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AULAS ESPECIAIS

PORTUGUÊS
AS OBRAS DA FUVEST

QUINCAS BORBA
JOAQUIM MARIA MACHADO DE ASSIS De acordo com Pereira (1988), aos poucos, as condições
de vida de Machado de Assis se alteraram significati-
1. VIDA vamente. Seu trabalho como escritor foi sendo cada vez mais
reconhecido e ele passou a levar uma vida mais confortável.
Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 21 de De acordo com Facioli (1982), ao lado da ascensão social de
junho de 1839, no morro do Livramento, Rio de Janeiro. Machado de Assis, ocorreu também uma mudança
Conforme Facioli (1982), Machado de Assis, do lado significativa de sua obra literária.
paterno, era neto de homens libertos. Seu pai, Francisco Quando faleceu, em setembro de 1908, Machado de
José de Assis, era agregado de uma família de posses e Assis, um dos fundadores e primeiro presidente da
trabalhava como pintor de paredes. Do lado materno, era Academia Brasileira de Letras, recebeu muitas homenagens
neto de homens livres, provenientes de humilde família que atestaram sua consagração como o maior escritor
açoriana. Sua mãe, Maria Leopoldina, faleceu quando brasileiro, na opinião quase unânime dos estudiosos de
Machado de Assis contava dez anos, seu pai se casou de literatura brasileira.
novo, com Maria Inês. Há muitas afirmações inconsistentes
em relação ao papel que sua madrasta exerceu em sua vida, 2. CARACTERÍSTICAS DA
sobretudo, quando o pai de Machado também veio a falecer. PROSA MACHADIANA
O certo é que Machado de Assis teve que vencer muitos
obstáculos para migrar de classe social, pois não teve Os críticos literários, ao mesmo tempo que consideram
educação formal regular e enfrentou muitas adversidades Machado de Assis um original mestre da linguagem,
por ser mulato num período em que ainda havia escravidão evidenciam o diálogo intenso e produtivo que sua obra
no Brasil. mantém com grandes escritores que o antecederam.
Desde cedo, trabalhou e buscou desenvolver sua carreira
literária. Tendo ingressado num ambiente jornalístico, um Segundo Achcar (2000), na prosa machadiana, tanto
mundo novo de aprendizado literário se abriu para ele. nos romances quanto nos contos, podem ser observados os
Contribuiu muito para sua evolução artística o fato de ele seguintes aspectos:
ter sido leitor bastante assíduo. Já na juventude, Machado • uma escrita bastante criativa, que não segue um
de Assis também se dedicou à prosa, escrevendo artigos esquematismo determinista, ou seja, não busca
sobre arte, poesia, literatura e crônicas e, aos poucos, passou causas muito explícitas para a explicação das
a integrar os círculos literários da Corte, apresentando, desde personagens e situações;
sempre, bom domínio da língua portuguesa literária e do • frases simples, desprovidas de enfeites. Os períodos
francês. costumam ser curtos e as palavras bem escolhidas;
Machado de Assis mostrou-se sempre uma pessoa • focalização das personagens de fora para dentro,
atualizada com o que se escrevia e se publicava no Brasil, havendo um trabalho de desmascaramento, daí ele
por conta de sua constante atividade crítica, jornalística e ser considerado como um agudo “analista da alma
literária. Apesar dessa intensa contribuição, foi um emprego humana”;
público que lhe garantiu uma situação econômica menos • referências constantes a outros textos de grandes
instável até o final de sua vida. Aos trinta anos, casou-se com autores ocidentais (intertextualidade);
Carolina Xavier de Novais, nascida no Porto, filha de um • uso de ironia, a arma mais corrosiva com que
artesão e comerciante português. O casal, sem filhos, teve Machado critica os comportamentos, os costumes
um convívio de 35 anos marcado por grandes afinidades e as estruturas sociais.
intelectuais.

