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A VITIMIZAÇÃO DE
MULHERES NO BRASIL
4ª EDIÇÃO - 2023
Realização: Patrocínio:
VISÍVEL E INVISÍVEL:
A VITIMIZAÇÃO DE
MULHERES NO BRASIL
4ª EDIÇÃO - 2023
Ficha institucional e técnica
Conselho de Administração
Presidente: Cássio Thyone A. de Rosa
Presidente de honra: Elizabeth Leeds
Conselheiros
Alexandre Pereira da Rocha
Arthur Trindade M. Costa
Daniel Ricardo de Castro Cerqueira
Denice Santiago
Edson Marcos Leal Soares Ramos Equipe Técnica
Juliana Lemes da Cruz Betina Warmling Barros
Marlene Inês Spaniol Dennis Pacheco
Paula Ferreira Poncioni Amanda Lagreca Cardoso
Roberto Uchôa Talita Nascimento
Marina Bohnenberger
Conselho fiscal Juliana Brandão
Lívio José Lima e Rocha Thaís Carvalho (estagiária)
Patrícia de Oliveira Nogueira
Supervisão Administrativa e Financeira
Diretor Presidente Débora Lopes
Renato Sérgio de Lima
Equipe Administrativa
Diretora Executiva Elaine Rosa
Samira Bueno Sueli Bueno
Antônia de Araujo
Coordenação de Projetos
David Marques Ficha Técnica do Projeto
Visível e Invisível: A Vitimização de Mulheres no
Coordenação Institucional Brasil - 4ª edição – 2023
Juliana Martins Samira Bueno, Juliana Martins, Juliana Brandão,
Isabela Sobral, Amanda Lagreca
Supervisão de Núcleo de Dados Ilustrações: Lais Oliveira
Isabela Sobral Diagramação: Oficina22
Gráfico 1: Avaliação da população em relação à violência contra as mulheres nos últimos 12 meses,
série histórica (2021 e 2023). .............................................................................................. 12
Gráfico 2: Presenciou alguma dessas situações – Respostas afirmativas, mulheres. ................................ 14
Gráfico 3: Prevalência de violência física e/ou sexual por parte de parceiro íntimo ao longo da vida. .... 16
Gráfico 4: Violência provocada por parceiro íntimo ao longo da vida. ................................................. 16
Gráfico 5: Violência provocada por parceiro íntimo ao longo da vida – física, sexual e psicológica. ...... 17
Gráfico 6: Mulheres vítimas de violência nos últimos 12 meses............................................................ 22
Gráfico 7: Evolução dos níveis de vitimização entre mulheres no Brasil. Série histórica, 2017-2023..... 22
Gráfico 8: Vitimização de mulheres nos últimos 12 meses, por situação conjugal. ............................... 29
Gráfico 9: Local onde ocorreu a violência mais grave. Série histórica, 2017-2023. ............................... 30
Gráfico 10: Principais autores de violência. Série histórica, 2017-2023. ............................................... 32
Gráfico 11: Vítima de violência ou agressão nos últimos 12 meses, PEA e não PEA. ............................ 33
Tabela 1: Nos últimos 12 meses, você viu alguma dessas situações acontecendo no seu bairro
ou comunidade? (Resposta estimulada e múltipla, em %) – Série histórica (2017 – 2023).... 13
Tabela 2: Vitimização ao longo da vida por parceiro ou ex-parceiro. Projeção populacional. ................ 17
Tabela 3: Violência provocada por parceiro íntimo ao longo da vida, por faixa etária. .......................... 18
Tabela 4: Violência provocada por parceiro íntimo ao longo da vida, por escolaridade. ........................ 19
Tabela 5: Violência provocada por parceiro íntimo ao longo da vida, por raça/cor. .............................. 20
Tabela 6: Violência provocada por parceiro íntimo ao longo da vida, existência ou não de filhos. ........ 20
Tabela 7: Vitimização nos últimos 12 meses - Série histórica (2017 - 2023)......................................... 21
Tabela 8: Mulheres vítimas de violência no último ano. Projeção populacional. ................................... 23
Tabela 9: Vitimização de mulheres nos últimos 12 meses, por faixa etária. ........................................... 25
Tabela 10: Vitimização de mulheres nos últimos 12 meses, por escolaridade. ....................................... 25
Tabela 11: Vitimização de mulheres nos últimos 12 meses, por renda familiar mensal. ........................ 26
Tabela 12: Vitimização de mulheres nos últimos 12 meses, por raça/cor. ............................................. 27
Tabela 13: Vitimização de mulheres nos últimos 12 meses, por existência de filhos.............................. 27
Tabela 14: Vitimização de mulheres nos últimos 12 meses, por situação conjugal. ............................... 28
Tabela 15: Média de agressões sofridas no último ano. ......................................................................... 29
Tabela 16: Autor da violência mais grave sofrida. ................................................................................. 31
Tabela 17: Atitude em relação a essa agressão mais grave sofrida nos últimos 12 meses.
Série histórica, 2017-2023 .................................................................................................. 35
Tabela 18: Vitimização por assédio sexual nos últimos 12 meses. Projeção populacional. ..................... 38
Tabela 19: Vitimização por assédio sexual nos últimos 12 meses. Série histórica, 2017 - 2023. ............ 39
Tabela 20: Vitimização por assédio sexual, por faixa etária. .................................................................. 39
Tabela 21: Vitimização por assédio sexual, por escolaridade. ................................................................ 40
Tabela 22: Vitimização por assédio sexual, por raça/cor. ...................................................................... 41
Tabela 23: Políticas públicas consideradas importantes para o enfrentamento à violência contra
a mulher segundo as entrevistadas. ..................................................................................... 45
Apresentação Uber
ação de violência doméstica que se viram em iso- mens que usam o aplicativo - usuários e moto-
lamento social junto aos seus agressores. Além da ristas parceiros - reforçando o principal ponto
ferramenta disponibilizar diversos tipos de apoio, do Código da Comunidade Uber: que o respei-
como assistência social, psicológica e jurídica, essa to precisa ser a base de todas as interações por
mulher recebe um código promocional para solici- meio do aplicativo e qualquer coisa diferente
tar uma viagem de forma gratuita no aplicativo da disso pode levar à desativação da conta, além da
Uber e se deslocar com independência. colaboração da empresa com o sistema de per-
secução criminal, se for o caso. Também com
E se por um lado os dados evidenciam a existên- o MeToo, criamos um canal de suporte psico-
cia de uma epidemia de violência contra lógico para auxiliar vítimas de violência
a mulher no Brasil, eles também de gênero e discriminação. São até
apontam para algumas das ações quatro sessões de uma hora cada,
consideradas relevantes para o que são conduzidas por psicó-
enfrentamento dessa questão, logas especializadas para dar
como suporte psicológico, um primeiro acolhimento e
campanhas de conscientiza- auxiliar a pessoa para que ela
ção e acesso às necessidades se sinta segura e apoiada ao
básicas para as mulheres em enfrentar o trauma vivido.
situação de violência. Nesse
sentido, a Uber além de ser uma Sabemos que esse é um enfren-
oportunidade de geração de ren- tamento de longo prazo e segui-
da com flexibilidade para mulheres em remos trabalhando tendo a segurança
busca de sua autonomia financeira, está compro- como prioridade, a tecnologia como aliada e as
metida em atuar nos dois espectros desse enfren- autoridades e a sociedade civil organizada como
tamento: a prevenção por meio de conteúdos edu- parceiras.
cativos e o suporte humanizado com profissionais
especializados. Natália Falcón
Gerente de Comunicação para Assuntos de
Em parceria com o MeToo Brasil, desenvolve- Segurança e de Parcerias para Enfrentamento à
mos uma campanha educativa para todos os ho- Violência contra a Mulher
É importante que se diga, portanto, os efeitos duziu um estudo, publicado ano passado pelo O
perniciosos de ações como estas. A violência que Globo, que mostrou crescimento de 270,6% no
atinge meninas e mulheres tem como raiz os di- número de grupos neonazistas no Brasil. Em co-
ferentes valores atribuídos culturalmente a mu- mum, estes grupos promovem o ódio a feministas,
lheres e homens que determinam expectativas negros, população LGBTQIA+ e judeus1.
sobre seus comportamentos. É a desigualdade
de gênero nas relações entre homens e mulheres, Pesquisa recente conduzida pela Monash Univer-
consolidada ao longo de centenas de anos, que sity e pela ONU Mulheres buscou compreender
delineia as assimetrias e produz relações violentas como a expansão do extremismo violento2 na In-
através de comportamentos que induzem donésia, Bangladesh e Filipinas reverbera
as mulheres a submissão (Bianchini, na agenda de gênero. Como resulta-
Bazzo e Chakian, 2022). Quem do, concluíram que atitudes ma-
nunca leu notícia de imprensa chistas e o suporte a compor-
sobre um feminicídio em que tamentos violentos contra as
familiares da vítima diziam mulheres constituem os fato-
que o agressor ameaçara a res mais fortemente associa-
mulher “se não for mais mi- dos ao apoio à violência. Nos
nha, não será de ninguém”? A três países estudados, pessoas
ideia de que a mulher é pro- que apoiam a violência contra
priedade vitalícia de um homem mulheres (e que possivelmente
e que, portanto, não tem o direito são autoras de violência) são três
de se separar é, possivelmente, uma das vezes mais suscetíveis a apoiar o extre-
expressões mais brutais da violência de gênero mismo violento, ou seja, apoiar que práticas vio-
em nossa sociedade. lentas sejam empregadas para alcançar objetivos
ideológicos, políticos ou religiosos.
