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SYNAXÁRIO DO TRIODION

De Nicéforo Calisto Xantópulo

PRIMEIRO DOMINGO DO GRANDE JEJUM

DOMINGO DA ORTODOXIA

Neste dia, o Primeiro Domingo do Jejum, comemoramos a restauração

dos santos e veneráveis ícones, que foi realizada pelos sempre

memoráveis Imperadores de Constantinopla, Miguel e sua mãe Teodora,

durante o patriarcado do Santo Confessor Metódio.


Versos

Eu me rejubilo ao ver os ícones, outrora rejeitados vergonhosamente

A devida veneração agora receberem.

SINAXÁRIO

Kando Leão, o Isáurio, de um simples camponês condutor de

burros à conquista dos cetros do Império, pela permissão de Deus, nosso

Pai entre os Santos Germano, que governava a Igreja naquela época, foi

imediatamente convocado por ele e lhe foi dito: "Em minha opinião,

Mestre, os ícones sagrados não diferem em nada dos ídolos; ordena,

portanto, que eles sejam removidos de nosso meio. Se forem verdadeiras

imagens dos santos, que sejam pendurados em um lugar mais alto a fim

de que nós, que sempre nos Uafurdamos nos pecados, não os

contaminemos ao beijá-los." O Patriarca tentou dissuadir o Imperador de

tal ódio, dizendo: "Não faças tal coisa, Sua Majestade, pois ouvi dizer que

alguém Uamado Conon vai se enfurecer contra os santos ícones.” "Esse

era meu nome quando eu era criança", reZondeu o Imperador.

Como foi impossível persuadi-lo a concordar com a política do

Imperador, o patriarca foi exilado e substituído por Anastácio, que

compartilhava da mesma opinião de Leão. Assim, este último tomou

coragem para abrir uma guerra contra os santos ícones naquele momento.

Dizem que esse ódio pelos ícones fora-lhe inicialmente incutido por
judeus. Kando ele ainda era pobre e ganhava a vida conduzindo burros

com eles, eles vaticinaram, por meio de feitiçaria, que o jovem ascenderia

ao trono imperial. Depois que Leão teve uma morte maligna, Constantino

Coprônimo, seu filho ainda mais selvagem, sucedeu-o como Imperador e

o superou em sua oposição maníaca aos santos ícones. E qual a

necessidade de relatar quantos e quais tipos de males esse homem iníquo

cometeu? Kando Constantino teve uma morte ainda mais horrível, seu

filho Leão, o Cázaro, sucedeu-o como Imperador. Kando ele também

teve uma morte maligna, sua consorte Irene e seu filho Constantino

herdaram o Império. Guiados pelo santíssimo Patriarca Tarásio, eles

convocaram o Sétimo Sínodo Ecumênico e a Igreja de Cristo recebeu os

santos ícones de volta. Kando seu reinado cessou, Nicéforo I, o Logóteta

(Tesoureiro), ascendeu ao trono e depois seu filho, Estaurácio. Em

seguida, reinou MiUael I Rangabe, e todos eles veneravam os Ícones

Divinos. Miguel foi sucedido pelo bestial Leão, o Armênio, que,

corrompido pelas artimanhas de um certo recluso ímpio, provocou a

segunda onda do iconoclasmo e, mais uma vez, a Igreja de Deus foi

privada de seus ornamentos. Leão foi sucedido por Miguel, o Amoriano,

e este, por sua vez, por seu filho Teófilo, que ultrapassou os outros

devotos da loucura iconoclasta, deixando-os em segundo plano.

Diz-se que este Teófilo, que havia entregado muitos dos Santos

Padres a tormentos e castigos ultrajantes por causa dos preciosos ícones,

estava profundamente preocupado com a justiça e que, certa vez, ele

perguntou se havia alguém na cidade que havia assediado um de seus


concidadãos e que, depois de muitos dias, ninguém dessa descrição fora

encontrado.

