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Nome: Otailter dos Santos Ribeiro

Instituição: Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL-MG

E-mail: otailter@hotmail.com

A INFLUÊNCIA DO MEIO NATURAL NA FORMAÇÃO


ESPACIAL: O ESPAÇO GEOGRÁFICO COMO FATOR DE
INFLUÊNCIA DA FORMAÇÃO DA IDENTIDADE E SOCIEDADE.
UM CASO DO ESTUDO DE BATATAIS - SP.

INTRODUÇÃO

A construção do espaço geográfico tem sido estudada há séculos, na


tentativa de se entender como se dá a influência do meio natural sob o homem, e como o
homem faz as alterações sobre a mesma. Essas alterações, de suposta supremacia do
homem sobre o meio natural tendem a seguir uma liberdade ou, mesmo com tecnologias
cada vez mais avançadas, tendem ainda a exercerem uma dependência do meio natural?
E quanto à concepção de localização dos espaços urbanos, seriam eles espontâneos,
planejados, alterados ao plano inicial?

Partindo dessas questões, se baseando nos grandes autores da geografia


clássica, busca-se uma análise do quanto o espaço geográfico tende a determinar a
ocupação de uma localidade, e como seu meio natural tende a influenciar na forma de
ocupação desse mesmo local e na sociedade “agregada” a esse mesmo espaço.

Apesar dos inúmeros casos de pesquisas já realizadas sob tal temática, foi
levado em consideração um caso de estudo, ou seja, foi estudada essa interação entre
espaço geográfico, meio natural e ocupação de uma localidade, levando em
consideração a temática diante dos estudos da Geografia Clássica, além de se apoiar,
mesmo que por pouco, na Geografia Crítica, sendo essa última apenas para mostrar a
importância do fator econômico entre uma localidade e outra. Assim, em Batatais, São
Paulo, ocorreu o fato da transferência do povoado criado para outra localidade, em
decorrência da geografia, como clima, geomorfologia, pedologia, hidrografia e
paisagem, além de fatores ligados à transformação e ônus que a ocupação do território e
produção do espaço tende a erarem.

O ESPAÇO GEOGRÁFICO: IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DA


IDENTIFICAÇÃO COM O MESMO E SUA INFLUÊNCIA NA SOCIEDADE.

O estudo do espaço geográfico, seja na forma como decorrera sua


concepção, concomitantemente a forma com que o mesmo exerceu influência na cultura
a se instalar em determinada região, consecutivamente o desfecho da supremacia do
domínio técnico humano na mutação e recriação desse mesmo com a finalidade de
atender às demandas do agente transformador, o homem, é algo estudado desde que a
geografia passou a ser dedicada de uma maneira mais especial por aqueles que se
interessaram pela temática, antes mesmo da mesma ser consolidada como ciência.

A forma conceptiva de espaço geográfico era alterada de acordo com o


pensador e qual corrente de pensamento científico o mesmo sofria influência durante o
discorrer de suas obras. Dessa forma, a geografia espacial, ao mesmo tempo em que
esse sofria constantemente mudanças, a própria ciência era induzida com os ideais que
se encontravam em voga. Assim, a partir da segunda metade do século XIX, a geografia
clássica, influenciada pelo ímpeto do Positivismo, se utilizando de métodos científicos
como o corográfico, o indutivo e comparativo, que a geografia aspirante à ciência passa
a esboçar seus primeiros estudos da temática.

Baseada nos conceitos de espaço absoluto, paisagem natural, paisagem


cultural e habitat, são que os vanguardistas da geografia vão passar a redigir sobre a
formação do espaço geográfico e a influência, consecutivamente, na formação cultural
da localidade. Com técnicas empíricas, meramente descritivas de acordo com a
observação dos locais a serem estudados, é que Friedrich Ratzel (1844-1904) passou a
relatar seu entendimento de como que o ambiente interfere no desenvolvimento de uma
sociedade. Segundo o mesmo, na medida em que a localidade pode oferecer melhor ou
pior acesso aos recursos naturais e provenientes da terra, graças à ação da agricultura,
atuando assim como estímulo ou obstáculo ao progresso da sociedade que se estabelece
no local. Todavia, as leis que conduzem a história humana são, por assim dizer,
produtos de um artifício dinâmico e constante de adaptação ao ambiente, descartando
um resultado direto da atuação de fatores naturais, como o relevo ou o clima sobre o
homem. Segundo Ratzel, levando em consideração seu ideal de determinismo, as
alterações do espaço geográfico devem coincidir em promover de acordo coma a
história “significa, em primeiro lugar, acelerar a luta pela vida, a seleção natural, entre
as comunidades humanas (ou estados), no sentido darwiniano" (SUTERMEISTER,
2008, p.137).

