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Manifesto dos Movimentos Sociais para anulação da

Conferência de Juventude de Manaus

A SUA EXCELÊNCIA
ÂNGELA GUIMARÃES
SECRETÁRIA ADJUNTA NACIONAL DE JUVENTUDE

Conquistar Direitos, desenvolver o Brasil, título da II Conferencia Nacional da


Juventude, é o que almejam os movimentos e organizações juvenis que vêm
através desse documento relatar insatisfação com o processo no qual ocorreu
a II Conferência Nacional de Políticas Públicas de Juventude em sua etapa
Municipal, etapa preparatória para Estadual e Nacional. Por meio desta
informamos que a “Conferência” realizada em Manaus foge a todos os padrões
democráticos regulamentados pelo regimento nacional, tais como:

1.Instalação da Comissão Organizadora Municipal de forma irregular è


Segundo o Regimento Interno Nacional, que prevê no seu artigo 18, parágrafo 3º
as comissões organizadoras deverão ter composição mínima de “dois
representantes do poder executivo municipal, dois representantes do poder
legislativo municipal e quatro representantes da Sociedade Civil”. Entretanto, no
Decreto 1.070 de 1º de julho no Diário Oficial do Município de Manaus (DOM), que
Convoca a Comissão e dá sua composição, havia somente duas entidades da
Sociedade Civil, esta reforçada com a Portaria 29/2011 da SEMJE, publicada no
dia 15 de Julho no DOM, com seus respectivos representantes. Somente em 1º de
Agosto há uma informação da Comissão Organizadora Estadual de que no site de
cadastramento das etapas municipais a Comissão Municipal aparece com 08
membros da Sociedade Civil, estabelecendo assim a paridade na Comissão.
Contudo, em matéria divulgada no próprio site da Secretaria Municipal de
Juventude (http://juventude.manaus.am.gov.br/prefeitura-promovera-evento-para-
debater-politicas-publicas-de-apoio-a-juventude/2/) já havia acontecido 02 reuniões
da Comissão no mês de julho, prejudicando assim àqueles que somente após 1º
de agosto participariam da respectiva comissão. Vale ressaltar que a Pastoral da
Juventude da Arquidiocese de Manaus, que aparece como membro desta
comissão reformada em agosto não fora oficialmente convidada a compor a
comissão, bem como a participar das respectivas reuniões.

Diante do exposto acima, como então afirmar que a organização desta


conferência se deu com transparência e dentro dos processos claros de um
regime democrático?

2. Comissão Organizadora Municipal direcionada è Na nova composição


aparece mais uma vez matéria estranha ao Regimento Interno Nacional. É
chamado a compor a comissão o PRESIDENTE do CEJAM – Conselho Estadual
de Juventude e não o Conselho Estadual. Consoante o Regimento Nacional aqui
há mais uma grave infração ao artigo 18 que diz que “as etapas eletivas serão
organizadas e coordenadas por uma comissão local, composta por membros
titulares e suplentes indicados por suas entidades representativas e terão como
objeto de discussão o texto-base da 2ª Conferência Nacional de Políticas”. A
pastoral da juventude anteriormente citada afirma que não recebeu nenhum ofício
solicitando nome dos representantes titular e suplente para esta comissão
organizadora. Entretanto, durante o processo de aprovação do Regimento da
Conferência Municipal ao chegar no 7º Artigo, vários movimentos questionaram a
falta de transparência na composição desta comissão e solicitaram inclusão de
suas entidades na mesma, e o Secretário André Souza interrompeu o processo,
chamando as organizações que queriam discutir tal artigo para reunião a parte,
garantindo retomar o artigo após a conversa. Posteriormente, o mesmo não
retomou o artigo 7º conforme acordado e prosseguiu com a leitura do regimento
numa atitude ditatorial, desrespeitando os movimentos juvenis ali presente. Como
não houve uma retomada, a Pastoral da Juventude publicou uma nota afirmando
não fazer parte desta comissão que colocamos em anexo;

