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TEMA: Compartimentação Celular e

Sistemas Endomembranas

- Reticulo Endoplasmático
Introdução
Muitos citologistas consideram algumas das diferentes
membranas da célula eucariota como parte de um sistema
endomembranar. Formam um conjunto de estruturas que se
relacionam entre si, incluindo o retículo endoplasmático, o
complexo de Golgi, lisossomas, vacúolos, o invólucro
nuclear e ainda a própria membrana plasmática.
No citoplasma de diferentes tipos de células eucariotas
foram observadas ao microscópio de luz várias estruturas
membranares mal definidas e aparentemente interligadas,
que ocupavam zonas específicas no mesmo tipo de células.

A organização ultraestrutural do ergastoplasma foi, na


década de 40, estudada por Keith Porter em microscopia
eletrónica de transmissão (TEM). Observou e estudou um
órgão com o aspecto de uma rede, e passou a denominá-lo
retículo endoplasmático (RE).
Ultraestrutura e Tipos de Retículo
• O RE é constituído por um complexo conjunto
membranar de cisternas, canais, vesículas e vacúolos,
que se intercomunicam, ligando, entre si, o lúmen dos
seus diversos compartimentos.
• A membrana do RE é morfológica e estruturalmente
semelhante às membranas dos diferentes organelos
celulares, sendo constituída por diversos lípidos e
proteínas.
• É de referir que a grande maioria das proteínas do RE se
encontra associada à sua membrana, facto que denuncia o
importante papel desempenhado por este compartimento
subcelular no metabolismo de lípidos, denominada via de
secreção de proteínas.
• Tais proteínas denominam-se transmembranares ou
intrínsecas de membrana.
Ultraestrutura e Tipos de Retículo

Proteína associadas a membrana


Ultraestrutura e Tipos de Retículo (cont.)
• Estruturalmente, os domínios transmembranares mais
comuns são constituídos por 20 a 25 aminoácidos
hidrofóbicos, os quais adoptam uma conformação em
hélice - a.
• Embora o RE constitua, quando observado em TEM, um
organelo morfologicamente bem individualizado e de
contornos bem marcados, por vezes, as suas ramificações
interpenetram-se com outras estruturas membranares,
nomeadamente com os dictiossomas (complexo de Golgi),
sendo difícil distinguir os seus elementos.
• Além disso, este complicado sistema de cisternas do RE
apresenta continuidade com o invólucro nuclear, havendo
mesmo autores que se referem ao envelope nuclear como
RE nuclear.
Tipos de Reticulo Endoplasmático
• Observado em TEM, o RE apresenta, tipicamente, dois,
aspectos ultraestruturais.
• Num, as membranas do RE apresentam-se lisas, sem
ribossomas aderentes à sua porção externa, constituindo o
chamado retículo endoplasmático liso (REL)

• No outro, as membranas das cisternas e os vacúolos


apresentam-se externamente revestidos (isto é, na porção
hialoplásmica ou citosólica) por pequenas partículas
densas, os ribossomas. Ao conjunto assim constituído por
membranas do RE e as partículas ribossómicas densas dá-
se o nome de retículo endoplasmático rugoso (RER)
Tipos de Reticulo Endoplasmático
O retículo endoplasmático apresenta duas porções distintas: a
lisa e a rugosa. Essa última destaca-se por possuir ribossomas
aderidos à membrana. É constituido de fosfolipidos e proteinas.

Observe a rede de túbulos que forma o retículo endoplasmático


Ultraestrutura e Tipos de Retículo (cont.)
Aspecto esquemático do Aspecto esquemático do Retículo
Retículo Endoplasmático Liso Endoplasmático Rugoso
Função do Retículo Endoplasmático Liso

• A função metabólica do REL é mais variada, dependendo da


célula onde existe. O metabolismo lipídico e a regulação
dos níveis citosólicos de cálcio são algumas das funções
desempenhadas pelo REL.

• Existe, no entanto, um tipo particular de REL, encontrado em


todas as células: este subdomínio do RE, o denominado RE
transicional, está envolvido no processo de formação de
vesículas membranares contendo lípidos e proteínas,
cujo destino é o complexo de Golgi.

• Em muitos casos, é possível observar os dois elementos bem


individualizados (mas sempre interconectados) no
citoplasma.
Função do Retículo Endoplasmático Liso
(Cont.)

