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Estrelas Fixas – O Método

Original
(Palestra proferida no 7° Simpósio Nacional de Astrologia
do SINARJ)

Desde os tempos mais remotos as estrelas fascinam os


homens. Elas foram representadas nas pinturas rupestres
das cavernas e nas gravações em pedra do paleolítico
superior (entre 28.000 e 10.000 AC) Na década de 90,
Alexander Gurshtein, do Instituto da História da Ciência e
Tecnologia da Academia Russa, afirmou que por volta de
5.600 AC os homens começaram a agrupar as estrelas
para fixar certas áreas do céu.

Em 2.000, as descobertas do Dr. Michael Rapengluck, da


Universidade de Munique, de certa forma, contestaram a
afirmativa de Gurshtein porque concluíram que o Touro
abaixo das Plêiades, na entrada da caverna de Lascaux,
na França, representa a constelação que estava no
equinócio de outono em 15.300 AC.

Na Mesopotâmia as estrelas foram distinguidas com


relação aos planetas ao receberem a designação de fixas,
enquanto os planetas foram denominadas errantes. A
partir de então os agrupamentos de estrelas passaram a
receber nomes de heróis ou animais para que suas
aventuras ou provas permanecessem para sempre entre
os homens. Estas aventuras constituem os catasterismos
(do grego katasterizó – colocado entre as estrelas). Estes
catasterismos, ou mitos das constelações, foram
descritos por Eudoxo, Aratus, Eratosthenes e
Hygino,entre os séculos IV AC e I DC.

Em 1930 a União Internacional de Astronomia definiu e


delimitou 88 constelações sem considerar as figuras
vistas pelas civilizações antigas e desmembrou algumas
delas (por exemplo, Argo o navio dos argonautas foi
dividido em cinco constelações) e novas constelações
também foram inseridas, algumas formadas por estrelas
de pouco brilho. Com este novo arranjo algumas das
estrelas antigas mudaram de constelação, este é o caso
de Canopus, o comandante do Argo, que agora pertence
à constelação Carina.

Os mitos das constelações foram utilizados para a


interpretação dos signos que a elas se sobrepõem. Por
exemplo, o fato de Argo estar na parte do céu que
corresponde ao signo de Câncer motivou o interesse dos
cancerianos pelo mar.
No século II AC, Hiparco de Nicéia, constatou uma
diferença de 2° na posição da estrela Spica, considerada
a mais antiga, ao compará-la com sua posição na lista de
Arystilli e Timochares, 150 anos antes. Hiparco supôs
então que as estrelas possuíam um pequeno movimento.
Este movimento é a precessão dos equinócios,
comprovada por Isaac Newton no século XVII, ou melhor,
o eixo da terra possui um movimento que se completa em
25.920 anos e promove o deslocamento das constelações
em relação aos pontos fixos dos equinócios e solstícios
que a Astrologia Tropical estabeleceu em 0° de Áries,
Libra, Câncer e Capricórnio.

Devido a este movimento as estrelas se deslocam cerca


de 50”por ano, ou 1° a cada 72 anos, e as constelações se
movem, no sentido contrário, através do zodíaco tropical
fixo. Quando ocorre uma mudança de constelação no
ponto equinocial vernal (nosso 0° de Áries) começa uma
nova era para a humanidade. Atualmente este ponto está
no começo de Peixes. Há mais de 4.000 anos os homens
começaram a utilizar as estrelas em sua ascensão no
horizonte local. Em 2.100 AC a ascensão da estrela Sirius,
após o seu período de invisibilidade já era utilizada como
referência para o começo do calendário egípcio. A
primeira lista de estrelas da Babilônia, datada de 1.100 AC
e denominada como lista do Astrolábio, relaciona as
estrelas que ascendem antes do Sol em diversas ocasiões
do ano.
Hoje sabemos que a Astrologia começou a utilizar as
estrelas em sua ascensão, culminação e ocaso e também
nosparans, abreviação do grego paranatellõ (ascender
junto), formados pelas estrelas com astros nestes três
pontos mais marcantes do horizonte local, privilegiando
assim sua visibilidade.O termo paran é conhecido pelos
astrólogos por sua utilização na astrocartografia, porém
sua origem está no método original das estrelas. O
método dos parans chegou até nós graças à obra daquele
que ficou conhecido como Anônimo 379, porque seu
texto foi escrito em Roma neste ano. Dentre os
contemporâneos a australiana Bernadette Brady foi uma
das primeiras a pesquisar o método original e foi através
de seu livro Fixed Stars que tomamos conhecimento dele,
antes mesmo de conseguirmos os fragmentos do material
do Anônimo, traduzido por Robert Schmidt do Project
Hindsight.

Embora citado pelo francês Morin de Villefranche (séc


XVII), em sua Teoria das Determinações contida na
Astrologia Gallica, quando afirma a importância da
consideração das estrelas em suas ascensões,
culminações e ocasos, este método é muito pouco
conhecido pelos astrólogos.