3. Utilização de logotipo-símbolo de entidade da sociedade civil de forma


indevida èAntes do dia 1º de agosto a comissão estava instalada de forma
irregular, conduzindo os trabalhos da conferência e nesse intervalo de tempo entre
1º de julho ao início de agosto no processo de divulgação expôs a logomarca da
Pastoral da Juventude de Maringá no Paraná falseando o logotipo da Pastoral da
Juventude da Arquidiocese de Manaus que por não fazer parte da Comissão
Organizadora não autorizou a exposição de seu logotipo. Essa procedência da
SEMJE constata a má fé que, ao buscar legitimar uma comissão incompleta,
afronta o Artigo 18 do Regimento Interno Nacional.

4. Comissão Organizadora inoperante e desprestigiada è Durante todo


processo da Conferência Municipal de Manaus em nenhum momento a Comissão
Organizadora foi chamada a deliberar sobre quaisquer tipos de demanda.
Lideranças dentro da Conferência tomaram algumas decisões de
operacionalização e fizeram acordos para realização da etapa que estava muito
prejudicada pela desorganização geral. Isso fica caracterizado na condução dos
trabalhos, pois não havia um presidente da mesa, nem secretaria, sendo estas
funções exercidas por pessoas aleatórias de forma desorganizada;

5. Inscrição dos Participantes è O processo de inscrição com limitação de data


até dia 18 de Agosto. Seria feito somente pelo site da SEMJE
(http://sistemas.manaus.am.gov.br/confiJovem). Entretanto, vale ressaltar que
jovens empobrecidos ou sem acesso a internet, o que não é uma raridade em
Manaus, não poderão se inscrever, inibindo assim a participação das juventudes.
A SEMJE alega que depois abriu para inscrição na sede da Secretaria, esta com
localização de difícil acesso, que desfavoreceu o deslocamento de jovens da
periferia e zonas rurais da cidade. Da mesma forma, o processo não respeitou o
parágrafo único do artigo 35º do regimento nacional ao limitar a inscrição para
jovens com 16 anos uma vez que este permite aos 15 anos. Este fato foi
questionado e criticado no processo de aprovação do Regimento Interno
Municipal, bem como repudiado em Moção de vários movimentos (segue em
anexo), estabelecendo-se assim que o credenciamento seria realizado até o final
do primeiro dia de conferência;

6. Lista de Credenciamento inexistente è Não havia de fato uma lista oficial de


credenciamento transparente e com mínimo de confiabilidade para saber o número
exato de delegados credenciados e participantes em geral desta conferência;
7. Credenciamento no segundo dia da Conferência è Com a deliberação da
plenária, dada as dificuldades de inscrição e etc, o credenciamento só deveria
acontecer até as 17h do dia 22 de Agosto, com tudo aconteceram flagrantes de
entregas de crachás na surdina ainda no dia 23 de Agosto para novos
participantes, sem nenhum documento de comprovação de identidade;

8. Delegados com menos de 15 anos è A SEMJE, não preparada para a


quantidade de participantes, não teve controle do credenciamento. Assim sendo,
várias crianças menores de 15 anos foram credenciadas. Estabelecendo-se assim,
uma contrariedade ao parágrafo único do artigo 35 do Regimento Interno Nacional
no que diz: “Nas etapas eletivas, poderão votar e ser votados participantes acima
de 15 anos de idade, observados os critérios estabelecidos neste Regimento”,
assim houve uma exposição indevida de crianças, afrontando também o ECA;

9. Crachás e Material è A organização do evento não providenciou material


suficiente Chegando ao local do evento não havia material de credenciamento
suficiente para os participantes da conferência. Vale ressaltar que na última quinta-
feira dia 18.08.2011, já haviam mais de 02 mil inscrições, conforme declaração
dada pelo Secretário André Souza durante a conferência, e a SEMJE providenciou
material somente para 400 participantes. A entrega de crachá e material se deu
sem a identificação dos inscritos, não possibilitando a diferenciação entre ouvintes,
delegados e participantes por conta da falta de constatação da idade.

