
superior e o sulco temporal inferior. Contém em sua superfície o
giro temporal superior, o giro temporal médio e o giro temporal
inferior.
■■ Lobo occipital: responsável pela visão e pela interpretação das sen-
sações visuais. O lobo occipital é rodeado anteriormente pelo lobo
parietal e pelo lobo temporal em ambas as superfícies lateral e medial
do hemisfério. Localiza-se posteriormente a uma linha imaginária
que une a incisura pré-occipital ao sulco parietoccipital, repousando
sobre a tenda do cerebelo.
■■ Lobo da ínsula: lobo profundo que fica ao fundo do sulco lateral,
no encéfalo. Apresenta forma triangular com vértice inferoanterior,
estando separado dos lobos vizinhos por sulcos pré-insulares. É
portador de cinco giros curtos e longos. Faz parte do sistema límbico
e coordena quaisquer emoções, além de ser responsável pelo paladar.

Na região inferior do cérebro, existem duas importantes estruturas, o tálamo


e o hipotálamo. No tálamo, ocorre a reorganização dos estímulos nervosos e a
percepção sensorial que denota a consciência. O hipotálamo atua no controle
do sistema autônomo, na regulação dos processos de sede e fome, no processo
Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso 7

de contração muscular liso e cardíaco, nos processos relacionados ao desejo


sexual, na regulação dos estados de consciência e ritmos circadianos e na
regulação de secreção de diversas glândulas que produzem hormônios, além
de agir no controle de vários hormônios da hipófise.

„„ Cerebelo: localizado na fossa posterior do encéfalo, é o responsável


pelo equilíbrio do corpo, pelo tônus e vigor muscular, pela orientação
espacial e pela coordenação dos movimentos. O cerebelo é dividido
em três porções:
1. Arqueocerebelo — Corresponde ao lobo flóculo nodular. É o centro
de equilíbrio, e recebe informações dos núcleos vestibulares (feixe
vestibulocerebral).
2. Paleocerebelo — Corresponde ao lobo anterior. É o centro de tratamento
de informação proprioceptiva. Regula o tônus muscular e a postura. As
vias aferentes são as da sensibilidade proprioceptiva (feixes espinho-
-cerebelares posterior e anterior).
3. Neocerebelo — Lobo posterior, responsável pela coordenação de mo-
vimentos finos. Apresenta-se em relação com o córtex cerebral através
da via corticoponto-cerebelosa (aferente) e do feixe dentato-rubro-
-talâmico-cortical (eferente).

O cerebelo é constituído também pelas seguintes estruturas: os vérmis,


do superior ao inferior (língua, lóbulo central, cúlmen, declive, folium, túber,
pirâmide, úvula e nódulo) e as fissuras — fissuras após o vérmis língua,
pré-central, pré-culminar, prima, pós-clival, horizontal, pré-piramidal, pós-
-piramidal e posterolateral.
O cerebelo apresenta os seguintes lobos:

■■ Lobo flóculo-nodular ou vestibulocerebelo: envolvido com a manu-


tenção do equilíbrio, importante para a manutenção do equilíbrio
e postura.
■■ Lobo anterior: esse lobo está mais relacionado com a postura, o
tônus muscular e o controle da coordenação dos membros inferiores,
principalmente, da marcha.
■■ Lobo posterior ou neocerebelo: envolvido com a coordenação dos
movimentos finos iniciados pelo córtex cerebral.
8 Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso

„„ Tronco encefálico: localizado entre a medula e o diencéfalo, situando-


-se ventralmente ao cerebelo, conecta a medula espinal com as estru-
turas encefálicas localizadas superiormente. A substância branca do
tronco encefálico possui estruturas que recebem e enviam informações
motoras e sensitivas para o cérebro e também as provenientes dele.
Dentro da substância branca do tronco encefálico, encontram-se mas-
sas de substância cinzenta, denominadas núcleos, que exercem efeitos
sobre a pressão sanguínea e a respiração. No tronco encefálico, entram
corpos de neurônios que se agrupam em núcleos e fibras nervosas,
formando feixes denominados tratos, fascículos ou lemniscos. Muitos
dos núcleos do tronco encefálico recebem ou imitem fibras nervosas
que entram na constituição dos nervos cranianos. Dos 12 pares de
nervos cranianos, 10 fazem conexão com o tronco encefálico. Essa
região é responsável pelo controle da respiração, dos batimentos cardí-
acos e pela vasoconstrição dos vasos sanguíneos. O tronco encefálico
divide-se em mesencéfalo, ponte e bulbo e, a seguir, estão descritas
algumas de suas funções:
■■ Mesencéfalo: responsável pela recepção e coordenação do grau de
contração dos músculos e pela postura corporal.
■■ Ponte: responsável pela manutenção da postura corporal, pelo equi-
líbrio do corpo e pelo tônus muscular.
■■ Bulbo: responsável pelo controle dos batimentos cardíacos, dos mo-
vimentos respiratórios e da deglutição.
■■ Medula espinal: cilindro esguio formado por tecido nervoso que
vai do tronco cerebral até a primeira vértebra lombar (Figura 4),
de onde partem 31 pares de nervos espinais. Tem como função
transmitir informações sensoriais da periferia ao cérebro, re-
transmitindo reações motoras do cérebro aos nervos. Também é
responsável por atos reflexos, como o reflexo medular, em que
ocorrem respostas rápidas em situações de emergência sem a
interferência do encéfalo.
Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso 9

