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Pedagogia

A POSTURA DO DOCENTE NA ATUALIDADE: RESPONSABILIDADE NO


DESAFIO DE SE ALCANÇAR A EDUCAÇÃO DE QUALIDADE
Como citar esse artigo:

SANTOS, Tamires Cândida José; SOUZA, Vani Pereira; BONFIM,


Rosa Jussara: A POSTURA DO DOCENTE NA ATUALIDADE:
RESPONSABILIDADE NO DESAFIO DE SE ALCANÇAR A EDUCAÇÃO
DE QUALIDADE . Anais do 1° Simpósio de TCC, das faculdades FINOM
e Tecsoma. 2019; 1850-1864

Tam ires Cândida José dos Santos¹, Vani Pereira de Souza¹, Rosa Jussara Bonfim²
1 Acadêmicas do Curso de Pedagogia
2 Professora Orientadora do Curso de Pedagogia

RESUMO
O presente artigo tem como objetivo discutir a postura do docente frente aos desafios e a
responsabilidade de mediador/professor no século XXI, ofertando educação de qualidade em
consonância com as exigências da atualidade, contextualizando as competências e os paradigmas
educativos no trabalho docente para conhecer como se dá a formação inicial e continuada do docente
na atualidade, estabelecendo um parâmetro entre a formação e a docência. A metodologia aplicada foi
a revisão bibliográfica realizada em livros, revistas, sites e artigos e, a entrevista com docentes que
atuam em escolas públicas. O tema foi escolhido por ser um assunto de grande importância neste
momento em que se questiona a qualidade da educação ofertada e consequentemente, a atuação do
professor frente aos desafios de ser o principal organizador dessa educação, pois se trata do fazer
educativo, motivando o aluno a se comprometer com a aprendizagem significativa que o leve a ser
autônomo em seus estudos.
Palavras-chave: Docente. Formação. Atuação. Educação
ABSTRACT
This article aims to discuss the teacher's attitude towards the challenges and the mediator / teacher
responsibility in the 21st century, offering quality education in line with today's requirement s ,
contextualizing the educational skills and paradigms in the teaching work to know how the initial and
ongoing training of teachers is currently taking place, establishing a parameter between training and
teaching. The applied methodology was the bibliographic review carried out in books, magazines,
websites and articles and, the interview with professors who work in public schools. The theme was
chosen because it is a subject of great importance at this moment when the quality of the education
offered is questioned and, consequently, the performance of the teacher in the face of the challenges
of being the main organizer of this education, as it is about the educational activity, motivating the
student to commit to meaningful learning that leads him to be autonomous in his studies.
Keywords: Teacher. Formation. Performance. education
Contato: nip@finom.edu.br
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INTRODUÇÃO

Há quase duas décadas do início do século XXI, vê-se inúmeras mudanças


nos contextos sócio-político, culturais-econômicos que transformam o mundo e o
modo de vida das pessoas.
Na educação não é diferente, pois se trata de um seguimento que precisa
acompanhar a rapidez com que essas mudanças acontecem, sendo suporte para a
implementação de muitas delas.
Neste contexto, a escola, o professor e toda a comunidade escolar precisam
se adequar às transformações que ocorrem com grande rapidez, principalmente por
causa do fluxo de informações facilitado pelos meios de comunicação e informação,
através da internet, com que estudantes e familiares recebem e processam, muitas
vezes de forma equivocada.
Assim, o docente necessita de formação continuada e de qualidade para que
não perca a oportunidade de discutir e formar opinião acerca de qualquer assunto,
seja de ordem escolar ou social.
O tema do artigo foi escolhido por ser um assunto de grande importância neste
momento em que se questiona a qualidade da educação ofertada e
consequentemente, a atuação do professor frente aos desafios de ser o principal
organizador dessa educação, pois se trata do fazer educativo, motivando o aluno a se
comprometer com a aprendizagem.
Para o acadêmico é de suma importância compreender que a teoria e a prática
são aliadas em toda a sua atuação profissional. Por isso, a pesquisa deste assunto
proporciona conhecimento acerca da postura ética, estética e social que deve ter ao
se encontrar diante do aluno em sala de aula e na lida com a comunidade escolar e
gestores.
Nesta perspectiva, a pesquisa científica traz ao professor a oportunidade de
enriquecer o conhecimento e melhorar sua atuação profissional, agindo com maior
segurança, confiança e entusiasmo no enfrentamento dos desafios cotidianos.
O principal objetivo desta pesquisa é discutir a postura do docente frente aos
desafios e a responsabilidade de mediador/professor no século XXI, ofertando
educação de qualidade em consonância com as exigências da atualidade.
Para isso, um questionamento crescente é sobre a formação desse
profissional: deve-se priorizar a formação tecnológica? Ou multidisciplinar? A
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formação acadêmica prepara o docente para enfrentar os desafios da sala de aula?


