Você está na página 1de 7

PROCESSO Nº: 0802760-57.2014.4.05.

8200 - APELAÇÃO
APELANTE: ESTELA SOUTO CORDEIRO
ADVOGADO: VIVIANE DOS SANTOS SOUSA (e outro)
APELADO: FUNDACAO NACIONAL DE SAUDE - FUNASA
RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL MANOEL DE OLIVEIRA ERHARDT - 1ª
TURMA

RELATÓRIO

1. Trata-se de apelação manejada por ESTELA SOUTO CORDEIRO, pensionista de ex-


servidor da FUNASA, ocupante do cargo de agente de saúde pública, falecido em 17.12.1986, em
face de sentença que:

a) em relação à GDPST, acolheu a preliminar de coisa julgada, suscitada pela FUNASA,


extinguindo o processo sem resolução do mérito, com fundamento no artigo 485, V, do
CPC/2015; e,

b) em relação à GACEN, declarou prescrita a pretensão de cobrança das eventuais parcelas


vencidas antes de 19.08.2009 e, no mérito, julgou improcedente o pedido, extinguindo o
processo com resolução do mérito, nos termos do art. 487, inciso I, do CPC/2015.

2. Em suas razões recursais, a apelante alega que o decisum merece ser reformado, uma
vez que, da leitura dos arts. 54 e 55 da Lei 11.784/08, fica claro que a GACEN é uma gratificação
paga no mesmo valor a todos os servidores da ativa, indistintamente, em razão do cargo, sem
que haja necessidade de aferição de desempenho ou produtividade, possuindo, assim, natureza
genérica, devendo, pois, ser extensível a todos os aposentados e pensionistas, especialmente
aos benefícios concedidos antes da Emenda Constitucional 41/2003.

3. Contrarrazões apresentadas.

4. É este o relatório.

PROCESSO Nº: 0802760-57.2014.4.05.8200 - APELAÇÃO


APELANTE: ESTELA SOUTO CORDEIRO
ADVOGADO: VIVIANE DOS SANTOS SOUSA (e outro)
APELADO: FUNDACAO NACIONAL DE SAUDE - FUNASA
RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL MANOEL DE OLIVEIRA ERHARDT - 1ª
TURMA

VOTO

1. A questão controversa consiste em saber se pensionista de ex-servidor da FUNASA,


ocupante do cargo de agente de saúde pública, faz jus ao recebimento da Gratificação de
Atividade de Combate e Controle de Endemias - GACEN, no mesmo patamar deferido aos
servidores em atividade.

2. A este respeito, verifica-se que a GACEN foi instituída pela Lei 11.784/2008 nos
seguintes termos:

Art. 54. Fica instituída, a partir de 1º de março de 2008, a Gratificação de Atividade de Combate
e Controle de Endemias - GACEN, devida aos ocupantes dos cargos de Agente Auxiliar de Saúde
Pública, Agente de Saúde Pública e Guarda de Endemias, do Quadro de Pessoal do Ministério da
Saúde e do Quadro de Pessoal da Fundação Nacional de Saúde - FUNASA, regidos pela Lei no
8.112, de 11 de dezembro de 1990.

Art. 55. A GECEN e a GACEN serão devidas aos titulares dos empregos e cargos públicos de
que tratam os arts. 53 e 54 desta Lei, que, em caráter permanente, realizarem atividades de
combate e controle de endemias, em área urbana ou rural, inclusive em terras indígenas e de
remanescentes quilombolas, áreas extrativistas e ribeirinhas.

§1o . (Revogado pela Lei nº 12.778, de 2012)

§2o A GACEN será devida também nos afastamentos considerados de efetivo exercício, quando
percebida por período igual ou superior a 12 (doze) meses.

§3o Para fins de incorporação da GACEN aos proventos de aposentadoria ou às pensões dos
servidores que a ela fazem jus, serão adotados os seguintes critérios: (Redação dada pela Lei nº
12.702, de 2012)

I - para as aposentadorias e pensões instituídas até 19 de fevereiro de 2004, a Gacen será:

a) a partir de 1o de março de 2008, correspondente a 40% (quarenta por cento) do seu valor; e

b) a partir de 1o de janeiro de 2009, correspondente a 50% (cinquenta por cento) do seu valor; e

II - para as aposentadorias e pensões instituídas após 19 de fevereiro de 2004:

a) quando aos servidores que lhes deram origem se aplicar o disposto nos arts. 3o e 6º da
Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003, e no art. 3º da Emenda Constitucional
nº 47, de 5 de julho de 2005, aplicar-se-ão os percentuais constantes do inciso I deste parágrafo;
e

b) aos demais aplicar-se-á, para fins de cálculo das aposentadorias e pensões, o disposto na Lei
no 10.887, de 18 de junho de 2004.
§4o A Gecen e a Gacen não servirão de base de cálculo para quaisquer outros benefícios,
parcelas remuneratórias ou vantagens.