–1
Machado de Assis dedicou-se, ao longo de sua carreira 5. QUINCAS BORBA E
literária, a vários gêneros literários: conto, romance, crônica, MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS
poesia, teatro, crítica, sendo considerado como contista e
romancista genial. Quincas Borba (1891) é visto, de certa forma, como
uma continuação de Memórias Póstumas de Brás Cubas
3. AMADURECIMENTO ESTILÍSTICO (1881). Nos dois romances, Quincas Borba é personagem;
DE MACHADO DE ASSIS há menção a sua filosofia, o Humanitismo; e, num
procedimento bastante original, o narrador de Memórias,
Brás Cubas, envia uma carta para um personagem de
A produção literária da primeira fase da obra macha-
Quincas Borba, Rubião, participando-lhe da morte do
diana trata da problemática da ascensão social de uma
filósofo.
perspectiva de quem ainda ocupa posição social não
No romance Quincas Borba, Rubião, um ex-professor
privilegiada. Conforme Schwarz (2000), a situação de
da cidade de Barbacena, é o protagonista. Sua trajetória
dependência social é explorada, na primeira fase macha- existencial serve para exemplificar a filosofia de Quincas
diana, como uma procura de um meio pelo qual tal Borba, o humanitismo.
dependência seja abrandada até a obtenção de alguma
libertação. Contudo, não há um questionamento do sistema
6. FOCO NARRATIVO
social propriamente dito, sendo assim, esse posicionamento
estaria ainda em consonância com o romantismo. Quincas Borba apresenta um narrador em terceira
O romance Quincas Borba (1891) pertence à segunda pessoa, onisciente. É por intermédio dele que os leitores
fase da escrita machadiana. Segundo Facioli (1982), na pouco a pouco são envolvidos na loucura do protagonista.
segunda fase, ocorre uma alteração da posição do narrador, O narrador é possuidor de cultura superior, livresca. “E
que se torna “uma voz de camada social diferente da que como vive a ostentar erudição, o narrador reforça as
narrava até então”. Assim, o narrador da segunda fase é dissonâncias com Rubião: indivíduo sem malícia, de ideias
reconhecido pela classe dominante como um de seus miúdas e palavras soltas” (Chauvin, 2016, p. 18). O uso de
membros. Nessa fase, segundo Schwarz (2000), há uma discurso indireto livre é um procedimento recorrente no
mudança de forma e de conteúdo, com o destaque do uso romance.
do humor e da ironia para desmascaramento da realidade. Em poucos momentos, o autor-narrador faz menção a si
Machado de Assis, na segunda fase, inova também ao usar mesmo (“Este Quincas Borba, se acaso me fizeste o favor de
formas literárias de um passado remoto, como, por exemplo, ler as Memórias Póstumas de Brás Cubas (cap. IV, p. 90).
a sátira menipeia1, cujo efeito literário é o de apresentar o Nesse caso, o escritor se identifica como autor e narrador de
um romance inventado.
ridículo de forma que o leitor se sinta livre para formar seu
próprio ponto de vista crítico, em vez do oferecer conselhos
METALINGUAGEM
moralizantes.
Metalinguagem é a explicação do autor acerca da
escrita do livro. Em Quincas Borba, o autor focaliza o seu
4. ROMANCES MACHADIANOS
próprio trabalho de escritor, explicando a seus leitores
como está organizando seu romance. Exemplificando:
Da primeira fase: Ressurreição (1872), A Mão e a
Luva (1874), Helena (1876), Iaiá Garcia (1878), Rubião estava arrependido, irritado, envergonhado. No capitulo
X deste livro ficou escrito que os remorsos deste homem eram
fáceis, mas de pouca dura; faltou explicar a natureza das ações
Da segunda fase: Memórias Póstumas de Brás que os podiam fazer curtos ou compridos (cap. LVI, p. 172)
Cubas (1881); Quincas Borba (1891); Dom Casmurro Aqui é que eu quisera ter dado a este livro o método de tantos
outros – velhos todos – em que a matéria do capítulo era posta
(1899); Esaú e Jacó (1904); Memorial de Aires (1908)
no sumário: “De como aconteceu isto assim, e mais assim (...)
(cap. CXII, p. 260).
Ao contrário, não sei se o capítulo que se segue poderia estar
todo no título” (cap. CXIV, p. 261).
1 Ref. ou pertencente a, ou ao estilo de Menipo de Gadara (séc. III a.C.), poeta

satírico e filósofo grego (sátira menipeia). Dicionário Aulete Digital.

2–
7. CONVERSA COM O LEITOR 10. INTERTEXTUALIDADE

Em Quincas Borba, o narrador dialoga com seu leitor, Em Quincas Borba, há diálogos intertextuais com
estimulando-o a prosseguir a leitura e a acompanhá-lo em livros da alta literatura. O narrador alude a vários livros
suas ideias e suposições. Esse procedimento é recorrente que podem ser lidos como intertextos. Conforme Chauvin
no romance. Exemplos: (2016), podem ser reconhecidos, dentre outros, o diálogo
intertextual desse romance com:
Vem comigo, leitor; vamos vê-lo, meses antes, à cabeceira do
Quincas Borba (cap. III, p. 89); Queres o avesso disso, leitor
Dom Quixote, de Miguel de Cervantes Saavedra (publicado
curioso? (...) (Cap. XXXI, p. 125).
entre 1605 e 1615); Tom Jones, de Henry Fielding (editado em
1749); A vida e as Opiniões do Cavaleiro Tristam Shandy, de
Laurence Sterne (publicado em dez volumes, entre 1759 e
8. A OBJETIVIDADE REALISTA 1769); Viagem à Roda do Meu Quarto, de Xavier de Maistre
(1794), Viagem na Minha Terra de Almeida Garret (1846)
Quincas Borba trata fundamentalmente do mundo (p.16).

