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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SÃO PAULO

GABINETE DO CONSELHEIRO REN ATO MARTINS COS TA

PRIMEIRA CÂMARA – SESSÃO DE 20/09/2016 – ITEM 50

TC-002618/026/14
Câmara Municipal: Botucatu.
Exercício: 2014.
Presidente da Câmara: Ednei Lázaro da Costa Carreira.
Acompanha: TC-002618/126/14.
Procurador de Contas: Celso Augusto Matuck Feres Júnior.
Fiscalizada por: UR-2 - DSF-II.
Fiscalização atual: UR-2 - DSF-II.

RELATÓRIO

Em julgamento as contas da Câmara Municipal de

Botucatu, relativas ao exercício de 2014.

Ao concluir a fiscalização in loco, a Unidade Regional

de Bauru – UR-2 elaborou o Relatório de fls. 14/31, apontando as

seguintes ocorrências:

HISTÓRICO DOS REPASSES FINANCEIROS RECEBIDOS –

orçamento acima das reais necessidades legislativas, em

descumprimento ao artigo 30 da Lei Federal nº 4.320/64 e ao artigo

12 da Lei de Responsabilidade Fiscal, em reincidência e em

desatendimento às recomendações deste Tribunal expedidas no

julgamento das contas dos exercícios de 2009 e 2011.

DESPESA DE PESSOAL – inclusões da Fiscalização em função do

pagamento de auxílio saúde aos inativos e pensionistas da Câmara.


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EXECUÇÃO CONTRATUAL – insuficiência na prestação de serviços

por empresa responsável pela transmissão de informações ao

Sistema AUDESP.

QUADRO DE PESSOAL – cargos em comissão cujas atribuições não

se tipificam como de direção, chefia e assessoramento, em

desrespeito ao artigo 37, inciso V, da Constituição Federal

(reincidência).

AUXÍLIO SAÚDE A SERVIDORES INATIVOS E PENSIONISTAS –

pagamentos de benefício a servidores inativos e pensionistas em

desacordo com a Súmula nº 680 do Supremo Tribunal Federal e com

a decisão proferida no TC-001667/026/12.

ATENDIMENTO À LEI ORGÂNICA, INSTRUÇÕES E

RECOMENDAÇÕES DO TRIBUNAL – entrega intempestiva de

documento ao Sistema AUDESP (reincidência); desatendimento às

recomendações desta E. Corte (reincidência).

EXPEDIENTE TC-002618/126/14 - trata do acompanhamento da

gestão fiscal.

Após notificação dos interessados para

conhecimento do Relatório da Fiscalização e apresentação de

alegações de interesse, o Presidente da Câmara Municipal de

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Botucatu no exercício de 2014 apresentou justificativas e documentos

às fls. 36/77.

A Assessoria Técnica, no aspecto econômico-

financeiro, considerou que não houve reincidência da irregularidade

referente à elaboração da previsão orçamentária do Legislativo acima

das reais necessidades do Órgão, porquanto a recomendação para

correção da falha foi expedida por esta Corte quando do julgamento

das Contas do exercício de 2012, em 25/11/2014.

Quanto ao pagamento de auxílio saúde a inativos e

pensionistas, considerou que a Origem continuou a observar o limite

imposto pelo artigo 20, inciso III, alínea “a”, da LRF, mesmo após a

inclusão desses gastos no cômputo das despesas de Pessoal.

Concluiu, por fim, pela regularidade das Contas da

Câmara Municipal de Botucatu relativas ao exercício de 2014.

Sob o enfoque jurídico, a Assessoria Técnica

manifestou-se pela regularidade das contas em apreço, mas propôs

recomendação à Edilidade para que cesse o pagamento de auxílio

saúde para os servidores inativos e pensionistas, por considerar que

tal despesa é devida apenas aos servidores ativos, em razão do

caráter indenizatório.

