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Cinco Santas

Chagas

Na tradição cristã, as Cinco Santas


Chagas, também conhecidas como
Cinco Chagas Sagradas ou Cinco
Chagas Preciosas, são as cinco feridas
que Jesus Cristo sofreu durante a
crucificação. As feridas têm sido foco de
devoções particulares, especialmente no
fim da Idade Média, e têm
frequentemente sido refletidas na
música e arte sacras.
Ícone da Crucificação, mostrando as
cinco chagas sagradas (século XIII,
Mosteiro de Santa Catarina, Monte
Sinai).

História

No decorrer de sua Paixão, Jesus sofreu


várias feridas, como as da Coroa de
Espinhos e as dos flagelos na coluna. A
piedade popular medieval concentrou-se
nas cinco feridas associadas
diretamente à crucificação de Cristo, isto
é, as feridas dos Santos Cravos nas
mãos e nos pés, bem como a ferida da
Lança que perfurou seu lado.

O renascimento da vida religiosa e a


atividade zelosa de Bernardo de Claraval
e Francisco de Assis nos séculos XII e
XIII, juntamente com o entusiasmo dos
cruzados que retornaram da Terra Santa,
deram origem à devoção à Paixão de
Jesus Cristo.[1]

Muitas orações medievais em honra das


chagas sagradas, incluindo algumas
atribuídas a Clara de Assis,[2] foram
preservadas. Santa Matilde de
Hackeborn e Santa Gertrudes de Helfta
eram devotas das Santas Chagas, sendo
que a última recitava diariamente uma
oração em honra das 5.466 feridas que,
segundo uma tradição medieval, foram
infligidas a Jesus durante sua Paixão. No
século XIV, era costume no sul da
Alemanha recitar quinze pais-nossos por
dia (o que totalizava 5.475 no decorrer
de um ano) em memória das feridas
sagradas.

Nos missais medievais, havia uma missa


especial em homenagem às Chagas de
Cristo, conhecida como a "Missa de
Ouro". Durante sua celebração, cinco
velas sempre eram acesas e era de
crença popular que, se alguém a rezasse
ou ouvisse em cinco dias consecutivos,
nunca sofreria as dores do fogo do
inferno.[1]

O Rosário Dominicano também ajudou a


promover a devoção às Santas Chagas,
pois, enquanto as cinquenta contas
menores se referem a Maria, as cinco
grandes e os correspondentes pais-
nossos têm por intenção honrar as Cinco
Chagas de Cristo. Novamente, em alguns
lugares, era costume tocar um sino ao
meio-dia às sextas-feiras, para lembrar
aos fiéis de rezarem cinco pais-nossos e
ave-marias em homenagem às Santas
Chagas.[1]

As chagas
Cristo após sua ressurreição, com o
ostentatio vulnerum, mostrando
suas feridas, Áustria, c. 1500.

A perfuração do lado de Jesus


pela Santa Lança de Longino,
afresco de Fra Angelico (1395–
1455), San Marco, Florença.

As cinco chagas consistiam de uma


através de cada mão ou punho, uma
através de cada pé e uma no peito.
Duas das feridas estavam nas mãos
ou nos pulsos, onde pregos foram
inseridos para fixar Jesus na trave da
cruz na qual ele foi crucificado. De
acordo com o especialista forense
Frederick T. Zugibe, a região mais
plausível para o local de entrada do
prego no caso de Jesus é a parte
superior da palma da mão inclinada
em direção ao pulso, já que essa área
pode suportar facilmente o peso do
corpo, garante que nenhum osso seja
quebrado, marca o local onde a
maioria das pessoas acreditava estar,
explica onde a maioria dos estigmatas
exibiram suas feridas e é onde artistas
ao longo dos séculos o designaram.
Essa posição resultaria em aparente
alongamento dos dedos da mão
devido à compressão.[3]
Duas foram através dos pés, onde os
pregos[4] passaram através de ambos
para o feixe vertical.[5]
A ferida final foi no lado do peito de
Jesus, onde, de acordo com o Novo
Testamento, seu corpo foi perfurado
pela lança de Longino, para ter certeza
de que ele estava morto. O Evangelho
de João afirma que sangue e água
derramaram desta ferida (João 19:34–
KJV). Embora os Evangelhos não
especifiquem de que lado ele foi
ferido, era convencionalmente
mostrado na arte como sendo no lado
direito de Jesus, embora algumas
representações, principalmente um
número de Rubens, mostrem no lado
esquerdo.[6]

O exame das chagas pelo apóstolo São


Tomé, o "Duvidoso", relatado apenas no
Evangelho de João em João 20: 24-29,
foi foco de muitos comentários e
frequentemente retratado na arte, onde o
assunto tem o nome formal de
"Incredulidade de Tomé".

