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ISSN 2763-5902

Lentes asféricas e esféricas na correção de hipermetropia

Marinês Bordini Rossi


Sônia De Bastiani
Andréa Vittori Ribeiro
Eliazer Lopes de Moura

RESUMO
Com a utilização de lentes oftálmicas, ocorrem aberrações do cristalino que podem afetar a qualidade da
visão periférica: aberrações cromáticas e monocromáticas. As aberrações monocromáticas são inerentes ao
design da lente. As lentes asféricas são as mais indicadas para correção de altas dioptrias positivas, pois
diminuem a ocorrência de aberrações periféricas, aumentando o ângulo visual do usuário. Através de
simulação de hipermetropia de +8,00D, foi quantificado o campo visual com lentes esféricas e asféricas,
através de leitura em anguloscópio circular e retangular, em diferentes distâncias: 0,5; 0,8 e 1,0m. Houve
aumento no campo visual de 2,5 e 3,0cm, em todas as distâncias, com a utilização da lente asférica. O campo
visual foi maior para o anguloscópio retangular do que o circular. Os dados obtidos no presente trabalho
confirmam a melhoria do desempenho periférico quando lentes asféricas são utilizadas em altas dioptrias
positivas, proporcionando um aumento no campo visual.

Palavras-Chave: lente asférica; lente esférica; aberrações monocromáticas; hipermetropia; campo visual;
ângulo visual.

ABSTRACT
With the use of ophthalmic lenses, they happen aberrations of the crystalline lens that can affect the quality
of the outlying vision: chromatic and monochrome aberrations. The monochrome aberrations are inherent to
the design of the lens. The asfheric lenses is the more indicated for correction of high positive dioptry,
because they decrease the occurrence of outlying aberrations, increasing the user's visual angle. Through
simulation of hyperopia of +8,00D, the visual field was quantified with spherical and asfheric lenses, through
reading in circular and rectangular anguloscope, in different distances: 0,5; 0,8 and 1,0m. there was increase
in the visual field of 2,5 and 3,0cm, in all the distances, with the use of asfheric lens. The visual field went
larger for the rectangular anguloscope than the circular. The data obtained in the present work confirm the
improvement of the outlying acting when asfheric lenses is used in high positive dioptry, providing an
increase in the visual field.

Keywords: asfheric lens; spherical lens; monochrome aberrations; hyperopia; visual field; visual angle.

COMO REFERÊNCIAR ESTE ARTIGO:

ROSSI, M. B.; BASTIANI, S. de; RIBEIRO, A. V.; MOURA, E. L. de. Lentes Asféricas e Esféricas na
Correção de Hipermetropia. Ciênc. saúde foco, São Paulo, v. 2, 2021. Disponível em: [endereço de acesso].
Acesso em: [dia mês abreviado e ano].

Ciênc. saúde foco, São Paulo, v.2, 2021.