Objetivando responder aos questionamentos foi realizada a pesquisa
bibliográfica e a seleção de autores que abordam o tema, desde a formação
acadêmica até a postura ética que norteia o professor em seu cotidiano profissional.
Essa pesquisa bibliográfica teve como principais fontes livros, revistas
eletrônicas, sites de domínio acadêmico como Google Scholar, Scielo e outros, onde
foram analisados artigos, monografias e teses de mestrado e doutorado.
A pesquisa bibliográfica foi priorizada por ser uma forma efetiva de observar
a opinião de vários autores que se dedicaram ao estudo do trabalho do docente e sua
trajetória desde a formação até a atuação na sala de aula. E, para confirmar ou refutar
as informações coletadas foram realizadas entrevistas com 07 professores atuantes
em escolas municipais e estaduais com a intenção de entender como se deu sua
formação e as dificuldades ou facilidades encontradas na atuação docente.
O desenvolvimento do artigo segue organizado em tópicos sob o enfoque
referencial dos autores pesquisados e comentários posteriores das autoras do artigo.
Não se pretende esgotar o assunto, mas discutir de forma a compreender os desafios
que envolvem a atuação docente na atualidade.

OBJETIVOS

Discutir a postura do docente frente aos desafios e a responsabilidade de


mediador/professor no século XXI, ofertando educação de qualidade em consonância
com as exigências da atualidade.
Contextualizar as competências e os paradigmas educativos no trabalho
docente.
Conhecer como se dá a formação inicial e continuada do docente na
atualidade, estabelecendo um parâmetro entre a formação e a docência.

METODOLOGIA

A metodologia é a “preocupação instrumental [...] cuida dos procedimentos,


das ferramentas, dos caminhos” (DEMO, 2000, p. 19). A metodologia trata do caminho
percorrido para chegar à finalidade do tema escolhido seguindo alguns passos
necessários para encontrar o resultado final dos objetivos propostos.
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A modalidade de pesquisa a que se refere este estudo é qualitativa, não tendo


grande preocupação com números e não utiliza métodos estáticos, considerando que
há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito estudado.
A abordagem qualitativa aceita maior aproximaçao do pesquisador com o
campo de trabalho, permitindo um melhor delineamento das questões e dos
instrumentos de coleta. É em contato com o objeto de estudo que o pesquisador
explora possibilidades acerca das respostas adequadas à sua problemática.
Quanto ao método de pesquisa utilizou-se o dedutivo. O método é dedutivo
porque parte da compreensão do todo para o particular, tendo o propósito de explicar
o conteúdo das premissas.
Quanto às técnicas, foram utilizadas: a pesquisa bibliográfica que se refere à
investigação teórica deste trabalho e, entrevista com professores para conhecer como
foi sua formação inicial, se busca a atualização de conhecimentos para aprimorar sua
prática profissional e, quais as estratégias são usadas por eles diante expansão
tecnológica e o fácil acesso do aluno à disseminação de dados por meio da internet.
Essa entrevista teve como objetivo fazer um parâmetro entre a formação e a prática
do professor.