§5o A Gecen e a Gacen serão reajustadas na mesma época e na mesma proporção da revisão
geral da remuneração dos servidores públicos federais.

§6o A Gecen e a Gacen não são devidas aos ocupantes de cargo em comissão ou função de
confiança.

§7o A Gecen e a Gacen substituem para todos os efeitos a vantagem de que trata o art. 16 da
Lei no 8.216, de 13 de agosto de 1991.

§8o Os servidores ou empregados que receberem a Gecen ou Gacen não receberão diárias que
tenham como fundamento deslocamento nos termos do caput deste artigo, desde que não exija
pernoite.

Art. 55-B. A partir de 1o de janeiro de 2013, os valores da GECEN e da GACEN são os


constantes do Anexo XLIX-A desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.778, de 2012)

3. Posteriormente, o art. 284 da MP 441/2008, convertida na Lei 11.907/2009, estendeu a


GACEN a diversos outros cargos pertencentes ao Quadro de Pessoal do Ministério da Saúde e
da FUNASA:

Art. 284. Aplica-se a Gratificação de Atividade de Combate e Controle de Endemias - GACEN,


de que trata o art. 54 da Lei nº 11.784, de 22 de setembro de 2008, aos servidores do Quadro de
Pessoal do Ministério da Saúde e do Quadro de Pessoal da Fundação Nacional de Saúde -
FUNASA, regidos pela Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, ocupantes dos seguintes
cargos:

I - Agente de Saúde;

II - Auxiliar de Laboratório;

III - Auxiliar de Laboratório 8 (oito) horas;

IV - Auxiliar de Saneamento;

V - Divulgador Sanitário;

VI - Educador em Saúde;

VII - Laboratorista;

VIII - Laboratorista Jornada 8 (oito) horas;

IX - Microscopista;

X - Orientador em Saúde;

XI - Técnico de Laboratório;

XII - Visitador Sanitário; e

XIII - Inspetor de Saneamento.


Parágrafo único. O titular do cargo de Motorista ou de Motorista Oficial que, em caráter
permanente, realizar atividades de apoio e de transporte das equipes e dos insumos necessários
para o combate e controle das endemias fará jus à gratificação a que se refere o caput deste
artigo.

4. Da análise dos dispositivos acima transcritos tem-se que as Leis 11.784/2008 e


11.907/2009 concederam a GACEN aos servidores ocupantes de cargos específicos e que
realizem atividades de controle e combate a endemias em caráter permanente, estendendo tal
gratificação também aos respectivos aposentados e pensionistas, mas, para estes, em um
percentual do valor pago aos servidores ativos, nos termos do art. 55, §3o. da Lei 11.784/2008.

5. Entretanto, nos termos do art. 7º da EC n° 41/2003, todos os servidores que já estavam


aposentados à época da publicação da referida emenda, bem assim os pensionistas que já
percebiam benefício naquela ocasião, fazem jus a quaisquer benefícios ou vantagens
posteriormente concedidos aos servidores em atividade, isto é, têm direito à paridade de
vencimentos com os ativos, como ocorre no caso em comento, em que o instituidor da pensão
faleceu em 1986.

6. Desse modo, a GACEN também é devida, nos mesmos moldes em que paga aos
servidores em atividade, a todos os inativos e pensionistas que, antes da EC 41/2003, já estavam
aposentados nos cargos relacionados pelas Leis 11.784/2008, 11.907/2009 e 12.269/2010 ou
que já eram pensionistas de servidor que ocupou os referidos cargos.

7. Ressalte-se, outrossim, que não merece acolhida o argumento de que a GACEN não
teria caráter geral pelo fato de ser devida apenas aos servidores que se dediquem, em caráter
permanente, às atividades de combate e controle de endemias, tendo em vista que referida
vantagem foi estendida, por expressa disposição legal, a inativos e pensionistas,
independentemente do atendimento de tal requisito.

8. Assim, é forçoso concluir que a GACEN passou a ser paga exclusivamente em razão do
cargo, de modo que fazem jus à referida gratificação os servidores ocupantes dos cargos
descritos em lei, estejam eles ativos ou inativos.