Devoções às Santas Chagas


Santo Afonso de Ligório

Irmã Maria Marta Chambon

Em seu livro de 1761, A Paixão e a Morte


de Jesus Cristo, Santo Afonso Maria de
Ligório, fundador dos Congregação do
Santíssimo Redentor (Padres
Redentoristas), listou, entre vários
exercícios piedosos, o Terço das Cinco
Chagas de Jesus Crucificado.[7]
O Terço Passionista das Cinco Chagas
foi desenvolvido em Roma em 1821.[8]
Uma coroa das Cinco Chagas foi
aprovada pela Santa Sé em 11 de agosto
de 1823 e novamente em 1851. Consiste
em cinco divisões, cada uma composta
por cinco glórias em honra das Chagas
de Cristo e uma ave-maria em memória
da Mãe Dolorosa. A bênção das contas é
reservada aos passionistas.[1]

O Rosário das Santas Chagas (também


chamado de "Terço das Santas Chagas")
foi introduzido pela primeira vez no início
do século XX pela Venerável Irmã Maria
Marta Chambon, monja católica do
Mosteiro da Ordem da Visitação de
Santa Maria em Chambéry, na França.[9]

Uso simbólico

A Bandeira de Portugal: os
escudos azuis representam as
Santas Chagas de Cristo.

Já em 1139, D. Afonso Henriques


colocara o emblema das cinco chagas
de Cristo em seu brasão como rei de
Portugal. Segundo um relato do
monarca, o próprio Jesus lhe terá
aparecido e mostrado as Suas santas
chagas antes da conquista do território
português.

A Cruz de Jerusalém, ou a "Cruz dos


Cruzados", lembra as cinco chagas
através de suas cinco cruzes. As feridas
sagradas tem sido usadas como um
símbolo da Cristandade. Os
participantes das cruzadas costumavam
usar a Cruz de Jerusalém, um emblema
representando as feridas sagradas; uma
versão ainda está em uso hoje na
bandeira da Geórgia. As "Cinco Chagas"
foram o emblema da "Peregrinação da
Graça", uma revolta no norte da
Inglaterra em resposta à Dissolução dos
Mosteiros de Henrique VIII.
Ao consagrar um altar, várias igrejas
cristãs ungem-no em cinco lugares,
indicativo das Cinco Chagas Sagradas.
As igrejas ortodoxas orientais às vezes
têm cinco cúpulas, simbolizando as
Cinco Chagas Preciosas, juntamente
com o simbolismo alternativo de Cristo e
dos Quatro Evangelistas.

Na música sacra

O poema medieval Salve mundi salutare


(também conhecido como Rhythmica
oratio) era atribuído anteriormente a São
Boaventura ou Bernardo de Claraval,[10]
mas agora é considera-se mais
provavelmente ter sido escrito pelo
abade cisterciense Arnulfo de Lovaina
(m. 1250). Uma longa meditação sobre a
Paixão de Cristo, é composto por sete
partes, cada uma pertencente a um dos
membros do corpo crucificado de
Cristo.[11] Popular no século XVII, foi
organizado como um ciclo de sete
cantatas em 1680 por Dieterich
Buxtehude. Seu Membra Jesu Nostri de
1680, é dividido em sete partes, cada
uma dirigida a um membro diferente do
corpo crucificado de Cristo: pés, joelhos,
mãos, lado, peito, coração e cabeça,
apropriados por versículos selecionados
do Antigo Testamento que contêm
prefigurações.
A cantata chegou até nós mais
amplamente conhecida como o hino Ó
Fronte Ensanguentada nomeado a partir
da estrofe final de um poema dirigido à
cabeça de Cristo que começa com "Salve
caput cruentatum". Traduzido pelo
hinista luterano Paul Gerhardt, Johann
Sebastian Bach organizou a melodia e
usou cinco estrofes do hino em sua
"Paixão de São Mateus". Franz Liszt
incluiu um arranjo deste hino na sexta
estação, Santa Verônica enxuga o Santo
Rosto, em sua Via crucis (Estações da
Cruz).

Na arte
A Incredulidade de São Tomé por
Caravaggio (1601-02).

