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A Consolação da Filosofia

Consolatio
Consolatio Philosophiae
Philosophiae

“Se alguém conceber uma coisa de modo


diferente daquilo que ela é na realidade, isto
não só não é ciência, mas é opinião enganosa".

Boécio, Sobre a Consolação da Filosofia

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Ivo Fernando da Costa


Consolatio
13 de mai. de 20224 min
Philosophiae

Concepções da da
A Consolação Metafísica
Filosofia
Um pouco de história da obra e suas
interpretações

Estátua de Aristóteles em Estagira

Muito provavelmente, as obras de


Aristóteles que hoje dispomos não passam de
apontamentos usados em suas lições ou, até
mesmo, transcrições realizadas por seus
alunos: uma espécie de subsídio reservado
somente para o uso interno no Liceu.
Tecnicamente esses textos são conhecidos
como escritos “esotéricos” (do grego “ἔσω”
que signi!ca “para o interior”).

Em contrapartida, existiam também outras


obras destinadas para publicação que foram
redigidas em forma de diálogos. Por esse
motivo, elas são classi!cadas como
“exotéricas”. Infelizmente, hoje restam só
alguns fragmentos delas. Na antiguidade,
Aristóteles era reconhecido como um ilustre
discípulo de Platão especialmente por conta
dessas obras desaparecidas. Por outro lado,
os escritos internos tornaram-se
praticamente desconhecidos.

Isso ocorreu não só pelas diferenças de


gêneros literários e de !nalidade, mas
também por questões jurídicas. Na época, as
leis de Atenas não permitiam que um
estrangeiro possuísse propriedades ou
herdasse bens. Depois da morte de
Aristóteles, seu discípulo Teofrasto se
manteve por 35 anos como administrador do
Liceu graças ao novo governo pró-
macedônico.

Embora o momento fosse favorável, o


sucessor de Aristóteles — aparentemente
visando blindar o coração do Liceu das
oscilações políticas — deixou em seu
testamento toda a biblioteca para Neleu por
ser ele, ao que tudo indica, seu legítimo
herdeiro. Era necessário alguém com plenos
direitos civis para garantir os bens da
instituição.

Infelizmente Neleu era uma !gura sem


fortes laços com o projeto educativo de
Aristóteles e, quando lhe pareceu
conveniente, não hesitou em mudar-se para a
Ásia Menor, levando consigo as obras do
mestre. Ali, os manuscritos foram
escondidos em um porão para evitar que
fossem roubados, permanecendo esquecidos
por mais de duzentos anos.

No começo do século I, a família de Neleu


simplesmente vendeu os livros para um
colecionador de Atenas: Apelicão de Teos.
Pouco tempo depois o general romano Sula
conquistou a cidade (86 a.C.) e os
manuscritos de Aristóteles foram levados
para Roma onde se !zeram algumas cópias.
Anos mais tarde, uma delas foi entregue a
Andrônico de Rodes, que dirigia o Liceu
como o 11º sucessor de Aristóteles (78-47
a.C.). Foi ele quem realizou a primeira edição
“crítica” das obras do Estagirita ordenando-
as em uma sequência lógica.

Nesse trabalho de edição, ele encontrou uns


manuscritos sem título que se colocariam
depois dos livros da Física. Andrônico, então,
os nomeou como “Ta Meta ta Physica”, isto é,
“para além das coisas físicas”. Ao longo da
história esse título se consolidou em sua
forma abreviada: “Metaphysica”.

Embora a palavra “Metafísica” não apareça


nenhuma vez nos textos, ela re$ete muito
bem seu conteúdo. Por outro lado, sempre se
reconheceu que as doutrinas ensinadas por
Aristóteles na Metafísica careciam de uma
ordem sistemática; muitos temas se repetiam
ou eram abordados de forma diferente,
re$etindo seu caráter “esotérico”.

Busto do Pe. Francisco Suárez Granada

Devido a essa característica, desenvolveu-se


desde a antiguidade uma tradição de se
comentar essa e outras obras de Aristóteles a
!m de evidenciar seu sentido e facilitar seu
entendimento. O próprio Santo Tomás
escreveu um comentário massivo dos
primeiros 12 livros da Metafísica. O último
trabalho nesse sentido foi o do jesuíta Pedro
da Fonseca, o Aristóteles Português, que
também redigiu um extenso comentário da
Metafísica no século XVI.

Esse costume mudou quando outro jesuíta,


Francisco Suárez escreveu as suas
“Disputações Metafísicas” (1597): obra que se
converteu no primeiro tratado sistemático
de Metafísica da história, sendo até hoje o
texto mais extenso e exaustivo sobre o
assunto. O próprio Suárez nos reporta seus
motivos:

“[...] por ter sempre acreditado


que grande parte da e!cácia na
compreensão e
aprofundamento dos problemas
reside no método apropriado de
investigação e julgamento, que
só com di!culdade e talvez nem
mesmo assim conseguiria seguir
se — de acordo com o costume
dos comentadores — tratasse de
todas as questões
ocasionalmente tal como
surgem no texto do Filósofo
[Aristóteles]. Por conseguinte,
julguei que seria mais útil e
e!caz, mantendo uma ordem
sistemática, investigar e colocar
perante os olhos do leitor todas
as coisas que podem ser
estudadas ou que faltam no que
diz respeito ao objeto íntegro
dessa sabedoria.”
(FRANCISCO SUÁREZ,
Disputações Metafísicas,
Introdução geral).

No contexto desse intuito, Suárez faz, já na


primeira Disputa, um levantamento
sistemático dos nomes que representam as
diversas concepções da Metafísica. Elenco e
explico brevemente cada um deles:

a) Antes de mais nada, esta ciência é


“sabedoria”. O sábio é aquele que em certa
medida conhece todas as coisas e a Metafísica
tem como objetivo conhecer todos os seres à
luz da razão natural.

b) Em segundo lugar, essa sabedoria é


também “Filoso!a Primeira” porque ela
estuda todas as coisas à luz de suas causas
mais elevas e universais. De fato, quanto mais
particular for uma causa, mais restrito e
localizado será seu escopo. Logo as causas
maximamente universais que se aplicam a
todos os entes serão também as primeiras e
mais abrangentes.

c) Mas Deus é a causa universal e primeira de


tudo quanto existe. Daqui que, em terceiro
lugar, a “Filoso!a Primeira”, buscando as
causas últimas, termine se ocupando também
das coisas Divinas. Por isso, ela também se
concebe como “Teologia Natural”.

d) Mas Deus é uma realidade totalmente


espiritual. Por isso, a “Teologia Natural”
também se chama Metafísica; seu
conhecimento prescinde das coisas sensíveis
e materiais, seja considerando as que são
absolutamente separadas da matéria como
Deus e os anjos, seja estudando os princípios
universais de todo ser que podem ser
pensados sem matéria.

e) Finalmente a Metafísica se concebe como


a “Senhora de todas as ciências”, pois as
excede em universalidade e dignidade,
regendo e con!rmando os princípios
ontológicos basilares sem os quais é
impossível produzir qualquer conhecimento.

#metafísica #!loso!a, #Aristóteles


#sabedoria #vidaintelectual

!loso!a sabedoria Deus

Suárez Aristóteles

Metafísica • Vida Intelectual • Teologia Natural

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