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A RELAÇÃO DA ANÁFORA EUCARÍSTICA COM A CONFISSÃO


DA FÉ.

Introdução. - Ao falar da confissão de fé, em sentido restrito, temos


presente a profissão de fé( ou símbolo) feita no rito batismal. Esta confissão de
fé por muitos séculos permaneceu conexa e mesmo identificada com a própria
forma batismal e portanto foi sempre muito breve.
Hoje nos temos a confissão de fé batismal na formula trinitária. Mas foi
sempre assim? Ou, ao contrário, foi somente formula cristológica evoluindo
depois para a formula trinitária pelo fim da época apostólica? Entre os
teólogos encontramos várias opiniões e mesmo entre elas discrepantes.
Para nós a respeito da formula batismal duas coisas parecem certas mesmo se
a primeira vista parecem contrastantes: a) a formula trinitária do batismo a
encontramos no Novo testamento1; b) A confissão essencial da fé cristã como
atestam numerosas passagens do N.T.) é em nome de Jesus Cristo, Nosso
Senhor, autor de nossa salvação. Estes dois dados são muito importantes para
entender o que vamos dizer sobre a evolução da anáfora eucarística apoiados
nos testemunhos dos documento do Oriente.

1.O que é a anáfora eucarística. Ela é antes de mais nada benção- louvor ou
ação de graças que se dirige ao Pai por aquilo que Jesus Cristo realizou por
nós pela nossa salvação; e tal benção-louvor ou ação de graças “comemora e
pela assembléia eclesial reunida representa aqueles mistérios” realizados por
Cristo. Assim que existe uma estreita interdependência entre esta benção-
louvor ou ação de graças eucarística e a confissão de fé 2, do momento que
comemoram e confessam os mesmos mistérios3.
Se colocarmos em confronto a primeira anáfora, por nós conhecida, isto é, a
que encontramos na Tradição Apostólica de Hipólito (inicio do III século)
com a formula batismal contida no mesmo documento 4, nota-se logo que a
1
Cf. Mt. 28,19; cf. et Didaqué VII,1 Cfr et H.LIETZMANN, Messe und Herrenmahl, p. 50.; J.
A.JUNGMANN, Missarum Sollenmnia, III,138; B BOTTE, Problèmes de l’anamnèse, in “Journ.
Ecc,Hist.”,V, (1954),16-24; O CULLMANN, Le culte dans l”Eglise primitive, Neuchâtel Paris 1963; Id. Heil
als Geschicte, Tübingen 1965,288-294.
2
Cf. O Cullmann, L eculte etcc.
3
Vejamos:: A “confissão em grego”é “homologia” do verbo “homologein”que possui um sentido muito
afim a “exhomoloein”ao qual se atribui uma um tripulo signficado: a) confisão de fé; b) confissão dos
pecados; c)confissão das maravilhas divinas .isto é, o louvor a Deus e benção.Cf. J.B. BAUER,Dicionário
de teologia bíblica( trad. do alemão: BIBELTHEOLOGISCHES WÖTERBUCH,1968), Ed. LOYOLA, São
Paulo,pp.193-204. ; KITTEL, TWNT art. De O. MICHEL, Homologein.
4
CF. Ed. BOTTE, Münster 1963, 13ss.para o batismo.. Cf et tradução em português, Vozes de Petrolpolis,

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anáfora é antes de mais nada cristológica e bastante desenvolvida enquanto


