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Em um berço celestial, ó, Zerana, querida…

Como em um dia comum, ondas psiônicas ecoaram pelos corredores dos salões
comunais da família Rayshar (que significa “radiância cósmica”). Todos foram
notificados de uma mensagem mental e rapidamente, foi visível que a maior parte
dos integrantes ficaram animados e até mesmo nervosos com o que estava por vir.
Não era uma ocasião comum, tampouco um dia simples e sim o nascimento de uma
nova vida. O nascimento de mais um abençoado da Grande Luz, mas não só isso
como mais um indivíduo com capacidades psiônicas e um grande talento para
basicamente tudo.

Nascida de Nonari Rayshar e Kestash Rayshar, Zerana foi dita como uma figura que
estava predestinada a surgir, e quiçá, também destinada a futuramente ser a
descendência digna dos dois poderosos guerreiros.

Nonari era uma psiônica sem igual, capaz de elevar pedaços enormes de pedra e
enviar ondas psiônicas a quilômetros de distância, atordoando inimigos que
estivessem na distância.

Kestash, por outro lado, era um guerreiro renomado e expert em combate, com
táticas quase invencíveis em combate, capaz de derrotar até os sargentos mais
poderosos de umbrakith.

A união de ambos era como unificar dois lados considerados importantes para os
kalashtar: a união da mente e do corpo. E por falar em união da mente e do corpo,
foi exatamente isso que seus pais ensinaram a ela desde o momento em que
nasceu. Mesmo pequena, criança, avançou rapidamente como era o comum para
crianças kalashtar: conseguiu falar com menos de um ano, andar com poucos
meses e se comunicar mentalmente com os dois. Sua mente expandiu e seu
conhecimento também, sendo implementado por conhecimentos de tutores caros e
também de seus queridos pais.

Eles sempre diziam que ela seria o melhor dos dois, mas sempre ouvia suas vozes
repetindo a mesma canção:

“Em um berço celestial, Zerana, querida, Estrelas guardiãs,


velam tua vida.

Nasceste na noite, luz em teu olhar, Um ser de estrelas, nosso


amor a brilhar.

Nascida das estrelas, em noite serena, Teu riso, Zerana, uma


luz amena.
Nos braços da lua, embalamos teu sono, das estrelas, és tu
nosso tesouro.

Em um berço celestial, Zerana, querida, Estrelas guardiãs,


velam tua vida.

Nasceste na noite, luz em teu olhar, Um ser de estrelas, nosso


amor a brilhar.

Quando as sombras dançam, no céu tão sereno, Teu coração,


Zerana, um farol pequeno.

A sabedoria dos quóri, contos a contar, Na tua jornada, irás


sempre brilhar.

Em um berço celestial, Zerana, querida, Estrelas guardiãs,


velam tua vida.

Nasceste na noite, luz em teu olhar, Um ser de estrelas, nosso


amor a brilhar.

Quando a escuridão tentar te envolver, Lembra-te, Zerana, de


tua luz a crescer.

Teu destino escrito nas estrelas a guiar, Em tua mente, a


esperança brotar.

Zerana, estrela guia, no céu cintilante, Caminhas entre


mundos, amor constante.

Pai e mãe, contigo, na jornada sem fim, Nas asas do vento,


voarás por fim.

Que as estrelas te guiem, pelos céus a vagar, Zerana, querida,


és nossa luz a brilhar.

Nas noites serenas, sob o manto estelar, Cantaremos, sempre,


para ti, a canção do amar.”

E sempre avisando a pequena Zerana, algo que ela nunca se esqueceria pelo resto
de sua vida “Uma vida sem mente, corpo e espírito sãos, não é uma boa vida. Mas
é possível atingir essa vida, modificando mente, corpo e espírito. Nada é fixo. Tudo
é moldável de acordo com nossa vontade. Basta alcançarmos.” e isso martelou em
sua mente por anos e anos a fio. Por isso, ela acreditava que nada poderia
impedi-la e que seus poderes latentes aumentariam a cada dia que passasse. Ela
despertaria capacidades de combate e de mente tão extraordinárias quanto as de
seus pais.

Mas às vezes, a Grande Luz trabalha de maneiras diferentes e o destino flui para
um caminho divergente do que desejamos.
Mesmo com tantos tutores, com uma enorme quantidade de treinos de mãe e pai,
seus poderes latentes não aumentaram. Era um caso raro. E para piorar, o espírito
Quori não havia despertado, algo que poderia transformá-la em uma aberração e
portanto, seus pais mantiveram isso em segredo para proteger sua querida filha.

Com os anos, suas capacidades, levadas por seu desânimo, começaram a ceder.
Seus poderes psiônicos nada eram em comparação com as crianças de 10 anos
como ela mesma tinha… E sentia raiva, fúria, mas principalmente, tristeza,
isolamento.

