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Revisão de Geografia

Geografia e seus conceitos Estruturantes

Espaço Geográfico: é relacional e transtemporal, e é formado por um


conjunto indissociável, solidário e também contraditório de sistemas de
objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas
como o quadro único no qual a história se dá (SANTOS, 1997, p. 39).

Milton Santos chama atenção para as categorias de análise do espaço,


a serem consideradas em suas relações dialéticas: forma, função,
estrutura e processo.

Forma: "aspecto visível, exterior, de um objeto, seja visto isoladamente,


seja considerando-se o arranjo de um conjunto de objetos”.

Função: tarefa, atividade ou papel a ser desempenhado pelo objeto


criado, a forma.

Estrutura: "natureza social e econômica de um dado momento do


tempo.

Processo: "ação que se realiza, via de regra, de modo contínuo,


visando um resultado qualquer, implicando tempo e mudança”.

Milton Santos defende a importância da técnica como principal forma de


relação entre o homem e a natureza ou entre o homem e o meio. Logo,
as técnicas são um conjunto de meios instrumentais e sociais, com os
quais o homem realiza sua vida, produz e, ao mesmo tempo, cria
espaço. Na atualidade, o meio técnico-científico-informacional substitui
o meio natural e o meio técnico,

“onde os objetos mais proeminentes são elaborados a


partir dos mandamentos da ciência e se servem de uma
técnica informacional da qual thes vem o alto coeficiente
de intencionalidade com que servem às diversas
modalidades e às diversas etapas da produção"
(SANTOS, 1997, P 157)

Território: não é apenas espaço, tendo uma carga de controle, de


domínio que o diferencia do espaço geográfico. Em outras palavras, o
território é fundamentalmente um espaço definido e delimitado por e a
partir das relações de poder. O domínio do território, assim como o
conhecimento do mesmo, constitui uma das mais importantes
estratégias na geopolítica.

Quanto a diferenciação entre o conceito de região e regionalização,


temos em Hansbaert que

"regionalização é um processo amplo, instrumento de


análise para o geógrafo em sua busca dos recortes mais
coerentes que deem conta das diferenciações no
espaço. Por outro lado, região, como conceito, envolve
um rigor teórico que restringe seu significado, mas
aprofunda seu poder explicativo, para defini-la devemos
considerar problemáticas como a das escalas e
fenómenos sociais mais específicos (como os
regionalismos politicos e as identidades regionais) entre
aqueles que produzem a diversidade geográfica do
mundo" (1999, p. 17)

Rede: Como o espaço geográfico passou a não ser visto isoladamente,


as redes funcionam na articulação dos lugares, dos territórios, das
regiões, do espaço. Este conceito ganhou relevância pela análise do
processo industrial, mas ultrapassa este quando

O fenómeno de rede ultrapassa os limites das firmas


dominantes e coloniza, direta ou indiretamente,
permanentemente ou ocasionalmente, todo o tecido
produtivo. O conceito de "complexo industrial
transnacionalizado” resulta de todos esses processos
característicos dada interação globalização. SANTOS,
1997, p 135)
Cabe aqui uma diferenciação entre território e territorialidade, com a
primeira carregada de uma formalidade, um viés mais político, enquanto
a segunda de maneira mais flexível, com forte carga social. Mesmo
diferentes, ambos são dinâmicos e mutáveis.

Um processo passou a ser discutido mais recentemente que é o da


desterritorialização, ou seja, os territórios se constroem e se
reconstroem, ganha novas configurações. Longe de ser o fim dos
territórios (fruto da ameaça de um mundo globalizado) e a
reconfiguração posterior (ou retentonalização) é tida como:

“um processo de reterritorialização espacialmente


descontínuo e extremamente complexo (Haesbaert,
1994.214) Estes processos de (multi)territorialização
precisam ser compreendidos especialmente pelo
potencial de perspectivas políticas inovadoras que eles
implicam.

Paisagem: Milton Santos define a paisagem como o “conjunto de


formas que, num dado momento, exprimem as heranças que
representam as sucessivas relações localizadas entre homem e
natureza: O espaço são essas formas mas a vida que as anima.”
(SANTOS, 1997, p.66). Neste conceito o aspecto visual tem o poder de
passar ao observador mais que uma imagem, mas também uma série
de sensações, arranjos e simbolismos. Em contraposição com o
espaço,

"A paisagem se dá como em conjunto de objetos reais


concretos Nesse sentido a paisagem é transtemporal,
juntando objetos passados e presentes, uma construção
transversal. O espaço é sempre um presente, uma
construção horizontal, uma situação única. Cada
paisagem se caracteriza por uma dada distribuição de
formas-objetos, providas de um conteúdo técnico
específico. Já o espaço resulta da intrusão da sociedade
nessas formas-objetos. Por isso, esses objetos não
mudam de lugar, mas mudam de função, into é, de
significação, de valor sistêmico. A paisagem é, pois, um
sistema material e, nessa condição, relativamente
imutável o espaço é um sistema de valores, que se
transforma permanentemente.” (SANTOS, 1997, p.67)

