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Observe!

BOLETIM INFORMATIVO DO NEOA – JBS


ANO XIV – NÚMERO 9 – SETEMBRO DE 2023

EDITORIAL:
Prezados leitores,
O que foi aquilo que ocorreu em Criciúma nos dias 28 e 29 de julho de
2023? Não tínhamos dúvida de que o 10º Simpósio Catarinense de
Astronomia seria um excelente evento, mas superou todas as nossas
expectativas. Desde o surgimento do NEOA-JBS no primeiro semestre de
2009, nunca deixamos escapar a ideia de realizarmos em Santa Catarina
um encontro de Astronomia, algo que se tornou realidade na 1ª edição em
2012 e que o ciclo dos dez primeiros eventos foi magistralmente encerrado
com chave de ouro pelas instituições de Criciúma. Muito provavelmente se
Brazilício estivesse presente nessas dez edições do SCA ele se sentiria
bem à vontade para palestrar, ensinar e compartilhar seus conhecimentos,
tal como os dois participantes ao lado. A jovem Vitória Maria, da Equipe
Balneário, estreou no simpósio e simplesmente emocionou a plateia. Já o
infatigável Nelson Travnik, também colaborador
das páginas do Observe! voltou a prestigiar o
SCA desde sua última participação em 2014.
Um novo ciclo de 10 simpósios iniciará no
próximo ano em Chapecó. Façamos planos para
estarmos lá e desfrutar o que o SCA tem de
melhor: a amizade entre as associações
catarinenses. Que tenham todos uma boa leitura.
Alexandre Amorim
Coordenação de Observação Astronômica do NEOA-JBS
2

CÉU DO MÊS

Setembro de 2023

Marte é visível brevemente após o pôr-do-sol. Saturno e Netuno são


visíveis durante toda a noite. Júpiter é visível após as 22:00. Urano é
visível após as 23:00. Vênus é visível ao amanhecer. Mercúrio tem sua
visibilidade prejudicada devido a sua elongação ocidental desfavorável ao
hemisfério sul. A luz cinérea da Lua é visível ao amanhecer do dia 8 ao 12
e ao anoitecer entre os dias 16 e 21. A sugestão para ver a Lua Cheia
nascer na linha do oceano é no dia 29 às 18:40 HBr. A seguir temos o
mapa do céu válido para o dia 15 de setembro às 20:00 Horário de
Brasília. (©CartasCelestes.com).
3

O céu da primavera1

A primavera corresponde ao ressuscitar da natureza, quando a vegetação,


que perdeu o seu verde, retoma a sua nova roupagem. É a mais bela de
todas as estações, imortalizada por Stravinsky, no Sacre Printemps, que
além de reviver a atmosfera reinante na festa pagã das mais remotas
épocas, faz sentir com sua inconfundível música o revigoramento da
natureza. Este renascimento anual da natureza reconduz, periodicamente, a
um contacto mais íntimo do homem com tudo aquilo que o envolve, desde
a vegetação, os animais, os rios que se tornam cada vez mais caudalosos,
até as estrelas que cintilam, durante as noites. É durante a primavera que o
homem se volta para o céu, procurando desvendar os mistérios do cosmo
que o envolve.
O melhor instante para iniciar este contacto com as estrelas na primavera é
logo após o pôr-do-sol, quando começam a brilhar os primeiros astros. O
céu da primavera é dominado por duas estrelas de primeira magnitude, que
estão próximas ao zênite: Fomalhaut (Alfa do Peixe Austral) e Achernar
(Alfa do Erídano).
Com a sua coloração branca, Fomalhaut, o olho do Peixe, constitui uma
das quatro estrelas reais dos Persas, com as quais os antigos sábios persas
dividiam o céu, com o objetivo de demarcarem o início das estações. Com
efeito, há cerca de 4200 a.C., a estrela do Peixe Austral indicava, com o
seu nascer, o início do inverno no hemisfério Norte, quando, então, em
nosso hemisfério Sul começa a primavera. As estações são opostas nos
dois hemisférios, de modo que quando é verão aqui, no hemisfério Sul, é
inverno no Norte. Enquanto a sua luz que hoje nos atinge saiu de
Fomalhaut há 24 anos, ou seja, em [1999], a luz da outra estrela que
domina a primavera, Achernar, de coloração azul-esbranquiçada, deve ter
deixado a estrela há cerca de [140] anos.
A localização destas duas estrelas permite conhecer as duas principais
constelações da primavera: o Peixe Austral e o Erídano. Partindo do zênite
em direção ao lado em que se deita o Sol, vamos encontrar a bela
constelação do Escorpião, que, neste período, próximo ao horizonte
Sudoeste, mais parece uma palmeira, como acreditavam os nativos das
ilhas do Pacífico Sul, do que um escorpião. Sua mais bela estrela, Antares,
cujo nome significa a estrela rival de Marte, em virtude de sua cor
avermelhada, aparece nesta época do ano quase que desaparecendo no
horizonte.
1
Publicado em Jornal do Brasil, 20 de setembro de 1979, p. 20.
4