Seus pais fizeram de tudo para deixá-la melhor. Ensinaram-na a se acalmar,


tranquilizar e encontrar paz em coisas pequenas, como tocar, dançar, pintar. Mas
principalmente, em aproveitar o momento com sua família.

Sorrisos, gargalhadas, piadas bobas e almoços juntos. Memórias vívidas em sua


mente, cristalizadas e incrustadas, diamante bruto impossível de ser removido. Ela
mantém essas memórias com tanto afinco e poder que mesmo que viesse a
esquecer alguns desses fragmentos, seu corpo e espírito saberiam bem que algo
lhe falta dentro do âmago.

Quando os treinos foram infrutíferos, eles entenderam que ela poderia não ser
destinada à grandeza. Mas a aceitaram mesmo assim, pois ela era sua filha
querida. Mesmo sem poderes, ainda era uma luz estrela que brilhava em seus
corações.

Entretanto, os problemas não terminaram. A sua família não estava em plenas


condições e as batalhas contras os umbrakith estavam não só minando os recursos
dos kalashtar, como também os recursos de sua família. Com a constante
diminuição de batalhas, mas a maior intensidade de todas elas, alguns dos
familiares foram feridos gravemente e, claro, com seus bons corações, Nonari e
Kestash decidiram que talvez não fosse inteligente se manter em Quorion.

Eles levaram essa preocupação até os Kalashar, mas foi-lhes dito que após a
Guerra Infinda, os umbrakith haviam praticamente desaparecido e que a
probabilidade deles retornarem era praticamente zero. Mas estavam preparados
para caso isso ocorresse. Os dois sabiam que isso não era verdade, mas nada
disseram.

Eventualmente, enquanto salvavam alguns spelljammers, acabaram dando de cara


com figuras estranhas que tinham poderes psiônicos esquisitos. Se assemelham, de
certa forma, aos umbrakith. Zerana presenciou tudo. E viu o quanto de energia
maligna eles tinham, mesmo que tivesse 15 anos, ela entendia bem o que estava
diante de seus olhos. Porém, foi rapidamente expulsa para não ver demais.

Algum tempo depois, seus pais rapidamente começaram os preparativos.


Demoraram alguns anos para concluir todos, tendo em vista que existiam muitas
pontas soltas em Quorion. Nesse período, eles ficaram distantes e Zerana se
entristeceu demais. Apesar de entender porque estavam tão dispersos, ainda era
algo triste para a menina.

Eles prometeram que assim que tudo acabasse, teriam todo o tempo do mundo
para ficarem juntos. Anos e anos a fio para permanecerem imortais no plano astral,
vagando e sempre estando unidos, em família.

E assim, começaram uma viagem que era para ser longa, mas acabou de forma
rápida e trágica.

Zerana avistou, ao longe no plano astral, um rastro negro se aproximando,


emanando rajadas e fluxos de luz arroxeada e branca, puro poder psiônico. Algo
que nenhum deles havia visto em sua vida, mas que provavelmente já vira ser
mencionado.

Então, um ataque iniciou. Um spelljammer


umbrakith com tropas poderosas,
guerreiros impiedosos que eliminaram tudo
aquilo que Zerana vira Nonari e Kestash
construírem.

Um a um, todos os tripulantes foram


derrotados, com Devraki na frontline, mas
antes que ela pudesse ver o final daquilo,
enquanto seus pais lutavam, uma
grandiosa explosão emanou o poder
mental do barco, se dissipando após a
onda inicial. Tudo havia desaparecido.
Inimigos, aliados, pais… Tudo havia sido
reduzido a nada.

Confusão. Luto. Raiva. Tristeza. Tudo isso


numa mistura de emoções infindáveis…
Devraki, Sargento da Zenakrins
Nasceste na noite, luz em teu olhar… Nosso amor a brilhar…
Após horas e horas a fio, sem rumo, sem objetivo, sem abrigo, Zerana finalmente
adormeceu.

Mas a visão, quando acordou, foi diferente do que normalmente tinha… Memórias…
Memórias manchadas e distorcidas de um evento irreconhecível.

Quando acordou, sabia o que tinha em seu âmago, o poder que havia despertado.
Finalmente, era de fato um legado, por poder, de sua mãe seu pai. Sua mente era
tão poderosa que poderia carregar objetos e enviar fluxos psiônicos a indivíduos.
Ela testou com pequenos animais do plano astral, eliminando os menores e
usando-os para se alimentar por algum tempo, além dos mantimentos que tinha no
spelljammer.

Entretanto, a mistura de emoções não pararia por aí.

