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12732022 1341
artigo article
à COVID-19 na Bahia, Brasil
Abstract This is an analysis of state manage- Resumo Análise da gestão estadual da atenção
ment of Primary Health Care in response to the primária à saúde (APS) em resposta à pandemia
COVID-19 pandemic in Bahia. It is a qualitative de COVID-19 na Bahia. Estudo de caso de natu-
case study with interviews with managers and reza qualitativa mediante entrevistas com gesto-
regulatory documents analyzed according to the res e documentos normativos analisados segundo
categories of government project and government as categorias de projeto e capacidade de governo.
capacity. State PHC proposals were debated in Proposições estaduais de APS foram debatidas
the Bipartite Intermanagerial Commission and na Comissão Intergestores Bipartite e no Comitê
in the Public Health Operational Emergency Operacional de Emergência em Saúde Pública. O
Committee. The scope of the PHC project focused conteúdo propositivo do projeto da APS concen-
on the definition of specific actions to manage the trou-se na definição de ações específicas de gestão
health crisis with the municipalities. The institu- da crise sanitária junto aos municípios. O apoio
tional support of the state to the municipalities institucional do estado aos municípios modulou
modulated inter-federative relations and was de- as relações interfederativas e foi determinante na
cisive in the elaboration of municipal contingency elaboração dos planos municipais de contingên-
plans, training of teams and production and dis- cia, da capacitação das equipes, produção e difu-
semination of technical standards. The capacity são de normas técnicas. A capacidade do governo
of the state government was dependent upon the estadual foi condicionada pelo grau de autono-
degree of municipal autonomy and the availa- mia municipal e disponibilidade de referências
bility of state technical references in the regions. técnicas estaduais nas regiões. O estado fortaleceu
1
Centro de Ciências da The state strengthened institutional partnerships parcerias institucionais para interlocução com
Saúde, Universidade Federal
do Recôncavo da Bahia. for dialogue with municipal managers, but me- gestores municipais, mas não foram identificados
Av. Carlos Amaral 1.015, chanisms for articulation with the federal level mecanismos de articulação com o nível federal e o
Cajueiro. 44.430-622 Santo and social control were not identified. This study controle social. Este estudo contribui para a aná-
Antônio de Jesus BA Brasil.
italoaleluia@ufrb.edu.br contributes to the analysis of the role of states in lise do papel dos estados na formulação e imple-
2
Instituto de Saúde the formulation and implementation of PHC ac- mentação de ações de APS mediadas por relações
Coletiva, Universidade tions mediated by inter-federative relationships in interfederativas em contextos de emergência em
Federal da Bahia. Salvador
BA Brasil. emergency public health contexts. saúde pública.
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Instituto Multidisciplinar Key words Federalism, State Government, Pri- Palavras-chave Federalismo, Governo estadual,
em Saúde, Universidade mary Health Care, COVID-19. Atenção primária à saúde COVID-19
Federal da Bahia. Vitória da
Conquista BA Brasil.
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Aleluia IRS et al.
A DAB foi o ator principal da formulação do No período do estudo, vale destacar que, se-
projeto de governo estadual para a APS na pan- gundo entrevistados e análise das resoluções da
demia. Outros atores partícipes foram as estru- CIB, o tema central das reuniões dessa comissão
turas da Vigilância Epidemiológica da Sesab e o sobre o enfrentamento da pandemia foi a dis-
Conselho Estadual de Secretarias Municipais de tribuição de leitos clínicos e de UTI nas regiões
Saúde da Bahia (COSEMS). Propostas estaduais de saúde, a fim de assegurar o cuidado aos casos
de APS foram debatidas e pactuadas entre a Sesab moderados e graves de COVID-19 diante da de-
e o COSEMS na CIB, principal espaço homolo- ficiência crônica de leitos hospitalares, especial-
gatório das estratégias de gestão estadual da crise mente no interior do estado. Outro tema relevan-
sanitária, no qual o diretor da DAB tinha assento. te que surgiu no primeiro semestre de 2021 foi
Outro espaço institucional de decisão men- a distribuição, entre os municípios, das doses de
cionado pelos gestores foi o COES, em que a vacina para os grupos prioritários definidos no
DAB era convidada a participar, visto que não era Plano Nacional de Operacionalização, em meio a
integrante do Comitê. Neste espaço, as proposi- um cenário de escassez dos imunizantes e desco-
ções foram traduzidas em notas técnicas emitidas ordenação nacional.