Na arte, a questão da Dúvida de Tomé,


ou a Incredulidade de São Tomé, é
comum desde pelo menos o início do
século VI, quando aparece nos mosaicos
da Basílica de Santo Apolinário Novo em
Ravena,[12] e nas ampolas de Monza.
Entre os exemplos mais famosos estão
o par esculpido de Cristo e São Tomé, de
Andrea del Verrocchio (1467-1483), para
a Igreja de Orsanmichele em Florença e
A Incredulidade de São Tomé, de
Caravaggio, agora em Potsdam.
Na Idade Média posterior, Jesus com um
lado da túnica puxado para trás, exibindo
a ferida do lado e as outras quatro
feridas (chamada ostentatio vulnerum,
"exibição das feridas"), foi tirado de
imagens com Tomé, o Duvidoso, e se
tornou numa imagem exclusiva de
Jesus, que freqüentemente coloca seus
próprios dedos na ferida ao seu lado.
Essa forma tornou-se uma característica
comum de figuras icônicas únicas de
Jesus e de temas como o Juízo Final (do
qual a Catedral de Bamberg tem um
exemplo inicial de cerca de 1235), Cristo
em Majestade, o Homem das Dores e
Cristo com a Arma Christi, e foi usado
para enfatizar o sofrimento de Cristo,
bem como o fato de sua ressurreição.[13]

Vide também

São Longino
Estigmas
Stigmata, filme de 1999

Notas

1. «CATHOLIC ENCYCLOPEDIA: The


Five Sacred Wounds» (http://www.ne
wadvent.org/cathen/15714a.htm) .
www.newadvent.org
2. Fiege, Marianus (1900). The princess
of poverty : Saint Clare of Assisi and
the order of poor ladies / by Father
Marianus Fiege (https://archive.org/d
etails/princessofpovert00fieg) .
Evansville, Ind.: Poor Clares of the
Monastery of S. Clare. [S.l.: s.n.]
3. «Zugibe Barbet Revisited Forensic
Study of Crucifixion» (http://www.cru
cifixion-shroud.com/Barbet.htm) .
www.crucifixion-shroud.com (em
inglês)
4. No Cristianismo Oriental, a
crucificação é tradicionalmente
retratada com os pés de Jesus lado
a lado, e um prego para cada um; no
Ocidente, o crucifixo normalmente
mostra os pés sobrepostos, ambos
furados com um único prego.
5. De todos os milhares crucificados
pelos romanos, os restos
esqueléticos de apenas um foi
descoberto pelos arqueologistas, e
este mostrava um único prego no
calcanhar.
6. Gurewich, Vladimir, "Rubens and the
Wound in Christ's Side. A Postscript",
Journal of the Warburg and
Courtauld Institutes, Vol. 26, No. 3/4
(1963), p. 358, The Warburg Institute,
JSTOR (https://www.jstor.org/stable/
750501)
7. Liguori, Alfonso Maria de'; Grimm,
Eugene (1887). The passion and the
death of Jesus Christ (https://archiv
e.org/details/passiondeathofje00lig
u) . New York : Benziger Brothers
(em inglês). [S.l.: s.n.]
8. «Chaplet of the Five Wounds» (http://
www.cpprovince.org/archives/thepa
ssionist/chaplet-5wounds.php) .
www.cpprovince.org (em inglês)
9. Ann Ball, 2003 Encyclopedia of
Catholic Devotions and Practices
ISBN 0-87973-910-X
10. «CATHOLIC ENCYCLOPEDIA: Salve
Mundi Salutare» (http://www.newadv
ent.org/cathen/13408a.htm) .
www.newadvent.org
11. Snyder, Kerala. J., Dieterich
Buxtehude: Organist in Lübeck,
University Rochester Press, 1987 (htt
ps://books.google.com/books?id=qS
XGOoambNcC&pg=PA140&dq=salve
+mundi+salutare&hl=en&sa=X&ei=L8
D0VKibA8mxggTNsoF4&ved=0CCcQ
6AEwAg#v=onepage&q=salve%20mu
ndi%20salutare&f=false) ISBN
9781580462532
12. Soper, 188, listando várias outras
ocorrências anteriores
13. Schiller, Vol 2, 188-189, 202

Fontes
Kerr, Anne Cecil. Irmã Maria Marta
Chambon, da Visitação B. Herder, 1937
Schiller, Gertrud, Iconografia da arte
cristã, vol. II, 1972 (tradução inglesa do
alemão), Lund Humphries, Londres,
ISBN 0853313245

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