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CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA EM FLEXÃO DE BETÕES DE


RESINA

António J. M. Ferreira , Cassilda Tavares, Cristina Ribeiro, André Vieira


Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
Rua do Barroco 174 – 214, 4465 – 591 Leça do Balio

Resumo

Neste trabalho de investigação pretende-se determinar a influência da composição e dos


tratamentos térmicos nas caracteristicas mecânicas em flexão de betões poliméricos
termoendurecíveis, mais conhecidos por betões de resina. Pretende-se estudar os betões de resina
poliester, com cargas correntes como areia e brita usadas em betões de cimento. As características
mecânicas são apresentadas em função da composição, do número de dias de cura e do efeito da
pós-cura.
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MECHANICAL CHARACTERISATION IN BENDING OF RESIN


CONCRETE

António J. M. Ferreira , Cassilda Tavares, Cristina Ribeiro, André Vieira


Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
Rua do Barroco 174 – 214, 4465 – 591 Leça do Balio

Abstract

In this research it is investigated the influence of mixing and curing methods in the
mechanical characteristics in bending of thermoset polymer concrete, known as resin concrete.
Polyester concrete are studied, with natural aggregates as in cement concrete.
The mechanical characteristics are presented as a function of mixing, curing time and post-
cure effects.
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1. Introdução

O betão polimérico é um tipo de betão relativamente recente onde uma resina


termoendurecível liga inertes naturais, tais como a areia de silica, entre outros. Os catalizadores e
aceleradores são adicionados à resina antes da sua mistura com os inertes inorgânicos para iniciar a
reacção de cura (polimerização).
Assim, nos betões de resina os inertes são ligados por um polímero, sem a adição de água,
enquanto num betão de cimento, os inertes são ligados por cimento e água. Em particular, a água
ou a humidade dificultam ou podem mesmo inibir completamente a cura (endurecimento) do betão
de resina [1].
As resinas termoendurecíveis mais tipicas são as resinas poliester, epóxida, vinilester ou
acrilicas. A resina mais utilizada é sem dúvida a resina poliester, devido ao seu baixo custo e às
suas boas propriedades mecânicas e de corrosão.

As vantagens dos betões de resina, comparativamente aos betões de cimento, são a alta
resistência, boa durabilidade, permeabilidade muito baixa e tempos de cura muito rápidos (da
ordem dos minutos ou poucas horas).
As aplicações de betões poliméricos estão em crescimento, nomeadamente na pré-fabricação,
onde é hoje comum ver-se drenos para águas, caixas, tubagens ou postos de transmissão, bem
como painéis de fachadas [2].
A boa resistência e durabilidade dos betões poliméricos permite a produção de componentes
pré-fabricados de alta qualidade com secções menores e com espessuras de recobrimento também
menores nos betões armados, reduzindo assim as cargas próprias na estrutura. Os custos de
transporte e manuseamento são também minimizados.
Tal como o betão de cimento Portland, os betões de resina têm baixa resistência em tracção,
quando comparada com a resistência em compressão (esta da ordem dos 100 MPa). Assim, podem
ocorrer roturas frágeis em planos onde as tensões tractivas excedam as tensões últimas do material.
Utilizam-se reforços, na forma de varões de aço ou de plástico reforçado, para aumentar a carga
última resistente destas estruturas, bem como a sua ductilidade e tenacidade [3-6]. O objectivo
deste artigo é o de apresentar o programa experimental preliminar para a caracterização do
comportamento em flexão de betões poliméricos, com resina de poliester.
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2. Procedimento experimental

Neste trabalho realizaram-se ensaios de flexão em três pontos, segundo a norma RILEM
1995 TC 113-CPT [7], a betões com diferentes composições e diferentes tratamentos de pós-cura.
Na figura 1 ilustra-se o procedimento experimental, bem como a geometria do provete de flexão.

a)

Unid.: ( mm )

160 40

40

30 30
100
b)

Figura 2 –– Ensaio de flexão em três pontos para betões de resina:


a) fotografia do ensaio,
b) esquema de ensaio e geometria dos provetes ensaiados.
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A tabela 1 mostra a composição dos diferentes betões elaborados.