10. Apresentação de Nota de Repúdio com solicitações de


encaminhamento èVários movimentos e organizações apresentaram na plenária
uma nota de repúdio (em anexo) à condução da conferência apresentando uma
série de reivindicações que o Secretário Municipal se comprometeu em atender e
não foram atendidas;

11. Aprovação do Regimento Interno è Infelizmente o Regimento não foi


aprovado no primeiro momento da Conferência (vide programação do evento que
está em anexo), tivemos apresentações logo após a Mesa de abertura com 23
autoridades que tomou a manhã inteira do primeiro dia, prejudicando muito a
conferência, diminuindo assim o tempo e qualidade do debate e de participação
das juventudes. Com a demora da aprovação do Regimento, não havia segurança
de como proceder durante a conferência;

12. Estrutura e Logística insuficiente è Durante os 02 dias de conferência os


delegados ficaram sem almoço, havia dois bebedouro e quase sempre sem água e
sem copos descartáveis, somente 01 banheiro masculino e 01 feminino para os
presentes que segundo informações da SEMJE passavam de 1.170 pessoas
presentes. Não havia espaço adequado para realizar grupos de trabalho;

13. Metodologia e Condução è A metodologia inicialmente apresentada era de


painéis com pessoas da prefeitura palestrando sobre temáticas diversas com 90
minutos, provendo programas e ações da prefeitura, deixando somente 30 minutos
para os jovens debaterem (conforme apresentação em anexo) o que implicou
numa redução da proposição das juventudes nesta conferência e pela inoperância
e falta de condução da comissão organizadora, quase sempre havia palavras de
ordem contra a condução do processo por parte das juventudes presentes
dificultando assim o proveitamento do tempo. A plenária sempre se surpreendia
com a tentativa de corrigir as falhas da mesa organizadora.

14. Candidatura para delegados à Etapa Estadual è Segundo o Artigo 54 do


Regimento Interno Nacional que trata da eleição nas etapas municipais houve
desconsideração ao parágrafo 2º, onde não houve inscrição de candidatura para
delegados e delegadas à etapa Estadual. A votação não foi realizada de forma
individual e transparente dentro do plenário final da Conferência;

15. Debate dos eixos do texto base è Como dito anteriormente para o debate do
texto base sobrou-nos somente 03 ambientes: O Auditório Geral com 308 lugares,
Outro auditório menor com 110 lugares e uma sala pra 60 pessoas,
impossibilitando fazer o debate de forma mais profunda e de qualidade, pois o
tempo dado era mínimo, menos de uma hora, sendo que cada Grupo de Trabalho
ficaria com 02 Eixos com muitos sub-temas devido as especificidades juvenis;

16. Desrespeito da Mesa que conduzia os trabalhos è Quase sempre nos


momentos em que a mesa não conseguia impor a ordens aos trabalhos, os jovens
eram desrespeitados por quem direcionava os trabalhos com palavras de baixo
escalão, tais como “mal educados”, “desordeiros”, dentre outras, bem 8como
colocar a culpa pela desorganização da conferência nos jovens presentes na
plenária, que já estressados com toda a falta de respeito da mesa que dirigia os
trabalhos, proferiam palavras de ordem contra a mesma;

17. Conferência Laica è Infelizmente aconteceu episódio de cunho religioso


dentro da conferência, que não achamos coerente com a postura de um Estado
laico onde um Pastor puxa louvores e adorações no microfone oficial do evento.
No site da Prefeitura havia 02 enquetes (conforme anexo), em que perguntavam
qual a banda nacional e qual banda GOSPEL a juventude queria ouvir no
encerramento da conferência. Acreditamos que a organizaçao da conferencia não
deveria ter feito enquete de cunho religioso;

18. Agressão e abuso de força è Como a Mesa diretora não conseguia mais
ordenar os trabalhos no local, houve tumulto entre delegados pela falta de registro
de propostas acordadas num Grupo de Trabalho e assim a força policial foi
acionada. Muitos policiais cercaram a mesa principal do auditório e assim
aconteceram excessos como a agressão ao adolescente R.S.P de 16 anos
quando fazia questões de ordem sobre a conferência (conforme vídeo em anexo),
por um dos policiais e também remoção de participantes sem justificativa do
plenário, cerceando o direito de participar da plenária final da conferência. Tais
atitudes são consideradas por nós coação e uso indevido de força para intimidar
as manifestações de repúdio e revolta da juventude com a desorganização total da
conferência.

