Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
--------------------------------------------------------------------------------
Fonte: Echoes of the Ancient Skies: The Astronomy of Lost Civilizations por E. C.
Krupp
REGISTRANDO OS CÉUS
A maior parte dos textos astronômicos mesopotâmicos que chegaram até nós foram
escritos entre 650 e 50 Antes da Nossa Era. Estas tábuas de argila em escrita
cuneiforme são chamadas de diários astronômicos, e constituem, sem dúvida, em
observações de especialistas: escribas-astrônomos profissionais..
Uma entrada típica do diário começa com uma declaração do comprimento do mês
anterior. Este podia Ter tido 29 ou 30 dias. Então, era feita a primeira observação
do mês: o tempo entre pôr-do-sol e o nascer da lua do primeiro dia da lua crescente,
seguidas de informações sobre as horas entre o desaparecimento da
lua e o nascer do sol na lua cheia. No final do mês, eram também registrados o intervalo
entre o nascer da última lua minguante e o nascer do sol.
Quando ocorria um eclipse solar, a data, tempo e duração eram anotados, bem como os
planetas visíveis, as estrelas que estavam no ponto mais alto e o vento
que prevalecia na hora do eclipse. Os pontos significativos nos vários ciclos planetários
eram tabulados, e eram também anotadas as datas dos solstícios,
equinócios e os aparecimentos significativos de Sírio.
Por 600 Antes da Nossa Era, os astrônomos babilônicos estavam já computando com
antecedência os tempos esperados entre o aparecimento e desaparecimento
da lua e do sol por vários dias para os meses vindouros. Estes cálculos eram baseados
em observações sistemáticas. Mais tarde, quando combinadas com tabulações
numéricas do movimento mensal do sol, a posição do sol e da lua na lua nova, a duração
da luz do dia, a metade da duração da noite, índices para calcular
um eclipse, a taxa de movimentação diária da lua, e outros dados, possibilitaram
previsões detalhadas e precisas de quando e o como a lua iria se manifestar
nos céus.
Os planetas recebiam atenção semelhante, mas tendo em vista que seus movimentos não
eram uniformes, os astrônomos mesopotâmicos tiveram de projetar técnicas
matemáticas que levassem em conta as variações de movimento. Como Júpiter, por
exemplo, faz o seu caminho através do zodíaco em quase exatamente 12 anos,
a cada ano ele se move numa zona ou constelação diferente. Cada ano também ele é
visto em oposição ao sol - levantando-se no entardecer, desaparecendo
ao amanhecer - mas por que o movimento de Júpiter não é uniforme, ele não vai atingir
a oposição na mesma data a cada ano. Os babilônicos expressavam este
fato de forma um pouco diferente de nós, e preferiam especificar a oposição de Júpiter
ao invés da data desta oposição. O efeito é o mesmo, entretanto,
e as tabelas babilônicas mostram que eles compensavam o movimento não uniforme de
Júpiter aumentando sua mudança de posição pela mesma medida para cada
oposição na primeira metade do ciclo de 12 anos e diminuindo a medida pela mesma
quantidade de cada vez para a outra metade. Quando a mudança de posição
é gravada através de oposições sucessivas do planeta, temos como resultado uma linha
em zig-zag.
Apesar dos extensos relatos escritos da astronomia babilônica, temos muito pouco
conhecimento dos instrumentos usados na Antiga Mesopotâmia, e sabemos ainda
menos sobre os observatórios que devem Ter existido. Um astrolábio de argila da
Assíria está em exposição no Museu Britânico em Londres. Na realidade,
um verdadeiro astrolábio é usado para medir a altura angular de um objeto celeste, e os
instrumentos assírios parecem mais diagramas de zonas nos céus.
Eles parecem ser tabelas de informações astronômicas, designadas para guiar o
astrônomo na contagem do tempo. A não ser por algumas limitadas referências
a um instrumento usado para medir os trânsitos, o gnomômetro (ou bastão de sombra), e
do relógio d'água, este é relatório completo do nosso conhecimento
de instrumentos astronômicos babilônicos.
