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Universidade Federal do Espírito Santo

Centro de Artes
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo

MOVIMENTOS SOCIOTERRITORIAIS, POR TERRA E TERRITÓRIO:


UMA REFLEXÃO SOBRE ESPAÇO, TERRITÓRIO E AUTONOMIA EM DIÁLOGO COM A TEIA DOS POVOS [POR TERRA E
TERRITÓRIO] E O PROCESSO DE OCUPAÇÃO-RETERRITORIALIZAÇÃO DO ASSENTAMENTO TERRA VISTA, ARATACA – BA
PPGAU 1224: Tópicos Especiais | Território-Patrimônio: Teoria e Representação para Planejamento e Projeto
Discente: Mário Victor Marques Margotto
Docente: Renata Hermanny de Almeida
Período: 2022/01

Vitória, 2022
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

1. ESPAÇO, TERRITÓRIO E MOVIMENTOS SOCIOTERRITORIAIS

1.1. ESPAÇO E TERRITÓRIO: PODER, DOMINAÇÃO E APROPRIAÇÃO

1.2. MOVIMENTOS SOCIOTERRITORIAIS E O CICLO TDR (TE-DES-RE-TERRITORIALIZAÇÃO)

1.3. TEIA DOS POVOS: LUTA POR TERRITÓRIO PELA VIA DA AUTONOMIA

2. ASSENTAMENTO TERRA VISTA [MST], ARATACA – BA

2.1. ASSENTAMENTO TERRA VISTA, ARATACA – BA: TERRITÓRIO E AUTONOMIA

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO

TEMA
Movimentos socioterritoriais e a luta por terra e território pela via da autonomia popular.

OBJETO DE ESTUDO
O processo de ocupação-reterritorialização do Assentamento Terra Vista do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

METODOLOGIA
Revisão bibliográfica e discussão conceitual: espaço, território, movimentos socioterritoriais, ciclo TDR e autonomia. Objeto de estudo: reflexão entre as
categorias analíticas estudadas e os fundamentos e perspectivas dos sujeitos e movimentos socioterritoriais selecionados acerca da terra e da produção
do território pela via da autonomia, a partir da leitura do livro Por terra e território: caminhos da revolução dos povos no Brasil (2021) e da análise
descritiva sobre o processo de reterritorialização do Assentamento Terra Vista, Arataca – BA.

VINCULAÇÃO TEMÁTICA
(iii) a ineficácia de estratégias de participação do habitante em processos decisionais de produção social do território.
1. ESPAÇO, TERRITÓRIO E OS MOVIMENTOS SOCIOTERRITORIAIS

1.1. ESPAÇO E TERRITÓRIO: PODER, DOMINAÇÃO E APROPRIAÇÃO


Espaço e território: poder, dominação e apropriação
• O espaço é uma dimensão da realidade, e o espaço social (LEFEBVRE apud FERNANDES, 2005) é a materialização da existência humana, estando esse
espaço social, por sua vez, contido “no espaço geográfico, criado originalmente pela natureza e transformado continuamente pelas relações sociais,
que produzem diversos outros tipos de espaços materiais e imateriais” (FERNANDES, 2005, p.26)
• Milton Santos (2006, p.39): o “espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas
de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá”
• Lefebvre (apud HAESBAERT, 2012b, p.120) faz a distinção entre dominação e apropriação do espaço:
• “Temos, assim, no conceito de apropriação definido por Lefebvre, um processo efetivo de territorialização, que reúne uma dimensão
concreta, de caráter predominantemente ‘funcional’, e uma dimensão simbólica e afetiva. [...] [A]ssociar ao controle físico ou à dominação
‘objetiva’ do espaço uma apropriação simbólica, mais subjetiva, implica discutir o território enquanto espaço simultaneamente dominado e
apropriado, ou seja, sobre o qual se constrói não apenas um controle físico, mas também laços de identidade social” (HAESBAERT, 2012b,
p.120-121)
• Logo, o espaço é uma condição antecedente [e indispensável] à produção do território (RAFFESTIN, 1993), estando esses indissociáveis
• O território, portanto, pode ser compreendido enquanto uma porção do espaço geográfico modificado, que revela relações de poder (RAFFESTIN,
1993) — sendo, portanto, um espaço de conflitualidades (FERNANDES, 2005, p.121) —, desde seu sentido mais concreto, utilitário e funcional (de
dominação), até no sentido mais simbólico e afetivo (de apropriação) (LEFEBVRE apud HAESBAERT, 2012b)
1. ESPAÇO, TERRITÓRIO E OS MOVIMENTOS SOCIOTERRITORIAIS

