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DOI: 10.5212/TerraPlural.v.15.2115390.

006

Ocorrências de alagamentos e enchentes na bacia do arroio da


Ronda em Ponta Grossa, PR, Brasil

Overflow and flooding events in the Ronda stream watershed in


Ponta Grossa, PR, Brazil

Ocurrencias de inundaciones en la cuenca del arroyo de la


ronda en Ponta Grossa, PR, Brasil

Janaina Santana dos Santos


https://orcid.org/0000-0003-4305-5477
sdsjanaina@gmail.com
Universidade Estadual de Ponta Grossa, UEPG, Ponta Grossa, PR

Silvia Méri Carvalho


https://orcid.org/0000-0002-3383-8032
silviauepg@gmail.com
Universidade Estadual de Ponta Grossa, UEPG, Ponta Grossa, PR

Resumo: Os episódios de precipitações fazem parte da variabilidade climática das


regiões. Porém, quando associadas ao processo de impermeabilização dos solos e à
drenagem urbana ineficiente, potencializam ocorrências de enchentes e alagamentos,
com transtornos e prejuízos para a população. Assim, este estudo correlaciona o registro
de 60 ocorrências de alagamentos e enchentes na bacia do arroio da Ronda, localizada
em grande parte no perímetro urbano de Ponta Grossa, entre os anos de 1980 e 2017.
Metade das ocorrências se deu por eventos extremos, ou seja, com uma precipitação
igual ou superior a 50 mm. Muitas ocorrências se deram em áreas consideradas como
de risco, principalmente na planície de inundação do arroio da Ronda.
Palavras-chave: Precipitação, Escoamento superficial, Drenagem urbana.

Abstract: Episodes of precipitation are part of the climate variability of a region;


however, when associated with impermeability processes of the soils and inefficient
urban drainage, they increase the rates of floods and overflows events, which cause
severe inconvenience and damage for the population. Thus, this study correlates the
record of 60 occurrences of floods and overflows, in the Ronda stream watershed,
located largely in the urban area of the city of Ponta Grossa, between the years 1980
and 2017. Half of the occurrences happened due to extreme events, that is, with
precipitation equal to or greater than 50 mm. Many occurrences occurred in areas
considered to be at risk, mainly in the floodplain of the Ronda stream.
Keywords: Precipitation, Surface runoff, Urban drainage.

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Janaina Santana dos Santos e Silvia Méri Carvalho

Resumen: Los episodios de precipitación, son componentes de la variabilidad climática


de las regiones; sin embargo, cuando se asocian con el proceso de impermeabilización
de los suelos y un drenaje urbano ineficiente, aumentan la ocurrencia de inundaciones,
que causan inconvenientes y daños a la población. Así, este estudio correlaciona el
registro de 60 ocurrencias de inundaciones, en la cuenca del arroyo Ronda, ubicada en
la mayoría en el perímetro urbano de Ponta Grossa, entre los años de 1980 y 2017. La
mitad de las ocurrencias se debieron a eventos extremos, o sea, con una precipitación
igual o superior a 50 mm. Muchas ocurrencias sucedieron en áreas identificadas como
de riesgo, principalmente en la llanura aluvial del arroyo Ronda.
Palabras clave: Precipitación, Escorrentía superficial, Drenaje urbano.

INTRODUÇÃO

O volume da precipitação, seus regimes sazonais ou diários, distribuição temporal e


intensidade afetam direta ou indiretamente as populações e suas atividades. As alterações
nas condições e distribuição das chuvas influenciam as ocorrências de secas, ocasionan-
do as estiagens, ou de chuvas intensas, causando enchentes e alagamentos (Sousa, Rosa,
Nascimento & Lima, 2006). Nas áreas urbanas o risco de enchentes é constante, oriundo
da rápida urbanização e de eventos extremos hidroclimáticos cada vez mais frequentes
(Bruwier et al., 2020).
Segundo Vestena, Almeida e Geffer (2020, p. 24924), embora haja distinção concei-
tual entre os conceitos de inundação, enchentes e alagamentos, todos “possuem origem
hidrológica ou hidrometeorológica, ou seja, estão associados a eventos de chuvas intensas
ou de longa duração”. Segundo Carvalho, Macedo e Ogura (2007) a inundação representa
o transbordamento das águas de um curso de água, atingindo a planície de inundação; as
enchentes ou cheias são as elevações temporárias do nível de água no canal de drenagem
devido ao aumento da vazão, atingindo a cota máxima do canal, porém, sem extravasá-lo;
já o alagamento é um acúmulo momentâneo de água em determinados locais por deficiência
no sistema de drenagem urbana.
Os fatores naturais que influenciam a ocorrência de enchentes e inundações podem
decorrer das características topográficas, grau de declividade e da natureza da rede de
drenagem (Pinheiro, 2007). Para Medeiros e Melo (2001), com relação ao município de
Ponta Grossa, Sul do Brasil, a pouca atenção sobre o desenvolvimento urbano desordena-
do, a ausência de um ordenamento territorial que considerasse as particularidades físicas
(principalmente relevo e hidrografia) e a ocupação das planícies de inundação acabaram
contribuindo para a intensificação ou ocorrência frequente de enchentes e alagamentos
em todo o município, especialmente na área da bacia do arroio da Ronda (Diedrichs et al.,
2009), localizado em grande parte no perímetro urbano.
A partir da década de 1960, verifica-se o início da ocupação de áreas próximas às
margens do arroio da Ronda, em locais suscetíveis a ocorrências de enchentes (Meneguzzo,
2009). Algumas vias na bacia foram construídas em locais planos ou com baixa declivida-
de, favorecendo o acúmulo de água em episódios de intensa precipitação pluviométrica.