Ainda na geografia clássica, outro alemão, Alexander Von Humboldt (1769


– 1859), vai defender a ocupação e utilização do espaço geográfico através da forma
como a geomorfologia da localidade exerceria influência sobre os habitantes de tal
localidade. Para o mesmo, a sociedade tendia a se “adaptar” à localidade em fator da
concepção geomorfológica , independente da cultura oriunda do homem colonizador
(agente transformador) de tal território, convergindo das ideias defendidas por Ratzel,
em referência ao seu determinismo. Assim, em Humboldt podemos ver o espaço vital
como uma relação em que a natureza exerce um domínio muito maior na vida do agente
transformador, visto que Ratzel defendia que cabia ao homem a escolha do lugar a ser
ocupado e transformado, consecutivamente.

Não se desprendendo da Alemanha como a “Catedral da Geografia


Clássica”, outro autor clássico que entrou para os anais da geografia foi Karl Ritter
(1779 – 1859). Seu grande objetivo era o estabelecimento da geografia como
componente das ciências naturais. Por isso, Ritter vêm a se destacar mais que
Humboldt, ao demonstrar a relevância das influências naturais sobre o agente
transformador, alçando a propor que o estudo da natureza somente é de importância à
geografia se tiver por base de estudo o homem. Assim, os estudos discorridos por Ritter
tinham sua convicção antropocêntrica, sempre fazendo analogia do espaço geográfico
natural na produção do espaço geográfico do homem e como esse mesmo meio natural
influenciará na formulação cultural e social dos indivíduos pertencentes a esses locais
(DINIZ FILHO, 2009).

Discorrendo ainda da concepção de como o território é influenciador na


formação do espaço geográfico e, sobretudo, da formação da cultura da sociedade a vir
se desenvolver na localidade segundo os geógrafos do período clássico da geografia, é
que surge a figura de Paul Vidal de La Blache (1845 – 1918). Segundo o mesmo, a
geografia tende a estudar as “unidades terrestres”, alçando seus objetivos ao estudo dos
lugares. Nas concepções lablacheanas, surgirá o termo “possibilista”, em uma tentativa
de compreender a formação de como cada grupo social se adapta aos meios naturais.
Para o mesmo, as implantações de técnicas determinam a evolução da produção e
alteração do espaço geográfico, avivando sua teoria quanto ao possibilismo .
Influenciado por Ritter, acreditava que os grupos sociais tendiam a possuir
singularidades culturais, ou seja, seu modo de vida, de acordo com que as
peculiaridades regionais tendiam a exercer influência sob a formação dos mesmos.

Avançando na cronologia e chegando à geografia crítica , temos as


convicções da influência do meio natural na formação do espaço geográfico segundo o
brasileiro Milton Santos (1926 – 2001). Santos acreditava que o uso desenfreado da
técnica tendia a ser importante ponto na formação do espaço, sendo esse ainda resultado
de questões de interesses capitalistas, provocando desigualdades entre os espaços, como
se pode observar em um território nacional. Seguindo na linha do domínio da técnica,
Santos discorre que a mesma passa a ser fundamental para a provocação da mudança no
espaço e, sobretudo, para a inversão onde o homem passa a ser dominador ao meio
natural. Independente das visões clássicas de determinismo, gênero de vida e espaço
vital, Santos coloca a diferenciação de cada espaço geográfico de acordo com o ritmo e
dominação do meio tecnicista que possuem a sociedade dessas regiões.

Como constatado, a concepção de como se dá a construção do espaço


geográfico, seja através da influência do meio natural sob o homem, seja na forma como
o mesmo se adapta ao mesmo e passa a exercer o seu ritmo de ocupação de acordo com
a necessidade de subsistência e exploração do mesmo variou ao longo da história da
geografia. Assim, servindo na atualidade para a interpretação da construção do espaço
até o tempo vigente, esclarecendo até onde e como o meio geográfico natural foi e é
fator de construção espacial da sociedade.