• Síntese de lipídios
• Metabolismo de carboidratos
• Armazenamento de íons de cálcio
• Inativação de substâncias tóxicas
Função do Retículo Endoplasmático
Rugoso
• É particularmente activo na síntese de proteínas que
se destinam ao espaço extracelular (isto é, proteínas
secretadas) ao próprio RE, à membrana plasmática,
aos lisossomas, ao complexo de Golgi.

• Síntese de proteínas
• Glicosilação de proteínas
• Montagem de moléculas proteicas
• Síntese de fosfolipídios
Organização molecular da Membrana do
Retículo Endoplasmático
• Após o seu isolamento e análise do seu conteúdo, foi
constatado, bioquimicamente, que essas pequenas
partículas continham ácido ribonucleico (rRNA). Por este
facto, as referidas estruturas passaram a ter a designação
de ribossomas. Além da presença do rRNA, foi constatada,
no ribossoma, a presença de numerosas proteínas, pelo que
a referida estrutura passou a ser identificada quimicamente
como uma ribonucleoproteína (RNP).
• A quantidade e o tipo de RE variam nos diferentes tipos de
células consoante a função que estas desempenham no
organismo.
• De facto, os elementos rugosos e lisos do RE representam
subdomínios deste compartimento, especializados em
diferentes actividades metabólicas.
Organização molecular da Membrana do
Retículo Endoplasmático (cont.)

• Noutras células, pelo contrário, o RER e o REL aparecem


misturados na mesma zona citoplasmática, confundindo-se
os elementos rugosos com os elementos lisos, quando o
corte dos primeiros não é favorável à observação dos
ribossomas aderentes à sua membrana. A presença ou a
ausência de ribossomas aderentes às membranas do
RE é a única particularidade ultraestrutural que permite
a distinção entre os dois tipos de RE.
• Embora uma grande parte das células apresente os dois
tipos de RE, por vezes, um é mais desenvolvido do que o
outro, devido à função específica que desempenha nas
células. Há, contudo, células que mostram diferenciações
do RE, as quais se apresentam sob diversas formas.
Organização molecular da Membrana do
Retículo Endoplasmático (cont.)

• Assim, em ovócitos, é facilmente observável no seu


citoplasma um tipo especial de RE, denominado por lamelas
aneladas (ou anulares).

• Estas estruturas são constituídas por cisternas de diâmetro


muito regular e apresentam numerosos aspetos anulares nas
suas cisternas, com semelhanças a poros e cuja função está
mal definida.
Organização molecular da Membrana do
Retículo Endoplasmático (cont.)
• As porções mais periféricas destas lamelas podem conter
ribossomas, parecendo cisternas típicas do RER, enquanto
as cisternas mais centrais se apresentam desprovidas de
ribossomas. Também as fibras musculares têm um REL
especializado nos seus sarcómeros, a que se dá o nome de
retículo sarcoplásmico.

• Este tipo especial de RE é constituído por um conjunto de


cisternas achatadas e dispostas à volta das miofibrilas, que
armazenam Ca² oriundo do hialoplasma, o qual tem uma
importância fundamental na fisiologia da contração muscular
Organização Ultraestrutural dos Ribossomas
• Os ribossomos são estruturas celulares constituídas
por RNAr (RNA ribossômico) e proteínas;

• Os ribossomas são unidades citoplasmáticas onde se


sintetizam as proteínas. Cada ribossoma é constituído
por duas subunidades independentes, designadas por
pequena subunidade ribossómica e grande subunidade
ribossómica, que funcionalmente, se apresentam
aderentes entre si.
• Os ribossomas citoplasmáticos são, estruturas cujos
precursores ribonucleicos são, primariamente, sintetizados
no nucléolo.
Organização Ultraestrutural dos Ribossomas
(cont.)
• Os ribossomas citoplasmáticos das células eucariotas têm
grandes dimensões da ordem dos 25 e 30 nm de diâmetro.
Podem encontrar-se livres no hialoplasma (ou citosol) ou
aderentes a cisternas citoplasmáticas, associação que
caracteriza o RER.
• Também em certo tipo de células encontram-se ribossomas
associados a filamentos do citosqueleto, cuja função parece
estar ainda mal conhecida.