RESULTADOS E REFLEXÕES
Formação do docente

Com o advento da globalização e avanço da tecnologia a formação e a postura


do professor em sala de aula foi reconfigurado, atendendo a padrões estipulados
pelas novas perspectivas da educação escolar.
Kullok (2000) relata em seu livro “As exigências da formação do professor na
atualidade”, capitulo I, as mudanças de paradigma no mundo moderno, que a
formação do professor atual busca novos rumos em detrimento da modernização dos
sistemas de educação para acompanhar o desenvolvimento tecnológico globalizado.
Neste sentido, “nada mais é permanente, tudo muda, tudo passa. A comunicação se
tornou a palavra de ordem. Há um novo conceito de tempo e espaço que se farão
refletir na noção de temporalidade que já não e mais um conceito estático”.
Essas mudanças se refletem na formação do professor que, antes era o
detentor do conhecimento e lecionava baseado em teorias explícitas em cartilhas
elaboradas para serem decoradas. Hoje, já não há mais lugar para esse professor
engessado. E este conceito começou a mudar a partir das pedagogias de Paulo Freire,
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ainda no século passado.


As mudanças tiveram maior respaldo com o advento da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional – LDBEN – Lei 9394/96, que ressalta as obrigações do
Estado, da família e da sociedade em ofertar educação de qualidade para “todos” os
brasileiros e, garante este atendimento por meio de normas para a gestão de
competências na escola em busca de adequações aos novos paradigmas e
exigências sociais da educação.
Moacir Gadotti, como diretor do Instituto Paulo Freire é um discípulo deste
estudioso no século XXI, mostrando os paradigmas que cercam a educação nacional
e, principalmente, o trabalho docente. Ele argumenta que essa é a era do
conhecimento quando se trata da “importância dada hoje ao conhecimento, em todos
os setores, na sociedade do conhecimento, sobretudo em consequência da
informatização e do processo de globalização das telecomunicações a ela associado”
(GADOTTI, 2000). Porém, admite-se que grandes massas ainda estão distantes
desse conhecimento no Brasil, que ainda amarga um analfabetismo inumerável e
políticas públicas que não alcançam a todos.
Assim, Gadotti (2000) comenta que a educação se tornou estratégica para o
desenvolvimento, no entanto, sua modernização não e o bastante como algumas
pessoas acreditam. É necessário transformá-la profundamente com projetos,
reestruturação curricular, planejamento a médio e longo prazos.
E onde fica o docente nesta situação? Como o aluno é sujeito de sua própria
formação, o professor precisa ser o mediador construindo conhecimento a partir do
que faz, sendo curioso, buscando sentido para o que faz e apontando novos sentidos,
caminhos e métodos no fazer dos seus alunos (GADOTTI, 2000).
Malacrida e Barros (2011) no Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão,
Presidente Prudente, 17 a 20 de outubro, 2011, afirmam que a formação do professor
é que regula sua ação, criando uma dinâmica de transformação e reconstrução, de
aprendizagem contínua de caráter formal ou não formal, que forma a identidade
profissional individual, marca registrada da ação docente.
Suze Scalcon em um texto “Formação: o viés das políticas de (trans) formação
Docente para o século XXI”, que se tornou capítulo do livro de Malu Almeida “Políticas
Educacionais & Práticas Pedagógicas: para além da mercadorização do
conhecimento”, discute as políticas de formação do professor em consequência das
mudanças ocorridas na educação nas últimas décadas, buscando se adequar as
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novas necessidades educativas na formação do cidadão pensante e ativo.


