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[O debate contemporâneo quanto ao sentido e aos efeitos das relações existentes entre tecnologia e sociedade
têm sido animado pelas idéias e posições provenientes de distintos campos disciplinares, que participam
individualmente ou de forma interdisciplinar. Interessa-nos, aqui, destacar a contribuição da Geografia
analisando como a relação entre redes técnicas e território se inscreve nesse debate, especialmente tendo
presente os reflexos e condicionantes do processo de globalização econômica sobre à produção do espaço
geográfico.]
Tendo presente o debate contemporâneo sobre o significado, as limitações e as possibilidades decorrentes das
relações entre técnica e sociedade pretendemos, a partir de um olhar da geografia, analisar como a relação entre
redes técnicas e território se inscreve nesse debate. Buscamos, também, responder a questão: como apreender a
relação entre redes técnicas e território diante dos reflexos e condicionantes advindos do processo de
globalização da economia sobre à produção do espaço geográfico?
Estruturamos nossa reflexão em três momentos.
Em primeiro lugar qual o sentido que estamos atribuindo às noções de técnica, de rede e de território –
conceitos chave para o desenvolvimento do nosso pensamento e de nossa reflexão.
Em um segundo momento, analisamos o significado e o papel da técnica em relação ao desenvolvimento social
e econômico. Para tanto, desenvolvemos uma reflexão sobre a idéia de impacto tecnológico presente na
assertiva do papel estruturante das redes técnicas em sua relação com o território.
Por fim, tendo presente os efeitos e as determinações do processo de globalização da economia, quanto à
produção e a estruturação do espaço geográfico, analisamos a relação existente entre a funcionalidade das redes
técnicas e a institucionalidade dos territórios.
Nesse aspecto, e de acordo com essa concepção, o que se torna relevante no estudo das relações entre
tecnologia e sociedade é a análise do processo de produção e de difusão dos objetos técnicos. Tendo isso
presente, nossa reflexão avança, evidenciando nesse debate a relação redes e território.
No âmbito das redes técnicas, especialmente em relação ao significado e a dinâmica das redes de
telecomunicações, Offner e Pumain (1996, p.23) assinalam que “a tecnologia não é tudo, a apropriação social
permanece determinante. Todavia, a tecnologia não é neutra: ela baliza o campo das possíveis interfaces entre
redes e territórios”.
Nesse aspecto, como assinala Dupuy (1982), contrariamente à idéia de impacto que informa que as redes
técnicas são exógenas à sociedade, a imagem de uma relação dialética da técnica e sociedade é certamente mais
conveniente que aquela que coloca somente a técnica na origem das mudanças sociais.
Offner (1993), ao analisar a idéia de efeito estruturante presente no desenvolvimento das infra-estruturas de
transporte e de comunicação, salienta que, em verdade, diante da absoluta ausência de sua validação científica,
trata-se da constituição de uma mistificação científica e de um mito político. Para ele, os numerosos estudos
empíricos já realizados sobre o tema colocam em dúvida essa causalidade linear entre o desenvolvimento de
uma dada oferta nova de transporte e as transformações espaciais, sociais ou econômicas. Assim, ao invés de se
considerar a noção de efeito estruturante ou de impacto, informados através da idéia de determinismo
tecnológico, deverse-ia adotar a noção de potencialidade para se buscar apreender a real complexidade da
relação entre rede e território.
Pensar a relação entre rede e território implica que consideremos de acordo com Musso (2001, p.214), que a
rede é “uma estrutura de interconexão instável, composta de elementos em interação, e cuja variabilidade
obedece a alguma regra de funcionamento”. Segundo Sfez (2001, p.97), essa instabilidade se deve ao fato das
variações no fluxo induzirem novas conexões à cada etapa – extensão, redução ou um novo tecer da rede – mas
também adaptação do organismo reticular às novas condições do ambiente, e acrescemos nós, ao conteúdo e à
dinâmica do território.
Globalização e espaço geográfico: Entre a funcionalidade das redes técnicas e a institucionalidade dos
territórios
O processo de globalização da economia capitalista nos tem permitido identificar a constituição de um mercado
hierarquizado e articulado pelo capital monopolista. Este mercado pressupõe um espaço onde a fluidez da
informação, dos produtos, das relações sociais e do próprio capital possam ocorrer, com destaque para a
aceleração da circulação do capital e sua correspondente acumulação.
Assim, a exigência permanente, pelos atores hegemônicos, de uma cada vez maior fluidez tem resultado na
ampliação e na complexificação da divisão territorial do trabalho e das diversas formas de circulação.
Nesse contexto, de afirmação do espaço dos fluxos não há como não considerar o fato de que a fluidez e a
funcionalidade técnica requerida ao território evidenciam a importância estratégica e funcional das redes
técnicas. Nesse aspecto, as reflexões quanto aos efeitos e às determinações do processo de globalização da
economia em relação ao papel das redes e sua relação com a produção e organização do espaço geográfico em
geral, e do território em particular, adquirem fundamental importância.
Por sua vez, as contribuições de Paul Virilio (1993) de Marc Augé (1994), e de Saskia Sassen (1998), em suas
distintas abordagens, assinalam alguns pontos em comum com referência a esse debate. Para eles, diante da
nova racionalidade do mercado capitalista, da flexibilização das relações de produção e da emergência e
crescente universalização das redes técnicas, em especial de comunicação, vivemos em um período de
aprofundamento da aceleração dos eventos, de contínuo encurtamento das distâncias, de exacerbação dos fluxos
e de homogeneização do espaço pela expansão do capital hegemônico à escala planetária. São características
que permitem suscitar a idéia de anulação do espaço pelo tempo.
A rede urbana, no entanto, é um caso particular da forma de organização em rede. Desde firmas, entidades
religiosas, movimentos dos “sem-terra”, organizações não-governamentais, imigrantes, até contrabandistas e
traficantes de droga, cada vez mais grupos adotam a forma de organização em rede na região amazônica, por
mais distintas que sejam as motivações. Um dos principais efeitos da forma de organização em rede é restringir
a expansão de processos espaciais centrípetos, ou seja, os processos que favorecem a centralidade de
determinados núcleos e a disposição hierárquica do conjunto de núcleos. Estruturas heterárquicas emergem
quando interações entre aglomerações independentes, cada uma com finalidade distinta, geram uma forma de
organização onde uma cidade não está subordinada a outra acima dela. A rede de telecomunicação tem sido um
dos principais agentes de desenvolvimento de estruturas urbanas híbridas, hierárquicas e heterárquicas, ao
permitir que vilas e cidades pertencentes aos níveis inferiores da hierarquia urbana possam conectar-se com
qualquer outro lugar, desde que este participe da rede. (MACHADO, 1999)
Território, SOUZA, 1995: o território é fundamentalmente um espaço definido e delimitado por e a partir de
relações de poder.
Território por longos anos tornou-se o espaço n qual o aparelho do Estado exerce sua soberania. Ratzel 1974