ISSN 2763-5902

1 INTRODUÇÃO

O olho emétrope pode ser considerado um sistema ótico equilibrado. No caso de


ametropias, ocorre um desequilíbrio, havendo a necessidade de uso de lentes oftálmicas ou
de contato, corretivas, que são elementos ópticos físicos compensatórios que alteram o
sistema, devolvendo o equilíbrio. Portanto, o trabalho dos profissionais da saúde visual em
última instância é o de auxiliar o sistema a fazer com que a imagem se componha nítida na
retina.
Sendo as lentes meios físicos ou sistemas ópticos capazes de alterar a trajetória do
raio luminoso, são elas também dependentes do ponto que estas ocupem no espaço para
cumprirem suas funções ópticas. Ao deslocá-las para um sentido ou outro deve-se
promover as alterações nas suas características para que cumpram o mesmo papel
compensatório da visão, minimizando a ocorrência de aberrações na formação das
imagens.
Existem várias aberrações do cristalino que podem afetar a qualidade da visão
periférica através das lentes de óculos (MEISTER, 1998). Sãs chamadas de aberrações
cromáticas e monocromáticas, típicas das lentes oftálmicas, e afetam a qualidade da
imagem formada (UNIVERSITY OF ILLINOIS, 2000). As aberrações cromáticas são
inerentes à natureza do material utilizado; enquanto as monocromáticas são inerentes ao
design da lente (DOWALIBY, 2001).
Dentre os tipos de aberrações monocromáticas que existem nas lentes oftálmicas, o
astigmatismo oblíquo, ou erro de foco astigmático, é uma das principais aberrações do
cristalino que devem ser corrigidas ao projetar lentes oftálmicas (MEISTER, 1998). Ocorre
quando raios de luz de um objeto na periferia atingem o cristalino obliquamente,
produzindo duas linhas focais através de cada ponto do objeto (MEISTEr, 1998). A
imagem projetada pelos raios que atravessam a parte central de uma lente convergente não
se encontram na mesma distancia em relação aos raios que atravessam as partes externas,
ou seja os raios periféricos, isso produz uma distorção, também chamada aberração
esférica, ou erro astigmático da lente (UNIVERSITY OF ILLINOIS, 2000).
Com relação ao design, entre outras classificações existentes, as lentes oftálmicas
podem ser dividas em esféricas e asféricas. As lentes esféricas são uma associação de dois
dioptros, dos quais um é necessariamente esférico, e o outro, esférico ou plano (COC,

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2006), enquanto nas lentes asféricas um dioptro é asférico e o outro esférico


(UNIVERSIDAD DE VALLADOLID, 2006).
As lentes oftálmicas convencionais esféricas, são propícias para a formação de
aberração esférica, principalmente em altas dioptrias positivas, enquanto as lentes asféricas
são as mais indicadas para correção deste tipo de ametropia, pois diminuem a ocorrência
de aberrações periféricas.
Como hipermétropes com altas dioptrias têm uma visão periférica reduzida, a
utilização de lentes asféricas, com menores aberrações lateriais, aumentaria o ângulo visual
do usuário.
Portanto, o objetivo deste trabalho foi comparar o ângulo visual utilizando lentes
esféricas e asféricas em elevadas hipermetropias.

2 MÉTODO

Para quantificar o ângulo visual utilizando lentes esféricas e asféricas, foi


confeccionado duas telas, denominadas anguloscópio circular e retangular.
O anguloscópio circular continha oito círculos concêntricos. O primeiro círculo,
mais interno, possuía um raio de 2,5cm e os círculos subjacentes entre distantes entre si por
2,5cm, portanto o último círculo, mais externo, possuia um raio de 20cm.
O traçado do círculo variou em forma e cor, intercalando tracejados contínuos, na
cor preta, (círculos 1, 3, 5 e 7), com tracejados em micro esferas, enfileiradas, coloridas
(círculos 2, 4, 6 e 8). As cores dos círculos com tracejado em micro esferas variou de mais
suave até mais escura(amarela, azul claro, verde claro e vermelha escuro), de forma a
estimular a abertura do campo visual.
O anguloscópio retangular foi confeccionado em quadrados de 3cm cada: 28
quadrados na vertical e 22 quadrados na horizontal. Ambos os lado foram divididos em
dois quadrantes e numerados à partir do centro.
A leitura de ambos as telas foi realizada a 0,5; 0,8 e 1,0m de distância. Estas
distâncias foram determinadas em ensaios preliminares, uma vez que abaixo e acima destes
valores, o campo visual era extremamente reduzido.
Em voluntários emétropes, foi simulada uma ametropia de +8,0 dioptrias (D),
através de uso de lente de contato hidrofílica de –7,25 D.

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Foram confeccionados dois pares de óculos em zilon, um com lentes CR39


esféricas e outro com asféricas, ambos com +8,0D e com base de curvatura de 10.

