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7 Máquinas térmicas – As ilustrações desta página


estão representadas sem
a Ça lei da Termodinâmica escala e em cores fantasia.

O que é uma máquina térmica


Somente no século XIX os cientistas conseguiram estabelecer defi-

Paulo César Pereira/Arquivo da editora


esfera de metal
nitivamente que o calor é uma forma de energia. Entretanto, sabia-se,
desde a Antiguidade, que o calor podia ser usado para produzir vapor,
vapor
que poderia ser utilizado para realizar trabalho mecânico. Essa ideia foi
usada por Heron, que no século I d.C. construiu o dispositivo represen-
tado na figura 3.37: o vapor formado pelo aquecimento da água, ao
escapar pelos orifícios representados na imagem, colocava em rotação
uma esfera de metal,ou seja, transforma calor em trabalho mecânico.
Em linguagem moderna, dizemos que esse aparelho de Heron é água

uma máquina térmica, isto é, um dispositivo que transforma calor em


fogo
trabalho mecânico. Entretanto, essa máquina não foi usada com obje-
tivo prático para produzir grandes quantidades de energia mecânica.
Somente no século XVIII vieram a ser construídas as primeiras máqui-
nas térmicas utilizadas em escala industrial. Figura 3.37. Modelo da primeira
máquina térmica, projetada por Heron
no século I d.C.

A máquina de Watt
As primeiras máquinas térmicas, construidas no século XVIII, além de
precárias, apresentavam rendimentos muito baixos, isto é, consumiam
grande quantidade de combustível para produzir pouco trabalho.
Por volta de 1770, o inventor escocês James Watt

Formato/Arquivo da editora
balancim
(1736-1819) apresentou um novo modelo de má- condensador
quina térmica que substituiu, com enormes vanta- imerso
gens, as máquinas então existentes. A figura 3.38 em água fria
biela
corrente
apresenta esquematicamente a máquina de Watt. B C
2
Nesta máquina o vapor é condensado, gera
pistão
uma queda de pressão no interior do cilindro e faz
D A
com que o pistão retorne à posição inicial. A válvu-
1
la B é fechada, enquanto A é aberta, permitindo
virabrequim roda
nova admissão de vapor no cilindro, repetindo-se E

o ciclo. Dessa maneira, a roda acoplada ao pistão


vapor
se mantém continuamente em rotação. caldeira
A máquina de Watt foi inicialmente emprega-
F
da para movimentar moinhos e acionar as bom-
bas que retiravam água de minas subterrâneas; Figura 3.38. Máquina a vapor de Watt. O vapor entra no cilindro pela
posteriormente, em locomotivas e barcos a va- válvula A e empurra o pistão para cima. A haste do pistão aciona o
balancim que, ligado à biela e ao virabrequim, transforma o
por. Além disso, a máquina a vapor passou a ser movimento do pistão (na vertical) em movimento de rotação (a roda
amplamente usada nas fábricas para acionar os gira). Ao subir (válvula B aberta), o vapor que estava dentro do cilindro
é empurrado para o condensador imerso em água fria corrente. Em
mais diversos dispositivos industriais, sendo, por seguida, as válvulas A e B se fecham e as C e D se abrem. O vapor é
isso, considerada um dos fatores que provoca- admitido no cilindro pela válvula C, empurrando o pistão para baixo.
O balancim é obrigado a descer, continuando a mover a roda. Neste
ram a chamada revolução Industrial no século movimento do pistão, o vapor que estava na parte de baixo do cilindro
XVIII, iniciada na Inglaterra. é empurrado para o condensador pela válvula D.

TErMODINÂMICA CAPÍTULO 3 77
As ilustrações desta Turbina a v
vapor
página estão
representadas sem
Os modelos de máquina a vapor, como a de Watt, são pouco utilizadas atualmen-
escala e em cores
fantasia. te. Mas a energia térmica do vapor continua sendo empregada em larga escala, nas
centrais termelétricas, para movimentar turbinas a vapor.
Em uma turbina a vapor, um jato de vapor, a altíssi-
ma pressão, é lançado contra um conjunto de lâminas
Artur Kenji Ogawa/Arquivo da editora

presas a um eixo (rotor), colocando a turbina em rota-


turbina ção (figuras 3.39 e 3.40).
caldeira
gerador

Leandro Amaral/Fututra Press


fornalha

Figura 3.39. O vapor sob pressão, proveniente da


caldeira, coloca a turbina em rotação, e esse movimento
é transmitido ao gerador de energia elétrica.

