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BIOLOGIA

CELULAR

Daikelly Iglesias Braghirolli


Organelas biossintéticas:
o retículo endoplasmático
e os ribossomos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Definir as características e as funções do retículo endoplasmático (RE)


e dos ribossomos.
„„ Verificar as diferentes condições em que ocorre a síntese de proteínas
nos ribossomos.
„„ Identificar os processos pelos quais o RE orienta a síntese, a modificação
e a distribuição de proteínas.

Introdução
Os ribossomos e o RE desempenham importantes funções celulares.
Os ribossomos são responsáveis pela síntese de todas as proteínas pre-
sentes nas células e no líquido extracelular. Enquanto isso, o RE é uma
organela com funções também relacionadas à síntese proteica, assim
como ao processamento e à distribuição de proteínas. Ele também ar-
mazena íon cálcio e participa da produção de lipídios.
Neste capítulo, você compreenderá quais são as principais funções
e características dos ribossomos e do RE. Além disso, você identificará
como a síntese de proteínas pode acontecer e como o RE atua na sua
modificação e distribuição.
2 Organelas biossintéticas: o retículo endoplasmático e os ribossomos

Estrutura e função do retículo endoplasmático e


dos ribossomos
O RE é uma organela presente em células eucarióticas, que apresenta função
central na produção de proteínas e lipídios. Além disso, essa organela também
atua como um reservatório do íon Ca2+.
O RE é uma organela formada por um sistema de membranas duplas,
lipoproteicas, mergulhadas no citosol. Essa organela se encontra espalhada
por toda a célula e sua estrutura varia em relação a sua organização. As suas
membranas podem formar uma rede de túbulos ramificados e sacos achata-
dos, chamados cisternas (Figura 1). Também podem formar vacúolos, que
armazenam diferentes moléculas e vesículas, estruturas independentes em
formas de bolsas, que podem se destacar da membrana. Tais estruturas estão
em constante mudança e podem se transformar um no outro. As cisternas, por
exemplo, ao armazenar algumas substâncias, podem ter sua membrana dupla
distendida e, assim, assumir um aspecto de vacúolo. Os túbulos e as cisternas
são interconectados e suas membranas são contínuas à membrana nuclear
externa. Assim, o RE se estende da membrana nuclear por todo o citoplasma,
constituindo a maior organela da maioria das células eucarióticas. A membrana
dupla do RE é contínua e representa mais da metade das membranas totais de
uma célula animal. O espaço interno do RE é único, sendo chamado de lúmen
ou espaço cisternal. Esse espaço pode ocupar até 10% do volume celular total
(ALBERTS et al., 2017; COOPER; HAUSMAN, 2007).
Como citado anteriormente, o RE apresenta várias funções vitais às células,
estando presente em praticamente todos os tipos celulares. Porém, cada tipo
celular pode apresentar demandas funcionais diferentes, de acordo com suas
características. Assim, o RE apresenta variações estruturais em algumas
regiões, que se tornam bastante especializadas, a fim de cumprir algumas
demandas celulares específicas. Dois exemplos são os domínios chamados
retículo endoplasmático rugoso (RER) e retículo endoplasmático liso (REL)
(Figura 1). O RER, ou RE granuloso, corresponde a regiões do RE cobertas por
ribossomos em sua membrana externa. Enquanto isso, o REL corresponde a
regiões do RE não associadas a ribossomos (ALBERTS et al., 2017; COOPER;
HAUSMAN, 2007). A membrana do REL é contínua à do RER e, normal-
mente, se dispõe na forma de túbulos que se anastomosam (JUNQUEIRA;
CARNEIRO, 2017). Em algumas áreas do REL, ocorre o desprendimento de
vesículas, contendo proteínas ou lipídios, para o transporte até o complexo de
Golgi. Essas áreas são chamadas de RE transicional (ALBERTS et al., 2017).
Organelas biossintéticas: o retículo endoplasmático e os ribossomos 3

O RER apresenta como função principal a separação do citosol e o armaze-


namento de proteínas que são destinadas à exportação ou ao uso intracelular.
Ainda, o RER realiza a modificação de proteínas, como glicosilação, hidroxi-
lação, sulfatação e fosforilação. Além disso, essa organela realiza a síntese de
fosfolipídios, a síntese de proteínas integrais da membrana celular e a montagem
de proteínas formadas por várias cadeias polipeptídicas. Enquanto isso, o
REL realiza a produção de fosfolipídios para todas as membranas celulares.
Ainda, de acordo com o tipo celular, o REL é o local onde ocorre a produção
de hormônios esteroides e processos de biotransformação como conjugação,
oxidação e metilação (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2017).
Uma outra função do RE é o armazenamento do íon cálcio. O lúmen do RE
apresenta uma alta quantidade de proteínas que se ligam ao Ca2+, possibilitando
o seu armazenamento. Células musculares apresentam o REL modificado,
que é denominado retículo sarcoplasmático. O retículo sarcoplasmático é
responsável por liberar e armazenar cálcio durante a contração das fibras
musculares (ALBERTS et al., 2017).