Partindo do lado Sudoeste, em direção ao Nordeste, ao longo do horizonte


Oeste, espalha-se como um enorme caminho leitoso, a via-láctea. Oposto a
este caminho da Anta, como diziam os índios tupi, encontramos, próximo
ao meridiano, entre o Polo Sul e o zênite, as Nuvens de Magalhães, que
constituem os dois mais notáveis corpos nebulosos do céu. São dois
sistemas de estrelas semelhantes a nossa via-láctea. O maior deles está
situado há 250 mil anos e o segundo, a 200 mil anos-luz; o que significa
que a luz que atualmente nos atinge, partiu deste sistema há mais de
duzentos mil anos atrás.
Próximo ao zênite, encontram-se as constelações do Capricórnio, Aquário,
Baleia e Pégaso, para citar as mais notáveis. Na constelação da Baleia, está
uma notável estrela, que por variar de brilho, recebeu o nome de Mira
Ceti, a Maravilha da Baleia, que por um engano de composição
tipográfica, em um poema de Vitor Hugo, acabou conhecida como Mira
Celi, a maravilha do céu, que o nosso poeta Jorge de Lima, eternizou
como metade estrela e metade mulher.
Ao nascente, no horizonte Leste, vemos surgir as constelações do Touro e
Orion, que irão enriquecer o céu do verão, aliás, a época em que a nossa
abóbada celeste se torna mais bela. Já de madrugada, nos meses da
primavera, é possível ver estas duas constelações, altas, no céu do lado do
nascente. É fácil localizar Orion, graças às célebres Três Marias, que se
situam no interior do trapézio formado pelas quatro mais brilhantes
estrelas desta constelação.
Também anunciando as maravilhas do céu surgem logo depois da meia-
noite, no horizonte Leste, o aglomerado estelar das Plêiades, enxame de
abelhas dos nossos índios que se serviam delas para demarcar o início dos
anos. Logo a seguir aparece a bela e reluzente Aldebarã, a mais brilhante
estrela da constelação do Touro.
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

AGENDA ASTRONÔMICA

Dia Hora Evento – Fonte: AAC 2023 e NEOA-JBS


1 Máxima atividade dos Aurigídeos
1 5 Netuno 1° ao norte da Lua
3 22 Vênus estacionário
4 11 Júpiter estacionário
4 15 Júpiter 3° ao sul da Lua
5
5 1 Ocultação de zeta Arietis pela Lua
5 4 Urano 2,5° ao sul da Lua
6 8 Mercúrio em conjunção inferior
6 12 Aldebarã 9° ao sul da Lua
6 19 Quarto Minguante
9 Máxima atividade dos epsilon-Perseídeos
10 0 Pollux 1,5° ao norte da Lua
11 16 Vênus 11° ao sul da Lua
12 13 Lua no apogeu
13 2 Regulus 4° ao sul da Lua
13 19 Mercúrio 5,5° ao sul da Lua
14 23 Lua Nova
15 17 Mercúrio estacionário
16 16 Marte 0,6° ao sul da Lua
17 14 Spica 2° ao sul da Lua
18 Equilux para latitude 27° Sul
18 12 Netuno mais próximo da Terra
19 8 Netuno em oposição
21 5 Antares 0,9° ao sul da Lua
22 10 Mercúrio em máxima elongação (18°W)
22 17 Quarto Crescente
23 3:50 Equinócio de primavera
23 15 Mercúrio no periélio
23 19 Ocultação de tau Sagittarii pela Lua
27 0 Saturno 2,5° ao norte da Lua
27 Máxima atividade dos Sextantídeos
27 22 Lua no perigeu
28 14 Netuno 1,5° ao norte da Lua
29 7 Lua Cheia

