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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

CAMILA LOPES SOARES, SARA DOS SANTOS RODRIGUES

Relatório de Visita ao Sicredi Dexis de Maringá: Olhares comportamentais e


organizacionais

Maringá, Paraná
2023
RELATO DE VISITA:

No dia 14 de dezembro de 2023, nós, alunos da turma do terceiro ano de psicologia


da Universidade Estadual de Maringá (UEM), realizamos uma visita ao Sicredi Dexis,
unidade localizada na Avenida Paraná, 891,com previsão de início das 15h30 e término às
16h30.
É necessário falar sobre como a localização e a magnitude do prédio tal como sua
estrutura moderna já evocam sentimentos relacionados a respeito do prédio, sendo ele um
prédio que gera uma espécie de admiração por sua beleza, ele por sí só já faz quem o vê
pensar em sofisticação e alta classe, sendo o prédio alto, com vários andares e revestidos por
vidro. Logo na entrada já existe uma cafeteria na extensão do local, o que implica que tanto
os clientes quanto os trabalhadores possam usufruir sem necessariamente precisar de uma
grande locomoção.
Assim que todos os alunos estavam reunidos com a professora Talita Machado
Vieira, a responsável pela disciplina Psicologia Organizacional, fomos introduzidos a
entrada do prédio e recepcionadas por um amplo espaço, com recepcionista e belas
decorações. Quem nos recebeu para que pudéssemos dar prosseguimento a visita foi o
Coordenador da área de Cooperativismo e Sustentabilidade Marcio Peruzzo, o qual nos
encaminhou para uma sala onde poderíamos sentar, uma sala bem iluminada também ampla,
cujo o caminho perpassa por objetos muito tentadores como uma sessão de vinhos e de
chocolates, além de um espaço tomado por prêmios que a organização conquistou ao longo
dos anos.
Ao chegar à sala ele se apresentou, como um graduado em história, pela
Universidade Estadual de Maringá, e contou-nos que estava na empresa há mais de 3 anos.
Contou um pouco de sua experiência com outros alunos e outras visitas que ocorreram no
local, dando assim o início oficial à visita ao local. Fomos então encaminhados a uma
escada para acesso ao primeiro andar, passando por outro lugar que chamava atenção de
quem olhasse, um salão de beleza equipado e com clientes utilizando o serviço enquanto
visitávamos; o local, assim como a cafetaria citada anteriormente, parecia ter como objetivo
diminuir o deslocamento dos trabalhadores, afinal, haveria um salão ali, logo não teria
necessidade de deixar o local de trabalho para ter acesso a esses serviços. Ainda, o salão de
beleza dizia muito sobre o que era possível ser observado nos política da empresa, aparência
é fundamental e tem caráter utilitário.
Subimos para o próximo andar onde localiza-se o museu, aberto de segunda a
sábado ao público; o espaço em que nos deparamos é uma exposição que conta com um
acervo de artesãos maringaenses em parceria com a Sicredi Dexis, tendo inclusão de
projetos relacionados a minorias marginalizadas como artistas PCD e artistas negros.
Logo fomos encaminhados para um anexo histórico do cooperativismo de crédito da
Sicredi Dexis. Quem nos apresentou o local foi um estagiário da UEM do curso de filosofia.
Este espaço era histórico e bastante interativo, com uma iluminação escura que fazia
com que a decoração das paredes, contando a história da cooperativa, brilhasse. Havia
também uma árvore no meio de todo esse espaço histórico, onde era possível escrever sobre
seus sonhos e pendurar, visto que na política da empresa, o “fazer sonhos se tornarem
realidade” é repetido como um mantra; além disso, há uma inteligência artificial que faz
ligações para que possamos atender, ela contava uma parte da história da empresa. O
caminho é feito em curvas, separados por artes, e uma sala de cinema onde são exibidos
vídeos contando sobre os princípios de união e cooperativismo da Sicredi.
A última parte consta com artes ainda mais interativas feitas por artistas plásticos e
arquitetos, sendo uma exibição onde três pessoas precisam se unir para conseguir,
integralmente, uma “árvore” de leds; o objetivo é mostrar que os sonhos se realizam quando
há cooperação. Há também uma maquete que demonstra o prédio e todo seu pensamento de
sustentabilidade, como seu jardim verde e as placas de captação de luz solar.
Encerra-se essa parte da visita e nos despedimos do estagiário que nos apresentou o
local; voltamos para a primeira sala de exibição de artes e assim começamos uma nova parte
da visita.
