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TEMAS LIVRES FREE THEMES


A política federal de saneamento básico e as iniciativas
de participação, mobilização, controle social, educação em saúde
e ambiental nos programas governamentais de saneamento

The federal politics of basic sanitation and the initiatives


of participation, mobilization, social control, health
and environmental education

Márcia Moisés 1
Débora Cynamon Kligerman 1
Simone Cynamon Cohen 1
Sandra Conceição Ferreira Monteiro 1

Abstract The purpose of this article is to accom- Resumo O presente artigo se propõe a relatar
plish a critical analysis of two governmental im- uma análise crítica de dois programas governa-
portant programs in health and environmental mentais - os Programas de Educação em Saúde e
education – Health Education and Social Mobi- Mobilização Social (PESMS), da Fundação Nacio-
lization Program (PESMS) and Environmental nal de Saúde (FUNASA), e de Educação Ambien-
Education and Sanitation Social Mobilization tal e Mobilização Social em Saneamento (PEA-
Program (PEAMSS), aiming at stimulate partic- MSS), do Ministério das Cidades (MCidades). Os
ipative educational actions and social mobiliza- referidos programas visam fomentar ações educa-
tion in sanitation projects. The methodology was tivas participativas e a mobilização social em pro-
based on reading and analysis of documents and jetos de saneamento. A metodologia utilizada ba-
observation in Workshops, Meetings, Seminars, seou-se na leitura e análise documental e em ob-
Conventions, Congresses and Interviews. The servações oportunizadas por meio de participa-
authors describe the process of Program creation ções em seminários, encontros, reuniões, oficinas
- PESMS and PEAMSS. They promoted a reflec- e entrevistas. Os autores abordam a criação do
tion and thought about Participation, Mobiliza- PESMS e do PEAMSS, promovendo uma reflexão
tion, Social Control, Health Education and En- sobre os conceitos relativos à participação, mobi-
vironmental Education. They also made consid- lização, controle social, educação em saúde e edu-
erations about the difficulties, facilities, advances cação ambiental. Fazem considerações quanto às
and challenges in the implantation and imple- dificuldades, facilidades, avanços e desafios na im-
mentation of PESMS and PEAMSS in the funda- plantação e na implementação dos programas
ment for the realization of the public services of quanto aos princípios fundamentais para presta-
basic sanitation. They conclude that the creation ção de serviços públicos de saneamento básico.
of conditions by means of initiatives of Participa- Concluem que, para o desenvolvimento da Políti-
tion, Mobilization, Social Control, Health Edu- ca Federal de Saneamento Básico, se faz necessá-
1
Departamento de cation and Environm ental Education becom e rio criar condições mediante iniciativas de parti-
Saneamento e Saúde
necessary for the development of Federal Policies cipação, mobilização, controle social, educação
Ambiental, Escola Nacional
de Saúde Pública Sérgio of Basic Sanitation. em saúde e educação ambiental.
Arouca, Fundação Oswaldo Key words Sanitation policies, Participation, Palavras-chave Política de saneamento, Partici-
Cruz. Av. Leopoldo Bulhões
Mobilization, Social control, Health education, pação, Mobilização, Controle social, Educação em
1.480, Manguinhos. 21041-
210 Rio de Janeiro RJ. Environmental education saúde, Educação ambiental
marciamoises@ensp.fiocruz.br
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Moisés M et al.