O RER é encontrado em grandes quantidades nas células que apresentam alta produ-
ção e secreção de proteínas. Assim, essa organela é abundante em células acinosas
do pâncreas, que secretam enzimas digestivas, em fibroblastos, que apresentam
alta produção de colágeno, e em plasmócitos, que secretam as imunoglobulinas
(JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2017).
Enquanto isso, o REL é abundante naquelas células que participam e apresentam alto
metabolismo lipídico. As células dos testículos e ovários, que produzem hormônios
esteroides como testosterona e progesterona, apresentam alta quantidade do REL.
Os hepatócitos também exibem alta quantidade dessa organela. Essas células são
as principais responsáveis pelo processo de biotransformação, no qual substâncias
lipofílicas são metabolizadas em produtos mais hidrofílicos, a fim de facilitar a sua
excreção. Dessa forma, essas reações são empregadas para a inativação de substâncias
exógenas ao organismo e para a inativação de determinados hormônios, ocorrendo,
predominantemente, no REL (COOPER; HAUSMAN, 2007; JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2017).
4 Organelas biossintéticas: o retículo endoplasmático e os ribossomos

Os ribossomos são partículas ribonucleicas, isto é, são complexos formados


por ácido ribonucleico (RNA) e proteínas. Eles desempenham função central
na síntese de proteínas, realizando a “leitura” das moléculas de RNA mensa-
geiro (mRNA) e promovendo a ligação entre aminoácidos. Essas organelas
não apresentam membrana e são responsáveis pela síntese de todas as pro-
teínas integrais e solúveis, encontradas nas células e no espaço extracelular.
Os ribossomos podem ser encontrados associados ao RE ou livres no citoplasma
(Figura 1). Eles são compostos por três ou quatro tipos diferentes de RNA,
chamados RNA ribossomais (rRNA) e cerca de 83 proteínas diferentes, sendo
organizados em duas subunidades, uma maior e outra menor (ALMEIDA;
PIRES, 2014) (LODISH et al., 2014). Os ribossomos de células eucariontes,
por exemplo, são denominados ribossomos 80S. Eles são formados por uma
subunidade maior, denominada 60S, e uma subunidade menor, chamada 40S.
Enquanto isso, células procariontes, como as bactérias, apresentam ribosso-
mos 70S formados pelas subunidades 50S e 30S. A unidade S (Svedberg)
expressa a taxa de sedimentação do ribossomo. Ela considera a velocidade de
sedimentação da partícula e a aceleração utilizada no processo (ALMEIDA;
PIRES, 2014).
Em células eucariontes, a maior parte do rRNA que compõe as duas subu-
nidades dos ribossomos é produzida no nucléolo, enquanto as proteínas são
produzidas no citoplasma. Essas proteínas migram em direção ao núcleo e
nesse compartimento se associam aos rRNA. Após, as subunidades maiores e
menores, já prontas, migram por meio dos poros nucleares para o citoplasma
celular (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2017).

No link a seguir, você poderá aprender um pouco mais sobre o RER e o REL e comparar
diferentes tecidos do nosso organismo em relação à presença dessas organelas.

https://qrgo.page.link/JWUKH
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Retículo endoplasmático
liso Célula
Retículo endoplasmático
rugoso Cisternas
Núcleo Envelope nuclear
Poros nucleares

Ribossomos

Figura 1. RER, REL e ribossomos. Observe que o RER apresenta ribossomos aderidos a sua
membrana externa.
Fonte: Adaptada de VectorMine/Shutterstock.com.
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Diferentes condições em que ocorre