1.2. MOVIMENTOS SOCIOTERRITORIAIS E O CICLO TDR (TE-DES-RE-TERRITORIALIZAÇÃO)


Movimentos sociais, socioespaciais e socioterritoriais
• Movimentos sociais são compreendidos desde uma perspectiva sociológica, já os movimentos socioespaciais e os movimentos socioterritoriais são
compreendidos desde uma perspectiva geográfica, tal qual proposto por Fernandes (2005, 2021)
• Território como sua característica definidora, sua razão de ser, sem a qual eles não existiriam – aqui entendido como a apropriação do espaço por
relações sociais que o produzem e o mantêm na construção de projetos de desenvolvimento (FERNANDES, 2005)
• Território: (1) “é mobilizado como uma estratégia para realizar os objetivos dos movimentos. Embora muitos movimentos sociais se apropriem do
espaço como meio de luta (por exemplo, uma manifestação de ativistas de direitos humanos), para os movimentos socioterritoriais o território é o
objeto central de sua luta e é a chave de seus objetivos e metas”; (2) “forma a identidade dos movimentos socioterritoriais, gerando novas
subjetividades políticas no curso da mobilização”; (3) “é um local de socialização política que permite que os movimentos gerem novos encontros e
valores, resultados materiais e imateriais importantes da mobilização”; e (4) “por meio de processos de TDR, os movimentos socioterritoriais
institucionalizam suas práticas e infraestruturas, ao mesmo tempo que negociam com outros projetos territoriais, em particular com o Estado”
(HALVORSEN, FERNANDES e TORRES, 2021, p.28)
• “Os movimentos socioterritoriais para atingirem seus objetivos constroem espaços políticos, espacializam-se e promovem espacialidades. A
construção de um tipo de território significa, quase sempre, a destruição de um outro tipo de território, de modo que a maior parte dos
movimentos socioterritoriais forma-se a partir dos processos de territorialização e desterritorialização” (FERNANDES, 2005, p.31)
1. ESPAÇO, TERRITÓRIO E OS MOVIMENTOS SOCIOTERRITORIAIS

1.2. MOVIMENTOS SOCIOTERRITORIAIS E O CICLO TDR (TE-DES-RE-TERRITORIALIZAÇÃO)


Movimentos socioterritoriais e o ciclo TDR
• TDR — processo constante de “um refazer de territórios, de fronteiras e de controles que variam muito conforme a natureza dos fluxos em
deslocamento” (RAFFESTIN apud HAESBAERT, 2012b, p.122)
• “Do mesmo modo que alguns movimentos transformam espaços em territórios, também se territorializam e são desterritorializados e se
reterritorializam e carregam consigo suas territorialidades, suas identidades territoriais constituindo uma pluriterritorialidade. A transformação
do espaço em território acontece por meio da conflitualidade, definida pelo estado permanente de conflitos no enfrentamento entre as forças
políticas que procuram criar, conquistar e controlar seus territórios. A criação ou conquista de um território pode acontecer com a
desterritorialização e com a reterritorialização. Os territórios se movimentam também pela conflitualidade. O território é espaço de vida e
morte, de liberdade e de resistência. Por essa razão, carrega em si sua identidade, que expressa sua territorialidade” (FERNANDES, 2005, p.30)
• “Desterritorialização” (HAESBAERT, 2012a, 2012b, 2021): expropriação/despojo territorial — Santos (2006): território e cultura são, em certa medida,
sinônimos, portanto, o processo de “desterritorialização” seria algo equivalente a um processo de “desculturalização”
• “Desterritorialização” X (i)mobilidade: “O que importa aí é quem delimita ou controla o espaço de quem, e as consequências desse processo. Neste
caso, deter o controle seria territorializar(-se). Perder o controle seria desterritorializar(-se)” (HAESBAERT, 2012a, p. 262)
• Do ponto de vista do território, e entendendo que este possui um ponto de partida “que nunca é ileso das ações do passado”, quer dizer, que o
território possui sempre uma “forma precedente”, esses processos podem significar a sua “continuação”, a sua “decomposição” (desterritorialização)
ou a sua “recomposição” (reterritorialização) (RAFFESTIN, 2008, p.31)
1. ESPAÇO, TERRITÓRIO E OS MOVIMENTOS SOCIOTERRITORIAIS