Sugestão de leitura: Calor: o motor das revoluções


Com um olhar voltado para o avanço da Figura 3.4ç. Usina Euzébio Rocha, em Cubatão (SP). Devido à
industrialização e as consequências sociais geradas escassez de chuvas, os reservatórios que abastecem as usinas
nesse processo, o livro discute o desenvolvimento da hidrelétricas ficam com níveis baixos de água, o que prejudica a
geração de energia elétrica. Uma alternativa para amenizar o
termodinâmica, que está diretamente associado à
problema é o uso de usinas termelétricas, no entanto essas usinas
evolução e ao aperfeiçoamento das máquinas térmicas.
funcionam por meio da queima de combustíveis fósseis como
SIlVA, J. A.; PINTO, A. C.; lEITE, C. Calor: o motor das petróleo, gás natural ou carvão, tornando a matriz energética do
revoluções. São Paulo: Ed. do Brasil, 2000. país “suja” e menos renovável, além de encarecer as tarifas de
energia elétrica.

O motor de explosão
No decorrer do século XX, foram desenvolvidos vários outros tipos de máquina tér-
mica, destacando-se os motores de explosão (combustão interna), as turbinas a vapor,
os motores a jato, etc. Em particular, os motores de explosão que utilizam gasolina
tornaram-se muito conhecidos em virtude de seu uso nos automóveis (figura 3.41).
Paulo César Pereira/Arquivo da editora
O carburador mistura gasolina
com a quantidade de ar Local onde se
necessária para uma coloca o óleo
boa explosão. de lubrificação.

câmbio

A energia do tampa do
motor é enviada radiador
à caixa de câmbio,
que controla a
velocidade das rodas.

Figura 3.41.
Representação de
motor de automóvel pistão
com quatro cilindros. A água circula nos
canais para esfriar
Ao longo dos anos o
o motor. O radiador
carburador foi sendo O virabrequim transforma limita o aquecimento
substituído pelo os movimentos da água.
sistema de de vaivém dos pistões
injeção eletrônica. em movimento de rotação.

78 UniDADE 2 CAlOr
Na figura 3.42 apresentamos um es- a c

Ilustrações: Paulo César Pereira/Arquivo da editora


V V
quema do motor de explosão a quatro B A B
A
tempos, assim denominado porque seu
admissão
funcionamento se faz em quatro etapas,
C
as quais descreveremos a seguir: o cilin- virabrequim centelha
pistão
dro possui uma válvula de admissão (A),
uma de escapamento (B) e uma vela (V),
um dispositivo destinado a produzir uma
centelha (que provoca a ignição ou explo-
são) no momento oportuno. A mistura b d
V V
explosiva, constituída de gasolina, ou A B A
B
etanol, e ar, formada no carburador (não
escapamento
representado na figura), chega à câmara C
C, chamada câmara de explosão, através pistão
da válvula A, que é governada por um sis-
tema de alavancas.
• No primeiro tempo, denominado admis-
são, a válvula A se abre, permitindo a en-
trada da mistura explosiva, enquanto o
Figura 3.42. Os quatro tempos do funcionamento de um motor
pistão desce no cilindro (figura 3.42.a). de explosão.

• No segundo tempo, denominado com-


pressão, a mistura é comprimida na câmara C (o pistão sobe) e sua tempe- As ilustrações desta página
estão representadas sem
ratura se eleva. Nesse tempo, as válvulas A e B permanecem fechadas (figu-
escala e em cores fantasia.
ra 3.42.b).
• No terceiro tempo, denominado explosão e expansão, a vela V produz uma
centelha elétrica, causando a ignição da mistura explosiva. Esse é o único tem-
po no qual há produção de um trabalho efetivo, pois os gases quentes da com-
bustão, por sua alta pressão, fazem o pistão descer, comunicando movimento
de rotação a uma roda a ele acoplada (figura 3.42.c).
• No quarto tempo, denominado exaustão ou escapamento, a válvula B se
abre, permitindo o escape dos gases, enquanto o pistão sobe no cilindro
(figura 3.42.d).