que a confissão batismal é trinitária e muito sucinta. Entretanto se
examinamos as confissões primitivas de fé, sobretudo de Santo Irineu e de
Tertuliano, colocados fora dos formulários estritamente litúrgicos do rito
batismal, pode-se notar uma evolução. Esta é devida à necessidade de
confutar as heresias desencadearam em tal período, particularmente os docetas
, os marcionitas e os gnósticos os quais negavam a unidade da obra da
redenção preparada pelo Antigo Testamento e levada ao cumprimento por
Cristo no Novo Testamento. Na verdade, aqui não se trata das fórmulas já
fixadas recebidas por todas as igrejas literalmente como acontecerá com
símbolo Niceno-Constantinopolitano no IV século, mas somente de alguns
compêndios “de inteira fé cristã”, compilados de modo diverso mas que
enunciavam a mesma substância da fé. Alem disso o mesmo autor pode
também usar para uma mesma confissões de fé, formulas diversas , como
acontece nos casos de Irineu ou de Tertuliano5.
A parte essencial destas confissões consiste geralmente numa exposição
cristológica, isto é, na história da salvação realizada por Cristo. Mais, não
raramente acontece que a confissão de fé contenha somente duas
proposições, uma brevíssima sobre Deus Pai e a outra mais extensa sobre o
Filho encarnado, como é o caso em Adv. Haer. III,4 e na De praescr.13.
Com E. Lanne podemos assim distinguir estas três formas:

a) Confissão batismal, breve e fixada já no início do III século( Trad. Apost.


De Hipolito) e bastante provável também muito antes.

b)Confissão de fé que enuncia um “compêndio”da doutrina que se deve crer


contra os Gnosticos: é já um tanto estensa, particularmente sobre Cristo.

c)Anáfora(também se conforme o esquema da Trad. Apost. De Hipólíto é


trinitária) a qual desenvolve a fonte cristológica porque é uma benção
comemorativa dos mistérios salvíficos de Cristo. Esta anáfora conserva a
estrutura mais arcaica e mais fixada nos termos de quando não o sejam as

5
Santo. IRINEU Adv. Haer..I,10,1.; III,1,2; III,4,4,1-2; Dem. Praed. ev.. 6,7; Tert.,De praescr. Haer. 13;
Adv. Prax. 2.

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confissões de fé que se apresentam como compêndio da doutrina que se deve