Não é de surpreender, entretanto, que sejam difíceis para nós encontrar instrumentos
astronômicos e observatórios de civilizações antigas. Não existiam
muitos instrumento, e quanto aos observatórios, caso estes existissem também, seria
muito difícl que nós os reconhecêssemos pelo que foram. Os equipamentos
verdadeiros devem há muito Ter desaparecido. Se tais observatórios fossem
incorporados a templos e palácios, eles podiam ainda ser mais dificeis de identificar.
Quando encontramos uma estrutura com alinhamento astronômico, nem sempre é fácil
dizer se a estrutura era usada para rituais ou observações astronômicas,
ou para ambos.
Uma breve observação de quase todos os panteons da Antigüidade revela o óbvio: pelo
menos alguns deuses, em geral os mais importantes, são objetos estelares.
As razões metafóricas não são difíceis de se entender. O movimento regular dos objetos
celestes fazia deles agentes da ordem que ajudavam a dar sentido
ao mundo das esferas inferiores; a repetição infinita de seus aparecimentos e
desaparecimentos sugeria a imortalidade; a grande luz das estrelas e planetas
comandava atenção e poder. E estando nos céus, com tal perspectiva da terra situada em
baixo, era natural supor que os deuses deviam saber todo o que podia
acontecer, pois tudo eles podiam ver. Para ver o mundo em baixo, os olhos de uma
pessoa deveriam estar nos céus.
Apesar de deuses diversos diferirem em termos de recursos que eles podiam controlar,
controle era um atributo que todos os deuses e deusas compartilhavam.
O que eles e elas controlavam e como o faziam determina o tipo de deuses e deusas que
são. Os deuses celestes controlam a passagem do tempo em geral marcando
e medindo esta mesma passagem. Eles controlam a direção e o espaco através das
posições de suas idas e vindas. Como senhores do espaço e do tempo, eles
movem o mundo, fazem o universo mudar, o dia amadurecer e se tornar noite; o inverno
se transformar na primavera, os rios subirem e descerem, os cereais
surgirem, crescer e amadurecer. Nestes ciclos do mundo e de nossas vidas diárias, há
uma mudança que ocorre dentro de uma forma ordenada, e esta mudança
é coordenada pelos céus.
IMORTALIDADE E DIVINDADE
Os céus são apenas algumas das coisas que fornecem imagens concretas sobre as quais
nossa concepção de imortalidade pode se condensar. O céu por si mesmo
é eterno, e seus ocupantes estão continuamente ressurgindo. Nas passagens e retornos
celestes está o contraste entre o que é mortal e o que é divino.
O poder dos deuses celestes era revelado pela luz que possuíam. Qualquer pessoa que
ficar de pé ao sol pode atestar sua energia, seu calor é inconfundível.
Apesar de obviamente mais fraca, a lua e os planetas também comandam respeito. Eles
brilham não apenas na escuridão da noite, mas também quando os céus
estão claros, alguns podem ser visíveis â luz do dia. Sempre, os deuses estão associados
com a luz.
Por exemplo, Anu era o maior dos deuses sumérios. Seu nome era a palavra para céu e
alturas, e o símbolo escrito para seu nome era também compartilhado
pela palavra diugir, ou brilhante.
A Lua era também foco de grande reverência e adoração, conforme um texto de Ur, na
Mesopotâmia, do Terceiro Milênio Antes da Nossa Era:
Na Babilônia, o sol era Shamash. Seu olhar cuidadoso observava todas as coisas e a
todos julgava. Justiça residia nele. Hamurabi, o grande codificador das
leis da Babilônia, é mostrado frente a Shamash na coluna de pedra, ou estela, onde está
inscrito o código que leva seu nome. Pela lei, a ordem solar era
transferida para a terra.
Comparada ao sol, as mudanças rápidas da Lua faziam-na parecer uma viajante, mas era
este corpo celeste que havia trazido consigo a contagem do tempo, por
isso sendo extremamente importante.
O deus babilônico da Lua era Sin, o senhor do conhecimento. Ele presidia sobre o
calendário e as adivinhações astrológicas. Seu número sagrado era 30, conforme
o número de dias no mês.
OS DEUSES PEREGRINOS
Nos primeiros tempos, os gregos e romanos parecem não Ter diferenciado os planetas.