Lugar: Conceito valorizado pela geografia humanista e marxista, leva


em consideração as experiências, "pois refere-se a um tratamento
geográfico do mundo vivido" (SANTOS, 1997, p.213) O lugar é visto
como uma construção singular, cultural, carregada de simbolismo e que
agrega idéias e sentidos produzidos por aqueles que a constroem e o
vivem:

"lugar significa muito mais que o sentido geográfico de


localização. Não se refere a objetos e atributos das
localizações, mas à tipos de experiência e envolvimento
com o mundo, a necessidade de raízes e segurança”.
(RELPH, 1979)

Região: Como o espaço geográfico apresenta-se bastante diversificado,


a ideia de regionalizar tem a objetivo de Classificar ou organizar
espaços em grupos com características comuns sob critérios sociais,
econômicos, políticos ou naturais:

"A região e o lugar não têm existência própria. Nada mais


são que uma abstração, se os considerarmos à parte da
totalidade. Os recursos totais do mundo ou de um país,
quer seja o capital, a população, a força de trabalho, o
excedente etc, dividem-se pelo movimento da totalidade,
através da divisão do trabalho e na forma de eventos. A
cada momento histórico, tais recursos são distribuídos de
diferentes maneiras e localmente combinados, o que
acarreta uma diferenciação no interior do espaço total e
confere a cada região ou lugar sua especificidade e
definição particular. Sua significação é dada pela
totalidade de recursos e muda conforme o movimento
histórico”. (SANTOS, 1997. p108)
Geografia sobre a América Latina

O discurso de Gabriel Garcia Márquez na premiação do Nobel em 1982


critica a visão europeia de mundo sobre a América Latina.

Visão Utópica: “América latina para os latinoamericanos”. Novas


divisões de mundo sugerem novas visões de mundo. Mundo Norte X
Sul não segue somente critérios de localização geográfica. Não dá
conta da complexidade dos lugares. Há centro em toda parte, e periferia
em toda parte.

“A América Latina não quer, nem tem qualquer razão para querer, ser
massa de manobra sem vontade própria; nem é meramente um
pensamento desejoso que sua busca por independência e originalidade
deva se tornar uma aspiração do Ocidente. No entanto, a expansão
marítima que estreitou essa distância entre nossas Américas e a Europa
parece, ao contrário, ter acentuado nosso distanciamento cultural.”

O que caracteriza o Capitalismo?

“Primeiro, o capitalismo expande-se continuamente pela geografia


e história das nações e continentes, atravessando mares e oceanos. (...)
Revoluciona contínua ou periodicamente as condições sociais,
econômicas, políticas e culturais de povos e civilizações não capitalistas
ou não ocidentais. (...) Sob certos aspectos, pode-se dizer que o Novo
Mundo, a África, a Ásia e a Oceania que conhecemos são invenções do
capitalismo, sempre concebido como um modo de produção material e
espiritual, como um processo civilizatório universal.
Segundo, a mesma dinâmica do capitalismo cria a recria as forças
produtivas e as relações de produção, tanto nas colônias, nos países
dependentes e associados, como nos próprios países dominantes,
metropolitanos ou imperialistas. (...)
Terceiro, o desenvolvimento intensivo e extensivo do capitalismo,
em escala mundial, implica simultânea concentração e centralização do
capital, também em escala mundial. A reinvenção continuada dos
ganhos, lucros ou mais-valia é algo inerente à dinâmica do capital:
assim como a continuada absorção e reabsorção de capitais menores
ou mesmo semelhantes pelos capitais mais dinâmicos, situados em
condições privilegiadas de reprodução.
Em outros termos, o modo capitalista de produção envolve a
reprodução ampliada do capital em escala - cada vez mais ampla,
simultaneamente nacional, continental e global.”

IANNI, Octávio, A sociedade global. 4.ed. Rio de Janeiro: Civilização


Brasileira, 1996. p53-55

Por que até o momento anterior às Grandes Navegações não havia


um espaço geográfico mundial integrado? Resp: Porque os espaços
desenvolviam-se independentemente com a falta de meios de
transporte; porque não se tinha a noção de mundo, a existência de
outros lugares para se explorar.

Quais são os dois tipos de colonização que ocorreram no mundo a


partir das Grandes Navegações? Caracterize cada uma delas. Resp:
Colonização de exploração (Explorar a terra para exportar os produtos;
produzir matéria prima para a metrópole) e Colonização de povoamento
(Povoar o território para “marcá-lo” como de Portugal).

Quem nasce no Brasil é o quê mesmo?