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A Chefia de ATJ ratificou os posicionamentos das

Assessorias Técnicas, propondo, ainda, que a Fiscalização verifique a

efetivação das medidas anunciadas referentes aos apontamentos

constantes no subitem “Quadro de Pessoal”.

O douto Ministério Público de Contas opinou pela

regularidade, com ressalvas, das contas apresentadas pela Câmara

Municipal de Botucatu, com proposta de recomendações para que a

Origem: realize com maior precisão a estimativa da receita,

adequando seu orçamento de modo a atender aos artigos 29 e 30 da

Lei Federal nº 4.320/64 e ao artigo 1º, § 1º e caput, do artigo 12 da

LRF; obedeça aos princípios da Transparência (artigo 1º, § 1º, da

LRF) e da Evidenciação Contábil (artigo 83 da Lei Federal nº

4.320/64); encaminhe correta e tempestivamente os dados ao

Sistema AUDESP; e atenda às Instruções e Recomendações exaradas

por esta Corte.

É o relatório.

ATT

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VOTO

A despesa total do Legislativo1 (1,85%) e os

dispêndios com folha de pagamento (50,52%) atenderam às

determinações estabelecidas no artigo 29-A, inciso I e § 1º, da

Constituição Federal2.

Os pagamentos dos subsídios adequaram-se ao

ato fixatório e aos limites constitucionais estabelecidos no artigo 29,

incisos VI, aliena “d” e VII3, e artigo 37, inciso XI4, da Constituição

1
O Município possui 127.328 habitantes, segundo dados do IBGE.
2
Art. 29-A – “O total da despesa do Poder Legislativo Municipal, incluídos os
subsídios dos Vereadores e excluídos os gastos com inativos, não poderá
ultrapassar os seguintes percentuais, relativos ao somatório da receita tributária e
das transferências previstas no § 5º do art. 153 e nos arts. 158 e 159,
efetivamente realizado no exercício anterior:
II – 6% (seis por cento) para Municípios com população entre 100.000 (cem mil)
e 300.00 (trezentos mil) habitantes;
(...)
§ 1º A Câmara Municipal não gastará mais de setenta por cento de sua receita
com folha de pagamento, incluído o gasto com o subsídio de seus Vereadores”.
(grifo nosso)
3
Art. 29, inciso VI – “o subsídio dos Vereadores será fixado pelas respectivas
Câmaras Municipais em cada legislatura para a subsequente, observado o que
dispõe esta Constituição, observados os critérios estabelecidos na respectiva Lei
Orgânica e os seguintes limites máximos:
d) em Municípios de cem mil e um a trezentos mil habitantes, o subsídio máximo
dos Vereadores corresponderá a cinquenta por cento dos subsídios dos Deputados
Estaduais.
(...)
VII – o total da despesa com a remuneração dos Vereadores não poderá
ultrapassar o montante de cinco por cento da receita do Município.”
4
Art. 37, XI – “a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e
empregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os
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Federal, não se identificando a concessão de verbas de gabinete,

ajuda de custo, auxílio ou encargos de gabinete, tampouco sessões

extraordinárias.

Os gastos com pessoal estiveram abaixo do limite

imposto no artigo 20, inciso III, alínea “a”, da Lei Complementar nº

101/005.

Sobre a inclusão dos pagamentos de auxílio saúde

a inativos e pensionistas nas despesas de Pessoal, acolho a

argumentação apresentada pelo ex-Presidente da Câmara Municipal

de Botucatu de que tais gastos não devem ser computados da forma

realizada pela Fiscalização, tendo em vista que não integram os

proventos ou pensões daqueles servidores.

proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente


ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não
poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal
Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos
Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder
Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder
Legislativo e o subsidio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a
noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em
espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário,
aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos
Defensores Públicos”.
5
Art. 20 – “A repartição dos limites globais do art. 19 não poderá exceder os
seguintes percentuais:
(...)
III – na esfera municipal:
a) 6% (seis por cento) para o Legislativo, incluindo o Tribunal de Contas do
Município, quando houver”. (grifo nosso)

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Além do estudo “Os limites da despesa de pessoal

do Município” elaborado por Flávio C. de Toledo Jr. e por Sérgio

Ciquera Rossi, apresentado pelo ex-Presidente da Câmara Municipal

de Botucatu às fls. 45/51, corrobora para exclusão dos pagamentos,

a título de auxílio saúde, do cômputo das despesas de Pessoal, o

Acórdão 894/2012 do E. Tribunal de Contas da União.