1.3. TEIA DOS POVOS: LUTA POR TERRITÓRIO PELA VIA DA AUTONOMIA
Por terra e território: os caminhos da revolução dos povos do Brasil (2021)
• Crises do capitalismo + catástrofe ecológica + insatisfação com o Estado: “[...] nosso caminho,
portanto, é [a luta pela terra e pela reforma agrária] por meio da autonomia e da construção de
territórios gerando poder desde baixo, com a tomada de meios de produção [quer dizer, a terra]”
(FERREIRA e FELÍCIO, 2021, p.30)
• “[...] passamos de uma luta para obter um pedação de terra para a concepção de lutar para
construir um território. [...] Quando pensamos território, não estamos falando de um quadrado ou
de uma demarcação com determinado aspecto. Estamos falando de um lugar cheio de símbolos de
pertencimento alicerçados na abundância da vida. [...] O que queremos são territórios, lugares com
vida, com comunidade, onde rios, matas, animais, poços, nascentes, tudo possa ser respeitado e
cuidado” [...]
• “É fundamental que o próprio povo conquiste as terras porque é da luta que nasce todo o
simbolismo que transformará a terra em território. E, como temos consciência que muita terra
também foi desterritorializada [“desterritorialização ecológica”] pela devastação do agronegócio,
mineração etc., sabemos que teremos um trabalho de cuidado para torná-la um território
novamente” (FERREIRA e FELÍCIO, 2021, p.43-44)
1. ESPAÇO, TERRITÓRIO E OS MOVIMENTOS SOCIOTERRITORIAIS

1.3. TEIA DOS POVOS: LUTA POR TERRITÓRIO PELA VIA DA AUTONOMIA
Autonomia e Território
• ESCOBAR (2016, p.225): “não podemos viver a autonomia sem um território”, ainda que não haja
“autonomia absoluta”, devido às conflitualidades dos territórios
• Conceito de autopoiesis dos biólogos Humberto Maturana e Francisco Varela (1970): “[...] de fato,
a chave para a autonomia é que um sistema vivo encontre seu caminho em direção ao momento
seguinte atuando adequadamente a partir de seus próprios recursos” (VARELA apud ESCOBAR,
2016, p.192), e, nesse sentido, “[...] a autonomia é a chave da autopoiesis ou auto-criação dos
sistemas vivos” (ESCOBAR, 2016, p.29)
• “Dessa forma, a autonomia descreve situações em que as comunidades se relacionam entre si e
com outros (o Estado, por exemplo) mediante o acoplamento estrutural com a conservação da
autopoiesis da comunidade” (ESCOBAR, 2016, p.198)
• “Frequentemente, a autonomia possui uma dimensão decididamente territorial e baseada no
lugar. Deriva-se de e re-constrói territórios de resistência e diferença, [...] aplicando-se a zonas
rurais, urbanas, de bosques e selvas, e a todo tipo de território em diferentes maneiras”
(ESCOBAR, 2016, p.200)
2. ASSENTAMENTO TERRA VISTA, ARATACA – BA