Introdução - a Política Federal pessoas decidem compartilhar suas necessidades,


de Saneamento Básico aspirações e experiências, com o objetivo de me-
e seus princípios fundamentais lhorar suas condições de vida. Para isso, se en-
contram, se organizam, identificam prioridades,
No contexto brasileiro, as cidades cresceram ver- dividem tarefas, estabelecem metas e estratégias
tiginosamente sem o devido acompanhamento de acordo com os recursos (financeiros, técnicos
de infraestrutura básica, gerando ambientes in- e humanos) existentes e aqueles que poderão ser
salubres e exclusão social. Exclusão das classes obtidos através de parcerias e definem com clare-
populares em termo de acesso a serviços urba- za os diferentes papéis dentro do planejamento
nos. Segundo o Ministério das Cidades, as cida- de ações. Segundo Bordenave4, a participação é
des brasileiras abrigavam, há menos de um sé- uma necessidade humana e, por conseguinte,
culo, 10% da população nacional1. Atualmente, constitui um direito das pessoas; justifica-se por
são 82%. Incharam, num processo perverso de si mesma, não por seus resultados. Ressalta que é
exclusão e de desigualdade. Como resultado, 6,6 algo que se aprende e se aperfeiçoa.
milhões de famílias não possuem moradia, 11% Demo 5 afirma que é uma conquista proces-
dos domicílios urbanos não têm acesso ao siste- sual e efetiva. A participação pode ser utilizada
ma de abastecimento de água potável e quase como um instrumento de gestão social e gerên-
50% não estão ligados às redes coletoras de es- cia comunitária.
gotamento sanitário. Em municípios de todos Nesse sentido, aproxima-se do conceito do
os portes, multiplicam-se favelas. Dados de 20042, controle social, pois há a necessidade, por parte
contidos no diagnóstico dos serviços de água e da sociedade, de controlar o poder público, es-
esgotos do Sistema Nacional de Informações em pecialmente no âmbito local, onde os progra-
Saneamento (SNIS) 2, registram que o índice mé- mas devem ser efetivados, com o acompanha-
dio nacional de abastecimento de água é de 95,4%; mento das suas metas, objetivos e planos.
em contrapartida, os serviços de esgotamento Para Moisés6-8, a mobilização social dentro
sanitário e tratamento de esgotos apresentam de uma concepção mais crítica da realidade não
baixos índices na média nacional: de 50,3% e se limita a preparar, arregimentar ou engajar in-
31,3%, respectivamente. divíduos, famílias e coletividade para uma ação
Em face desta realidade, o setor de saneamen- política ou reivindicatória. Não se restringe à exe-
to há mais de vinte anos luta por uma Política cução de ações, projetos ou programas já prees-
Federal de Saneamento Básico que acaba de ser tabelecidos. É também um processo de incentivo
regulamentada pela Lei 11.445 de 05/01/20073. A à participação efetiva dos recursos das comuni-
referida lei estabelece as diretrizes nacionais para dades locais, capacitados, fortalecidos e organi-
o saneamento básico e para a Política Federal de zados por processos educativos transformado-
Saneamento Básico. res. Mobilizando-os para o planejamento, a exe-
A Política Federal de Saneamento Básico tem cução e a avaliação de ações, projetos e progra-
como atribuições capacitar pessoas, fomentar o mas governamentais, buscando soluções mais
desenvolvimento institucional e propiciar apoio próximas da realidade e dos meios que as comu-
técnico a todos os agentes que atuam no setor. A nidades e organizações dispõem. Consolidando
Lei 11.445, em seus artigos 2º e 3º, estabelece que e expandindo parcerias, promovendo e aumen-
os serviços públicos de saneamento básico serão tando a capacidade comunitária de resolver seus
prestados tendo como um dos princípios funda- próprios problemas.
mentais o controle social; considerando-o como A educação no contexto da saúde e do sane-
um conjunto de mecanismos e procedimentos que amento pode ser definida como uma prática so-
garantem à sociedade informações, representações cial que recomenda não só a mudança de hábi-
técnicas e participações nos processos de formula- tos, práticas e atitudes, a transmissão e apreen-
ção de políticas, de planejamento e de avaliação são de conhecimentos. Mas, principalmente a
relacionadas aos serviços públicos de saneamento mudança gradual na forma de pensar, sentir e
básico3. A Lei 11.445 dá ênfase ao apoio à socie- agir através da seleção e utilização de métodos
dade para a participação e o exercício democráti- pedagógicos participativos e problematizadores.
co do controle social. Sempre tendo em vista a Sendo assim, educar e aprender torna-se um pro-
contribuição para a universalização do acesso à cesso contínuo de indagação, reflexão, questio-
melhoria da qualidade e a máxima produtivida- namento e, principalmente, de construção cole-
de na prestação dos serviços de saneamento. tiva, articulada e compartilhada6-8.
A participação, nesse contexto, é apontada O educador e o educando tornam-se sujei-
como um processo que se inicia quando várias tos e atores do processo educativo que estimula,