19. Sistema de Eleição è Aqui mais uma vez aconteceu desconsideração ao


Artigo 54 do regimento nacional. A Eleição deveria ser feita de forma em que cada
delegado credenciado na etapa municipal votaria em um candidato a delegado à
Etapa Estadual. Entretanto o que houve foi uma eleição de CHAPÃO, onde as
forças contariam seus tamanhos e assim dividiriam os delegados de forma
proporcional. Mas o que aconteceu foi uma fraude no processo eleitoral,
aparecendo mais crachás do que as listas apresentadas pelas forças presentes;

20. Final da Conferência è A direção da Assembléia Legislativa do Amazonas


(ALE-AM) que cedeu o auditório, pediu que a Conferência fosse encerrada por
conta da confusão, e que todos deixassem o local. A Conferência terminou na
Praça do Povo da ALE-AM com a presença de Policiais Militares que atuam na
Casa Legislativa, Seguranças patrimoniais e mais 03 viaturas da Ronda Ostensiva
Candido Mariano - ROCAM, um policiamento ostensivo que os movimentos
consideram desnecessário para tal evento, caracterizando um ato abusivo. Por fim
o próprio Secretário admitiu a fraude na votação final, uma vez que a contagem
final de votos foi maior do que a lista apresentada pelas organizações presentes
numa diferença de mais de 120 votos.

Acreditamos que há constatações suficientes, seguidas de indícios de que


aconteceram diversas ilegalidades no processo, antes e durante a conferência.
Por tanto, os movimentos de juventudes aqui REQUEREM a NÃO-
HOMOLOGAÇÃO da etapa municipal de Manaus da II Conferência Nacional
de Juventude, ocorrida em 22 a 23/08/2011.
Certos de que a justiça será feita e que a juventude manauara merece uma
conferência de fato e não um remendo de conferência despedimo-nos.
Atenciosamente,

PJ - PASTORAL DA JUVENTUDE

PJMP – PASTORAL DA JUVENTUDE DO MEIO POPULAR

PJE – PASTORAL DA JUVENTUDE ESTUDANTIL

CMM – CASA MAMÃE MARGARIDA

FPMM – FORUM PERMANTENTE DAS MULHERES DE MANAUS

RECID – REDE DE EDUCAÇÃO CIDADÃ DO AMAZONAS

MULHERES DO HIP-HOP

CMP – CENTRAL DOS MOVIMENTOS POPULARES

JPT – JUVENTUDE ESTADUAL DO PT

JSB - JUVENTUDE SOCIALISTA BRASILEIRA

JUVENTUDE DA CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES

FETTAGRI – FED. TRABALHADORES TRABALHADORAS DA


AGRICULTURA

GRUPO DE DANÇA FAQRA


COIAB – COORD. DAS ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS DA AMAZÔNIA
BRASILEIRA

COLETIVO JOVEM PELO MEIO AMBIENTE

COMUNICADORES POPULARES DE BASE

ADEIS

GREMIO ESTUDANTIL SOLON DE LUCENA

GREMIO ESTUDANTIL HOMERO DE MIRANDA LEÃO

GRÊMIO ESTUDANTIL DA ESCOLA ESTADUAL DOM PEDRO

GRÊMIO ESTUDANTIL DOM MILTON

GRÊMIO ESTUDANTIL ALDEIA DO CONHECIMENTO

GRÊMIO ESTUDANTIL SENADOR JOÃO BOSCO

MARCHA MUNDIAL DAS MULHERES

ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DO BAIRRO DO ARMANDO MENDES

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