Escrevendo em 400 Antes de Nossa Era, o filósofo Platão descreveu os
cinco "peregrinos" como deuses e mencionou que a prática de associá-los com deuses
específicos do Olimpo tinha sido introduzida por estrangeiros. Os estrangeiros
provavelmente vieram do Egito e da Mesopotâmia. O mais provável é que os
Mesopotâmicos tenham sido a fonte para os gregos, pois os deuses planetários
babilônicos
têm características paralelas aos deuses gregos, enquanto que as representações egípcias
são bastante diferentes das gregas.
Na antiga Babilônia, Marduk era considerado o rei dos deuses e estava associado com o
planeta Júpiter. Na Grécia, Zeus era o deus mais importante do Olimpo,
com domínio sobre o planeta Júpiter. Neste sentido, ele é a contrapartida grega de
Marduk. Em contraste, os egípcios mostravam Júpiter - bem como Marte
e Saturno também - com a cabeça de falcão do deus celeste Horus.
Marduk decide também que o curso de Jupiter pelo firmamento irá guiar as estrelas e os
planetas. Esta parece uma escolha estranha, mas a trilha de Jupiter
nos céus segue a forma elíptica, a jornada anual do sol, de forma mais precisa do que
outros planetas conhecidos naqueles tempos tão antigos. Da mesma
forma, as configurações de Jupiter nas estrelas se repetem quase que exatamente a cada
12 anos. Por exemplo, Jupiter irá entrar em oposição (ou seja, ficar
em oposição ao Sol) 12 vezes num período de tempo apenas cinco dias maior do que 12
anos, e a última oposição irá ocorrer entre as mesmas estrelas da primeira.
Estes aspectos do movimento de Júpiter combinado com seu brilho dentre as estrelas da
noite, provavelmente levaram os primeiros astrônomos a usar o planeta
como referência, uma função refletida, parece-nos, no mito. Mas há incertezas,
entretanto. O nome real para o planeta usado no texto é Nebiru. Apesar deste
termo significar Jupiter, ele também pode significar polo ou pivô. O polo Norte celestial
é uma referência chave na rotação do céu, portanto um ou outro,
ou mesmo os dois significados podem ser igualmente válidos no épico da criação..
Além de seu brilho, o aspecto mais distintivo de Vênus é seu ciclo como estrela
matutina e vespertina. Da mesma forma, os egípcios simbolizavam Vênus como
Bennu, um pássaro comumente equiparado à Fênix. O Bennu pertencia a Osiris,
provavelmente porque os egípcios associavam morte e ressurreição com os
aparecimentos
do planeta ao amanhecer e entardecer, ou talvez com suas conjunções atrás do sol e seus
períodos de visibilidade. Algo semelhante pode estar atrás do mito
da Descida de Ishtar ao Mundo Subterrâneo.
Entre os babilônicos, Mercúrio era Nabu, o arquivista e mensageiro dos deuses. Seu
status como mensageiro pode estar relacionado com a rapidez do planeta
em seu circuito, que vai do Oeste ao Leste do Sol, para voltar novamente ao Oeste. A
rapidez de Mercúrio também fez dele o mensageiro dos deuses na Grécia
e Roma, bem como o guia das almas ao Reino dos Mortos.
É fácil ver Marte nos céus da noite. Sua cor vermelha faz com que seja visível em
relação a outros planetas e estrelas. A cor vermelha - a mesma do sangue
- também explica sua associação com os deuses da guerra, Nergal na Babilônia, Ares na
Grécia e, naturalmente, Marte em Roma.
TEMPO E ADIVINHAÇÃO
O texto se refere ao primeiro crescente (aparição) da lua que ocorrer numa data
esperada. "Quando a lua fora do seu tempo de cálculo não puder ser vista,
haverá invasões na cidade..." O comportamento inesperado dos astros era visto como
uma mensagem. Esta poderia ser ruim, mas um encanto ou palavra mágica
recitada por um sacerdote dedicado podia evitar catástrofes.
Alguns dos nomes dos meses sumérios sobreviveram em textos cuneiformes e, como os
nomes egípcios, referem-se às festividades principais: O mês da festa
de Shulgi, O mês de Comer a Cevada de Ningursu.. As festas eram planejadas de acordo
com as fases da lua, com festividades regulares no primeiro crescente,
no sétimo dia e na lua cheia (o décimo quinto dia).