No supracitado Acórdão, o TCU entendeu que o

auxílio saúde configura benefício associado à assistência social,

alcançando todos àqueles que dele necessitarem e não possui

natureza remuneratória, portanto não se enquadrando na definição

de despesa com pessoal estabelecida no artigo 18, caput, da LRF6.

A Fiscalização atestou que os encargos sociais

processaram-se regularmente, que o gasto com combustível

mostrou-se compatível com o número de veículos da Câmara e que

não encontrou irregularidades nos itens: “Regime de Adiantamento”;

“Tesouraria, Almoxarifado e Bens Patrimoniais”; “Falhas de Instrução”

formal envolvendo os procedimentos licitatórios e as dispensas e

6
Art. 18, caput, da LRF – “Para os efeitos desta Lei Complementar, entende-se
como despesa total com pessoal: o somatório dos gastos do ente da Federação com
os ativos, os inativos e os pensionistas, relativos a mandatos eletivos, cargos,
funções ou empregos, civis, militares e de membros de Poder, com quaisquer
espécies remuneratórias, tais como vencimentos e vantagens, fixas e variáveis,
subsídios, proventos da aposentadoria, reformas e pensões, inclusive adicionais,
gratificações, horas extras e vantagens pessoais de qualquer natureza, bem como
encargos sociais e contribuições recolhidas pelo ente às entidades de previdência”.
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inexigibilidades; “Contratos Examinados In Loco”; “Análise do

Cumprimento das Exigências Legais”; “Livros e Registros”; e

“Fidedignidade dos Dados Informados ao Sistema AUDESP”.

No subitem “Quadro de Pessoal” foi apontada a

existência de cargos comissionados de Assessor de Comunicação e de

Assessor Técnico Jurídico, que não se tipificam como de direção,

chefia ou assessoramento, além de ter sido considerado que o já

citado auxílio saúde pago aos servidores públicos inativos e aos

pensionistas da Câmara Municipal contraria a Súmula 680 do STF e o

decidido no TC-1667/026/12.

Sobre o primeiro apontamento, considero que a

edição da Lei Complementar Municipal nº 1.141/2015, que criou os

postos efetivos de Procurador Técnico Jurídico e Repórter Legislativo,

afastou apenas parcialmente as falhas apontadas pela Fiscalização,

tendo em vista que o cargo comissionado de Assessor de

Comunicação continua existindo e com atribuições similares (fls. 52

do Anexo que acompanha estes autos), conforme demonstra o

quadro:

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ATRIBUIÇÕES ATRIBUIÇÕES
CARGO Lei Complementar nº Lei Complementar nº
913/2011 1.141/2015
Elaborar textos para divulgação dos Assessorar na produção de
trabalhos legislativos em geral; material visando à divulgação
encaminhar notícias aos órgãos de dos trabalhos legislativos em
imprensa; executar atividades de geral; assessorar nas relações do
comunicação interna, entre os setores Poder Legislativo com os demais
da Câmara e os Vereadores, e órgãos e veículos de
externa, com a comunidade; planejar comunicação; assessorar na
e desenvolver política de marketing realização de solenidades e
visando manter em bom nível a demais eventos promovidos pelo
imagem institucional da Câmara legislativo; acompanhar o
Municipal; atender aos Vereadores atendimento a visitantes e
Assessor de em atividades legislativas internas e autoridades; orientar e informar
Comunicação externas; assessorar na elaboração os veículos de comunicação sobre
de relatórios de atividades da os trabalhos oficiais; orientar,
Câmara; encaminhar as publicações quando solicitado, a atualização
de interesse da Câmara junto ao da página eletrônica da Câmara;
Semanário Oficial do Município; executar as demais tarefas
executar as atividades relativas ao próprias da sua área de atuação.
cerimonial da Câmara; acompanhar o
atendimento a visitantes e
autoridades; manter atualizada a
home Page da Câmara; executar as
demais tarefas próprias da sua área
de atuação.