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continuamente, a organização de ações coletivas problemas que lhe são associados. Que tenha
e solidárias, incentivando e valorizando o diálo- conhecimentos, habilidades, atitudes, motivações
go, a criatividade e a criticidade, objetivando a e compromissos para trabalhar individual e co-
busca de soluções para as questões da saúde, do letivamente na busca de soluções para os proble-
saneamento e do ambiente, que afetam as comu- mas existentes e para a prevenção dos novos12,13.
nidades em prol da melhoria da qualidade de A Lei 9.795/99 de 27/04/199912, que dispõe sobre
vida. Educar tornar-se buscar o fortalecimento a educação ambiental e institui a Política Nacio-
da autonomia do educando e não sua dependên- nal de Educação Ambiental, define-a em seu arti-
cia, capacitando-o para a tomada de decisões e o go 2º como “um componente essencial e perma-
exercício do controle da própria vida6,7. nente da educação nacional, devendo estar pre-
Assim, indivíduos, famílias e coletividade, sente, de forma articulada, em todos os níveis e
sensibilizados, capacitados e fortalecidos para o modalidades do processo educativo, em caráter
enfrentamento dessas questões, obtêm condições formal e não-formal”14. Assim, a educação am-
para identificar, conhecer, analisar e avaliar os biental mostra-se voltada para a formação de
motivos de ocorrência dos problemas que afe- uma educação política.
tam a saúde. Tomam consciência dessa realidade Ressalta-se que o controle social é uma for-
e participam das decisões para modificá-la, re- ma de participação e mobilização e que a educa-
conhecendo seu papel transformador e criador, ção em saúde e ambiental são elementos facilita-
colaborando de forma efetiva na solução e/ou dores desse processo. A participação, a mobili-
encaminhamentos de problemas. zação e o controle social funcionam como um
A educação apresenta-se como um processo eixo transversal, unindo a educação em saúde, a
de formação dinâmico, transformador, abran- educação ambiental e o saneamento básico.
gente, permanente e participativo, no qual as pes- Nesse sentido, a educação em saúde e ambi-
soas envolvidas passem a ser agentes transfor- ental, na medida em que mobilizam os usuários
madores, participando ativamente tanto do di- para o exercício do controle social, que inclui sua
agnóstico dos problemas, do planejamento, da participação no planejamento, no acompanha-
execução, do monitoramento e avaliação das mento e na avaliação da gestão e de seu compro-
ações, da busca de alternativas e da implantação metimento para o uso adequado dos serviços
de soluções. prestados, constituem instrumentos que contri-
Dentro desse contexto, o processo educativo buem para a qualificação do gasto público em
questiona as práticas educativas autoritárias, per- saneamento e a destinação eficiente dos recursos
suasivas e de condicionamento, da mera transmis- de forma a assegurar que sejam alocados e apli-
são de informações e conhecimentos, distantes da cados com eficácia e eficiência, revertendo em
realidade e do estilo de vida dos indivíduos6,7. benefícios diretos à população, bem como na
Quanto ao conceito de educação em saúde, sustentabilidade dos serviços de saneamento.
as Diretrizes de Educação em Saúde organizadas Para a implementação da Política Federal de
pela FUNASA, mencionam-no como “um con- Saneamento Básico, se faz necessário criar con-
junto de práticas pedagógicas e sociais, de con- dições materiais para a participação e o controle
teúdo técnico e científico no âmbito das práticas social. Este esforço vem sendo realizado, desde
de atenção à saúde”9. Enfatizam que a educação 1999, com a criação do Programa de Educação
em saúde9,10 deve ser vivenciada e compartilhada em Saúde e Mobilização Social (PESMS) pela
pelos trabalhadores da área, pelos setores orga- Fundação Nacional de Saúde (FUNASA). Como
nizados da população e consumidora de bens e também, desde 2005, pelo início do processo de
serviços de saúde e de saneamento. É citada tam- construção do Programa de Educação Ambien-
bém, no documento, como uma prática social, tal e Mobilização Social em Saneamento (PEA-
cujo processo contribui para a formação de cons- MSS), coordenado pela Secretaria Nacional de
ciência crítica das pessoas a respeito de seus pro- Saneamento Ambiental (SNSA) do Ministério das
blemas, a partir da sua realidade, possibilitando Cidades (MCidades).
à população o desenvolvimento de estratégias de Visando enfrentar essa problemática e forta-
ação que contribuam para a construção do pro- lecer ações de educação e mobilização social em
cesso de cidadania9,10. saneamento, a SNSA do MCidades criou o Gru-
A educação ambiental é relatada no Capítulo po de Trabalho Interinstitucional de Educação
36 da Agenda 2111 como o processo que busca Ambiental e Mobilização Social para o Saneamen-
desenvolver uma população que seja consciente to (GT-EAMSS). O GT - EAMSS foi incumbido
e preocupada com o meio ambiente e com os de fomentar a construção do PEAMSS, sendo o
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Departamento de Saneamento e Saúde (DSSA) no Conselho Nacional de Saúde (CNS). A CO-


