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Acídia: características
Na oraçã o que foi feita em preparaçã o para este retiro recebemos algumas revelaçõ es
que nos falam sobre uma situaçã o de desâ nimo, de desencorajamento, de falta de vigor
espiritual que foi experimentada por muitos cristã os ao longo dos séculos. Trata-se de uma
doença espiritual, que será tratada ao longo de todo este retiro, na descriçã o de suas
características, nas suas causas e consequências, e na terapia que lhe deve ser aplicada. De
início, apresentamos algumas das palavras que nos foram dadas:
“Deus me dava a visualização de uma roseira com rosas vermelhas, grandes, bonitas. E
que alguém olhava para esta roseira e tinha vontade de tirar uma rosa, mas ela não pegava por
conta dos espinhos porque tinha medo de se ferir. Queria a rosa, mas tinha medo e evitava essa
flor com medo do que poderia acontecer com ela diante destes espinhos.” AVERSÃ O AOS
SACRIFÍCIOS E À S TRIBULAÇÕ ES (Esta é, contudo, nossa morada eterna? Por que somos
chamados Igreja militante? Nã o estamos, por acaso, em combate contra o demô nio, o mundo e
a carne?)
“O Senhor me falava e mostrava a vida dos nossos baluartes e como eles não tiveram medo
de ouvir a Vontade de Deus, das dores. Mostrava como acolheram as dores e as dificuldades, mas
queriam estar com Deus e na Vontade de Deus, e viviam com muita alegria. E dizia que havia em
nosso meio um medo muito grande de ouvir o que Ele diz com medo de se comprometer, impondo
limites na oferta de vida a Deus. Não quer ouvir para não se comprometer a dar mais, para se dar
por inteiro.” MESQUINHEZ, FASTIO AOS ESFORÇOS
“O Senhor me dava a visualização de um copo cheio de água que transbordava, a ponto de
que o Senhor desejava vir e colocar uma água nova, uma água viva, mas não conseguia nesse
copo porque estava cheio. E o Senhor nos dava o discernimento de que esta água que estava no
copo representava a nós cheios de nós mesmos e transbordávamos a nós mesmos, a ponto do
Senhor não conseguir colocar esta água viva para que nós bebêssemos e para nós darmos para as
outras pessoas. Deus nos pedia que derramássemos esta água para que Ele pudesse colocar a sua
água viva.” RESISTÊ NCIA À S INSPIRAÇÕ ES DO ESPÍRITO SANTO
“O Senhor me fez ver uma grande chuva. Mas muitos não se deixavam molhar, se
protegiam, até com as mãos na cabeça. E o sentimento que o Senhor me dava era que esta chuva
era a graça do Coração Dele, e que muitos não estavam acolhendo esta graça.” ABUSO DAS
GRAÇAS DE DEUS
Tudo o que fazemos, nó s o fazemos por amor. Seja por um amor perverso ou por um
amor virtuoso, a energia interior é movida pelo amor.
O amor obedece, por assim dizer, a um ciclo: primeiro o amor começa no afeto, a pessoa
amada está dentro do nosso coraçã o; nó s passamos a desejar a uniã o com ela; e entã o, este
amor afetivo tende para a uniã o efetiva, gerando uma açã o. “Deus é amor em ato” (Sã o Tomá s
de Aquino). O amor de Deus por nó s culminou na Encarnaçã o, que é uma profunda e
indissociá vel uniã o do homem e Deus. “Tanto Deus amou o mundo que deu o Seu Filho único...”
(Jo 3,16).
Mas, se nã o amamos, o que fazemos? Nada. Ficamos inativos, inoperantes. Se nã o existe
amor, nó s nã o saímos da cama pela manhã .
A acídia é um pecado contra a caridade. Ela atenta contra o ú nico bem absoluto e
verdadeiro das nossas vidas, que é a uniã o com Deus. A mais perfeita alegria do homem
repousa nesta intimidade com Deus; e a esta felicidade, a esta beatitude, somente chegamos
através das nossas açõ es, que sã o como os passos que nos conduzem para Deus. Embora a
nossa vocaçã o à santidade nos exceda muito, seja uma realidade sobrenatural, somos
chamados a cooperar com a graça divina, colocando toda a nossa vitalidade a serviço de sua
açã o livre e inteligente. Quando chegamos a isto, chegamos à alegria, pois o amor consumado
tem como fruto a alegria.
A acídia é grande empecilho à caridade porque é aversã o à açã o; mas nã o qualquer açã o
senã o aquela que nasce da caridade e que, portanto, é participaçã o do Espírito Santo, é boa
obra que é realizada por atraçã o deste Espírito e mediante obediência a Ele. É retraimento em
si mesmo. A açã o nã o é mais percebida como dom de si mesmo, como resposta a um amor
recebido anteriormente, que nos chama e possibilita a existência da nossa açã o. O agir do
acidioso é uma busca de satisfaçã o pessoal, mesmo quando parece agir em favor dos outros, em
nome da “caridade”; é o desejo de liberdade a qualquer preço. Nã o há mais espaço do
abandono de si a um outro, para a alegria do dom. O que resta é a tristeza e a amargura, que
distancia do outros e de Deus.
A acídia como doença espiritual vai nos fazendo escorregar lentamente para
afundarmos em muitos outros vícios e pecados: inicia-se pela procrastinaçã o, deixando para
fazer amanhã o que se precisa fazer agora. A esta, associam-se logo a imprudência e a injustiça.
Como se experimenta cada vez mais o vazio interior pela rejeiçã o ao bem supremo, que é Deus,
para fazer a pró pria vontade, a busca pelo prazer se torna o paliativo: horas no celular,
excessos no comer e beber, jogos e televisã o, até os prazeres da carne mais graves. O serviço a
Deus é trocado pelo ativismo. Tornamo-nos pessoas agitadas, impacientes (tudo, agora e
sempre mais rá pido, como os adolescentes fazem), com um gosto exagerado pelo repouso (e
incapazes de sacrifícios), em busca sempre de novidades, inconstantes, sem firmeza nas
resoluçõ es, até chegarmos à indiferença a fé e a falta de piedade.
O primeiro e decisivo passo para se combater este mal, do qual todos somos vítimas, é
reconhecer em que medida estamos acidiosos. Isto nos permitirá nã o desertar na luta.