O Sábio e o Idioma

Há 20 anos que a comunidade astronômica, catarinense e brasileira,


redescobriu o astrônomo José Brazilício de Souza. Durante um intervalo
do curso regular do Grupo de Estudos de Astronomia, na segunda semana
de setembro de 2003, a Sra Sueli Souza Sepetiba compareceu ao Planetário
da Universidade Federal de Santa Catarina, ciceroneada pela Profª
Angelita Pereira, e obsequiou aquela instituição com dois exemplares da
obra O sábio e o idioma (Veja Boletim Observe! Janeiro de 2019, pp. 13-
16). Uma simples folheada no material foi suficiente para que naquela
mesma semana iniciássemos o resgate das observações astronômicas de
José Brazilício de Souza. Embora já estivesse pronto desde 1972, escrito
6

por Abelardo Sousa, apenas em 2002 que o livro foi impresso e, no ano
seguinte, 2003, foi definitivamente lançado. Desde então não nos
cansamos de revisitar os registros observacionais e os textos de Brazilício.
Acreditamos que o momento é oportuno para evocar a obra de Brazilício,
pois recentemente há uma movimentação na Assembleia Legislativa para
solapar sua memória por substituir o Hino de Santa Catarina, cuja música é
de José Brazilício de Souza e letra de Horácio
Nunes Pires. Mas, voltando à Astronomia,
depois de diversas palestras no GEA e demais
encontros, passando pela publicação de um
website e de outro livro específico sobre as
observações astronômicas, um dos pontos
altos foi o surgimento do Núcleo de Estudo e
Observação Astronômica, vinculado ao
Instituto Federal de Santa Catarina, que tem o
privilégio e a responsabilidade de levar o
nome do professor e astrônomo José
Brazilício de Souza. Mas tudo isso ressurgiu
há 20 anos por meio desse livro. (AA)

As duas ocultações lunares em setembro

Analisando as previsões publicadas na página 160 do Anuário


Astronômico Catarinense 2023, notamos que pelo menos duas ocultações
de estrelas pela Lua são visíveis em Santa Catarina neste mês. Na tabela
abaixo temos os instantes em Tempo Universal para Florianópolis:
data estrela mag. imersão emersão
4-5 set 2023 ζ Arietis 4,9 04:24:43 05:22:52
23 set 2023 τ Sagittarii 3,3 22:03:13 23:30:08
A emersão de ζ Arietis é favorecida por ocorrer no limbo escuro da Lua
cuja fase é de 67% no início da madrugada da terça-feira, 5 de setembro.
Um evento envolvendo a estrela φ Geminorum por muito pouco não é
visível em Santa Catarina, pois tem lugar momentos antes da própria
estrela nascer para o litoral catarinense. Por outro lado, o destaque mesmo
é para a ocultação de τ Sagittarii no anoitecer de sábado, 23 de setembro,
com a Lua bem alta para os observadores catarinenses no dia do equinócio
de primavera. A τ Sgr é anotada como uma dupla muito cerrada. (AA)
7

Cometa C/2023 P1 (Nishimura)

