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APRESENTAÇÃO:

(RE)CONHECENDO A EDUCAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA

Educação Ambiental é um vocábulo composto por um substantivo e


um adjetivo, que envolvem, respectivamente, o campo da Educação e o
campo Ambiental. Enquanto o substantivo Educação confere a essência do
vocábulo “Educação Ambiental”, definindo os próprios fazeres pedagógicos
necessários a esta prática educativa, o adjetivo Ambiental anuncia o contexto
desta prática educativa, ou seja, o enquadramento motivador da ação
pedagógica.
O adjetivo ambiental designa uma classe de características que
qualificam essa prática educativa, diante desta crise ambiental que ora o
mundo vivencia. Entre essas características, está o reconhecimento de que
a Educação tradicionalmente tem sido não sustentável, tal qual os demais
sistemas sociais, e que para permitir a transição societária rumo à
sustentabilidade, precisa ser reformulado.
Educação Ambiental portanto é o nome que historicamente se
convencionou dar às práticas educativas relacionadas à questão ambiental.
Assim, “Educação Ambiental” designa uma qualidade especial que define
uma classe de características que juntas, permitem o reconhecimento de
sua identidade, diante de uma Educação que antes não era ambiental.
Contudo, desde que se cunhou o termo “Educação Ambiental”,
diversas classificações e denominações explicitaram as concepções que
preencheram de sentido as práticas e reflexões pedagógicas relacionadas à
questão ambiental. Houve momentos que se discutia as características da
educação ambiental formal, não formal e informal; outros discutiram as
modalidades da Educação Conservacionista, ao Ar Livre e Ecológica; outros
ainda, a Educação “para”, “sobre o” e “no” ambiente.
E atualmente parece não ser mais possível afirmar simplesmente que
se faz “Educação Ambiental”. Dizer que se trabalha com educação
ambiental, apesar do vocábulo conter em si os atributos mínimos cujos
sentidos diferenciadores da Educação (que não é ambiental) são
indiscutivelmente conhecidos, parece não fazer mais plenamente sentido.

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A diversidade de nomenclaturas hoje enunciadas, retrata um momento
da educação ambiental que aponta para a necessidade de se re-significar os
sentidos identitários e fundamentais dos diferentes posicionamentos político-
pedagógicos. Alfabetização Ecológica, Ecopedagogia, Educação Ambiental
Crítica, Transformadora ou Emancipatória, Educação no Processo de Gestão
Ambiental. O que querem dizer essas novas denominações? Por que elas
surgiram? Quais são as semelhanças e diferenças existentes entre elas?
O Brasil é um país que tem efetuado um papel protagônico nesse
debate, e abriga uma rica discussão sobre as especificidades da Educação
na construção da sustentabilidade. Tem sido um país inclusive com grande
fertilidade de idéias, por ter atribuído ou incorporado novos nomes para
designar especificidades identitárias desse fazer educativo.
Re-nomear completamente o vocábulo composto pelo substantivo
Educação e adjetivo Ambiental (como por exemplo, com a Ecopedagogia)
ou designar uma outra qualidade nele, mesmo que para enfatizar uma
característica já presente, embora ainda pouco expressiva entre os educadores
ambientais (como por exemplo, a Educação Ambiental Crítica, que evidencia
os vínculos existentes entre a Teoria Crítica e a Educação Ambiental), pode
significar dois movimentos simultâneos mas distintos: um refinamento
conceitual fruto do amadurecimento teórico do campo, mas também o
estabelecimento de fronteiras identitárias internas distinguindo e
segmentando diversas vertentes (cujas fronteiras não necessariamente seja
bem demarcadas), não mais exclusivamente externas ao campo da Educação
que não é ambiental.
O fato é que designar diferentemente esse fazer educativo voltado à
questão ambiental, convencionalmente intitulado de “Educação Ambiental”,
também estabelece outras identidades, enunciadas no próprio nome,
carregadas de significados, embora não sejam completamente auto-
evidentes. Dado a novidade do fenômeno, elas, por si só, tem pouco a dizer.
Seus sentidos só aparecem por inteiro na oportunidade do seu
reconhecimento proporcionado por uma apresentação formal.
É na perspectiva da apresentação dos sentidos identitários destas novas
denominações, e para permitir ao leitor simultaneamente reconhecer as
identidades da educação ambiental brasileira e nelas identificar-se, ou seja,

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para tornar as características dessas variações identificáveis e ao mesmo
tempo permitir a identificação com tal ou qual prática pedagógica mais
contextualizada com o cotidiano do educador, que o Ministério do Meio
Ambiente convidou especialistas no campo da educação ambiental que têm
contribuído para o aprofundamento conceitual desse fazer educativo, criando
ou difundindo novas nomenclaturas para situar as suas especificidades que
destacam as orientações pedagógicas, para expor as características dos
vocábulos.
São os próprios formuladores ou difusores desses vocábulos que
elaboraram os ensaios reunidos nesta obra. São todos inéditos, produzidos
para contribuir com o olhar comparativo das características, limites e
possibilidades das novas denominações da educação ambiental no Brasil.
Para proporcionar essa leitura comparativa dos ensaios, sobretudo
em se tratando de uma obra coletiva envolvendo vários autores, cada ensaio
foi elaborado a partir de um roteiro temático contendo algumas questões
orientadoras, a fim de evidenciar as singularidades em determinados pontos
de ancoragem, por intermédio de uma estrutura minimamente padronizada
entre os ensaios, sem no entanto, limitar a criatividade dos autores.
Para aqueles que desejarem conhecer um pouco mais a fundo os
vocábulos aqui reunidos, consta ainda ao final de cada ensaio, uma breve
biografia profissional e uma lista bibliográfica das principais publicações
do autor.
O intuito dessa publicação é o de oferecer uma possibilidade de
exploração das fronteiras internas do campo da educação ambiental, é o de
guiar o passeio na heterogeneidade das suas diferentes nomenclaturas. É o
de tornar identificável o conjunto das características e das circunstâncias
que conferem as identidades da educação ambiental brasileira.

PHILIPPE POMIER LAYRARGUES


DIRETORIA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

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