Para Scalcon (2005, p 3), diante do ideário pedagógico surgem termos que se
aliam à identidade do professor sendo abordados na formação, em fóruns, encontros
de educadores e pesquisas, analises e práticas pedagógicas. São alguns deles:
“identidade profissional, construção de identidades, competências, ensino por
competências, currículo por competências, saberes profissionais, saberes da
docência, profissional reflexivo, prática reflexiva, saberes sociais de referência”.
Mas essa preocupação com a formação do professor atual não é inerente
somente aos brasileiros. A autora portuguesa Lola Geraldes Xavier demonstra em seu
artigo “Para além da didática: investigação e práticas”, que a escola até então seguia
o padrão industrialistas da rotina, repetição e uniformalidade, a racionalidade
cartesiana e a exclusão das emoções. Para ela, “a escola de hoje está mais bonita,
mudaram-se os nomes, todavia mantém-se a pedagogia da uniformidade: para todos
os alunos, os mesmos ritmos, metodologias e avaliações. Vivem-se os ritmos da
escola da era industrial, mas na era digital” (XAVIER, 2015, p. 27).
A mesma autora argumenta que, os estudiosos da neurociência das últimas
décadas, rompem com a epistemologia positivista, criando e categorizando a
formação cultural, social e ética, incluindo novos saberes ao currículo escolar.
Saberes estes que ressaltam a vivência cotidiana do aluno (XAVIER, 2015).
Hoje, torna-se necessário pensar o ser humano como um todo, social,
emocional e político, pois, descobriu-se que as emoções são a base do conhecimento.
Conhecimento e emoções estão relacionados. A primeira e a última reação do ser
humano é repleta de emoção.
Assim, a educação se torna um processo dinâmico que busca suprir as
necessidades educativas do ser individual, enquanto se valoriza a coletividade do ser
social que se forma.
Com a entrada em vigor da Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2018),
as instituições de formação do docente passam a ter maior preocupação com o
profissional que entrega ao mercado de trabalho, pois não basta ter graduação para
ser docente.
O documento é uma proposta de transformação na atuação do docente,
exigindo que este seja o mediador, tutor, orientador, auxiliando o estudante na busca
de caminhos, deixando-o encontrar e construir seu próprio conhecimento.
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A BNCC integra a política nacional da Educação Básica e vai contribuir para


o alinhamento de outras políticas e ações, em âmbito federal, estadual e
municipal, referentes à formação de professores, à avaliação, à elaboraç ão
de conteúdos educacionais e aos critérios para a oferta de infraestrut ura
adequada para o pleno desenvolvimento da educação (BRASIL, 2018, p. 8).

A BNCC não muda só o currículo escolar, mas também, a forma de atuação


do docente, como é formado e, principalmente, avalia sua atuação, permitindo que
este transforme sua prática em favor da educação de qualidade.
Dos fundamentos da BNCC foram criados os currículos estaduais, onde cada
Estado embasado nas linhas teóricas do documento, construiu seu próprio currículo,
ou seja, sua própria maneira de desenvolver os conteúdos e habilidades
preconizadas.
Em Minas Gerais o documento foi construído com debates, fóruns, consultas
on-line e audiências no âmbito estadual e municipal, garantindo ao docente a
formação e informação acerca dessas mudanças em busca da oferta de um ensino
de qualidade e de oportunidades de formação e transformação social diversificadas,
que zelem pelo direito à aprendizagem (MINAS GERAIS, 2019).
No processo educacional, pensando na formação integral, o estudante
também precisa ter consciência de seu processo de desenvolvimento, de seu
percurso de aprendizagem: “nível de compreensão de conteúdo específicos,
habilidades desenvolvidas, dificuldades enfrentadas, desafios a serem superados,
objetivos a serem alcançados. Este tipo de avaliação tem um caráter formativo”
(LORDÊLO; ROSA; SANTANA, 2010, p. 18).
Nesta perspectiva, o professor precisa avaliar, para tomar decisões sobre
quais as situações educativas se encontra com seus alunos, podendo agir conforme
sua concepções e saberes.
Como já foi discutido acima, a formação do professor é de suma importância
para direcionar a sua atuação diante dos desafios dessa profissão/missão, implicando
o conhecimento estrutural da educação, os parâmetros norteadores, a dinâmica
escolar e, principalmente, as necessidades educativas da clientela que atende.
Quanto ao conhecimento acerca do novo Currículo Referência de Minas
Gerais, o documento exige aos docentes,