crer6 Assim, ao menos, para a anáfora da Trad. Apost.de Hipolito7

Um elemento necessário, comum à confissão da fé e à anáfora e pertencente à


substância de ambas é representado pela confissão da obra da salvação
realizada em Cristo e por Cristo. Portanto, antes de indagar além da natureza
da benção( louvor) e comemoração eucarística
, podemos afirmar já que o elemento essencial da anáfora eucarística nos
cristãos é representado pela própria eucaristia ou ação de graças, benção
(louvor) dirigida ao Pai pelas coisas maravilhosas realizada por Cristo. Por
isso também existem elementos comuns entre a ação de graças cristã e a
benção ( ação d graças o bendizer) judaica – elementos que podem ilustrar e
de fato ilustram bem a origem do gênero literário eucarístico”- entretanto a
substância da eucaristia cristã é algo que está absolutamente e está
demonstrando a “novidade”do Pacto que Deus realizou com seu povo em
Cristo. Portanto as semelhanças também verbais que se pode observar entre os
textos judaicos e as formulas cristãs não podem levar ao erro. Com feito a
eucaristia cristã é um ato cultual sacramental do Novo Testamento, que
“demonstra e confessa esta novidade, em Cristo e por ela rende graças. E
como a confissão cristã da fé difere da judaica, sobretudo pela sua confissão
do mistério de Cristo, assim também acontece para a ação de graças
eucarística em relação às bençãos da mesa e das ceias cultuais judaicas. A
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Como a confissão da fé, como compênndio da doutrina ortodoxa contra as heresias se evolve e se
desenvolve uma composição livre conforme as intenções e o escopo de cada autor, assim que as anáforas
permaneceram composições livres que entretanto seguem um certo esquema fixo. Por isso a respeito de
Hipólito na Trad.Apost é preciso ter presente:
1) Hipólito não tem intenção de impor uma forma fixa, mas diz explicitamente : “nullo modo necessarium est
ut eadem verba quae praediximus, quasi studens e memoria ,gratias agns Deo; sed secundum sua potestatem
orandi xum sufficientia et oratione sollemni, bonum est”. ( cf. ed. Botte,no 9,p.28,linha 15-20). Por isso o
bispo conserva a liberdade acerca da amplidão da ação de graças como também da composião estilistica( cf.
JUSTINO, I Apolog. 57,5). 2) Todavia Hipólito propõe a formula como “traditonem apostolicam”a fim de
que a respeito das partes essenciais e o sentido íntimo da anáfora ( a benção de Deus mediante Cristo pela
obra salvífica) sejam conservadas as substâncias e o esquema de qualquer anáfora eucarística. ..
7
Ocorre ainda notar sobre a anáfora da Trad.Apost.Hippolyti que Hipólito propões a formula anafórica da
eucaristia depois da consacração do Bispo. Por tal razão L LIGIER, Anaphores orientals et Prièrs juives
( POC XIII- 1963,p. 3-2 0) nota que a substância da anáfora eucarística no Liv. VIII Const. Apost. , depende
da ciscunstância especial representada pelo rito da consagração do bispo de tal maneira que estas anáforas( ao
menos na primeira parte) retomam o que nas figuras do Antigo Testamento dizem reespeito ao sacerdócio.
Assim já para Hipólito se pode colocar a pergunta se esta anáfora não seria composta expressamente para a
missa a de consagração episcopal. Com efeito, nada diz da antecendente litugia do Verbo e assim se
explicaria bem a sua substância conforme o conteúdo das confissões de fé mais evoluidas como o são as de
Irineu e Tertuliano. Portanto se poderia compreender mais facilmente porque as outras anáfora orientais
posteriores tenham uma estrutura mais de hino( isto é dirigida à glorificação de Deus) enquanto a parte
cristologica propriamente pertencente à confissão de fé seja menos evoluida. A este própsito, antes de
Hipóliot cf. Didaqueé X,6; depois de Hipólito, a anáfora bisantina de São Jão Crisóromo,.a anáfora do papiro
Deir-Balizeh etcc.

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confissão cristã de fé e a anáfora provém totalmente do “anúncio” da morte


do Senhor.

1.O anúncio da morte do Senhor.

A substância cristológica da anáfora depende dos dados de São Paulo, o


qual relata a tradição que ele mesmo recebeu do Senhor. Sem tomar em
consideração direta os numerosos problemas de interpretação excegética de 1
Cor 11, 23-26, uma coisa é certa: na celebração eucaristica paulina, os cristãos
anunciam ( grego: kataggéllete= anunciai) a morte do Senhor a té sua vinda.
Não aparece com suficiente clareza se o verbo “kataggéllein” signifique
“representar alguma coisa em ação” como sustenta O Casel; todavia isso é da
mesma importância para a verdadeira compreensão da eucaristia cristã: trata-
se , com efeito, da ação de anunciar e das pessoas que anunciam, como ação e
pessoas sagradas, conforme o que testemunha o uso deste verbo no helenismo
e no Antigo Testamento8.