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Segundo Mascaró (2003, p. 25), “como regra geral, deve-se escolher a posição e direção
de todas as ruas, de forma a ter declividade suficiente para escoar as águas da chuva”.
Assim, ao longo dos anos, no município e na bacia do arroio da Ronda, vem se
registrando episódios de alagamentos e enchentes (Meneguzzo, 2009).

REFERENCIAL TEÓRICO

O início dos processos hidrológicos que favorecem as ocorrências de enchentes e


alagamentos inclui a parcela da água precipitada que pode ser interceptada pela vegeta-
ção, enquanto o restante pode infiltrar-se no solo e/ou escoar sobre a superfície, podendo
evaporar novamente, alimentando e repetindo o ciclo hidrológico (Tucci, 2003a; Borghetti,
Borghetti & Rosa Filho, 2004).
O processo de transformação da chuva em escoamento é complexo, dinâmico, não
linear, e exibe variabilidade temporal e espacial, muitas vezes inter-relacionados a fatores
físicos das bacias hidrográficas, sendo que um dos principais fatores que influenciam no
escoamento são as alterações da superfície de uma bacia hidrográfica provocadas por mu-
danças no uso e cobertura da terra (Nair, Mohanlal, Ayishath Nabeela, Aneesh & Srinivas,
2016; Tucci, 2007), que juntamente com o aumento na frequência e intensidade das chuvas
extremas, podem tornar as cidades altamente vulneráveis às ocorrências de alagamentos,
enchentes e inundações (Devi, Sridharan & Kuiry, 2019).
No caso das enchentes, estas podem ocorrer devido ao comportamento natural dos
cursos de água ou são potencializadas pelos efeitos da urbanização e consequente imper-
meabilização das superfícies, pelos obstáculos que se criam para o escoamento da água, e
ainda pela modificação e canalização dos rios (Tucci, 2003b; Pinheiro, 2007).
Segundo Trentin, Robaina e Silveira (2013), na enchente ocorre a elevação paulatina
das águas e o canal fluvial mantém o extravasamento por alguns dias, até o escoamento
gradual das águas. As enchentes alcançam alguns metros a dezenas de quilômetros de
extensão e adquirem extensão vertical suficiente para cobrir casas e até árvores de por-
te grande. Nas cidades com sistemas de drenagem deficientes, as águas alagam as vias
públicas devido a fortes precipitações pluviométricas, pois a insuficiência desse sistema
de drenagem dificulta a vazão das águas acumuladas (Castro, 2003; Trentin, Robaina &
Silveira, 2013).
As inundações e enchentes são fenômenos hidrogeomorfológicos que possuem
sazonalidade caracterizada pelo excesso hídrico, o alagamento é um fenômeno sem sazo-
nalidade, decorrente de eventos extremos de precipitação pluvial, persistindo por poucas
horas ou dias e com pequena expansão em área (Amaral & Thomaz, 2008).
Neste contexto do ciclo hidrológico, a bacia hidrográfica é a unidade espacial es-
sencial para análise, pois “é uma área de captação natural da água da precipitação que faz
convergir o escoamento para um único ponto de saída, seu exutório” (Silveira, 2001, p. 40).
Cidades médias com as mesmas características tem sido objeto de estudo de Lima
e Amorim (2014), em São Carlos, SP, e Vestena, Almeida e Geffer (2020), em Guarapuava,

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PR, pois a combinação das características físicas das localidades, aliada a intensa imperme-
abilização do solo, juntamente com a ocorrência de precipitações intensas pode colaborar
para ocorrências de alagamentos e enchentes ocasionando riscos para a população. Na
cidade de Curitiba, Goudard e Mendonça (2020) concluíram que o histórico de impactos
ligados às precipitações está relacionado a condicionantes como o clima, as condições de
suscetibilidade ambiental e a vulnerabilidade social.
Diedrichs et al. (2009), sobre os efeitos da urbanização nos processos hidrológicos
da bacia do arroio da Ronda, destacaram algumas áreas suscetíveis a enchentes e alaga-
mentos, com intensa impermeabilização do solo e topografia plana.