Giro pré-central
Giro pós-central

LOBO
PARIETAL
Sulco central

LOBO FRONTAL
do hemisfério
cerebral esquerdo
LOBO
OCCIPITAL

Sulco lateral
Ramos da artéria cerebral
média emergido do Cerebelo
sulco lateral
LOBO Ponte
TEMPORAL
Bulbo

Córtex motor primário


(giro pré-central) Sulco central
Córtex sensitivo primário
Área de associação (giro pós-central)
motora somática
(córtex pré-motor) LOBO PARIETAL

Afastador Área de
associação
LOBO FRONTAL sensitiva somática
(afastadorpara expor
o lobo insular) Área de
associação visual
Córtex
pré-frontal LOBO OCCIPITAL
Córtex visual

Córtex
gustativo Área de associação auditiva
Lobo insular Córtex auditivo
Sulco lateral
LOBO TEMPORAL (afastado
Córtex olfatório para mostrar o córtex olfatório)

Figura 3. Encéfalo — divisões e estruturas.


Fonte: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 399).
10 Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso

Cérebro

Cerebelo
Medula
Plexo braquial espinal
Nervo
musculocutâneo Nervo
Nervo radial intercostal

Nervo Plexo
subcostal lombar
Nervo Plexo
mediano sacral
Nervo Nervo
ílio-hipogástrico femural
Nervo
Nervo pudendo
ulnar
Nervo
ciático
Nervo fibular
comum Nervo
safeno

Nervo fibular
profundo Nervo
tibial
Nervo fibular
superficial

Figura 4. O cérebro, a medula espinal e os principais nervos espinais.


Fonte: Adaptada de VectorMine/Shutterstock.com.

■■ Meninges: são três membranas de tecido conjuntivo que envolvem o


sistema nervoso central. Recebem os nomes de dura-máter, aracnoide-
-máter e pia-máter. Elas têm a função de fornecer proteção ao SNC
(Figura 5).
Figura 5. Vista lateral do encéfalo mostrando a organização das meninges.
Fonte: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 392).
Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso
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12 Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso

Sistema nervoso periférico


O SNP é formado por nervos, gânglios nervosos e terminações nervosas.
Essas terminações são responsáveis por captar informações sensoriais como
dor, tato, frio, pressão, calor e paladar.

Nervos — São cordões esbranquiçados formados por feixes de fibras nervosas


oriundas de vários axônios de neurônios, reforçados por tecido conjuntivo que
unem o SNC aos órgãos periféricos. Eles transmitem mensagens de várias
partes do corpo para o SNC ou deste para as regiões corporais. São classifi-
cados da seguinte maneira:

„„ Quanto ao tipo de neurônio:


■■ sensitivos ou aferentes, que contêm apenas neurônios sensitivos;
■■ motores ou eferentes, que contêm apenas neurônios motores;
■■ mistos, que contêm neurônios sensitivos e motores.
„„ Quanto à posição anatômica:
■■ nervos cranianos: são doze pares conectados ao encéfalo;
■■ nervos espinais: são trinta e um pares conectados à medula espinal.

Gânglios nervosos — São aglomerados de corpos celulares de neurônios


encontrados fora do SNC. Estão localizados junto aos nervos, próximos da
coluna vertebral. Possuem a função de estações de interligação entre neurônios
e demais estruturas corporais.