Isto estabelece a interdependência de necessidade entre das anáfora e a


substância anáfora e a da confissão de fé. O próprio Santo Irineu que nos
transmite as primeiras confissões de fé mais desenvolvidas (compendia),
quando no Adv. Haer IV,17 e 18 fala da eucaristia, une expressamente os
verbos “anunciar”( aqui: apaggéllontes) e “confiteri”( omologountes) em Adv.
Haer.IV,18,5)9. Em Irineu, o objeto desta confissão na eucaristia é a
ressurreição da carne e do espírito e a se faz pelo anúncio da comunhão e
união da matéria criada ( pão e vinho) ao corpo e ao sangue de Cristo. Assim a
essência cristã da eucaristia cristã depende intima e imediatamente da
confissão do mistério de encancarnação, paixão e glorificação do Senhor.
8
Cinforme Schniewind in TWNT( I, 28-71) soba voz aggéllo, o sentido deste termo é sempre sagrado
sobretudo no N. T. e nos Padrres Apostólicos. Existe um nexo entre o termos kataggello, euaggelion e logos e
o sentido é a proclamação e o anúncio sagrado de um acontecimento já realizados. Em 1 Cor 11,26 é a
proclamação sagrada e litúrgica da morte do Senhor, proclamação que se faz até a Segunda vinda, ( Archri ou
elthe). A proclamação da morte, alem disso, compreende também a “ressurreição do Senhor”como se pode
ver mais claramente por um exame da anamnese” pois se trata de todo o mistério pascal. Para provar isto
basta recordar I Cor 15,3ss no qual Paulo transmite o evangelho que ele mesmo por sua voz recebeu: a morte
e a ressurreição do Senhor.
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9. Neste texto de Irineu só o originaal grego traz aqules dois princípios, em quanto quen a versão latina tra
somente um e nenhum a versão armena. Mas podemos ater-nos ao texto grego, contra a opinião dos autores
da nova edição das “Sources Chrétiennes”, vol. 100,1965, p. 610-611 que escolheram a leitura latina sem
algum fudamento e sem provas..

Pode-se considerar a parte o caso daquelas anáforas( alexabdrinas ) nas quais a epiclese se derige ao Pai
para envie o Verbo( e não o Espirito), que não diminui a afirmação geral que na anafora oriental sempre há a
epiclese do Espirito santo de modo que por sua estrutura a anafora é semrpe trinitária.

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2. A substância da anáfora e da confissão de fé.

Considerando cada elemento que se encontram na anáfora e na confissão da


fé, se pode constatar o quanto segue:

1.1Tanto a anáfora cómo a confissão de fé, geralmente possuem uma


estrutura trinitária. Já sublinhamos como ambas desenvolvem a parte
cristológica do que trataremos mais adiante; entretanto deve-se notar que a
anáfora oriental( e nisto difere do canon romano) contem sempre a
“epiclese”, isto é, a invocação direta ao Pai para que enivie o Espírito(9).
Esta forma trinitária se apresenta sobretudo “economicamente” de
maneira que a função ou mais propriamente a missão própria da Segunda
e Terceira Pessoa apareça clara e distintamente : economia do Verbo
encarnado na “história”da salvação; envio do Espirito Santo para efetuar
a “santificação, a unidade e a comunhão”.

A ) O Pai. - Na confissão primitiva da fé, de Irineu e Tertuliano, se trata


brevemente do Pai, todavia de modo mais amplo do que na anáfora de
Hipólito. São afirmadas expressamente duas coisas: a) O Pai é o criador
de tudo; b) o Pai e absolutamente transcendente( cf. por ex. a
Demonstração 6 de Irineu). Estes dois conceitos são formulados contra
os erros dualistas do II século. Eles estão ausentes na anáfora de
Hipólito, ao menos assim expressos, enquanto que são desenvolvidos
mais difusamente nas anáforas orientais posteriores. Em Hipólito, se
Deus Pai é chamado “criador”, o é “por Cristo”(a anáfora de Hipólito se
coloca no mesmo modo e quase com as mesmas palavras da confissão
da fé de Tertuliano, expressa na Adv. Prax. 2)e se é considerado
“transcendente”o é pela missão do Filho, nem é chamado Pai senão
pelo fato que invia o seu Filho ( puerum),Jesus Cristo.

B) O Espirito. - Na anáfora de Hipólito, a epliclese adere


perfeitamente a todo o contexto e é, como anáfora, a primeira formula
de epiclese por nós conhecida(10). Na Anáfora o Espirito Santo ocupa
um lugar eminete na eucaristia: santifica a oblação e reune na unidade
os cristãos e os confirma pela sua plenitude . Nesst último efeito
Da missão do Espirito Santo( confirmação na fé e na verdade) podemos
constatar a afinidade com a posição de Irineu na confissão da fé ( cf.
Adv. Haer.) segundo o qual a toda a economia da salvação é revcelada
mediante o Espírito Santo.

