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Aula 01 – Introdução a Bioquímica

1. Separação de Organelas Celulares

O primeiro passo para que se possa isolar as organelas celulares é romper a membrana
plasmática que as circunda. Isso pode ser feito de algumas formas diferentes: por meio de
choque osmótico (normalmente feito com sacarose ou um detergente), vibração de ultrassom,
por rompimento mecânico, ou ainda pela combinação de mais de uma técnica. O método
escolhido depende do tecido, de tipo celular, e da fração de interesse.

A maioria das células de plantas e animais pode ser homogeneizada mecanicamente. A


vibração de ultrassom é geralmente usada para lisar células procarióticas. Já o choque
osmótico é normalmente o método de escolha para lisar células vulneráveis a estresse
osmótico, como os eritrócitos. Todos os processos citados rompem as membranas em
fragmentos que rapidamente se fecham novamente formando pequenas vesículas e liberando
organelas celulares. Quando bem executados, esses protocolos preservam intactas organelas
como o núcleo, as mitocôndrias, lisossomos, peroxissomos e complexo de Golgi.

Passos para a separação:

1- Lise celular para rompimento da membrana;


2- Centrifugação para separação das frações celulares;
3- Lavagens para purificação.

2. Organelas celulares

A célula é a menor unidade estrutural de um organismo. Ela tanto pode existir como uma
unidade funcional independente em organismos unicelulares, quanto como subunidades de
organismos multicelulares de diferentes complexidades. Existem dois tipos principais de
células: as procarióticas (presente em bactérias) e as eucarióticas (presente em animais e
plantas). A principal diferença entre elas é a presença de um núcleo isolando o material
genético, e de organelas delimitadas por membranas nas células eucarióticas.

 Eucarióticas

As células eucarióticas de diferentes organismos compartilham algumas características


estruturais, e são responsáveis pelos quatro mecanismos básicos para manutenção da vida,
que são:

 Síntese de biomoléculas, tais como carboidratos, lipídios, proteínas e ácidos nucleicos;


 Transporte de substâncias por meio de membranas;
 Produção de energia;
 Eliminação de metabólitos e substâncias tóxicas

Essas funções são realizadas por estruturas que ficam no interior das células e que são
denominadas organelas. Todas as células eucarióticas são delimitadas por uma membrana
plasmática. Ela é formada por uma dupla camada fluida de fosfolipídios, proteínas e colesterol,
e é responsável por controlar o transporte de substâncias para o interior ou para o exterior da
célula.

Existe dentro das células um sistema dinâmico de membranas responsáveis pela síntese e
transporte de substâncias e biomoléculas. Fazem parte deste sistema o retículo
endoplasmático, o complexo de Golgi, e envelope nuclear, e vesículas pequenas como os
lisossomos e peroxissomos.

O retículo endoplasmático (RE) é uma rede tridimensional de túbulos e vesículas


interconectadas e conectadas ao envelope nuclear. Existem dois tipos de RE, o rugoso e o liso.
O retículo endoplasmático rugoso recebe este nome por ter ribossomos aderidos às suas
membranas. Ribossomos são as organelas responsáveis pela tradução do MRNA que sai do
núcleo e síntese de proteínas. O retículo endoplasmático rugoso participa da síntese
principalmente de proteínas que serão enviadas para o exterior da célula, e é especialmente
desenvolvido em células com função secretora.

Já o retículo endoplasmático liso está livre de ribossomos, é fisicamente contínuo ao rugoso,


tem como função sintetizar lipídeos e participar de outros processos importantes, como o
metabolismo de compostos tóxicos.

O complexo de Golgi é outro sistema de cavidades membranosas presente em quase todas as


células eucarióticas. Sua função é o processamento e distribuição de proteínas. As proteínas
recém sintetizadas saem do RE em membranas que se fundem ao lado cis do complexo de
Golgi. Dentro do Introdução à bioquímica 19 complexo, são modificadas pela adição de sulfato,
carboidratos ou porções lipídicas, e são endereçadas aos locais onde atuarão, para onde são
direcionadas em vesículas que saem do lado trans do complexo.

Os lisossomos são vesículas esféricas formadas por membrana, e são encontrados somente
em células animais. Eles têm um lúmen ácido que contém enzimas capazes de digerir lipídeos,
polissacarídeos, proteínas e ácidos nucleicos. São, portanto, responsáveis pela reciclagem de
moléculas complexas dentro da célula. Esses materiais entram no lisossomo e são degradados
até suas moléculas mais simples (monossacarídeos, aminoácidos, etc.), que são então
liberadas para serem utilizadas em novos componentes celulares ou catabolizadas. Células de
plantas não possuem lisossomos, e as organelas com função de digerir moléculas complexas
são os vacúolos. Eles ocupam grande parte da célula adulta, e além da função digestiva, são
responsáveis também por armazenar substâncias e fornecer suporte físico para as células.