Depois de um reinado autocrático de doze anos, ele não resistiu à

disenteria e, quando estava prestes a morrer, sua boca se abriu de tal

forma que suas entranhas eram visíveis em seu interior. A Imperatriz

Teodora ficou deveras angustiada com esse incidente e assim que

adormeceu, viu em um sonho a imaculada Mãe de Deus segurando o

Infante sempiterno em seus braços, cercada por anjos refulgentes, e

Teófilo, seu marido, sendo açoitado e repreendido pelos anjos. Kando

ela acordou, Teófilo, recuperando-se levemente, gritou: "Ai de mim, um

miserável! Estou sendo açoitado por causa dos santos ícones!" A

Imperatriz imediatamente colocou o ícone da Mãe de Deus sobre ele,

suplicando-lhe com lágrimas. Kanto a Teófilo, inobstante sua situação,

assim que viu um dos que estavam por perto usando um Engolpion†, ele o

agarrou e o beijou, e imediatamente a boca que havia se enfurecido

insolentemente contra os Ícones e a garganta tão repulsivamente aberta

voltaram ao seu estado natural. Teófilo, recebendo alívio daquela dor

violenta que o acometera, adormeceu, confessando que é bom honrar e

venerar os santos ícones. A Imperatriz então retirou os preciosos e santos

ícones de seus cofres e fez com que Teófilo os beijasse e os venerasse de

todo o coração. Depois de um curto período, Teófilo repousou.

Lembrando-se de todos os que estavam no exílio ou nas prisões, Teodora


Um medalhão com um ícone.
os convidou a viver em liberdade, e João Gramático, apelidado de Iannis,

que era mais um “mantiarca” e “demoniarca” do que um Patriarca, foi

deposto do trono patriarcal. São Metódio, o Confessor de Cristo que

anteriormente havia sofrido muito e havia sido confinado vivo em um

sepulcro, ascendeu ao trono.

Sendo essa a situação, Santo Joanício, o Grande, teve uma visitação

divina enquanto habitava no Monte Olimpo. O grande asceta Arsácio veio

a ele, dizendo: "Deus me enviou a ti, para que possamos ir juntos ao

santíssimo recluso Isaías, na Nicomédia, e aprender com ele o que é

agradável a Deus e apropriado para a Sua Igreja". E, de fato, eles foram

até o santíssimo Isaías e ouviram dele o seguinte: "Assim diz o Senhor: Eis

que Uegou o fim para os inimigos do Meu Ícone. Ide, portanto, à

Imperatriz Teodora e também ao Patriarca Metódio e dizei-lhes o

seguinte: 'Refreai todos os ímpios, e que vós possais assim oferecer-Me

um sacrifício, juntamente com os anjos, venerando o Ícone do Meu

semblante e o da Cruz'".

Ao ouvirem isso, foram direto a Constantinopla e relataram o que

lhes fora dito ao Patriarca Metódio e a todos os eleitos de Deus. Depois de

se reunirem, foram até a Imperatriz e a aUaram receptiva em todos os

sentidos, pois desde a infância ela era piedosa e devotada a Deus.

Imediatamente, a Imperatriz pegou o ícone da Mãe de Deus que estava

pendurado em seu pescoço e o beijou à vista de todos, dizendo: "Se

alguém não venerar e beijar esses ícones por amor, prestando-lhes uma
honra relativa (e não os venerando e os honrando como a deuses, mas

como ícones de seus arquétipos), que seja anátema". Todos se rejubilaram

sobremaneira. Ela, por sua vez, pediu-lhes que suplicassem por seu

marido Teófilo. Ao verem sua fé, embora renegassem Teófilo, ficaram

convencidos. São Metódio reuniu todo o povo, todo o clero e os hierarcas

na Grande Igreja, e ele mesmo foi até lá. As principais figuras de Olimpo,

Santo Joanício, o Grande, Arsácio e Naucrácio, bem como os discípulos

de São Teodoro, o Estudita, o Confessor Teófanes, o Marcado, Miguel

Synkellos, da Cidade Santa de Jerusalém, e muitos outros, suplicaram a

Deus durante toda a noite por Teófilo, todos orando com lágrimas e

súplicas fervorosas, e assim o fizeram durante toda a primeira semana da

Karesma. A Imperatriz Teodora fez o mesmo, juntamente com as

mulheres da corte e o resto do povo.