Dessa forma, advirto à Câmara Municipal de

Botucatu para que corrija a irregularidade supracitada, tendo em

vista que a investidura em cargo comissionado representa exceção

constitucional, somente aceita para o desempenho de atividades que

excedam à mera burocracia administrativa, em razão de possuírem o

elemento confiança.

Em relação ao auxílio saúde aos servidores

públicos inativos e aos pensionistas da Câmara Municipal de

Botucatu, a Fiscalização e a Assessoria Técnica-Jurídica entenderam

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que o benefício é equivalente ao auxílio alimentação e dessa forma

deveria ser aplicada a vedação constante na Súmula 680 do STF7.

O STF consolidou entendimento de que o direito ao

auxílio-alimentação não se estende aos servidores inativos por duas

razões: as vantagens não integram a remuneração dos servidores em

atividade e não são compatíveis com a situação dos inativos8.

O benefício (auxílio-alimentação) não integra a

remuneração dos servidores em atividade em razão do seu caráter

meramente indenizatório e não é compatível com a situação dos

inativos, porquanto é fixado apenas para satisfazer o custo da

refeição diária do servidor em efetivo exercício do cargo público.

Ademais, o auxílio é concedido de acordo com os dias trabalhados e

os funcionários afastados do serviço para gozo das licenças

permitidas em lei ou para tratamento da saúde não são beneficiários.

Quanto ao auxílio saúde em questão, apesar de

configurar verba indenizatória, é totalmente compatível com a

situação dos inativos, pois o seu pagamento independe do efetivo

exercício do cargo e o servidor recebe o benefício ainda que afastado

por licenças permitidas em lei. Assim, considero que o benefício não

7
Súmula 680 do STF – “O direito ao auxílio-alimentação não se estende aos
servidores inativos”.
8
Conforme o precedente RE 236449 do STF.
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possui natureza equivalente ao auxílio alimentação e,

consequentemente, não é aplicável no presente caso a Súmula 680

do STF.

Ademais, ressalto que órgãos como o Tribunal de

Contas da União (Resolução-TCU nº 231/2009), o Superior Tribunal

de Justiça (Portaria STJ nº 49/2007) e o Conselho Nacional de Justiça

(Instrução Normativa nº 8/2012) também concederam a assistência à

saúde aos servidores ativos, inativos e pensionistas.

Nessas condições e acolhendo manifestações da

ATJ (Econômico-Financeira, Jurídica e Chefia) e d. MPC, com

embasamento no artigo 33, inciso II, da Lei Complementar nº

709/93, voto pela regularidade, com ressalvas, das contas da

Câmara Municipal de Botucatu, relativas ao exercício de 2014,

excetuados os atos pendentes de julgamento pelo Tribunal.

Nos termos do artigo 35 da aludida legislação,

considero quitado o responsável Ednei Lázaro da Costa Carreira.

Recomende-se ao atual Chefe do Legislativo que:

realize com maior precisão a estimativa da receita, adequando seu

orçamento de modo a atender aos artigos 29 e 30 da Lei Federal nº

4.320/64 e ao artigo 1º, § 1º e caput, do artigo 12 da LRF; atente à

regular execução dos ajustes celebrados e aplique as sanções


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contratuais em caso de descumprimento de obrigação pela

contratada; encaminhe tempestivamente as informações ao Sistema

AUDESP; corrija a falha apontada para o cargo em comissão de

Assessor de Comunicação; encaminhe tempestivamente os dados ao

Sistema AUDESP; e atenda às recomendações desta E. Corte.

RENATO MARTINS COSTA


CONSELHEIRO

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