METODOLOGIA

Área de estudo

A bacia do arroio da Ronda está localizada na porção sudoeste do perímetro urba-


no do município de Ponta Grossa, na região fitogeográfica dos Campos Gerais do Paraná
(Fig. 1). Grande parte da bacia está na área urbana (26,11 km2), sendo apenas 8,32 km2
localizados na área rural, perfazendo um total de 34,43 km2. As nascentes do arroio estão
localizadas na área urbana, em áreas com ocupação consolidada (Meneguzzo, 2009), e foz
no rio Tibagi, onde predominam os cultivos temporários diversificados.
Figura 1: Localização da bacia do arroio da Ronda no município de Ponta Grossa , PR.

Fonte: Instituto de Terras, Cartografia e Geologia do Paraná (ITCG, 1996); Paraná Cidade (2005).

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A precipitação média anual da área da bacia hidrográfica está entre 1.600 e 1.800 mm
(Cruz, 2007), marcada pela influência, principalmente das massas de ar: Polar Atlântica,
Tropical Atlântica, Tropical Continental, Equatorial Continental e pelas frentes frias e
frentes quentes.
As temperaturas mais elevadas normalmente apresentam-se nos meses de novem-
bro a março, com temperatura média mensal de 22°C (Nitsche, Caramori, Ricce & Pinto,
2019). No período do inverno, nos meses de junho, julho e agosto, a temperatura média
mensal é 15°C (Meneguzzo, 2009; Nitsche, Caramori, Ricce & Pinto, 2019).

Base Cartográfica e dados pluviométricos

Para determinação do limite da bacia do arroio da Ronda e da sua rede fluvial foi
utilizada a carta topográfica de Ponta Grossa, escala 1:50.000 com equidistância de 20
metros, fornecidas pelo Instituto de Terras Cartografia e Geologia do Paraná (ITCG, 1996;
Folha SG-22-X-C-II-2/MI-2840-2).
Os dados pluviométricos, compreendendo o período de 1980 a 2017, foram forneci-
dos pelo Instituto das Águas do Paraná a partir de dados da estação Santa Cruz, no bairro
Colônia Dona Luiza (-25°20’00”S e -50°15’00”W), no perímetro urbano do município de
Ponta Grossa.

Histórico de ocorrências de alagamentos e enchentes

As ocorrências foram obtidas em dois momentos: primeiramente, foram obtidas 37


ocorrências denominadas de alagamentos disponibilizadas pelo 2º Grupamento do Corpo
de Bombeiros de Ponta Grossa, ocorridos no perímetro urbano de Ponta Grossa entre os
anos de 2005 a 2017.
Em um segundo momento, foi consultado o acervo do Jornal da Manhã pertencente
ao acervo de jornais da Casa da Memória do município de Ponta Grossa. A partir desta
consulta foi possível localizar mais 23 ocorrências de enchentes e alagamentos na área de
estudo no período de 1980 a 2004.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Ocorrências de alagamentos e enchentes

Para elaboração do pluviograma (Fig. 2) foram utilizados os totais mensais e anuais


de chuva do período analisado. O ano mais úmido foi 1983, que registrou precipitação
total anual de 2.217,2 mm e o ano com a menor precipitação foi 1985 com precipitação
total anual de 900,2 mm.
A média histórica anual de precipitação para o período foi de 1.655,29 mm, valor
acima daquele encontrado por Carvalho e Stipp (2004) que analisaram o período de 1954
a 1996, para a mesma cidade, e encontraram uma média de 1.523,3 mm. A média mensal
foi de 137,9 mm, igualmente acima dos 126,9 mm verificados por Carvalho e Stipp (2004).

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Figura 2: Pluviograma da bacia do arroio da Ronda - Precipitação mensal e anual de 1980 a 2017.

