Você está na página 1de 2

TEMA 6: “Os dois haicais: tradição ou inovação”

Olá, que bom ter você por aqui! Hoje vamos falar sobre haikus ou haicais e suas formas: a
tradicional, originada no Japão e típica do oriente, e as inovadoras, comuns ao ocidente. Bom, para
iniciarmos esse assunto, precisamos de algumas definições e contextualização sobre essa forma
poética tão interessante.

O Haikai é uma forma poética curta, considerada a menor do mundo, e muito antiga (datada
do século 17). Originada no Japão e também chamado de haiku por lá, é uma poesia que tem por sua
marca principal a metrificação organizada em três versos sendo o primeiro composto de cinco sílabas
poéticas, o segundo de sete e o terceiro de cinco; ao todo são dezessete sílabas poéticas. Na tradição
japonesa, a simplicidade é uma característica muito importante, bem como o fato de não haver rimas,
nem título e ser livre de todo sentimento e lirismo. Veja bem, essa simplicidade apresentada não
significa que é um poema pobre, mas sim sinônimo de serenidade, tranquilidade e despojamento que
refletem o estilo de vida oriental mais voltado para o lado zen e da contemplação da vida, da natureza
e do momento agora. O Haikai é a celebração do instante, comparado a uma fotografia, traz em sua
brevidade conceitos/recursos como Kigo e Kireji. O Kigo é uma referência direta ou indireta à estação
do ano (primavera, verão, outono ou inverno) trazendo a inspiração também na natureza. Já o Kireji
traz a quebra de perspectiva, com a justaposição de duas imagens ou ideias junto a uma palavra corte,
aparece no final do primeiro ou segundo verso, evitando que o a forma poética pareça um único verso.
Deste modo, o haicai apresenta dois momentos: aquele que expressa a circunstância geral e outro
que envolve a percepção momentânea.

Podemos notar nos haikus tradicionais que a forma de enxergar o mundo e o estilo de vida
oriental influenciam consideravelmente a escrita e o conteúdo apresentados. Com um estilo de vida
ligado à natureza, os japoneses têm uma capacidade de contemplação que provavelmente é reflexo
do budismo e do xintoísmo, o que é uma das características que mais diferem do modo de ser
ocidental. Contudo, os haicais não se restringem somente ao hemisfério oriental ou ao Japão.
Ultrapassando as fronteiras, se disseminam no ocidente de maneira rápida tornando os haicais uma
forma poética universal. É natural que haja um choque de culturas e uma mudança na maneira de se
produzir poemas tão singulares, visto que o ocidente possui um estilo de vida e visão de mundo
drasticamente diferentes dos orientais. Os leitores ocidentais não estão acostumados com tanto
despojamento e simplicidade apresentadas nas formas japonesas, o que causa certa dificuldade na
leitura e compreensão. A diferença cultural também se dá pelo fato de que nós ocidentais estamos
habituados a um estilo de vida menos contemplativo, mais consumista, agitado e focado na busca de
uma apreensão racional do homem e de seu meio ambiente.

Com a disseminação dos haikus no ocidente, algumas mudanças ocorreram quanto as formas
e regras utilizadas antes nas formas tradicionais, especialmente dada a diferença da língua e escrita
japonesa para com as demais. Os haicais ocidentais se aproximam mais de uma outra forma poética
conhecida como Senryu. A título de curiosidade, o Senryu é como um primo do haicai que não leva
kigo nem kireji; nele são admitidas todo tipo de lirismo e não se restringe à natureza nem ao presente.
Nas formas mais inovadoras ocidentais percebemos questões como escansão poética diferente (como
no caso da língua portuguesa), rimas, título, abordagem de assuntos variados, questões voltadas ao
“eu”, etc (complementar e citar exemplos caso necessário)

Bom, é preciso dizer que ambas as formas de se escrever haicais, tanto da maneira tradicional
quanto as inovadoras, são formas autênticas de expressão da arte e, portanto, são muito válidas. Para
concluirmos, podemos citar um trecho do educador e musicólogo Hans-Joachim Koellreutter para
reflexão: “Toda cultura estabelece seus valores específicos. A eles acrescenta valores novos, em suas
fases criativas de desenvolvimento. Errado é, no entanto, julgar os valores de uma determinada cultura
com critérios de valor de outra. Fenômenos culturais, qualquer que seja nossa posição diante deles, só
podem ser explicados e compreendidos a partir da situação psicológica e social que os engendrou. Eis
o que devemos aprender, se pretendemos construir um futuro em comum.” (Koellreutter, 1983:20).

Você também pode gostar