3 RESULTADOS

Na Tabela 1 e 2, estão representados os valores do ângulo visual obtidos no


anguloscópio circular e retangular, respectivamente.
Os valores encontrados com a utilização das lentes asféricas foram maiores, em
todas as distâncias, nos dois anguloscópios, do que com as lentes esféricas. Para cada
aumento da distância de leitura, houve um aumento no campo visual de 2,5 e 3,0cm, no
anguloscópio circular e retangular, respectivamante.
A disposição das formas em linhas quadriculadas foi mais efetiva em estimular a
ampliação do campo visual, quando comparado o anguloscópio retangular com o circular:
com a utilização de lentes esféricas, a 1,0m de distância o campo visual foi de 17,0 e 12,5
cm , respectivamente; com as lentes asféricas, foi de 20,0 e 15,0 cm, respectivamente.

Tabela 1- Campo visual com anguloscópio circular, com lentes esféricas e asféricas
Distância de leitura (m) Esférica Asférica
0,5 7,5 10,0
0,8 10,0 12,5
1,0 12,5 15,0
Fonte: Autores, 2020.

Tabela 2. Campo visual com anguloscópio retangular, com lentes esféricas e asféricas
Distância de leitura (m) Esférica Asférica
0,5 11,0 14,0
0,8 14,0 17,0
1,0 17,0 20,0
Fonte: Autores, 2020.

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4 DISCUSSÃO

Para que uma correção óptica seja a melhor possível, proporcionado conforto e
qualidade na formação da imagem, vários fatores devem ser levados em consideração.
Entre eles, a escolha da armação é de extrema importância: a armação de zilon é a mais
adequada em altas dioptrias, com lentes mais pesadas, pois proporciona maior estabilidade
de adaptação, permitindo que o foco da lente permaneça centralizado.
Um lente oftálmica ideal permitiria que a imagem formada obliquamente, fora do
eixo óptico ou centro focal, apresentasse a mesma qualidade quanto a obtida através do
eixo (JALIE, 2005). Entretanto, isto não acontece, ocorrem aberrações do cristalino à
medida que o usuário fixa o olhar fora do eixo óptico, para usar sua visão periférica
(MEISTER, 1998; JALIE, 2005). O astigmatismo obliquo é uma das principais
(MEISTER, 1998) e acontece quando um sistema óptico focaliza dois eixos ortogonais de
luz em duas distâncias diferentes no espaço (MIT OCW, 2003).
O desempenho periférico de uma lente oftálmica é o seu desempenho fora do eixo.
A visão periférica através de um cristalino que sofre de astigmatismo oblíquo é embaçada e
o usuário experimenta um campo visual limitado (MEISTER, 1998). O campo visual, ou
ângulo visual, pode ser descrito como uma varredura espacial com ponto inicial no olho do
observador, partindo daí duas semi retas geradoras de um ângulo que abrange o campo
visualisável e este espaço é chamado de ângulo visual, ou campo de visão.
Segundo Jalie (2005), a Elipse de Tscherning demonstra que lentes para visão de
longe, acima de +7,0D não podem ser produzidas, em lentes esféricas, sem a ocorrência de
astigmatismo oblíquo.
Os projetistas de lentes oftálmicas possuem duas ferramentas para minimizar a
ocorrência de aberrações periféricas, e assim melhorar o desempenho periférico das
mesmas: seleção de curva básica frontal e a asfericidade.
Em lentes esféricas convencionais, a seleção da curva básica frontal é uma das
ferramentas primárias utilizadas para reduzir as aberrações do cristalino: curvas básicas
mais achatadas produzem lentes com melhor aparência, mais finas e mais leves, sendo
mais facilmente retidas nas estruturas (MEISTER, 1998).
Quando a curva básica é escolhida na tentativa de produzir um formato de lente
com um mínimo de aberrações prejudiciais do cristalino, são chamadas de lentes de
correção da curva ou com o melhor formato (MEISTER, 1998).