• As proteínas ribossómicas, localizadas na pequena


subunidade ribossómica, foram designadas por proteínas S
(do inglês small). As proteínas encontradas na grande
subunidade foram designadas por proteínas L (do inglês
large).
Organização Ultraestrutural dos
Ribossomas

Os ribossomas são constituídos por duas subunidades que se unem no


processo de síntese proteica (uma maior e uma menor). São sintetizados no
nucléolo e depois transferidos ao citoplasma. São visíveis apenas ao microscópio
eletronico
Organização Ultraestrutural dos Ribossomas
• A biogénese ribossómica inicia-se no nucléolo, onde o
DNA é transcrito, dando origem aos rRNA, e muitas das
proteínas ribossómicas se associam aos respectivos rRNA.
Uma vez que as proteínas ribossómicas são sintetizadas no
citosol por ribossomas já maduros, estas têm de ser
transportadas para o núcleo para poderem ser incorporadas
nas partículas ribossómicas nascentes.
• O número de moléculas proteicas que seguem esta via é
impressionante. Numa célula típica, existem cerca de 10
milhões de ribossomas, implica que o núcleo importa do
citoplasma, em 24 horas, mais de 800 milhões de proteínas
ribossómicas, necessárias para à formação das partículas
ribossómicas. Isto equivale a 10.000 proteínas por segundo
do citosol para o núcleo. Depois de formadas no núcleo, as
subunidades ribossómicas são ativamente exportadas para
o citosol.
Organização Ultraestrutural dos
Ribossomas
Aspecto simplificado de um Posição do ribossoma e das suas
ribosoma das células eucariotas e subunidades ribossómicas
distribuição dos seus componentes pequenas - puRi e grandes- guRi
OUTROS TIPOS DE RIBOSSOMAS

• Além dos ribossomas citoplasmáticos das células eucariotas,


a matriz das mitocôndrias das células eucariotas contém
também um sistema genético completo, do qual fazem parte
numerosos ribossomas mitocondriais (também chamados
mitorribossomas).

• Contendo um conjunto de rRNA semelhantes aos


encontrados nos ribossomas dos seres procariotas,
intervêm na síntese proteica destes organelos.

• Também os cloroplastos das plantas superiores e das algas


verdes contêm ribossomas semelhantes aos das bactérias,
que actuam na síntese de cerca de 20 proteínas
cloroplastidiais.
Actividade Funcional dos Ribossomas

• Uma vez transpostos os poros nucleares, as duas


subunidades dos ribossomas serão alvo de um processo de
maturação, podendo, só então, associar-se com RNA
mensageiro (mRNA) e desempenhar a função para que
foram criados: a síntese de proteínas.

• Todos os ribossomas existentes no citosol de qualquer


célula eucariota são, química e estruturalmente, iguais.
O Reticulo Endoplasmático e a Arquitectura
Celular
• Apesar de funcional e estruturalmente o RE apresentar
vários domínios especializados (por exemplo, RER, REL,
envelope nuclear e RE transicional), este complexo sistema
membranar apresenta continuidade em toda a sua
extensão.
• Tal propriedade foi evidenciada experimentalmente micro
injectando em células fixadas uma pequena gotícula lipídica
contendo uma substância fluorescente, extremamente
solúvel em mRNA das membranas biológicas, mas insolúvel
no citosol.
• A análise destas células por microscopia de fluorescência
mostrou que a substância injectada difundiu-se rapidamente
por um complexo sistema membranar, o qual, por critérios
morfológicos, foi identificado como sendo o RE.
O Reticulo Endoplasmático e a Arquitectura
Celular
• Tal observação foi questionada na área da biologia celular.
Sendo o RE um único compartimento, no qual as proteínas
lumenais e membranares se podem movimentar por difusão
contendo proteínas únicas.
Estas proteínas são sintetizadas no RER, chegando, por
difusão lateral ao longo da membrana do RE e através dos
poros nucleares, à membrana interna do envelope nuclear,
local onde permanecerão graças às interações moleculares
acima referidas.
• Mecanismos deste tipo não são conhecidos para os outros
domínios do RE, e permanece completamente enigmática
a razão pela qual os ribossomas se concentram no RER,
em vez de se distribuírem de um modo mais homogéneo por
todo o RE. Esta é uma questão que continua a ser alvo
de intensa investigação.
O papel do RE na função e estrutura celulares
• O papel do RE na função e estrutura celulares transcende o
próprio RE. É no RE que é produzida a maioria das
proteínas e lípidos de outros sistemas membranares.
Referimo-nos, por exemplo, à membrana plasmática, ao
complexo de Golgi e aos lisossomas.
• Nestes casos, a transferência de proteinas produzidas no RE
para estes sistemas membranares não é realizada de um
modo directo, por simples difusão.
• É também no RE que são produzidas todas as proteínas e
lipoproteínas destinadas à denominada via de secreção.
• Ex. A produção de lipoproteínas sanguíneas pelos
hepatócitos, a secreção de diversas hidrólases e hormonas
peptídicas pelas células do pâncreas e a produção de
glicoproteínas destinadas à formação do glicocálice ou das
lâminas basais
O RE e o Metabolismo dos Lípidos
• Grande parte das proteínas do RE encontra-se associada à
membrana deste organelo.

