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1.

METAMORFISMO

1.1. Ambiente metamórfico

Metamorfismo inclui o conjunto de processos de transformações mineralógicas, texturais e


estruturais que ocorrem nas rochas, segundo condições físicas e químicas diferentes daquelas nas
quais a rocha original se formou. Todas essas transformações ocorrem no estado sólido, ou seja, a
rocha não passa por uma fase de fusão. Pressão e calor são as principais causas do metamorfismo; as
mudanças resultantes (geralmente com desenvolvimento de novos minerais) são uma resposta
termodinâmica a um ambiente grandemente alterado. São metamorfizadas rochas ígneas,
sedimentares e mesmo metamórficas.

Prof. Doutor, Edson Raso


1.2. Os limites do metamorfismo

O metamorfismo realiza mudanças na assembléia mineral e textura nas rochas sedimentares,


ígneas e mesmo metamórficas submetidas a temperaturas superiores a 200 oC e pressões superiores a
300 MPa (pressão exercida por alguns milhares de metros de rochas). O metamorfismo não se refere
a mudanças causadas por intemperismo ou por diagênese porque esses processos ocorrem a
temperaturas abaixo de 200 oC e pressões abaixo de 300 MPa. A pressão uniforme, confinante ou
triaxial conduz a variações de volume dos minerais, obrigando-os a adquirirem uma estrutura
cristalina mais compacta e pressões orientadas, diferenciais, dirigidas ou uniaxiais conduzem também
a mudanças de forma dos minerais.

O metamorfismo é progressivo com o aumento da pressão e temperatura; com a diminuição da


pressão e temperatura pode ocorrer o metamorfismo retrógrado. Existe naturalmente um limite
superior ao metamorfismo, porque as rochas submetidas a temperaturas muito altas sofrem fusão e o
metamorfismo ocorre no estado sólido. Devido a presença de água baixar o ponto de fusão das
rochas, a água presente controla a temperatura na qual a fusão parcial úmida terá efeito e a quantidade
de magma que será produzida. Em muitos lugares é possível encontrar evidência que a fusão iniciou-
se em porções da rocha metamórfica rica em água, mesmo que rochas metamórficas adjacentes secas
não mostrem sinal de fusão. Volumes compostos de rochas contendo componentes ígneos formados
por pequena quantidade de fusão e rochas metamórficas são chamados migmatitos (mistura de
rocha). Também alguns minerais apresentam ponto de fusão mais baixo que outros, de maneira que

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ocorre fusão parcial de rochas metamórficas. Outros minerais podem fundir parcialmente. O magma
formado em função da alta pressão e menor densidade sobe até alcançar níveis mais rasos da crosta
ou alcança a superfície. As reações metamórficas levam muito tempo para a sua realização em torno
de milhares a milhões de anos.

1.3. Transformações metamórficas

Modificações devido a Reações dos Constituintes Mineralógicos:

Reações entre os minerais ou destes com soluções, que estavam nos poros ou foram liberadas
pelos minerais que sofrem desidratação. Ex: argilas transformam-se em micas, cloritas ou anfibólios.

Recristalização:

Um grão aumenta de tamanho ou modifica sua forma. Ex: arenito passa a quartzito, calcário
passa a mármore (cristais de calcita maiores).

Modificação Textural:

Devido a deformação dos minerais, ocorre novo arranjo dos minerais, resultando em nova
textura ou fábrica. Exemplo: xisto ou mármore.

 Mudanças de Fase: Minerais adquirem forma diferente mais compacta

2. ROCHA METAMÓRFICA

Toda rocha formada no estado sólido em resposta a pronunciada mudança de temperatura, pressão e
ambiente químico, que tem lugar, em geral, abaixo das zonas de intemperismo, cimentação e
diagênese.

2.1. Rochas metamórficas mais comuns

Rocha Metamórfica Textura Rocha Mãe Original


Ardósia Foliada Folhelho (Argilas)
Filito Foliada Folhelho
Micaxisto Foliada Folhelho
Gnaisse Foliada Granito, Folhelho, Andesito
Mármore Não-Foliada Calcário, Dolomita
Metaconglomerado Não-Foliada Conglomerado rico em Quartzo.
Anfibolito Foliada Basalto, Gabro
Cloritaxisto Foliada Basalto
Talcoxisto Foliada Peridotito, Basalto rico em Olivina
Brecha de Falha (Milonito) Não-Foliada Qualquer Material
Cornubianito (Hornfels) Não-Foliada Qualquer Material

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2.2. Textura das rochas metamórficas

PORFIROBLÁSTICA – Destaque de grãos grandes


GRANOBLÁSTICA - Grãos equidimensionais
TEXTURAS POIQUILOBLÁSTICA – Cristais grandes c/ inclusões cristais menores
LEPIDOBLÁSTICA – Formada por cristais lamelares paralelos
NEMATOBLÁSTICA - Com cristais aciculares paralelos
CATACLÁSTICA – Resultante de trituração e cisalhamento de grãos