da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da MED foi extinta em 1998 e transformada em As-
Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) o facilita- sessoria de Comunicação Social (ASCOM).
dor no processo de estruturação do programa. O PESMS teve como meta o fortalecimento
O PESMS e o PEAMSS foram criados para da política de saneamento em saúde pública. Esta
minimizar a fragmentação existente, a falta de meta se deve ao fato da necessidade de otimiza-
unidade e do baixo impacto efetivo das diferen- ção dos recursos orçamentários e financeiros
tes formas de desenvolvimento de ações educati- empregados pela FUNASA em obras de sanea-
vas em educação em saúde e ambiental conduzi- mento, face à ausência de estratégias de ação
das sob a orientação dos programas do sanea- mobilizadoras e participativas da população.
mento. Assim, fomentaram-se, em âmbito go- A proposta do programa foi de sensibilizar
vernamental, reflexões sobre a necessidade e con- os gestores e as organizações sociais para a im-
veniência da formulação de diretrizes para as portância da efetiva participação da comunida-
ações de educação em saúde, educação ambien- de no desenvolvimento de ações de prevenção e
tal e mobilização social em saneamento. Particu- controle de doenças, contribuindo para a me-
larmente, em relação às comunidades atendidas lhoria da qualidade de vida da população, incen-
pelas ações e investimentos governamentais na tivando a cidadania e otimizando a aplicação de
área, de forma a estimular a participação da so- recursos orçamentários e financeiros, tendo a
ciedade e conferir maior capacidade de consoli- educação como medida de melhor aproveitamen-
dação e dar sustentabilidade aos projetos e as to do investimento material. Seu modelo, consi-
políticas públicas para o saneamento. derado por técnicos da FUNASA como didático
Um dos princípios fundamentais para pres- e autoexplicativo de planejamento, vem servindo
tação de serviços públicos de saneamento básico, de estímulo para a criação de outros programas
citado na Lei n o 11.4453 é o controle social. Outro e projetos por parte de estados e municípios e, na
princípio, fundamental, é a adoção de métodos, prática, tem contribuído para aumentar a auto-
técnicas e processos que considerem as peculiari- estima e, consequentemente, o grau de satisfação
dades locais e regionais, que pode ser expresso em das populações beneficiadas.
ações educativas participativas de educação em Para tanto, duas portarias foram fundamen-
saúde e ambiental. Propõe-se, por meio deste ar- tais: a Portaria nº 176, de 28/03/200015 e a Porta-
tigo, realizar uma análise crítica do processo de ria nº 106/200416. A primeira estipulou critérios e
construção destes dois programas governamen- procedimentos para a aplicação de recursos fi-
tais, o PESMS e o PEAMSS, que têm influência nanceiros que permitiram o desenvolvimento do
direta nos serviços públicos de saneamento. PESMS e criou condições necessárias para o fi-
nanciamento de projetos sociais. A segunda apon-
tou orientações técnicas para elaboração do PES-
A criação do PESMS e do PEAMSS MS e previu ações de educação em saúde que
visam fomentar a participação e a organização
O PESMS foi criado no âmbito da FUNASA em comunitária; afirma ser essencial a priorização
1999, por um grupo de técnicos da Assessoria de das ações, a observação das condições específicas da
Comunicação e Educação em Saúde (ASCOM) execução dos projetos, a sustentabilidade, variação
da esfera central, das Coordenações Regionais dos indicadores de saúde e outras questões relati-
(CORE) e de outras áreas técnicas da FUNASA. vas à viabilidade técnica dos projetos apresentados
Anteriormente, as ações da FUNASA com e o interesse público16.
relação à educação em saúde eram de responsa- O PESMS tem sua metodologia calcada nas
bilidade da Coordenação de Educação em Saú- ações planejadas a partir do diagnóstico situaci-
de, Comunicação e Documentação (COMED), onal. Sua análise direciona-se para os recursos e
ligada à Assessoria de Planejamento Estratégico atividades educativas programadas. O acompa-
(ASPLAN), com o objetivo de participar, ativa- nhamento do programa se dá por meio de três
mente, dos processos de planejamento e atuação visitas in loco para supervisão, cumprindo uma
em todas as áreas. A proposta inicial era utilizar exigência legal, conforme orientação do Tribunal
o planejamento estratégico e, além disso, asses- de Contas da União (TCU), acórdão nº 309 de
sorar os programas de controle de endemias. Em fevereiro de 2003, processo de auditoria n o
1994, foram estabelecidas as Diretrizes de Educa- 005084/2002-016,17. Com isso, pretendeu-se for-
ção em Saúde da FUNASA9, dentro da proposta talecer a ação integrada da FUNASA com esta-
do Ministério da Saúde (MS), sendo aprovada dos e municípios e com os demais programas de
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governo de forma transversal e descentralizada, O programa é coordenado pelo GT-EAMSS
estimulando a inclusão social em todo o país. e, para facilitar o processo de construção coletiva