9. O que se vê, na verdade, é que o pagamento diferenciado da GACEN aos inativos


configura mero artifício para fugir à regra constitucional da paridade, com a instituição de técnica
de aumento de vencimento aos servidores da ativa sem atribuir aos aposentados e pensionistas
tal incremento.

10. Corroborando o entendimento ora esposado, trago à colação o precedente deste


egrégio Tribunal, in verbis:

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR INATIVO DA FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. DIREITO A


PERCEPÇÃO DA GRATIFICAÇÃO DE ATIVIDADE DE COMBATE E CONTROLE DE
ENDEMIAS - GACEN - NO MESMO VALOR MENSAL FIXO PERCEBIDO PELOS SERVIDORES
ATIVOS. POSSIBILIDADE. ART. 40, PARÁGRAFO 8º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL/88.

1. Ação Ordinária na qual os substituídos, aposentados e pensionistas vinculados a FUNASA,


requerem a Gratificação de Atividade de Combate e Controle de Endemias - GACEN - no mesmo
valor mensal fixo percebido pelos servidores ativos.

2. A Gratificação de Atividade de Combate e Controle de Endemias - GACEN, instituída pela Lei


nº 11.784/2008, beneficiou, a priori, os servidores efetivos que ocupam os cargos de Agente
Auxiliar de Saúde Pública, Agente de Saúde Pública e Guarda de Endemias, do Quadro de
Pessoal do Ministério da Saúde e da Fundação Nacional de Saúde - FUNASA, que, em caráter
permanente, realizam atividades de combate e controle de endemias. Com a edição das Leis nºs
11.907/2009 e 12.269/2010 outras categorias foram agraciadas também com o recebimento da
Gratificação em comento, no valor fixo de R$ 590,00 (quinhentos e noventa reais).

3. O servidor aposentado ou instituidor da pensão que exerceu efetivamente os cargos previstos


no art. 54 da Lei nº 11.784/2008 ou nos Art. 284, 284-A da Lei nº 11.907/2009, e se aposentou
até Emenda Constitucional nº 41/2003, com a paridade de vencimentos, tem direito a receber a
GACEN no mesmo valor que os servidores da ativa que ocupam os respectivos cargos, nos
termos do parágrafo 8º do art. 40 da CF/88.

4. É de se ressaltar que o Legislativo pode estabelecer vantagem de forma diferenciada para os


servidores da ativa e aposentados e pensionistas, sem que implique em inconstitucionalidade,
desde que observado o direito adquirido dos servidores aposentados com a paridade de
vencimentos.

5. Para as aposentadorias e pensões instituídas até 19 de fevereiro de 2004, sem a paridade


vencimental, a GACEN é devida nos termos do parágrafo 1º, do art. 55 da Lei nº 11.784/2008, ou
seja, a partir de 1º de março de 2008, correspondente a 40% (quarenta por cento) do valor pago
aos servidores ativos; e a partir de 1º de janeiro de 2009, correspondente a 50 % (cinquenta por
cento) do seu valor.

6. E para as aposentadorias e pensões instituídas após 19 de fevereiro de 2004, deve-se aplicar


a disposição da Lei nº 10.887/2004, que dispõe sobre a aplicação de disposições da Emenda
Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2004, que substituiu o regime de aposentadoria
integral pelo regime de aposentadoria proporcional.

7. Apelação e remessa oficial improvidas. (TRF5, APELREEX 19.370/RN, Des. Federal


FRANCISCO WILDO, Dje 19.04.2012).

11. Na hipótese dos autos, o instituidor da pensão, servidor permanente dos quadros da
Fundação Nacional de Saúde, era ocupante do cargo de Agente de Saúde Pública, tendo falecido
em 1986, isto é, antes da edição da EC 41/2003, portanto, a demandante tem garantida em seu
favor a regra da paridade, devendo o valor da gratificação recebida na ativa compor o valor dos
proventos em sua integralidade.

12. Faz jus, pois, a demandante à referida gratificação (GACEN) nas mesmas condições em
que é paga aos servidores em atividade, com o pagamento das diferenças pretéritas não
alcançadas pela prescrição quinquenal, atualizadas mediante juros de mora e correção monetária
nos termos fixados na sentença.

13. Com essas considerações, dou provimento à apelação, para reconhecer o direito da
autora à percepção da Gratificação de Atividade de Combate e Controle de Endemias - GACEN
no mesmo valor mensal fixo percebido pelos servidores ativos, nos moldes do art. 55, § 1º, da Lei
n. 11.784/08, devendo ser paga a diferença entre os valores que os servidores ativos receberam
a título de GACEN e os valores recebidos por ela, a esse mesmo título, respeitando-se a
prescrição quinquenal.