Este processo parece ter se intensificado na socieda-
de brasileira com a eleição do político de extrema- Não parece surpresa, portanto, que os dados aqui
-direita Jair Bolsonaro. Se a eleição de Bolsonaro apresentados revelem um cenário avassalador de
é sintoma de uma sociedade em que grupos ultra- agravamento da violência contra a mulher. Se os
conservadores encontraram espaço para florescer, números servem para chocar, também podem fun-
foi em sua gestão que a violência política, a violên- cionar como bússola para guiar a ação do Estado,
cia contra jornalistas (especialmente mulheres), e das empresas e da sociedade civil em busca de so-
a radicalização de parte significativa da população luções capazes de garantir a vida e a segurança de
se consolidaram. A antropóloga Adriana Dias con- milhões de brasileiras.
Metodologia
Conceitos importantes
Violência provocada por parceiro íntimo: defi- Violência física: qualquer conduta que ofenda a
nida como qualquer comportamento no âmbito integridade ou saúde corporal da mulher. Inclui
de uma relação íntima que cause danos físicos, atos como tapas, socos, chutes e espancamentos
sexuais, psicológicos e comportamentos controla- (Política Nacional de enfrentamento à violência
dores, durante ou após o término de uma relação contra a Mulher, 2011).
(OMS, 2012).
Violência sexual: É a ação que obriga uma pessoa
Violência contra a mulher: constitui qualquer a manter contato sexual, físico ou verbal, ou parti-
ação ou conduta baseada no gênero que cause cipar de outras relações sexuais com uso da força,
morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psi- intimidação, coerção, chantagem, suborno, ma-
cológico à mulher, tanto no âmbito público, como nipulação, ameaça ou qualquer outro mecanismo
no privado (Convenção de Belém do Pará, 1994). que anule o limite da vontade pessoal. Constituem
violência como relações sexuais forçadas e outras larização, exploração e limitação do direito de ir e
formas de coerção sexual (Política Nacional de en- vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo
frentamento à violência contra a Mulher, 2011). à saúde psicológica e à autodeterminação (Políti-
ca Nacional de enfrentamento à violência contra a
Violência psicológica: conduta que cause dano Mulher, 2011).
emocional e diminuição da autoestima da mulher
ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvol- Prevalência: a prevalência é uma medida estática
vimento, ou ainda que vise degradar ou controlar que representa a aferição do número de casos exis-
suas ações, comportamentos, crenças e decisões, tentes em uma população em um dado período.
mediante ameaça, constrangimento, humilhação, Diferentemente da incidência, a prevalência só
manipulação, isolamento, vigilância constante, considera um evento de determinada doença ou
perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicu- evento por indivíduo (Gomes, 2015).
Percepção da violência
Gráfico 1: Avaliação da população em relação à violência contra as mulheres nos últimos 12 meses,
série histórica (2021 e 2023).
80,0
73,5
70,0
65,2
60,0
50,0
40,0
30,0
25,5
21,9
20,0
10,0 6,4
2,4 2,1 2,9
0,0
Aumentou Diminuiu Permaneceu a mesma Não sabe
2021 2023
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Instituto Datafolha. Pesquisa Visível e Invisível: a vitimização
de mulheres no Brasil, edições 3 e 4, 2021 e 2023. Amostra total, resposta estimulada e única, em %.
ditava no aumento da violência contra a mulher. Essa diferença na percepção da população na última
Entre aqueles que afirmaram ter permanecido da pesquisa parece coerente com os relatos de testemu-
mesma forma, cresceu de 22% para 26% e entre os nho sobre mulheres sofrendo violência, que perma-
que acreditam que a violência contra a mulher di- neceu estável na comparação com a última pesquisa,
minuiu houve crescimento de 4 pontos percentu- mas que vem demonstrando redução desde a pri-
ais, passando de 2% para 6% na última pesquisa. meira pesquisa realizada em 2017. Os resultados
mais recentes indicam que 52% da população
Quando comparamos as respostas de homens e mu- testemunhou alguma situação envolvendo meni-
lheres para as duas baterias verificamos diferenças sig- nas e mulheres sendo agredidas por parentes ou
nificativas. De modo geral, mulheres apresentaram parceiro íntimo, bem como homens brigando ou
maior percepção sobre crescimento da violência con- abordando mulheres de forma desrespeitosa. Em
tra a mulher (70,6%) do que entre homens (59,4%). 2017, 66% da população afirmou o mesmo.
Tabela 1: Nos últimos 12 meses, você viu alguma dessas situações acontecendo no seu bairro
ou comunidade? – Série histórica (2017 – 2023).
2017 2019 2021 2023
VIU ALGUMA DESSAS SITUAÇÕES 66,0 59,0 51,1 52,0
Meninas, moças ou mulheres adultas que residem na sua vizinhança sendo agredidas 30,0 20,0 17,5 18,2
por parentes como pai, padrasto, irmão, tio, cunhado, avô, etc
Mulheres que residem na sua vizinhança sendo agredidas por maridos, companheiros, 37,0 28,0 24,8 25,4
namorados ou ex-maridos, ex-companheiros, ex-namorado
Mulheres que residem na sua vizinhança sendo ameaçadas por seus companheiros, 37,0 29,0 25,2 26,7
maridos, namorados ou ex-companheiros, ex-maridos, ex-namorados
Homens brigando, se agredindo, se ameaçando ou discutindo por causa de ciúmes de 44,0 34,0 28,4 30,9
uma namorada ou ex-namorada, companheira ou ex-companheira, mulher ou ex-mulher
Homens humilhando, xingando ou ameaçando namoradas ou ex-namoradas, mulheres 46,0 37,0 32,9 33,9
ou ex-mulheres, companheiras ou ex-companheiras
Homens abordando mulheres na rua de forma desrespeitosa, mexendo, passando 51,0 43,0 34,3 37,7
cantadas, dizendo ofensas
NÃO VIU NENHUMA DESSAS SITUAÇÕES 34,0 41,0 48,9 48,0
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Instituto Datafolha. Pesquisa Visível e Invisível: a vitimização
de mulheres no Brasil, edição 3, 2021. Apenas mulheres, resposta estimulada e múltipla, em %.
Não é possível afirmar que estes resultados indi- Há de se destacar, no entanto, que a experiência
quem uma redução da prevalência destas formas com a violência parece alterar significativamen-
de violência, mas é de se considerar a hipótese te a percepção sobre ter testemunhado alguma
de que autores de violência estão menos encora- situação do gênero. A comparação das respostas
jados a se mostrarem agressivos publicamente. de mulheres que experimentaram alguma forma
Isso explicaria tanto a redução progressiva de de violência nos últimos 12 meses com aquelas
testemunhos sobre terem visto violência contra que não relataram nenhuma vitimização é con-
a mulher como a percepção de que esta estaria trastante. Enquanto 45% das mulheres que não
em queda. vivenciaram nenhuma agressão no último ano
relatou ter testemunhado outra mulher sofrendo postas afirmativas. Mulheres vítimas de violência,
violência, dentre as que foram vitimizadas este ao que tudo parece indicar, têm uma percepção
dado foi praticamente o dobro, com 83% de res- mais apurada sobre as manifestações da violência.
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Instituto Datafolha. Pesquisa Visível e Invisível: a vitimização
de mulheres no Brasil, Mulheres, edição 4, 2023.
Gráfico 3: Prevalência de violência física e/ou sexual por parte de parceiro íntimo ao longo da vida.
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Instituto Datafolha. Pesquisa Visível e Invisível: a vitimização
de mulheres no Brasil, edição 4, 2023. Violence Against Women Prevalence Estimates, OMS, 2022.
A pesquisa também perguntou sobre outras formas foi assumido por 12,9% das mulheres. Além disso,
de comportamento abusivo como o controle do 9,8% afirmaram ter tido acesso negado a recursos bá-
comportamento e rotina da mulher, como impedi- sicos, como assistência médica, comida ou dinheiro
-la de se comunicar com familiares ou amigos, o que por ação de um parceiro ou ex-parceiro íntimo.
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Instituto Datafolha. Pesquisa Visível e Invisível: a vitimização
de mulheres no Brasil, edição 4, 2023. Só mulheres, resposta estimulada e múltipla, em %.
Para fins de sistematização e comparação dos resul- al ou tentativa forçada de manter relações sexuais),
tados, agregamos as respostas acima entre aquelas o que permite a comparação com o survey global,
que afirmaram ter sofrido violência física (tapa, ba- e em outra bateria, as mulheres que responderam
tida, empurrão ou chute) e/ou sexual (ofensa sexu- afirmativamente a qualquer uma das questões elen-
cadas, o que inclui violência psicológica e outros do, ao longo da vida, ao menos uma das formas
comportamentos abusivos. O resultado indica que de violência apresentadas, em todas as situações
43% da população feminina afirma ter vivencia- tendo como autor um parceiro íntimo.
Gráfico 5: Violência provocada por parceiro íntimo ao longo da vida – física, sexual e psicológica.
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Instituto Datafolha. Pesquisa Visível e Invisível: a vitimização
de mulheres no Brasil, edição 4, 2023. Só mulheres, resposta estimulada e múltipla, em %.