a síntese de proteínas
As proteínas são moléculas formadas, predominantemente, por aminoácidos,
que executam funções estruturais, bem como atuam como efetores de grande
parte dos processos celulares. Elas são produzidas de acordo com as infor-
mações contidas no ácido desoxirribonucleico (DNA), a partir do processo
de tradução (COOPER; HAUSMAN, 2007).
Todas as proteínas são sintetizadas nos ribossomos. Esse complexo se liga
ao mRNA e, a partir disso, o processo de tradução inicia. Apesar da síntese
proteica iniciar com a tradução do mRNA, para que se torne uma proteína
funcional, a cadeia peptídica formada pode precisar passar por diferentes
modificações, como enovelamento e adição de grupamentos químicos. Muitas
dessas modificações ocorrem no RE (COOPER; HAUSMAN, 2007).
A síntese de proteínas pode ocorrer em ribossomos livres ou em ribossomos
associados ao RE. Proteínas que ficarão livres no citosol ou serão incorporadas
no núcleo celular, mitocôndrias, peroxissomos e cloroplastos (presentes nas
células vegetais) são produzidas em ribossomos livres. Ao final do processo de
tradução, essas proteínas são liberadas diretamente no citosol. Enquanto isso,
os ribossomos aderidos à membrana do RE produzem proteínas específicas,
destinadas à secreção ou à incorporação ao RE, complexo golgiense, lisossomos
ou membrana plasmática (COOPER; HAUSMAN, 2007).
O destino das proteínas que são produzidas normalmente é definido por
sequências de aminoácidos específicas, presentes na sua estrutura primária.
É importante destacar que toda a síntese de proteínas inicia em ribossomos
livres do citosol celular. Porém, quando as proteínas são direcionadas ao lúmen
do RE durante o processo de tradução, os ribossomos são, primeiramente,
associados à membrana do RE. Esse processo é mediado pela “sequência sinal”,
uma sequência de aminoácidos presentes na extremidade amino-terminal da
cadeia peptídica que está sendo sintetizada pelo ribossomo. Essa sequência
apresenta 20 aminoácidos, sendo que vários deles são apolares (ALBERTS
et al., 2017; COOPER; HAUSMAN, 2007).
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Dessa forma, o RE captura as proteínas do citosol, à medida que elas são


produzidas. Ele pode capturar proteínas transmembrana e proteínas solúveis
em água. As proteínas transmembrana são parcialmente translocadas para a
membrana do RE e se inserem nela. Essas proteínas podem permanecer na
membrana do RE, assim como podem ser direcionadas à membrana da célula
ou à membrana de outras organelas. Enquanto isso, as proteínas solúveis em
água são totalmente transportadas para o interior do retículo. Essas proteínas
são secretadas para o exterior celular, são direcionadas ao interior de outras
organelas ou permanecem no lúmen do próprio RE (ALBERTS et al., 2017).
O direcionamento de proteínas ao lúmen do RE pode ocorrer enquanto elas
ainda estão sendo sintetizadas, por meio do processo chamado “transporte
simultâneo à tradução”, ou também, após sua tradução ter sido completada no
citosol, por meio do processo denominado “transporte posterior à tradução”.
Nas células eucariontes, normalmente ocorre o transporte simultâneo à tra-
dução. Enquanto isso, o transporte posterior à tradução ocorre normalmente
em leveduras (COOPER; HAUSMAN, 2007).
No transporte simultâneo à tradução, a sequência sinal é guiada para o
RE por meio de dois componentes-chaves: a partícula de reconhecimento
de sinal (SRP) e o receptor SRP, presente na membrana do RE. A SRP é um
complexo formado por seis polipeptídeos e um RNA citoplasmático pequeno.
Essa partícula transita entre o RE e o citosol celular, ligando-se à sequência-
-sinal e à subunidade maior do ribossomo. Ao se ligar, a SRP causa uma
pausa temporária do processo de tradução, até que o ribossomo seja ligado à
membrana do RE. Essa pausa na tradução evita que a cadeia peptídica seja
liberada no citosol celular.
A SRP ligada ao ribossomo migra em direção ao RE, onde estabelece
ligação com o receptor de SRP, presente na membrana do RE. O estabeleci-
mento dessa ligação faz com que o complexo SRP-ribossomo interaja com
uma proteína translocadora, presente na membrana do RE. Em seguida, a SRP
e o receptor de SRP são liberados e a cadeia polipeptídica é transferida para
o lúmen do RE. A transferência da cadeia polipeptídica para o interior dessa
organela ocorre por meio de um canal proteico presente em sua membrana,
chamado translócon. À medida que a cadeia crescente de aminoácidos é
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transportada para o lúmen do RE, o processo de tradução continua. Ao final, a


sequência sinal da cadeia é clivada por uma enzima peptidase sinal, liberando
a cadeia polipeptídica no lúmen do RE (Figura 2) (COOPER; HAUSMAN,
2007; ALBERTS et al., 2017).