Conhecer e se apropriar dos conceitos e terminologias nele presentes para


que o trabalho em sala de aula realmente se alinhe aos direitos de
aprendizagem previstos em sua organização. Do mesmo modo, a concepção
de educação, de ensino e de aprendizagem proposta a partir do novo
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currículo, requer novas formas de planejar e estruturar o trabalho pedagógic o,


de organizar didática e metodologicamente os componentes curriculares ,
tendo em vista as habilidades e as competências que precisam ser
desenvolvidas durante a educação básica, sendo imperativo pensar em
novas formas de ensinar, de acompanhar e de avaliar as aprendizagens
(MINAS GERAIS, 2019, p. 21).

Nisso implica, estar em constante processo de aprendizagem, atentando para


as novas formas de desenvolver o trabalho docente, organizar o material, a
metodologia, pois as novas normas da educação estão estruturadas em habilidades
e competências que o estudante deve alcançar para completar seu aprendizado
diante de cada conteúdo.
No entanto, não só a formação do professor se torna desafiante no fazer
pedagógico do docente, mas há também que considerar os problemas político -
econômicos, os avanços científicos e tecnológicos que transformaram o jeito de viver
do ser humano, desconstruindo conceitos e mudando a visão de mundo do estudante.
Aquele docente que resiste a estes avanços, tende a ser ultrapassado por
seus alunos que estão em constante contato tecnológico e cientifico, ficando
desestimulados com uma educação tradicional, sem inovação.
Para Araújo e Yoshida (2009, p. 1),

Um dos grandes desafios a ser enfrentado na formação de professores é


acabar com a ideia de um modelo único de ensino. Portanto, pode-se afirmar
que nada está pronto, que este é um momento no processo de redefinição da
profissão e da compreensão da prática. E para esta redefinição, é necessário
estar atento as mudanças que estão sendo exigidas do profissional da
educação, estar aberto aos conhecimentos que se produz nesta área e que
é fundamental para o fortalecimento da profissão e para a própria
sobrevivência do educador, existe a necessidade de inovar e criar novas
estratégias de aprendizagem sempre. O educador deve se colocar na posição
de eterno aprendiz que busca uma formação profissional contínua (ARAÚJO
e YOSHIDA, 2009, p. 1).

A abertura a conhecimentos faz do docente um eterno aprendiz, o que se


torna um dos maiores desafios da educação atual que exige um profissional flexível
que reconhece a infinidade da aprendizagem que acompanha o ser humano por toda
a sua vida.
Outro desafio da educação atual que deve ser discutido é o crescimento da
violência verbal e física que o docente tem sofrido nas escolas, transformando a
profissão em uma das mais perigosas da atualidade.
Para discutir esse assunto toma-se como ponto de partida o que mostra Souza
(2008), quando aponta que os fatores que envolvem a violência nas escolas possuem
dois sentidos:
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Se por um lado as ações praticadas pelo aluno, ultrapassam o que se


considera socialmente aceitável, por outro lado, compreende-se que estas
atitudes têm suas origens na própria realidade vivenciada pelo indivíduo,
como uma resposta, em alguns casos às muitas opressões e violências
vividas por ele (SOUZA, 2008, p. 126).