Nº do betão Tipo de Quantidade % de resina Tipo de Tratamento


resina de carga areia de pós cura
(%CaCO3 )
1-24 h Poliester Sem carga 17% Limpa 24 h, 23ºC
1-48h Poliester Sem carga 17% Limpa 48h, 23ºC
1-6d Poliester Sem carga 17% Limpa 6 dias, 23ºC
2 Poliester Sem carga 17% De fundição 3 h, 80ºC
3 Poliester Sem carga 20% Limpa 3 h, 80ºC
4-24h Poliester Sem carga 20% De fundição 24 h, 23ºC
4-48h Poliester Sem carga 20% De fundição 48h, 23ºC
4-7d Poliester Sem carga 20% De fundição 7 dias, 23ºC
5 Poliester 25 % 17% Limpa 3 horas 80ºC
6-24h Poliester 25 % 17% De fundição 24 h, 23ºC
6-48h Poliester 25 % 17% De fundição 48h, 23ºC
6-7d Poliester 25 % 17% De fundição 7 dias, 23ºC
7-24h Poliester 25 % 20% Limpa 24 h, 23ºC
7-48h Poliester 25 % 20% Limpa 48h, 23ºC
7-7d Poliester 25 % 20% Limpa 7 dias, 23ºC
8 Poliester 25% 20% Limpa 3 horas 80ºC

Tabela 1 – Composição e tratamento de pós cura dos diferentes betões

Os materiais utilizados para a elaboração dos provetes foram os seguintes:


Resina: A resina utilizada foi uma resina poliester ortoftálica pré-acelerada (NESTE-S226
E), à qual foi adicionado 2% (em massa) de catalizador (Peróxido MERCK).
Areia: Utilizaram-se dois tipos de areia para a elaboração dos betões, areia limpa e areia de
fundição.
Carga: A carga utilizada foi carbonato de cálcio.
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3. Resultados experimentais

Foram retirados dos ensaios as curvas carga-deslocamento, para os diferentes betões e para
diversas condições de cura da resina, apresentadas nas figuras 2 a 14.
Betão 1 - 24 horas Betão 1 - 48 horas

7000
6000

6000
5000
5000
4000

Carga (N)
4000
Carga (N)

3000
3000

2000 2000

1000 1000

0
0
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6
Deslocamento (mm)
Deslocamento (mm)

Fig. 2 – Curvas carga-deslocamento para betão nº 1-24h Fig. 3 – Curvas carga-deslocamento para betão nº 1-48h

Betão nº 1- 6 dias Betão nº 2 - 80ºC - 3 horas

8000 8000

7000 7000

6000 6000

5000 5000
Carga (N)
Carga (N)

4000 4000

3000 3000

2000 2000

1000 1000

0 0
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8
Deslocamento (mm) Deslocamento (mm)

Fig. 4 – Curvas carga-deslocamento para betão nº 1-6d Fig. 5 – Curvas carga-deslocamento para betão nº 2
Betão nº 3 - 80 ºC - 3 horas Betão nº 4 - 24 horas

8000 9000

8000
7000
7000
6000
6000
5000
Carga (N)
Carga (N)

5000
4000
4000
3000 3000

2000 2000

1000 1000

0 0
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4
Deslocamento (mm)
Deslocamento (mm)

Fig. 6 – Curvas carga-deslocamento para betão nº 3 Fig. 7 – Curvas carga-deslocamento para betão nº 4-24h
7

Betão nº 4 - 48 horas Betão nº 4 - 7 dias

9000 12000

8000
10000
7000

6000 8000
Carga (N)

Carga (N)
5000
6000
4000

3000 4000

2000
2000
1000

0 0
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7
Deslocamento (mm) Deslocamento (mm)

Fig. 8 – Curva carga-deslocamento para b etão nº 4-48h Fig. 9 – Curvas carga-deslocamento para betão nº 4-7d

Betão nº 5 - 80 ºC 3 horas Betão nº 7 - 24 horas

7000 12000

6000 10000

5000
8000

Carga (N)
Carga (N)

4000
6000
3000

4000
2000

2000
1000

0 0
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5
Deslocamento (mm) Deslocamento (mm)

Fig. 10 – Curvas carga-deslocamento para betão nº 5 Fig. 11 – Curvas carga-deslocamento para betão nº 7 – 24h

Betão nº 7 - 48 horas Betão nº 7 - 7 dias

10000 12000

9000
10000
8000

7000
8000
6000
Carga (N)

Carga (N)

5000 6000

4000
4000
3000

2000
2000
1000

0 0
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5
Deslocamento (mm) Deslocamento (mm)

Fig. 12 – Curvas carga-deslocamento para betão nº 7-48h Fig. 13 – Curvas carga-deslocamento para betão nº 7-7d

Betão nº 8 - 80ºC / 3 horas

8000

7000

6000

5000
Carga (N)

4000

3000

2000

1000

0
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9
Deslocamento (mm)

Fig. 14 – Curvas carga-deslocamento para betão nº 8


8

Na tabela nº 2 estão representadas as cargas de ruptura médias e as tensões de ruptura médias


para os diferentes betões poliméricos.
Betão nº Carga de ruptura média Tensão de ruptura média
(N) (MPa)
1-24h 5172.9 12.1
1-48h 5713.1 13.4
1-6d 6994.2 16.4
2 7150.9 16.8
3 6223.0 14.6
4-24h 7916.7 18.6
4-48h 7737.8 18.1
4-7d 10062.8 23.6
5 5182.8 12.1
6-24h -* -*
6-48h -* -*
6-7d -* -*
7-24h 8972.5 21.0

7-48h 8990.0 21.1


7-7d 10293.6 24.1
8 6106.4 14.3

*- O betão com esta composição não endurece.