Esse objeto foi descoberto por meio de imagens obtidas em 11 de agosto


de 2023 pelo observador japonês Hideo Nishimura (Kakegawa, Japão). Na
ocasião o brilho foi avaliado na 11ª magnitude. Em Florianópolis/SC
tentamos detectar esse cometa nas manhãs de 14 e 15 de agosto quando o
objeto se situava nas proximidades da estrela ζ Geminorum, momentos
antes de o Sol nascer. No Brasil, o cometa foi registrado inicialmente pelo
observador José G. de S. Aguiar (Campinas/SP) no amanhecer do dia 15
de agosto quando o brilho foi avaliado em magnitude 10,8. No momento
em que esta edição é publicada, Willian Souza (São Paulo/SP) observou o
cometa na 8ª magnitude. Segundo as efemérides do Minor Planet Center
(MPC-UAI) o cometa deve atingir um máximo brilho de 3ª magnitude por
ocasião da sua passagem periélica em 17 de setembro de 2023. Já os
cálculos de Yoshida sugerem que o brilho possa alcançar a 2ª magnitude
na passagem periélica. Gideon van Buitenen inseriu um provável efeito de
espalhamento de brilho relacionado ao ângulo de fase, mesmo assim o
máximo brilho seria similar à previsão de Yoshida. Independente desses
cenários, o cometa deve se manter sempre numa baixa elongação em
relação ao Sol durante a segunda quinzena de agosto e ao longo do mês de
setembro. Portanto, a não ser que o astro venha a apresentar algum salto
de brilho ou mesmo exibir uma brilhante cauda de poeira, o observador
não deve se deixar levar apenas pelo valor calculado da magnitude, pois o
cometa sempre se encontrará mergulhado nas luzes do crepúsculo. Em 26
de agosto ele está disponível no céu antes do crepúsculo náutico situado na
constelação de Câncer quando seu brilho deve estar na 8ª magnitude,
segundo efemérides de Yoshida. Ele transita a parte centro-norte dessa
constelação até 4 de setembro. Nesse interim, seu brilho aumenta da 8ª
para a 7ª magnitude e já dificulta sua observação em Santa Catarina.
Abaixo temos a trajetória aparente do cometa durante o amanhecer entre
26 de agosto e 2 de setembro de 2023.
8

Em 12 de setembro de 2023 ele passa mais próximo da Terra numa


distância de 0,84 ua (~125 milhões de km). Nessa ocasião ele se situa
próximo da estrela δ Leonis, numa elongação de 15° do Sol, de modo que
só está disponível no céu durante o dia. Em 17 de setembro de 2023 o
cometa passa pelo periélio numa distância de apenas 0,22 ua do Sol (~33
milhões de km). Nessa ocasião sua elongação é de apenas 12° em relação
ao Sol, situado na constelação de Virgem. Mesmo nessa data é
extremamente difícil detectá-lo imediatamente após o pôr-do-sol, porque o
astro está mergulhado nas luzes do crepúsculo vespertino e possivelmente
brilhando entre a 2ª e 3ª magnitude. Durante a terceira semana de setembro
o cometa aumenta sua elongação em relação ao Sol, porém seu brilho
diminui rapidamente. Tentativas de observá-lo imediatamente após o pôr-
do-sol podem ser feitas nas seguintes datas:
data mag. (MPC) mag. (Yoshida) elongação próximo a
20 set 4,1 3,1 14,0° γ Virginis
21 set 4,5 3,5 14,1° Marte e γ Virginis
22 set 4,9 3,9 14,2° Marte e γ Virginis
23 set 5,3 4,3 14,2° Marte
24 set 5,7 4,7 14,2° Marte e ψ Virginis
25 set 6,0 5,0 14,1° ψ Virginis

Trajetória aparente do Cometa C/2023 P1 (Nishimura) entre os dias 20 e 27


de setembro de 2023, imediatamente após o pôr-do-sol O mapa também
mostra o movimento de Marte durante o mesmo intervalo.

Alexandre Amorim
9

Atenção às crateras lunares em setembro

Há 12 anos que o Boletim Observe! destaca esse tema ao apresentar certas


datas em que algumas crateras têm suas condições de iluminação similares
àquelas que foram registradas anteriormente por astrônomos brasileiros.
Com a publicação do Catálogo Brasileiro de Fenômenos Lunares de nossa
autoria, a partir de 2015, simplificamos a indicação dessas informações.