Como visto acima, violência que o aluno replica na escola contra os colegas
e professores é um reflexo da vivência familiar e social, mesmo não sendo aceitável
socialmente.
A mídia, também, é um instrumento que contribui para a reprodução de atos
violentos por crianças e adolescentes, mostrando na televisão “cenas de
criminalidade, (inclusive em novelas), de forma empolgante, com distorções
significativas da realidade ou nos jogos de videogames, violências e lutas. Os meios
de comunicações têm colaborado para que a violência seja vista de forma natural ”
(SOUZA, 2008, p. 127).
Portanto, conhecer o contexto social, cultural e familiar em que o aluno está
inserido é importante para que o docente consiga prevenir a violência dentro da sala
de aula e, se essa violência ocorrer também por familiares e responsáveis dos alunos
a profissionais da escola ou aos colegas, o docente deve saber como acionar os
órgãos legais.
Também existe a inversão de valores que atrapalha a autoridade do professor
em sala de aula e dos gestores e equipe pedagógica nos corredores da escola.
Atualmente, quase tudo é permitido, só não é permitida ao professor a
correção de alunos indisciplinados, a punição por perturbarem os colegas, a troca de
informações pertinentes a assuntos relevantes na sala de aula.
Por outro lado, o professor também é refém da violência causada pelos alunos
que não se ajustam às normas escolares, sofrendo com insegurança metodológica
que a profissão lhe oferece, pois são problemas que não se aprendem a resolver na
faculdade e, que precisam ser enfrentados no cotidiano escolar, por mais que
teoricamente sejam amplamente abordados.
Assim, no trabalho em parceria do docente e outros profissionais da escola
com a família e instituições afins, serão encontrados pontos em comum e sanadas as
divergências que acarretam na fragmentação da educação do aluno, quando a escola
ensinar algo que pode ferir os ensinamentos familiares e sociais e vice-versa.
É importante considerar que a escola não educa sozinha, pois depende de
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vários outros parceiros nessa empreitada e, principalmente da família e do contexto


social em que está inserido. Por isso, a preocupação da escola deve ser primada em
conhecer o histórico familiar e as vivências do aluno antes de tomar qualquer atitude
em relação à indisciplina e outros acontecimentos no recinto escolar.
É preciso trabalhar juntos para diminuir ou evitar a floração da indisciplina
escolar, começando por toda a comunidade escolar até a esfera social e religiosa que
o aluno frequenta.

Percepção dos professores acerca da formação e atuação do docente

Neste tópico será apresentada entrevista realizada com 07 docentes de várias


disciplinas que atuam em escola públicas no Ensino Fundamental I e II. Os dados
serão apresentados em comentários com referência a cada professor nomeados de
P1, P2, P3, P4, P5, P6 e P7.
As cinco perguntas discorridas nesta entrevista dizem respeito à formação e
atuação do docente na atualidade e serão apresentadas em forma de quadros.
A primeira pergunta feita foi de cunho pessoal. Há quanto tempo você atua
como docente? 10 anos (P1, P6), 5 anos (P2, P4), 22 anos (P3), 15 anos (P5), 2 anos
(P7).
Como foi a sua formação para professor?
“Comecei a trabalhar quando cursei o magistério do Ensino Médio e só depois
de cinco anos de atuação que fiz a faculdade em Uberlândia, indo quinzenalmente e
estudando no fim de semana. Foi muita luta para vencer os quatro anos de faculdade”
(P3).
“Minha formação foi presencial, deslocando 96 quilômetros todos os dias para
frequentar a faculdade” (P7, P2, P4).
“Eu fiz faculdade a distância, indo ao polo da instituição somente para realizar
avaliações e assistir algumas aulas, as outras atividades e estudos foram realizados
virtualmente” (P1, P6, P5).
Você acredita que sua formação te preparou para atuar em sala de aula e
enfrentar os desafios do cotidiano? Justifique sua reposta.
Os professoresP1, acredita que a formação acadêmica foi útil para o
conhecimento teórico e um pouco da prática no estágio curricular, mas seu real
aprendizado de como lidar com os alunos e suas diferentes formas de aprender e ver
o mundo foi em sala de aula.
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A entrevistada P5 relata que no primeiro ano de atuação até pensou em


