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LÍNGUA PORTUGUESA

ARTIGO DE OPINIÃO E EDITORIAL

Cleuza Cecato

concursos
Língua Portuguesa
Artigo de opinião e editorial

Apresentação
Olá estudante,

Meu nome é Cleuza Cecato e sou Professor(a) de Língua Portuguesa, Produção


de Textos e Linguística. Antes de comentar os principais aspectos do curso, eu gostaria de me
apresentar! Sou formado em Letras pela UFPR, tenho mestrado em Linguística pela mesma
instituição e sou doutoranda em Linguística Aplicada pela UFRGS. Atualmente exerço funções
de professora e coordenadora de área na Educação Básica. Também trabalho com Graduação
e Pós-Graduação. Espero poder te ajudá-lo(a) nessa empreitada, afinal tenho vasta experiência
com o assunto dessa disciplina.

Prepare-se. Tem muito conteúdo para estudar! Vamos fazer da sua experiência de preparação
algo agradável, não se preocupe! Tenha muita paciência, dedicação e, principalmente, confiança!

Sumário

Qual é a diferença afinal?...............................................................................................................3


Língua Portuguesa
Artigo de opinião e editorial

Qual é a diferença afinal?

O paradoxo da ofensa

Tô rindo, mas isso não pode estar certo


Num debate televisivo, Renato Aragão se disse contra “humor
com religião”, mas não conseguiu segurar o riso ao ver um vídeo
do Porta dos Fundos. O apresentador perguntou: “Tá rindo?”. Ao
que ele respondeu, gargalhando: “Tô rindo. Mas isso não tá certo”.
Muita gente está, pela quinta ou sexta vez, ofendida com o es-
pecial de Natal do Porta dos Fundos. Essa é uma das desvanta-
gens de se morar num país desenvolvido. Com o que mais vão
se indignar nesse país desprovido de miséria ou de corrupção?
O povo precisa se indignar com alguma coisa.
Queria atentar, no entanto, pra um problema de lógica. Os ofen-
didos se dividem em dois grupos. O primeiro grupo assistiu ao
episódio e o segundo não assistiu. O primeiro grupo se constitui
por pessoas muito curiosas porque, apesar de cristãs fervorosas,
escolheram assistir a um especial de Natal do Porta dos Fundos.
Ou não sabem o que é o Porta dos Fundos, ou não sabem o que
é Natal. Há ainda uma terceira hipótese: o espectador sabe o que
são ambos, mas adora sentir o gosto do ultraje. Em nenhum dos
casos há algo que possa ser feito pra atenuar seu sentimento.
Confortar esse espectador, ultrajado por vontade própria, seria
ultrajá-lo uma segunda vez, negando a ele o sentimento do ultraje.
Existe, é claro, a possibilidade de ele ter sido obrigado a assistir
e, nesse caso, recomendamos que processe a pessoa que se-
gurou sua cabeça enquanto ele assistia. Deve haver alguma lei
que o incrimine.
O segundo tipo de espectador me interessa ainda mais. Apesar
de não ter assistido ao episódio, ficou ofendidíssimo com ele.
Isso equivale a um sujeito que processa por intoxicação alimentar
um restaurante em que ele nunca comeu. “Absurdo! Li o cardápio
e comecei a passar mal.” Se ele está ofendido pelo que viu na
matéria da Record, processa a Record.
Ou seja, a ofensa com o episódio gera um paradoxo lógico: ou
você escolheu se ofender, logo não temos culpa, ou não assistiu,
logo não pode ter se ofendido, logo não temos culpa.
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2019/ 12/o-parado-
xo-da-ofensa.shtml

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Língua Portuguesa
Artigo de opinião e editorial

Diplomacia fóssil

Sem credibilidade nem novos recursos, Brasil sai menor de con-


ferência ambiental
Não foi sem um prêmio na mão que o Brasil deixou a COP-25,
conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas rea-
lizada em Madrid —o de Fóssil do Ano.
A tradicional e nada gloriosa honraria, pela primeira vez concedida
ao Brasil por uma rede que congrega mais de mil ONGs ambien-
talistas no mundo, consolida a imagem passada pela diplomacia
brasileira em duas semanas de conferência.
Sem fechar um acordo sobre o mercado de emissão de carbono, a
COP-25, acabou de modo pouco alentador. Contribuiu para tanto a
obstrução do Brasil à carta final, após idas e vindas nas tratativas.
Madri viu um Itamaraty isolado. Representou o único país a de-
fender que metas de redução de emissões não deveriam ser
ajustadas descontando-se do cálculo os créditos de carbono
vendidos a outros países. Ignora-se assim a matemática básica,
permitindo a quem vende e a quem compra emitir carbono pelo
mesmo crédito.
Tal insulamento contrasta com o protagonismo de 2015, quando
o Brasil ajudou a viabilizar a conferência do clima em Paris. Agora,
sob a batuta do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, esmo-
laram-se recursos em troca da desobstrução das negociações.
Até nesse ponto houve fracasso. Salles saiu de mãos abanando,
embora tenha chegado ao evento antes dos demais ministros,
esperados ao final dos entendimentos.
Ironicamente, prejudicou-se inclusive o agronegócio. Constran-
gidos, representantes brasileiros do setor não lograram agendas
oficiais com países europeus. Já governadores da Amazônia
Legal tiveram uma pauta de reuniões intensa.
Enquanto ocorria a COP-25, o governo acenava em sentido con-
trário ao interesse ambiental. Da fala infantil do presidente Jair
Bolsonaro dirigida à jovem ativista Greta Thunberg à edição de uma
medida provisória temerária sobre regularização fundiária, minou-
-se ainda mais a credibilidade do país nas negociações do clima.

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Língua Portuguesa
Artigo de opinião e editorial

A reduzida participação brasileira em Madri deu motivos de cons-


trangimento. Na ausência inédita de um estande oficial, o vácuo
deixado pela chefia de Estado foi ocupado pela atuação de repre-
sentantes da sociedade civil —ONGs, empresas e universidades.
Eles fizeram de um estande brasileiro independente o palco de
debates acalorados, com a presença até do presidente do Senado,
Davi Alcolumbre (DEM-AP). De sua parte, Salles reuniu-se breve-
mente com ambientalistas e parlamentares.
A conferência há de ter ensinado que, para obter êxitos no âmbito
global, o país precisa ser levado a sério. Mesmo uma diplomacia
mais hábil teria grande dificuldade em reverter a péssima impres-
são deixada pelos atos domésticos.
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2019/12/diplomacia-fossil.shtml

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