Carlos Walter Porto Gonçalves, professor do Departamento de


Geografia da UFF.

“Uma curiosidade um tanto infantil talvez possa nos ser altamente


reveladora. Afinal, o adjetivo pátrio, aquele que nos indica origem ou
procedência de alguém, geralmente se expressa pelos sufixos ense ou
és ou, ainda lano. Assim, temos o francês, o portugués, o inglês entre
tantos. Ou ainda, o italiano, o peruano, o venezuelano, equatoriano
entre outros tais Hä ainda outras variações, como o paraguaio o
guatemalteco, que nos parecem muito originais e para os quais não
encontramos paralelo. O mesmo se passa com brasileiro. Embora os
franceses nos chamem bresilien, os ingleses brazilian e os italianos
brasiliano, nos, insistimos em nos chamar brasileiros usando esse sufixo
eiro que não se aplica a nenhum outro adjetivo pátrio. E, aqui entre nós,
também usamos o mesmo sufixo eiro para indicar a origem ou a
procedência de quem nasceu nas Minas Gerais: o mineiro

A palavra brasileiro designava, no período colonial, aquele que


vivia de explorar e fazer comércio com o pau-brasil, madeira de cor de
brasa de grande valor comercial à época. O sufixo eiro, nesse caso,
tem, entre outras funções, a de assinalar uma ação ou uma função
como em madeireiro, mineiro, pistoleiro, grileiro ou garimpeiro. Todavia,
o adjetivo pátriobrasileiro indica a origem colonial dos que aqui
chegavam e o que vinham fazer aqui. O Super Dicionário da Língua
Portuguesa, da editora Globo, (2000, Fernandes, F. Luft, C.P. e
Guimarães, F.M.) assinala que brasileiro, além de ser aquele ou aquela
"natural ou habitante do Brasil também é o português que residiu no
Brasil e que voltou rico à sua pátria É interessante observar que elιώνια
ο lingue μυισαμύθιο της vistesa semus para brasileiro, como brasiliense,
brasilense e brasiliano essas variantes são desprezadas,

O termo brasileiro para designar o natural do Brasil começa a ser


consagrado na primeira Constituição Politica do Império do Brasil, em
1824. Era natural que um novo marco jurídico para conformar as regras
do jogo no território que recém se tornava independente tivesse que
nomear e diferenciar os nascidos no novo território. No nosso
continente, até mesmo o nome, America, se afirmou como
contraposição às metrópoles pela necessidade de afirmação da elite
criolla. Até então a expressão Índias Ocidentais era amplamente usada
como designação, sobretudo pelos espanhóis para as terras que,
depois, seriam denominadas americanas

Nos Estados Unidos, primeiro pais a fazer uma revolução de


libertação nacional no mundo em 4/7/1776, a expressão american foi
brandida com força pelos revolucionários para se diferenciarem dos
colonizadores ingleses, Enfim, o termo América só se consagra a partir
dos ideólogos das elites criollas contra as antigas metrópoles. O mesmo
ocorreu com o regime republicano que passou a vigorar em todos os
países da América que faziam a sua independência como forma de
auto-afirmação das antigas metrópoles onde imperavam as monarquias.
Exceto o Brasil que permaneceu com regime monárquico e se
proclamou Império e, com isso, se diferenciando de todas as demais
novas nações que nasciam no continente e não sem um ar de
superioridade por fazer suas as antigas instituições das metrópoles
europeias.

Talvez essa continuidade portuguesa nos ajude a entender o


porquê da escolha do adjetivo pátrio brasileiro e não brasiliano ou
brasiliense. Afinal, brasileiro é o portugués que residiu no Brasil e que
voltou rico à sua pátria. Explorar o Brasil é o ser do brasileiro. Quando
nos tempos da exploração da Borracha na Amazônia dizia-se que o
único crime que lá se cometia era não voltar de lá rico, conforme
registra o ensaísta amazonense Samuel Benchimol. É ele quem nos
conta que à entrada do rio Purus, o mais nico na exploração de
borracha, havia uma ilha chamada Consciência, que era onde você
devia eixar a consciência antes de subir o no para não se lembrar do
que você havia feito quando voltasse do to no. Não à toa, no interior do
nordeste, o paroara, aquele que voltava rico da Amazônia, era visto mo
tendo uma riqueza amaldiçoada.

Assim tem sido o objetivo da ocupação do nosso território com


grande influência na formação do caráter dos que aqui nascem. Não
creio que estamos diante de um fato isolado, nem tampouco de fatos
amazónicos, Brasileiro tem sido exatamente isso aquele que vive de
explorar o Brasil. Não é natural ser brasileiro. É uma opção. De minha
parte, nasci no Brasil, mas não sou brasileiro. Sou brasiliano.
Felizmente para não ser acusado de apátrida, os nossos dicionários me
dão essa opção.”

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