2.1. ASSENTAMENTO TERRA VISTA, ARATACA – BA: TERRITÓRIO E AUTONOMIA


Breve histórico do Assentamento Terra Vista [MST], Arataca – BA
• Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra: movimento campesino de luta pelo acesso democrático à terra e pela reforma agrária
• MST começa a sua história na Bahia cinco anos depois que o movimento se consolida no sul do país (1987 – Fazenda 4045)
• Fazenda Bela Vista: área de mais de 900 hectares (9km²) — foi ocupada no dia 8 de março de 1992 por 350 famílias
• Depois de passar por cinco despejos, a fazenda foi decretada em 1993 de interesse social para fins de reforma agrária:
• DECRETO DE 29 DE OUTUBRO DE 1993 — Declara de interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural denominado FAZENDA BELA
VISTA, situado no Município de Arataca, Estado da Bahia, e dá outras providências.
• Consolidou-se, em julho de 1994, no Assentamento Terra Vista, sendo uma das vitórias mais importantes do MST para a expansão do movimento em
todo o território da Bahia e significou uma grande derrota para os latifundiários e coronéis da região
• A área possui 313 hectares (3,13km) de Mata Atlântica* preservados, totalizando 40% de área de preservação, e está em torno do Parque Nacional
Serra das Lontras
• Conta atualmente com 55 famílias assentadas

*A Bahia possui os biomas: Caatinga, Mata Atlântica, Manguezal (ecossistema associado à Mata Atlântica) e Cerrado

Fonte: https://mst.org.br/nossa-historia/84-86/.

Fonte: https://mapadaagroecologia.org/locais/assentamento-terra-vista-mst?locale=pt-BR.
Fonte: FERREIRA, 2019.
Fonte: elaboração própria a partir do Google Earth.
Fonte: elaboração própria a partir do Google Earth.
Fonte: https://mapadaagroecologia.org/locais/assentamento-terra-vista-mst?locale=pt-BR.
Fonte: elaboração própria a partir do Google Earth.
2. MOVIMENTOS SOCIOTERRITORIAIS E A LUTA POR TERRA E TERRITÓRIO

2.1. ASSENTAMENTO TERRA VISTA, ARATACA – BA: TERRITÓRIO E AUTONOMIA


I. Distribuição e ordenação espacial entre os assentados e os meios de produção
• Possui uma forma diferente de organização espacial em relação a outros exemplos, os quais usualmente fracionam a área assentada em unidades
individuais para cada família, condicionando a esta forma de ocupação da terra os modelos de exploração e as possibilidades da organização social da
produção
• Teve como ponto de partida a definição do seu modelo de exploração: atividade econômica com base na piscicultura e na instalação de uma
agroindústria processadora de frutas, sendo que estas não puderam ser desenvolvidas numa parcela individual e nem de forma individual,
definindo-se assim a organização territorial do assentamento – orientando a instalação dos tanques de piscicultura, dos armazéns para tratamento do
pescado, da casa para tratamento e processamento das frutas e das roças de cacau
• Diferente dos outros modelos, e apesar da área não ter sido dividida em parcelas individuais – por exemplo, não é possível observar os traços
definindo as parcelas de terra, mas apenas grandes áreas ocupadas –, no assentamento a terra pode ser trabalhada individualmente [ou por cada
família], mas não apropriada individualmente, ou seja, o território apropriado corresponde à área total do assentamento e não à parcela trabalhada
individualmente
• Quer dizer que o poder dado pela conquista e apropriação do território no assentamento remete ao fato de que as decisões de como utilizá-lo foram e
ainda são partilhadas com todos os companheiros, representando um exercício de construção espacial e social e exigindo, como consequência, uma
outra organização social do território e do trabalho

Fonte: GeografAR — https://geografar.ufba.br/projeto-de-assentamento-terra-vista.