como recomendações aos serviços de saúde. Se- Foi simbólico, uma certa vez, um técnico que
gundo relatos, houve a elaboração de documen- trabalhava dando suporte para acontecer as reuni-
tos técnicos mediante colaboração entre DAB, ões da CIB, disse assim, a reunião dos leitos já vai
Vigilância Epidemiológica e COSEMS, debatidos começar (EGE11).
com gestores municipais nos Colegiados de Co- O levantamento documental permitiu identi-
ordenadores de Atenção Básica (COCAB) das ficar o conteúdo propositivo das decisões estadu-
regiões de saúde. ais sobre a resposta da APS à pandemia em duas
Elaboramos conjuntamente, porque essa ação edições do PEC e no Plano de Vacinação aprova-
optamos que fosse coordenada pela DAB e deve ser dos pela CIB, além de duas resoluções específicas
coordenada por eles, e elaboramos conjuntamente exaradas por essa comissão (Quadro 2). Docu-
algumas Notas Técnicas (NT). Tivemos algumas mentos técnicos também revelaram decisões da
reuniões com o COSEMS, inclusive, e com os pro-
gestão quanto às condutas a serem observadas
fissionais da APS para discutir notas (EGE9).
pelos profissionais de APS na atenção e vigilância
da COVID-19.
Os entrevistados referiram a produção de vá-
rias Notas Técnicas. No entanto, no site da Sesab
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Quadro 2. Propostas estaduais de APS para o enfrentamento da pandemia, estado da Bahia, 2020 a 2021.
Documento Síntese do conteúdo Link de acesso
Plano Eixo APS: apoio e orientação sobre medidas de prevenção e controle para o http://www.saude.
Estadual de vírus COVID-19; orientação às equipes multiprofissionais para implantação do ba.gov.br/wp-content/
Contingências Protocolo de Manejo Clínico do Novo Coronavírus (SARS CoV2) na Atenção uploads/2020/06/
para Primária à Saúde/MS; orientação aos profissionais de saúde na atenção às Plano-de-
Enfrentamento populações historicamente excluídas e de maior vulnerabilidade; reorientação do Continge%CC%82ncia-
do Novo atendimento das equipes de saúde municipais para as intervenções necessárias Coronav%C3%ADrus-
Coronavírus - conforme a progressão dos caso; identificação de estratégias para aquisição Bahia-2020-2606.pdf
SARS CoV2. 2ª e distribuição de insumos e EPI”s, bem como seu uso racional; orientação do
edição. Junho acompanhamento e monitoramento dos pacientes em isolamento domiciliar
de 2020. em parceria com as equipes de vigilância à saúde local; realização de WEB
reuniões com temáticas relacionadas ao Novo Coronavírus; referenciamento
do Telessaúde para atender as demandas relacionadas ao enfrentamento do
Coronavirus. Unidades de APS como uma das portas de entrada de atendimento
de casos suspeitos mas não integram a rede assistencial de enfrentamento da
pandemia.
Plano Eixo APS: realização de Colegiados de Coordenadores da Atenção Básica http://www.saude.
