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3.

5 A êa lei da Termodinâmica
Energia interna
Ener
Na seção 3.1 nos referimos à energia interna de um objeto e vimos que ela repre-
senta a soma das diversas formas de energia que os átomos e as moléculas do objeto
possuem. No estudo de um sistema qualquer, sua energia interna, representada por
U, é a energia total existente em seu interior.
Quando um sistema vai de um estado inicial, i, a um estado final, f, ele geralmente
troca energia com a vizinhança. Consequentemente, sua energia interna sofre variações,
passando de um valor inicial Ui para um valor final Uf , ou seja, a energia interna varia de:
ΔU 5 Uf 2 Ui

A primeir
primeira lei
Consideremos um sistema, como o gás da figura 3.29.a, ao qual cedemos uma
quantidade de calor Q 5 100 J. Essa energia será acrescentada ao interior do sistema e,
pelo princípio de conservação da energia, tenderia a provocar um aumento ΔU 5 100 J
na sua energia interna. Entretanto, suponha que o sistema, simultaneamente, tenha se
expandido, realizando um trabalho † 5 30 J sobre a vizinhança (figura 3.29.a).
Esse trabalho será feito com a utilização da energia interna do sistema, que tende
a diminuir 30 J. Assim, se a energia interna tende a aumentar de 100 J (calor absorvido)
e a diminuir de 30 J (trabalho realizado), será observada uma variação, ΔU, da energia
interna do sistema, cujo valor é:
ΔU 5 100 J 2 30 J [ ΔU 5 70 J a b
Generalizando, se um sistema absorve uma quanti- 30 J
dade de calor Q e realiza um trabalho † (figura 3.29.b),
o princípio de conservação da energia nos permite con-

Ilustrações: Paulo César Pereira/Arquivo da editora


cluir que sua energia interna sofrerá uma variação ΔU
dada por: ∆U = 100 J – 30 J ∆U = Q –

ΔU 5 Q 2 †
Essa expressão poderá ser usada mesmo quando o sis- 100 J Q

tema ceder calor à vizinhança, mas, nesse caso, deve-se


atribuir a Q um sinal negativo, pois a liberação de calor
contribui para diminuir a energia interna do sistema.
Ainda quando o trabalho é realizado sobre o sistema, a
Figura 3.29. Quando um sistema absorve uma quantidade
relação ΔU 5 Q 2 † continua válida, devendo-se lembrar
de calor Q e realiza um trabalho †, a variação de sua energia
que, agora, † é negativo, como vimos na seção anterior. interna é ΔU 5 Q 2 †. Representação sem escala e em cores
fantasia.

1a lei da Termodinâmica (Conservação da Energia)

Quando uma quantidade de calor Q é absorvida (Q positivo) ou cedida


(Q negativo) por um sistema, e um trabalho † é realizado por esse sistema
(† positivo) ou sobre ele († negativo), a variação da energia interna, ΔU,
do sistema é dada por:

ΔU 5 Q 2 †

TErMODINÂMICA CAPÍTULO 3 73
Exemplo
Ilustrações: Paulo César Pereira/Arquivo da editora
Suponha que um sistema passe de um estado a outro, trocando ener-
gia com sua vizinhança. Calcule a variação de energia interna do siste-

ma nos seguintes casos:
a) O sistema absorve 100 cal de calor e realiza um trabalho de 200 J.
(Essa transformação é semelhante à representada na figura 3.29.)
A variação da energia interna é dada pela 1a lei da Termodinâmica, isto é:
∆U = Q – †
ΔU 5 Q 2 †
Nesse caso, temos Q 5 100 cal 5 418 J (pois 1 cal 5 4,18 J), cujo sinal é
Q
positivo, porque se trata de calor absorvido pelo sistema. O valor
† 5 200 J também é positivo, porque o trabalho foi realizado pelo siste-
ma. Então:
ΔU 5 418 2 200 [ ΔU 5 218 J
Figura 3.3ç. O sistema Esse resultado nos diz que a energia interna do sistema aumentou de
absorve calor e
trabalho é realizado 218 J.
sobre ele. b) O sistema absorve 100 cal de calor e um trabalho de 200 J é realizado
sobre ele (figura 3.30).
As ilustrações desta página
Como no caso anterior, Q 5 100 cal 5 418 J e é positivo. Entretanto, temos
estão representadas sem
escala e em cores fantasia. agora † 5 2200 J, pois o trabalho foi realizado sobre o sistema. Assim:
ΔU 5 Q 2 † 5 418 2 (2200) [ ΔU 5 618 J
Portanto, a energia interna sofreu um acréscimo de 618 J, uma vez que

tanto o calor fornecido ao sistema (418 J) quanto o trabalho realizado so-
bre ele (200 J) representam quantidades de energia transferidas para o
sistema.
∆U = Q – † c) O sistema libera 100 cal de calor para a vizinhança e um trabalho de
Q 200 J é realizado sobre ele (figura 3.31).
Temos, nesse caso, Q 5 2100 cal 5 2418 J e † 5 2200 J, pois o calor foi
cedido pelo sistema e o trabalho foi realizado sobre ele. logo:
ΔU 5 Q 2 † 5 2418 2 (2200) [ ΔU 5 2218 J
A energia interna do sistema diminuiu de 218 J, pois o sistema perdeu
Figura 3.31. O sistema cede
calor para o ambiente e um
418 J sob a forma de calor e recebeu 200 J pelo trabalho realizado so-
trabalho é realizado sobre ele. bre ele.


