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Ser uma Santa

Este é o conhecido texto do ascensor divino, Aqui, Santa teresinha enfrenta a questão
crucial da santidade, ou seja, como o homem, fraco e imperfeito, pode se aproximar daquele
que é o Santíssimo.

Nossa Santa não se preocupa muito, neste caso, com a questão das obras, embora reconheça
que são necessárias, uma vez que amor se paga com amor, todavia, a grande mensagem
teresiana é exatamente que o homem, reconhecendo-se fraco e pequenino, ou seja, humilde,
lance-se, com toda confiança e completo abandono, nos braços de Deus.

Há, aqui, uma problemática teológica, ou seja, como o homem pode se apropriar de Deus?
Teresa não discute a questão teológica; ela simplesmente propõe a solução do problema. Em
uma palavra, seguindo o evangelho, ela ensina que, o homem não pode desanimar diante da
sua fraqueza e pobreza, pelo contrário, deve aproveitar esses limites e fazer deles um
trampolim para a força e amor de Deus aliás, é a graça divina que salva; é a misericórdia de
Deus que nos santifica, por isso, o importante é agarrar-se a Deus e caminhar com ele. É
evidente que, isso requer uma opção e muito esforço daquele que deseja sinceramente
caminhar na santidade de Deus.

A senhora o sabe, minha Madre, sempre desejei ser uma santa, mas ah! sempre constatei,
quando me com- parei aos santos, que há entre eles e eu a mesma diferença que existe entre
uma montanha, cujo cimo se perde nos céus, e o obscuro grão de areia calcado sob os pés dos
passantes; em vez de me desanimar, disse para mim: 0 Bom Deus não poderia inspirar desejos
irrealizáveis, posso, pois, apesar da minha fraqueza, aspirar à santidade; crescer, é impossível,
devo me suportar tal qual eu sou com todas as minhas imperfeições mas vou procurar um
meio para ir ao céu por um caminhozinho bem direto, bem curto, um caminhozinho todo novo.
Estamos em um século de invenções, agora não vale mais a pena subir os degraus de uma
escada, na casa dos ricos um ascensor a substitui vantajosamente. Quisera encontrar um
ascensor para me elevar até Jesus, pois sou pequena demais para subir a rude escada da
perfeição. Então, procurei nos livros santos a indicação do ascensor, objeto de meu desejo, e li
estas palavras saídas da boca da Sabedoria Eterna: "Se alguém é pequenino, que venha a
mim"(1). Então, vim, adivinhando que achara o que buscava e que- rendo saber, ó meu Deus! o
que faríeis ao pequenino que respondesse ao vosso apelo, continuei minhas pesquisas e eis o
que encontrei: - "Como uma mãe acaricia seu filho, assim eu vos consolarei, levar-vos-ei sobre
o meu peito e vos balançarei sobre meus joelhos!"(2) Ah! jamais palavras mais ternas, mais
melodiosas vieram alegrar minha alma, o ascensor que deve me elevar até o céu são os vossos
braços, ó Jesus! Por isso, não tenho necessidade de crescer, ao contrário, é preciso que fique
pequena, que me torne pequena cada vez mais. O meu Deus, pas- sastes além da minha
expectativa e eu quero cantar vossas misericórdias. "Vós me instruístes desde minha juventude
e até o presente anunciei vossas continuarei a publicá-las na mais avançada idade". Qual será
para mim essa idade avançada? Parece-me que poderia ser agora, pois 2.000 anos não são, aos
olhos do Senhor, mais do que 20 anos... do que um só dia... Ah! não creia, Madre bem-amada,
que sua filha deseja deixá-la... não creia que ela julga ser uma graça maior morrer na aurora
antes que no declínio do dia. O que ela estima, o que ela deseja unicamente, é dar prazer a
Jesus... Agora, que parece aproximar-se dela para atraí-la à morada de sua glória, sua filha se
alegra. Desde muito tempo, ela compreendeu que, o Bom Deus não tem necessidade de
ninguém (ainda menos dela do que dos outros) para fazer o bem sobre a terra.
(MC, 2v-3v)

(1)Provérbios 9, 4. O texto original é diferente. A idéia, porém, é bíblica.

(2) Isaías, 46,13 e 12. Também aqui, o texto original é diferente. Teresa se- gue mais a tradução
da Vulgata.

(3) Salmo 70,17-18. A citação de Santa Teresinha é, como sempre, livre e isso provavelmente
por força dos textos dos quais ela se servia.

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