LEGENDA

= Mês/ano mais úmido = Mês/ano mais seco


TOTAL MENSAL TOTAL ANUAL
401 a 500 mm 2051 a 2350 mm
301 a 400 mm 1751 a 2050 mm
201 a 300 mm 1451 a 1750 mm
101 a 200 mm 1151 a 1450 mm
0 a 100 mm 850 a 1150 mm
Fonte: Instituto das Águas do Paraná (2018)

As maiores precipitações ocorreram no verão, no trimestre de dezembro, janeiro e


fevereiro, fato também observado por Carvalho e Stipp (2004), para os dados de 40 esta-
ções no estado do Paraná. A segunda estação do ano que apresentou os maiores volumes
de precipitação foi a primavera, nos meses de setembro, outubro e novembro. Outono e

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inverno são relativamente mais secos, a menor média mensal do período foi no inverno,
nos meses de julho com 114, 25 mm e agosto com 84,18 mm. O mês de março de 1998 foi o
mais chuvoso com 497,8 mm, e o mês mais seco foi julho de 2017, com 0 mm. Estes valores
são episódicos, isto é, geralmente ocorrem precipitações em torno de 140 mm em março
e de 120 mm em julho (Nitsche, Caramori, Ricce & Pinto, 2019).
Os meses de dezembro, janeiro e fevereiro apresentaram os índices mais elevados
de pluviosidades em relação à média mensal de chuva para o período, sendo que em
dezembro houve uma precipitação média mensal de 166,89 mm, em janeiro de 181,14
mm e em fevereiro 174,45 mm. Logo, as enchentes são mais frequentes durante a estação
chuvosa do verão, onde o solo tende a manter umidade e possivelmente se tornará menos
permeável para infiltração das águas das chuvas (Zúñiga & Magaña, 2017).
Na bacia do arroio da Ronda há, portanto, a presença de duas estações bem defini-
das, o verão quente e úmido e o inverno que apresenta menor temperatura e pluviosida-
de. Nos sistemas atmosféricos que atuam na região dos Campos Gerais, nos meses mais
quentes, predominam as massas de ar de baixa pressão e grande instabilidade atmosférica,
comportando grande nebulosidade e precipitação elevada. Nos meses mais frios, preva-
lecem as massas de ar de alta pressão e tendem a ter menores temperaturas e estabilidade
atmosférica (Borsato & Souza, 2008; Leite, Adacheski & Virgens Filho, 2011).
A estação do verão é a mais chuvosa pela presença e atuação da Massa Tropical
Marítima (mTm). Segundo Leite, Adacheski e Virgens Filho (2011), esta massa quente e
úmida, se origina no anticiclone do Atlântico Sul e predomina no verão ocasionando chuvas
abundantes. Outro sistema atuante nesta estação é a Massa Tropical Continental (mTc),
quente e úmida, que também provoca chuvas de grande intensidade e curta duração na
área da bacia, propiciando a formação de alagamentos.
A respeito da Massa Polar Continental (mPc), origina-se sobre águas subantárticas,
penetrando no Paraná pelo Oeste e Sudoeste, provocando estabilidade atmosférica na área
da bacia, pois não adquire umidade ao longo de seu trajeto. A predominância desta massa
de ar se dá no outono e inverno, tornando as estações menos chuvosas e com tendência
à ocorrência de baixas temperaturas (Leite, Adacheski & Virgens Filho, 2011). A Figura 3
demonstra o comportamento da precipitação nos anos com ocorrências de alagamento e
enchentes na área de estudo.
Figura 3: Precipitação nos anos com ocorrências de alagamentos e enchentes na bacia do arroio da Ronda
em Ponta Grossa, PR.

Fonte: Instituto das Águas do Paraná (1980-2017).