➔ verifique
o que 16. Suponha que um gás, mantido a volume cons- b) Se o sistema libera calor, sua energia inter-
aprendeu tante, liberasse 170 cal de calor para sua vizi- na tenderá a aumentar ou a diminuir? En-
nhança. tão, em ΔU 5 Q 2 †, Q deverá ser positivo
a) Qual foi o trabalho realizado pelo gás? Zero. ou negativo? Diminuir; negativo.
b) Qual foi, em calorias, a variação da energia 18. Um sistema sofre uma transformação na qual
interna do gás? DU 5 2170 cal ele absorve 50 cal de calor e se expande, reali-
c) A energia interna do gás aumentou, dimi- zando um trabalho de 320 J.
nuiu ou não variou? Diminuiu. a) Qual é, em joules, o calor absorvido pelo
17. Quando um sistema troca energia com sua sistema? (Considere 1 cal 5 4,2 J.) 210 J
não escreva
no livro! vizinhança: b) Calcule a variação de energia interna do
a) Se o sistema absorve calor, sua energia in- sistema. DU 5 2110 J
terna tenderá a aumentar ou a diminuir? c) Interprete, como foi feito no exemplo des-
Então, nesse caso, em ΔU 5 Q 2 †, Q deve- ta seção, o significado da resposta da ques-
rá ser positivo ou negativo? Aumentar; positivo. tão b.
18. c) A energia interna do sistema diminui 110 J, porque ele realiza um
74 UniDADE 2 CAlOr trabalho de 320 J, que é maior do que o calor de 210 J que foi absorvido.
3.6 Aplicações da êa lei da isolante

Termodinâmica
Após estudar a 1a lei da Termodinâmica, vamos aplicá-la a algumas si-
tuações particulares, para obter informações sobre a energia interna de
um sistema nessas ocasiões. Iniciaremos essa análise estudando a trans-
Figura 3.32. Quando um gás se
formação adiabática. expande adiabaticamente, ele
As ilustrações desta página realiza trabalho, mas não recebe
estão representadas sem nem libera calor.
Transformação adiabática
Tr escala e em cores fantasia.
a b
3 atm
1 atm
Considere um gás confinado em um cilindro, cujas paredes são feitas
de um material isolante térmico (figura 3.32). Em virtude disso, se esse
gás se expandir (ou for comprimido), ele não poderá ceder nem receber ca- 20 °C
lor da vizinhança. Uma transformação como essa, em que o sistema não 15 °C
troca calor com a vizinhança, isto é, Q 5 0, é denominada transformação
adiabática.
Quando um gás sofre uma expansão (ou compressão) rápida, mesmo
que as paredes do recipiente não sejam isolantes, essa transformação
pode ser considerada adiabática, Q 5 0.
Aplicando a 1a lei da Termodinâmica, ΔU 5 Q 2 †, a uma transformação
adiabática, como temos Q 5 0, obtemos:
ΔU 5 2†
Analisemos esse resultado. Supondo que o gás tenha se expandido, o Figura 3.33. Em uma expansão
adiabática, a energia interna do gás
trabalho † que ele realizou será positivo. Então, na expressão anterior ob- diminui e, portanto, há uma queda
temos um ΔU negativo, isto é, a energia interna do sistema diminuiu. em sua temperatura.

Uma diminuição na energia interna de um gás acarreta uma redução em


sua temperatura. logo, quando um gás se expande adiabaticamente, sua
temperatura diminui. Podemos constatar esse fato deixando um gás com-
primido expandir-se rapidamente (transformação adiabática) e observando
que ele realmente se resfria (figura 3.33).
Suponha, agora, que o sistema tenha sido comprimido. Nesse caso, † será
Figura 3.34. Em uma compressão
negativo. Da expressão ΔU 5 2 †, obtemos ΔU positivo, isto é, a energia inter-
rápida (adiabática), a energia interna
na do gás aumenta e, consequentemente, haverá um aumento em sua tem- do gás aumenta e há, portanto, uma
elevação em sua temperatura.
peratura. Você poderá verificar esse efeito se tampar, com um de seus dedos,
a saída de ar de uma bomba de encher pneu e comprimir rapidamente o pistão
Ilustrações: Paulo César Pereira/Arquivo da editora

temperatura
(compressão adiabática): com o dedo você perceberá a elevação de tempera-
constante
tura do ar que foi comprimido no interior da bomba (figura 3.34).