O principal motivo do desconhecimento do método


original deve-se ao fato de Ptolomeu ter sugerido um
outro método e, como através dos séculos os astrólogos
fundamentalmente o seguiram, seu método foi o único
difundido. No livro III do Tetrabiblos Ptolomeu propôs
naturezas planetárias para 48 constelações e destacou
individualmente poucas estrelas. Ptolomeu não
considerou o método original e sugeriu a projeção das
estrelas na eclíptica, utilizando os pólos eclípticos,
desconsiderando a variação de suas distâncias com
relação à eclíptica, ou melhor, ele propôs para as estrelas
um método similar àquele utilizado para os planetas.
Contudo, os planetas conhecidos pelos antigos estavam
muito próximos da eclíptica enquanto as posições das
estrelas possuem variações muito grandes. Segundo o
método sugerido por Ptolomeu, estrelas muito distantes
umas das outras podem ser encontradas em um mesmo
grau da eclíptica, este é o caso de Spica, que está sobre a
eclíptica, e Arcturus, que está muito distante deste
círculo.

Na verdade o método sugerido por Ptolomeu é bem mais


simples que o método original, porque não considera o
horizonte local. Este método foi revisto e alterado, no
século XV, por Ulug Beg e Regiomontanus que mudaram a
referência dos pólos eclípticos para os pólos equatoriais.

A obra do Anônimo apresenta os dois métodos


ressaltando a necessidade de sua utilização em conjunto,
porém privilegia a visibilidade local das estrelas.

No método original a posição mais importante para uma


estrela é a ocupação de um dos ângulos na hora do
nascimento, ou melhor, quando ela ascende com o grau
do Ascendente, culmina com o grau do Meio do Céu, se
põe com o Descendente ou tem sua culminação inferior
com o Fundo do Céu. Nesta condição a força da estrela
estará focada naquele ponto e funcionará durante toda a
vida com relação ao assunto do ângulo. Por exemplo, no
Meio do Céu está relacionada à posição social e à
carreira.

Além dos ângulos o Anônimo chama atenção para a


importância das estrelas ligadas à Lua porque quando
houver uma estrela notável a pessoa terá uma vida
brilhante.

No método original, se uma estrela estiver ascendendo,


culminando ou no ocaso, enquanto um luminar ou planeta
estiver localizado em um dos quatro pontos de encontro
da eclíptica com o horizonte local (norte, sul, leste, oeste),
um paran estará formado. É importante ressaltar que a
estrela não precisa estar exatamente em um dos quatro
pontos de interseção da eclíptica com o horizonte, porque
todo o plano do horizonte é considerado, portanto basta
que a estrelas esteja próxima aos pontos cardeais locais.
A formação de um paran promove a interseção
simultânea do planeta e estrela com a Terra.

O Anônimo sugere uma correlação dos parans com as


diferentes etapas da vida. Isto dependerá da localização
das estrelas no horizonte. Na ascensão ou culminação
superior elas marcam a vida desde cedo, enquanto no
ocaso elas se manifestam da metade para o final da vida e
no nadir sua manifestação ocorre na velhice. Uma estrela
importante nesta posição indica que a morte será notada
e reconhecida.

Uma vantagem do método original é o fato de poder ser


utilizado até mesmo quando a hora do nascimento não é
conhecida. O movimento do céu no horizonte é
acompanhado durante 24 horas, a partir do nascer do Sol.
Quando a hora de nascimento for conhecida, o
movimento deve ser considerado a partir do nascer ou do
pôr do Sol, o que estiver imediatamente antes do
nascimento.

As estrelas são muito importantes para a interpretação de


uma carta natal porque a enriquecem ao propiciarem mais
informações do que aquelas que podem ser obtidas com
os planetas apenas.
Elas são as grandes indicadoras de feitos
espetaculares.Uma pessoa só terá vida marcante se as
estrelas assim o confirmarem, portanto a grandeza só
será alcançada com o apoio das estrelas. Só elas, e
apenas elas, podem elevar ao cume do sucesso e da
fortuna ou promover sua derrubada.

As estrelas devem ser consideradas como a base sobre a


qual a carta natal se localiza.

Em nossas pesquisas verificamos que, na maioria dos


casos, especialmente, para feitos ou situações
marcantes, bons ou maus, é preciso considerar as
estrelas segundo o método original.

O programa Solar Fire, em sua lista de Reports, apresenta


o star parans, mas ele não está correto e não pode ser
utilizado. Starlight é o programa feito sob a orientação de
Bernadette Brady especialmente para o cálculo
dosparans. O Starlight também apresenta a visibilidade
de um céu local em qualquer época (www.zyntara.com).
O novo programa Meridian do argentino Juan Saba
também inclui os parans (www.catharsoftware.com)

Um dos problemas para a interpretação das estrelas é a


divergência existente entre os principais autores
modernos (Robson, Ebertin e Brady) quanto ao seu
significado, mas é possível chegar a um consenso. De
qualquer forma não devemos esquecer que cada estrela
pertence a uma dada constelação e dela recebe uma
espécie de característica coletiva, fornecida pelo
catasterismo ou mito da constelação, que deve atuar
como ponto de partida para sua interpretação.