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O ano de 1998 foi um dos mais chuvosos do período analisado, com grande número
de ocorrências (cinco), ano este marcado pela influência do fenômeno El Niño. Segundo
Moraes, Barbosa Neto e Araújo (2007), de forma simplificada, o El Niño Oscilação Sul
(ENOS) “é um fenômeno de interação oceano-atmosfera, associado às alterações dos pa-
drões normais da TSM (temperatura da superfície do mar) e dos ventos alísios na região
do Pacífico Equatorial, entre a Costa Peruana e a Austrália” (Moraes, Barbosa Neto, &
Araújo, 2006, p. 62).
As consequências do ENOS para a América do Sul estão relacionadas a eventos hidro-
lógicos e climáticos, tanto pelo excesso ou o aumento da temperatura e precipitações, quanto
pela falta de chuva, com as ocorrências da seca nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. O
ENOS pode provocar episódios desastrosos, como os excessos hídricos ocorridos nos anos
de 1982/1983 e 1997/1998 (Moraes, Barbosa Neto & Araújo, 2007; Ferreira et al., 2017) em
grande parte do Sul da América Latina, principalmente na bacia do rio Paraná, provocando
vários episódios de enchentes e inundações, como abordado por Bello et al. (2018).
Portanto, os anos de 1983, 1998 e 2015 mostraram um total anual superior a 2.000
mm e estiveram sob domínio parcial ou total da fase quente do ENOS, como percebido
também por Terassi, Biffi e Oliveira Junior (2019) estudando a bacia do rio Alto Iguaçu,
localizado no estado do Paraná.
Segundo Leite, Adacheski e Virgens Filho (2011), ao analisar a pluviosidade da
cidade de Ponta Grossa entre os anos de 1954 e 2011, a influência da La Niña para esta
área é oposta ao El Niño. Portanto, para a área da bacia, a La Ninã atuou na redução da
precipitação, principalmente nos anos de 1981, 1985, 1988 e 1999.
Assim, dos 37 anos analisados, em 19 deles houve, segundo dados fornecidos pelo
2° Grupamento do Corpo de Bombeiros Ponta Grossa e pesquisas em jornais da Casa da
Memória, 60 ocorrências registradas como alagamentos e enchentes na área de estudo
(Fig. 4). Sendo, portanto, cinco ocorrências na década de 1980, 13 na década de 1990, 24
na década de 2000 e 18 a partir da década de 2010 até 2017.
A maior parte das ocorrências foi registrada no curso superior do arroio da Ronda,
tanto na margem direita quanto na esquerda, sendo muitas delas próximas as nascentes.
Destaca-se uma sequência de ocorrências na margem direita, próxima ou no curso prin-
cipal propriamente dito.
É possível notar que as ocorrências registradas na década de 1980 se localizam nos
bairros Contorno e Ronda. Aquelas registradas entre os anos de 1990 a 2004 estão situadas
nos bairros Contorno, Ronda, Colônia Dona Luiza, Nova Rússia e na área central de Ponta
Grossa. Já as ocorrências mais recentes, entre os anos de 2005 e 2017, estão distribuídas
em quase todos os bairros, exceto no bairro Olarias, que ocupa uma pequena porção a
leste da bacia.

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Figura 4: Espacialização das ocorrências de alagamentos e enchentes na bacia do arroio da Ronda entre
1980 a 2017.

Fonte: Jornal Diário dos Campos (1980-2004)1; 2º Grupamento de Corpo de Bombeiros (2005-2017).

O ano de 2009 foi o que registrou maior quantidade de alagamentos (seis). Entretanto,
no ano de 2014, marcado por intensas precipitações e inúmeras ocorrências de inundações
e alagamentos em todo estado do Paraná, não foi registrada nenhuma ocorrência na área
da bacia estudada, ainda que no restante da área urbana do município, neste mesmo ano,

1 Notícias coletadas através do Jornal da Manhã arquivado no acervo de jornais da Casa da Memória de Ponta Grossa. Alguns
dos exemplares pesquisados são:
Jornal da manhã. (1983, maio 20). Temporal destrói casa e faz uma vítima fatal. Acervo de jornais da Casa da Memória de
Ponta Grossa (PR), p. 24.
Jornal da manhã. (1983, maio 21). Família morre soterrada no Arroio da Ronda: 8 mortos. Acervo de jornais da Casa da
Memória de Ponta Grossa (PR), p. 1.
Jornal da manhã. (1996, março 19). Temporal deixa mais de 100 desabrigados em Ponta Grossa. Acervo de jornais da Casa
da Memória de Ponta Grossa (PR), C-8.
Jornal da manhã. (1998, março 31). Prefeito declara hoje estado de emergência. Acervo de jornais da Casa da Memória de
Ponta Grossa (PR). A-3.

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tenham sido registradas 12 ocorrências de alagamentos. Quando analisados os anos que


apresentaram grandes índices pluviométricos (igual ou superior a 2.000 mm anuais), a
exemplo de 1983, 1996, 1998, 2009 e 2017, estes também apresentaram várias ocorrências
de alagamentos e enchentes.
Figura 5: Ocorrências de alagamentos e enchentes por ano analisado (1980-2017).

Fonte: Jornal Diário dos Campos/ Casa da Memória de Ponta Grossa (1980-2004); 2º Grupamento de
Corpo de Bombeiros de Ponta Grossa (2005-2017).

A distribuição das ocorrências de alagamentos pelos meses do ano (Fig. 6) concentra-


-se especialmente no verão, nos meses com maiores índices de precipitação (Cruz, 2007;
Carvalho & Stipp, 2004). Scortegagna e Rebolho (2013) ressaltam que os alagamentos es-
tão relacionados às chuvas convectivas, também conhecidas como chuvas de verão, que
ocorrem geralmente no período da tarde com grande intensidade e curta duração.
Quando observada a sazonalidade, pode-se observar que o maior número de ocor-
rências de alagamentos e enchentes foi registrado na estação do verão, com 23 ocorrências,
seguidas das estações do outono com 20 ocorrências, primavera com dez ocorrências e
por fim, o inverno com sete ocorrências. A diferença da quantidade registrada de ocor-
rências de alagamentos e enchentes acompanha os períodos mais chuvosos e mais secos
na área da bacia estudada. O início e término da estação chuvosa na bacia concorda como
o estabelecido por Pereira, Caramori, Ricce, Silva e Caviglione (2008) para o estado do
Paraná, ou seja, um intervalo de duração de 170 a 180 dias, ocorrendo entre o fim do mês
de agosto e começo do mês de abril.
Figura 6: Ocorrências de alagamentos e enchentes por meses do ano (1980-2017).