Estadual de sobre o tema, utilizando as ferramentas do telessaúde e outras ferramentas ba.gov.br/wp-content/
Contingência de videoconferências; articulação com os municípios que tenham casos uploads/2021/07/
para de COVID-19, apoiando na gestão da saúde, a partir das orientações para Plano-estadual-de-
Enfrentamento organização da Atenção Básica-AB, no enfrentamento do SARSCoV-2; revisão contingencia-SARS-
do SARS CoV- técnica dos Procedimentos e Manuais de Profissionais de Saúde no enfrentamento COV2_Com-Linhas.pdf
2.3ª edição, 2ª do coronavírus no estado da Bahia; levantamento e consolidação, por município
revisão. Junho e região de saúde, do número de Unidades de Saúde da Família e de Unidades
de 2021. Básicas de Saúde que são pontos de Atenção na Rede para o atendimento à
COVID-19; Compartilhamento e matriciamento dos municípios em relação à
legislação, protocolos, normativas, entre outros produtos técnicos que orientem
as gestões municipais para organização da Atenção Básica; levantamento e
consolidação das ações realizadas pelos municípios para o enfrentamento do
SARS-CoV-2; atividades de Educação Permanente voltadas aos profissionais
da AB que estão no atendimento à COVID-19; mobilização das Secretarias
Municipais de Saúde sobre a importância do preenchimento do instrumento
Ficha B-SG para a busca ativa de casos relacionados à COVID-19; referência ao
Programa de Telecompartilhamento da Saúde com a Atenção Básica do estado
da Bahia como estratégia para retomar, ampliar e fortalecer o cuidado ofertado
pela Atenção Básica nos municípios durante e após a pandemia da COVID-19,
por meio do uso das Tecnologias de Informação e Comunicação-TIC a distância;
produção de atividades educativas e materiais informativos através da Telessaúde
para apoiar os profissionais no enfrentamento do Coronavírus; orientação quanto
a possibilidade de uso das Tecnologias na Comunicação e Informação para
monitoramento e atendimento das demandas relacionadas ao enfrentamento
do SARS-CoV-2; identificação de estratégias para aquisição e distribuição de
insumos e Equipamentos de Proteção Individual - EPI’s, bem como seu uso
racional; orientação do preenchimento adequado dos campos no Cadastro
Individual no e-SUS, com vistas a qualificar atenção a saúde (Nome Social; Raça/
cor; É membro de Povo ou Comunidade Tradicional; Usa Plantas Medicinais
e Cidadão em Situação de Rua); elaboração de nota técnica informativa sobre
COVID-19 para trabalhadores da Saúde da Atenção Primária dos municípios
do estado da Bahia; qualificação dos Agentes Comunitários de Saúde para atuar
frente as demandas do território emergentes do retorno às aulas no contexto da
COVID-19. Unidades de APS como uma das portas de entrada de atendimento
de casos suspeitos mas não integram a rede assistencial de enfrentamento da
pandemia.
continua
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Quadro 2. Propostas estaduais de APS para o enfrentamento da pandemia, estado da Bahia, 2020 a 2021.
Documento Síntese do conteúdo Link de acesso
Resolução CIB “Aprovou o Programa de Telecompartilhamento da Saúde com a Atenção Básica http://www5.saude.
107/2020 do Estado da Bahia prevendo retomar, ampliar e fortalecer o cuidado ofertado ba.gov.br/portalcib/
pela Atenção Básica nos municípios, durante e após a pandemia da COVID-19, images/arquivos/
por meio do uso das Tecnologias de Informação e Comunicação a distância (TIC). Resolucoes/2020/RES_
O Programa de Telecompartilhamento é composto por duas ofertas integradas: a CIB_107_2020.pdf
Teleconsultoria especializada (troca de informações e opiniões entre profissionais
de saúde com o objetivo de esclarecer dúvidas baseado em evidências científicas)
e a Teleconsultoria com Intenção de encaminhamento (discussão de um caso no
qual o profissional solicitante da Atenção Básica tem intenção de encaminhar,
a pessoa assistida em sua Unidade de Saúde, para atendimento no serviço
especializado de referência). O Programa oferta teleconsultoria especializada
em diferentes especialidades como: angiologia, cardiologia, endocrinologia,
endocrinologia pediátrica, estomatologia, gastroenterologia, ginecologia,
hepatologia, imunologia, infectologia, mastologia, medicina do trabalho,
nefrologia, neurologia, nutrologia, oncologia, ortopedia, pediatria, proctologia,
psiquiatria, reumatologia, urologia”.