2. MOVIMENTOS SOCIOTERRITORIAIS E A LUTA POR TERRA E TERRITÓRIO

2.1. ASSENTAMENTO TERRA VISTA, ARATACA – BA: TERRITÓRIO E AUTONOMIA


II. Agroecologia, cultivo da terra e geração de renda
• No início do Assentamento, adotou-se o modelo convencional de produção agrícola, com práticas como utilização de insumos químicos sintéticos,
como adubos sintéticos, corte e queima das áreas para o plantio, produção de monoculturas, defensivos químicos, dentre outras práticas que são tidas
como “comuns” na agricultura e permitidas por lei
• Com o passar do tempo, os assentados perceberam que essa forma de produzir não era viável economicamente, pois, exigia uma demanda contínua
de insumos químicos caros, além do fato desse modelo produtivo também causar danos à saúde das famílias e ao meio ambiente, por meio da
degradação do solo, contaminação das águas e dos alimentos e da perda da biodiversidade local
• Resultado desse modelo de agricultura, no ano 2000 o Assentamento passou por uma grande crise agrícola, moral e econômica
• Diante disso, a comunidade percebeu que o método de produção convencional já não mais atendia às suas necessidades
• Evidenciou-se a necessidade de um novo modelo de agricultura e, com isso, começou a ser implantada, nesse período, a transição do modelo
convencional para o agroecológico — como uma alternativa ao desenvolvimento sustentável da comunidade
• Ao começar a trabalhar com a agroecologia, uma série de decisões foram tomadas pelos assentados, através de discussões em assembleia, por
exemplo: não haveria mais caça a animais silvestres, definiram abandonar o método de corte e queima nas áreas destinadas à agricultura e decidiram
não usar mais insumos químicos industrializados na produção de alimentos

Fonte: OLIVEIRA e SABIONI (2021).


2. MOVIMENTOS SOCIOTERRITORIAIS E A LUTA POR TERRA E TERRITÓRIO

2.1. ASSENTAMENTO TERRA VISTA, ARATACA – BA: TERRITÓRIO E AUTONOMIA


II. Agroecologia, cultivo da terra e geração de renda
• Na transição agroecológica, foi desenvolvido, em conjunto com as famílias, parceiros(as) e instituições, a recuperação de 92% da mata ciliar do Rio
Aliança (ou Rio Una) e a recuperação de 80% das nascentes
• Hoje, o terreno possui 300 hectares de cacau-cabruca (⅓ da área) — um sistema ecológico de cultivo agroflorestal*, onde o cacau é produzido no
sistema florestal, construindo uma relação entre ecossistema e a produção familiar
• Banana (Musa acuminata), com até 3.500Kg/ano, e aipim (Manihot esculenta), com até 5.000Kg/ano, são as culturas mais produzidas pelos
assentados, porém é o Cacau (Theobroma cacao), com até 127 arrobas/hectare a cultura mais cultivada e a que mais gera renda aos assentados,
sendo considerada por estes a mais importante da sua unidade de produção, devido ao fato histórico, cultural da região sul da Bahia, ser grande
produtora de Cacau
• Grande parte do que é produzido no Assentamento é comercializado através da entrega direta ao consumidor, por meio das feiras livres da região,
outra parte da comercialização é feita através de programas sociais como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de
Aquisição de Alimentos (PAA), e uma pequena parte da produção é vendida a mercados, e o cacau é vendido aos armazéns de compra de cacau da
região — além da comercialização na rede de lojas do Armazém do Campo
*Os sistemas agroflorestais são ambientes em que agricultura e criação de animais são combinados com as florestas, produzindo uma grande quantidade
de produtos de origem agrícola, utilizando como base, princípios e técnicas agroecológicas no manejo das unidades de produção

Fonte: OLIVEIRA e SABIONI (2021).


Fonte: https://www.giorigin.com.br/post/assentamento-baiano-e-modelo-de-empoderamento-feminino-e-de-trabalho-comunitario.
Fonte: https://www.cacauechocolate.com.br/v1/2019/10/02/chocolate-terra-vista-traz-o-aroma-da-mata-atlantica/
CACAU-CABRUCA
“É na mata cabrucada, aproveitando a sombra da
Mata Atlântica nativa, que as árvores cacaueiras
frutificam entre setembro e fevereiro no sul da
Bahia há mais de dois séculos. Esse método
secular de cultivo sob a sombra da mata nativa
ajudou a conservar importante parte do
ambiente natural em quase 80% dos cacauzais
baianos, de acordo com pesquisa do Instituto
Floresta Viva”.
Fonte: https://arvoreagua.org/sustentabilidade/cabruca

Cabruca: termo de origem Tupi-Guarani que


significa “abrigo do cacau sobre a mata”.
2. MOVIMENTOS SOCIOTERRITORIAIS E A LUTA POR TERRA E TERRITÓRIO