Assim sendo, a Imperatriz Teodora adormeceu na madrugada de

sexta-feira, e pareceu-lhe estar ao lado de uma grande cruz e que alguns

homens estavam atravessando a estrada e causando um alvoroço,

carregando vários instrumentos de tortura. No meio deles, o Imperador

Teófilo estava sendo conduzido em grilhões, com as mãos atadas atrás

das costas. Ao reconhecê-lo, ela seguiu os que o conduziam. Kando

Uegaram ao Portão de Bronze, ela viu um Homem de aparência

magnífica, sentado em frente ao Ícone de Cristo, diante do qual colocaram

Teófilo. Agarrando seus pés, a Imperatriz suplicou-Lhe em nome do

Imperador. Abrindo a boca com relutância, Ele disse: "Grande é a tua fé,

Senhora. Toma conhecimento, portanto, que por causa de tuas lágrimas


e de tua fé, e também por causa da súplica e das petições de Meus servos

e de Meus sacerdotes, estou concedendo perdão ao teu marido, Teófilo".

Ele então disse àqueles que o estavam conduzindo: "Soltai-o e entregai-o

à sua eZosa". Depois de recebê-lo, ela partiu rejubilando-se e

imediatamente deZertou. Tal foi a visão da Imperatriz Teodora.

Depois que as orações e súplicas por seu marido terminaram, o

Patriarca Metódio pegou um pedaço de pergaminho limpo e nele

escreveu os nomes dos Imperadores heréticos, inserindo também o de

Teófilo, e colocou-os todos sob o Santo Altar. Na sexta-feira, ele também

viu um anjo maravilhoso entrando na Grande Igreja e que lhe disse: "Tua

súplica foi ouvida, ó BiZo, e o Imperador Teófilo obteve o perdão. De

agora em diante, portanto, para de perturbar Deus por causa dele".

Desejando descobrir se a visão que tivera era verdade, ele desceu de seu

trono. Tomando o pergaminho, ele o desenrolou e, ó julgamentos de

Deus!, ele descobriu que o nome de Teófilo havia sido completamente

apagado por Deus.

Ao saber disso, a Imperatriz rejubilou-se copiosamente e enviou

uma mensagem ao Patriarca para que ele reunisse todo o povo, com as

relíquias da honorável Cruz e os santos ícones na Grande Igreja, a fim de

que o adorno dos santos ícones sagrados pudesse ser restaurado na Igreja

e para que o maravilhoso milagre pudesse ser conhecido por todos. E, de

fato, quase todos se reuniram na Igreja com velas, e a Imperatriz Uegou

com seu filho. A partir dali, todos seguiram com os santos ícones, as
relíquias da honorável Cruz e o Santo Evangelho, até Uegarem a um

lugar Uamado Milion, clamando: "Senhor, tem piedade". Depois disso,

retornaram à Igreja e celebraram a Divina Liturgia, tendo os santos e

veneráveis ícones sido recolocados no lugar por aqueles santos homens.

Aqueles que eram piedosos e devotos de fé correta foram aclamados,

enquanto os ímpios inimigos da fé que não aceitavam a veneração dos

santos ícones, foram denunciados e entregues ao anátema. Esses santos

Confessores determinaram que essa solenidade sagrada fosse celebrada

anualmente a fim de que nunca mais voltemos a cometer tal iniqüidade.

Ó imutável Imagem do Pai, pelas intercessões de Teus santos

Confessores, tem piedade de nós. Amém.

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