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Entretanto, existem duas curvas básicas ideais: uma no plano tangencial e outra no
plano radial da lente oftálmica, e, normalmente, a curva básica ótima destes dois planos
normalmente não coincidem, restando um erro residual (MEISTER, 1998). Além disso, a
curva básica resultante é muito cônica para ser usada, deixando a lente mais espessa, mais
pesada e mais bulbosa do que a mesma potência usando uma curva básica mais achatada
(MEISTER, 1998). E ainda apresentam um baixo desempenho óptico na periferia
(MEISTER, 1998), não corrigindo o astigamtismo oblíquo de forma apropriada. E segundo
Jalie (2005), em lentes esféricas, a otimização do desempenho periférico somente seria
possível dobrando a lente.
A asfericidade significa simplesmente “não-esférico” (MEISTER, 1998). A
princípio, qualquer superfície não esférica pode ser chamada de asférica, entretanto, em
design de lentes, o termo superfície asférica refere-se a uma superfície rotacionalmente
simétrica (MEISTER, 1998; JALIE, 2005), mas ao mesmo tempo não esférica (JALIE,
2005), que gradualmente varia na potência de superfície do centro em direção às bordas de
modo radial: a curvatura central, ou curvatura do vértice, é quase esférica; e a curvatura do
vértice é o valor da curva frontal utilizado para a potência da lente e cálculos da superfície
(MEISTER, 1998). Essa mudança na potência da superfície produz astigmatismo de
superfície que pode contrapor-se e neutralizar o astigmatismo oblíquo (MEISTER, 1998).
Longe da curvatura do vértice, a taxa de astigmatismo da superfície aumenta
suavemente e é dependente do grau ou tipo de asfericidade (MEISTER, 1998).
Como as lentes asféricas são geralmente mais sensíveis para a faixa de prescrições
para a qual foram otimizadas, têm mais curvas básicas disponíveis, recomendadas pelo
fabricante, em incrementos menores de potência de superfície (MEISTER, 1998).
Outro fator é que, além da aparência superior, o perfil mais plano das lentes
asféricas fornece menos ampliação/diminuição do que as lentes com o melhor formato
mais cônicas (especialmente em potências de adição), permitindo que os olhos tenham uma
aparência mais natural (MEISTER, 1998).

5 CONCLUSÃO

Os dados obtidos no presente trabalho confirmam a melhoria do desempenho


periférico quando lentes asféricas são utilizadas em altas dioptrias positivas,
proporcionando um aumento no campo visual.

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Além disso, proporciona maior conforto e estética, pois são lentes mais finas,
consequentemente mais leves e com menores deformações.

REFERÊNCIAS

COC Lentes esféricas. In: COC Óptica e ondas. Disponível na URL:


http://www.cocemsuacasa.com.br/ebook/pages/1658.htm. Acesso em: 16 fev. 2006.

DOWALIBY, M. Practical aspects of ophthalmic optics. 4 ed. Oxford: Butterworth


Heinemann, 2001. 250p.

JALIE, M. Aspheric lenses: thinner and lighter by design. Continuing Education and
Training. Sponsored by Rodenstock - Progress through partnership, p.38-47, 2005.
Disponível na URL: http://www.optometry.co.uk/files/737f3150dfc7783d0475d690e85a
7913_jalie20050325.pdf . Acesso em: 16 fev. 2016.

MIT OCW Entendendo o astigmatismo. Massachusetts Institute of Technology, Open


Course Ware. 2003. Disponível na URL: http:// www.universiabrasil.net/mit/MAS/
MAS450/PDF/understandingastigmatism.pdf. Acesso em: 20 fev. 2016.

UNIVERSIDAD DE VALLADOLID. Lentes asféricas. Disponível na URL:


http://www.cie.uva.es/optica/WWWROOT/Practicas/segundo/TecnOpticaI/lentasfericas/cl
entasfericas.htm. Acesso em: 10 mar. 2016.

UNIVERSITY OF ILLINOIS. Lens aberrations. Physics 402 Experiment A2. Physics


Department, Lens, University of Illinois, 2000. 10p. Disponível na URL:
http://online.physics.uiuc.edu/courses/phys402/exp/A2/A2.pdf. Acesso em: 15 fev. 2016.

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