Uma outra organela que tem forma de vesícula circundada por membrana é o peroxissomo.
Ele possui enzimas oxidativas relacionadas à degradação de peróxido de hidrogênio e radicais
livres resultantes da degradação de aminoácidos e gorduras, e que podem ser tóxicos para a
célula.

O núcleo de uma célula eucariótica é extremamente complexo tanto na sua estrutura quanto
na função. Ele é envolto em um envelope nuclear formado por duas camadas de membrana, e
se comunica com o citoplasma por meio dos poros nucleares. No interior do núcleo existe o
nucléolo, uma região densa que possui muitas cópias de DNA que codificam RNA ribossômico.
O núcleo tem duas funções de extrema importância dentro da célula: armazenar a informação
genética contida no DNA e regular o metabolismo celular. Dentro dele acontece a replicação
do DNA e controle da expressão gênica.

Mitocôndrias são organelas celulares presentes geralmente em grande número em células


eucarióticas. Elas também são envoltas por duas membranas, a externa lisa e a interna
formando invaginações chamadas de cristas. Em seu interior, na matriz, há enzimas e
intermediários químicos envolvidos no metabolismo energético. Elas catalisam a oxidação dos
nutrientes orgânicos e geram ATP, a principal molécula transportadora de energia das células,
geram a energia utilizada para o funcionamento celular. Uma particularidade das mitocôndrias
é o fato de elas armazenarem seu próprio DNA, RNA e ribossomos, que codificam proteínas
estruturais da organela. São capazem de dividir e formas novas mitocôndrias.

As células fotossintetizantes de plantas e algas possuem organelas denominadas


cloroplastos. Eles têm função parecida com a das mitocôndrias, com a diferença de que
utilizam energia solar em vez de utilizarem energia química proveniente de oxidação.

As células que possuem cloroplastos possuem também mitocôndrias. Os cloroplastos


produzem ATP somente na presença de luz. As mitocôndrias agem independentes da luz,
oxidando os carboidratos produzidos após a fotossíntese.

O citoesqueleto é formado por uma rede complexa de proteínas e é responsável pela


estrutura e organização do citoplasma e pela forma da célula. Os três tipos gerais de
filamentos que compõem o citoesqueleto são os filamentos de actina, os microtúbulos e os
filamentos intermediários. Filamentos de actina e microtúbulos também estão envolvidos na
movimentação das organelas e de toda a célula.
3. As biomoléculas e a hierarquia na organização molecular das células

Todas as moléculas orgânicas de uma célula têm em sua composição átomos de carbono.
O carbono é capaz de estabelecer ligações com átomos de hidrogênio, oxigênio e
nitrogênio, e compartilha pares de elétrons com até quatro outros carbonos para formar
ligações que são muito estáveis.

Todas as moléculas orgânicas são sintetizadas a partir dos mesmos compostos químicos
simples. Como consequência, os componentes de uma célula são facilmente relacionados,
e podem ser classificados em um pequeno número de grupos diferentes. Existem quatro
tipos principais de biomoléculas que formam as células: carboidratos, lipídios, proteínas e
ácidos nucleicos.

 Carboidratos

Os carboidratos (polissacarídeos) são longas cadeias de açúcar. Os açúcares simples


(monossacarídeos) são compostos com a fórmula (CH2 O) n, onda n varia de 3 a 7.

Eles existem na forma de cadeia carbônica aberta ou cíclica, e podem estar ligados à
grupos hidroxila, ou a um aldeído ou cetona, que agem 22 Introdução à bioquímica
como agentes redutores. A ligação covalente entre dois monossacarídeos é
denominada ligação glicosídica, e une monossacarídeos formando dissacarídeos (ex.:
os monossacarídeos glicose e frutose ligados formam o dissacarídeo sacarose). Ela é
formada entre um grupo -OH de um açúcar e um grupo -OH de outro açúcar por uma
reação de condensação, que libera uma molécula de água quando a ligação é formada.
Polímeros maiores de açúcar podem ser oligossacarídeos (trissacarídeo,
tetrassacarídeo, etc.) até foram cadeias muito grandes chamadas polissacarídeos, que
contém centenas de monossacarídeos. Monossacarídeos e dissacarídeos (ex.: glicose,
sacarose) são doces, cristalinos e solúveis em água. Já os polissacarídeos (ex.: amido,
celulose) são carboidratos complexos, não são doces e nem solúveis em água.

A principal função dos carboidratos é relacionada à energia na célula. Eles são os


principais produtores de energia sob a forma de ATP, e suas ligações são quebradas
sempre que as células precisam de energia para reações químicas.

Eles também conseguem reservar energia na forma de carboidratos complexos. Nos


vegetais, a energia é reservada no amido, um polímero de glicose, e nos animais, em
glicogênio, também polímero de glicose com uma estrutura mais compacta e
ramificada.

