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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SÃO PAULO

CORPO DE AUDITORES

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PABX: (11) 3292-3266 - Internet: http://www.tce.sp.gov.br

SENTENÇA DA AUDITORA SILVIA MONTEIRO

PROCESSO: TC-007943/989/16
ÓRGÃO: INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS DO MUNICÍPIO DE
PAULÍNIA - PAULIPREV
RESPONSÁVEL: MÁRIO LACERDA DE SOUZA – DIRIGENTE À ÉPOCA
ASSUNTO: APOSENTADORIA
EX-SERVIDORA: MIRNA COUTINHO, PIS/PASEP Nº 10105903229
EXERCÍCIO: 2014
INSTRUÇÃO: UR-3 CAMPINAS/DSF-I

RELATÓRIO

Em exame o ato concessório de aposentadoria do Instituto de


Previdência dos Funcionários Públicos do Município de Paulínia - PAULIPREV, em
favor da Senhora MIRNA COUTINHO, no exercício de 2014.
A aposentadoria foi fundamentada no art. 3º da EC 47/2005, com
proventos integrais (100% da última remuneração), no cargo de Adjunto
Administrativo.
A Fiscalização manifestou-se pela irregularidade, tendo em vista
a inclusão de verbas indevidas (de natureza indenizatória e transitória) incluídas
no cálculo da aposentadoria:
Auxilio Saúde;
Auxilio Alimentação;
Media de Horas Extra.

A Origem, o Responsável e a aposentada foram notificados, nos


termos do inciso XIII, do artigo 2°, da Lei Complementar n° 709/93 (evento nº
13.1).
Em resposta, o Instituto de Previdência dos Funcionários de
Públicos de Paulínia apresentou as alegações de defesa inseridas no evento nº 37.1.
Em síntese, defendeu a legalidade do cálculo do benefício, tendo
em vista que as parcelas foram consideradas para incidência da contribuição
previdenciária. Também discorreu acerca da natureza jurídica de cada parcela
remuneratória:

Auxílio Alimentação e Auxílio Saúde: entende que tais


parcelas devem ser incorporadas porque têm natureza salarial, em razão das
Leis nº s 2490/2001 e 2493/2001, respectivamente. E também pela Súmula 241 e
243 do Tribunal Regional do Trabalho – TST ( auxílio alimentação).
Horas Extras: afirmou que a Justiça do Trabalho pacificou o
entendimento de que as horas extras habituais agregam o salário e devem ser
aplicadas ao caso as regras constitucionais de irredutibilidade de salário
(inciso VI, do artigo 7º da Constituição Federal) e de irredutibilidade do
servidor público (inciso XV, do artigo 37 da Constituição Federal).
Adicional de Risco: não tem natureza transitória porque é
característica própria do cargo de segurança pública.

Em razão da similaridade da matéria tratada nestes autos e a


decisão proferida por esta auditora no TC-7863/989/16 e da retificação dos atos de
aposentadoria nos recursos ordinários dos TC-2888/989/15, TC-2889/989/15, TC-
2891/989/15, TC-2892/989/15, TC-2893/989/15, TC-2894/989/15, 2895/989/15 e TC-
2897/989/15, foi concedido o prazo para que o Instituto de Previdência dos
Funcionários Públicos de Paulínia apresentasse a retificação dos atos de
aposentadoria com os respectivos cálculos (evento nº 59.1).
O Instituto de Previdência solicitou dilações de prazo para
apresentar os cálculos retificatórios, as quais foram deferidas (eventos nº 68.1 e
75.1). Entretanto, o Instituto não os apresentou.
Alegou que foi proposta Ação de Repetição de Indébito com
Antecipação de Tutela nº 1006476-58.2016.8.26.0428 pela servidora Kelly Regina
Sainz Pontes.
Nessa senda, asseverou que a decisão do Poder Judiciário divergiu
da deste Tribunal e pugnou que fossem analisados os reflexos decorrentes.
A Assessoria Técnico-Jurídica opinou pelo sobrestamento do feito
até o julgamento do recurso interposto na ação judicial conforme parecer inserido
no evento nº 103.1.
Estes autos não foram selecionados para análise específica pelo
Ministério Público de Contas, nos termos do Ato Normativo PGC 006/2014, de
03.02.2014, publicado no DOE de 08.02.2014.
É o relatório.