Fonte: Jornal Diário dos Campos/ Casa da Memória de Ponta Grossa (1980-2004); 2º Grupamento de
Corpo de Bombeiros de Ponta Grossa (2005-2017).

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Quando analisadas as 60 ocorrências de alagamentos e enchentes e o total de pre-


cipitação em 24 horas, observa-se que estes fenômenos ocorreram tanto com grandes
quanto com baixas quantidades de precipitação (Fig. 7). As ocorrências 10, 11, 12 e 13
foram registradas em um mesmo dia (31/03/1998), com uma precipitação total de 204
mm, um alto índice para um único dia, muito superior à média do período para o mês de
março, de 137 mm.
Figura 7: Ocorrências de alagamentos e enchentes x volume de precipitação diária.

Fonte: Instituto das Águas do Paraná (1980-2017).

Como exemplo de ocorrências registradas com menores volumes de precipitações,


abaixo de 20 mm (Monteiro & Zanella, 2017), são as ocorrências 26 (11,9 mm), 29 (16,2 mm)
e 31 (12,7 mm), registradas em vias localizadas no divisor de águas da bacia. Nestas vias
os topos são planos e possuem intensa pavimentação e consequente impermeabilização
do solo, propiciando a acumulação das águas pluviais. Quando observados os cinco dias
que antecederam estes alagamentos, não houve registro de precipitação, ou seja, o solo
não estava saturado, caso contrário, a umidade antecedente do solo poderia contribuir
para a ocorrência de alagamentos na área.
Estas três ocorrências podem estar associadas a um sistema de drenagem urbana
ineficaz, sendo ocasionada pela falta de compartimentos que auxiliem a captação adequa-
da do fluxo de água nas vias ou pelo comprometimento deste sistema de drenagem pelo
acúmulo de resíduos sólidos, que acabam obstruindo as bocas de lobo e consequentemente
aumentando o fluxo de água nas vias e calçadas. Outra hipótese se refere à rápida acu-
mulação de água da chuva em um curto período de tempo (período menor que 24 horas).
Nesse caso, apesar do volume de chuva não ser elevado, este se concentrou em um período
de tempo muito curto, ocasionando os alagamentos. Porém, esta informação não pôde ser
verificada, pois a estação Santa Cruz não é telemétrica, ou seja, não oferece dados horários
ou em minutos de chuva, apenas a precipitação total diária.
Quando as chuvas apresentam altos índices pluviométricos em dias consecutivos,
as ocorrências de enchentes também podem ser potencializadas. Um exemplo disso pode
ser observado nas ocorrências 19, 20, 21, 22 e 23, registradas no dia 21 de fevereiro de 2001,