objetivo, do mundo das relações sociais, do poder e do


dinheiro. Quando o narrador retrata a interioridade das 11. PARÓDIA
personagens, ele se ocupa em representar como a psico-
logia das personagens está articulada com os valores O Humanitismo aparece pela primeira vez nas
Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Em Quincas
sociais. Trata-se de um romance exemplar de realismo
Borba, Rubião é o ouvinte do filósofo. A filosofia de
psicológico. Em Quincas Borba, constata-se uma preocu-
Quincas Borba é vista como uma paródia do positivismo,
pação do escritor em representar de forma crítica e irônica
de Augusto Comte, e à teoria de Charles Darwin sobre a
a vida em sociedade em uma determinada época, denun-
seleção natural. A frase “Ao vencedor, as batatas!” remete
ciando os princípios e mecanismos que organizam as
a dos evolucionismos sociais, baseados no de Darwin,
relações sociais.
uma maneira de desvelar de forma irônica o caráter cruel
da “lei do mais forte”.
9. TEMPO E ESPAÇO
12. DIGRESSÃO
Machado de Assis, em Quincas Borba, trata de uma
questão de dimensão universal, a loucura, num ambiente Quincas Borba é visto, de acordo com Chauvin (2016)
nacional, dentro de determinado tempo histórico. como “legítimo sucessor da longa tradição de romances
que fizeram do estilo digressivo um método peculiar de
Conforme Chauvin (2016),
composição. A qualidade da obra machadiana confere ao
Atento às marchas e contramarchas da política nacional, autor posição de proeminência na literatura universal.”
Machado recuou a ação em vinte anos, de modo que a
(p. 16).
narrativa acontece no Rio de Janeiro entre 1867 e 1871:
cenário de ampla disputa política relacionada à conciliação Em Quincas Borba não há tanta divagação quanto em
ministerial. Em seu conturbado reinado, Dom Pedro II Memórias Póstumas de Brás Cubas, no entanto, ela
enfrentava os interesses do partido liberal e conservador. No também ocorre nesse romance, como se pode observar
romance, o tema é mencionado mais de uma vez pelo pela leitura do capítulo CXVII, quase que inteiramente
advogado e jornalista Camacho, um dentre os muitos
digressivo. Nesse capítulo, o relato do casamento de
beneficiários de Rubião (p. 16).
Maria Benedita é suspenso e o narrador discorre
predominantemente sobre a utilidade das catástrofes na
Barbacena, MG, também comparece como espaço do
vida das pessoas (como a epidemia de Alagoas que acabou
romance, no início e no desfecho dramático da história de
unindo, indiretamente, o casal Maria Benedita e Carlos
Rubião. Maria).