ASSENTAMENTO TERRA VISTA, ARATACA – BA: TERRITÓRIO E AUTONOMIA


III. Educação, formação e capacitação no campo
• Centro Integrado Florestan Fernandes (1998) e o Centro de Educação Profissional da Floresta do cacau e do chocolate Milton Santos (2010): foram
construídos originalmente para atender as famílias assentadas e acampadas da região — com objetivo, por exemplo, de erradicar o analfabetismo —,
assim como moradores de comunidades rurais e urbanas localizadas nas proximidades, e hoje atendendo não apenas a educação infantil e do ensino
fundamental I e II, mas também cursos de nível médio, técnico e superior
• CEEP Milton Santos: a escola abrange cerca de oito municípios do Território Litoral Sul e forma profissionais na área de Agroecologia, Meio Ambiente,
Zootecnia, Informática, Agroindústria, Segurança do Trabalho, Alimentos e os cursos em alternância de Técnico em Agroecologia (PROEJA e PROSUB)
para os povos indígenas, quilombolas, pequenos agricultores, assentados, acampados, moradores de bairros das cidades atendidas e defensores da
agroecologia
• O Centro formou a 1ª turma do Curso Técnico em Agropecuária, pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), em 2010, com 35
técnicos para atender a demanda dos assentamentos no estado da Bahia
• A partir dos resultados dessa experiência também formou a 1ª turma, que contava com 41 trabalhadores Sem Terra, de Bacharelado em Engenharia
Agronômica, com ênfase em Agroecologia, em uma parceria com a Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
• Em 2014, formou ainda a 1º turma de Pós-Graduação da Especialização em Agroecologia Aplicada à Agricultura Familiar, no modelo de residência
agrária, sendo que nessa turma, 34 estudantes saíram especialistas para atuarem nos assentamentos e comunidades

Fonte: https://mst.org.br/2017/10/24/a-luta-pela-educacao-no-assentamento-terra-vista/
Fonte: https://mst.org.br/2017/10/24/a-luta-pela-educacao-no-assentamento-terra-vista/
Turma do curso técnico em agropecuária no assentamento Terra Vista
Fonte: https://mst.org.br/2017/10/24/a-luta-pela-educacao-no-assentamento-terra-vista/
Fonte: https://teiadospovos.org/assentamento-terra-vista-30-anos-de-conquistas/
Fonte: https://jornadadeagroecologiadabahia.blogspot.com/2013/12/conheca-o-assentamento-terra-vista.html.
1998 2014

Fonte: https://www.facebook.com/469164093201675/photos/pcb.646122522172497/646117042173045/?type=3&theater.

Fonte: https://www.facebook.com/469164093201675/photos/pcb.646122522172497/646116885506394/?type=3&theater.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

• Brasil: possui enorme concentração fundiária e em que, ao mesmo tempo, cerca de 70% da produção interna consumida no país vem da agricultura
familiar, embora as políticas agrícolas tenham historicamente favorecido os grandes latifundiários, bem como explorado de forma exaustiva os bens
naturais com o uso da monocultura, o uso de agrotóxicos, o desmatamento e as queimadas
• “padrão extrativista do capitalismo de acumulação por despossessão” (HARVEY apud HAESBAERT, 2021, p.157)
• “La industrialización, la homologación y la reducción de la complejidad del paisaje agrario (incluyendo las especies y los cultivos) inducen progresivamente la pérdida
de la sabiduría ambiental, la reducción de la fertilidad de los suelos y la generación de impactos ambientales, dejando la reproducción del territorio en manos de los
grandes sistemas tecnológicos y funcionales” (MAGNAGHI, 2011, p.61)
• “La degradación del territorio comprende la degradación ambiental, pero se refiere también a la degradación del territorio construido y a la degradación social, que
es consecuencia de ambas” (MAGNAGHI, 2011, p.92)
• Relevância das relações socioespaciais construídas nas ocupações de terra pelos movimentos socioterritoriais, por exemplo, no Assentamento Terra
Vista (MST), que tem buscado construir abordagens alternativas às crises econômicas, ecológicas e socioambientais atuais — e, dessa forma, na
construção de territórios alternativos pela via da autonomia popular —, assim como a constituição de redes de luta (Teia dos Povos) em nível mais
amplo, compondo aquilo que Haesbaert (2012b, p.123) denomina redes de solidariedade, em oposição às redes des-territorializantes do modo de
produção capitalista e do mercado liberal
• “O território se torna, assim, antes de tudo, território de vida para grupos cuja existência, conjugada ao mundo de outros seres, como os animais [e outros terranos],
se deve a essa relação indissociável com seus espaços de vivência cotidiana, rompendo, à sua maneira, com a visão dicotômica entre matéria e espírito, [e
principalmente entre] natureza e sociedade” (HAESBAERT 2021, p.204)
REFERÊNCIAS

LIVROS

ESCOBAR, Arturo. Autonomía y diseño: la realización de lo comunal. Popayán: Universidad del Cauca. Sello Editorial, 2016.