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C) A doxologia trinitária. Na anáfora de Hipólito, a doxologia mostra a


forma peculiar à Trad. Apost. Todavia coloca claramente em luz a
glorificação que, por Cristo, sai dos cristãos a dirigida a toda
Trindade .ao Pai. ao Filho, e ao Espírito Santo. Tal glorificação se
possui na Igreja de Deus( reunida pela fé , no Espírito), e está em
correspondência com a confissão de fé posta por Tertuliano no Adv.
Prax. 2, onde a santificação do Espirito Santo na fé é concedida àqueles
“que crêem no Pai e Filho e Espirito Santo”, a qual, portanto,
apresenta a mesma estrurua com a anáfora de Hipólito, obra do mesmo
período.

1.2. Quer a anáfora de Hipólito, quer as confissões de fé “desenvolvem


a parte cristológica”. A Anáfora se detêm na benevolência do Pai e no
cumprimento da sua vontade por obra dos mistérios de Cristo: a
encarnação, a paixão libertadora, a vitória sobre a morte, o inferno e a
ressurreição gloriosa. Os estudiosos sublinharam como as expressões
utilizadas para tal propósito na anáfora se reencontram em outros
lugares nas obras de Hipólito e como esta descrição dos mistérios de
Cristo concorda com sua teologia. Entretanto, as mesma idéias se
encontram também em Irineu, especialmente na primeira confissão de
fé, contida no Adv. Haer. I,10. Nesta confissão domina o conceito da
”recapitulação” de todas coisas em Cristo, que é muito cara a Irineu e é
feito subir também ele ao beneplácito do Pai( 1,19) com a citação do
celeberrimo hino de Filip. 2,5-11)( 11).
A teologia da eucarnação em Hipólito na anáfora aparece muito
desenvolvida e fundada:
a) sobre o envio do céu no seio da Virgem; b) sobre a presença no seio
em ordema uma verdadeira encarnação; c) sobre a demonstração da
indentidade daquele Verbo encarnado com o Filho, nascido do
Espirito Santo e da Virgem e portanto sobre a união verdadeira do
divino com o humano. Encontramos a mesma teologia na Adv.
Prax. 2. De Tertuliano:

“ Hunc( o verbo pelo qual tudo é feito) missum a Patre in virginem et ex ea


natum, Hominem et Deum, Filium hominis et Fiium Dei et cognominatum
Jesum Christum”.

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Assim ao mesmo modo é afirmada a verdade da encarnação contra os


docetas e contra os gnósticos; que além disso é inculcada mais
acentuadamente na confissão de fé dada por Irineu na Demonstr. 6 :

“Et ipse in fine temporum ad recapitulada omnia, factus est homo inter
homines , visíbilis et tangibilis, ut mortem aboleret et vitam elucere faceret et
communipnem Dei et hominis institueret (12)

Deve-se notar que quase todas as confissões de fé do III século mencionam,


mesmo se detêm com intenção, do “juizo final” e da retribuição dos justos e
dos maus. Esta idéia é ainda ausente na anáfora de Hipólito, mas é indicada
explicitamente em muitas anáforas a partir do século IV, como por exemplo,
na anáfora alenxandrina de Basílio:

“...resurrexit a mortuis tertia die. Et cum ascedisset in caelum,sedit a destris tuis


Patris,definens diem rebributionis ,in quo manifestabitur ad iudicandum
orbem in iustitia et reddendum unicuique secundum opera eius. Reliquit autem
nobis hoc magnum pietatis mysterium...”

e segue a narração da instituição eucarística. Mais brevemente, a anáfora de


Basílio diz:

“Et cum ascendisset in caelos sedit ad dexteram maiestatis in excelsis. Et


venturus est ut reddat unicuique secundum oppera eius.. Reliquit autem
nobis...”.

O mesmo é se bem em forma muito estensa, na anáfora das Const.