–3
FUSÃO DE GÊNEROS 16. RESUMO
De acordo com Sá Rego (1989), há fusão de O protagonista Rubião conhece Quincas Borba e
elementos cômicos e trágicos na composição do torna-se seu herdeiro universal de forma inesperada. De
protagonista do romance Quincas Borba: ex-professor, Rubião passa a capitalista. Fica surpreendido
com o patrimônio que acabara de receber, embora já tivesse
Rubião, o personagem central do romance, pertence à
pensado sobre possíveis vantagens que essa amizade poderia
categoria do “bom provinciano” recém chegado ao grande
centro urbano, onde sua ingenuidade e ignorância são lhe render se o amigo casasse com sua irmã Piedade, o que
exploradas por personagens mais mundanos e ambiciosos. não ocorreu, pois ambos morreram.
Trata-se assim de um dos personagens típicos da comédia, já Ao final da vida de Quincas Borba, Rubião presta-lhe
identificado desde Aristóteles sob o nome de agroikos, isto é, cuidados como enfermeiro. O enfermo transmite ao seu único
rústico, roceiro ou matuto. [...] No entanto, ao fazer de Rubião
um personagem que enlouquece e morre em situação patética, ouvinte sua filosofia, por meio de uma alegoria: duas tribos
Machado lhe atribui algumas características do herói trágico famintas, diante de um único campo de batatas, lutam entre
(p. 177). si pela sobrevivência. Na fórmula “Ao vencedor, batatas”,
está contida a ideia da luta como meio de seleção dos mais
13. PESSIMISMO REALISTA fortes, mas Rubião não a compreende profundamente.
Rubião faz planos sobre como aproveitar a herança
A visão de mundo presente no livro Quincas Borba é recebida e receia que alguém desconfie da sanidade mental
cética e pessimista, de um pessimismo derivado de de Quincas Borba e que, por isso, o testamento seja anulado.
Schopenhauer, filósofo alemão para quem a vida do homem No entanto, isso não acontece e, não havendo parentes
é marcada pela dor e pela infelicidade. A esse pessimismo é próximos, todo o patrimônio do filósofo é destinado a ele.
acrescentado o trabalho perverso do dinheiro e do poder. Quincas Borba só impôs uma condição: que Rubião
cuidasse de seu estimado cachorro, cujo nome também é
14. IRONIA Quincas Borba, não deixando nada lhe faltar. Enfim, devia
tratá-lo “como se cão não fosse, mas pessoa humana” (Assis,
De acordo com Massaud Moisés (1967), o tom irônico de 2016, capítulo XIV, pág. 107).
Quincas Borba encontra-se no fato de o romance ser Rubião, agora herdeiro, abandona sua vida pacata. Na
primeira vez que sai de Barbacena e viaja para a corte, numa
uma peça única de chacota à Humanidade desenfreadamente viagem de trem, conhece um casal, Cristiano e Sofia Palha.
presa a certos dogmas de superfície e incapaz de olhar mais a Rubião conta para eles que recebeu uma herança. Cristiano
fundo o íntimo dos problemas. A ironia atinge a todos, e só se muito amável dispõe-se a ajudar o rico herdeiro em tudo.
salvam (caso o consigam) os loucos, os mansos e os animais
irracionais (p.90).
Rubião já começa a se encantar por Sofia.
Desde que Rubião chega ao Rio de Janeiro, torna-se alvo
fácil de interesseiros. Não apenas o casal Palha busca levar
15. HERANÇA MALDITA
vantagem, ludibriando-o, outras pessoas também competem
pelos recursos financeiros de Rubião, que, de modo ingênuo,
De acordo com Antonio Cândido (1995), a herança
deixa-se enganar por todos. Dentre eles, há o Freitas,
recebida por Rubião não lhe traz benefício, antes faz de sua
frequentador assíduo da casa de Rubião, onde faz refeições
trajetória um caso exemplar da filosofia do Humanitismo:
e se esmera em bajular o anfitrião. Rubião é generoso com
No romance Quincas Borba, um modesto professor primário, ele, quando Freitas fica doente, arca com suas despesas e,
Rubião, herda do filósofo Quincas Borba uma fortuna, com a depois, com os custos de seu velório. Há o Camacho, outro
condição de cuidar de seu cachorro, ao qual dera o próprio adulador, que obtém de Rubião ajuda financeira para livrar o
nome. Mas com o dinheiro, que é uma espécie de ouro
maldito, como na lenda dos Nibelungen, Rubião herda
jornal A Atalaia do fechamento. Camacho faz com que
igualmente a loucura do amigo. A sua fortuna se dissolve em Rubião se sinta uma figura importante nesse jornal para
ostentação e no sustento de parasitas; mas serve sobretudo garantir que suas contribuições não cessem. Os comensais,
como capital para as especulações comerciais de um arrivista em pouco tempo, sentem-se à vontade na casa de Rubião,
hábil, Cristiano Palha, por cuja mulher, “a bela Sofia”, Rubião
como se ela pertencesse a eles. Acabam por formar um grupo
se apaixona. O amor e a loucura surgem aqui romanticamente,
de mãos dadas; mas o tertius gaudens é a ambição econômica, de pessoas com um objetivo em comum: obterem cada vez
baixo-contínuo do romance, de que Rubião se torna um mais benefícios de Rubião. O protagonista, diante da
instrumento. No fim, pobre e louco, ele morre abandonado; eloquência dos seus supostos amigos, nunca tem o que dizer
mas em compensação, como queria a filosofia do e, quando diz, sua linguagem é mal articulada. Não consegue
Humanitismo, Palha e Sofia estão ricos e considerados dentro
da mais perfeita normalidade social (p.35). interpretar o mundo que o cerca e sua fortuna vai sendo
dissipada pelos oportunistas que o rodeiam.
4–
Rubião visita o casal Palha com frequência. Tem total prima de Carlos Maria, participa desse ato filantrópico.
confiança em Cristiano e Sofia. O Palha gosta de expor a D. Fernanda aproxima-se de Maria Benedita e acaba
esposa para que todos possam admirá-la. Para tanto, promovendo o casamento de Carlos Maria com Maria
compra-lhe vestidos luxuosos, roupas que valorizam suas Benedita. A lua-de-mel do casal ocorre na Europa. Sofia,
belas curvas. Sofia, que no começo cedia sem vontade aos apesar de muito desapontada, não demonstra sua frustração
desejos de Cristiano, acaba por apreciar ser vista “para amorosa.
recreio e estímulo dos outros” (Assis, 2016, pág.135). Sofia O casal Palha vai ascendendo socialmente, obtendo cada
estabelece uma relação ambígua com Rubião, faz um jogo vez mais prestígio. Rubião é ingênuo, não entende os
de sedução, em que nem o desilude, nem o anima muito. mecanismos que governam a sociedade. Quando o casal
Rubião, a fim de conquistá-la, oferece-lhe joias muito obtém o status social e o patrimônio pelo qual tiveram tanto
valiosas e ela as aceita, como se fosse natural receber tais empenho, Rubião torna-se desnecessário. Cristiano não quer
presentes. É evidente a má fé do casal. dividir com Rubião grandes lucros futuros e planeja mudar-
Numa ocasião, durante um almoço com Freitas e Carlos se para um palacete, cujo projeto já encomendara. A partir
Maria, Rubião recebe de Sofia uma caixa de morangos e um daí, os Palha passam a tratá-lo com indiferença, buscam
bilhete, por meio do qual ela o convida para um jantar. romper o vínculo estabelecido.