Terminações nervosas — Essas estruturas, localizadas ao final dos nervos,


realizam a captação de estímulos sensitivos e motores do meio interno ou
externo conduzindo-os para o SNC.
O SNP é dividido da seguinte maneira:

„„ Sistema nervoso voluntário ou somático: realiza ações conscientes,


como andar, falar, pensar e movimentar membros. Ele é formado por
nervos motores que conduzem impulsos do sistema nervoso central
para a musculatura estriada esquelética.
„„ Sistema nervoso autônomo: realiza ações inconscientes e involuntárias,
como a digestão e os batimentos cardíacos. É formado por nervos
motores que conduzem os impulsos do sistema nervoso central para a
musculatura lisa dos órgãos viscerais, músculos cardíacos e glândulas.
Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso 13

Ele está dividido em dois sistemas: sistema nervoso simpático e sistema


nervoso parassimpático.

Os nervos cranianos sensitivos ou aferentes estão presentes em pares e são aqueles


que realizam conexões diretas com o encéfalo. Veja, no quadro a seguir, cada um dos
seus pares e suas principais funções:

Nervo Função

I – Olfatório Sensitiva Percepção do olfato.

II – Óptico Sensitiva Percepção visual.

III – Oculomotor Motora Controle do movimento ocular, do


esfíncter da íris e do músculo ciliar.

IV – Troclear Motora Controle dos movimentos do olhos.

V – Trigêmeo Mista Controle dos músculos faciais, mímica facial,


(ramo motor); percepções sensoriais da face,
dos seios da face e dos dentes (ramo sensitivo).

VI – Abducente Motora Controle dos movimentos dos olhos.

VII – Facial Sensitiva Controle dos músculos faciais, mímica


facial (ramo motor); percepção gustativa do
terço anterior da língua (ramo sensitivo).

VIII – Mista Percepção postural originária do labirinto (ramo


Vestibulococlear vestibular); percepção auditiva (ramo coclear).

IX Mista Percepção gustativa do terço posterior


– Glossofaríngeo da língua; percepções sensoriais
da faringe, laringe e glote.

X – Vago Mista Percepções sensoriais das orelhas, faringe,


laringe, tórax, vísceras; inervações das
vísceras torácicas e abdominais.

XI – Acessório Motora Controle motor da faringe, da


laringe, do palato, dos músculos
esternocleidomastóideos e hióideos.

XII – Hipoglosso Motora Controle dos músculos da língua.


14 Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso

Sistema nervoso autônomo


É conhecido também como vegetativo ou visceral, formado por nervos motores
que conduzem os impulsos do sistema nervoso central para a musculatura lisa
dos órgãos viscerais, músculos cardíacos e glândulas. Esse sistema controla
a digestão, o sistema cardiovascular, além dos sistemas excretor e endócrino.
O sistema nervoso autônomo é dividido em outros dois sistemas: sistema
nervoso simpático e sistema nervoso parassimpático. De uma maneira am-
pliada, podemos dizer que esses dois sistemas realizam funções contrárias
ou antagônicas, em que um atua corrigindo o excesso do outro, buscando um
sistema de compensação e equilíbrio. Por exemplo: o sistema simpático acelera
os batimentos cardíacos para além do normal, e o sistema parassimpático entra
em ação, diminuindo o ritmo cardíaco.
O SNP autônomo simpático estimula ações que exigem energia, possibilitando
ao organismo responder a situações estressantes e de vigília. Assim, o sistema
simpático realiza a aceleração dos batimentos cardíacos, o aumento da pressão
arterial, o aumento glicêmico sanguíneo e a ativação do metabolismo geral do
corpo. Em contrapartida, o SNP autônomo parassimpático tem a responsabilidade
de estimular as atividades de relaxamento, como a diminuição do ritmo cardíaco
e da pressão arterial, entre outras. Uma das principais diferenças entre os nervos
simpáticos e parassimpáticos é que as fibras pós-ganglionares dos dois sistemas,
geralmente, secretam diferentes hormônios. O hormônio secretado pelos neurônios
pós-ganglionares do sistema nervoso parassimpático é a acetilcolina, razão pela
qual esses neurônios são chamados de colinérgicos. Os neurônios pós-ganglionares
do sistema nervoso simpático secretam, principalmente, noradrenalina e, por conta
disso, a maioria deles é chamada de neurônios adrenérgicos.
As fibras adrenérgicas ligam o sistema nervoso central à glândula suprar-
renal, promovendo aumento da secreção de adrenalina, hormônio que produz
a resposta de luta ou fuga em situações de estresse. Os hormônios acetilcolina
e noradrenalina são capazes de estimular alguns órgãos e inibir outros, de
maneira antagônica. Com isso, quando são estimulados, os centros simpá-
ticos cerebrais excitam, ao mesmo tempo, a maioria dos nervos simpáticos,
preparando o corpo para lutar ou fugir. Fora as excitações citadas, algumas
condições fisiológicas podem estimular partes localizadas desse sistema.
Como exemplo temos:

„„ Reflexos calóricos: o calor que age sobre a pele provoca um reflexo


que percorre a medula espinal e retorna a ela, causando dilatação dos
vasos sanguíneos cutâneos. A vasodilatação superficial da pele também
Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso 15

pode ocorrer graças ao sangue aquecido que passa através do centro


de controle térmico do hipotálamo.
„„ Exercícios: o exercício físico estimula o metabolismo dos músculos
causando um efeito local de dilatação dos vasos sanguíneos musculares.
Contudo, ao mesmo tempo, o sistema simpático tem efeito vasoconstritor
para a maioria das outras regiões do corpo. A vasodilatação muscular
permite que o sangue flua facilmente pelos músculos, garantindo sua
nutrição e oxigenação, enquanto a vasoconstrição diminui o fluxo
sanguíneo em todas as regiões do corpo, exceto no coração e no cére-
bro, garantindo maior suporte sanguíneo aos músculos que estão em
atividade. Isso ocorre porque, nas junções neuromusculares, bem como
nos gânglios do SNPA simpático e parassimpático, acontecem sinapses
químicas entre os neurônios pré-ganglionares e pós-ganglionares.

Nesses dois casos exemplificados, o neurotransmissor é a acetilcolina. A


acetilcolina atua nas dobras da membrana, aumentando a sua permeabilidade
aos íons sódio, que passam para o interior da fibra, despolarizando essa área
da membrana do músculo e promovendo a contração muscular. Quase imedia-
tamente após a acetilcolina ter estimulado a fibra muscular, ela é destruída,
o que permite a despolarização da membrana e, com isso, o relaxamento
muscular, que não permite uma contração prolongada.

Diferenças entre os sistemas nervosos simpático e parassimpático:

Sistema nervoso autônomo

Simpático Parassimpático

Fibra pré-ganglionar Curta Longa

Fibra pós-ganglionar Longa Curta

Origem dos nervos Região torácica e lombar Região cervical (nervos


da medula (somente cranianos) e região sacral da
nervos espinais) medula (nervos espinais)

Mediador químico Fibras pré-ganglionares: Fibras pré-ganglionares:


acetilcolina. Fibras pós- acetilcolina. Fibras
ganglionares: adrenalina pós-ganglionares: acetilcolina
16 Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso

Modificações fisiológicas no sistema nervoso


O sistema nervoso, principalmente o SNC, é o sistema corporal mais com-
prometido com o envelhecimento. Sua degeneração morfofisiológica causa
modificações nas sensações, nos movimentos, na memória, nas relações hu-
manas, além de afetar as funções fisiológicas autônomas. A degeneração do
sistema nervoso é um processo normal que começa a acontecer a partir dos 30
anos de idade, causando diminuição do volume encefálico. Com isso, ocorrem
alterações como redução do número de neurônios, redução da velocidade de
condução nervosa, redução da intensidade dos reflexos, restrição das respostas
motoras, do poder de reações e da capacidade de coordenações.
Sabe-se que existe uma perda de 10 a 20% de massa no córtex cerebral
entre os 30 e 90 anos de vida. Outras partes do cérebro, no mesmo período,
podem ter um prejuízo de até 50%. Com isso, o processo de envelhecimento
cerebral vai, gradativamente, diminuindo a atividade bioquímica, afetando
diretamente a ação dos neurotransmissores. Além disso, ocorre decréscimo no
número de neurônios, causando variados prejuízos, pois, em algumas regiões,
pode haver uma mínima perda celular e, em outras, maiores perdas neuronais
(FECHINE; TROMPIERI, 2012).
Além de diminuir seu peso, tamanho e volume, o cérebro apresenta alarga-
mentos dos sulcos, atrofia mais acentuada nos lobos frontal e parietais, além
do aparecimento de placas senis. Com isso, seu envelhecimento causa falhas na
memória e diminuição de velocidade no processamento de informações. Essas
perdas podem ser compensadas com reservas intelectuais, com experiências
acumuladas e com a manutenção das capacidades por meio de exercícios de
raciocínio, linguagem e espaço corporal. Atividades que instigam a memória, a
coordenação motora, bem como os exercícios físicos também são fundamentais
para auxiliar o processo de envelhecimento cerebral.
É preciso destacar que a perda da memória não se dá apenas por lesões
estruturais, mas pode ocorrer graças a disfunções fisiológicas, e não por
perda neuronal. Atualmente, a ciência já sabe que, apesar de não ser capaz
de recuperar os neurônios perdidos, existem elementos que podem diminuir
o impacto das alterações do envelhecimento como, por exemplo:

„„ processo de redundância: há uma substituição de neurônios deteriorados


por outros que não eram usados;
„„ mecanismos compensadores: geralmente, ocorre em casos de lesões
cerebrais, em que o cérebro utiliza outro local cerebral para reaprender
a realizar a atividade perdida;
Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso 17

„„ processo de plasticidade: ocorre devido ao poder que os neurônios


maduros com sua rede de dendritos têm de desenvolver e formar novas
sinapses, possibilitando a formação de novos circuitos sinápticos.