A análise da prevalência por faixa etária indica O grupo etário com maior prevalência de agres-
que quase metade das mulheres entre 25 e 34 são física foi o de mulheres de 45 a 59 anos.
anos experimentaram alguma forma de violên- Dentre as mulheres desta faixa etária, 28,7%
cia por parte de parceiro íntimo ao longo da vida afirmaram ter sido vítimas de tapa, chute ou em-
(48,9%). Este grupo também apresentou a maior purrão por parte de um parceiro íntimo. Entre
prevalência de vitimização por violência sexual elas também se verificam os maiores níveis de
dentre todas as faixas etárias (24,8%). Ou seja, 1 outras formas de abuso, sendo que 18,4% afir-
em cada 4 mulheres entre 25 e 34 anos afirma- maram ter ficado um longo período impedidas
ram ter sofrido alguma forma de ofensa sexual de se comunicar com amigos e familiares por
e/ou tentativa forçada de manter relação sexual ação do parceiro ou ex-parceiro íntimo e 12,6%
com o parceiro íntimo. tiveram acesso negado a recursos básicos, como
assistência médica, comida ou dinheiro. Percen-
Mulheres entre 35 e 44 anos e entre 45 e 59 anos tual similar foi encontrado entre mulheres com
também mostraram índices elevados de violência 60 anos ou mais, sendo que 12,9% das mulheres
por parte de parceiro íntimo ao longo da vida, deste grupo etário relataram ter acesso a recursos
com, respectivamente, 43,6% e 44,2%. básicos negados.
Tabela 3: Violência provocada por parceiro íntimo ao longo da vida, por faixa etária.
IDADE
16 a 24 25 a 34 35 a 44 45 a 59 60 anos ou
anos anos anos anos mais
FOI VÍTIMA DE VIOLÊNCIA OU AGRESSÃO AO LONGO DA VIDA 38,5 48,9 43,6 44,2 37,5
(Resposta afirmativa em um ou mais itens)
Insulto, humilhação ou xingamento por ação de algum 27,1 37,9 33,1 35,7 27,2
namorado/ marido/ parceiro íntimo ou ex-parceiro
Tapa, batida, empurrão ou chute por ação de algum 18,5 28,3 24,9 28,7 20,5
namorado/ marido/ parceiro íntimo ou ex-parceiro
Ofensa sexual ou tentativa forçada de manter relação sexual
quando você não queria, por ação de algum namorado/ 20,0 24,8 16,6 22,6 21,5
marido/parceiro íntimo ou ex-parceiro
Foi forçada a ficar sozinha por um longo período ou impedida
de se comunicar com amigos e familiares por ação de algum 10,3 12,7 14,1 18,4 7,7
namorado/marido/parceiro íntimo ou ex-parceiro
Teve acesso negado a recursos básicos, como assistência
médica, comida ou dinheiro por ação de algum namorado/ 4,2 9,7 10,1 12,6 12,9
marido/parceiro íntimo ou ex-parceiro
NÃO FOI VÍTIMA DE VIOLÊNCIA OU AGRESSÃO 61,5 49,1 56,4 54,7 61,5
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Instituto Datafolha. Pesquisa Visível e Invisível: a vitimização
de mulheres no Brasil, edição 4, 2023. Só mulheres, resposta estimulada e múltipla, em %.
Em relação a escolaridade, são as mulheres apenas parte de parceiro íntimo ao longo da vida. Embora
com ensino fundamental as mais vulneráveis. Pra- a prevalência entre mulheres com ensino médio
ticamente metade das mulheres deste grupo po- (39,7%) e superior (43%) também seja elevada,
pulacional (49%) foram vítimas de violência por chama a atenção que entre as mulheres com baixa
escolaridade a frequência de situações como “im- “acesso a recursos básicos negados, como assistên-
pedida de se comunicar com amigos e familiares cia médica, comida ou dinheiro” (19,4%) seja o
por um longo período de tempo” (18,7%) ou dobro do que entre os demais grupos.
Tabela 4: Violência provocada por parceiro íntimo ao longo da vida, por escolaridade.
Escolaridade
Fundamental Médio Superior
FOI VÍTIMA DE VIOLÊNCIA OU AGRESSÃO AO LONGO DA VIDA 49,0 39,7 43,0
Insulto, humilhação ou xingamento por ação de algum namorado/ marido/ 35,6 31,1 32,6
parceiro íntimo ou ex-parceiro
Tapa, batida, empurrão ou chute por ação de algum namorado/ marido/ 32,4 22,6 20,3
parceiro íntimo ou ex-parceiro
Ofensa sexual ou tentativa forçada de manter relação sexual quando você não 23,4 18,8 23,2
queria, por ação de algum namorado/marido/parceiro íntimo ou ex-parceiro
Foi forçada a ficar sozinha por um longo período ou impedida de se comunicar
com amigos e familiares por ação de algum namorado/marido/parceiro íntimo 18,7 11,1 10,8
ou ex-parceiro
Teve acesso negado a recursos básicos, como assistência médica, comida ou 19,4 7,4 4,8
dinheiro por ação de algum namorado/marido/parceiro íntimo ou ex-parceiro
NÃO FOI VÍTIMA DE VIOLÊNCIA OU AGRESSÃO 50,4 59,4 56,0
RECUSA 0,5 0,9 1,0
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Instituto Datafolha. Pesquisa Visível e Invisível: a vitimização
de mulheres no Brasil, edição 4, 2023. Só mulheres, resposta estimulada e múltipla, em %.
Em relação ao perfil étnico racial, mulheres ne- vulneráveis. Chama a atenção que a vitimização
gras (45%) apresentam prevalência superior de por violência sexual seja similar entre todos os
vitimização do que as mulheres brancas (36,9%), grupos, mas quando a questão trata de violência
mas a comparação entre mulheres pretas (48%) e física, entre negras a prevalência é 8 pontos supe-
pardas (43,8%) indica que as pretas são as mais rior à encontrada entre mulheres brancas.
Tabela 5: Violência provocada por parceiro íntimo ao longo da vida, por raça/cor.
Raça/cor
Negra
Branca Preta Parda
(Preta+Parda)
FOI VÍTIMA DE VIOLÊNCIA OU AGRESSÃO AO LONGO DA VIDA 36,9 45,0 48,0 43,8
Insulto, humilhação ou xingamento por ação de algum 36,7
27,5 35,1 34,5
namorado/ marido/ parceiro íntimo ou ex-parceiro
Tapa, batida, empurrão ou chute por ação de algum 27,5
18,6 27,1 25,9
namorado/ marido/ parceiro íntimo ou ex-parceiro
Ofensa sexual ou tentativa forçada de manter relação sexual
quando você não queria, por ação de algum namorado/ 21,9 20,1 22,1 19,4
marido/parceiro íntimo ou ex-parceiro
Foi forçada a ficar sozinha por um longo período ou impedida
de se comunicar com amigos e familiares por ação de algum 11,2 12,6 11,7 12,9
namorado/marido/parceiro íntimo ou ex-parceiro
Teve acesso negado a recursos básicos, como assistência
médica, comida ou dinheiro por ação de algum namorado/ 7,1 10,7 10,9 10,6
marido/parceiro íntimo ou ex-parceiro
NÃO FOI VÍTIMA DE VIOLÊNCIA OU AGRESSÃO 62,3 54,3 52,0 55,2
RECUSA 0,8 0,7 1,0
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Instituto Datafolha. Pesquisa Visível e Invisível: a vitimização
de mulheres no Brasil, edição 4, 2023. Só mulheres, resposta estimulada e múltipla, em %.
Por fim, a pesquisa perguntou às entrevistadas quanto a terem acesso negado a recursos básicos.
se tinham filhos, concluindo que mulheres com Entre mulheres com filhos, 13,2% relataram ter
filhos apresentaram prevalência de violência por vivenciado essa forma de violência por parte do
parceiro íntimo ligeiramente superior às que não parceiro íntimo, ao passo que entre as mulheres
tem filhos. Destaque, neste caso, para o contras- que não têm filhos a prevalência foi muito me-
te das respostas de mulheres com ou sem filhos nor, de 3,4%.
Tabela 6: Violência provocada por parceiro íntimo ao longo da vida, existência ou não de filhos.
Filhos
Tem filhos Não tem filhos
FOI VÍTIMA DE VIOLÊNCIA OU AGRESSÃO AO LONGO DA VIDA 44,4 40,4
Insulto, humilhação ou xingamento por ação de algum namorado/ marido/ parceiro íntimo ou 34,3 29,6
ex-parceiro
Tapa, batida, empurrão ou chute por ação de algum namorado/ marido/ parceiro íntimo ou ex- 27,8 18,5
parceiro
Ofensa sexual ou tentativa forçada de manter relação sexual quando você não queria, por ação de 21,7
20,8
algum namorado/marido/parceiro íntimo ou ex-parceiro
Foi forçada a ficar sozinha por um longo período ou impedida de se comunicar com amigos e 14,3
familiares por ação de algum namorado/marido/parceiro íntimo ou ex-parceiro 10,5
Teve acesso negado a recursos básicos, como assistência médica, comida ou dinheiro por ação de 13,2 3,4
algum namorado/marido/parceiro íntimo ou ex-parceiro
NÃO FOI VÍTIMA DE VIOLÊNCIA OU AGRESSÃO 54,7 59,0
RECUSA 0,9 0,6
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Instituto Datafolha. Pesquisa Visível e Invisível: a vitimização
de mulheres no Brasil, edição 4, 2023. Só mulheres, resposta estimulada e múltipla, em %.