DECISÃO

Preliminarmente, ressalto a independência constitucional desta


Corte de Contas em exercer sua jurisdição.
Dando sequência, depreendo dos autos que o ato de concessão da
aposentadoria em tela está irregular em razão da inclusão de verbas consideradas de
caráter indenizatório e transitório no valor do provento, pois o mesmo foi
calculado em desacordo com a legislação municipal e com as diretrizes
constitucionais sobre o assunto.
Ademais, a própria decisão proferida na ação de repetição de
indébito (Ação de Repetição de Indébito nº 1006476-58.2016.8.26.0428), noticiada
nos autos pela defesa deixa claro que as verbas de auxílio alimentação e auxílio
saúde são indenizatórias:

(...) “Inquestionável que as verbas inerentes a


auxílio alimentação, vale transporte e auxílio saúde, sobre as quais vem
incidindo contribuição previdenciária, conforme restou demonstrado pelos
holerites anexos à exordial e admitido pela segunda requerida, devem ser
consideradas como verbas indenizatórias, estando excluídas da incidência
da citada contribuição”.

No que tange ao auxílio alimentação inegável o caráter


indenizatório, como compensação por despesas com refeição durante a jornada de
trabalho. Para corroborar ressalto a conversão da Súmula nº 680 do Supremo Tribunal
[1]
Federal em Súmula Vinculante nº 55 .
Com relação ao auxílio saúde, além estar em dissonância com o
caráter contributivo exigível para o sistema previdenciário, não encontra apoio no
interesse público e nas exigências do serviço.
Fazendo menção a média de horas extras, vejamos o que dispõe o
art. 47, da LC nº. 17/2001:

“Art. 47 – Além do vencimento e das vantagens


previstas nesta lei complementar, serão deferidas aos funcionários as
seguintes gratificações e adicionais:
I – gratificação natalina;
II – adicional por tempo de serviço;
III – adicional pelo exercício de atividades
insalubres, perigosas ou penosas;
IV – adicional pela prestação de serviço
extraordinário;
V – adicional noturno;
VI – adicional de férias;
VII – benefício do 14º Salário.
Parágrafo Único – Somente o adicional por tempo de
serviço incorpora-se aos vencimentos para os efeitos de direito”.(g.n)
Verifica-se que o § único da referida norma municipal fixa que
somente o adicional por tempo de serviço se incorpora aos vencimentos para os
efeitos de direito, portanto, somente o adicional citado deverá integrar o cálculo
dos proventos de aposentadoria, excluindo as parcelas não incorporáveis como as
horas extras e o adicional noturno, restando-se inviável sua integração ao quadro
de verbas inclusas à aposentadoria.
A incorporação dessas parcelas de natureza indenizatória ou
temporária, cujas leis criam ônus excessivos e desnecessários para o Poder Público,
causa situação ilícita e lesiva comprometedora da saúde financeira do erário e,
agravando a situação, estender tais auxílios aos inativos viola o princípio da
[2]
razoabilidade esculpido no artigo 111 da Constituição Estadual, aplicável aos
[3]
Municípios pelo artigo 144 , contrariando o artigo 128 da Constituição Estadual,
“in verbis”:

“Art. 128 - As vantagens de qualquer natureza só


poderão ser instituídas por lei e quando atendam efetivamente ao
interesse público e às exigências do serviço”.