Figura 2. Transporte de proteínas simultâneo à tradução. Note que a SRP se liga à sequência
sinal do peptídeo em crescimento e ao receptor de SRP, presente na membrana do RE.
Fonte: Alberts et al. (2017, p. 674).

Enquanto isso, o transporte posterior à tradução, isto é, quando a proteína


é transferida ao RE após a sua tradução completa, não requer a SRP. Nesse
mecanismo, as proteínas são produzidas em ribossomos livres no citosol e
suas sequências-sinal são reconhecidas por receptores distintos, associados
ao translócon na membrana do RE. Para que possam entrar no translócon,
as proteínas precisam ser mantidas em uma conformação não dobrada. Essa
conformação é mantida por proteínas chaperonas citosólicas Hsp70. Um outro
tipo de chaperona Hsp70, chamada BiP, também participa do transporte pelo
translócon. Essa proteína está presente no interior do RE e é responsável
por puxar o polipeptídeo para dentro do RE, por meio do canal (COOPER;
HAUSMAN, 2007).
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A sequência sinal ou peptídeo sinal corresponde a uma sequência de aminoácidos pre-


sentes na extremidade amino-terminal da cadeia peptídica que está sendo produzida
e que determina o seu direcionamento. Essa hipótese foi demonstrada pelo biólogo
Günter Blobel, que o fez ganhar o Prêmio Nobel de Medicina, em 1999.
No link a seguir, você poderá aprender um pouco mais sobre a hipótese de sinal.

https://qrgo.page.link/H7q6V

O papel do retículo endoplasmático na síntese,


modificação e distribuição de proteínas
Como vimos anteriormente, o RE apresenta um grande papel no que se refere
à síntese, ao processamento e à distribuição de proteínas. No que se refere à
distribuição, o RE atua translocando proteínas transmembrana em direção à
membrana celular e a membranas de organelas presentes nas células. Além
disso, o RE atua na secreção de proteínas e no transporte proteico para o
interior de organelas celulares (ALBERTS et al., 2017).
As proteínas transmembrana, também chamadas de proteínas integrais de
membrana, são proteínas que atravessam a bicamada lipídica. O deslocamento
dessas proteínas inicia com a sua inserção na membrana do RE. Após, elas
seguem seu destino, sendo transportadas por meio das próprias membranas, por
meio do caminho: RE complexo golgiense membrana plasmática ou endosso-
mos lisossomos. As proteínas transmembrana podem se orientar de diferentes
formas por meio da membrana, como também podem transpassar a membrana
em um número variável de vezes. As diferentes orientações das proteínas são
determinadas no momento que a cadeia polipeptídica é transportada para o
lúmen do RE (COOPER; HAUSMAN, 2007).
As proteínas solúveis podem seguir a chamada “via secretora” (Figura 3).
Por meio dessa via, elas são secretadas para o meio extracelular ou são des-
tinadas a diferentes compartimentos celulares. A via secretora inicia com a
síntese proteica no RER. Após, as proteínas são destinadas para o complexo
golgiense e, a partir deste, são deslocadas em vesículas secretoras para o
exterior celular ou para os compartimentos intracelulares específicos.
10 Organelas biossintéticas: o retículo endoplasmático e os ribossomos

Figura 3. Representação da via secretora. Logo após sua síntese, as proteí-


nas se deslocam do RE para o complexo golgiense. Após, essas proteínas
seguem seu destino, sendo transportadas no interior de vesículas.
Fonte: Adaptada de Alberts et al. (2017).

O papel do retículo endoplasmático na modificação e


no dobramento das proteínas
O RE é a organela na qual as proteínas são dobradas para adquirirem suas
formas tridimensionais. Proteínas com estrutura quaternária, isto é, que são
formadas por mais de uma subunidade, são também montadas no RE. No lúmen
dessa organela também ocorrem modificações proteicas como glicosilações,
formação de ligações dissulfeto e adição de grupos glicolipídicos. Assim,
muitas das proteínas encontradas no lúmen do RE estão em trânsito. Ali elas
são processadas e encaminhadas ao seu destino final. Esse processamento
ocorre por proteínas residentes no RE (ALBERTS et al., 2017; COOPER;
HAUSMAN, 2007).
O transporte das proteínas para o lúmen do RE ocorre em sua forma não
dobrada. O dobramento das cadeias polipeptídicas ocorre no interior dessa
organela, com o auxílio das proteínas chaperonas. As chaperonas Hsp70, por
exemplo, se ligam às cadeias polipeptídicas e atuam como mediadoras de
seu dobramento e, também, de sua montagem, quando a proteína resultante
é formada por mais de uma subunidade.
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Durante o dobramento, ligações dissulfeto podem ser formadas entre os


