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3.

3 Capacidade térmica
e calor específico
Capacidade térmica
Um fenômeno interessante relacionado à absorção do calor pelos corpos é o que
ocorre quando objetos distintos recebem a mesma quantidade de calor. Nesses casos,
é muito comum esses objetos apresentarem variações diferentes de temperatura. Ob-
serve a figura 3.21, que ilustra esse fato. Suponha, por exemplo, que um objeto A rece-
ba uma quantidade de calor igual a 100 cal e sua temperatura se eleve de 20 °C, enquan-
to outro objeto, B, ao receber a mesma quantidade de calor apresente uma elevação de
apenas 10 °C em sua temperatura.
Ilustrações: Alex Argozino/Arquivo da editora

DTA 5 20 °C
DT
DTB = 10 °C

Bronze Gelo

DQA 5 100 cal DQB 5 100 cal

Figura 3.21. Objetos diferentes geralmente sofrem distintas variações de temperatura


ao receber a mesma quantidade de calor. Representação sem escala e em cores fantasia.

Para caracterizar esse comportamento dos objetos, define-se uma grandeza, de-
nominada capacidade térmica, do seguinte modo:

Se um objeto recebe uma quantidade de calor ΔQ e sua temperatura varia


de ΔT, a capacidade térmica desse objeto é dada por:
ΔQ
C5
ΔT

Assim, calculando as capacidades térmicas dos objetos A e B (figura 3.21), teremos:


DQA 100 cal
CA 5 5 [ CA 5 5,0 cal/°C
DTA 20 oC
DQB 100 cal
CB 5 5 [ CB 5 10 cal/°C
DTB 10 oC
Esses resultados indicam que devemos fornecer, ao objeto A, 5,0 cal para cada 1 °C de
elevação em sua temperatura, enquanto, para o objeto B, são necessárias 10 cal para
provocar esse mesmo efeito. logo, quanto maior for a capacidade térmica de um obje-
to, maior será a quantidade de calor que devemos fornecer a ele para provocar determi-
nada elevação em sua temperatura; do mesmo modo, maior será a quantidade de calor
que ele cederá quando sua temperatura sofrer determinada redução.

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Sendo a capacidade térmica de um objeto dada pela rela-
ção C 5 ΔQ/ΔT, que já usamos nesta seção, uma unidade para
a medida dessa grandeza é cal/°C. O calor é uma forma de
energia e pode, portanto, ser expresso em joules, e podere-
mos usar, também, como unidades de capacidade térmica,
J/°C e J/K.
C1
(m1)
Calor específico
De modo geral, o valor da capacidade térmica varia de um
objeto para outro. Mesmo que sejam feitos do mesmo mate-
rial, dois objetos podem ter capacidades térmicas diferentes,
desde que suas massas sejam diferentes. C2
(m2)
Assim, se tomarmos blocos feitos do mesmo material, de mesmo
material
massas m1, m2 , m3, etc. (figura 3.22), suas capacidades térmicas
C1, C2, C3, etc. serão diferentes. Entretanto, verificou-se que, divi-
dindo-se a capacidade térmica de cada bloco por sua massa, ob-
tém-se o mesmo resultado, isto é:

Ilustrações: Banco de imagens/


Arquivo da editora
C3
(m3)
C1 C C
5 2 5 3 5 ... (para o mesmo material)
m1 m2 m3

Então, o quociente C/m é constante para um dado material,


Figura 3.22. Objetos de mesmo material, mas
variando, porém, de um material para outro. Esse quociente é de massas diferentes, têm capacidades
denominado calor específico, c, do material. térmicas diferentes. Representação sem escala e
em cores fantasia.
Se um objeto de massa m tem uma capacidade térmica
C, o calor específico, c, do material que o constitui é
dado por:

C
c5
m

Por exemplo, tomando-se um bloco de chumbo cuja


Tabela 3.1
massa é m 5 170 g, verificamos que sua capacidade térmica
Calores esçecífıcos
é C 5 5,0 cal/°C. Assim, o calor específico do chumbo vale:
Substância J/kg ? K cal/g ? °C
o
C 5,0 cal/ C cal Água 4 186 1,00
c5 5 [ c . 0,030
m 170 g g oC Gelo 2 302 0,55
Vapor de água 2 093 0,50
Observe a unidade para a medida do calor específico: cal/g °C. Etanol 2 428 0,58
Poderíamos também expressá-lo em J/kg ? °C ou em J/kg ? K. O Alumínio 921 0,22
resultado obtido indica que, para elevar de 1 °C a temperatura Vidro 837 0,20
de 1 g de chumbo, devemos fornecer-lhe aproximadamente Ferro 449 0,11

0,030 cal de calor. Latão 385 0,092


Cobre 394 0,094
Comentários
Prata 235 0,056
1) Sendo o calor específico característico de cada material, seus valores,
Mercúrio 140 0,033
para cada substância, são determinados em laboratórios, e seus núme-
Chumbo 129 0,031
ros aproximados são apresentados em tabelas, como a tabela 3.1.