Apostolorum lib. VIII(13).

Em tal modo aparece que quase todas as anáforas seguem a evolução das
confissões de fé. E isto se explica bem pelo fato que na anáfora o bispo
celebrante exprime a fé e os louvores de sua igreja particular conforme a
tradição apostólica da Igreja católica.
Entretanto, em várias anáforas , ao contrário, podemos deduzir a influência
das controversias doutrinais dos tempos posteriores, sobreudo de algumas
fórmulas estatuídas ou reprovadas nos Concilios de Efeso( a,431) ou
Calcedônia(a, 451) a respeito do dogma cristológico ou a mariologia. Além
do que na anáfora foi introduzido uma antiga teologia mariológica cujos
termos técnicos são tirados de formulas conciliares deste período. Acrescenta-
se também o fato que algumas anáforas não fossem mais dirigidas a Deus

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Pai mas diretamente a Cristo Deus ( anáfora alexandrina de S. Gregório


Nazianzeno – Segundo Hammerschmidt, esta seria do IV século) ou também
à Virgem Maria( entre os Etiopes).

Concusão – Duas observações podem ser tiradas de todo o exposto:

a)A anáfora evoluiu mas conservando a substância do antiquissimo


“Kerigma” cristão expresso na confissão de fé10

b) A eucarisitia cristã difere redicalmente da ação de graças


judaica pelo fato de que proclama a “novidade do Evangelho”: coisa
muito evidente, mas infelizmente alguma vez colocada no
esquecimento pelos estudiosos.

10
Este sentido do Kerigma da fé cristã sensivelmente foi esvaindo-se nos séculos
posteriores. Provavelmente isto aconteceu quando a anáfora não foi mais pronunciada em
voz alta e foi coberta pelo canto do povo. De resto é certo que um indício desta perda do
sentido kerigmático da anáfora se pode encontrar na introdução do símbolo de fé Niceno-
Constantinopolitano na missa . De fato, segundo Teodoro Leitor( sec, V), a recitação do
símbolo foi introduzida sob a influência das controversais cristologicas deste período. Ele
refere duas noticias sobre esta introdução do Símbolo( Lib.LL Hist, Eccl. PG 86, col 208-
209). CAPELLE, L‘Introdution du Symbole à la messe in Mélanges J. de Ghellick, t. 2.
Louvain 1951,p. 1003ss. divida da autenticidade da Segunda notícia. A primeira atribui a
introdução do simbolo a Timóeo I, patriarca de Constantinopola, monofisita( 511-518) e a
outra a Pedro Fullon, também ele monofosta, patriarca de Antioquia (morto em 488). Seja
o que for do momento preciso desta introdução, é certo que esta se realizou pelo fim do
século V ou no início do século VI para afirmar a fé monofisita como a verdadeira e
tradicional contra Calcedônia. Assim já neste período a anáfora não é mais sentida como
lugar verdadeiro e mais idôneo da profissão e confissão de fé da comunidade cristã
reunida , como ao invés, pensavam justamente os antigos. No decurso dos séculos o acento
nas anáforas foi colocado no mesmo mistério eucarístico, coisa mesmo justa, ou em outros
pontos particulares mas secundários, que, embora preciosos, eram todavia menos
pertinentes à ess6encia da anáfora, como por ex. a grande evolução do culto dos santos..
Com percepção da natureza da anáfora como confissão de fé da comunidade cristã , que
era tão fortemente expressa na anáfora de Hipólito, como também nas anáforas de
Basílio do IV século, veio enfraquecendo. Permaneceu, porém, na substância, aquela
confissão de fé como também, por vários motivos não só permaneceu firme mas antes
cresceu muito a consideração da anáfora como ação de graças(benção) dirigida a Deus,
anamnese dos mistérios de Cristo ou melhor re-presentação daqueles mistérios: que depois
é elemento essencial e constitutivo da confissão eucaristica ou da proclamação anafórica...

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