2023-Set-01, 00:10-02:03 TU, Ilum. = 98%


Lichtenberg, evento nº 19550507 observado por Jean Nicolini.
2023-Set-03, 00:31-04:16 TU, Ilum. = 87%
Aristarchus, evento nº 19690801 observado por Pamplona e Barbosa.
2023-Set-19, 21:29-22:11 TU, Ilum. = 21%
Beaumont, evento nº 19710727 observado por Miranda.
2023-Set-23, 23:27-01:26 TU, Ilum. = 63%
Mons Hadley, evento nº 19710731 observado por Miranda.
2023-Set-25, 00:34-03:16 TU, Ilum. = 74%
Archimedes, evento nº 19710801 observado por Miranda.
2023-Set-29, 07:19-07:26 TU, Ilum. = 100%
Aristarchus, evento nº 19710806 observado por Nelson Travnik.

Fontes consultadas:
AMORIM, Alexandre. Catálogo Brasileiro de Fenômenos Lunares. Disponível
em: <http://www.geocities.ws/costeira1/cbfl2015.pdf>. Acesso em: 03 ago. 2023.
COOK, Anthony. Repeat illumination only or illumination/libration. Disponível
em: <http://users.aber.ac.uk/atc/tlp/tlp.htm>. Acesso em: 03 ago. 2023.

Paulo Sérgio Bretones (1965-2023)


Une vie bien remplie est um rêve de jeunesse realize à l’age mûr.
– Auguste Comte

No último dia 1º de agosto, Urânia


abriu seus braços para acolher mais
um de seus diletos filhos: Dr. Paulo
Sérgio Bretones. Em janeiro deste
ano ele foi diagnosticado com
esclerose lateral amiotrófica e
demência frontotemporal. Duas vezes
fui visitá-lo em Valinhos/SP, onde
residia, em companhia de também
10

seus colegas e amigos, Paulo Bedaque e Rodolpho Caniato. Ainda muito


jovem, com uma pequena luneta debaixo do braço, foi ao Observatório
Municipal de Campinas/SP perguntar a mim e a Jean Nicolini sobre o que
podia observar com aquele simples instrumento. A partir daí tornou-se
frequentador assíduo do Observatório aprendendo tudo sobre a ciência do
céu. Em momento algum podíamos imaginar que ele se tornaria um
astrônomo e educador dos mais brilhantes. Seu currículo consta Graduação
em Química, Mestrado em Geociências, Doutorado no Ensino e História
de Ciências, Professor do Departamento de Metodologia de Ensino da
Universidade Federal de São Carlos/SP, coeditor da RELEA (Revista
Latino Americana de Educação em Astronomia), Coordenador da
Comissão de Ensino e Divulgação da SAB (Sociedade Astronômica
Brasileira), Coordenador da Seção de Ensino e Divulgação da LIADA,
membro da União Astronômica Internacional e presidente da Seção de
Ensino da Astronomia desta entidade. Atuando nessa função, viajou por
diversos países sendo o último em setembro de 2022 em Munique
(Alemanha). Proferiu muitas palestras, artigos em jornais e revistas, cursos
e participação em programas de rádio e TV. Dotado de uma didática
excepcional, escreveu três livros: Segredos do Sistema Solar, Segredos do
Universo e Jogos para o Ensino da Astronomia. Seu desenlace prematuro
aos 58 anos, no auge da sua produção científica e pedagógica, deixa um
enorme vazio, principalmente para seus alunos na Universidade Federal de
São Carlos. Como um cometa no firmamento, deixou um rastro luminoso
que se eternizará em todos que ligam sua vida a estudar e contemplar as
belezas e mistérios do Universo. Ele agora é uma estrela, parte de uma
constelação onde pontificam seus amigos, colegas e luminares da ciência
do céu. A melhor forma de aliviar a saudade é sentirmos sempre sua
memória quando estamos observando os astros do universo.