As ações de saneamento seguem as diretrizes de suas diretrizes, foi estabelecido um convênio28
definidas pela Resolução nº 322 de 08 de maio de entre o MCidades e a Fundação para o Desenvol-
2003 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) 18 e a vimento Científico e Tecnológico em Saúde (Fio-
aplicação é prioritária em municípios com po- tec) da Fiocruz, em janeiro de 2006, contando com
pulação até trinta mil habitantes, observando a colaboração de especialistas da ENSP/Fiocruz.
critérios epidemiológicos e sanitários, e com bai- O PEAMSS está sendo construído com embasa-
xo índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e mento teórico-conceitual dos seguintes progra-
também os definidos como prioritários pelo Pro- mas e documentos oficiais: o PESMS da FUNA-
grama Fome Zero. SA19-24; a Lei n o 9.795/9914 de 27/04/1999; a Lei n o
Os proponentes deverão promover ações de 11.445 de 05/01/20073 e o Programa de Formação
educação em saúde e de mobilização social duran- de Educadores (as) Ambientais da DEA/MMA29.
te as fases de planejamento, implantação e opera- O PEAMSS tem como objetivo geral qualifi-
ção das obras e serviços de engenharia como uma car as ações de educação ambiental em sanea-
estratégia integrada para alcançar os indicadores mento, de forma que elas sejam transformado-
de impacto correspondentes, de modo a estimular ras, continuadas e contribuam para a constru-
o controle social e a participação da comunidade ção de sociedades sustentáveis30, tendo como pre-
beneficiada. Além disso, é necessário assumirem missa básica construir novos valores sociais, co-
compromisso de implantação ou extensão do Pro- nhecimentos, habilidades, atitudes e competên-
grama de Agentes Comunitários de Saúde, con- cias, voltadas para a ampliação e melhoria da
forme definido pelo MS, naquelas localidades be- qualidade dos serviços de infraestrutura sanitá-
neficiadas pela ação dos recursos do convênio. ria. Além do uso racional e da conservação dos
Segundo os documentos oficiais19-24, a rele- recursos naturais e dos patrimônios culturais,
vância do PESMS está calcada nos princípios da conferindo sustentabilidade e otimização dos in-
descentralização, integralidade, equidade, parti- vestimentos públicos. E garantir a melhoria da
cipação e controle social, que perpassam as ações saúde e do meio ambiente.
de saneamento. Em 2006, o PESMS foi reorde- Seus objetivos específicos, quanto às ações em
nado, passando a ser responsabilidade da Coor- saneamento, são: articular a Política Federal de
denação Geral de Recursos Humanos do Depar- Saneamento Básico com as demais políticas pú-
tamento de Administração da FUNASA10,25,26. blicas; apoiar e estimular processos de educação
Com o intuito de construir um Programa de ambiental voltados para a mobilização e forma-
Educação Ambiental e Mobilização Social em ção de atores sociais; promover a incorporação
Saneamento que incentivasse a participação de da educação ambiental na execução de ações de
diversos ministérios, a SNSA firmou uma parce- saneamento básico, visando contribuir perma-
ria com outros órgãos do governo federal que nentemente para o exercício do controle social;
atuam no saneamento e na educação ambiental. estimular a criação de grupos de discussão e de-
Em janeiro de 2005, foi detectada a necessida- bate das realidades locais para o desenvolvimen-
de de criação do Grupo GT-EAMSS, responsável to de mecanismos de articulação social, fortale-
por fomentar um processo de construção coleti- cendo as práticas comunitárias sustentáveis de
va para o PEAMSS. O GT-EAMSS, instituído pela promoção da participação popular nos proces-
Portaria Ministerial nº 218, de 09/05/200627, do sos decisórios, na implantação, na gestão e moni-
MCidades, é formado pelos seguintes órgãos: toramento das ações de saneamento; apoiar o
Ministério do Meio Ambiente (MMA) - Diretoria fortalecimento de instituições e seus sujeitos soci-
de Educação Ambiental(DEA), Secretaria Nacio- ais para atuarem de forma autônoma, crítica e
nal de Recursos Hídricos e Secretaria Nacional de inovadora em processos formativos, ampliando
Qualidade Ambiental; Ministério da Educação o envolvimento da sociedade nas ações de educa-
( MEC) - Coor d en ação Ger al d e Ed u cação ção ambiental em saneamento; sistematizar e dis-
Ambiental(CGEA); Ministério da Integração Na- ponibilizar informações sobre experiências exito-
cional (MI) - Secretaria de Infraestrutura Hídri- sas na área de educação ambiental em saneamen-
ca; Ministério da Saúde (MS) - Fundação Nacio- to; apoiar novas iniciativas de projetos de educa-
nal de Saúde (FUNASA) e Fundação Oswaldo ção ambiental em saneamento; promover e apoi-
Cruz (Fiocruz) - Departamento de Saneamento e ar a produção e a disseminação de materiais edu-
Saúde(DSSA) da Escola Nacional de Saúde Públi- cativos sobre saneamento e mobilização social em
ca (ENSP); e Caixa Econômica Federal (CEF). saneamento e incentivar o uso de tecnologias so-