Rubião aceita e, no jardim do lar dos Palha, sob a luz das O enlouquecimento de Rubião progride. Numa ocasião,
estrelas, se declara para a esposa de Cristiano. Sofia recusa ele imagina ser Napoleão III e corta a barba para ficar
o galanteio. Mais tarde, conta o que ocorreu para seu esposo, parecido com a personagem histórica. Seus acessos de
porém, Cristiano, que deve dinheiro para Rubião, diz a ela loucura tornam-se cada vez mais frequentes. Certo dia,
que cortar relações com o rico amigo não convém no imaginando Sofia como a imperatriz Eugênia, entra com ela
momento. Sofia, por sua vez, seduzida pelas atenções e num carro e delirante promete-lhe uma vida de luxo. Começa
presentes recebidos, também não deseja afastar o rico a distribuir títulos e patentes aos conhecidos, que passam a
herdeiro de sua casa. Rubião se sente envergonhado por sua evitá-lo, sobretudo, porque o dinheiro vai rareando. “Nos
atitude, afasta-se do convívio do casal por muitos dias. No acessos de loucura, Rubião constrói uma versão do mundo,
entanto, esse distanciamento leva Cristiano a procurá-lo em não na condição de provinciano subjugado, mas introjetando
Botafogo. Rubião conta aos seus convivas sobre seu desejo o papel de Imperador da França” (Chauvin, 2016, p.20).
de retornar a Minas. Os amigos não querem que ele retorne, A única a ter pena de Rubião é D. Fernanda. Cristiano
pois antecipam a perda do dinheiro que dele obtém com transfere-o do palacete de Botafogo, instalando-o em uma
facilidade. casa modesta, próxima do mar. Ali os delírios persistem.
Rubião retorna ao convívio com o casal Palha. Ali Rubião passa a ser zombado por todos, inclusive por crianças.
conhece Maria Augusta e Maria Benedita, tia e prima de Cristiano interna o ex-sócio, acompanhado pelo cão Quincas
Sofia, moradoras do interior e encontra Carlos Maria. Borba, numa casa de saúde.
Rubião está cada vez mais apaixonado por Sofia, que se Abandonado por todos, Rubião, com o cão, retorna a sua
mostra sempre muito amável com ele e sedutora, embora terra natal. Ambos sofrem a ação de uma tempestade e
esteja interessada em Carlos Maria, seu par predileto adormecem ao relento. Rubião, delirante, anda sem direção
nas valsas. pelas ruas de Barbacena. É acolhido por sua comadre
Rubião confia em Cristiano Palha, agora seu sócio, Angélica. Alguns dias depois, falece, acreditando ser
acredita que o marido de Sofia está fazendo seus negócios Napoleão III. Repete sempre a máxima do filósofo Quincas
ficarem mais lucrativos, não enxerga que está sendo Borba: "Ao vencedor, as batatas". Passados alguns dias morre
prejudicado. também o cachorro Quincas, nas ruas de Barbacena,
Aos poucos, evidenciam-se traços de loucura em abandonado.
Rubião. Ele acredita que se casar poderá se ver livre de sua No romance Quincas Borba, a loucura faz de Rubião
paixão doentia por Sofia. Começa a divagar, imaginando o uma personagem que “adquire máxima estatura perante o
luxo e a riqueza da festa de casamento, da qual participaria leitor” (Chauvin, 2016, p.21), apesar de ter sido escarnecido
a mais alta aristocracia. A escolha concreta de uma noiva é pelas personagens do romance. Para Ivan Teixeira,
deixada de lado por ele. [...] a loucura de Rubião pode parecer um ato voluntário, uma
Depois da morte da tia Maria Augusta, Sofia e Cristiano astúcia de quem não teve sorte ou talento para presidir a
hospedam a prima Maria Benedita. Pretendem casá-la com própria vida. Mas no fim, mostrou-se pertinaz a solução da
Rubião. Para Sofia esse casamento seria conveniente, loucura. Em vez de admitir a exterioridade dos fatos, optou
pela verdade do mundo interior. Afinal, ao Cruzeiro do Sul e
inclusive por afastar a prima de Carlos Maria. Durante uma
a toda natureza, enfim, é indiferente se o homem ri ou chora
epidemia em Alagoas, Sofia e Maria Benedita buscam cá na terra. E Rubião morreu mais feliz do que se tivesse
angariar fundos. D. Fernanda, esposa do deputado Teófilo e mantido a lucidez (p.114)
–5
17. PERSONAGENS Era daquela casta de mulheres que o tempo, como um escultor
vagaroso, não acaba logo, e vai polindo ao passar dos longos
Rubião: ex-professor interiorano, ingênuo, não acostu- dias. Essas esculturas lentas são miraculosas; Sofia rastejava os
vinte e oito anos; estava mais bela que aos vinte e sete; era de
mado ao jogo social, herdeiro da fortuna de Quincas Borba, supor que só aos trinta desse o escultor os últimos retoques, se
novo-rico, sem malícia, suas ideias não têm grande alcance não quisesse prolongar ainda o trabalho por dois ou três anos.
nem profundidade, não conhece o código da sociabilidade Os olhos, por exemplo, não são os mesmos da estrada de ferro,
da corte, também não domina bem o código da palavra quando o nosso Rubião falava com o Palha, e eles iam
sublinhando a conversação... Agora, parecem mais negros, e já
escrita, possui pouca cultura, falta-lhe eloquência, sua não sublinham nada; compõem logo as coisas, por si mesmos,
postura é tímida e envergonhada, simplório, influenciável, em letra vistosa e gorda, e não é uma linha nem duas, são
não desconfia da trama armada ao seu redor, morre louco e capítulos inteiros. A boca parece mais fresca. Ombros, mãos,
pobre. Discípulo do filósofo Quincas Borba, vive na pele o braços, são melhores, e ela ainda os faz ótimos por meio de
atitudes e gestos escolhidos. Uma feição que a dona nunca pôde
fundamento teórico do Humanitismo, filosofia fictícia do suportar, — coisa que o próprio Rubião achou a princípio que
referido filósofo. destoava do resto da cara, — o excesso de sobrancelhas, — isso
mesmo, sem ter diminuído, como que lhe dá ao todo um aspecto
Rubião suspirou, cruzou as pernas, e bateu com as borlas do muito particular.
chambre sobre os joelhos. Sentia que não era inteiramente Traja bem; comprime a cintura e o tronco no corpinho de lã fina
feliz; mas sentia também que não estava longe a felicidade cor de castanha, obra simples, e traz nas orelhas duas pérolas
completa. Recompunha de cabeça uns modos, uns olhos, uns verdadeiras, — mimo que o nosso Rubião lhe deu pela Páscoa
requebros sem explicação, a não ser esta, que ela o amava, e (Cap. XXXV - pp. 132-133).
amava muito. Não era velho; ia fazer quarenta e um anos; e
rigorosamente, parecia menos. Esta observação foi
acompanhada de um gesto; passou a mão pelo queixo, QUINCAS BORBA: filósofo autor do Humanitismo,
barbeado todos os dias, coisa que não fazia dantes, por torna Rubião seu discípulo e herdeiro universal, este
economia e desnecessidade. Um simples professor! Usava personagem que já aparecera em Memórias Póstumas de
suíças (mais tarde deixou crescer a barba toda) – tão macias,
que dava gosto passar os dedos por elas (cap. III, p.89).
Brás Cubas.
[...] Saberia Rubião que o nosso Quincas Borba trazia aquele
Cristiano Palha: vaidoso em relação à esposa (Sofia) grãozinho de sandice, que um médico supôs achar-lhe?
e ao status conquistado, calculista, torna-se íntimo de (Cap. IV, p. 90)