Com o passar dos anos, a idade avança e, com isso, é normal que ocorra
o encurtamento do tempo de sono, acarretando certa mudança de humor e
também uma queda das atividades motoras e intelectuais. No quesito memória,
acontece um enfraquecimento para fatos recentes, mas isso tudo pode variar
em cada indivíduo, além de estar relacionado com o estilo de vida. Alterações
como tremores, tiques, afasia, tontura e astenia podem ocorrer fisiologicamente
em idosos, mas é importante uma adequada investigação clínica para descartar
qualquer patologia associada (MORAES; MORAES; LIMA, 2010).
Entre as principais patologias, sinais e sintomas que podem confundir-se
com o envelhecimento fisiológico, podemos citar:

„„ crise convulsiva e/ou epilepsia;


„„ distúrbios da gustação e do olfato;
„„ acidente vascular encefálico;
„„ demências;
„„ doença de Alzheimer;
„„ doença de Parkinson;
„„ hematoma intracraniano ou subdural após traumas;
„„ encefalites bacterianas, virais ou fúngicas;
„„ tumores cerebrais, raros na terceira idade, mas podem ocorrer como
metástase de câncer de outro órgão;
„„ neuropatias ou neurites do sistema nervoso periférico comum em pa-
cientes diabéticos ou alcoólicos;
„„ neurite herpética, importante neuropatia causada pelo vírus herpes
zoster;
„„ polirradiculite, que causa a inflamação de vários nervos ao mesmo
tempo;
„„ tumores de coluna ou hérnias de disco, que podem comprimir inervações
raquidianas;
„„ dor ciática;
„„ síndrome do túnel do carpo, devido à compressão de nervos do punho;
„„ nevralgias, com destaque para a nevralgia do trigêmeo.

Por fim, o envelhecimento é um processo fisiológico que acomete todos


aqueles que experimentam a terceira idade. Cabe aos profissionais de saúde a
18 Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso

compreensão desse processo a fim de oferecer a devida avaliação, identificando


o que realmente é normal e o que pode estar indicando algum sinal ou sintoma
de alteração clínica do sistema nervoso.

Para saber mais sobre o sistema nervoso, acesse o link


ou código a seguir.

https://goo.gl/7YMbKS

A seguir, conheça algumas informações verdadeiras e outras falsas sobre a memória.


O ato de ler é uma fonte de saúde mental e de estímulo cerebral — VERDADE
Todos os casos de perda de memória e esquecimento são patológicos — FALSO
Ter hábitos que envolvam os relacionamentos sociais é uma fonte de felicidade,
prazer e boa saúde cerebral — VERDADE
Não há nada que se possa fazer para melhorar e preservar a memória — FALSO
Atividades físicas são excelentes para a melhora das funções cerebral e motora
— VERDADE
Idosos sempre apresentarão memória curta e ruim — FALSO

FECHINE, B. R. A.; TROMPIERI, N. O processo de envelhecimento: as principais alterações


que acontecem com o idoso com o passar dos anos. InterSciencePlace, v. 1, n. 20, p.
108-194, 2012.
MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLITSCH, R. B. Anatomia humana. 6. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2009.
Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso 19

MORAES, E. N.; MORAES, F. L.; LIMA, S. P. P. Características biológicas e psicológicas


do envelhecimento. Revista Médica de Minas Gerais, v. 20, n. 1, p. 67-73, jan./mar. 2010.

Leituras recomendadas
HANKIN, M. H.; MORSE, D. E.; BENNETT-CLARKE, C. A. Anatomia clínica: uma abordagem
por estudos de casos. Porto Alegre: AMGH, 2015.
JUBILUT, P. Sistema nervoso. 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=_
prsDDg_cJM>. Acesso em: 17 out. 2018.
MALAGHINI, M. Fisiologia on-line. Disponível em: <http://www.oocities.org/~malaghini/
fisio.html>. Acesso em: 17 out. 2018.
MIRANDA-VILELA, A. L. Anatomia e fisiologia humanas. c2018. Disponível em: <https://
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