2.3. Estruturas metamórficas

2.3.1. Clivagem ardosiana

Durante os primeiros estágios do metamorfismo de baixa intensidade, o esforço (stress) tende a


ser causado pelo peso da sobrecarga de rochas. A nova estrutura planar dos minerais e portanto a
foliação tende a ser paralela aos planos de acamamento das rochas sedimentares sendo
metamorfizadas. Mas com um soterramento mais profundo ou quando uma compressão resultante de
colisão de placas deforma em dobras os leitos horizontais, a foliação deixa de ser paralela aos planos
de acamamento. As rochas de baixo grau de metamorfismo tendem a ser tão finamente granulada que
os novos grãos minerais podem ser vistos somente com o microscópio; a foliação então é chamada
clivagem da ardósia, que é definida como a propriedade pela qual uma rocha metamórfica de baixo
grau quebra em fragmentos platiformes ao longo dos planos.

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2.3.2. Xistosidade

Com grau metamórfico intermediário ou alto os tamanhos dos grãos aumentam e os grãos
minerais individuais podem ser vistos a olho nu. A cristalização e recristalização de minerais durante
o metamorfismo regional é afetada pela pressão dirigida. Os minerais placoidais e alongados
reorientam-se perpendiculares à direção da pressão. A foliação em rochas metamórficas de
granulação grosseira é chamada xistosidade e não é necessariamente planar. Todos os xistos
apresentam xistosidade. Nos quartzo-feldspato-xistos a foliação é irregular.

2.3.3. Lineação

É uma estrutura dada pelo paralelismo de minerais prismáticos no plano de xistosidade. O


plano de foliação dos eixos de microdobras são planos de cisalhamento. Elementos lineares:

a) Cristais prismáticos

b) Cristais em bastonetes

c) Eixos de microdobras

2.3.4. Bandamento

Formação de faixas paralelas de minerais diferentes. (Diferenciação Metamórfica). Ex Gnaisses.


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2.3.5. Cataclase

Resulta do cisalhamento e trituração de grãos que se apresentam fraturados e pulverizados por


fraturamento. Cataclasitos são rochas deformadas ao longo dos planos de falha, sem reconstituição
química. Com intensidade crescente de pressão confinante a brecha passa a milonitos e
ultramilonitos. Os milonitos são rochas finamente granuladas resultante de extrema trituração em
ambiente confinado de rochas originalmente de granulação grosseira, situadas entre massas de rochas
que se moveram nos lados opostos de uma zona de falha. Também são chamadas de microbrechas.
Feições características são bandamento e olhos ou lentes da rocha original envolvidas, alinhadas
segundo a direção do movimento, em uma matriz granulada. Formam, por exemplo, os gnaisses
facoidais. No ultramilonito as estruturas primárias e porfiroclásticas foram inteiramente obliteradas,
de modo que a rocha torna-se homogênea e afanítica, com aparência de sílex. As rochas resultantes
de metamorfismo cinemático são:

a) Brechas de fricção - cataclasitos (ocorre perto da superfície);

b) Milonito: Exemplo Augengnaiss = Augen (Textura ocelar ou oftálmica), porfiroclastos de


minerais que sobreviveram a "moagem";

c) Ultramilonito a textura torna-se afanítica; ou

d) Pseudotaquilito, material escuro denso semelhante a um vidro, formado de material


criptocristalino resultante de trituração extrema causada por compressão e cisalhamento
associados com intenso movimento ao longo do plano de falha.

Cristais de origem metamórfica são denominados blastos ou cristaloblastos, equivalente a


cristais das rochas ígneas.

BLASTESE: Processo de formação e cristalização mineral durante o metamorfismo. O


crescimento do cristal ocorre no meio sólido. Durante o metamorfismo os minerais ocupam os
espaços porosos (vazios) preexistentes e se desenvolvem perpendicularmente à direção dos esforços.
A massa cristalina se desloca das partes do mineral sob maior pressão para as partes sob menor
pressão.

2.4. Deformação e cristalização

Deformação pré-cristalina: Deformação da rocha antes da cristalização.

Deformação pará-cristalina: Deformação e cristalização simultâneas

Deformação pós-cristalina: Deformação da rocha depois da cristalização

2.5. Principais tipos de rochas metamórficas

Além da natureza dos cristais a do tipo de metamorfismo também a intensidade do mesmo é


responsável pela presença de determinadas texturas. Com o aumento da temperatura, intensifica-se a
recristalização, e em conseqüência a destruição das texturas das rochas pré-metamórficas. Se, porém,

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a recristalização for fraca, dada a brandas condições metamórficas sob as quais ocorre, podem ficar
preservadas certas feições texturais características das rochas originais e que recebem o nome
genérico de texturas relictas, ou palimpsésticas.