TErMODINÂMICA CAPÍTULO 3 67
2) Na seção 3.1 vimos que 1 cal é a quantidade de calor que deve ser forne-

Paulo César Pereira/Arquivo da editora


cida a 1 g de água para que sua temperatura se eleve de 1 °C. Podemos
concluir que o calor específico da água é:
massas
cal iguais
c51 o água
g C

O calor específico da água é bem maior do que os calores específicos de


quase todas as demais substâncias (veja a tabela 3.1). Isso significa que,
cedendo-se a mesma quantidade de calor a massas iguais de água e de
outra substância, observa-se que a massa de água se aquece muito me- chamas
nos, ou seja, apresenta menor variação de temperatura (figura 3.23). iguais
3) Verifica-se que o calor específico de um material pode apresentar varia-
ções em determinadas circunstâncias. Assim, quando uma substância
passa do estado sólido para o estado líquido (ou para o gasoso), seu ca-
Figura 3.23. Quando dois objetos de materiais
lor específico é alterado. Por exemplo, na tabela 3.1, vemos que o calor diferentes e massas iguais recebem iguais
específico da água (estado líquido) é 1,0 cal/g °C, enquanto o do gelo é quantidades de calor, o de menor calor específico
0,55 cal/g °C e o do vapor de água é 0,50 cal/g °C. sofrerá maior elevação de temperatura.
Representação sem escala e em cores fantasia.

física no calor específico e


temperatura ambiente
contexto

Acabamos de ver que, quanto maior o calor específico de uma substância, menos ela se aquece
ao receber certa quantidade de calor. A água é uma das substâncias que apresenta calor específico
de valor mais elevado. Por essa razão, certa massa de água (lago, rio, piscina, etc.), ao receber calor
do Sol, sofre pequenas variações em sua temperatura, em comparação com outros objetos. Ainda
pelo mesmo motivo, quando o Sol se põe, isto é, quando a água e os outros objetos liberam calor
para o ambiente, o resfriamento da água é muito mais lento comparado aos demais objetos. Mui-
tos organismos, que sobrevivem em uma faixa estreita de variação de temperatura, só estão vivos
devido ao fato de a água possuir elevados valores de calor específico, o que faz com que ela não te-
nha variações bruscas de temperatura.
No deserto, por exemplo, pelo fato de a areia ter um calor específico muito pequeno, ela se
aquece e se resfria com facilidade, embora os dias sejam excessivamente quentes, as noites cos-
tumam apresentar temperaturas muito baixas (figura 3.24).
Blaine Harrington III/Alamy/Latinstock

Frans Lemmens/Alamy/Latinstock

Figura 3.24. Durante o dia, a temperatura no deserto é muito elevada e, durante a noite, sofre uma grande redução. Isso ocorre
em virtude do pequeno calor específico da areia. Nessas regiões é indicado o uso de roupas longas e lenços para proteger a pele
do sol e do vento.

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Cálculo do calor absor
absorvido por um objeto
A capacidade térmica de um objeto foi definida como sendo C 5 ΔQ/ΔT. Então, a
quantidade de calor, ΔQ, que um objeto absorve (ou libera) quando sua temperatura
varia de ΔT, é dada por:
ΔQ 5 C ? ΔT

Podemos, ainda, expressar ΔQ em função do calor específico, c, e da massa, m, do


objeto, lembrando que c 5 C/m, ou seja, C 5 m ? c. Assim, teremos, para ΔQ:
ΔQ 5 mcΔT

A quantidade de calor, ΔQ, absorvida ou liberada por um objeto de massa m e


calor específico c, quando sua temperatura varia de ΔT, pode ser calculada
pela relação:
ΔQ 5 mcΔT

Exemplo
Uma barra de alumínio de 200 g, ao passar por um processo industrial, teve sua
temperatura elevada de 20 °C para 140 °C. Qual foi a quantidade de calor cedida
para a barra nesse processo?
Como já sabemos, essa quantidade de calor pode ser calculada por ΔQ 5 mcΔT. Consul-
tando a tabela 3.1, encontramos o valor do calor específico do alumínio: c 5 0,22 cal/g °C.
A variação de temperatura da barra foi ΔT 5 140 °C 2 20 °C 5 120 °C. Assim:
ΔQ 5 mcΔT 5 200 ? 0,22 ? 120 [ ΔQ 5 5,3 ? 103 cal
Observe que o valor de ΔQ foi expresso em calorias porque tomamos m em gramas, c em
cal/g °C e ΔT em °C. Então:
cal
g? ? °C 5 cal
g oC
Se a temperatura da barra retornasse de 140 °C para 20 °C, ela liberaria 5,3 ? 103 cal de
calor, isto é, a mesma quantidade de calor que absorveu ao ser aquecida.