A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DA IDENTIFICAÇÃO COM O TERRITÓRIO


E A FORMAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO E SUA INFLUÊNCIA NA
CONCEPÇÃO DE BATATAIS

Ao discorrer todo um retrospecto de como se viu a formação do espaço


geográfico, fica claro que, além das diversas interpretações sobre o tema aludido, que o
território natural é fundamental na concepção dos espaços geográficos na atualidade
como um todo. Sobre isso, vale enaltecer um exemplo de como essa mescla de
interpretações podem ser aplicadas sob o ponto de vista analítico da pesquisa.

É nesse contexto que entra a cidade de Batatais, no nordeste do estado de


São Paulo, localizada a cerca de trezentos e cinquenta e cinco quilômetros da capital
paulista e a setecentos e cinquenta quilômetros da capital federal. A cidade tem por
peculiaridade a transferência de localidade geográfica de sua sede, com a finalidade de
atenderem à padrões mais “dignos” de uma localidade a se erigir uma cidade, levando
em conta os fatores geográficos naturais da antiga localidade.

A Paragem dos Batataes , nascente à margem direita da Estrada Real de


Goyás, no então Campo dos Batates, era um importante ponto de parada que vinha
ganhando destaque de acordo com o aumento do fluxo de comerciantes decorrentes da
ligação entre as Minas de Cuiabá e Guayases à Vila de São Paulo, sobretudo após o
Caminho de Araraquara ser colocado em desuso pelo Governo Geral. Com a finalidade
de ocupar a região, tanto para o estado lusitano, como para a Igreja, é concedida a Pedro
da Rocha Pimentel, ao qual havia recebido a sesmaria a 5 de agosto de 1728, pelo então
governador da capitania de São Paulo, Antônio da Silva Caldeira Pimentel. A concessão
de sesmarias ao longo da estrada era vista pelo governo como um projeto de ocupação
demográfica da região, que por si só iria garantir o acesso às jazidas de Goiás, sendo a
melhor forma de povoar e conquistar o extenso território (TAMBELLINI, 2000, apud
RIBEIRO, 2012).

Mesmo com o fim da União Ibérica (1580 – 1640) eram constantes as


hostilidades entre castelhanos e lusitanos, o que viria a se acalmar somente com a
ratificação do Tratado de Madri (1750). Ainda assim, povoar o Sertão era visto de
fundamental importância para a manutenção do Império Português como tal.

A localidade passou a ser cobiçada por sesmeiros e pela igreja, que além do
“amparo espiritual” aos habitantes de tão longínquas terras, era de interesse, sobretudo,
ligado ao fator terras; ou seja, o fator de exploração econômica como lembrado por
Santos e o fator de “supremacia e determinismo” colonizador, como alentava Ratzel.
Assim, os habitantes dos Campos dos Batatais, juntamente com os moradores do Arraial
de Casa Branca (ambas localizadas atualmente no interior de São Paulo), passaram a
emitir petições ao governo central na tentativa de pressionar o mesmo para atenderem
aos seus anseios de elevação à freguesia, que se intensificariam com a atual cidade de
Franca se desprendendo da Vila de Mogi Mirim. Os ofícios surtiram efeito e Casa
Branca fora elevada a freguesia em 1814, enquanto os Batatais em 1815, pelo alvará
régio de Dom João IV, nas terras doadas por Manuel Bernardes do Nascimento e pelo
Alferes Antônio José Dias Chaves, tendo como vigário da freguesia o padre Manoel
Pompeo de Arruda, deixando clara a importância dos interesses, tanto dos proprietários
de terras quanto os da Igreja.
Com a inesperada morte do padre Manoel Pampeo de Arruga, é nomeado
para ser vigário da freguesia, então fundada dentro da Fazenda Batataes, Padre Bento
Jozé Pereira. O então jovem padre, vindo da capital, logo de início não gostou da
localidade e em seguida passou a movimentar a freguesia com o intuito de fazerem
mudanças ao seu agrado, e, como dizia, para o bem da Santa Igreja e de Nosso Senhor
Jesus Cristo.

Tudo desagradava Padre Bento: o relevo, a qualidade da água, a terra


vermelha, o estilo das casas, e principalmente, a igreja (com exceção dessa ultima,
levando em consideração o espaço geográfico segundo Ritter). Ou seja, Padre Bento
achava o lugarejo não digno de sediar uma casa para Deus, que segundo ele, fora ereta
de “afogadilho”, ou seja, de dia para noite. Com isso, eram constantes as reclamações de
Padre Bento quanto a tonalidade e sujeira provocada pela terra, a localidade em que a
igreja estava localizada, que afastariam possíveis moradores, não havendo nenhuma
transformação na então freguesia.