Dentre as formas de violência citadas, a mais frequen- sas sexuais, com 9%; espancamento ou tentativa de
te foram as ofensas verbais, com 23,1% de prevalên- estrangulamento, com 5,4%; ameaça com faca ou
cia. Na sequência temos perseguição, com 13,5% arma de fogo, com 5,1%; lesão provocada por algum
de frequência; ameaças, com 12,4%; agressão física objeto que lhe foi atirado, com 4,2%; e esfaqueamen-
como chutes, socos e empurrões, com 11,6%, ofen- to ou tiro, com prevalência de 1,6%.
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Instituto Datafolha. Pesquisa Visível e Invisível: a vitimização
de mulheres no Brasil, edição 4. Só mulheres, resposta estimulada e múltipla, em %.
Gráfico 7: Evolução dos níveis de vitimização entre mulheres no Brasil. Série histórica, 2017-2023.
14 13,5
12
9,3 11,6
10 9,1
7,9
8 8,9 9,0
6 5,4
6,3
4,3 3,9
4 5,1
3,1
3,4 3,6
2 2,4
0
2017 2019 2021 2023
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Instituto Datafolha. Pesquisa Visível e Invisível: a vitimização de mulheres no
Brasil, edições 1, 2, 3 e 4; 2017, 2019, 2021 e 2023. Só mulheres, resposta estimulada e múltipla, em %.
A promotora de justiça Valéria Scarance Fernandes liares com arma de fogo, ou a simples ameaça de
afirma, em seu mais recente livro, que a persegui- fazer uso desse instrumento é um dos indicadores
ção de mulheres por razões de gênero é um dos para estimar a gravidade do risco de uma mulher
mais importantes indicadores de risco de morte, ser vítima de feminicídio no Formulário Nacional
especialmente porque essa perseguição geralmente de Avaliação de Risco.
ocorre em razão do final de uma relação afetiva
ou em função da recusa da vítima em manter um A tabela abaixo apresenta a projeção populacional
relacionamento com o agressor (Fernandes, 2022). com as estimativas de mulheres vítimas de vio-
Ainda segundo a autora, o Manual de Avaliação e lência nos últimos 12 meses. Estimamos que, em
Gestão de Risco em Rede da Associação de Mu- média, 18,6 milhões de mulheres de 16 anos ou
lheres contra a Violência, em Portugal, destaca o mais sofreram alguma forma de violência ao longo
comportamento de perseguição como fator de ris- de 2022. Ofensas verbais, o tipo de violência mais
co que chega a aumentar em 5 vezes o risco de frequentemente relatado, vitimou 14,9 milhões
morte da mulher. de mulheres. Agressões físicas como socos, tapas e
chutes atingiram 8 milhões de mulheres e ofensas
Ameaças com arma de fogo, por sua vez, também sexuais 5,8 milhões. 3,4 milhões de mulheres re-
são um fator de risco associado ao feminicídio, lataram ter sofrido espancamento ou tentativa de
tanto que o agressor ameaçar a mulher e seus fami- estrangulamento.
Em relação ao perfil da mulher que sofreu vio- ou mais, 17,4% vivenciaram o mesmo. Mulheres
lência no último ano a prevalência cai conforme de 45 a 59 anos experimentaram os maiores níveis
avança a idade. Na faixa etária de 16 a 24 anos, de violências como espancamento (8,2%), ameaça
43,9% das mulheres relatam ter sido vítimas de com faca ou arma de fogo (8,7%) e esfaqueamento
violência, enquanto entre as mulheres de 60 anos ou tiro (4,5%).
A escolaridade revela maior prevalência de vio- maiores taxas de agressão física como empurrões e
lência entre mulheres com ensino médio, que é chutes (14,6%), espancamento ou tentativa de es-
puxado especialmente por ofensas verbais e sexu- trangulamento (7,7%), ameaça com faca ou arma
ais. Mulheres com baixa escolaridade concentram de fogo (8,3%) e esfaqueamento ou tiro (2,5%).
Em relação a renda, os dados revelam que a me- ano, 28,4% entre as que ganham entre 2 e 5 sa-
dida em que aumenta a renda familiar mensal, di- lários, 27,4% entre as que têm rendimento entre
minui a prevalência de violência, embora mesmo 5 e 10 salários, e 22,6% entre as que têm mais
entre as mulheres com mais de 10 salários-mí- de 10 salários. Destaca-se que agressões físicas
nimos de renda os níveis sejam elevados. 31,2% (13,8%) e espancamentos (7,7%) são muito mais
das mulheres cuja renda familiar mensal é de até frequentes entre mulheres com renda de até 2 sa-
2 salários-mínimos sofreram violência no último lários-mínimos.
Tabela 11: Vitimização de mulheres nos últimos 12 meses, por renda familiar mensal.
Renda familiar mensal
Mais de 2 a Mais de 5 a Mais de 10
Até 2 S.M. 5 S.M 10 S.M S.M
FOI VÍTIMA DE VIOLÊNCIA OU AGRESSÃO NOS ÚLTIMOS 12 MESES 31,2 28,4 27,4 22,6
Insulto, humilhação ou xingamento (Ofensa verbal) 26,0 22,5 20,9 22,6
Amedrontamento ou perseguição 13,2 14,2 15,3 16,2
Ameaça de apanhar, empurrar ou chutar 15,5 11,1 7,5 6,8
Batida, empurrão ou chute 13,8 10,8 5,2 3,1
Ofensa sexual ou tentativa forçada de manter relação sexual (algumas
vezes as pessoas agarram, tocam ou agridem fisicamente e verbalmente 10,3 9,1 5,1 3,1
outras pessoas por motivos sexuais)
Espancamento ou tentativa de estrangulamento 7,7 3,8 1,3 3,1
Ameaça com faca ou arma de fogo 6,7 4,8
Lesão provocada por algum objeto que lhe foi atirado 5,6 3,6 1,0 3,1
Esfaqueamento ou tiro 2,1 1,4
Outro tipo 0,3 0,8 1,1
NÃO FOI VÍTIMA DE VIOLÊNCIA OU AGRESSÃO 68,8 69,7 71,7 77,4
RECUSA 1,9 1,0
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Instituto Datafolha. Pesquisa Visível e Invisível: a vitimização
de mulheres no Brasil, edição 4, 2023. Só mulheres, resposta estimulada e única, em %.
O perfil étnico racial indica maior prevalência de da saúde. Mulheres negras apresentaram níveis
violência entre mulheres negras (29,9%) do que de vitimização muito mais elevados do que de
entre brancas (26,3%), o que corrobora as evi- mulheres brancas nos casos de violência física
dências já publicadas pelo FBSP em várias edições severa, como espancamento (negras com 6,3% e
dos Anuários e Atlas da Violência com base em brancas com 3,6%) e ameaça com faca ou arma de
registros administrativos da segurança pública e fogo (negras com 6,2% e brancas com 3,8%).
A existência de filhos, diferente da vitimização ao passo que a questão sobre os últimos 12 meses não
longo da vida, mostra níveis mais elevados de violên- restringe o autor. Assim, quando olhamos para as
cia no último ano entre mulheres que não tem filhos mulheres que não têm filhos elas apresentam níveis
(35,3%) do que entre as que têm filhos (25,5%). Vale mais elevados de ofensas verbais, perseguição e ofen-
destacar, no entanto, que a questão sobre ter sofrido sas sexuais, mas quando falamos de socos e tapas, es-
alguma forma de violência ao longo da vida era espe- pancamento ou esfaqueamento ou tiro, a prevalência
cificamente relacionada a ação de parceiro íntimo, ao entre as que têm filhos é muito mais elevada.
Tabela 13: Vitimização de mulheres nos últimos 12 meses, por existência de filhos.
Filhos
Tem filhos Não tem filhos
FOI VÍTIMA DE VIOLÊNCIA OU AGRESSÃO NOS ÚLTIMOS 12 MESES 25,5 35,3
Insulto, humilhação ou xingamento (Ofensa verbal) 20,5 28,1
Amedrontamento ou perseguição 11,8 16,7
Ameaça de apanhar, empurrar ou chutar 12,6 12,2
Batida, empurrão ou chute 13,1 8,7
Ofensa sexual ou tentativa forçada de manter relação sexual (algumas vezes as pessoas agarram, 7,1 12,6
tocam ou agridem fisicamente e verbalmente outras pessoas por motivos sexuais)
Espancamento ou tentativa de estrangulamento 6,2 3,9
Ameaça com faca ou arma de fogo 6,0 3,5
Lesão provocada por algum objeto que lhe foi atirado 5,2 2,2
Esfaqueamento ou tiro 2,2 0,3
Outro tipo 0,5 0,6
NÃO FOI VÍTIMA DE VIOLÊNCIA OU AGRESSÃO 73,6 64,3
RECUSA 1,0 0,4
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Instituto Datafolha. Pesquisa Visível e Invisível: a vitimização
de mulheres no Brasil, edição 4, 2023. Só mulheres, resposta estimulada e única, em %.
Por fim, a análise do estado conjugal das mu- ciadas (41,3%) do que em comparação com
lheres indica situação de maior vulnerabilidade as casadas (17%), solteiras (37,3%) e viúvas
à violência entre mulheres separadas e divor- (24,6%).
Tabela 14: Vitimização de mulheres nos últimos 12 meses, por situação conjugal.