Naturalmente, a intercalação era apenas uma forma para manter o calendário lunar
mesopotâmico no mesmo compasso das estações, e algumas inscrições implicam
que um mês extra era adicionado antes do mês do equinócio de outono. Outros textos se
referem a um décimo terceiro mês, adicionado também antes do mesmo
equinócio. Seja qual for a regra seguida anteriormente, a cerca de 1000 Antes da Nossa
Era, os sacerdotes babilônicos que preparavam os calendários intercalavam
os meses de acordo com um ciclo de oito anos. Durante este período, três meses mais
eram adicionados. Nos tempos caldeus, um Metônico, ou seja, um ciclo
de 19 anos tropicais com 235 meses lunares é chamado segundo o astrônomo grego
Meton, que introduziu seu uso no mundo Mediterrâneo nas últimas décadas
do quinto século antes da nossa era. A. Sachs, um especialista em Astronomia da
Mesopotâmia acredita que as intercalações eram designadas para manter a
curva anual ascendente de num mês determinado. Se este for o caso, novamente temos a
importância do papel da estrela mais brilhante do céu como um sinal
das estações e medidor do calendário para as civilizações antigas. Seus atributos
astronômicos - brilho e tempo de seus aparecimentos - faziam-na extremamente
valiosa onde quer que pudesse ser vista.
Não obstante qual o método usado para manter o calendário lunar mesopotâmico
coordenado com as estações, apenas o rei podia declarar quando deveria ser
adicionado um mês a mais.
O COMEÇO DO ANO
O tempo era medido em contagens dos corpos celestes em seus passeios pelos céus por
xamãs e sacerdotes especializados em calendários. Estes técnicos do
sagrado marcavam pontos no tempo com cerimônias e rituais que correspondessem na
terra aos padrões encontrados nos céus. Tais momentos podiam ocorrer várias
vezes durante o ano, pois não são necessariamente restritos a um padrão anual. Eles
dependem de como as pessoas vivem, cultivam seus campos, fazem a colheita
e percebem, em seu modo de viver e sentir, a ordem cósmica.
Os sacerdotes babilônicos faziam uma espécie de drama ritual para comemorar o Novo
Ano na Mesopotâmia. Este ritual, também, iniciava o ciclo de renovação
cerimonial e envolvia a recitação do Enuma elish, o mito da criação babilônico. Os
sacerdotes também encenavam alguns dos pontos altos do mito, como a
vitória de Marduk sobre o caos e como Marduk estabeleceu a ordem no universo. O
festival babilônico do Ano Novo era chamado de Akitu, e era festejado na
primavera ou no outono. Registros de meses intercalados sugerem que nos tempos do
Antigo Babilônio o Ano Novo era celebrado no Equinócio de Outono. Mais
tarde, o Ano Novo passou a ser comemorado a partir da primeira lua nova da primavera.
A data realmente não importa. O que conta é a escolha de um ponto
de mudança no tempo que era fundamental para os babilônicos. Muitas razões sugerem
o equinócio, e apenas vislumbres destas razões originais permaneceram
em cerimônias que continuaram a ser celebradas.
Marduk não era Shamash, o sol, mas assumia muitos atributos do sol como parte da
elevação de seu status no período Neo-Babilônico. A emergência de Marduk
da Montanha no Equinócio e Ano Novo, de qualquer modo, representa a criação da
ordem no mundo. Sabemos qual foi o papel de Marduk no épico da criação.
Ao encenar este mito em termos de ritual num dos pontos de virada das estações do ano,
os babilônicos reconheciam a natureza cíclica do mundo. O final
de cada ano é, na realidade, uma nova entrada no tempo de antes da criação do mundo.
O mundo anterior deve desaparecer antes de ser refabricado, e é por
isso que Marduk é aprisionado e sacrificado na montanha.