Sem duvidas, há estrelas muito mais importantes que


outras, algumas são marcantes por serem boas e outras
por serem ruins, como é o caso das quatro que estavam
nos equinócios e solstícios em 3.000 AC e ficaram
conhecidas como as reais da Pérsia: Aldebaran, Antares,
Regulus e Fomalhaut.

Nossa sugestão é a utilização de 30 estrelas. No final do


texto apresentamos a relação sugerida e também aquelas
relacionadas pelo Anônimo.

Como exemplo apresentamos a carta natal da Princesa


Diana

(01/07/1961, 1945 horas.Sandringham ENG)

Método Original
Spica culmina com o Meio do Céu – êxito e renome,
habilidade fora do comum.

Parans com o Sol

Alpheratz ascende enquanto o Sol se põe – amor à


liberdade.

Sirius na culminação inferior com o Sol se pondo – brilho


e renome que pode queimar rápido, mas promove
imortalidade.

Facies ascende enquanto o Sol se põe – implacável e


rude, violência promovida ou sofrida.

Menkar na culminação inferior com o Sol se pondo –


ameaçada de ter que ultrapassar grandes testes.

Parans com a Lua

Regulus se põe com a Lua ascendendo – potencial para


liderança posição e sucesso, mas não pode abusar da
posição alcançada ou desrespeitar os outros para não
provocar vingança.

Rigel na culminação inferior com a Lua ascendendo –


promove sucesso por sua contribuição para o coletivo,
mas não é fácil manter o sucesso alcançado.
Facies se põe com a Lua culminando – violência ou
tumulto no âmbito familiar..

Parans com Vênus

Alphecca culmina com Vênus ascendendo – mudança de


status e posição social através do amor, porém enfrenta
dificuldades na posição alcançada.

Parans com Marte

Bellatrix na culminação inferior com Marte se pondo –


potencial para sucesso, mas sua manutenção é difícil. É
preciso atenção permanente para as atitudes pessoais
porque imprudência pode ter resultado desastroso.

Método de Ptolomeu

Sirius em conjunção ao Meio do Céu (como no método


original)

Arcturus em conjunção ao Meio do Céu – capacidade


para empreendimento e liderança, sucesso e honras.
Visão de um caminho novo, mas para abraçá-lo e levá-lo
a frente é necessário enfrentar pessoas e situações.
Conclusão: Podemos observar que o método original é
muito mais importante que o método eclíptico. Sem
dúvida também não podemos deixar de considerar as
condições dos planetas na carta natal. Saturno em
quadratura ao Meio do Céu, Vênus focal de quadratura T
envolvendo Lua e Urano, etc…

ESTRELAS MAIS PODEROSAS

Nome Constelação

AS REAIS DA PÉRSIA

ALDEBARAN: Touro (a mais poderosa para o Anônimo)

ANTARES: Escorpião (pode ser destrutiva)

FOMALHAUT: Peixe Austral

REGULUS: Leão
AS MELHORES

SIRIUS: Cão Maior (referência marcante no Egito)

SPICA: Virgem (a mais antiga dentre as estrelas)

CANOPUS: Carina

VEGA: Lira

RIGEL: Orion

BETELGEUSE: Orion

BELLATRIX: Orion
AS MAIS DIFÍCEIS

ALGOL: Perseu (a pior)

CAPULUS: Perseu

ZOSMA: Leão

MENKAR: Baleia

FACIES: Sagitário

PLEIADES: Touro

PROCYON: Cão Menor

ALGORAB: Corvo
ESTRELAS RELACIONADAS PELO ANÔNIMO 379

Nome Constelação

SPICA: Alfa de Virgem

VEJA: Alfa de Lira

FOMALHAUT: Alfa do Peixe Austral

DENEB ADIGE: Alfa de Cisne

ALPHECA: Alfa da Coroa do Norte

REGULUS: Alfa de Leão


ARCTURUS: Alfa do Boieiro

ALTAIR: Alfa de Águia

ANTARES: Alfa de Escorpião

RIGEL: Beta de Orion

ALNILAN: Epsilon de Orion

MENKALINAM: Beta de Auriga

RUKBAT: Alfa de Sagitário

ALGOL: Beta de Perseu

SIRIUS: Alfa do Cão Menor


POLLUX: Beta de Gêmeos

ZUBENSCHEMALI: Beta de Libra

CASTOR: Alfa de Gêmeos

BELLATRIX: Gama de Orion

PROCYON: Alfa do Cão Maior

BETELGEUSE: Alfa de Orion

ALPHERATZ: Alfa de Andrômeda

BUNGULA: Alfa do Centauro


ACHERNAR: Alfa de Erídano

DENEBOLA: Beta de Leão

ZOSMA: Delta de Leão

ALPHARD: Alfa de Hydra

ALDEBARAN: Alfa de Touro (destacada como a melhor de


todas)

*CANOPUS: Alfa de Carina (ex Argo)*(Citada e não


incluída por não ser visível em Roma)

Bibliografia

Tratado das Estrelas Brilhantes – Anônimo 379 – Project


Hindsight
Star Myths – Theony Condos
Le Ciel – Ératosthène – Pascal Charvet
Fixed Stars – Bernadette Brady
Rio de Janeiro, 12 de Setembro

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