Ao concluir nossa visita ao museu, descemos novamente as escadas e dirigimo-nos
ao primeiro andar, onde nos encontramos com o Márcio para explorar as demais instalações
do imponente edifício, agora reservadas exclusivamente para os dedicados funcionários e
colaboradores do Sicredi Dexis. À medida que adentramos esse espaço, deparamo-nos com
a sofisticação de sofás dispostos artisticamente e uma biblioteca convidativa. Em seguida,
deparamo-nos com uma área dedicada à infância, funcionando como uma creche onde os
colaboradores, pais de crianças com até três anos de idade, podem deixá-las sob cuidados
enquanto desempenham suas responsabilidades profissionais.
Esse ambiente infantil oferece não apenas cuidados essenciais, mas também
refeições adaptadas às necessidades dos filhos dos trabalhadores. Em momentos necessários,
as mães têm a comodidade de descer para amamentar seus filhos. Avançando em nossa
jornada, exploramos a área de descanso, um local funcional para os colaboradores, onde
salas de fisioterapia e massagem podem ser agendadas. Há também uma capela à disposição,
permitindo aos funcionários encontrarem um momento de exercer a fé no cotidiano da
empresa. Uma peculiaridade intrigante é a ausência de tomadas nesses espaços, uma medida
deliberada para desencorajar o uso excessivo de dispositivos eletrônicos, fomentando assim
um ambiente propício ao descanso e à desconexão temporária das demandas digitais, o que,
no entanto, parece mais uma forma de, novamente, evitar que os colaboradores passem
menos tempo possível sem “produzir”
Continuando, chegamos à cozinha e à churrasqueira, cuidadosamente projetadas para
proporcionar conforto e lazer aos colaboradores e ,acima de tudo, ser funcional e rápido.
Estes espaços, mais do que meras áreas de alimentação, são pontos de encontro e convívio,
promovendo uma atmosfera colaborativa que tanto se busca entre os membros da equipe.
Em seguida, no último andar do edifício, revela-se um auditório de alta tecnologia,
equipado com computadores, microfones e uma mesa em formato oval, onde todos podem
olhar no rosto um dos outros. A vista panorâmica da cidade desse local é simplesmente
deslumbrante, adicionando luz e conforto ao ambiente. Este espaço multifuncional reflete
não apenas a modernidade da empresa, mas também uma necessidade de automatização do
trabalho, visto que tudo é inteligente para ser automático, como um ar condicionado que liga
de acordo com a temperatura ambiente para se tornar mais agradável e que se adequa com o
nível de luminosidade que o ambiente exige.
Na reta final, visitamos as áreas de trabalho mais ocupadas, também otimizadas com
mesas inteligentes; um ambiente muito claro, perto de salas de marketing e reunião com
quadros digitais, mesas redondas e telas onde reuniões online podem acontecer.
Somos encaminhados para o final onde nos mostram a grande sala de cinema que
tem no piso inferior. Assim ele se despede e nos despedimos da turma e da professora.
Antes de pensarmos sobre os modelos organizacionais já postos vamos falar sobre a
psicologia comportamentalista radical, o que me parece ser uma abordagem excelente para
entender a estruturação do prédio. Para falar sobre, embora seja necessário ter um extremo
cuidado com o termo "controle", é fundamental falarmos sobre ele; embora nossa cultura
tenha vinculado significados negativos ao termo "controle" para o comportamentalismo
radical de Skinner, esse termo é usado erroneamente, visto que o controle acontece o tempo
todo e está em todas as relações.
A questão que devemos pensar o controle, em um primeiro momento, é que o prédio
demonstra ser um ambiente muito diferente de ambientes onde as condições de trabalho são
insalubres, mas, ao ver detalhes como a política de vidros transparentes, é possível observar
como o ambiente é feito para controlar e vigiar o tempo todo; embora não saíam dos mesmo
princípios epistemológicos comportamentais, é possível até falar até do conceito do
Panóptico citado por Foucault, onde não se sabe quem é observado, então todos ao seu
redor se transformam em observadores e você passa a controlar a si mesmo. Lembrando que
controle não tem, necessariamente, significado de privação de liberdade no
comportamentalismo, apesar de amplamente difundido pela cultura. Além disso, é possível
fazer uma crítica muito cabível a situação dos trabalhadores de Sicredi Dexis, tendo como
base o Behaviorismo Radical; Skinner explica que não é porque se usam reforçadores
positivos e recompensas para aumentar a probabilidade de certos comportamentos, que