Resolução CIB “Dispõe sobre orientações para organização da atenção básica, no http://www5.saude.
112/2020 acompanhamento e monitoramento dos casos de COVID-19, promovendo ba.gov.br/portalcib/
orientação para o monitoramento dos casos de COVID-19 pela atenção básica, images/arquivos/
aprovando o fluxo de acompanhamento e o envio do consolidado municipal Resolucoes/2020/RES_
semanalmente”. CIB_112_2020.pdf
Plano Estadual “este plano agrega atores político institucionais relevantes à implementação das http://www.saude.
de Vacinação ações no território locorregional, a exemplo dos Núcleos Regionais de Saúde ba.gov.br/wp-content/
COVID-19 (NRS), Diretorias da Atenção Básica (DAB), Secretarias Municipais de Saúde, uploads/2022/03/
Distrito Sanitário de Saúde Indígena (Dsei/Bahia) e as instâncias colegiadas de Versa%CC%83o-
gestão e pactuação do SUS, a exemplo do COSEMS, CIB, CIR, e de controle social, atualizado-11-03-22-
como o CES e CMS (...) Considerando os locais de maior fluxo populacional e com Plano-Vacinacao-
o intuito de facilitar o acesso à vacinação, os municípios, conjuntamente com o COVID-19-CIVEDI-
estado, definirão a melhor estratégia para vacinar a população, de maneira rápida DIVEP-8-edicao.pdf
e oportuna, nas salas de vacinação das unidades de saúde e nos postos volantes
(...) A vacinação contra a COVID-19 pode exigir diferentes estratégias, devido
à possibilidade da oferta de diferentes vacinas, para diferentes faixas etárias/
grupos e considerando a realidade de cada município. Na elaboração das micro
programações locais devem ser consideradas os seguintes aspectos para definição
das estratégias de vacinação: vacinação de trabalhadores de saúde: exige trabalho
conjunto entre atenção primária à saúde, urgência e emergência, principalmente
para aqueles que atuam em unidades exclusivas para atendimento da COVID-19;
vacinação de idosos: a vacinação casa a casa pode ser uma estratégia em resposta
àqueles que têm mobilidade limitada ou que estejam acamados; vacinação em
drive thru, nos centros urbanos; organização da unidade primária em saúde
em diferentes frentes de vacinação, para evitar aglomerações (deve-se pensar
na disposição e circulação destas pessoas nas unidades de saúde e/ou postos
externos de vacinação).
Fonte: www.saude.ba.gov.br/coronavirus.
tária do Sars-Cov-2 e orientou o processo de ela- tucional da DAB junto aos territórios facilitou a
boração dos planos de contingência municipais atuação do estado para coordenar a elaboração
(PCM). O modelo de PCM desenhado pela DAB dos PCM.
foi inspirado na versão do PEC, e os NRS e BRS Sempre trabalhamos com essa questão de pla-
foram estratégicos na articulação entre o estado nejamento junto com o território, não apenas en-
e gestores locais no processo de planejamento volvendo município, mas também e principalmen-
municipal. A experiência prévia do apoio insti- te as regionais de saúde [...], cada apoiador ficou
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dos debates e das resoluções sobre atenção hospi- estado da Bahia, implementada a partir de 2015,
talar. Essas evidências indicam a centralidade do quando houve extinção das diretorias regionais e
modelo hospitalocêntrico no enfrentamento da a criação dos NRS e BRS, muitos deles sem estru-
pandemia, lógica predominante no Brasil e em tura de pessoal necessária para desempenhar as
outras experiências internacionais23,24. funções requeridas junto aos municípios.