Casado(a)/ com Separado/
Solteiro(a) Viúvo
companheiro(a) Divorciado
FOI VÍTIMA DE VIOLÊNCIA OU AGRESSÃO NOS ÚLTIMOS 12 MESES 17,0 37,3 24,6 41,3
Insulto, humilhação ou xingamento (Ofensa verbal) 14,9 28,1 17,9 36,8
Amedrontamento ou perseguição 5,8 18,3 10,5 24,4
Ameaça de apanhar, empurrar ou chutar 7,0 12,9 13,3 31,6
Batida, empurrão ou chute 8,1 12,1 11,1 23,5
Ofensa sexual ou tentativa forçada de manter relação sexual
(algumas vezes as pessoas agarram, tocam ou agridem fisicamente 4,1 12,3 2,5 18,1
e verbalmente outras pessoas por motivos sexuais)
Espancamento ou tentativa de estrangulamento 4,1 5,4 2,4 12,0
Ameaça com faca ou arma de fogo 3,2 5,6 2,4 12,6
Lesão provocada por algum objeto que lhe foi atirado 2,1 4,5 3,6 10,8
Esfaqueamento ou tiro 1,1 1,4 5,1
Outro tipo 0,2 0,8 1,1
NÃO FOI VÍTIMA DE VIOLÊNCIA OU AGRESSÃO 82,2 62,1 72,6 58,7
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Instituto Datafolha. Pesquisa Visível e Invisível: a vitimização
de mulheres no Brasil, edição 4, 2023. Só mulheres.
30,0
24,4
25,0 23,5
15,0
12,1 12,3 12,0 12,6
10,5 11,1
10,0 8,1
5,8 5,4 5,6 5,1
5,0 4,1 4,1
2,5 3,2 2,4
2,4
1,1 1,4
0,0
0,0
Perseguição Batida, empurrão Ofensa sexual ou Espancamento Ameaça com faca Esfaqueamento
ou chute tentativa forçada ou tentativa de ou arma de fogo ou tiro
de manter relação estrangulamento
sexual
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Instituto Datafolha. Pesquisa Visível e Invisível: a vitimização
de mulheres no Brasil, edição 4, 2023. Só mulheres.
Pela primeira vez perguntamos às entrevistadas a Tabela 15: Média de agressões sofridas no
frequência dos episódios de violência. Em média, último ano.
as mulheres vítimas de violência ou agressão nos Média de
agressões sofridas
últimos 12 meses sofreram quatro episódios de
Total 4
violência no período. Entre mulheres divorcia-
16 a 24 anos 3
das a média foi de 9 agressões em um ano.
25 a 34 anos 2
Faixa etária 35 a 44 anos 6
45 a 59 anos 6
60 anos ou mais 2
Fundamental 5
Escolaridade Médio 4
Superior 3
Até 2 S.M. 5
Estado Solteira 3
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança
Pública; Instituto Datafolha. Pesquisa Visível conjugal Viúva 3
e Invisível: a vitimização de mulheres no
Brasil, edição 4, 2023. Só mulheres. Separada/ Divorciada 9
Gráfico 9: Local onde ocorreu a violência mais grave. Série histórica, 2017-2023.
60,0
53,8
48,8
50,0
43,3 42,0
39,1
40,0
29,1
30,0
19,9
20,0 17,6
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Instituto Datafolha. Pesquisa Visível e Invisível: a vitimização
de mulheres no Brasil, edições 1, 2, 3 e 4; 2017, 2019, 2021 e 2023. Só mulheres.
31,3% das mulheres afirmaram que o autor da -companheiros foram se tornando os principais
violência mais grave sofrida nos últimos 12 meses autores de violência. Namorados, cônjuges e com-
foram seus ex-cônjuges/ex-companheiros/ex-na- panheiros eram apontados por 19,4% das mulhe-
morados. Este percentual foi superior aos cônju- res como autores de violência na pesquisa de 2017,
ges/companheiros/namorados, apontados como percentual que chegou a 26,7% nesta edição. Já os
autores em 26,7% dos casos. Vale destacar ainda ex, que eram citados como autores para 16% das
que ao longo das pesquisas, companheiros e ex- mulheres em 2017, chegaram a 31,3% em 2023.
35
31,3
30
25,4
25 19,4 23,8 26,7
20
15 18,1
16,0 15,2
10
0
2017 2019 2021 2023
Cônjuge/companheiro/namorado Ex-cônjuge/ex-companheiro/ex-namorado
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Instituto Datafolha. Pesquisa Visível e Invisível: a vitimização
de mulheres no Brasil, edições 1, 2, 3 e 4; 2017, 2019, 2021 e 2023. Só mulheres.
Conforme apresentado na seção anterior, enquan- lação, a violência pode surgir ou ser intensificada
to a quantidade média de agressões sofridas no úl- após o rompimento pelo ex-companheiro, que não
timo ano para o total de mulheres que foram víti- aceita a separação. Diversos casos de feminicídio
mas de violência foi de 4 vezes, entre as mulheres noticiados diariamente ilustram a situação, onde
separadas/divorciadas a média chegou a 9 agres- o ex-parceiro, na tentativa de voltar a exercer seu
sões. Evidências nacionais e internacionais apon- papel de dominação sobre a mulher, busca reatar
tam para um maior risco de violência após ou por o relacionamento ou puni-la pela decisão de en-
uma tentativa de término do relacionamento. Em cerrá-lo através do uso da violência, muitas vezes
estudo conduzido em 11 cidades dos Estados Uni- letal. Como indica Saffioti (2001), “no exercício
dos, Campbell et al., 2003 mostraram que o tér- da função social patriarcal, os homens detêm o po-
mino do relacionamento e a tentativa de separação der de determinar a conduta das categorias sociais
são fatores de risco para o feminicídio íntimo. No nomeadas, recebendo autorização ou, pelo menos,
Brasil, o relatório Raio-X do Feminicídio em São tolerância da sociedade para punir o que se lhes
Paulo, produzido pelo Ministério Público do Es- apresenta como desvio. [...] A execução do pro-
tado, que analisou 364 denúncias oferecidas pelo jeto de dominação-exploração da categoria social
MP em casos de feminicídio entre 2016 e 2017, homens exige que sua capacidade de mando seja
identificou que em 45% dos casos a motivação auxiliada pela violência” (p. 115).
para o crime era a separação recente do casal ou
pedido de rompimento. Este foi o principal moti- Assim, é importante ressaltar que o fim do rela-
vo dos feminicídios incluídos no estudo. cionamento não significa, necessariamente, o
fim da violência doméstica. Muitas vezes, pelo
Ao mesmo tempo que sofrer violência pode gerar contrário, o efeito pode ser o inverso. Portanto,
o desejo, por parte da mulher, de terminar a re- quando se fala em enfrentamento à violência do-
méstica, é preciso levar em conta a complexidade te Ativa (PEA)4: enquanto 32% das mulheres que
do fenômeno: não basta apontar apenas o término trabalham ou estão procurando emprego sofreram
do relacionamento como solução para o problema, algum tipo de violência nos 12 meses anteriores
mas é necessário oferecer às mulheres as condições à pesquisa, este percentual foi de 20,8% entre as
para que o façam de forma segura, sem que au- mulheres que não são economicamente ativas.
mente seu risco de sofrer violência.
Apesar de existirem evidências empíricas mistas,
Uma questão que tangencia a separação é a partici- este resultado é compatível com alguns achados de
pação feminina no mercado de trabalho. O empo- pesquisas nacionais e internacionais. Estudo con-
deramento econômico é frequentemente apontado duzido por Cerqueira, Moura e Pasinato (2019)
como possível solução para interromper a violência a partir dos dados da PNAD 2009 para todo o
doméstica. Segundo esta lógica, a mulher pode ter Brasil identificou que mulheres separadas que par-
a oportunidade de encerrar o relacionamento ao ticipavam do mercado de trabalho tinham maior
conquistar sua independência financeira, cessan- probabilidade de sofrer violência doméstica. Há
do, consequentemente, a violência. No entanto, duas interpretações possíveis. Primeiro, que a in-
como pontuamos, conseguir se separar do agressor dependência financeira permitiria a separação que,
não necessariamente encerra a violência contra a consequentemente, culmina em agressão por parte
mulher. Além disso, outra informação relevante do parceiro que não a aceita; e, ainda, que a par-
levantada neste estudo é que há uma maior preva- ticipação da mulher no mercado de trabalho, ao
lência de violência no último ano entre as mulhe- aumentar os conflitos entre o casal – na medida
res que fazem parte da População Economicamen- em que os papeis de gênero tradicionais são possi-
velmente colocados em xeque –, intensifica a vio-
lência, resultando na separação (Cerqueira, Moura
Gráfico 11: Vítima de violência ou agressão nos e Pasinato, 2019).
últimos 12 meses, PEA e não PEA.
Ao mesmo tempo, pesquisas produzidas na Índia e
35,0 na Colômbia mostraram que mulheres que sofrem
32,0
30,0
violência doméstica tendem a participar mais do
mercado de trabalho (Bhatacharya, 2015; Fajar-
25,0
do-Gonzalez, 2021). Isso pode estar relacionado
20,8
20,0 tanto a uma vontade de deixar o relacionamento,
como à tentativa de obter maior poder de barganha
15,0
na família e, assim, cessar a violência doméstica.
10,0
5,0
4 A População Economicamente Ativa (PEA) é composta por
0,0 dois grupos: ocupados e desocupados. Os ocupados são aqueles que
PEA (trabalha ou procura Não PEA (não trabalha e exercem atividade remunerada, formal ou informal. Os desocupados
emprego) não procura emprego) são aqueles que, embora não exerçam atividade remunerada,
procuraram emprego no período de referência. Assim, a PEA consiste
no grupo de pessoas que trabalhava ou procurava emprego no
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Instituto Datafolha. momento da pesquisa. Não fazem parte da PEA donas de casa,
Pesquisa Visível e Invisível: a vitimização de mulheres no Brasil, aposentados, estudantes e desempregados que não procuraram
edição 4, 2023. Só mulheres. emprego no último mês.