Rubião e explora sua ingenuidade. Torna-se o administrador Quincas Borba, que não deixara de andar, parou alguns instantes.
da herança de Rubião e pouco a pouco vai dilapidando-a. – Queres ser meu discípulo?
– Quero.
– Bem, irás entendendo aos pouco a minha filosofia; no dia em
Na estação de Vassouras, entraram no trem Sofia e o marido,
que a houverdes penetrado inteiramente, ah! nesse dia terás o
Cristiano de Almeida e Palha. Este era um rapagão de trinta e maior prazer da vida, porque não há vinho que embriague como
dois anos (...). a verdade. Crê-me, o Humanitismo é o remate das coisas; e eu,
Depois que o trem continuou a andar, foi que o Palha reparou que o formulei, sou o maior homem do mundo (...) (Cap. III,
na pessoa de Rubião, cujo rosto, entre tanta gente carrancuda pp. 95-96).
ou aborrecida, era o único plácido e satisfeito. (...) Quem sou eu, Rubião? Sou Santo Agostinho (...) (cap. X, p. 103).
– Meu desejo é ficar, e fico mesmo – acudiu Rubião – ; estou
cansado da Província; quero gozar a vida. Pode ser até que vá
à Europa (...) Quincas Borba (o cão): tem o mesmo nome do
Os olhos de Palha brilharam instantaneamente” (Cap. XXI, filósofo do Humanitismo, seu primeiro dono. Companheiro
pp. 114-115).
fiel, sobretudo nos momentos mais difíceis da trajetória
[...] zangão da praça, (...) gostava de ganhar dinheiro, era tragicômica de Rubião.
jeitoso, ativo, e tinha o faro dos negócios e das situações. Em
1864, apesar de recente no ofício, adivinhou – (...) as falências
Rubião achou um rival no coração de Quincas Borba – um cão,
bancárias. (cap. XXXV, p. 133).
um bonito cão, meio tamanho, pelo cor de chumbo, malhado
de preto. [...] Uma das extravagâncias do dono foi dar-lhe o
Sofia: Casada com Cristiano Palha, sedutora, tem seu próprio nome. (Cap. V, p. 91).
consciência do poder que exerce sobre Rubião, colabora Queria dizer aqui o fim do Quincas Borba, que, adoeceu tam-
com os planos de ascensão do marido, Cristiano Palha. bém, ganiu infinitamente, fugiu desvairado em busca do dono, e
Aprecia ser admirada e ostentar luxo. amanheceu morto na rua, três dias depois (Cap. CCI, p.380)