abandonar a profissão por não se sentir capaz de conduzir a aprendizagem dos
alunos. Porém, buscou trocar experiências com outros professores e conhecer seus
alunos, tendo um resultado satisfatório no final.
Como demonstrado pela P1, ela se formou à distância, atua a 10 anos, teve
dificuldades no início da profissão, mas teve a sutileza de buscar ajuda quando
necessitou.
A educação a distância é procurada por pessoas que não tem tempo
determinado para estudar, como expõe a entrevistada P6, realizando as atividades a
qualquer momento nas plataformas virtuais.
Muitas faculdades ofertam essa modalidade de ensino que atende aos
anseios educativos também, das pessoas que não tem acesso ao ensino superior em
suas cidades, como é o caso da maioria dos entrevistados, que será mostrado a
seguir.
Hack (2011) conceitua a Educação a Distância (EAD) como uma maneira de
ensino que atinge um número significativo de pessoas, rompendo com a forma
tradicional de ensino e aponta novos caminhos para a educação. É uma forma de
ensinar e aprender que elimina as distancias geográficas e temporais, oportunizando
ao aluno a organização do tempo e local de estudo.
Para Carvalho (2012, p. 7) “os alunos de EAD vivenciam a aprendizagem de
maneira diferente do ensino presencial, tendo uma perspectiva diferente daqueles que
não estão separados dolocus da instrução”.
Quanto ao professor da EAD na concepção de Carvalho (2012, p. 73), “o papel
do professor repassador de informações deu lugar para um agente organizador,
dinamizador e orientador da construção do conhecimento do aluno e até da sua
autoaprendizagem”. Assim a educação a distância não difere da educação presencial,
considerando que quem constrói aprendizagem é o próprio acadêmico, o professor
direciona, motiva e organiza o ensino para melhor aproveitamento do aluno.
A entrevistada P3, começou a atuar com o curso de magistério médio, fazendo
sua graduação cinco anos após, tendo que se deslocar cerca de 500 quilômetros
quinzenalmente até Uberlândia por quatro anos.
A distância também é um fator de impacto na formação do docente que não
tem acesso a essa modalidade em sua cidade, dificultando a conclusão dos estudos.
O aumento do número de universidades no interior possibilitou a formação
1861

acadêmica do docente melhorando o acesso e diminuindo distâncias para aqueles


que já atuavam sem a formação adequada.
A Resolução CNE/CEB 01, DE 20 de agosto de 2003 que dispõe sobre os
direitos dos profissionais da educação com formação de nível médio, na modalidade
Normal, em relação à prerrogativa do exercício da docência, em vista do disposto na
lei 9394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN, propõe no Art.
1º que: “Os sistemas de ensino, de acordo com o quadro legal de referência, devem
respeitar em todos os atos praticados os direitos adquiridos e as prerrogativas
profissionais conferidas por credenciais válidas para o magistério na educação infantil
e nos anos iniciais do ensino fundamental, de acordo com o disposto no art. 62 da Lei
9394/96” (BRASIL, 2003, art. 1º).
Como descreve a Resolução acima, o exercício da profissão de professor com
formação em normal ou magistério do Ensino Médio era ainda possível em 2003,
desde que o professor e a instituição de ensino que trabalha buscasse a formação
acadêmica em seguida, como informa o Art. 2º da mesma Resolução, onde demonstra
que os sistemas de ensino “envidarão esforços para realizar programas de
capacitação para todos os professores em exercício. § 1º Aos docentes da educação
infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental será oferecida formação em nível
médio, na modalidade Normal” (BRASIL, 2003, art. 2º).
Já o § 2º preconiza que “aos docentes que já possuírem formação de nível
médio, na modalidade Normal, será oferecida formação em nível superior, de forma
articulada com o disposto no parágrafo anterior” (BRASIL, 2003, art. 2º).
A P3, relata ter sido beneficiada com a formação de nível superior baseada
nesta Resolução.
Voltando à pergunta em discussão, os entrevistados P2, P4 e P7, teve
formação acadêmica presencial, frequentando aulas diárias e, acreditam que sua
formação foi de suma importância para sua atuação como docente, possibilitou maior
contato com a teoria e a prática em seminários e aulas práticas, mas nem por isso
menosprezam a educação EAD, pois reconhecem que essa formação proporciona
estudo mais aprofundado na pesquisa, contando que o aluno precisa se esforçar mais
para se sobressair.
A última pergunta da entrevista foi a respeito da atuação do docente em sala
de aula, como enfrenta os desafios tecnológicos, disciplinares e sociais.
Todos os professores concordam que o apoio da família é imprescindível para
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a melhorar a qualidade da educação, portanto, buscam essa parceria desenvolvendo