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quando houve chuvas frequentes e concentradas (dias 20 e 21) com índices, respectiva-
mente, de 34 e 35 mm.
De acordo com Conti (2011) e Teixeira (2004), para um evento de precipitação ser
considerado como extremo, deve ocorrer uma acumulação de precipitação igual ou superior
a 50 mm em 24 horas. A partir desta quantidade de chuva, pode ser verificado algum tipo
de impacto em áreas urbanizadas ou densamente urbanizadas (Monteiro & Zanella, 2017).
Na bacia do arroio da Ronda foram registrados 30 eventos de precipitação extrema,
que causaram muitas perdas e prejuízos para os moradores nos diferentes bairros afetados,
de acordo com notícias veiculadas pelo Jornal da Manhã2. Segundo Monteiro e Zanella
(2017, p. 140), os eventos extremos são considerados “como aqueles episódios de chuva
em que ocorrem danos materiais, humanos (morte ou desabrigo) e econômicos de grande
importância, nos quais vulnerabilidade e resiliência assumem um importante papel na
análise do evento extremo”.
Em 18 de março de 1996, um temporal com precipitação de 81,6 mm causou muitos
estragos na cidade de Ponta Grossa (ocorrência 7), causou alagamentos por toda a cida-
de, inclusive na bacia do arroio da Ronda. Foi noticiado que mais de 100 pessoas ficaram
desabrigadas em apenas 24 horas (Jornal da Manhã, 1996). Outro evento de precipitação
extrema foi quando choveu mais de 200 mm em 30 de março de 1998 (ocorrências 10, 11,
12 e 13), este fato fez com que a prefeitura municipal de Ponta Grossa e a Defesa Civil do
Paraná declarassem estado de emergência (Jornal da Manhã, 1998).
Calvetti et al. (2006) estabeleceram classes de intervalos de intensidade de precipi-
tações de acordo com o volume de precipitação ocorrida em 24 horas. Esta classificação
foi realizada para os diferentes volumes pluviométricos registrados na bacia do arroio da
Ronda entre 1980 a 2017 (Quadro 1). A classificação consiste em registro de precipitações
consideradas: chuvisco (0,1 a 0,5 mm), fraca (0,5 a 10 mm), moderada (10 a 25 mm), forte
(25 a 50 mm) e extrema (>50 mm). No período analisado, em dias que apresentaram pre-
cipitação, a classe mais frequente foi a ‘fraca’, ou seja, foram registrados 2.215 dias com
chuvas que não ultrapassaram 10 mm diários. Na classe ‘moderada’ foram registrados
1.214 dias, enquanto na classe ‘forte’, 634 dias. As chuvas ‘extremas’ foram registradas em
menor número na bacia, apenas em 176 dias.
Quadro 1: Classificação de intensidade de chuvas para precipitação máxima em 24 horas.
Classes Intensidade Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Total
Dias sem
0 mm 616 655 743 866 866 877 910 937 810 757 768 687 9492
chuva
0,1 a 2,5 Chuvisco 62 38 43 27 34 30 27 21 30 27 25 41 405
2,5 a 10 Fraca 278 254 227 156 134 125 109 121 161 198 198 254 2215
10 a 25 Moderada 133 156 101 77 77 86 72 65 96 111 122 118 1214
25 a 50 Forte 72 61 55 46 50 46 41 25 66 66 48 58 634
> 50 Extrema 18 14 9 6 17 14 19 9 15 18 17 20 176
Fonte: Instituto das Águas do Paraná (1980-2017); Adaptado de Calvetti et al. (2006).

2 Dentre estas perdas na área da bacia do arroio da Ronda, pode-se citar a fatalidade de nove pessoas mortas durante uma
tempestade na madrugada do dia 20 para o dia 21 de maio de 1983, quando em apenas 24 horas choveu 144, 9 mm . Uma
pessoa foi vítima de enchente (Jornal da manhã, 1983a) e outras oito pessoas da mesma família foram vítimas de soterramen-
to por deslizamento de terra (Jornal da manhã, 1983b).

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Ocorrências de alagamentos e enchentes na bacia do arroio da Ronda em Ponta Grossa, PR, Brasil

Para precipitações consideradas ‘chuvisco’ e ‘fracas’, ou seja, com até 10 mm, os meses
de janeiro e dezembro são dominantes. Janeiro apresentou 62 dias com chuvisco e 278 na
classe fraca, enquanto dezembro apresentou 41 dias e 254 dias respectivamente. Segundo
Leite, Adacheski e Virgens Filho (2011), sob a perspectiva hidrológica as chuvas de até 10
mm possuem pouco impacto e auxiliam na regulação da umidade do solo, contribuindo
com um pequeno volume de escoamento superficial no sistema de drenagem urbana.
Na classe moderada, os meses que apresentaram maiores registros foram janeiro
e fevereiro, com 133 e 156 dias, respectivamente. Os meses que mais apresentaram pre-
cipitações classificadas como fortes foram janeiro, setembro e outubro, com 72 e 66 dias.
A classe precipitação extrema foi a que registrou as menores quantidades, destacando-se
apenas os meses de julho e dezembro, com 19 e 20 dias.
Apesar de o inverno no Sul do Brasil ser uma estação menos chuvosa, ele também
apresenta dias de chuva forte e extrema. De acordo com Borsato e Collischonn (2017), essas
chuvas podem estar relacionadas à evolução dos sistemas frontais, principalmente pela
Frente Polar Atlântica (FPa). Também podem estar associadas a Massa Polar Atlântica
(mPa) que devido ao “seu deslocamento em direção aos trópicos, gera condições neces-
sárias para a ocorrência de chuvas” (Galvani & Azevedo, 2012, p. 9).
Durante a estação chuvosa, a classe predominante foi a chuva fraca, como já notado
por Leite, Adacheski e Virgens Filho (2010). No entanto, a maioria dos dias de precipita-
ção extrema concentra-se justamente nesta estação, chuvosa, entre os meses de setembro
e fevereiro.
Quando analisadas as ocorrências de alagamentos e enchentes por bairros, locali-
zados na área da bacia (Fig. 8), é possível verificar que o bairro Contorno é o que possui
maior número de ocorrências (17), seguido dos bairros Nova Rússia (9), Ronda (9), Oficinas
(8) Colônia Dona Luiza (8), Centro (6), Estrela (3). Estas áreas possuem a característica de
terem uma urbanização consolidada e acentuada, principalmente nos bairros Nova Rússia
e Oficinas.
Figura 8: Ocorrências de alagamento e enchentes por bairro da bacia do arroio da Ronda em Ponta
Grossa, PR.