Nelson Alberto Soares Travnik

Alguns destaques do X SCA

Ao longo da décima edição do Simpósio Catarinense de Astronomia,


brilhantemente realizado em Criciúma, por vezes a assistência foi
informada que apenas três pessoas participaram de todas as edições
realizadas desde 2012. Uma delas ainda prepara o tradicional resumo do
Simpósio que sempre é publicado nas páginas do Boletim Observe!
11

Enquanto isso, cabe antecipar alguns comentários. Embora as instituições


de Criciúma tenham realizado seu primeiro Simpósio Catarinense de
Astronomia, certamente não será o último. E essa primeira ocasião que
organizaram foi “top das galáxias”, para usar a expressão da Profª Vanessa
Medeiros (Estrelas Carvoeiras). A palestra inicial sobre a Teoria da
Relatividade, proferida pelo Prof. Alexandre Zabot (UFSC – Joinville),
parece que avisou como seria a passagem do tempo durante os dois dias do
evento: as coisas aconteciam muito rápido. Assim que revíamos e
abraçávamos nossos colegas de “antigos simpósios” vindos de Araranguá,
Brusque, Chapecó, Rio do Sul e Videira, só dava tempo para satisfazer a
saudade, trocar uma ou outra conversa e partir para as atividades. Mas isso
tem um lado positivo: mantém a expectativa para o XI SCA marcado para
Chapecó no ano que vem. A condução da entrega do Prêmio Brazilício
seguiu um protocolo diferente, pois chamamos todos os premiados que
estavam presentes no evento: e isso teve um efeito encorajador para a
assistência porque não apenas viam ali, ao vivo, os contemplados das
edições anteriores como podiam depois interagir com eles. E o fato do
contemplado com o Prêmio Brazilício 2023 ter sido o Prof. Marcos
Aurélio Neves não causa surpresa, pois era apenas uma questão de tempo,
o “quando?”. Se recém celebramos a 10ª edição do Simpósio, um dos
responsáveis por isso foi o Prof.
Marcos Neves, tendo participado
de todas as edições e sendo
responsável pela condução da
Delegação do NEOA-JBS como
vemos na foto ao lado. A Sra.
Sueli Sepetiba, de quem citamos
no artigo sobre o livro O sábio e
o idioma, estava presente nas
reuniões prévias do NEOA-JBS e
é testemunha de que, ao colocar
Delegação do NEOA-JBS em Criciúma
em pauta lá em 2009 sobre a
necessidade de criar um encontro regular de Astronomia em Santa
Catarina, o Prof. Marcos se mostrou sempre favorável e ajudou muito na
organização daquela 1ª edição em 2012. Aliado a isso há também a
atuação dele desde 1998 quando da criação da OBA ao aplicar a prova aos
alunos do Ensino Médio, primeiro no CEFET-SC e depois no que hoje é o
IFSC-Florianópolis. Receber o Prêmio Brazilício na décima edição do
SCA tem o simbolismo de uma Nota 10! (AA)
12

Relatório de observação (julho – agosto de 2023)


[Dados até 24 de agosto de 2023]

Cronometragens – A. Amorim realizou 10 cronometragens do trânsito do disco da


Lua Cheia na noite de 1°-2 de agosto de 2023. O tempo médio dessas medições foi de
151 segundos e o diâmetro aparente calculado foi de 2019,15 segundos de arco. O
valor O–E obtido foi –7,23”.

Medições da Lua – Usando o Gabarito Lunar padronizado para 1 metro, A. Amorim


realizou 31 medições, Riziele C. da Silva e Jorge Adão fizeram 1 medição cada um.
Abaixo temos o gráfico com os valores acumulados desde junho de 2023:

Com respeito às medições usando o gabarito de mão, A. Amorim fez 16, Anita
Holderbaum fez 4, Samuel Vasconcelos fez 2 e Riziele C. da Silva fez 1 registro.

Sol – manchas solares: recebemos 29 registros de A. Amorim, 1 registro de Riziele C.


da Silva (Estação Costeira1), 5 registros de Anita Holderbaum (Estação NEOA-JBS)
e 22 registros de Walter Maluf (Monte Mor/SP). A seguir temos o gráfico do número
de Wolf nos últimos doze meses, sinalizando o valor observado em 29 de julho de
2023 por meio do ponto vermelho.
13
Em 29 de julho de 2023, no segundo dia do
Simpósio Catarinense de Astronomia em
Criciúma, realizamos uma simples sessão de
observação solar usando o refrator de 50mm f/10
(da EEF Albino de Melo, sob tutela da Equipe
Balneário). Ao lado temos uma foto em que os
participantes Vitória Maria, Mundo Park e
Beatriz Nascimento observam atentamente a
disposição das manchas solares por meio da
projeção em anteparo branco.