Transformação isotérmica
Tr
A figura 3.35 representa um gás absorvendo uma quantidade de calor Q
Q e se expandindo, realizando um trabalho †. Se o trabalho que o gás reali-
za for igual ao calor que ele absorve, isto é, se Q 5 †, teremos, pela 1a lei da
Termodinâmica:
ΔU 5 Q 2 † [ ΔU 5 0 Figura 3.35. Quando um gás se
expande isotermicamente, o trabalho
ou seja, que ele realiza é igual ao calor que ele
U 5 constante absorve.

TErMODINÂMICA CAPÍTULO 3 75
a
O fato de a energia interna permanecer constante indica que a temperatura não
sofreu alteração e, portanto, o gás se expandiu isotermicamente. Vimos que, para um
gás se expandir isotermicamente, ele deve receber uma quantidade de calor igual ao
ΔT
Ilustrações: Paulo César Pereira/Arquivo da editora

trabalho que realiza na expansão. Do mesmo modo, para que um gás seja comprimi-
†=0
do sem que a sua temperatura se eleve, ele deve liberar uma quantidade de calor igual
ao trabalho realizado sobre ele.

Qv Calor absor
absorvido por um gás
V = constante
Suponha que massas iguais de um mesmo gás sejam aquecidas, uma delas a volu-
me constante e a outra a pressão constante (figura 3.36). A experiência permite afir-
b mar que, para ambas sofrerem a mesma elevação de temperatura, a quantidade de
calor que devemos fornecer, a pressão constante, é maior do que aquela que devemos
ΔT fornecer a volume constante (Qp . QV na figura 3.36).
† O aumento da energia interna foi o mesmo para as duas massas gasosas, pois am-
bas experimentaram a mesma elevação de temperatura. Na figura 3.36.a, o gás não
realizou trabalho, porque seu volume permaneceu constante. Então, pela 1a lei da Ter-
modinâmica, como † 5 0, teremos ΔU 5 QV, isto é, todo o calor absorvido foi usado
Qp para provocar o aumento da energia interna.
p = constante Na transformação isobárica (figura 3.36.b), o gás se expande e, portanto, realiza
um trabalho †. Então, o calor, Qp, fornecido ao gás, é usado para provocar o aumen-
Figura 3.36. Na
to da energia interna e para realizar esse trabalho. Assim, explica-se por que, para
experiência ilustrada na provocar a mesma elevação de temperatura (mesma variação de energia interna),
figura temos Qp . QV.
Representação sem escala
será necessário fornecer maior quantidade de calor a pressão constante do que a
e em cores fantasia. volume constante.


➔ verifique
Zero.
o que 19. Considere a compressão adiabática mostrada b) Qual foi o calor absorvido pelo calorímetro?
aprendeu na figura 3.34. c) Qual foi o calor absorvido pela água? 500 cal
a) A temperatura do gás aumentou? E sua d) Usando suas respostas às questões anterio-
energia interna? Ambas aumentaram. res, calcule o calor específico do chumbo.
Aproximadamente 0,035 cal/g °C.
b) Houve absorção de calor pelo gás? 22. Considere um recipiente de isopor que contém
c) Então, qual foi a causa do aumento de 100 g de água a 20 °C. Derrama-se no interior
temperatura do gás? do recipiente 200 g de água a 80 °C. Supondo
O trabalho realizado sobre ele.
2ç. Suponha que um gás, ao se expandir, absorva que todo o calor perdido pela água quente te-
não escreva uma quantidade de calor Q 5 150 cal e realize nha sido absorvido pela água fria, determine a
no livro! um trabalho † 5 630 J. temperatura final, Tf, da mistura. Tf 5 60 °C
19. b) Não
(compressão a) Expresse o valor de Q em joules. 23. Suponha que um objeto de massa m 5 10 kg
adiabática). (Considere 1 cal 5 4,2 J.) Q 5 630 J esteja suspenso e caia de uma altura
DU 5 0 b) Qual é a variação da energia interna do gás? h 5 1,5 m, com velocidade constante (consi-
c) Então, a energia interna do gás aumen- dere g 5 10 m/s2).
tou, diminuiu ou não variou? E sua tempe- a) Qual é o valor da energia mecânica perdida
ratura? Ambas não sofreram variação. por m durante a queda? 150 J
d) Como se denomina essa transformação? b) A energia potencial perdida por m durante
Transformação isotérmica.
21. Um calorímetro, de capacidade térmica des- a queda é transformada em energia cinéti-
prezível (C 5 0), contém 50 g de água a 20 °C. ca de m, em energia interna da água ou em
Coloca-se, no interior dele, um bloco de chum- ambas? Energia interna da água.
bo de 200 g, à temperatura de 100 °C. Observa- 24. Considerando a situação descrita no exercício
-se, depois de certo tempo, que a temperatura anterior, responda:
de equilíbrio é de 30 °C. a) Houve transferência de calor para a água
a) Sendo c o calor específico do chumbo, do recipiente durante a queda de m? Não.
como podemos expressar o calor perdido b) Então, qual foi a causa da variação da ener-
por ele? DQ 5 1 400c cal gia interna da água? O trabalho realizado
sobre a água.

76 UniDADE 2 CAlOr

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