Tornar a APS coordenadora do cuidado e Outro condicionante da capacidade de ges-
ordenadora da rede de atenção, dado o modelo tão estadual foi o grau de autonomia das SMS.
hegemônico hospitalocêntrico, é uma proposta Estudos indicam que municípios de maior porte
radical de mudança da organização do SUS, um dispõem de mais autonomia na implementação
projeto de governo audacioso. A direcionalidade de políticas de saúde, pela maior estruturação
do projeto condiciona e é condicionada pela ca- de suas secretarias, o que implica menor depen-
pacidade de governo de um ator social17. Projetos dência do governo estadual27. Esse cenário, que
que significam mudanças substantivas no traba- combina autonomia e interdependência entre os
lho de uma organização lhe exigirão mais capa- entes subnacionais, evidencia desafios históricos
cidade de governo. Em que medida o apoio ins- da gestão regional do SUS28.
titucional oferecido pela DAB às coordenações Cabe destacar que ações de APS na pande-
municipais de APS era suficiente diante da com- mia são respostas predominantemente imple-
plexidade da mudança requerida? Essa é uma mentadas pelo nível municipal25, mas deve-se
questão a ser respondida em estudos posteriores. ressaltar que a autonomia relativa dos gestores,
O espaço da CIB se destacou como estraté- numa lógica municipalista aliada ao apagamen-
gico na tomada de decisão e regulamentação das to do papel estadual14, pode colaborar para um
ações de enfrentamento à pandemia, em acordo forte viés local, em detrimento de respostas re-
com o papel institucional desse colegiado na im- gionalizadas29,30. Tratando-se da complexidade
plementação de políticas do âmbito estadual. A da pandemia de COVID-19, isso pode limitar
ação da CIB na resposta à pandemia, como espa- efeitos sinérgicos da resposta de cada esfera local
ço responsável pela produção das regulamenta- no território regional31.
ções de ações para a COVID-19, também foi uma As evidências deste estudo ratificaram a mul-
evidência encontrada em outros estados25. tiplicidade de atores necessários para construir a
A gestão da pandemia poderia ser uma opor- viabilidade das proposições estaduais para a APS,
tunidade para criação de condições necessárias o que se coaduna com as proposições de Matus17
ao fortalecimento da APS na Bahia, consideran- a respeito da construção de capacidade institu-
do a capacidade de governo que a DAB acumulou cional para governar enquanto processo que en-
por sua trajetória de apoio institucional junto às volve múltiplos atores sociais. A participação de
gestões municipais. Entretanto, vale destacar os diferentes atores e espaços de gestão na resposta
constrangimentos institucionais provocados pela estadual à pandemia de COVID-19 demonstrou
precária cooperação entre Sesab e Ministério a necessidade de articulação entre atores dos ní-
da Saúde, assim como os desmontes da APS de veis estadual, regional e municipal.
base territorial e a orientação comunitária já em A construção da capacidade de governo re-
curso, derivados da revisão da Política Nacional quer a ampliação da competência institucional
de Atenção Básica desde 201726, tudo isso com- para a implantação de um projeto17. No cenário
prometeu uma resposta sustentada na APS como estudado, a expertise acumulada da Bahia no
coordenadora do cuidado e ordenadora da rede. manejo da telessaúde permitiu que esta estraté-
A capacidade de governo trata do domínio de gia fosse incorporada oportunamente às ações
técnicas, métodos e habilidades necessários para de gestão para ampliar a capilaridade institu-
os atores conduzirem processos teóricos, meto- cional da DAB em cooperação com municípios,
dológicos e técnicos de governo17. Evidenciou-se reconfigurando o escopo das TIC para além da
que a capacidade de governo estadual foi maior capacitação profissional de equipes de APS e do
em estratégias de maior expertise da gestão cen- matriciamento da atenção especializada à aten-
tral, a exemplo do manejo das TIC e da coopera- ção básica. Esse achado difere de experiências
ção com os níveis regional/municipal. nacionais32 e internacionais33 de uso das TIC, co-
Por outro lado, a capacidade de gestão es- mumente vinculadas ao cuidado de usuários no
tadual na pandemia foi heterogênea no âmbito contexto da COVID-19.
regional, o que condicionou o apoio e monito- Por fim, o ato de governar envolve uma di-
ramento das ações municipais e se relaciona com versidade de projetos em disputa e pode refletir
a lógica de recentralização da gestão regional no interesses divergentes entre os atores sociais17.
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Colaboradores
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