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ciais sustentáveis que reflitam as realidades soci- Desafios e avanços quanto à participação,
ais, ambientais, econômicas e culturais de cada mobilização, controle social, educação
região30. Tem como público-alvo gestores dos di- em saúde e ambiental nos programas
versos níveis de governo: federal, estaduais e mu- governamentais - PESMS e PEAMSS
nicipais e de órgãos prestadores de serviço de sa-
neamento público e privado; parlamentares; téc- As análises críticas quanto ao PESMS, bem como
nicos do executivo, legislativo, judiciário e de ór- a estruturação do PEAMSS, estão calcadas em
gãos prestadores de serviço de saneamento; pro- leitura e análise documental, como também em
fessores e estudantes dos diversos níveis de ensi- observações. Estas vêm sendo oportunizadas por
no; pesquisadores; sociedade civil organizada; meio de participações em seminários, encontros,
comunidades beneficiadas com ações de sanea- reuniões ampliadas, oficinas e entrevistas com
mento e empresários de setores ligados a ativida- técnicos da FUNASA, do MCidades, integrantes
des de parcelamento ou afins. Sua metodologia é do GT-EAMSS e outros representantes do go-
fundamentada no diagnóstico do estado da arte verno federal, estadual e municipal e pela iniciati-
da educação ambiental em saneamento; na avali- va privada31,32.
ação das ações do governo federal para o sanea- Pode-se apontar como crítica principal ao
mento; na análise de experiências em curso; na PESMS o seu processo de construção, com parti-
proposição do programa e na reflexão e valida- cipação apenas de alguns técnicos da Presidência
ção de seu conteúdo em debate com a sociedade e e das Coordenações Regionais da FUNASA, pro-
as diferentes partes interessadas. piciando um processo de exclusão, contraditó-
Requer o envolvimento e a participação da rio à filosofia do programa. Isto veio a inviabili-
comunidade localmente, desde a concepção do zar inclusive a participação de técnicos da pró-
projeto, de forma a possibilitar a organização pria instituição,
social, a fim de que esta possa garantir a conti- Ao longo dos anos, o programa vem sofren-
nuidade das ações de educação ambiental e, com do algumas modificações, com decisões centrali-
isso, a sustentabilidade das intervenções em sa- zadas em sua gerência e pouco divulgadas. Im-
neamento. Suas diretrizes e seus conteúdos auxi- portan tes observações foram apon tadas por
liares caracterizam-se como ferramentas de apoio Melo 33: os aplicadores locais desconhecem o ob-
aos programas, projetos e ações governamentais jetivo principal do PESMS. Suas técnicas de co-
em saneamento, como também à mobilização municação e educação em saúde são, exclusiva-
social e à indução do protagonismo da socieda- mente, informativas, não permitindo fortaleci-
de e das comunidades e suas lideranças na arti- mento da participação comunitária e social. Na
culação e gestão das ações e práticas locais. pesquisa, também são sinalizadas outras dificul-
Por seu caráter conceitual, de informação e dades: os objetivos específicos não são coerentes
mobilização, pauta-se pela promoção do direito com o objetivo geral do programa, pois estabe-
à cidadania, dos direitos à saúde e à qualidade de lecem uma meta exclusivamente informativa e
vida e da sustentabilidade ambiental, e pelos se- inexequível, como 100% dos beneficiados infor-
guintes princípios fundamentais: transversalida- mados; existem problemas de informação e co-
de; transparência e diálogo; continuidade e per- municação como clareza desses objetivos para
manência; emancipação e democracia e tolerân- gestores, técnicos e agentes; não há atualização e
cia e respeito. participação do processo de mudança das orien-
O PEAMSS propõe-se a reconhecer o caráter tações quanto à aplicação do programa; não há
permanente e a transversalidade da educação planejamento participativo e as ações de educa-
ambiental e potencializar ações e projetos (gover- ção em saúde se concentram na execução da obra;
namentais e da sociedade civil organizada), tendo não há atualização e dinâmica nas práticas de
como foco estimular a participação e o controle comunicação e educação por falta do processo
social visando provocar uma mudança na lógica reflexivo e ausência de ações intersetoriais na apli-
do investimento em saneamento. A comunidade cação do PESMS33.
é considerada como participante de todo o pro- Foi constatada também uma contradição quan-
cesso desde o planejamento, a execução e a avali- to à passagem do programa de condição obriga-
ação das ações. Com isso, visa ao fortalecimento tória para específica na aplicação de recursos fi-
da cidadania e ao reconhecimento da importân- nanceiros em projetos passíveis de financiamento
cia do saneamento para a melhoria da saúde pú- pela instituição. Ainda foi verificado o desligamento
blica, da qualidade de vida e para o enfrentamen- da equipe de educação em saúde da FUNASA da
to dos problemas socioambientais. ASCOM, em um processo apontado como auto-
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ritário e centralizador. Isto se deu pela ausência de organizarem, internamente, e promover ações