Fonte: Jornal Diário dos Campos/ Casa da Memória de Ponta Grossa (1980-2004); 2º Grupamento de
Corpo de Bombeiros de Ponta Grossa (2005-2017).

A grande maioria das ocorrências no bairro Contorno se dá paralelamente ao curso


de água, sendo possível notar que nestes locais houve ocorrências em todos os períodos

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Janaina Santana dos Santos e Silvia Méri Carvalho

analisados, e apresentam como característica, áreas pouco declivosas, entre 3 a 8%, sendo
os menores valores na área de estudo.
Nascimento (2008) ao estudar o espaço e as desigualdades em Ponta Grossa, revelou
que este espaço urbano é amplamente segregado e fragmentado em áreas que abrigam
pessoas de diferentes graus de inclusão e exclusão social. De acordo com o mesmo autor os
locais ocupados por populações com carência socioeconômica na cidade de Ponta Grossa
estão situados em sua grande maioria na margem de ferrovias, em locais próximos a sistemas
de rede elétrica de alta tensão, em encostas de altas declividades e às margens dos cursos
de água que perpassam a área urbana. Neste sentido, Schuster e Piovezana (2015) analisaram
a espacialização das ocupações em área de risco na bacia do arroio da Ronda e concluíram
que as ocupações destas áreas ocorrem nas margens dos cursos de água, justamente nas
vias do bairro Contorno que registraram várias ocorrências de alagamentos e enchentes.
Outras áreas de risco apontadas por Schuster e Piovezana (2015) são as localizadas
nas cabeceiras dos afluentes do arroio da Ronda, como o arroio do Padre no bairro Estrela
e o arroio do Autódromo no bairro Oficinas. A topografia desses locais é plana, com va-
lores de até 8% de declividade, além de abranger a planície de inundação dos afluentes.
Segundo Tucci (2003), quando a urbanização é espontânea e a ocupação das áreas ocorre
sem um adequado planejamento espacial, um dos problemas a surgir pode ser a ocupação
das áreas de risco a enchentes, em áreas muito planas, ou suscetíveis a deslizamentos de
terra em áreas muito declivosas.

CONCLUSÕES

As ocorrências de alagamentos e enchentes na bacia do arroio da Ronda estão relacio-


nadas a registros de baixos e elevados índices pluviométricos. Porém, os elevados índices
se destacam, em relação às precipitações totais diárias, mensais ou anuais. Em relação ao
total diário, metade das ocorrências registradas entre 1980 a 2017 ocorreram por eventos
extremos, ou seja, com uma precipitação igual ou superior a 50 mm.
Em relação aos meses do ano com registro de ocorrências, estes correspondem
principalmente ao período do verão, comportando quase metade das ocorrências regis-
tradas. Alguns anos como 1983 e 1998 apresentaram várias ocorrências de enchentes e
alagamentos, potencializados pela presença do El niño, que altera condições climáticas,
ocasionando, nestes casos, excessos hídricos.
Foi possível observar que muitas ocorrências de enchentes e alagamentos estão
situadas em áreas já apontadas como de risco, principalmente na planície de inundação
do arroio da Ronda e nas cabeceiras dos afluentes.
O conhecimento da distribuição espacial e temporal das ocorrências de enchentes e
alagamentos e a identificação dos bairros são essenciais para a formação de uma comuni-
dade mais resiliente. São necessárias ações e políticas públicas de gestão do uso e ocupação
do solo, a fim de prevenir ou minimizar os danos decorrentes dos eventos extremos de
precipitação na área da bacia.

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Ocorrências de alagamentos e enchentes na bacia do arroio da Ronda em Ponta Grossa, PR, Brasil

Os dados analisados podem auxiliar na gestão e planejamento territorial da área


da bacia do arroio da Ronda, com ênfase na prevenção e redução das ocorrências de en-
chentes e alagamentos. Estratégias e políticas eficientes para o desenvolvimento urbano
sustentável podem propiciar a redução dos riscos que as populações estão sujeitas em
relação às enchentes e alagamentos.

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Data de submissão: 29/maio/2020


Data de aceite: 08/dez./2020

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