➔ verifique
o que 1ç. Um bloco metálico está inicialmente à tempe- e outra de ferro. Ambas são mergulhadas em
aprendeu ratura de 20 °C. recebendo uma quantidade de água em ebulição, na qual são deixadas por al-
calor ΔQ 5 330 cal, sua temperatura se eleva guns minutos para ser esterilizadas. Em segui-
para 50 °C. da, são retiradas e colocadas em recipientes di-
a) Qual é o valor da capacidade térmica do ferentes contendo a mesma quantidade de
bloco? 11 cal/°C água à temperatura ambiente para serem res-
b) Diga, com suas palavras, o significado do friadas. Consulte a tabela 3.1 e responda:
resultado que você encontrou em a. a) Em qual dos recipientes, inicialmente à
temperatura ambiente, a temperatura da
11. Suponha que dois blocos, A e B, ambos de zin-
não escreva água se elevará mais: no que contém a con-
no livro! co, tenham massas mA e mB, tais que mA . mB.
cha de ferro ou no que contém a concha de
a) O calor específico de A é maior, menor ou alumínio? Alumínio.
1ç) b) Devemos
fornecer ao bloco igual a B? Igual. b) Explique a sua resposta, com base nos va-
11 cal para que sua b) A capacidade térmica de A é maior, menor lores de calor específico dos dois metais.
temperatura se ou igual a B? Maior. Veja resposta no Manual do Professor.
eleve 1 °C. 13. Um bloco de cobre, de massa m 5 200 g, é
c) Se reduzirmos, igualmente, as temperatu-
aquecido de 30 °C até 80 °C.
ras de A e B, qual deles liberará maior quan-
a) Qual quantidade de calor foi cedida ao
tidade de calor? O bloco A. bloco? 940 cal
12. Imagine duas conchas para sopa, de massas b) Se cedermos 186 cal de calor a esse bloco,
iguais, com o mesmo formato, uma de alumínio quanto aumentará sua temperatura? 10 °C

TErMODINÂMICA CAPÍTULO 3 69
Calorímetro
Calorímetr
O calorímetro é um aparelho que mede o calor trocado entre objetos colocados em
seu interior, podendo-se obter, como resultado dessa medida, o calor específico de
uma substância qualquer envolvida na experiência.
A figura 3.25 representa um tipo comum de calorímetro. Ele
termômetro
consiste, essencialmente, em um recipiente interno, de paredes
agitador
espelhadas, envolvido por outro recipiente fechado, de paredes
isolantes. Com esses cuidados, consegue-se isolar termicamen-
Paulo César Pereira/Arquivo da editora

te o interior do calorímetro, impedindo a entrada ou a saída de


calor (como em uma garrafa térmica). Comumente, o caloríme-
tro contém um líquido (água, em geral) e é provido de dois aces-
sórios: um termômetro e uma haste destinada a agitar o líqui-
do, para se obter rapidamente o equilíbrio térmico da mistura
colocada em seu interior.
Quando um ou mais objetos são colocados no interior de
um calorímetro, sendo suas temperaturas diferentes haverá
líquido (água) troca de calor entre eles, até que o equilíbrio térmico seja alcan-
isolante
çado. Pelo princípio de conservação da energia, concluímos
Figura 3.25. Representação (sem escala e que, após ser atingido o equilíbrio térmico:
em cores fantasia) de um tipo comum de
calorímetro.
O calor total liberado pelos objetos que se esfriaram é igual ao calor total
absorvido pelos objetos que se aqueceram.

calor cedido 5 calor absorvido


ΣQ 5 ç, ou seja: Q1 1 Q2 1 Q3 1 ... 1 Qn 5 ç

Exemplo
Um calorímetro, cuja capacidade térmica é 42 cal/°C, contém 90 g de água. A
temperatura do conjunto é de 20 °C. Coloca-se em seu interior um bloco de fer-
ro, cuja massa é de 100 g e a temperatura é de 85 °C. Após ser atingido o equilí-
brio térmico, a temperatura da mistura é de 25 °C. Determine o calor específico
do ferro.
Observe que o bloco de ferro se esfriou (de 85 °C para 25 °C) enquanto a água e o calorí-
metro se aqueceram (de 20 °C para 25 °C). lembrando que, quando um objeto se aquece
ou se esfria, o calor que ele absorve ou libera é dado por ΔQ 5 CΔT ou por ΔQ 5 mcΔT,
podemos escrever:
• calor cedido pelo ferro 5 100 ? c ? (85 2 25);
• calor absorvido pela água 5 90 ? 1 ? (25 2 20);
• calor absorvido pelo calorímetro 5 CΔT 5 42 ? (25 2 20).
Usando a igualdade
calor cedido 5 calor absorvido
teremos:
100 ? c ? (85 2 25) 5 90 ? 1 ? (25 2 20) 1 42 ? (25 2 20)

resolvendo essa equação, obtemos, para o calor específico do ferro:

c 5 0,11 cal/g °C

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