As senhoras casadas eram bonitas; a mesma solteira não devia ter


sido feia, aos vinte e cinco anos; mas Sofia primava entre todas
elas. (...)

6–
Carlos Maria: amigo do casal Palha, torna-se amigo Entende-se bem que dona Tonica observasse a contemplação dos
também de Rubião. Tem boa aparência, é seguro de si, dois. Desde que Rubião chegou, não cuidou ela mais que de
atraí-lo. Os seus pobres olhos de trinta e nove anos, olhos sem
altivo, irônico, esnobe, galanteador, vaidoso, presunçoso, parceiros na terra, indo já a resvalar do cansaço na desesperança
endeusado pelas mulheres (sobretudo por Maria Benedita, (...) (cap. XXXVII, p. 136)
com que acaba por casar).
A filha ria-se, estava acostumada às graças do pai, e tão disposta
à alegria que nada a vexava; ainda mesmo que o pai se referisse
Queres o avesso disso, leitor curioso? Vê este outro convidado
aos seus quarenta anos passados, não lhe daria grande golpe.
para o almoço, Carlos Maria. Se aquele tem os modos "expan-
sivos e francos”, — no bom sentido laudatório, — claro é que Todas as noivas têm quinze anos (Cap. CLXXXI, p. 359).
ele os tem contrários. Assim, não te custará nada vê-lo entrar na
sala, lento, frio e superior, ser apresentado ao Freitas, olhando D. Fernanda: casamenteira, de boa índole, generosa,
para outra parte. Freitas que já o mandou cordialmente ao diabo
por causa da demora (é perto do meio-dia), corteja-o agora
única a se compadecer do destino de Rubião. Promove o
rasgadamente, com grandes aleluias íntimas. casamento de Carlos Maria com Maria Benedita.
Também podes ver por ti mesmo que o nosso Rubião, se gosta
mais do Freitas, tem o outro em maior consideração; esperou- [...] Sofia organizou a comissão, que trouxe novas relações à
o até agora, e esperá-lo-ia até amanhã. Carlos Maria é que não família Palha. Incluída entre as senhoras que formavam uma
tem consideração a nenhum deles. Examinai-o bem; é um das subcomissões, Maria Benedita trabalhou com todas, mas
galhardo rapaz de olhos grandes e plácidos, muito senhor de si, granjeou em especial a estima de uma delas, D. Fernanda,
ainda mais senhor dos outros. Olha de cima; não tem o riso esposa de um deputado. D. Fernanda tinha pouco mais de trinta
jovial, mas escarninho. Agora, ao sentar-se à mesa, ao pegar no anos, era jovial, expansiva, corada e robusta; nascera em Porto
talher, ao abrir o guardanapo, em tudo se vê que ele está Alegre, casara com um bacharel das Alagoas, deputado agora
fazendo um insigne favor ao dono da casa, — talvez dois, — por outra província, e, segundo corria, prestes a ser ministro de
o de lhe comer o almoço, e o de lhe não chamar pascácio Estado (cap. CXVIII, p. 270).
(cap. XXXI, pp. 125-6).

Freitas: extrovertido, bajulador, comensal na residência


Maria Benedita: prima de Sofia, moça casadoura,
de Rubião.
endeusa Carlos Maria de quem se tornou esposa.
Engana-se, senhor; trago esta máscara risonha, mas eu sou triste.
(...) Em verdade, não era uma beleza; não lhe pedissem olhos Sou um arquiteto de ruínas [...]
que fascinam, nem dessas bocas que segredam alguma coisa,
ainda caladas; era natural, sem acanho de roceira; e tinha um E Rubião ria-se; gostava daqueles modos expansivos e francos.
donaire particular, que corrigia as incoerências do vestido. (cap. XXX, p. 125)

Nascera na roça e gostava da roça. (...) A educação foi sumária:


ler, escrever, doutrina e algumas obras de agulha. Sofia apertou Teófilo: marido de D. Fernanda, ambicioso, ajusta-se
com ela para aprender piano (...) (cap. LXIV, p.185-186). às mudanças do jogo político ocorridas durante a crise
Você que tem? – perguntou Maria Benedita ao marido, logo ministerial.
que ficaram sós.
(...) (...) Aí vamos com a trouxa às costas. O marquês pediu-me
instantaneamente que aceitasse uma presidência de primeira
– Você me perdoa? Perguntou a mulher, quando o viu fechar ordem. Não podendo meter-me no gabinete, onde tinha lugar
o folheto. – Daqui em diante vou ser menos tagarela (cap. marcado, desejava, queria e pedia que eu partilhasse a responsa-
CLXX, p. 341-342) bilidade política e administrativa do governo, assumindo uma
presidência.
Camacho: jornalista, envolvido na política, fala (...) No dia do embarque, logo cedo, foi despedir-se do gabinete
afetada, verborrágico, pede contribuições para Rubião para de trabalho. Deitou os últimos olhos aos livros, relatórios,
livrar o jornal A Atalaia do fechamento. orçamentos, manuscritos, a toda essa parte da família, que só
tinha língua e interesse para ele. (cap. CLXXVIII)
Camacho era um homem político. Formado em direito em 1844,
pela faculdade de Recife, voltara para a província natal, onde
começou a advogar; mas a advocacia era um pretexto. Já na
Major Siqueira: observador da sociedade que o
academia, escrevera um jornal político, sem partido definido, cerca, pai de D. Tonica.
mas com muitas ideias colhidas aqui e ali, e expostas em estilo
meio magro e meio inchado(...) (cap. LVII, p. 173). A luz do fósforo deu à cara do major uma expressão de escárnio,
ou de outra coisa menos dura, mas não menos adversa. Rubião
D. Tonica: Filha do Major Siqueira, solteirona, sentiu correr-lhe um frio pela espinha. Teria ouvido? visto?
advinhado? Estava ali um indiscreto, um mexeriqueiro? A cara
frustrada. Sempre à espera de um noivo, que poderia ser do homem não explicava esse ponto; em todo caso, era mais
Rubião, mas este está interessado em Sofia. Acaba seguro crer no pior (cap. XLII , p.145).
arranjando um noivo, que morre dias antes do casamento.
–7
Referências
ACHCAR, Francisco. Contos de Machado de Assis – Coleção Objetivo – São Paulo: 2000 (pág. 9 a 11; 108 e 118)
ASSIS, Machado. Quincas Borba. São Paulo: Ateliê Cultural, 2016.
CÂNDIDO, Antonio. Esquema de Machado de Assis. In: Vários escritos. 3. ed. revista e ampliada. São Paulo: Duas
Cidades, 1995.
CHAUVIN, Jean Pierre. Apresentação de Quincas Borba. Quincas Borba, Machado de Assis: São Paulo: Ateliê
Editorial, 2016.
FACIOLI, Valentim Aparecido. Várias histórias para um homem célebre (biografia intelectual). Em Bosi et al.
Machado de Assis. São Paulo: Ática, 1982.
MOISÉS, Massaud. “Nota Preliminar”. In: Machado de Assis. Memorial de Aires/O alienista. 4ª. ed., São Paulo:
Cultrix, 1967.
PEREIRA, Lúcia Miguel. Prosa de Ficção (de 1870 a 1930). Em Machado de Assis, J.M. Obra Completa, vol. I,
Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1988.
SÁ REGO, Enylton de. Machado de Assis, a Sátira Menipeia e a Tradição Luciânica, Rio de Janeiro,
Forense Universitária, 1989, p. 177.
SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo – Machado de Assis, São Paulo: Duas Cidades, Ed. 34, 2000.
TEIXEIRA, Ivan, Apresentação de Machado de Assis, São Paulo: Martins Fontes, 1987, p. 109