Ardósia: Rocha muito fina, apresenta uma clivagem ardosiana (slaty cleavage) bem
desenvolvida. Esta clivagem resultou do crescimento incipiente paralelo de minerais micáceos
(sericita e clorita, especialmente), devido ao metamorfismo (regional, geralmente) de rochas
sedimentares terrígenas finas (lutitos), como folhelhos, siltitos etc. Os planos de estratificação
originais são ainda reconhecíveis, e em muitos casos não coincidem com os planos da clivagem da
rocha.

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Filito: uma rocha de granulação fina, xistosa, resultante de metamorfismo regional mais intenso
que na ardósia. As superfícies de xistosidade possuem um característico brilho sedoso, devido ao
desenvolvimento de novos minerais micáceos.

Xisto: Rocha fortemente xistosa comumente lineada, que tem granulação grosseira o suficiente
para a identificação macroscópica de muitos minerais. As micas são geralmente abundantes. De
maneira geral, de grau metamórfico mais avançado que o filito.

Gnaisse: Rocha de granulação média a grosseira, bandeada (bandas escuras com minerais
ferromagnesianos, geralmente mica e anfibólios, e bandas claras, quartzo-feldspáticas). Tem
xistosidade indistinta e é normalmente de grau metamórfico regional superior ao xisto. As bandas de
minerais nos gnaisses são o resultado de diferenciação metamórfica, na qual minerais instáveis
recristalizam como minerais novos mais estáveis em bandas alternadas de minerais claros (félsicos) e
escuros (máficos).

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Granulito: Rochas de grau metamórfico muito alto, sem uma nítida orientação preferencial dos
constituintes, que são normalmente plagioclásio, quartzo, piroxênios, e mais escassamente biotita e
granada. Pode possuir uma grosseira foliação dada pelas "lentes" de quartzo orientadas.

Mármore: Rocha metamórfica constituída por grãos recristalizados e inter-inclusos de calcita e


dolomita. Possui normalmente textura granoblásica.

Quartzito: Rocha metamórfica constituída por grãos recristalizados de quartzo de arenito


relativamente puro. Pode ser granoblástico ou xistoso (se grãos lenticulares de quartzo mostrarem
orientação preferencial e/ou micas estiverem presentes).

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Milonito: Rocha cataclástica de textura fina, bandeada ou "riscada" resultante da "moagem" de
rochas mais grosseiras ao longo de zonas de falhamentos (transcorrentes e de empurrão), sem
considerável recristalização. "Olhos" ou lentes miúdas da rocha original podem ser mantidos, numa
matriz fina escura.

Meta-sedimentos, Meta-ígneas: Rochas que mantiveram a textura original da rocha pré-


existente (um arenito ou um basalto, por exemplo), mas sofreram recristalização e/ou neoformação de
minerais em condições metamórficas. Exemplos: Meta-arenito, metaconglomerado.

Migmatitos, Anatexitos: Rochas do alto grau metamórfico, do tipo gnaisse, que sofreram
fusão parcial ou injeção" por um magma granítico, resultando em um aspecto nebuloso, venular, etc.
Os minerais com baixo ponto de fusão fundem e os minerais com alto ponto de fusão permanecem
nos migmatitos. Nos anatexitos não há fusão total. Eles mostram uma leve estrutura xistosa e uma
composição semelhante a do granito. Migmatito é uma rocha consistindo de material composto de
material ígneo ou semelhante a ígneo e ou metamórfico.

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Paleossoma são as partes da rocha pré-existente que sofreram modificações ou então apenas
modificações incipientes durante a migmatização e neossoma são as frações novas de rochas
formadas durante a migmatização, quer por fusão parcial quer por remobilização ou pela introdução
de material externo no sistema pré-existente.

Eclogito: Rocha metamórfica de alto grau, granular, composta essencialmente de granada


(almandina) e piroxênio sódico (onfacita). Rutilo, cianita e quartzo são tipicamente presentes.

2.6. Metamorfismo e tectônica de placas

Movimentos de placas criam calor, pressão e fluidos quentes circulantes que produzem muito das
rochas metamórficas da Terra. A maioria do conhecimento presente do metamorfismo parece se
conformar bem com a dinâmica da Terra proposta pela teoria da tectônica de placas. Neste modelo, a
construção de montanhas e metamorfismo associado ocorrem ao longo de zonas convergentes onde
placas da litosfera estão se movendo uma de encontro a outra ou outras. É nessas localizações que
forças compressivas espremem e geralmente deformam as bordas das placas convergentes e os
sedimentos que se acumularam ao longo das margens dos continentes.

Os sedimentos carregados pela placa em subducção são misturados com fragmentos vulcânicos
do assoalho oceânico. Este material, em parte retido, na zona de subducção recebe o nome de
melange (do francês mistura). O modelo de tectônica de placas também considera a atividade ígnea
associada com a construção de montanhas. Nas zonas convergentes, material é empurrado a
profundidades onde as temperaturas e pressões são altas . A fusão eventual de algum material
subductado cria magma que migra para cima para cristalizar no núcleo de massas montanhosas.

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