Ressalto que a análise dos autos se circunscreve à legalidade do


ato de concessão dos proventos de aposentadoria.
A fiscalização atestou que os requisitos foram preenchidos, mas o
valor não está correto, está em desacordo com a legislação. Agora se houve
incidência de contribuição sobre parcelas indevidas, em descompasso, essa discussão
não é passível de análise por esta Corte de Contas, mas de ingresso com ação de
repetição de indébito, como a própria defesa trouxe aos autos.
Portanto, no cálculo dos proventos de aposentadoria, a servidores
municipais de Paulínia que tiverem seus benefícios iniciais calculados com base na
última remuneração, podem ser integrados apenas os vencimentos do cargo efetivo e o
adicional por tempo de serviço. Demais parcelas remuneratórias devem ser excluídas
em razão da natureza jurídica indenizatória ou transitória.
Por fim, embora a defesa tenha envidado esforços em equiparar
remuneração de contribuição com os proventos de aposentadoria, não há supedâneo
legal para tanto.
Com fulcro no acima abordado, todas as verbas estranhas ao
salário base e ao adicional por tempo de serviço devem ser excluídas da apuração
dos proventos iniciais de aposentadoria.
Dessa forma, nos termos do que dispõe a Resolução n° 03/2012
deste Tribunal, JULGO ILEGAL o ato concessório da aposentadoria em exame, negando-
lhe o respectivo registro e aplicando, por conseguinte, o disposto nos incisos XV e
XXVII do art. 2º da Lei Complementar Estadual nº 709/93.
Fixo ao responsável atual o prazo de 60 dias para informar a este
Tribunal a adoção das providências para regularização da matéria, sob pena de
aplicação de multa e envio de cópia ao D. Ministério Público.
Conforme Resolução 1/2011, a íntegra da decisão e demais
documentos poderão ser obtidos mediante regular cadastramento no Sistema de
Processo Eletrônico – e.TCESP, na página www.tce.sp.gov.br.

Publique-se, por extrato.

1. Ao Cartório para:
a. publicar e certificar;
b. oficiar o atual responsável pela origem para que apresente, em 60
(sessenta) dias, as providências para regularização da matéria, sob pena
de aplicação de multa e envio de cópia ao D. Ministério Público.
c. oficiar à Prefeitura e à Câmara, nos termos dos incisos XV e XXVII, do
artigo 2º, da Lei Complementar Estadual n. 709/93, para ciência.
2. Após, ao DSF-2.1 para as providências cabíveis, retornando a este gabinete.

C.A., 10 de setembro de 2018


SILVIA MONTEIRO
AUDITORA
PROCESSO: TC-007943/989/16
ÓRGÃO: INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS DO MUNICÍPIO DE
PAULÍNIA - PAULIPREV
RESPONSÁVEL: MÁRIO LACERDA DE SOUZA – DIRIGENTE À ÉPOCA
ASSUNTO: APOSENTADORIA
EX-SERVIDORA: MIRNA COUTINHO, PIS/PASEP Nº 10105903229
EXERCÍCIO: 2014
INSTRUÇÃO: UR-3 CAMPINAS/DSF-I

EXTRATO: Pelos fundamentos expostos na sentença referida, JULGO


ILEGAL o ato concessório da aposentadoria em exame, negando-lhe o respectivo
registro e aplicando, por conseguinte, o disposto nos incisos XV e XXVII do art. 2º
da Lei Complementar Estadual nº 709/93. Fixo ao responsável atual o prazo de 60
dias para informar a este Tribunal a adoção das providências para regularização da
matéria, sob pena de aplicação de multa e envio de cópia ao D. Ministério Público.
Conforme Resolução 1/2011, a íntegra da decisão e demais documentos poderão ser
obtidos mediante regular cadastramento no Sistema de Processo Eletrônico – e.TCESP,
na página www.tce.sp.gov.br.

Publique-se.

C.A., 10 de setembro de 2018


SILVIA MONTEIRO
AUDITORA
Rmello/sgof

[1] Súmula Vinculante 55 STF – O direito ao auxílio-alimentação não se estende aos servidores ina vos.
[2] “Art. 111 - A administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes do
Estado, obedecerá aos princípios legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, razoabilidade,
finalidade, motivação, interesse público e eficiência”. (grifei)
[3] “Art. 144 - Os Municípios, com autonomia política, legislativa, administrativa e financeira se auto-
organizarão por Lei Orgânica, atendidos os princípios estabelecidos na Constituição Federal e nesta
Constituição.” (grifei)

CÓPIA DE DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE POR: SILVIA CRISTINA MONTEIRO MORAES. Sistema e-TCESP. Para obter
informações sobre assinatura e/ou ver o arquivo original acesse http://e-processo.tce.sp.gov.br - link 'Validar
documento digital' e informe o código do documento: 1-FUY8-7BYU-6AHD-I39M

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