Exercícios
Texto 1.

“O mais significativo, agora, é a possibilidade de passagem de uma classe para outra; a principal escada utilizada com
esse objetivo são os negócios, e Cristiano Palha, ex-seminarista, junto com sua esposa Sofia, filha de um funcionário
público, são mostrados com cuidadosos detalhes, em sua suave e cínica ascensão através dos escalões sociais”.
(Gledson, John. Machado de Assis: ficção e história. 2 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003, pág. 58)

1. Considerando esse fragmento crítico, o que motiva o casal Palha a se aproximar de Rubião?

Texto 2

“Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que
assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas
tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz,
nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas
públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas.”
(Assis, 2016, cap. 6, pág)

2. Para explicar a filosofia do Humanitismo, Quincas Borba usa metáforas. O que elas evidenciam?

3. No início do romance, Rubião pensa: “Deus escreve certo por linhas tortas”. A que acontecimento trágico (“linhas
tortas”) que resultou em algo favorável (“escreve certo”) ele se refere?

8–
Texto 4

“Rubião é o mais nítido exemplo do mecanismo de devoração do homem pelo homem, instrumento da ambição
econômica da sociedade urbana de Palhas e Sofias, Camachos e Freitas. Tal qual os fracos e puros, é manipulado como
uma coisa, exatamente por uma galeria de personagens terríveis, todos homens de corte burguês impecável,
perfeitamente entrosados nos mores de sua classe e seu espaço experencial.”
(Senna, M. O olhar oblíquo do bruxo: ensaios em torno de Machado de Assis. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998, pág. 87)

4. Nesse texto, Rubião é apresentado como alvo fácil a ser explorado por homens inescrupulosos. Em que consiste a
fraqueza do protagonista?

5. As personagens do romance Quincas Borba seguem quais motivações internas para seus atos?

–9
GABARITO
AS OBRAS DA FUVEST
PORTUGUÊS

QUINCAS BORBA
1. A busca por ascensão social é o que motiva o casal Palha a se aproximar de Rubião. O romance Quincas Borba retrata com realismo
a verdadeira natureza das relações sociais.

2. As metáforas usadas na alegoria acerca da filosofia do Humanitismo demonstram a supremacia do mais forte em relação ao mais
fraco. Na luta pela sobrevivência, apenas os indivíduos fortes e aptos sobrevivem e vencem, a guerra serve para garantir a vitória e a
permanência de um dado grupo, também para que o indivíduo obtenha reconhecimento perante os demais.

3. Trata-se do casamento não ocorrido entre Quincas Borba e Piedade, irmã de Rubião. Caso o enlace matrimonial tivesse ocorrido, ele
teria somente “uma esperança colateral”. Como eles não casaram, inclusive ambos morreram acometidos por doença, toda a fortuna
de Quincas Borba foi destinada a Rubião. Embora com a consciência pesada, Rubião fica satisfeito com a morte dos dois, pois o
casamento e posteriormente um possível filho acabaria com a possibilidade de enriquecimento do protagonista.

4. A fraqueza de Rubião consiste na sua ingenuidade. Ele desconhece o código que rege a sociabilidade da corte.

5. As personagens de Quincas Borba predominantemente são movidas pela busca de status social elevado e da realização de seus interesses
individuais materialistas

10 –

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