Algumas cenas mitológicas mostradas em selos cilíndricos podem mostrar relação com
estas idéias. Quando os mesopotâmios queriam colocar um selo oficial
num documento de argila ou proteger a integridade dos conteúdos de um contêiner, eles
imprimiam um desenho na argila mole rolando um pequeno cilindro de
pedra nele. O cilindro era cuidadosamente esculpido, e um destes selos, do período
acádio (2360-2180 Antes da Nossa Era), também no Museu Britânico, mostra
o deus Sol Shamash, brandindo uma serra e emitindo rais ondulados de luz à medida em
que emerge de uma abertura entre dois picos de montanhas. O deus à
direita, com dois rios saindo de seus ombos, é Ea. A deusa à esquerda, é identificada
com o planeta Vênus, ou Ishtar, a estrela da manhã e do anoitecer.
As águas dos ombros de Ea representam as enchentes da primavera. Não podemos Ter
certeza, pois a figura não tem texto. Mas se ela significar primavera,
a cena pode simbolizar o equinócio de outono, o equinócio de primavera e
possivelmente também o Ano Novo.
Mais preces e rituais continuavam a cerimônia do Ano Novo, que durava 11 dias. Um
ritual chamado "fixar do destino" e claramente ligado à leitura de augúrios
para o novo ano fazia parte dos festejos. Os babilônicos também perpetuaram o
Casamento Sagrado dos Sumérios. Nele, o rei representava Tamuz e a alta sacerdotisa
era Ishtar. A mensagem era a mesma: fertilidade em todos os níveis. A passagem do
tempo cíclico significa o mesmo na Babilônia que para outros lugares
do mundo: renovação - dos deuses, dos homens, da fertilidade da terra, do calendário e
dos céus.
A ESTRELA DE ISHTAR
São conhecidas referências a Vênus já desde 3000 ANTES DA NOSSA ERA a partir de
evidências de Uruk, uma importante cidade suméria situada no Sul do Iraque.
Uma tábua de argila encontrada lá diz "Estrela Inana", sendo que outra contém símbolos
para as palavras " estrela, sol poente, Inana". Inana é Vênus, mais
tarde também conhecida Ishtar, e as tábuas de Uruk especificam a identidade celestial
da deusa com o símbolo de estrela, que é uma estrela de oito pontas.
Já nestes tempos iniciais, o símbolo parece não ter outros significados, apesar dele
eventualmente ter evoluído, na escrita cuneiforme, para o sinal de
divindade, que é colocado à frente dos nomes dos deuses. Se a relação entre os deuses e
os céus não fosse já explícita o suficiente, este desenvolvimento
na escrita mesopotâmica confirmaria este fato.
Após uma descrição adequada da terra em questão e uma lista daqueles envolvidos na
realização da transação, o marco do rei Marduk-ahe-erba enfaticamente
aconselha:
Sempre que alguém se levantar e contra este campo levantar uma queixa, ou fizer que
seja levantada uma queixa, que quiser dizer que o campo não é um presente
do rei, e ordenar um a um homem insensato, um bobo, um surdo, a se aproximar desta
pedra inscrita e jogar água nela, queimá-la com fogo, escondê-la num
campo onde não possa ser vista,
Que os grandes deuses, tanto quanto os que por seus nomes nesta pedra são
mencionados, com uma maldição pesada, da qual não possa escapar, amaldiçoe tal
indivíduo!
Que Anu, Enlil e Ea olhem com ira para ele o destruam sua vida, e seus filhos, a
semente deste homem....
Não era, realmente, uma boa idéia tentar passar por cima dos deuses celestes!
O simbolismo direto nos sinais do Sol e da Lua e em outros símbolos cujo simbolismo
pode ser compreendido faz-nos levantar algumas suposições a respeito
da Estrela de Ishtar. Talvez o número oito seja, por si só, simbólico, pois Vênus
experimenta um ciclo de oito anos. Durante este tempo, Vênus passa por
todo seu padrão de estrela matutina e vespertina cinco vezes. Isto quer dizer que uma
configuração de Vênus ocorre novamente na mesma data do calendário
oito anos após, e esta é a contagem das passagens de Vênus pela frente e pelas costas do
Sol ao longo de oito anos.