Formato/Arquivo da editora
Fechando-se a válvula B, uma nova descida do pistão e abertura da válvu- fonte quente
la A (primeiro tempo) dão início a outro ciclo.
Q1

máquina
Rendimento de uma máquina térmica térmica

Analisando as máquinas térmicas, verificamos que existem alguns as-


Q2
pectos comuns ao funcionamento de todas elas. De fato, todas operam em
ciclo, isto é, retornam periodicamente às condições iniciais, e cada ciclo
fonte fria
pode ser representado, esquematicamente, como na figura 3.43. Essa figu-
ra indica que a máquina retira certa quantidade de calor Q1 de um objeto Figura 3.43. Representação
esquemática de uma máquina
aquecido, denominado fonte quente. Na máquina de Watt, por exemplo, a térmica qualquer. Na parte superior
fonte quente é a fornalha que aquece a água da caldeira. A máquina utiliza temos a fonte quente, Q1; no centro
a máquina térmica que está
parte desse calor para realizar um trabalho e rejeita uma quantidade de representada pela esfera; a parte
calor Q2 para a fonte fria. Esse calor Q2 é transportado pelo vapor que sai ain- inferior representa a fonte fria, Q2.
As setas indicam o sentido do fluxo
da aquecido do cilindro e é liberado no condensador, o qual representa a fon- de calor e o sentido do trabalho
te fria dessa máquina. realizado.

TErMODINÂMICA CAPÍTULO 3 79
Denomina-se rendimento, R, de uma máquina térmica a relação entre o trabalho,
†, que ela realiza em cada ciclo, e o calor, Q1, absorvido, durante o ciclo, da fonte quen-
te, isto é:

R5
Q1

logo, o rendimento de uma máquina térmica será tanto maior quanto maior for o
trabalho que ela realiza, para determinada quantidade de calor absorvido. Assim, se o
rendimento de uma máquina for R 5 0,50 (ou R 5 50%), isso significa que essa máqui-
na transforma em trabalho a metade do calor que recebe da fonte quente.
Da figura 3.43 e pela conservação da energia temos que Q1 5 † 1 Q2 ou
† 5 Q1 2 Q2. Então, podemos expressar o rendimento de uma máquina térmica da
seguinte maneira:

† Q 2 Q2 Q2
R5 5 1 ou R 51 2
Q1 Q1 Q1
Formato/Arquivo da editora

fonte quente
A 2a lei da Termodinâmica

máquina Da expressão anterior podemos concluir que, se Q2 5 0, isto é, se a


Q1
térmica máquina térmica, ao realizar um ciclo, não rejeitasse nenhum calor para
T = Q1
ideal a fonte fria, seu rendimento seria R 5 1 (ou R 5 100%). Portanto, uma
máquina como essa transformaria em trabalho todo o calor absorvido da
fonte quente (figura 3.44).
Figura 3.44. Diagrama de uma
máquina térmica ideal. Representação Entretanto, os cientistas perceberam que é impossível construir uma
sem escala e em cores fantasia. máquina como essa (com R 5 100%). Em outras palavras, qualquer dispo-
sitivo existente na natureza, ao efetuar um ciclo, não conseguirá transformar integral-
mente todo o calor que absorve de uma fonte quente em trabalho. Para completar o
ciclo, o dispositivo deverá sempre rejeitar parte do calor absorvido para uma fonte fria,
isto é, tem-se sempre, em qualquer máquina térmica, Q2 Þ 0.
Essa conclusão constitui a 2a lei da Termodinâmica, que foi enunciada por Kelvin,
da seguinte maneira:

É impossível construir uma máquina térmica que, operando em ciclo,


transforme em trabalho todo o calor a ela fornecido.

Dessa maneira, o rendimento de


Philipus/Alamy/Other Imagens

qualquer máquina térmica é inferior a


100%. Na realidade, os rendimentos das
máquinas térmicas mais comumente
usadas estão situados muito abaixo des-
se limite. Por exemplo: nas locomotivas
a vapor, o rendimento é cerca de apenas
10%; nos motores a diesel, nunca ultra-
passa 40% (figura 3.45).

Figura 3.45. Motores a diesel,


que estão entre as máquinas
mais eficientes, têm rendimento
em torno de 40%.

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