Tabela 2 – Cargas e tensões de ruptura médias para os diferentes betões poliméricos.

Na figura 15 é apresentado o gráfico da tensão de ruptura em função do tempo de pós cura


para os betões nº1, nº 4 e nº 7.
9

Tensão de ruptura vs tempo de pós cura

30

25

Tensão de ruptura (MPa)


20

Betão nº 1
15 betão nº 4
betão nº 7

10

0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Tempo (dias)

Fig. 15 – Gráfico da tensão de rotura em função do tempo depós -cura

A moldabilidade dos betões realizados com areia limpa é superior a dos betões realizados
com areia de fundição. A moldabilidade dos betões aumenta com o aumento da percentagem de
resina, e diminui com a utilização de carbonato de cálcio como material de carga. Os provetes dos
betões realizados com areia de fundição são mais difíceis de desmoldar, aumentando esta
dificuldade com a utilização de carga e com a diminuição da percentagem de resina, como o
mostra o caso do betão nº 6 que não curou, tornando impossivel a desmoldagem dos provetes.

4. Conclusões
Foi elaborado um conjunto de betões com diferentes composições e tratamentos de pós-cura.
Estes betões foram sujeitos a ensaios de flexão em três pontos, tendo-se registado as curvas carga-
deslocamento e os respectivos valores de carga de ruptura. Na generalidade, as curvas carga-
deslocamento registadas para os diferentes provetes de cada betão são muito semelhantes, o que
quer dizer que os valores obtidos são bastante reprodutíveis.
Quanto à carga de rotura, observa-se que esta aumenta com a o aumento da quantidade de
resina. No caso dos betões realizados com carga, a carga de rotura é superior nos betões de areia
limpa, enquanto que no caso dos betões realizados sem carga, a carga de rotura é superior nos
betões de areia de fundição.
Quanto ao caso dos betões com tratamento de pós cura a temperatura ambiente, a carga de
rotura aumenta com o tempo de pós-cura. No betão nº 4 a tensão de ruptura diminui entre às 24 e
48 horas, isto provavelmente ocorreu devido aos provetes do betão nº 4-48h apresentarem uma
surperfície bastante danificada.
Os provetes com maior resistência foram os do betão nº 7-7d, o que provavelmente é devido
à utilização de areia limpa, à utilização de carbonato de cálcio como carga, e à utilização de uma
percentagem superior de resina. É de notar que os provetes do betão nº 4-7d tiveram uma
resistência semelhante à do betão nº 7-7d.
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5. Agradecimento

Agradece-se o apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia no projecto


PRAXIS/C/ECM/12277/1998, “Desenvolvimento de novos betões poliméricos”.

Referências

[1] ACI Committee 548, Guide for the use of polymers in concrete (ACI 548, IR-86), American
Concrete Institute, Detroit, 1986
[2] J. Dikeou, Precast polymer concrete in the United States, Proceedings of the Fifth
International Congress of Polymers in Concrete, Brighton, England, 1987, pp. 251-256
[3] K. S. Rebeiz and D. W. Fowler, Flexural strength of reinforced polymer concrete made with
recycled plastic waste, ACI Structural Journal, 1996, pp. 524-530
[4] K. S. Rebeiz , S. P. Serhal, D. W. Fowler, Recommended design procedure in shear for steel-
reinforced polymer concrete, ACI Structural Journal, 1993, pp. 562-567
[5] J. T. San José and J. L. Ramirez, FRP bars in the bending behaviour of the polymer concrete,
IRF International Conference, Porto, 1999
[6] J. T. San José and J. L. Ramirez, Pure bending in polymer reinforced concrete-Design
guidelines for polyester polymer concrete, Proceedings of Arquimacom, 98, Bordeaux,
France, 1998
[7] PMC-8 Method of test flexural strength and deflection of polymer-modified mortar, RILEM,
Technical Committee TC-113, Symposium on properties and test methods for concrete-
polymer composites, Oostende, Belgium, 1995

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