Cometas – C/2020 V2 (ZTF): A. Amorim fez 6


observações. C/2021 T4 (Lemmon): A. Amorim
fez 3 registros. C/2023 P1 (Nishimura): A.
Amorim fez 2 registros.

Meteoro – A. Amorim observou um meteoro isolado na noite de 31/jul – 1º/ago/2023


às 22:26:00 TU, de magnitude 0 (zero), velocidade moderada, partindo de ζ Oph e
dissipando próximo à β Oph, sentido zênite para nordeste.

Ocultação – A. Amorim acompanhou de forma fotográfica a ocultação da estrela


TYC 5590-20-1 pelo asteroide 16 Psyche na noite de 6 de agosto de 2023. A câmera
Canon 1100D foi acoplada no foco direto do refrator 90mm f/10 e uma sequência de
10 fotos com exposição de 10 segundos cada uma foi iniciada às 23:12:40 TU. Nas
imagens recortadas abaixo, a estrela ocultada é o traço situado ligeiramente à direita
do centro da imagem.

23:13:13 – 23:13:23 23:13:24 – 23:13:34 23:13:35 – 23:13:45 23:13:46 – 23:13:56


Na segunda imagem o traço possui uma ligeira diminuição de brilho, da 11ª
magnitude combinada para 11,9, mantém esse brilho menor na terceira imagem e na
quarta já recupera seu brilho. Assim, uma análise preliminar indica que a ocultação
da estrela deve ter ocorrido às 23:13:30 e se estendido até as 23:13:45 TU, com uma
duração de 15 segundos.

Observação selenográfica – na noite de 23 de agosto de 2023, durante o encontro


regular do NEOA-JBS, foi realizada uma sessão de observação dedicada à Lua com
fotografia. Um dos fenômenos esperados foi o início da iluminação da cratera
Ptolemaeus, como informado no Boletim Observe! Agosto de 2023, página 11, bem
como no Anuário Astronômico Catarinense 2023, página 78. Na Estação NEOA-JBS,
14
que contou com a participação de Adair Cardozo e da Equipe Angelina (Francisco,
Juliana, Beatriz e Rodrigo), foi possível observar a Lua até às 20:00 HBr (23:00 TU)
enquanto as nuvens permitiam. Após esse instante o céu ficou coberto e não foi
possível detectar o início da iluminação no interior da cratera. No entanto, na Estação
Costeira1, às 21:05 HBr (00:05 TU do dia 24 de agosto de 2023), a iluminação no
interior da cratera já estava bem avançada. Abaixo temos duas fotos comparativas:

23 ago 2023 às 21:58 TU 24 ago 2023 às 00:05 TU


SCT 200mm f/10 + barlow 2x + Canon 1100D Refrator 90mm f/10 + barlow 2x + Canon 1100D
ISO-6400, exp. 1/100s, ©NEOA-JBS ISO-6400, exp. 1/20s (©A. Amorim)

Estrelas variáveis – A. Amorim fez 424 estimativas de 97 estrelas. Riziele C. da


Silva fez 4 registros das estrelas α Her, α Ori e δ Sco.