participação efetiva das equipes de educação das educativas, também, para as outras áreas, dife-
CORE e dos estados e municípios. rentes do objeto do projeto proposto para finan-
Em contraponto, podem-se registrar como ciamento. Para tanto, é fundamental o envolvi-
facilidades e avanços do PESMS as parcerias in- mento de técnicos dessas secretarias no planeja-
terministeriais atualmente firmadas com o Mi- mento, na execução e na avaliação do PESMS.
nistério da Saúde, Ministério das Cidades, da Técnicos da FUNASA apontam que a educa-
Segurança Alimentar e Combate à Fome, Minis- ção em saúde e mobilização social são áreas de
tério da Edu cação (MEC), Meio Am bien te conhecimento e estratégias que necessitam de uma
(MMA); govern os estadu ais e m u n icipais e avaliação qualitativa de seus resultados, uma vez
ONGs; parcerias intersetoriais na FUNASA com que a natureza dessas ações é processual e se con-
o Departamento de Saúde Indígena (DESAI) e de cretiza a partir de mudanças de comportamen-
Engenharia de Saúde Pública (DENSP); as opor- tos, práticas e atitudes do ser humano, indivi-
tunidades de discussão e reformulação do pro- dual ou coletivamente33-35.
grama, fomentadas pela FUNASA, no ano de Os proponentes deverão promover ações de
2006, por meio da realização do III Seminário educação em saúde e de mobilização social du-
Internacional de Engenharia de Saúde Pública34 e rante as fases de planejamento, implantação e
do I Encontro Telepresencial em Educação em operação das obras e serviços de engenharia
Saúde25; a existência de cadastro de experiências como uma estratégia integrada para alcançar os
bem-sucedidas em saneamento ambiental que indicadores de im pacto correspondentes, de
possam ser implementadas em comunidades modo a estimular o controle social e a participa-
rurais, urbanas, comunidades remanescentes de ção da comunidade beneficiada. Além disso, é
quilombos, aldeias indígenas, reservas extrativis- necessário assumirem compromisso de implan-
tas e assentamentos rurais e, sobretudo, que vi- tação ou extensão do Programa de Agentes Co-
sem à promoção da saúde e inclusão social e os munitários de Saúde, conforme definido pelo MS,
espaços democráticos que vem sendo propostos naquelas localidades beneficiadas pela ação dos
e organizados pela Coordenação Geral de Recur- recursos do convênio.
sos Humanos do Departamento de Administra- Por outro lado, em relação ao PEAMSS, foi
ção da FUNASA, no qual a equipe de educação visto como uma grande oportunidade de orga-
em saúde atualmente está inserida. nizar espaços coletivos e participativos de discus-
Outra facilidade apontada pela técnica da são sobre educação ambiental e mobilização so-
FUNASA, Darcy Ventura, fundamenta-se na atu- cial em saneamento. Este programa mostra-se
ação da equipe de educação em saúde da FUNA- efetivo desde os primeiros debates para a sua
SA, que, atualmente, apresenta uma postura de construção, baseada no Termo de Referência para
assessoramento e orientação técnica-pedagógica Celebração de Convênio 28 e no Plano de Traba-
em relação ao projeto, nunca atuando de forma lho 30 intitulado “Construção coletiva de Diretri-
punitiva, prescritiva e verticalizadora35. zes para o PEAMSS”. Estruturando-se através de
Pode-se apontar que o PESMS alcançará os etapas interrelacionadas e avaliadas de forma
resultados esperados se debater seus verdadeiros contínua: (1) a elaboração de um plano de ativi-
objetivos; estabelecer metas humanizadoras em dades para o processo de construção do PEA-
detrimento de metas quantitativas; organizar for- MSS; (2) o mapa diagnóstico; (3) os observató-
mas de orientações com metodologias integra- rios regionais; (4) o fórum virtual; (5) o docu-
doras e participativas; estudar formas de promo- mento conceitual; (6) o desenho institucional; (7)
ver e garantir, na prática, a anterioridade das ações o caderno metodológico; (8) a cartilha; (9) o ví-
do PESMS nas obras de saneamento; promover deo; (10) o seminário nacional e (11) as publica-
capacitações e atualizações com todos os seus in- ções como os livros - Experiências Exitosas em
tegrantes; promover, desenvolver e participar de Educação Ambiental e Mobilização Social em Sa-
reflexões sobre práticas educativas participativas; neamento e o Processo de Construção Coletiva do
realizar diagnósticos situacionais, utilizando to- PEAM SS 30. O program a m ostra-se coeren te
das as informações do projeto ao qual está inte- quanto ao enfoque da participação e mobiliza-
grado; estimular parcerias com outras institui- ção social em todas as suas etapas.
ções e entidades, de forma a envolvê-las e com- Destaca-se como uma oportunidade de di-
prometê-las com o processo de programação da vulgação, troca e valorização de experiências re-
saúde e estimular o desenvolvimento da capaci- gionais bem-sucedidas a publicação em maio de
dade dos secretários estaduais e municipais de se 2006 do Edital de Concurso nº. 002/200636 para
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Moisés M et al.