significa que a situação não é opressora.
Na empresa, todo o ambiente é pensado para reforçar a produção. Foram criados
signos que eliciam ideias de lealdade a empresa que não são necessariamente vistos em uma
análise rápida. Além do mais, é preciso analisar o sistema de recompensa existente, como a
sala de descanso, na qual existe a ausência de lugares para carregar celulares e notebooks,
por exemplo, o que reforça negativamente o comportamento de ir a esta sala, ou o de a
ocupar por muito tempo esse espaço e, principalmente, o de sair de sua mesa de trabalho.
Toda essa disposição, por si só, reforça a produção.
Também é necessário falar sobre o custo de ação para buscar um café, ou ir para as
áreas de lazer, sendo um caminho longo do ambiente de trabalho a esses locais de descanso,
se aumenta o custo de ação a uma chance muito menor do trabalhador de deixar sua mesa de
trabalho.
A questão a que sempre devemos nos dedicar é o controle. À primeira vista, o prédio
parece ser um ambiente muito diferente daqueles onde as condições de trabalho são
insalubres. No entanto, ao observarmos detalhes, como a política de vidros transparentes,
torna-se evidente como o ambiente é projetado para controlar e vigiar constantemente.
É fundamental, também, abordar o custo de ação para buscar um café ou se dirigir às
áreas de lazer. O longo percurso do ambiente de trabalho até esses locais de descanso
aumenta o custo de ação, reduzindo consideravelmente a probabilidade de os trabalhadores
deixarem suas mesas. É crucial considerar esses aspectos, pois, mesmo que se utilizem
reforçadores aparentemente positivos, como boa remuneração e espaços de lazer atrativos,
esses podem ser desencorajados pela disposição do ambiente e pela comunidade verbal que
desestimula a não produção.
Um exemplo de instituição organizacional que funciona de uma maneira semelhante
é a empresa da Google:
Empresas consideradas “criativas” revestem-se da aura
fetichista que faz de seu sistema produtivo algo mágico,
harmônico, adequado ao imaginário incentivado pela
linguagem, que é destinada à persuasão e à sedução do
consumidor. Nesse espectro, o trabalhador se transforma em
garoto-propaganda, em propagador do espírito corporativo, e,
por extensão, de todos os seus produtos e serviços (CASQUI,
2010)
É necessário ressaltar que, embora exista um teor comportamental que norteia
essas questões, também é necessário lembrar das origens históricas e organizacionais que
levaram a isso, como o fato do “Taylorismo” e sua produção “just in time”. Não
conseguiam dar conta de novas exigências e flexibilizações do capitalismo e então surge o
Toyotismo no Japão em 1950
A organização toyotista fundamentava-se em uma metodologia que buscava
produção e entrega mais rápidas e precisas do que as demais, mantendo a empresa como
uma entidade "enxuta" e "flexível". Isso era alcançado pela ênfase no produto principal,
resultando em desverticalização e subcontratação de empresas que passavam a
desenvolver e fornecer produtos e serviços. A utilização de uma força de trabalho
polivalente, que atribuía a cada trabalhador atividades diversas, como execução, controle
de qualidade, manutenção, limpeza e operação simultânea de vários equipamentos,
constituía uma das principais características desse sistema (PINTO, 2007, p. 53).
Não necessariamente os trabalhadores da Sicredi Dexis de Maringá estão
individualmente passando por sofrimento psíquico ou estão conscientes sobre as questões
de trabalho e pensam nela com fervor e algum sentimento de rebelião. Entretanto é
essencial questionar essas relações, afinal o mundo está sempre em um processo de
afirmação e negação de si mesmo, sendo necessário sempre questionar os novos
paradigmas que se estabelecem e levantar hipóteses sobre as consequências que podem
vir, nos fazendo questionar a nossa atuação enquanto profissional, a realidade em que
vivemos e o que podemos fazer para transformá-la.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Casaqui, V., & Riegel, V. (2010). Google e o consumo simbólico do trabalho
criativo. Comunicação Mídia E Consumo, 6(17), 161–180.
https://doi.org/10.18568/cmc.v6i17.292
TODOROV, João Cláudio. BEHAVIORISMO E ANÁLISE EXPERIMENTAL
DO COMPORTAMENTO¹. 1982.
PINTO, G. A. A organização do trabalho no século 20: taylorismo, fordismo e
toyotismo. São
Paulo: Expressão Popular, 2007. RICOTTA, F. Disponível em:
<http://www.euquerotrabalharnogoogle.com/>. Acesso em: 20 jun. 2009.

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