Com isso, Padre Bento passa a sondar a região denominada Campo Lindo
das Araras, onde o mesmo descrevia por lugar de clima ameno, vegetação verde e
rasteira, circundado de riachos, córregos e cachoeiras, onde a terra era branca e havia
um morro ao centro da localidade, que seria local perfeito para se erigir uma igreja ao
qual se poderia ver de toda a cidade, além de largas terras para chácaras e casas maiores
ao redor da igreja (meio topográfico e natural ditando a identificação e aspiração para a
formação de um espaço).

Contudo, as intensões de Padre Bento também eram as terras que a Igreja


poderia vir a conseguir com a conclusão do deferido. Porém, Manuel Bernardes, o
maior beneficiado com a freguesia, já que a mesma localizava dentro de suas terras e
geraram lucratividade às mesma (fator econômico), logo abriu oposição ao vigário,
movimentando toda a vida da freguesia. O certame só teve fim com a doação dos Araras
pelos posseiros Germano Alves Moreira e Ana Luíza ao vigário, e o alvará régio de
1822 que autorizava a transferência de sede da freguesia, desde que se mantivesse o
antigo povoado.

Com o tempo, o fator econômico e religioso foi atraindo os moradores do


antigo povoado para o novo, levando a extinção daquele na hoje Fazenda Batatais. O
novo povoado se desenvolveu, alcançou a autonomia em 1839, atraiu imigrantes, em
sua grande maioria italianos, atraídos, inclusive, pelas características naturais da
localidade. Os imigrantes impuseram sua cultura, suas técnicas de ocupação do solo, e,
é claro, se adaptando às peculiaridade que não estavam acostumados na Europa. Hoje
Batatais é um forte reduto da cultura itálica no estado de São Paulo, resultado dessa
importante participação que o território natural, a geomorfologia, climatologia e poder
econômico impuseram aqueles que formaram o espaço geográfico na região do
município de Batatais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A geografia tem nos demonstrado de como no decorrer do tempo, diferentes


interpretações foram dadas à formação do espaço geográfico e como as mesmas foram
acarretadas, seguindo assim as influências do meio natural, como o relevo, a
hidrografia, o clima e, por que não, o atendimento às necessidade buscadas pelos
habitantes e povoadores de tal localidade. O ocorrido na cidade de Batatais é um dos
exemplos, onde temos cidades de nascimento espontâneo, como São Paulo, cidades
estratégicas, como Salvador, Natal e Rio de Janeiro, cidades “monitoras”, como Ouro
Preto e Belém, além das cidades planejadas, como Brasília, Goiânia e Belo Horizonte;
todas, submetidas e nascidas da relação de submissão do homem com o meio natural,
hoje impondo sua forma de espaço ao meio natural, mesmo assim, pegas de
“surpresa” pela natureza, que inclusive, ditam sua formação sócia cultural e seus meios
de vida atuais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHIACHIRI Fº, José. Do Sertão do Rio Pardo à Vila Franca do Imperador. Ribeirão
Preto, Ribeirão Editora, 1989.

DINIZ FILHO, Luis Lopes. Fundamentos Epistemológicos da Geografia – vol. 6. In:


Metodologia do Ensino de História e Geografia. Curitiba, Editora IBPEX, 2009.

MORAES, Antonio Carlos Robert (Org). RATZEL: geografia. São Paulo: Ática, 1990.

__________ A sistematização da geografia: Humboldt e Ritter. p.59-65. In: MORAES,


Antonio Carlos Robert. Geografia: Pequena história crítica. 20.ed. São Paulo:
Annablume, 2005.

RATZEL, F. O homem e o ambiente. p.54-72. In: RATZEL: geografia. São Paulo:


Ática, 1990.

RIBEIRO, Otailter dos Santos. A fundação de Batatais: de freguesia à vila (1815-1839).


Monografia – Centro Universitário Central Paulista, UNICEP – São Carlos, 2012.
SUTERMEISTER, Paul. Ratzel contra os economistas: acesso a mercados, destruição
criadora e teoria social darwiniana na obra geografia política. Artigo digital:
http://www.rc.unesp.br/igce/simpgeo/307-321paul.pdf - acessado em 06/04/2013.

TAMBELLINI, J. Machado. A Freguezia dos Batataes. São Paulo, Carthago Editorial,


2000.

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