• Uma fração significativa das proteínas membranares do RER


está envolvida na síntese proteica.

• De facto, para que uma proteína atravesse total ou


parcialmente a membrana do RER e adquira uma estrutura
tridimensional correcta, é necessária toda uma maquinaria
proteica que:

- Mantenha o ribossoma que sintetiza a cadeia polipeptídica


em contacto íntimo com a membrana do RER;
O RE e o Metabolismo dos Lípidos (Cont.)
• - Interrompa a hidrofobicidade da membrana do RER, de
modo a que uma cadeia polipeptídica (por vezes,
extremamente hidrofílica) possa transpor essa membrana;

• - Clive a sequência sinal da proteína em trânsito;

• - Introduza modificações covalentes na proteína sintetizada


(por exemplo, oxidação de cisteínas, glicosilação), sem as
quais a proteína não adquirirá actividade:

• - Catalise a aquisição de uma estrutura terciária e,


frequentemente, quaternária, pela proteína acabada de
sintetizar.
O RE e o Metabolismo dos Lípidos (Cont.)
• A grande maioria das proteínas da membrana do RE está
envolvida numa actividade bem distinta: o metabolismo de
lípidos e de substâncias lipofílicas.

• Numa célula eucariota existem, literalmente, milhares de


lípidos membranares diferentes.

• Apesar do número de lípidos membranares ser elevado, a


grande maioria pertence a uma de duas grandes famílias: os
glicerofosfolípidos e os esfingolípidos. Juntamente com o
colesterol, os glicerofosfolípidos e os esfingolípidos são os
principais lípidos membranares.
• Com algumas pequenas excepções, as reações químicas
necessárias para sintetizá-los são catalisadas por enzimas do
RE.
Translocação dos fosfolípidos após a
sua síntese através da membrana do RE

Proteina Fosfolipidos
O RE e o Metabolismo dos Lípidos
• A capacidade do RE na síntese de lípidos é enorme, não há
nenhum lípido membranar numa célula eucariota cuja síntese
não tenha envolvido, pelo menos em parte, enzimas deste
compartimento.
• Um outro lípido cuja síntese envolve enzimas deste
compartimento é o colesterol. Na biossíntese desta molécula,
estão envolvidas dezenas de enzimas, uma boa parte das
quais localizada no REL. O colesterol, é utilizado como lípido
estrutural na constituição das membranas biológicas, é o
precursor de hormonas esteroides e de ácidos biliares.
• As células especializadas na síntese destes compostos
possuem um REL muito desenvolvido. É este o caso do
hepatócito (síntese de colesterol e de ácidos biliares), da
célula de Leydig do testículo, da célula do corpus luteum e do
adrenócito (síntese de colesterol e de hormonas esteroides).
Relações do RE com Outros Organelos
e Estruturas Celulares
• A existência de contactos físicos entre a membrana do RE e
outros sistemas membranares, como, por exemplo, a
membrana plasmática, complexo de Golgi, a mitocôndria, o
Peróxissoma e o lisossoma, são mediadas por proteínas
membranares específicas presentes no sítio de contacto
interorganelar. A função destes sítios de contacto é variável.
Podem possibilitar uma transferência rápida e quase directa
de lípidos membranares de um organelo para o outro,
envolvendo o RE, e as mitocôndrias e os peróxissomas.
• A existência de sítios de contacto envolvendo o RE e outros
sistemas membranares está relacionada com a regulação,
das concentrações citosólicas de Ca²+. Por exemplo, o
contacto entre o RE e a membrana plasmática das
células musculares facilita a libertação de Ca²+ após a
despolarização da membrana.
Relações do RE com Outros Organelos
e Estruturas Celulares
Relações do RE com Outros Organelos
e Estruturas Celulares
• Quando observado por microscopia de fluorescência em
células vivas, o RE apresenta-se como uma estrutura
extremamente dinâmica.

• A elongação e retracção das estruturas tubulares do RE,


assim como a formação e destruição das suas
ramificações, são processos que ocorrem continuamente
in vivo. Tal dinamismo depende directamente das
interações que o RE estabelece com o citoesqueleto,
nomeadamente com os microtúbulos. Estas interações
são facilmente observáveis por TEM, verificando-se, com
frequência, a existência de estruturas tubulares do RE
perfeitamente alinhadas e em contacto com microtúbulos.

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