A inserção das mulheres no mercado de trabalho É preciso pensar de forma mais ampla o combate
é essencial e deve ser pauta de políticas promovi- à violência contra a mulher. Como argumentam
das pelas diversas esferas de governo. De acordo Cerqueira, Moura e Pasinato (2019), “ainda que
com o IBGE, há uma disparidade na participação [o empoderamento econômico] seja um elemento
de homens e mulheres na força de trabalho brasi- importante, não é suficiente para superar a desi-
leira, sendo que a taxa de participação masculina gualdade de gênero geradora de violência ainda
era de 73,7% em 2019, enquanto a feminina não vigente no Brasil” (p. 28). São necessárias polí-
passava de 54,5% (IBGE, 2021). Assim, embora ticas públicas que visem a proteção da mulher,
seja de extrema importância oferecer às mulhe- como o aperfeiçoamento da Lei Maria da Penha
res a oportunidade de inserção no mercado de e a oferta de apoio psicológico às vítimas de vio-
trabalho, esta não pode ser vista como (única) lência, bem como a conscientização a respeito das
forma de enfrentar a violência doméstica. Como desigualdades de gênero existentes na sociedade.
vimos, há evidências que, inclusive, mostram que
estar empregada pode aumentar o risco de sofrer
violência do parceiro íntimo.
Tabela 17: Atitude em relação a essa agressão mais grave sofrida nos últimos 12 meses. Série histórica,
2017-2023.
PESQUISA PESQUISA PESQUISA PESQUISA
2017 2019 2021 2023
Procurou ajuda da família 13,0 15,0 21,6 17,3
Procurou ajuda dos amigos 12,0 10,0 12,8 15,6
Denunciou em uma Delegacia da Mulher 11,0 10,0 11,8 14,0
Denunciou em uma delegacia comum 10,0 8,0 7,5 8,5
Procurou a Igreja 5,0 8,0 8,2 3,0
Ligou para a Polícia Militar no 190 3,0 5,0 7,1 4,8
Ligou para a Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180) 1,0 1,0 2,1 1,6
Não fez nada 52,0 52,0 44,9 45,0
Denunciou à Polícia através de um registro eletrônico 1,8 1,7
Procurou uma associação ou entidade de proteção à Mulher (ONG) 1,9 0,5
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Instituto Datafolha. Pesquisa Visível e Invisível: a vitimização
de mulheres no Brasil, edições 1, 2, 3 e 4; 2017, 2019, 2021 e 2023. Só mulheres.
Dentre aquelas que afirmaram procurar ajuda de do 190 e 1,6% ligaram para a Central de Atendi-
alguma pessoa ou organização, a família é o ator mento à Mulher (Ligue 180).
que aparece com mais frequência, para 17,3%
das respondentes e, na sequência, os amigos, com Chama a atenção que a igreja, um ator frequen-
15,6% das respostas. Dentre aquelas que afirma- temente citado pelas mulheres, tenha perdido
ram ter procurado algum equipamento público, protagonismo em relação às pesquisas anterio-
o que aparece com mais frequência são as delega- res. Na comparação com a realizada em 2021 a
cias da mulher, com 14%, seguidos das delega- queda foi de 5 pontos percentuais, de modo que
cias comuns com 8,5% das respostas. 4,8% das apenas 3% das respondentes buscaram a Igreja
respondentes acionaram a Polícia Militar através após a violência sofrida.
Em outra bateria de questões, perguntamos às en- resolvido a questão sozinhas, 21,3% afirmaram
trevistadas os motivos para não terem buscado as não acreditar que a polícia pudesse oferecer solu-
instituições policiais após a agressão sofrida. Den- ção para o problema, e 14,4% destacaram a falta
tre as respostas disponíveis, 38% afirmaram terem de provas para tal.
Gráfico 12: Razões pelas quais as vítimas de violência não procuraram a polícia após a última
agressão sofrida.
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Instituto Datafolha. Pesquisa Visível e Invisível: a vitimização
de mulheres no Brasil, edição 4, 2023. Só mulheres, resposta estimulada e múltipla, em %.
Este dado revela que, não obstante o recrudesci- to. O risco, aqui, é a própria vida das mulheres
mento de mecanismos penais para punir a violên- que, como vimos, têm sido mais ameaçadas, e de
cia contra a mulher, a exemplo de recentes alte- forma mais grave.
rações legislativas, como a Lei Mariana Ferrer (lei
14.245/2021), a tipificação da violência psicológica A contradição é que a falta de confiança na polícia
(lei 14.188/2021) e do crime de perseguição/stalking não elimina a demanda pela atuação dessa mesma
(lei 14.132/2021), a pesquisa parece apontar para a instituição. E é isso que aparece quando, entre as
desconfiança na eficiência do aparato policial. ações para combater a violência, a demanda por
orientação de como acionar a polícia figura entre
Nem mesmo as delegacias e nem demais institui- as mais importantes para 69% das entrevistadas.
ções de segurança pública estão sendo suficien- Tomada isoladamente, a declaração de que as mu-
tes enquanto portas de entrada para as mulheres lheres nada fizeram frente ao evento delituoso vi-
que sofrem violência. As vítimas não procuram a venciado poderia parecer conformismo. Contudo,
polícia porque não acreditam em sua efetividade em cotejo com a leitura do que as próprias vítimas
enquanto órgão apto para oferecer uma solução consideram como muito importante para a supe-
para a violência sofrida, o que, em última instân- ração da violência, pode, em verdade, jogar luz
cia, indica a falta de garantia de direitos funda- sobre as escolhas que as próprias mulheres estão
mentais e da própria capacidade estatal para tan- sinalizando como possíveis agendas de ação.
Q
to de a mulher ir e vir na cidade é constantemente
ue mulher nunca atravessou a rua com cerceado e permeado por medo e constrangimento.
medo de passar em frente a um grupo de Presente desde a primeira edição da pesquisa Visível
homens e ouvir comentários desrespeitosos? Ou e Invisível, em 2017, o cenário trazido pela vitimi-
pensou duas vezes antes de sair de casa com de- zação de mulheres que experimentaram alguma for-
terminada roupa para pegar o transporte público, ma de assédio sexual aponta para a marca estrutural
com receio de ser apalpada contra a sua vontade? da violência de gênero, que vem persistindo ao tem-
po, atravessa o sistema jurídico-penal sem necessa-
As questões apresentadas nesta seção tratam de riamente ali encontrar solução e vem nefastamente
comportamentos caracterizados como assédio se- naturalizando o abuso contra meninas e mulheres.
xual. O assédio sexual é uma expressão da violên-
cia sexual, caracterizada como manifestação sen- Apenas no último ano, 46,7% das mulheres brasi-
sual ou sexual, alheia à vontade da pessoa a quem leiras de 16 anos ou mais sofreram alguma forma
se dirige. Configuram atos de assédio abordagens de assédio sexual. Projetando este percentual para
grosseiras e comentários obscenos, ofensas e pro- o universo da população, estamos falando de 30
postas inadequadas que constrangem, humilham, milhões de mulheres que foram assediadas se-
amedrontam, ou seja, que não contam com o con- xualmente no ano de 2022. A conduta mais fre-
sentimento da outra parte ( “Vamos falar sobre as- quentemente citada foi a cantada e os comentários
sédio sexual” - Núcleo de Defesa dos Direitos da desrespeitosos na rua, experimentado por 4 em
Mulher DPSP/Think Olga). cada 10 mulheres (26,3 milhões).
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Instituto Datafolha. Pesquisa Visível e Invisível: a vitimização
de mulheres no Brasil, edição 4, 2023. Só mulheres.
A segunda forma de assédio mais frequente foi a Ser tocada contra a sua vontade em uma festa
cantada ou comentários desrespeitosos no ambien- ou balada apareceu em quarto lugar, citado por
te de trabalho, citado por 18,6% da população fe- 11,2% das entrevistadas, o que corresponde a
minina (11,9 milhões), seguido do assédio com 7,2 milhões de mulheres. 8% das entrevistadas
contato físico no transporte coletivo, citado por afirmaram que alguém tentou se aproveitar de-
12,8% das mulheres (8,2 milhões). Se o imaginá- las por estarem alcoolizadas (5,1 milhões), 7,4%
rio popular tende a pensar o assédio sexual como relataram ter sido assediadas em transporte por
algo restrito a festas ou bares, é interessante notar aplicativo, como Uber, 99 táxi e outros (4,7 mi-
que os três locais mais frequentemente citados são lhões) e 6,2% foram agarradas e/ou beijadas à
a rua, o trabalho e o transporte público. força (3,9 milhões).
Tabela 18: Vitimização por assédio sexual nos últimos 12 meses. Projeção populacional.
Prevalência ME MÍNIMO MÁXIMO MÍNIMO MÉDIA MÁXIMO
SOFREU ALGUMA 46,7 3,4 43,3 50,1 27.874.179 30.075.998 32.277.818
Recebeu cantadas, comentários desrespeitosos
41,0 3,4 37,6 44,4 24.224.026 26.394.493 28.564.961
quando estava andando na rua?
Recebeu cantadas ou comentários desrespeitosos no
18,6 2,7 15,9 21,3 10.271.609 11.989.455 13.707.300
ambiente de trabalho?