 Lipídeos

Lipídeos são moléculas relativamente pequenas e hidrofóbicas. Em geral apresentam


estrutura química relativamente simples, mas têm funções complexas e diversas,
atuando em etapas cruciais do metabolismo e contribuindo com a estrutura celular.
Diferente das outras classes de biomoléculas, os lipídeos não são caracterizados por
um grupo funcional comum, a sim pela sua baixa solubilidade em água e alta
solubilidade em solventes orgânicos. Entretanto, a maioria deles é derivada ou possui
em sua estrutura ácidos graxos.

Um ácido graxo tem duas regiões quimicamente distintas: uma cadeia longa de
hidrocarboneto e um grupo carboxila (-COOH), que se comporta como um ácido
carboxílico.
Existem, ainda, os lipídeos que não contêm ácidos graxos em sua composição. Eles não
são energéticos, mas desempenham funções fundamentais no metabolismo. Entre
eles estão os terpenos, representados pelas vitaminas lipossolúveis, e os esteroides,
cujo exemplo mais importante é o colesterol.

Esta molécula, além de participar da membrana plasmática, é precursora de hormônios


sexuais, glicocorticóides, mineralocorticóides, ácidos e sais biliares e vitamina D.

 Proteínas

As proteínas constituem, junto com a água, a maior parte do conteúdo das células.
Elas têm funções variadas e essenciais em todos os organismos vivos. Essas funções
podem ser estruturais, como é o caso das proteínas colágeno e elastina encontrada na
matriz óssea e no sistema vascular, e da queratina, presente na epiderme. Suas
funções dinâmicas são muito diversificadas. Elas incluem proteínas agindo como
enzimas, hormônios, fatores de coagulação, imunoglobulinas, receptores de
membrana, além de controle da maquinaria genética, contração muscular,
respiração, entre outras.

As proteínas são formadas por cadeias de aminoácidos. Estes são um grupo de


compostos orgânicos formados, em sua maioria, por um carbono alfa ao qual estão
quimicamente ligados um grupo amino (-NH2), um grupo ácido carboxílico (-COOH) e
uma cadeia lateral variável. Existem 20 aminoácidos diferentes, e sua variabilidade se
dá pela cadeia lateral. Para formar proteínas, os aminoácidos se ligam uns aos outros
em longas cadeias que são depois organizadas em estruturas tridimensionais únicas
para cada tipo de proteína. As ligações entre dois aminoácidos são chamadas ligações
peptídicas e são 24 Introdução à bioquímica formadas entre o grupo amina de um
aminoácido com o grupo carboxila de outro.

 Ácidos nucleicos

Os ácidos nucleicos são compostos orgânicos formados por cadeias de nucleotídeos.


Cada nucleotídeo é formado por um açúcar do grupo das pentoses (monossacarídeos
com cinco átomos de carbono), um radical fosfato, e uma base nitrogenada. As bases
nitrogenadas são divididas em e pirimidinas e purinas. Citosina, timina e uracila são
derivadas de pirimidinas porque derivam de uma pentose. Guanina e adenina são
derivadas de purinas, e têm um segundo anel aromático de 5 carbonos ligado à uma
pentose. Cada nucleotídeo é nomeado de acordo com a base nitrogenada que contém.

Existem dois tipos principais de ácidos nucleicos, que diferem no tipo de açúcar que os
compõem. Este açúcar pode ser uma ribose ou desoxirribose. Os nucleotídeos
formados por ribose são chamados de ribonucleotídeos, contêm as bases adenina,
guanina, citosina e uracila, e formam as moléculas de ácido ribonucleico (RNA) das
células. Os formados por desoxirribose são os desoxirribonucleotídeos, contêm as
bases adenina, guanina, citosina e timina (que é quimicamente similar à uracila), e
estão presentes nas moléculas de ácido desoxirribonucleico (DNA).

A sequência linear de nucleotídeos presentes no DNA e no RNA codifica a informação


genética da célula. A habilidade de pareamento das bases nitrogenadas (guanina com
citosina, adenina com timina ou uracila) é a chave da hereditariedade e da evolução.

4. Hierarquia na organização molecular das células

Os monômeros, moléculas de organização mais simples das células, são os mesmos em


todos os organismos vivos e se combinam para formar estruturas cada vez Introdução à
bioquímica 25 maiores e mais complexas. Por exemplo, estruturas simples como
nucleotídeos se ligam a outros para formar um ácido nucleico, DNA. Este, por sua vez, se
condensa e se liga a diversas proteínas para formar os cromossomos. Os cromossomos e
diversas outras estruturas estão juntas e interagindo dentro do núcleo celular. Ainda, por
mais que os monômeros sejam estruturas simples e sejam necessários em quantidades
enormes para formar o próximo nível hierárquico de compostos da célula, alterações em
sua estrutura podem ter consequências significativas para a célula e portanto, para o
indivíduo formado por elas. Por exemplo, uma alteração em uma base nitrogenada de um
ácido nucleico pode causar alterações no código genético de uma proteína importante,
que será traduzida de maneira errada e não funcionará adequadamente, causando
doenças. A Figura 3 ilustra como funciona a hierarquia das biomoléculas dentro de uma
célula animal.

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