Estrelas variáveis do Atlas Celeste – no Boletim Observe! Setembro de 2021 e no


Informativo Observacional do NEOA-JBS nº 05/2021 comentamos a respeito de 32
estrelas variáveis listadas na primeira edição do Atlas Celeste de Ronaldo Rogério de
Freitas Mourão. Embora já comentada em edições anteriores, continuamos a destacar
as duas estrelas da classe RCB: a própria R Corona Borealis e RY Sagittarii. Apesar
de RY Sgr não ser relacionada no Atlas Celeste, recentemente ela também recupera
seu brilho após uma “crise” profunda cuja queda foi superior a 6 magnitudes. Por
outro lado, a “crise” de R CrB foi de apenas 4 magnitudes. Abaixo temos a curva de
luz com observações feitas na Estação Costeira1 desde 3 de agosto de 2021:
15

EVENTOS e PALESTRAS

Observação da Lua Cheia de perigeu

O NEOA-JBS promove uma atividade observacional no IFSC – Campus


Florianópolis na quarta-feira, 30 de agosto, a partir das 17:00 até as 20:00,
para acompanhar a Lua Cheia de perigeu e 2ª Lua Cheia do mês de agosto.
Se o céu estiver nublado, as apresentações ocorrem na Sala D-111. Mais
informações no website: http://www.geocities.ws/costeira1/neoa.

Palestras Públicas do NEOA-JBS

O NEOA-JBS promove suas atividades semanais no IFSC – Campus


Florianópolis às quartas-feiras, nos dias 6, 13, 20 e 27 de setembro das
17:40 às 19:00. Em caso de céu limpo, a aula é no pátio de observações. Se
o céu estiver nublado, as apresentações ocorrem na Sala D-111. Mais
informações no website: http://www.geocities.ws/costeira1/neoa.

Palestras e Curso do Grupo de Estudos de Astronomia

O GEA mantém a sua programação de palestras regulares às sextas-feiras


no Planetário da UFSC. No período de 11 a 22 de setembro de 2023
realiza a 71ª edição de seu Curso de Introdução à Astronomia denominado
“Estrelas, Galáxias e Cosmologia” Mais informações estão disponíveis no
website: https://geaufsc.paginas.ufsc.br.

O Prêmio Avelino Alves será destinado ao observador que primeiro atingir


a marca de 2 mil estimativas válidas de brilho de estrelas variáveis,
realizadas no período de 1º de julho a 30 de novembro de 2023.
Regulamento no website: https://tinyurl/premioavelino.
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4º Encontro Brasileiro dos Observadores de Cometas

Em dezembro de 2023 o Cometa 1P/Halley


atingirá o seu afélio iniciando, assim, mais
uma longa jornada em direção ao Sol. Comece
a contagem aprendendo mais sobre os
cometas, como observá-los e preparando novas
gerações para a sua próxima vinda
participando do 4º EBOC em 8 de dezembro
de 2023, no IFSC – Florianópolis. O evento
serve também para mostrar o cenário da
observação visual de cometas no Brasil,
visando as informações coerentes sem sensacionalismo barato. Dentre os
participantes que planejam participar do 4º EBOC estão José Guilherme de
Souza Aguiar e Nelson Alberto Soares Travnik. As inscrições, inclusive
submissões de trabalhos, podem ser feitas por meio do website:
https://geocities.ws/costeira1/neoa/eboc2023.html

Observe! é o boletim informativo do Núcleo de Estudo e Observação


Astronômica “José Brazilício de Souza”, editado por Alexandre Amorim com
colaboração de demais integrantes do NEOA-JBS. Colaboraram nesta edição:
Alexandre Amorim, Nelson Travnik, Ronaldo Mourão (in memoriam) e União
Brasileira de Astronomia. Salvo indicação específica, as fotos foram obtidas
e/ou fornecidas pelos autores de cada artigo. A distribuição deste boletim é
gratuita aos integrantes e participantes do NEOA-JBS. Observe! é publicado
mensalmente em formato eletrônico e obtido por meio dos seguintes modos:

a) Enviando e-mail para marcos@ifsc.edu.br ou costeira1@gmail.com

b) Acessando o link: http://www.geocities.ws/costeira1/neoa/observe.pdf

c) Associando-se ao NEOA-JBS no Groups.io para ter acesso a todas as


edições do Observe! Acesse o website http://www.geocities.ws/costeira1/neoa

O NEOA-JBS está localizado no Instituto Federal de Santa Catarina – Campus


Florianópolis, Avenida Mauro Ramos, 950, Florianópolis/SC. Fones: (48)
3211-6135 e (48) 99989-3590, contato: Prof. Marcos Neves.

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