Foi assediada fisicamente em transporte público,
12,8 2,3 10,5 15,1 6.748.864 8.221.648 9.694.433
como no ônibus e metrô?
Foi abordada de maneira agressiva durante uma
11,2 2,2 9,0 13,4 5.815.332 7.206.609 8.597.887
balada, uma festa, isto é, alguém tocou o seu corpo?
Tentaram aproveitar de você por estar alcoolizada? 8,0 1,9 6,2 9,9 3.963.626 5.161.977 6.360.327
Foi assediada fisicamente em transporte particular
chamado por aplicativo de transporte, como Uber, 7,4 1,8 5,6 9,2 3.588.294 4.740.791 5.893.287
Cabify, 99 Táxi e etc?
Foi agarrada / beijada sem o seu consentimento, isto
6,2 1,6 4,5 7,8 2.903.532 3.964.259 5.024.985
é, à força, em qualquer situação?
NÃO SOFREU NENHUMA 52,3 3,4 48,9 55,7 31.478.066 33.682.347 35.886.629
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Instituto Datafolha. Pesquisa Visível e Invisível: a vitimização
de mulheres no Brasil, edição 4, 2023. Só mulheres.
Além da gravidade dos dados apresentados, con- pesquisa com os dados de 2021, o crescimento na
siderando sua magnitude, preocupa ainda que a prevalência de assédio foi de 9 pontos percentuais,
análise da série histórica indique os maiores níveis passando de 37,9% para 46,7%. Neste período,
de prevalência por assédio sexual já relatados ao todas as formas de assédio listadas apresentaram
longo de todas as pesquisas. Comparando a atual crescimento.
Tabela 19: Vitimização por assédio sexual nos últimos 12 meses. Série histórica, 2017 - 2023.
PESQUISA PESQUISA PESQUISA PESQUISA
2017 2019 2021 2023
SOFREU ALGUM TIPO DE ASSÉDIO 40,2 37,1 37,9 46,7
Recebeu cantadas, comentários desrespeitosos quando estava andando na rua 35,6 32,1 31,9 41,0
Recebeu cantadas ou comentários desrespeitosos no ambiente de trabalho 13,3 11,5 12,8 18,6
Foi assediada fisicamente em transporte público como no ônibus, metrô 10,4 7,8 7,9 12,8
Foi abordada de maneira agressiva durante uma balada, uma festa, isto é, 6,2 6,2 5,6 11,2
alguém tocou o seu corpo
Foi agarrada / beijada sem o seu consentimento, isto é, à força, em qualquer 5 5 5,4 8
situação
Foi assediada fisicamente em transporte particular chamado por aplicativo de - 4 5,2 7,4
transporte, como Uber, 99 Táxi, Cabify e etc?
Tentaram aproveitar de você por estar alcoolizada 3,7 3,3 4,6 6,2
NÃO FOI VÍTIMA DE ASSÉDIO 59,4 61,6 61,4 52,3
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Instituto Datafolha. Pesquisa Visível e Invisível: a vitimização
de mulheres no Brasil, edições 1, 2, 3 e 4; 2017, 2019, 2021 e 2023. Só mulheres.
Em relação ao perfil das vítimas, o assédio tem no último ano. A medida em que avança a idade,
maior prevalência entre mulheres jovens. Na faixa cai a prevalência por assédio sexual.
etária de 16 a 24 anos, 76,1% foram vitimizadas
Em relação a escolaridade, a prevalência aumenta res mais jovens e que passaram pela faculdade este-
com os anos de estudo. Enquanto 31,8% das mu- jam mais engajadas em debates acerca dos direitos
lheres com ensino fundamental relataram alguma das mulheres e, portanto, tenham uma compreen-
forma de assédio no último ano, entre as mulheres são mais ampla do que significa um assédio sexual.
com nível superior chegou a 59,7%. Cabe destacar Isso explica, por exemplo, porque 7,3% das mulhe-
que a compreensão do que é um assédio pode variar res com ensino fundamental afirmam ter sofrido as-
na percepção de uma mulher para outra, o que nos sédio no transporte público enquanto o mesmo foi
ajuda a entender estes dados. É provável que mulhe- dito por 19,7% das mulheres com ensino superior.
A prevalência por perfil racial indica maiores ní- sofreu alguma forma de assédio sexual (52,3%),
veis de vitimização entre mulheres negras (49,1%) trazendo para o centro do debate o racismo, o ma-
do que entre brancas (42,2%). As mulheres pretas chismo e a objetificação do corpo das mulheres
foram as mais vulneráveis ao assédio sexual no últi- negras como variáveis centrais para compreensão
mo ano, mais da metade deste grupo populacional destes resultados.
Não há respostas simples para questões como: Após o ponto agudo da violência, o agressor pode
onde, então, podemos encontrar segurança? A se mostrar arrependido, faz promessas de mudan-
ça e o casal entra na chamada “lua de mel” do plas violências e/ou por tempo prolongado, os efei-
ciclo da violência. Em um novo pacto, seguem tos podem ser cumulativos (RIVERA et al., 2019).
a relação e ela nutre a esperança de que dali para Ela exerce consequências biológicas, como danos
a frente será diferente, mas o que se observa é aos sistemas neuroendócrino e imunológico. Do
um retorno ao momento de tensão e novamente ponto de vista psicológico, produz efeitos como
ao episódio agudo de violência, alimentando um depressão, ansiedade, estresse pós-traumático, sui-
ciclo recorrente muito difícil de ser rompido. São cídio, risco cardiovascular e morte prematura.
relações íntimas, nas quais são depositadas
expectativas construídas socialmente É mais provável que mulheres que so-
a respeito do que seria uma fa- freram violência de seus parceiros
mília e um casamento. Nesses íntimos, comparadas com as que
casos, é comum que a vítima não sofreram, tenham algum
da agressão tenda a “justificar tipo de doença física ou psi-
as atitudes do agressor e pro- cológica. Além dos exemplos
telar a exposição de suas an- citados acima, a violência ain-
gústias até a situação se tor- da pode impactar de manei-
nar insustentável” (LUCENA ra drástica a vida social dessa
et al., 2016). mulher. Como consequência da
violência, pode passar a fazer uso
Embora não seja um fator determinan- ou abuso de substâncias como drogas
te, não é incomum que mulheres em relações e álcool, pode ver diminuir sua produtivida-
abusivas tenham mães e avós também inseridas em de no trabalho ou nos estudos o que, de alguma
contextos de violência íntima – não tendo, portan- forma, afeta a sua capacidade de ser economica-
to, referências de relacionamentos afetivos isentos mente independente. Esse desdobramento especí-
de violência. Um reflexo das relações sociais cons- fico, pode representar ainda mais dificuldade em
truídas a partir de papéis de gênero marcados por se desvencilhar da relação violenta, uma vez que
uma relação de poder e, portanto, desigual, onde sabemos que a autonomia financeira é uma porta
mulheres são submetidas aos homens. de saída importante.
Esse tipo de violência é complexo em suas causas e Portanto, as consequências das experiências de vio-
consequências, pois afeta vítimas, familiares, pro- lência podem ser complexas e diversas, indo dos
fissionais de redes de apoio e a própria coletivida- riscos físicos e psicológicos, como lesões, dores,
de. Isso porque, como aponta Scarpati (2022), um gravidez indesejada, abortos a quadros de ansieda-
dos efeitos da violência de gênero é a naturalização de, depressão, assim como transtornos alimentares
de práticas e discursos violentos contra as mulhe- e de estresse pós-traumático, além de tabagismo,
res. Quanto mais a coletividade se mostra permis- consumo de drogas e álcool, entre outros, poden-
siva diante dessas práticas, mais elas se perpetuam. do ainda resultar em suicídio, mortalidade mater-
na e feminicídio. (SCARPATI, 2022).
Os efeitos da violência na saúde variam com a ida-
de e o sexo das vítimas, mas sabe-se que são mais Uma das consequências da violência na vida das
severos sobre as mulheres e que em casos de múlti- vítimas é o possível desencadeamento de processos
de estresse pós-traumático. Tais processos, como mulheres vítimas de violência física ou sexual pelo
explica Scarpati (2022), podem gerar na vítima parceiro íntimo, na comparação com mulheres
uma espécie de apagamento da violência sofrida, que não haviam vivenciado essas situações, apre-
o que faz com que ela se coloque novamente em sentaram probabilidade maior de relatarem situa-
situações de risco ou, ao contrário, passe a ver pe- ção de saúde ruim ou muito ruim. Relataram, por
rigo em todos os lugares. A desconexão com as me- exemplo, mais problemas para caminhar e realizar
mórias da violência se torna uma espécie de defesa atividades diárias e mais quadros de dor, perda de
diante do impacto emocional do trauma, mas que memória, tontura. Em todos os cenários, mulheres
abre caminho para a desatenção diante do perigo e que relataram terem sido alvo de violência física
para a revitimização. Já no estado de hipervigilân- ou sexual por parceiro íntimo, ou ambas, expres-
cia, até mesmo referências de cuidado e segurança saram níveis significativamente mais altos de sofri-
passam a ser interpretadas como fonte de perigo, mento emocional e maior probabilidade a pensar
com consequências igualmente danosas. É im- em suicídio ou tentar suicídio do que mulheres
portante compreender que esse comportamento, que nunca haviam sofrido violência pelo parceiro.