projetos que contam com a participação da comunidade, família e outras instituições
que se tornam parceiras na busca por resolução de conflitos.
A P5 relata não ser fácil enfrentar os desafios tecnológicos, mas é preciso
usar essa ferramenta a favor da educação em pesquisas, jogos e realização de
trabalhos.
A P3, conta que embora a sociedade só cobra resultados, ela busca aproveita
o momento de demonstração de resultados para cobrar, também, maior participação
e investimentos na educação, conquistando autonomia junto aos órgãos sociais e
envolvendo-os nos serviços inerentes à vivência escolar.
A P7 diz usar as reuniões com pais e familiares para trabalhar noções de
cidadania e solidariedade, sempre oferecendo oficinas e apresentações culturais para
conquistar a confiança dos participantes, contando também, com a colaboração da
equipe pedagógica.
As outas entrevistadas concordam com as demais, acrescentando que o
desafio mais complicado de vencer é o disciplinar, pois nenhum aluno é igual a outro,
as vivências também são diferentes, exigindo um olhar mais aguçado sobre o fazer
pedagógico para cada turma, planejando e tratando os conflitos com o máximo
cuidado para não agravar ainda mais.
Para isso, deve contar com uma equipe pedagógica engajada e preocupada
com o bem-estar de professores e alunos e, com órgãos sociais parceiros, que serão
acionados quando a situação se agravar e transpor os muros escolares.
Percebe-se nessa entrevista que os pontos de vistas dos docentes
entrevistados são bem parecidos e convergem com os interesses da escola, da
sociedade e do Estado, instituições que zelam pela entrada, permanência e finalidade
da educação.
Conclui-se que a prática docente é construída no cotidiano do seu trabalho,
por meio da interação com o ambiente escolar e as pessoas que nele estão inseridos.
No entanto, as formações inicial e continuada são imprescindíveis para que
os resultados sejam significativos e tornem a profissão numa missão em que o
estudante é o foco principal e o docente seu mentor e orientador de aprendizagens.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo teve como finalidade discutir a postura do docente frente aos
desafios e a responsabilidade de mediador/professor no século XXI, ofertando
educação de qualidade em consonância com as exigências da atualidade.
Percebeu-se, através de entrevista com docentes, que o preparo dos
docentes vem com a formação acadêmica aliada ao fazer pedagógico diário. E em
contato com os alunos que o docente aprende a lidar com os desafios de forma a
sanar problemas e enaltecer as aprendizagens significativas.
Nota-se que este e um assunto vasto que exige muitos questionamentos e
respostas, por isso, não se esgota com uma pesquisa deste porte.
Os desafios expostos neste trabalho, não superam os vividos na realidade
escolar cotidiana, considerando que cada aluno é um ser único, sem dispensar a
experiência que a criança traz de seu convívio em outros espaços e em outros grupos
sociais, a pretensão da escola é levar o educando a sistematizar conceitos científicos,
articulando o conhecimento e a vida, destacando a construção de conceitos de grupo
social, espaço, tempo, trabalho, cultura, regras de convivência, levando em
consideração a identidade, a transformação e as diferentes linguagens.
Assim, o objetivo do artigo foi alcançado em parte por uso da pesquisa
bibliográfica, em outra, pela entrevista enriquecedora com docentes atuantes em sala
de aula, que mostram a importância da discussão do assunto.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, P L; YOSHIDA, S M P F. Professor: Desafios da prática pedagógica na


atualidade. Cuiabá: FIMGCSH, 2009. Disponível em
<http://www.ice.edu.br/TNX/storage/webdisco/2009/11/03/outros/608f3503025bdeb7
0200a86b2b89185a.pdf> Acesso 02 novembro 2019.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9.394, de 20 de
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