resíduos de cisteína que formam a cadeia peptídica. Diferentemente do citosol,
o interior do RE apresenta um meio oxidante, o qual favorece a formação
das ligações dissulfeto. Além disso, o RE apresenta, em seu lúmen, a enzima
proteína dissulfeto isomerase. Essa enzima catalisa a oxidação dos grupos
sulfidrila (-SH) presentes no grupo lateral dos resíduos de cisteína, levando
à formação das ligações dissulfeto. Praticamente todas as proteínas encon-
tradas no interior das organelas e no meio extracelular apresentam ligações
dissulfeto entre seus resíduos de cisteína, que são formadas no RE (COOPER;
HAUSMAN, 2007; ALBERTS et al., 2017).
A glicosilação de proteínas também é uma função biossintética muito
importante realizada pelo RE. A glicosilação corresponde à reação na qual
pequenos açúcares são ligados covalentemente às proteínas, levando à formação
das chamadas glicoproteínas. Essa reação ocorre, normalmente, enquanto a
cadeia polipeptídica é transportada para o interior do RE. Os oligossacarídeos
ficam armazenados na membrana do RE, ligados ao lipídio dolicol e, então,
são ligados à cadeia polipeptídica. Essa ligação frequentemente ocorre nos
grupamentos amino (-NH2) da cadeia lateral dos resíduos de asparagina, o que
leva à formação dos chamados oligossacarídeos ligados ao N. Para ser ligado
à proteína, o oligossacarídeo é liberado do dolicol, por meio do rompimento
da ligação entre os dois, uma ligação pirofosfato. Ao ser rompida, essa ligação
libera uma grande quantidade de energia que é, então, utilizada para a reação
de glicosilação. Essa reação é catalisada por uma enzima também presente na
membrana do RE, a oligossacaril transferase. Além da ligação à asparagina,
os oligossacarídeos também podem ser ligados ao grupo hidroxila da cadeia
lateral de resíduos de serina, treonina ou hidroxilisina (COOPER; HAUSMAN,
2007; ALBERTS et al., 2017).
Muitas das proteínas são montadas ou dobradas incorretamente (mais
de 80%). Assim, uma outra função bastante importante do RE é a análise
da estrutura das proteínas e a degradação daquelas que foram dobradas in-
corretamente. Nesse processo, o desafio é selecionar somente tais proteínas
para a degradação. Assim, as proteínas montadas ou dobradas incorretamente
devem ser distinguidas daquelas que ainda estão sendo montadas. Muitas
vezes, os oligossacarídeos ligados ao grupamento -NH2 da asparagina atuam
como marcadores para essa seleção. Eles funcionam como “cronômetros”,
relacionando o tempo que uma proteína pode permanecer no RE (ALBERTS
et al., 2017). As mesmas proteínas que auxiliam no dobramento das proteínas,
no lúmen do RE, também podem atuar como “sensores” para o enovelamento
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ou montagem incorreta de proteínas. Um exemplo é a proteína chaperona BiP,


que, além de atuar “puxando” as cadeias polipeptídicas para o interior do
RE, também reconhece proteínas que foram enoveladas de forma incorreta
ou cadeias polipeptídicas que ainda não foram unidas aos seus complexos
oligoméricos. Tais proteínas se se ligam às cadeias dobradas incorretamente
e as mantêm no RE, não deixando que sejam transportadas pelo complexo
golgiense ou sigam seu destino final. Em vez disso, elas encaminham essas
proteínas para uma via de degradação. Normalmente, as proteínas enoveladas
de forma incorreta acabam sendo transportadas do RE para o citosol celular
por meio dos canais translócon. No citosol, essas proteínas são marcadas com
ubiquitina e degradadas no proteossomo (ALBERTS et al., 2017; COOPER;
HAUSMAN, 2007).

No link a seguir você poderá ler um pouco mais sobre o direcionamento de proteínas,
mediado pelo RE.

https://qrgo.page.link/NBeVs

ALBERTS, B. et al. Biologia molecular da célula. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
ALMEIDA, L. M. de; PIRES, C. Biologia celular: estrutura e organização molecular. São
Paulo: Érica; Saraiva, 2014. (Série Eixos).
COOPER, G. M.; HAUSMAN, R. E. A célula: uma abordagem molecular. 3. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2007.
JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: texto e atlas. 13. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2017.
LODISH, H. et al. Biologia celular e molecular. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

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