Foi quando viu outro spelljammer… Teria que lutar pela própria vida, não iria se
esconder como antes, seria forte. Enfrentaria e dessa forma, talvez pudesse se
encontrar de forma orgulhosa na Grande Luz.

Os saqueadores vieram e entraram… Mas a


capitã apresentou-se e decidiu que poderia
vendê-la por alguns bocados. Os poderes
psiônicos de uma adolescente talentosa
poderiam lhe render muito numa cidade. Por
isso, a levou com o falso pretexto de
ajudá-la.

Assim que iniciaram a viagem, a jovem


demonstrou capacidades além das
psiônicas: carinho, respeito e amabilidade.
Algo que os piratas não viam a muito tempo
e isso começou a lentamente mudar a
tripulação, que se enchia de alegria e júbilo,
com canções, pinturas e performances da
jovem, ganhando seus corações
rapidamente. O amor que ela havia
recebido, agora dava de graça a todos ao
seu redor, por mais malignos e malditos
pudessem ser. Ela enxergava o bem em
todos.
A tripulação rapidamente mudou de ideia e decidiu que de certa forma, ajudaria a
pequena, que agora, não tinha lar e tampouco objetivo. Mas precisava retornar para
Quorion. Cada dia que passava, sonhos e memórias confusas surgiam, que ela não
conseguia interpretar ou compreender…

Em meio a suas aventuras, encontraram outros piratas não tão bondosos e criaturas
malignas. Estes, eles tiveram que evitar mas por vezes, era impossível. Alguns
encontros perigosos surgiram, em específico o primeiro, com uma horda de
criaturas que a tripulação não conseguiria derrotar. As criaturas os seguiam com
agilidade e resiliência, caçando-os até os confins do astral sea. Foi naquele
momento em que ela viu-se obrigada a utilizar seus poderes. Afinal, como poderia
deixar companheiros seus morrerem daquela forma? Tinha que protegê-los, eram
parte de sua família agora.

Infelizmente, muitos morreram no processo, pessoas queridas de Zerana e pessoas


queridas de Galadriel também. Mas seguiram unidos, acreditando que o destino iria
auxiliar Zerana e quem sabe também a tripulação.
contigo sempre estaremos, nesta jornada sem fim
Nas asas do vento, voarás por fim…

Assim que chegaram em Quorion, após muitos anos de viagem, perdas e


desencontros, ficaram em choque.

Zerana, que antes havia perdido a família, agora havia perdido parte de si. Havia
perdido sua identidade. Ela não terminaria consigo mesma, mesmo que muito infeliz
e deprimida, não só por consciência, como também por conta da tripulação, que de
uma forma ou de outra, agora era parte de sua família.

Desanimados e desalentados, os piratas tentaram animá-la e por algum tempo,


conseguiram trazer alguns sorrisos de volta a sua boca e um brilho em seu olhar.
Talvez algumas memórias e sentimentos estivessem lhe enviando para algum lugar.
De alguma forma, talvez todos estivessem vivos… Talvez tivessem sido
capturados… Ou, se mortos, existia alguma forma de trazê-los de volta. Todos.

Seu ânimo retornou e junto com a tripulação de Galadriel, seguiram rumo ao infinito.
Entretanto, sabiam de uma coisa, que logo encontrariam alguma nova missão,
assentamento ou tarefa a se realizar. E fariam juntos, como um.

Num acidente, entretanto, em um combate com criaturas do plano astral, Galadriel


perdeu o deslocamento total de suas pernas, sendo necessário utilizar uma
bengala. Apesar de querer ensiná-la os poderes psiônicos, Zerana sabia que a
movimentação da sua querida capitã seria quase impossível de recuperar.

Então, assim que chegaram em Esphinks-1, onde a capitã tinha alguns contatos.
Zerana começou a cuidar da mesma, mas Galadriel recusou e insistiu que ela
seguisse seu caminho, buscasse novos horizontes e quem sabe, descobrisse a
verdade sobre o que houve com seus iguais. Ela arranjou uma vaga no SDC sem
que ela soubesse e a colocou lá dentro.

Desta forma, iniciou sua aventura pelos planetas, conglomerados e outros tipos de
locais no astral sea. Mesmo que Zerana parecesse estar feliz e sempre mantem um
sorriso no rosto, além de ser educada com todos, ela ainda tem, em seu coração,
uma grande tristeza por tudo que aconteceu. Foram perdas após perdas, uma após
a uma e definitivamente, mesmo que não quisesse usar seus poderes, agora via-se
obrigada a não só sobreviver, como ajudar aqueles que tiveram tanto carinho e
apreço por ela, que agora estavam, em sua maioria, aposentados ou feridos
gravemente naquele grandioso conglomerado.
Evidentemente que ela buscará, além de tudo, a verdade, mesmo que possa custar
caro a ela.

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