Apesar do ciclo de oito anos-cinco anos de Vênus ser correto, ele não é exato. Após oito
anos, Vênus está, na realidade, um pouco adiantado no tempo em
cerca de 2,4 dias. Um texto do Período Neo-Babilônico (626-539 ANTES DA NOSSA
ERA), referindo-se a Vênus como Dilbat, registra: "Dilbat 8 anos atrás, vós
voltais... 4 dias vós deveis subtrair." Aqui, o observador mesopotâmico é instruído a
subtrair quatro dias para obter a data certa para Vênus. Isto pode
parecer um engano, mas não é. A correção 2,4 dias se aplica a um calendário solar, e o
calendário mesopotâmico era lunar. Porque a lua chega 1,6 dias mais
tarde, a configuração de Vênus ocorria quatro dias mais cedo, daí por que os astrônomos
Neo-Babilônicos acertarem suas predições.
Infelizmente, os textos de metas do ano são bem posteriores e não confirmam se o ciclo
de oito anos de Vênus era conhecido no tempo dos cassitas. Temos,
entretanto, cópias de um conjunto de textos astronômicos, as Tábuas de Ammizaduga.
Ammizaduga (ou Ammi-saduqa) foi rei mais próximo do último monarca da
Primeira Dinastia Babilônica, e provavelmente governou entre 1650 e 1550 ANTES DA
NOSSA ERA. Três décadas após o final de seu reinado, os hititas depuseram
seu sucessor, começando então neste período a Dinastia Cassita.
Ex.: Se no 25º de Tamuz Vênus desapareceu no Oeste, por 7 dias permanecendo ausente
nos céus, e no segundo de Ab Vênus fosse vista no Leste, haverá chuvas
na terra, e desolação será o resultado (ano 8).
Apesar dos erros dos escribas, os textos claramente exibem um ciclo de oito anos, e
indicam que os Mesopotâmicos, na metade do segundo milênio Antes da
Nossa Era, ou seja, há 4000 anos atrás, já tinham conhecimento deste fato. A não ser por
algumas exceções, a estrela de oito pontas era usada quase que
exclusivamente para Vênus no sistema cassita para delimitar fronteiras. Outras estrelas
são em geral representadas por prontos, e Sebitti, um grupo de
estrelas, é ilustrado como um aglomerado de sete pontos, aparecendo em muitas kudurru
(pedras de fronteira) como a Estela de Ishtar.
O SOL CRESCE
Durante o período Assírio, muitos dos antigos símbolos do Período Babilônico Antigo
são usados em estelas comemorativas, em paredes de templos, em impressões
de selos cilíndricos e em contextos formais. Uma tábua que marca a restauração e
fundação renovada do templo de Shamash em Sipar mostra os três símbolos
principais - o sol, a lua e Vênus/Ishtar - como selo celeste de aprovação do evento.
Shamash está sentado dentro num trono, e uma grande versão de seu
disco solar de linhas ondulantes e quatro pontas descansa sobre uma mesa. Neste
período, entretanto, o emblema do sol algumas vezes toma forma diferente.
Um disco alado substituiu o emblema de Shamash, e freqüentemente, o deus principal
dos Assírios, chamado Assur, é visto dentro de um disco flamejante.
Quando os assírios dominaram a Mesopotâmia, seu deus nacional assumiu a maior parte
das características de Marduk, ocupando o mesmo papel como criador
e mantenedor da ordem. Da mesma forma, Assur também estava associado com o sol,
portanto seu aparecimento dentro de um disco solar era algo perfeitamente
natural.
O símbolo solar alado era bastante comum nas artes mesopotâmicas. Depois dos
Assírios e Neo-Babilônicos, a dinastia persa que dominou a Mesopotâmia de 558
a 330 Antes da Nossa Era, também adotou discos idênticos, que podem ser vistos nas
paredes de Persépolis. Naturalmente, o disco solar alado também aparece
em templos em todo alto Egito. A forma dos discos egípcios é levemente diferente dos
mesopotâmicos, pois os discos solares alados mesopotâmicos em geral
mostram asas e caudas de penas, além das asas abertas. Parecem-se com um pássaro - e
esta era a inteção- para sugerir a idéia de voar nos céus.
Astronomia babilónica 2
http://www.angelfire.com/me/babiloniabrasil/ecos.html