seleção pública de experiências exitosas em edu- ma continuada e sustentada, a construção da


cação ambiental em saneamento. A referida sele- autonomia comunitária para a solução dos pro-
ção subsidiou o mapeamento do panorama atu- blemas socioambientais em saneamento, como
al da educação ambiental com ênfase nos temas também a cidadania ambiental. Outros registros
relacionados ao saneamento ambiental e outras importantes são a articulação e a efetiva partici-
políticas como saúde, desenvolvimento urbano pação de membros da equipe de educação em
e meio ambiente. Foram selecionadas 25 expe- saúde da FUNASA, criadores do PESMS, como
riências das cinco regiões geográficas do Brasil. membros do GT-EAMSS, contribuindo com a
A participação efetiva de atores sociais, de construção do PEAMSS, como também de inte-
diferentes segmentos nas diversas etapas de cons- grantes de outros programas ministeriais como
trução do programa, vem abrindo um espaço de MCidades, MEC, MI e MMA.
socialização para a articulação de experiências e No processo de construção do PEAMSS37,38,
conhecimentos. Também vem permitindo a for- foram identificados alguns obstáculos nas entre-
mulação de questões que permeiam a temática vistas realizadas35 e nos cinco observatórios regi-
proposta, com vistas à discussão sobre as de- onais ocorridos em 200639-43 que deverão ser ul-
mandas e decisões políticas. Este fato contribui trapassados, como o despreparo de gestores, téc-
para que seja possível levantar as facilidades e as nicos, educadores, comunidade e outros repre-
dificuldades encontradas nas diferentes práticas sentantes para participar de projetos que fomen-
profissionais, bem como elaborar estratégias que tem ampla participação; a ausência e/ou inefici-
apontam as suas diretrizes. ência de recursos financeiros para projetos em
Seu conteúdo segue uma abordagem que ca- mobilização social e a percepção diferenciada do
racteriza o saneamento como uma política soci- entendimento do conceito de educação ambien-
al, que incorpora as necessidades e o protagonis- tal e de mobilização social.
mo da comunidade; a busca da redução das de-
sigualdades; a universalização do acesso aos di-
reitos sociais e a ampliação da cidadania. Confi- Considerações finais
gurando-se, portanto, como um serviço público
de caráter social e essencial, com locus de gestão O PESMS e o PEAMSS registram a importância
na esfera pública e relação de usuários na inter- da participação, da mobilização, do controle so-
face com os cidadãos. cial e da educação em saúde e ambiental, perme-
O PEAMSS tem suas ações destinadas a asse- ando a política de saneamento, visando ao em-
gurar, no âmbito educativo, a interação e a inte- poderamento dos grupos sociais para efetiva in-
gração equilibradas das múltiplas dimensões da serção e intervenção nesses processos. O foco
sustentabilidade ambiental (ecológica, social, éti- principal dos dois programas é o atendimento
ca, cultural, econômica, espacial e política) e o as comunidades por meio de ações e investimen-
desenvolvimento do país, buscando a participa- tos em saneamento, a fim de conferir sustentabi-
ção efetiva na proteção, recuperação e melhoria lidade a essas ações.
das condições ambientais e da qualidade de vida. No processo de implementação da nova Lei
A metodologia utilizada na elaboração do de Saneamento, torna-se fundamental a cons-
PEAMSS preconiza as práticas pedagógicas par- trução participativa de Programas de Educação
ticipativas e problematizadoras, propondo e pro- em Saúde e Ambiental e de Mobilização Social
piciando discussões e debates por meio de expo- em Saneamento, para que promovam a adoção
sições dialogadas; análises e avaliações de experi- de novos valores e o controle social na gestão da
ências e o levantamento das facilidades e dificul- política de saneamento. O apoio à qualificação
dades vivenciadas, apontando estratégias, cap- da gestão e da participação da sociedade é funda-
tando e apreendendo percepções, observações e mental para o sucesso no planejamento e na exe-
proposições que venham a contribuir para a cons- cução de políticas de saneamento, na medida em
trução de suas diretrizes. que melhor orientam a definição de estratégias e
Nesta direção, o PEAMSS propõe potenci- o controle social dos serviços públicos. Políticas
alizar ações e projetos já existentes, orientando públicas fundadas na afirmação da integração e
os programas de educação ambiental em sanea- da solidariedade social podem transformar as
mento do MCidades e outros ministérios, como precárias condições de vida dos cidadãos.
também da sociedade civil organizada. Dá-se A simples retomada dos investimentos, sem
ênfase para que não se limitem ao período de sólidas referências jurídicas e institucionais, não
intervenção das obras, mas que induzam, de for- será uma estratégia suficiente para assegurar a
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consolidação da Política Federal de Saneamento A grande questão que se coloca é a compre-
Básico. O quadro institucional exige a articula- ensão dos seus significados como processos de
ção de ministérios que atuam em saneamento. transformação e libertação, rompendo com o
Diferentes setores, por vezes, dentro de um mes- paradigma de decisões autoritárias, verticaliza-
mo ministério, executam, de forma independen- doras, centralizadas e pouco participativas dos
te, mais de um programa relacionado com di- projetos de saneamento.
versas temáticas do saneamento, sem interface Aceitas estas considerações, ressalta-se que,
com outros possíveis parceiros. A política de sa- para haver efetiva participação e controle social,
neamento deve interagir com outras políticas, alguns desafios deverão ser transpostos, como a
como as de saúde e as ambientais. A sociedade instituição de ações, mecanismos e instrumentos
também tem o seu papel na participação e no de mobilização para o controle social no sanea-
controle social, no planejamento e implantação mento; o fortalecimento da formação de parceri-
dos programas de saneamento, visando à otimi- as; o respeito à diversidade cultural e ao saber
zação destes investimentos. popular e a criação de linhas de financiamento
Postula-se que a educação em saúde, a edu- especificas que garantam e assegurem os recursos
cação ambiental e a mobilização social são pro- para as ações permanentes de educação em saúde
cessos permanentes de transformação social, e ambiental e mobilização social em saneamento .
contribuindo no apoio à sociedade para a par- As experiências, ações, projetos e programas
ticipação e para o exercício democrático do con- como o PESMS e, mais recentemente, o PEAMSS,
trole social em ações de saneamento. vêm apontando para caminhos mais alvissareiros.

Colaboradores

M Moisés trabalhou na concepção, pesquisa,


metodologia e redação final. DC Kligerman tra-
balhou na concepção, pesquisa, metodologia e
redação final. SC Cohen trabalhou na concep-
ção, pesquisa, metodologia e redação final. SCF
Monteiro trabalhou na redação final.

Agradecimentos

Aos integrantes da Secretaria Nacional de Sanea-


mento Ambiental do Ministério das Cidades. A
todos os participantes do processo de constru-
ção do PEAMSS.
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Moisés M et al.

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