14. Os valores das correspondentes diferenças deverão ser atualizados monetariamente na


forma do Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal, e sofrer
incidência de juros de mora no percentual de 0,5% ao mês (art. 1º-F, da Lei 9.494/97).

15. Fixação da sucumbência recíproca, tendo em vista que a parte autora foi parcialmente
vencedora, devendo os honorários advocatícios ficarem reciprocamente compensados entre si.
16. É como voto.

PROCESSO Nº: 0802760-57.2014.4.05.8200 - APELAÇÃO


APELANTE: ESTELA SOUTO CORDEIRO
ADVOGADO: VIVIANE DOS SANTOS SOUSA (e outro)
APELADO: FUNDACAO NACIONAL DE SAUDE - FUNASA
RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL MANOEL DE OLIVEIRA ERHARDT - 1ª
TURMA

EMENTA

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. FUNASA. PENSIONISTA. GACEN - GRATIFICAÇÃO


DE ATIVIDADE DE COMBATE E CONTROLE DE ENDEMIAS. PARIDADE ENTRE ATIVOS E
INATIVOS. POSSIBILIDADE. BENEFÍCIO CONCEDIDO ANTES DA EC 41/2003.
PRECEDENTES. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA.

1. Trata-se de apelação manejada por pensionista de ex-servidor da FUNASA, ocupante


do cargo de agente de saúde pública, falecido em 17.12.1986, em face de sentença que: a) em
relação à GDPST, acolheu a preliminar de coisa julgada, suscitada pela FUNASA, extinguindo o
processo sem resolução do mérito, com fundamento no artigo 485, V, do CPC/2015; e b) em
relação à GACEN, declarou prescrita a pretensão de cobrança das eventuais parcelas vencidas
antes de 19.08.2009 e, no mérito, julgou improcedente o pedido, extinguindo o processo com
resolução do mérito, nos termos do art. 487, inciso I, do CPC/2015.

2. A Lei 11.784/2008 concedeu a GACEN aos servidores ocupantes de cargos específicos


e que realizem atividades de controle e combate a endemias em caráter permanente, estendendo
tal gratificação também aos respectivos aposentados e pensionistas, mas, para estes, em um
percentual do valor pago aos servidores ativos.

3. Verificando-se que a GACEN passou a ser paga exclusivamente em razão do cargo,


fazem jus à referida gratificação os servidores ocupantes dos cargos descritos em lei, estejam
eles ativos ou inativos.

4. Nos termos do art. 7º da EC 41/2003, os aposentados à época da publicação da referida


emenda e os pensionistas têm direito a quaisquer benefícios ou vantagens posteriormente
concedidos aos servidores em atividade, ou seja, têm direito à paridade de vencimentos com os
servidores ativos.

5. Na hipótese dos autos, o instituidor da pensão, servidor permanente dos quadros da


Fundação Nacional de Saúde, era ocupante do cargo de Agente de Saúde Pública, tendo falecido
em 1986, isto é, antes da edição da EC 41/2003, portanto, a demandante tem garantida em seu
favor a regra da paridade, devendo o valor da gratificação recebida na ativa compor o valor dos
proventos em sua integralidade.

6. Faz jus a demandante à referida gratificação, nas mesmas condições em que é paga
aos servidores em atividade, com o pagamento das diferenças pretéritas não alcançadas pela
prescrição quinquenal. Precedente: TRF5, APELREEX 19.370/RN, Des. Federal FRANCISCO
WILDO, Dje 19.04.2012.

7. Apelação provida, para reconhecer o direito da autora à percepção da Gratificação de


Atividade de Combate e Controle de Endemias - GACEN no mesmo valor mensal fixo percebido
pelos servidores ativos, nos moldes do art. 55, § 1º, da Lei 11.784/2008, devendo ser paga a
diferença entre os valores que os servidores ativos receberam a título de GACEN e os valores
recebidos por ela, a esse mesmo título, respeitando-se a prescrição quinquenal.

DS-LNC

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima mencionadas, ACORDAM
os Desembargadores Federais da Primeira Turma do TRF da 5a. Região, por unanimidade, em
dar provimento à apelação, nos termos do relatório, voto e notas taquigráficas constantes dos
autos, que ficam fazendo parte do presente julgado.

Você também pode gostar