FERREIRA, Joelson. FELÍCIO, Erahsto. Por terra e território: caminhos da revolução dos povos no Brasil. prefácio de TünyCwe Wazahi
Tremembé (Rosa Tremembé). Arataca, BA: Teia dos Povos, 2021.

HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização: do fim dos territórios à multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2012a.

HAESBAERT, Rogério. Território e descolonialidade: sobre o giro (multi)territorial/de(s)colonial na América Latina. Ciudad Autónoma
de Buenos Aires: CLACSO; Niterói: Programa de Pós-Graduação em Geografia; UFF, 2021.

HAESBAERT, Rogério. Territórios alternativos. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2012b.

MAGNAGHI, Alberto. El proyecto local: hacia una conciencia del lugar. Barcelona: Edicions UPC, 2011.

RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. ed. São Paulo: Ed. USP, 2006.
REFERÊNCIAS

ARTIGOS – PERIÓDICOS

FERNANDES, Bernardo Mançano. Movimentos socioterritoriais e movimentos socioespaciais: contribuição teórica para uma leitura
geográfica dos movimentos sociais. Revista NERA, Presidente Prudente, n. 6, jan./jul. 2005. pp. 14-34.

FERREIRA, Mateus Silva. Luta pela terra e inserção da Agroecologia no assentamento Terra Vista - BA, Revista Fitos, Rio de Janeiro,
2019; Suplemento. 49-52. Doi: 10.17648/2446-4775.2019.773.

HALVORSEN, Sam. FERNANDES, Bernardo Mançano. TORRES, Fernanda Valeria. Movimentos socioterritoriais em perspectiva
comparada. Revista NERA, Presidente Prudente, v. 24, n. 57, 2021. pp. 24-53.

OLIVEIRA, Francisco Vilas Bomfim de. SABIONI, Sayonara Cotrim. Produção de alimentos agroecológicos no Assentamento Terra Vista,
Arataca-BA. In: SOUZA, Carla da Silva. SABIONI, Sayonara Cotrim. LIMA, Francisco de Souza (Orgs.). Agroecologia: métodos e técnicas
para uma agricultura sustentável - Volume 1. Guarujá, SP: Científica Digital, 2021. pp. 97-117.

RAFFESTIN, Claude. A produção das estruturas territoriais e sua representação. In: SAQUET, Marcos Aurélio. SPOSITO, Eliseu Savério
(Orgs.). Territórios e territorialidades: teorias, processos e conflitos. 1ª ed. São Paulo, Expressão Popular: UNESP Programa de
Pós-Graduação em Geografia, 2008. pp. 17-35.
REFERÊNCIAS

ENDEREÇOS ELETRÔNICOS

Assentamento Terra Vista (Facebook) – https://www.facebook.com/ass.terravista.atv.

Google Earth – https://earth.google.com/.

Grupo de Pesquisa GeografAR-UFBA – https://geografar.ufba.br/.

Mapa da Agroecologia – https://mapadaagroecologia.org/.

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) – https://mst.org.br/.

Teia dos Povos – https://teiadospovos.org/.

*As imagens não referenciadas foram retiradas dos respectivos sites oficiais acima citados.
Manter em pé o que resta não basta
Que alguém vira derrubar o que resta
O jeito é convencer quem devasta
A respeitar a floresta
Manter em pé o que resta não basta
Que a motosserra voraz faz a festa
O jeito é compreender que já basta
E replantar a floresta

Gilberto Gil - Refloresta

OBRIGADO
Mário Victor Marques Margotto
Doutorando — PPGAU-UFES
mvmmargotto@gmail.com

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