consequência de violências prévias, nem sempre é
uma escolha, mas o resultado de experiências que Um aspecto inédito trazido na 4ª edição da pre-
podem ter impactado a capacidade de autoprote- sente pesquisa é ouvir o que pensam as mulheres,
ção e autopreservação da vítima, o que pode sobretudo aquelas que são vítimas de violên-
interferir na decisão de procurar ou cia, a respeito do que consideram mais
não ajuda. importante em políticas públicas
destinadas a mulheres vítimas de
A violência de gênero impac- violência doméstica. As mu-
ta a todos e expressa em seu lheres que já sofreram algum
entorno uma “dinâmica do Delegacia tipo de violência destacaram
da Mulher
silêncio”, que envolve não como pontos mais importan-
apenas vítimas, mas também tes: “punir de forma mais se-
profissionais que devem as aco- vera aqueles que cometem vio-
lher. Esse silêncio se torna um lência doméstica” e “ter alguém
obstáculo para o diagnóstico da si- para conversar, como um psicó-
tuação, uma vez que fatores culturais logo ou outro especialista em saúde
e sociais, como mencionado, mas também mental” como principais ações, indicando
a falta de orientação das vítimas e dos profissionais que a punição do agressor e o acolhimento e escuta
envolvidos no acolhimento e atendimento a elas, qualificada da vítima são igualmente importantes.
seja nos sistemas de saúde, segurança ou justiça, faz
parecer que ambos os grupos de sujeitos envolvido Portanto, quando pensamos nas consequências das
– vítimas e profissionais - têm receio em lidar com violências na vida daquelas pessoas que as sofrem,
os desdobramentos da violência. (LUCENA et al., devemos colocar as mulheres vítimas no centro das
2016; SCARPATI, 2022) políticas de acolhimento e cuidado, mas devemos
também olhar além, uma vez que a violência base-
Em um estudo de 2005, realizado em dez países, ada em gênero afeta a todos e a todas. Sem ações
a Organização Mundial de Saúde constatou que interdisciplinares que contemplem profissionais
da saúde, educação, assistência social, entre outras e prevenção da violência. E que o enfrentamento
áreas, transferiremos, mais uma vez, todo o ônus passa por, além de punir o agressor, uma escuta
apenas para as mulheres. qualificada e um desenho claro de quais são as eta-
pas – e consequências - de uma denúncia. Além
Considerando que pesquisas como essa nos aju- disso, mencionam também, como pontos muito
dam a pensar em caminhos possíveis e em suges- importantes, garantir acesso a necessidades básicas
tões para o enfrentamento da violência de gênero, é para mulheres em situação de violência doméstica,
fundamental, então, que comecemos as recomen- como: casa abrigo, alimentação e vestimenta e a
dações pelos apontamentos das próprias mulheres, criação de vagas de trabalho específicas para mu-
especialmente aquelas que vivem ou viveram situ- lheres vítimas de violência doméstica no mercado
ações de violência pontualmente ou ao de trabalho. Esses dois últimos pontos
longo da vida. são maneiras de dar possibilidades
mais concretas às mulheres que
Além da punição do agressor e saem ou pretendem sair das re-
de ter alguém especialista para lações violentas.
conversar, apareceram nas res-
postas das mulheres em geral: É necessário destacar que as
disponibilizar aplicativos de mulheres que sofreram vio-
celular que permitam as ví- lência consideraram muito
timas de violência doméstica importantes as seguintes políti-
pedirem ajuda apertando apenas cas públicas, nessa ordem de rele-
um botão no celular; oferecer su- vância: punir de forma mais severa
porte legal e serviços de ajuda, que orien- aqueles que cometem violência domésti-
tem como reportar a violência e como informar a ca; ter alguém para conversar, como um psicólogo
polícia; ampliar a divulgação de campanhas sobre ou outro especialista em saúde mental; garantir
conscientização e denúncia de violência doméstica acesso a necessidades básicas para mulheres em
para homens e mulheres; disponibilizar mais infor- situação de violência doméstica, como: casa abri-
mações sobre segurança, prevenção e direitos das go, alimentação e vestimenta e disponibilizar mais
vítimas: aqui essas mulheres estão nos dizendo que informações sobre segurança, prevenção e direitos
precisam de informação qualificada, acessível, as- das vítimas.
sim como noções sobre seus direitos e auxílio para
pedirem ajuda de maneira rápida e simples. Seria O gráfico e a tabela abaixo mostram como é im-
óbvio e básico se não fossem as próprias mulheres portante ouvir o que as mulheres têm a dizer. Es-
a dizerem que estamos todos carentes de informa- pecialmente aquelas que estão ou estiveram em
ções, de conscientização sobre direitos, segurança situação de violência.
Gráfico 14: Ações para combater a violência doméstica - Mulheres e vítimas de violência
76
Punir de forma mais severa aqueles que cometem
violência doméstica 83
81
72
Ter alguém para conversar, como um psicólogo ou outro
especialista em saúde mental 82
74
Disponibilizar aplicativos de celular que permitam as 71
vítimas de violência doméstica pedirem ajuda apertando 78
apenas um botão no celular 74
Oferecer suporte legal e serviços de ajuda, que 69
orientem: como reportar a violência e como informar a 76
polícia 71
Ampliar a divulgação de campanhas sobre 68
conscientização e denúncia de violência doméstica para 73
homens e mulheres 70
Garantir acesso a necessidades básicas para mulheres 67
em situação de violência doméstica, como: casa abrigo, 78
alimentação e vestimenta 70
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Mulheres Vítima de violência ou agressão* Não foi vítima de violência ou agressão* * Nos últimos 12 meses
Estimulada e única, em %
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Instituto Datafolha. Pesquisa Visível e Invisível: a vitimização
de mulheres no Brasil, edição 4, 2023. Só mulheres.
Tabela 23: Políticas públicas consideradas importantes para o enfrentamento à violência contra a
mulher segundo as entrevistadas.
Muito Pouco Nada
importante Importante Importante Importante
Punir de forma mais severa aqueles que cometem violência doméstica. 76,5 20,6 1,3 1,2
Ter alguém para conversar, como um psicólogo ou outro especialista em 72,4 26,0 0,9 0,4
saúde mental.
Disponibilizar aplicativos de celular que permitam as vítimas de violência 70,8 26,9 1,3 0,5
doméstica pedirem ajuda apertando apenas um botão no celular.
Oferecer suporte legal e serviços de ajuda, que orientem: como reportar a 69,4 29,4 0,3 0,4
violência e como informar a polícia.
Ampliar a divulgação de campanhas sobre conscientização e denúncia de 67,9 30,0 0,8 1,0
violência doméstica para homens e mulheres.
Garantir acesso a necessidades básicas para mulheres em situação de 67,2 30,8 0,5 1,0
violência doméstica, como: casa abrigo, alimentação e vestimenta.
Disponibilizar mais informações sobre segurança, prevenção e direitos das 67,0 31,1 1,1 0,6
vítimas.
A criação de vagas de trabalho específicas para mulheres vítimas de violência 63,7 32,6 2,1 0,9
doméstica no mercado de trabalho.
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Instituto Datafolha. Pesquisa Visível e Invisível: a vitimização
de mulheres no Brasil, edição 4, 2023. Só mulheres.
Recomendações
lheres. O desenho de políticas públicas, sua tro da ocorrência, mas também profissionais que
implementação e o monitoramento das ações façam o encaminhamento dos registros em tem-
realizadas demanda a produção periódica de po real e que estejam adequadamente treinados.
dados e informações.
• Fortalecer a integração entre a rede de acolhimen-
• Observar o cumprimento da lei 14.316/2022, to, as Polícias, Ministérios Públicos, Defensorias
que determina que 5% das verbas do Fundo Públicas, Poder Judiciário e sociedade civil.
Nacional de Segurança Pública (FNSP) sejam
direcionadas para ações de enfrentamento à • Treinamento dos profissionais para o olhar da
violência contra a mulher. Considerando o va- violência de gênero em seu trabalho cotidiano,
lor arrecadado pelo FNSP em 2022, segundo o com a realização do fortalecimento da rede que
Portal da Transparência5, e assumindo que em atua no enfrentamento da violência.
2023 a receita será parecida, o Ministério da
Justiça deverá empenhar cerca de R$110 mi- • Aperfeiçoamento da implementação da Lei Ma-
lhões em ações de enfrentamento à violência ria da Penha.
contra a mulher.
Acolhimento e encaminhamento:
Segurança Pública e Justiça:
• Garantir o acolhimento e escuta qualificada da
• Estimular a adoção de protocolos de atendi- mulher em situação de violência.
mento para todos os profissionais de seguran-
ça pública, em especial pelas Polícias, que em • Ampliar a capacidade de abrigamento de mulhe-
geral são restritos a unidades especializadas, de res em situação de violência e seus dependentes.
modo a garantir o atendimento digno à todas
que demandarem algum atendimento das Polí- • Desenvolver programas de geração de renda e
cias (considerando que, muitas vezes, a polícia emprego que priorizem mulheres que sofrem ou
é a porta de entrada dessas mulheres na rede de sofreram violência doméstica.
proteção. Se essa entrada falhar pode ser que
essa mulher não volte mais). • Ampliar programas de transferência de renda a
mulheres em situação de pobreza, em especial
• Fortalecer as condições técnicas (tecnológicas e para as chefes de família.
de recursos humanos) para ofertar o atendimento
por meio eletrônico, quando for o caso, de forma • Fortalecer os sistemas de apoio formal e informal
célere. Não basta existir a plataforma para o regis- para mulheres que vivem em situação de violência.
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